SAMARITANA (CC)

(Deverá “clicar” nas referências bíblicas para ter acesso aos textos)

 

 

 

João 4:3/34 (Tradução da TEB)

3 Ele deixou a Judeia e foi para a Galileia. 4 Ora, era preciso que atravessasse a Samaria. 5 Foi assim que ele chegou a uma cidade da Samaria chamada Sicar, não longe da terra dada por Jacó a seu filho José, 6 lá mesmo onde se acha a fonte de Jacó. Cansado da viagem, Jesus estava assim sentado junto à fonte. Era mais ou menos a sexta hora. 7 Chega uma mulher da Samaria para tirar água; Jesus lhe disse: “Dá-me de beber.” 8 Os seus discípulos, com efeito, tinham ido à cidade para comprar o que comer. 9 Mas esta mulher, esta samaritana, lhe disse: “Como? Tu, um judeu, tu me pedes de beber a mim, uma mulher samaritana?” Os judeus, com efeito, não querem ter nada em comum com os samaritanos. 10 Jesus lhe respondeu: ”Se conhecesses o dom de Deus, e quem é aquele que te diz: “Dá-me de beber”, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva.” 11 A mulher disse: “Senhor, tu não tens sequer um balde, e o poço é profundo; de onde tiras, então, essa água viva? 12 Serias maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço do qual ele mesmo bebeu, como também seus filhos e os seus animais?” 13 Jesus lhe respondeu: “Todo aquele que bebe desta água ainda terá sede; 14 mas aquele que beber da água que eu lhe darei nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe darei se tornará nele uma fonte que jorrará para a vida eterna”. 15 A mulher lhe disse: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede e não precise mais vir aqui tirar água.” 16 Jesus lhe disse: “Vai, chama o teu marido e volta aqui.” 17 A mulher respondeu: “Eu não tenho marido.” 18 Jesus lhe disse: “Tu dizes bem: ‘Não tenho marido’; tiveste cinco e o que tens agora não é teu marido. Nisso disseste a verdade.” 19 “Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és um profeta. 20 Os nossos pais adoraram sobre esta montanha, e vós afirmais que é em Jerusalém que se encontra o lugar onde se deve adorar.” 21 Jesus lhe disse: “Acreditai-me, ó mulher, vem a hora em que nem sobre esta montanha, nem em Jerusalém adorareis o Pai. 22 Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. 23 Mas vem a hora, e é agora, na qual os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade; tais são, com efeito os adoradores que o Pai procura. 24 Deus é espírito, e por isso os que o adoram devem adorar em espírito e em verdade”. 25 A mulher lhe disse: “Eu sei que um Messias deve vir – aquele que chamam Cristo. Quando ele vier, anunciar-nos-á todas as coisas.” 26 Jesus lhe disse: Sou eu, eu que estou falando a ti.” 27 Nisso, os discípulos chegaram. Eles ficaram estupefatos ao verem Jesus falar com uma mulher, mas ninguém lhe disse: “Que procuras?” ou “Por que lhe falas?” 28 A mulher, então, largando o cântaro foi à cidade e disse ao povo: 29 “Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o Cristo?” 30 Eles saíram da cidade e foram ter com ele. 31 Enquanto isso, os discípulos insistiam com ele: “Rabi, come!” 32 Mas ele lhes disse: “Eu tenho para comer um alimento que vós não conheceis”. 33 Nisso os discípulos disseram entre si: “Alguém lhe teria dado de comer?” 34 Jesus lhes disse: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra”.

 

 

 

1) Introdução

 

Certamente que esta passagem é bem conhecida dos leitores da minha página na internet, pois até faz parte do leccionário litúrgico utilizado nas igrejas católicas e no protestantismo tradicional.

Mas há um pormenor que me chamou a atenção. Apesar desta conversa de Jesus com a mulher samaritana se ter passado há cerca de vinte séculos, num contexto histórico e cultural bem diferente do nosso, há muitas semelhanças nos problemas que enfrentava a mulher samaritana que ainda continuam válidos nos nossos dias.

 

2) Contexto histórico desta passagem

 

Jesus, acompanhado pelos seus discípulos, estava na Samaria vindo da Judeia a caminho da Galileia. Segundo afirma João 4:4, era necessário atravessar a Samaria.

Na verdade, a Samaria localizava-se entre a Judeia a sul, e a Galileia a norte. (a)

Mas, não poderiam eles atravessar o rio Jordão caminhando pela Transjordânia, como era aliás o percurso de muitos galileus que se dirigiam a Jerusalém, evitando assim encontrar-se com samaritanos?! Por que afirma o evangelista João que era necessário atravessar a Samaria? Qual seria a necessidade de atravessar a Samaria? Seria somente devido à posição geográfica destas províncias? Ou seria outro o motivo? Era necessário para o Mestre cumprir os seus planos de divulgação da mensagem cristã? Para mostrar que a sua mensagem era também para os samaritanos e não somente para judeus? Era necessário para desfazer a animosidade entre judeus e samaritanos? Para se demarcar da atitude racista da Velha Lei e dos sacerdotes de Jerusalém?

Nesse contexto histórico e cultural a aproximação entre judeus e samaritanos parecia tarefa impossível devido ao um passado bem recente.

Os dois povos eram bem diferentes: Enquanto na Judeia se orgulhavam do seu passado, nomeadamente em Jerusalém, onde segundo diz o historiador Joaquim Jeremias, havia sacerdotes que sabiam de cor os nomes dos seus antepassados até 250 anos, o que comprovava a sua “santidade genealógica”, em Samaria, pelo contrário, o ambiente talvez fosse mais semelhante ao do nosso tempo, pois grande parte da população era resultado da mistura com outros povos. Inicialmente eles eram israelitas que se misturaram com alguns dos antigos habitantes da região, pois a maior parte destes foi exterminada segundo instruções do deus de Moisés nas guerras de ocupação do território, mas outros conseguiram sobreviver nas pequenas povoações das montanhas. Mais tarde, cerca do ano 720 A.C. Sargão II levou 27280 samaritanos de origem israelita cativos para Babilónia e em seu lugar colocou colónias de babilónios em Samaria 2º Reis 17:24 para obrigar os israelitas mais racistas a misturar-se com os outros povos.      

Mas havia outros motivos muito mais graves. Cerca do ano 129 A.C. os samaritanos, fartos de serem discriminados pelo racismo do Templo de Jerusalém, decidem construir outro Templo em Garizim, que se destinava a servir o mesmo Deus dos judeus. Mas essa proximidade teológica, pois serviam o mesmo Deus, longe de aproximar os dois povos, ainda mais os afastou, pois os interesses económicos foram mais fortes que as convicções teológicas. Certamente que os sacerdotes do Templo de Jerusalém, previram uma forte redução nas contribuições dos crentes.

O sacerdote João Hircano, ao serviço de Jerusalém, organiza uma expedição bélica, apodera-se de Siquém (perto da cidade de Sicar, onde estava a mulher samaritana) e destrói o Templo de Garizim, pois os sacerdotes de Jerusalém discriminavam os samaritanos, mas não faziam discriminação nas ofertas que recebiam. Mas, mesmo depois do seu templo arrasado, os samaritanos continuaram a cultuar nesse monte. Até hoje, lá estão as ruínas do templo de Garizim. Houve séculos de lutas entre judeus e samaritanos. Até havia legislação do Templo de Jerusalém, pouco antes de chegada dos romanos, que considerava os samaritanos como impuros ao mais alto grau desde o seu nascimento.

Embora os templos de Jerusalém e de Garizim servissem o mesmo Deus, nunca reconheceram tal facto como elemento de aproximação. Quando algum crente se convertia do templo de Garizim ao de Jerusalém, ou de Jerusalém ao de Garizim, era obrigado a nova circuncisão, pois não reconheciam como válida a circuncisão do outro templo. Até nos faz lembrar os rebatismos de certas igrejas evangélicas.

Em toda a história de Israel dessa época, só ficou registado um único gesto de boa vontade quando Herodes o Grande tentou aproximar os dois povos, judeus e samaritanos, casando-se com uma samaritana. Ele tentou desfazer essa animosidade permitindo que os samaritanos deixassem de estar limitados ao pátio dos gentios e pudessem entrar no salão principal do Templo de Jerusalém. Mas os historiadores julgam ser este um caso único. Também não encontraram outros casos de casamentos entre judeus e samaritanos.

Anos mais tarde, já no tempo do domínio romano, depois de Jesus nascer, como reacção pela destruição do seu templo, os samaritanos aproveitando a época da Páscoa, quando grandes multidões afluíam a Jerusalém, escavam nos túmulos dessa cidade e retiram ossos de cadáveres que espalham pelo Templo de Jerusalém tornando-o assim imundo de acordo com a teologia veterotestamentária. Josefo, que era judeu, decide omitir este facto, segundo o historiador Joaquim Jeremias.

Jesus, em criança, deve certamente ter assistido a muitas cenas de ódio e intransigência religiosa e deve ter visto os judeus mais ortodoxos virarem-se para Samaria, pedindo a Deus para destruir os samaritanos.

Na época em que Jesus viveu, já tando a Judeia como a Samaria pertenciam a Império Romano que obrigou os judeus a aceitar a liberdade de religião. Já não podiam cumprir Levítico 20:27 ou Êxodo 22:20 atacando as outras religiões. Mas as autoridades romanas não conseguiam controlar tudo e ao entrar em Samaria, Jesus e todos que o seguiam, estavam em perigo de vida, pois era frequente os grupos de judeus que se dirigiam a Jerusalém ou de lá regressavam, serem atacados e até mortos pelos samaritanos.

 

3) Poço ou fonte de Jacó?

 

Julgo que para a grande maioria dos leitores da nossa página, nomeadamente os que vivem nas nossas cidades, o facto de poço ou fonte será considerado um assunto perfeitamente secundário e sem interesse, pois para obter água, basta simplesmente abrir uma torneira. De onde vem a água?! Isso é problema dos engenheiros...

O ser humano não pode sobreviver sem água, e um poço era assunto de vida ou morte nessa cultura, assim como continua a ser nos nossos dias em muitos países com falta de água. Todas as antigas religiões dão uma grande importância ao assunto da água, quer o judaísmo como o islamismo ou o antigo hinduísmo. Claro que com o cristianismo dessa época, também a localização de água, que passa quase despercebida nos nossos dias era assunto da máxima importância, pois sem água não há vida.

Foi neste contexto cultural que o apóstolo João se referiu a esta fonte. Segundo lemos no versículo 6 lá mesmo onde se acha a fonte de Jacó. Cansado da viagem, Jesus estava assim sentado junto à fonte. Era mais ou menos a sexta hora.

Afinal, seria fonte ou poço? A maior parte das nossas versões da Bíblia traduz por poço. Mas no grego as palavras são bem diferentes e no versículo 6 aparece a palavra fonte, como está nas traduções mais rigorosas como a TEB ou a Jerusalém, mas no vr. 11 já está poço.

Eles nunca iriam confundir uma fonte com um poço. As fontes jorram naturalmente enquanto nos poços a água está a níveis inferiores, por vezes bem profundos, como disse a samaritana. Julgo não ser possível chegar a uma conclusão, mas posso dar algumas hipóteses para tentar sanar esta dúvida.

A mulher samaritana, no versículo vinte, já nos dá uma boa pista quando fala em “esta montanha”. Eles não estavam em zona plana, mas numa região montanhosa, num vale entre o monte Garizim e o monte Ebal, o que dá boas possibilidades de se encontrar uma fonte, nomeadamente na época das chuvas. Podemos procurar com o “Google Earth” ou com o localizador de GPS http://showmystreet.com/ ou qualquer outro programa de internet que nos dê a presumível localização de Sicar (próximo de Siquém) com o nome actual de “Tell Balata”. Mas certamente que no tempo de Jesus não havia as estradas nem os edifícios que de vêm actualmente. Podemos também, encontrar com mais certeza o Monte Garizim com o nome actual de “Jabal at Tur - Bracha”. O monte não era assim tão alto e hoje há estradas para subir ao ponto mais alto que está coberto de edifícios. Nos países quentes, os lugares altos e arejados são os mais disputados para se morar. O Rio de Janeiro é a única excepção que conheço, onde o rico mora em baixo e o pobre no alto dos morros, beneficiando de melhor clima e vista panorâmica.

Vemos também que Sicar estava a 480 metros de altitude, Garizim atingia os 860 metros e Ebal a cerca de 800 metros de altitude. Não conheço a constituição geológica do local, mas admito que haja condições para grandes alterações do nível freático e até para fenómenos de poços artesianos em certas épocas do ano. Assim, na época das chuvas poderia aparecer espontaneamente um grande manancial de águas, que secava e seria poço que poderia atingir algumas dezenas de metros de profundidade na época seca, já que se encontravam num vale entre dois montes.

 

4) Samaritana

 

6 lá mesmo onde se acha a fonte de Jacó. Cansado da viagem, Jesus estava assim sentado junto à fonte. Era mais ou menos a sexta hora.

Os judeus contavam as horas a partir do nascer do sol, pelo que a “sexta hora” seria cerca do meio-dia. Não podemos deixar de estranhar que depois de caminharem juntos, só Jesus estava cansado e todos os discípulos foram à cidade samaritana comprar comida! Será que o Mestre já sabia o que iria acontecer e esperou pela samaritana? A sua afirmação no versículo 34 (Jesus lhes disse: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra.) leva-nos a pensar que o seu encontro com a mulher samaritana foi programado com antecedência.

 

7 Chega uma mulher da Samaria para tirar água; Jesus lhe disse: “Dá-me de beber.” 8 Os seus discípulos, com efeito, tinham ido à cidade para comprar o que comer.

Também podemos perguntar por que foram todos os apóstolos comprar comida? Um dos motivos poderia ser a sua própria segurança. Sendo judeus, poderiam ser mal recebidos pelos samaritanos, como muitas vezes acontecia, e sendo 12 homens, melhor poderiam defender-se.

Esta passagem faz-me lembrar o que vemos nos nossos dias. Os nossos clérigos, pastores ou padres geralmente estão sobrecarregados com trabalhos burocráticos e de gestão, relatórios, todo o tipo de reuniões, e pouco tempo lhes resta para o mais importante. Podemos imaginar o que disseram os discípulos quando voltaram: Vê Mestre: São pães samaritanos… Sabes quanto pediam e quanto pagamos por eles?! Não fomos eficientes? A resposta está no vr. 32 Mas ele lhes disse: “Eu tenho para comer um alimento que vós não conheceis”.

 

Jesus inicia a conversa com a samaritana com um pedido. “Dá-me de beber.”

9 Mas esta mulher, esta samaritana, lhe disse: “Como? Tu, um judeu, tu me pedes de beber a mim, uma mulher samaritana?”

É bem compreensível a reacção da samaritana. Deve ter reconhecido que Jesus era um judeu, pelas suas feições, suas vestes e por ser um viajante que atravessava a Samaria, certamente a caminho de Jerusalém ou de lá regressando.

O Mestre ultrapassa todas as divisões, entre judeus e samaritanos, entre homens e mulheres, entre clérigos e leigos, entre o santo e a pecadora, não com a arrogância e paternalismo do Sumo-sacerdote, mas pela forma mais humilde, com um pedido de ajuda. É Jesus que pede água. Mas nesse contexto cultural, a água tinha um significado que passa despercebido ao homem dos nossos dias. João afirma que Era mais ou menos e sexta hora. Portanto a hora do calor do meio-dia e podemos imaginar o Sol quente a as areias escaldantes que encontraram pelo caminho. Foi a essa hora que apareceu a mulher samaritana. Geralmente as mulheres iam buscar água ao poço bem cedo de manhã ou ao pôr-do-sol, para evitar o calor do caminho, após o que teriam de efectuar o esforço de puxar pela corda para elevar a água do poço, por vezes com algumas dezenas de metros de profundidade, para depois carregar a água para casa. Isso ainda acontece nalguns locais do interior de África. Alguns comentadores sugerem que a mulher samaritana tenha ido buscar água a essa hora, para não se encontrar com as outras mulheres. 

 

10 Jesus lhe respondeu: ”Se conhecesses o dom de Deus, e quem é aquele que te diz: “Dá-me de beber”, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva.”

Jesus prefere ignorar a pergunta da samaritana. Não toma qualquer posição nos graves problemas entre judeus e samaritanos. Deus sempre esteve muito acima de todos os problemas entre os religiosos, quer se trate de judeus e samaritanos, ou católicos e protestantes, ou islâmicos e hindus, ou entre as várias denominações evangélicas, ou quaisquer outras religiões. Em vez de responder à samaritana, o Mestre prefere falar na salvação através do simbolismo da “água viva”, que é para todos.

Geralmente a expressão “água viva”, que aparece também em João 7:38 como referência ao Espírito Santo, dá ideia de água em movimente, água corrente, que ao contrário da água estagnada, é mais limpa por largar os resíduos pelo caminho, mas principalmente por ser água mais oxigenada, mais saudável e mais limpa de micróbios e bactérias. Os versículos em Apocalipse 21:6, Apocalipse 22:1 e Apocalipse 22;17 referem-se a “água da vida”, referindo a sua limpidez.

Penso que a expressão “água da vida” tanto pode ser interpretada sob o aspecto espiritual como também é válida no aspecto material, pois sem água não há vida. Trata-se duma comparação apropriada e bem oportuna, que a samaritana bem compreendia, certamente muito melhor do que nós que nos limitamos a abrir a torneira para obter água.

Como o caminhante desesperado, busca por água… água fresca e revigorante depois duma longa caminhada por terrenos quentes e secos sob sol escaldante, também no campo espiritual, acabaram-se as buscas por Deus nos vários templos das várias religiões. Deus veio ao encontro do ser humano e está bem presente em qualquer lugar. Água viva, antiga expressão sempre válida porque, sem água não há vida. Num clima quente e seco a água fresca é o bem mais precioso.

A água dum poço bem fundo, em dias de grande calor, deve parecer mais fresca, porque o terreno é um bom isolante térmico. Assim, a temperatura em profundidade é constante, pelo que nos dá a sensação da água estar fresca nos dias de muito calor e estar morna nos dias mais frios.

Há certamente muitos pormenores desta metáfora da água que escapam a quem se habituou à facilidade como obtemos a água. Talvez as mulheres em certos locais de África que têm de caminhar longas distâncias para ir buscar água, estejam em melhores condições para compreender a ilustração do Mestre. Tirar água do poço, em certos locais, é trabalho árduo que geralmente é efectuado por mulheres. (b)

 

11 A mulher disse: “Senhor, tu não tens sequer um balde, e o poço é profundo; de onde tiras, então, essa água viva? 12 Serias maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço do qual ele mesmo bebeu, como também seus filhos e os seus animais?” 13 Jesus lhe respondeu: “Todo aquele que bebe desta água ainda terá sede;

A forma como a samaritana se dirige a Jesus tratando-o respeitosamente por Senhor, caso bem raro entre samaritanos e judeus, parece indicar que reconhecera alguma coisa de diferente em Jesus. Apesar de sozinho e indefeso na Samaria, parece que algum poder superior ao das armas o protegia. Será isso um atributo exclusivo do Mestre? Será só coisa dum passado distante que já não funciona nos nossos dias? Lembro-me de ver em alguns locais da Índia as freiras da Madre Teresa de Calcutá andarem duas a duas ou até sozinhas de bicicleta, pelos locais mais perigosos e por todos serem respeitadas.

Mas a samaritana nunca ouvira falar em água viva. Para ela, água era coisa que só se conseguia com balde e cordas, com muito esforço. Como seria possível água viva, que matasse a sede para sempre? E água gratuita?!  

 

14 mas aquele que beber da água que eu lhe darei nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe darei se tornará nele uma fonte que jorrará para a vida eterna” A água viva que Jesus promete à samaritana, não só saciará a sua sede como se tornará, como que uma fonte para matar a sede dos outros. O testemunho do crente não é uma técnica que se aprende na igreja ou no seminário, como se fosse simples propaganda duma igreja, mas é alguma coisa que brota com naturalidade, abundantemente e espontaneamente. Não é nas igrejas que se conhecem os verdadeiros crentes em Cristo, sejam eles leigos, pastores, padres ou bispos. Pode alguém ser batizado, cumprir todos os rituais, ter o seu nome nos registos da sua igreja e não ter a “água viva” a que Jesus se referiu e ser simplesmente membro duma igreja, que só tem utilidade no salão de cultos da sua igreja, mas é pelo seu comportamento em ambiente secular que se conhecem os verdadeiros adoradores que não podem deixar de manifestar a Cristo.  

 

15 A mulher lhe disse: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede e não precise mais vir aqui tirar água.” Não sabemos até que ponto a samaritana terá compreendido a linguagem simbólica do Mestre, mas logo interpreta a afirmação de Jesus da forma mais conveniente para o seu caso em particular. Assim, deixaria de ser necessário o árduo trabalho de ir todos os dias tirar água do poço e carregar para sua casa.

A atitude da mulher samaritana que interpreta os ensinos do Mestre sob o aspecto utilitário, até faz lembrar o que acontece connosco. Não é o que apregoam muitas igrejas com a teologia da prosperidade? Venha a Jesus que Ele irá resolver todos os seus problemas quer familiares, quer de emprego, ou de saúde, ou de dinheiro etc. etc.

 

16 Jesus lhe disse: “Vai, chama o teu marido e volta aqui.” 17 A mulher respondeu: “Eu não tenho marido.” 18 Jesus lhe disse: “Tu dizes bem: ‘Não tenho marido’; tiveste cinco e o que tens agora não é teu marido. Nisso disseste a verdade.” Ficamos com a sensação de que Jesus desiste da conversa a muda de assunto. Mas a mulher começava a compreender a Jesus ao mesmo tempo que o Mestre mostra a sua omnisciência e decide alertá-la para a sua condição de pecadora, marginalizada pelo seu próprio povo, mas com delicadeza e sem a arrogância dos sacerdotes sempre prontos a condenar, por vezes com a pena de morte de acordo com o Velho Testamento. Nesse contexto histórico, de acordo com a Lei de Moisés, enquanto uma mulher só podia ter um marido, sendo punida com a pena de morte se não lhe fosse fiel Deuteronómio 22:22, já não havia qualquer limite de mulheres que um homem podia ter e a maior parte dos que são considerados como os grandes exemplos veterotestamentários também nos deixaram o exemplo da poligamia. Não vejo motivo para considerar a mulher como uma prostituta, como alguns interpretam, pois há a possibilidade dos cinco maridos terem falecido, ou terem-lhe concedido o divórcio, pois segundo o historiador Joaquim Jeremias o direito ao divórcio pertencia quase exclusivamente ao marido. A “segurança” da mulher residia essencialmente nos filhos, principalmente se fossem do sexo masculino, o que lhe dava prestígio e a tornava mais respeitada. Talvez este fosse mais um caso duma mulher estéril, o que levou os cinco maridos a rejeita-la. O pecado da mulher era viver maritalmente com um homem sem ser casada, o que a colocava em perigo de ser executada pelos mais zelosos pelo cumprimento da velha Lei de Moisés.  

 

5) Onde está Deus?

 

19 “Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és um profeta. 20 Os nossos pais adoraram sobre esta montanha, e vós afirmais que é em Jerusalém que se encontra o lugar onde se deve adorar.” A samaritana reconhece Jesus como Profeta e coloca uma das mais importantes perguntas de todo o Novo Testamento.

O que ficou registado, foi certamente um resumo duma longa conversa. Podemos imaginar o que teria perguntado a samaritana: Onde podemos adorar a Deus? Será que os nossos antepassados samaritanos, agiram mal ao construir um templo para servir ao Deus supremo? Será que nós, samaritanos, só podemos encontrar Deus no Templo de Jerusalém, onde sou discriminada por ser samaritana e por ser mulher?! Alguns samaritanos continuam a adorar entre as ruínas do templo que os judeus destruíram. Será que Deus se pode manifestar nessas ruínas? Será que as armas que destruíram o nosso templo onde muitos samaritanos perderam as suas vidas, não foram capazes de nos afastar Deus? Poderemos continuar a cultuar entre essas ruínas? 

Depois dos vinte séculos que nos separam da mulher samaritana, penso que a sua pergunta continua bem actual.   

Para a samaritana o importante seria encontrar o local certo, o sacrifício indicado, a reza ou a frase que obrigasse o verdadeiro Deus a manifestar-se. Só havia duas hipóteses: Jerusalém, ou Garizim. Dois templos que competiam entre si. Qual o maior templo, ou o mais imponente? Se estavam em dois montes diferentes, qual o mais alto?! Onde estavam os sacerdotes com maior pureza genealógica, os descendentes directos de Abraão?! (c)

Penso que o problema tem continuado através dos tempos, não só nas religiões abraâmicas, como o judaísmo, cristianismo ou islamismo com todas as suas subdivisões como noutras religiões. Qual o maior templo religioso do mundo? Qual o de maior capacidade, o mais alto, ou o mais imponente? São esses os aspectos que mais impressionam os visitantes. Será o Templo budista de Angkor, no Camboja? Ou o Templo hindu de Akshardham em Nova Deli, na Índia? Ou a Mesquita de Al-Haram em Meca, na Arábia Saudita? Ou a Basílica de São Pedro no Vaticano?

Duvido que Jesus esteja interessado nestes aspectos que tanto impressionam os visitantes. Talvez o Mestre faça uma outra pergunta: Onde estão as boas obras dessas comunidades em que o Pai está interessado? Mateus 25:31/46 Onde estão as obras de apoio social como os hospitais, infantários, os lares de idosos etc.

Será que Jesus, que nunca teve a sua morada, que descansou à sombra das árvores e caminhou a pé pelas estradas, que apresentou as suas mensagens mais importantes, não no Templo, a “fortaleza dos seus inimigos”, mas ao ar livre, nas praias e nos montes, estará interessado no ambiente de riqueza de algumas igrejas onde a sua mensagem é anunciada?

Há um aspecto que mais aprecio na arquitectura nova Basílica da Santíssima Trindade em Fátima, pois mantem, tanto quanto possível, o aspecto de igreja humilde e rural. Ao contrário da antiga Basílica de Fátima, embora tenha 8633 lugares sentados, evitou competir em altura, fazendo precisamente o contrário, tentando passar despercebida no meio da arborização, sendo meio enterrada. 

 

 

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Basílica de Fátima – Construída em 1917 - 2 600 m2 de superfície, 37 m de altura da torre. Capacidade de 600 lugares sentados.

 

 

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Basílica da Santíssima Trindade em Fátima – Construída em 2012 - 40 000 m2 de superfície e 8 633 lugares sentados.

Só tem 18 metros de altura acima do terreno.

Não tem torre, mas o que sobressai mais alto que o edifício é a cruz como símbolo do Cristo crucificado.

 

 

Certamente que os sacerdotes de Jerusalém ou de Garizim, gostariam de estar perante uma crente que lhes apresentasse esta pergunta. Onde devemos adorar? Essa seria a altura oportuna para a propaganda dos templos de Jerusalém ou de Garizim. Será que isso mudou? Num caso destes, que faria qualquer pastor ou padre dos nossos dias? Ou mesmo a maior parte dos membros das nossas igrejas?

Através dos tempos, quase todas as igrejas e religiões têm tentado monopolizar a autoridade de conceder a salvação, assunto demasiado importante para Deus deixar em mão humanas. Antigamente os judeus afirmavam que só o seu Deus, em Jerusalém, concedia a salvação. Muitos séculos mais tarde o catolicismo afirmava que “fora da Igreja não há salvação”. Actualmente o catolicismo está muito mais aberto, mas agora são algumas igrejas evangélicas que afirmam que só elas têm o poder de conceder a salvação e têm o monopólio do Espírito Santo.

A samaritana raciocinava no seu contexto cultural veterotestamentário esperando que o Messias viesse restaurar a antiga religião de Moisés. Ela procurava, à semelhança do que acontecia com todas as religiões dessa época, o local onde Deus se manifestava e a oração ou reza que actuasse como uma fórmula mágica ou código de acesso que obrigasse Deus a manifestar-se. Ela sabia “por instinto” que esse lugar em que poderia encontrar a Deus estaria talvez perto, mas ainda não o encontrara. Faz lembrar as pombas que depois dos incêndios que devastaram algumas propriedades agrícolas incluindo os seus pombais, tentam voltar ao pombal onde nasceram, pois o seu instinto de orientação lhes diz que estão perto, mas continuam a procurar, voando em círculos, até caírem mortas de exaustão, pois o pombal que procuravam já está reduzido a cinzas. Será que coisa semelhante aconteceu à Igreja primitiva devido ao nosso pecado?  

Tanto em Jerusalém, como em Garizim, havia centenas de pessoas que se prostravam em oração. Não seria essa uma forma de adoração correcta? O que faltava nessa adoração? Seria simplesmente uma forma de cumprir um tradicional ritual a que faltava alguma coisa? Aqueles que o Mestre identificou como ladrões e salteadores, que exploravam as viúvas e necessitados, certamente que também cumpriam todos esses rituais de adoração. O Mestre sofre mais com os falsos crentes a ponto de os ter escorraçado do Templo de Jerusalém, do que com os pecadores que o procuram.

 

6) Onde e como adorar a Deus?

 

21 Jesus lhe disse: “Acreditai-me, ó mulher, vem a hora em que nem sobre esta montanha, nem em Jerusalém adorareis o Pai. 22 Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. 23 Mas vem a hora, e é agora, na qual os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade; tais são, com efeito os adoradores que o Pai procura. 24 Deus é espírito, e por isso os que o adoram devem adorar em espírito e em verdade”.

O Mestre, bem sabia o que se passava no Templo de Jerusalém, a que chamou “covil de salteadores”. Mateus 21:13. Mas em Garizim, também, certamente que nem tudo era perfeito e o Mestre bem conhecia o que por lá se passava.

A preocupação da samaritana em saber se deveria adorar a Deus em Garizim ou em Jerusalém, faz-me lembrar algumas mensagens que tenho recebido. Sabendo pela minha página na internet, que não estou ligado a nenhuma igreja, alguns visitantes já me fizeram perguntas semelhantes para escolher a sua igreja. Uma vez, em que do Brasil me fizeram pergunta semelhante, perguntei por que não colocava essa questão aos pastores da cidade onde vivia. Não me esqueço duma das respostas que me deram: Já perguntei aos pastores, mas agora quero saber a sua opinião, pois sei que não vai me tentar levar para a sua igreja, pois não tem nenhuma, nem me vai cobrar nada pela sua resposta. Parece que as igrejas estão desacreditadas do grande público. Afinal, a única resposta honesta que lhe pude dar, é esta resposta do Mestre. Jesus revelou à samaritana, uma gentia como quase todos nós, o que ainda não dissera aos maiores teólogos do seu tempo: Nem na igreja A ou B ou C, pois o Deus Pai, que Jesus nos revelou, não pode ser identificado com nenhum local, nenhuma igreja, nenhuma religião, nenhum país nem nenhuma cultura. Se Deus criou todo o Universo que nos deixa maravilhados pelo seu tamanho, então… Deus não cabe no Universo que criou, muito menos numa igreja. Mas ao mesmo tempo controla toda a mais pequena célula do nosso organismo e nos convida a meditar.

Era o fim dos lugares santos, como o Templo de Jerusalém e as sinagogas onde Deus se manifestava e recebia as contribuições. O Deus que Jesus ensinou a tratar por Pai, não está cativo em nenhum lugar nem condicionado por qualquer liturgia. No entanto, todo o crente poderá e deverá colaborar, provisoriamente, nalguma igreja onde haja liberdade de reflexão e se sentir útil e deverá, na medida do possível, colaborar nessa igreja, até que o Pai o chame à sua casa, ou volte o nosso único Mestre que está muito acima de todos os problemas e das brigas entre “religiosos”.

Bem sei que por vezes há uma atitude de rejeição quando se fala em “meditação teológica”. Talvez essa rejeição seja fruto duma mentalidade veterotestamentária, que exigia obediência cega e não se mencionava o raciocínio ou entendimento. Vejamos Deuteronómio 4:29 Na tradução de Jerusalém está: De lá, então, irás procurar Iahweh teu Deus, e o encontrarás, se o procurares com todo o teu coração e com toda a tua alma ou Deuteronómio 6:5 ou Deuteronómio 10:12 ou Deuteronómio 30:2 ou Deuteronómio 30:10, aparecem referências ao coração, alma e forças, mas nunca se fala em entendimento. O judeu crente, devia obedecer cegamente, nomeadamente quando cumpria os mandamentos de Moisés que mandavam aplicar a pena de morte por lapidação, como Êxodo 21:17, Êxodo 31:14/15, Deuteronómio 13:6/10 (d) etc. onde se fala em todo o coração, toda a alma, todas as forças… mas não encontro nenhuma referência ao entendimento. Então, será que Deus exige uma espécie de suicídio intelectual?!     

Comparemos agora com Lucas 10:27. Respondeu-lhe ele: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. Como podemos ver pelo contexto, isto são palavras dum doutor da Lei que tiveram a aprovação do Mestre. É na sequência deste pensamento que Jesus escandaliza os seus ouvintes ao apresentar a parábola do “Bom Samaritano”. 

Uma das grandes diferenças de Lucas 10:27 em relação dos textos veterotestamentários que citámos, é que menciona o entendimento que não aparece no Velho Testamento. O nosso intelecto é o bem mais precioso que Deus nos concedeu e o Pai não prescinde de todo o nosso entendimento que deve estar ao seu serviço, para nos orientar, sem a tutela de nenhum “profissional de religião”. Se Deus é Pai, qual o verdadeiro filho que tolera que alguém se interponha entre ele e o seu próprio Pai?! Alguns associam a reza à simples repetição duma afirmação escrita Mateus 6:7, para outros a oração é uma sequência de bonitas frases feitas que memorizaram nas igrejas para exibirem a sua espiritualidade Mateus 6:5, mas segundo o Mestre, oração privada é uma conversa com o Pai Mateus 6:6 ou podemos talvez dizer que é uma conversa privada entre Pai e filho.

Certamente que a profissão de clérigo (padre ou pastor), quando exercida com honestidade, é bem útil para fornecer informações e divulgar a mensagem de Cristo, mas sem de forma alguma limitar a capacidade de reflexão dos crentes. Há um limite que não pode ultrapassar, pois se se colocar entre Deus e o crente, poderá tornar-se no mais perigoso dos ídolos.     

A guerra entre religiões tem sido quase sempre uma constante ao longo dos tempos. Penso que todas as religiões são potencialmente perigosas, principalmente as monoteístas, se a adoração deixar de ser em espírito e verdade, para seguir algum pregador “iluminado” prescindindo da crítica dos leigos.

Mas como divulgar o Evangelho sem entrar em conflito com outras religiões? No século passado, em muitos países colonizados pela Europa, o cristianismo (católico, protestante ou evangélico) com o apoio dos países dominantes implantou-se pela força das armas, pressões políticas e económicas, nomeadamente no continente africano, americano ou no Oriente, o que nos faz lembrar os problemas de mulher samaritana em aceitar o deus dos seus inimigos.

Penso que devemos procurar orientação no primitivo cristianismo. Talvez a resposta esteja em Mateus 5:16, ou no Alcorão 5:48, ou como está na nova tradução, efectuada a partir dos textos originais em elaboração na mesquita de Lisboa ... E, se Deus quisesse teria feito de vós um só Povo. Mas, fez-vos como sois, para vos testar por aquilo que vos concedeu, portanto competi uns com os outros nas boas acções. Todos voltareis para junto de Allah, que então vos esclarecerá a respeito das vossas divergências. 

Algumas vezes tive oportunidade de colaborar em projectos de igrejas que geralmente estão associadas a determinado estilo arquitectónico. A minha colaboração limitava-se à parte de engenharia, pois o arquitecto é que percebe de arquitectura, mas como crente leigo, já tentei investigar como seriam as igrejas do primitivo cristianismo e nada encontrei. Julgo que geralmente se reuniam em pequenos grupos em casas familiares e em Roma escondiam-se nas catacumbas quando eram perseguidos. Só depois de Niceia no ano 325 é que o Imperador Constantino “colaborou” com os cristãos confiscando alguns templos das religiões tradicionais para os entregar aos cristãos. Esse foi o fim do primitivo cristianismo.

Assim a época em que o cristianismo mais cresceu foi a época em que foi perseguido e não tinha locais próprios para se reunirem. Não encontrei qualquer fundamento bíblico neotestamentário para a arquitectura duma igreja, mas já vi no interior de África, muitas igrejas que eram simplesmente uma palhota pouco maior que as outras, onde o cristianismo está bem vivo.

Não sou contra os edifícios “estilo igreja”, onde os crentes se reúnem, mas trata-se duma tradição que cada geração poderá e deverá avaliar se será de manter enquanto for útil, pois no dia em que for rejeitada estaremos somente a alterar uma tradição e não as bases da mensagem de Cristo, pois a presença de Deus não depende desses pormenores mas da atitude do próprio crente, pois os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade; tais são, com efeito os adoradores que o Pai procura.

Onde os crentes se reunirem em nome de Cristo, para meditar livremente na Sua mensagem, seja em que local for, mesmo que não tenha sido consagrado como igreja de acordo com a tradição católica, protestante ou evangélica, teremos a verdadeira Igreja de Cristo. Certamente que, segundo Paulo, a igreja tem os seus dirigentes, isso tem fundamento bíblico neotestamentário. Mas se formos à “origem das origens” segundo o nosso Único Mestre, Ele estará sempre presente mesmo que sejam só duas ou três pessoas Mateus 18:20.

Alguns podem pensar que há muitos desses pequenos grupos, mas não os podemos confundir com os pequenos grupos que se juntam à volta dum iluminado, que “vende o seu peixe” (e) e todos os outros se limitam a ouvir sem poderem ou sem quererem interferir, numa atitude heterónoma que nada tem a ver com o verdadeiro cristão. O verdadeiro crente não aceita toda e qualquer informação ou mesmo a mais arreigada tradição sem confirmar se está de acordo com os ensinos do nosso único Mestre. Actos 17:10/12    

Deus procura aqueles que o adoram em espírito e verdade, porque Deus é espírito e Deus é a Verdade. João 14:6

O dirigente religioso é útil e necessário, se cumprir com fidelidade a sua missão, mas pode tornar-se perigoso se o seguirmos cegamente, considerando-o como infalível ou quase infalível, prescindindo de questionar os seus ensinos. O que muito tem prejudicado o cristianismo dos nossos dias é a busca de algum dirigente religioso que consideremos como infalível, mesmo que ele próprio não se considere como tal, assumindo o crente uma cómoda posição heterónoma, deixando de meditar na mensagem de Cristo que não prescinde de todo o nosso intelecto, pois conversão não é suicídio intelectual. Assim, o dirigente religioso que é seguido cegamente pelos membros da sua igreja, poderá tornar-se em perigoso ídolo por culpa dos que exigem dele o que ele próprio nunca ambicionou, nem pode dar, pois a só Deus é Verdade.

Desde a antiguidade que muitos crimes têm sido cometidos por religiosos que se consideram acima de qualquer crítica. Isso seria evitado se os crentes servissem a Deus com toda ou pelo menos alguma da sua capacidade intelectual e liberdade para questionar as decisões dos seus dirigentes, como foi o caso de Números 31:6/18 em que os oficiais do exército de Israel discordaram de Moisés, mas acabaram por se submeter às suas decisões.   

Assim, devemos ouvir os clérigos, sejam quais forem, com tolerância e compreensão sem nunca perder a nossa capacidade de reflexão, pois eles não têm a liberdade de reflexão que têm os leigos e devemos evitar tanto quanto possível os problemas nas igrejas.

Mas, se alguém tem falta de sabedoria, a quem deverá perguntar, se Jesus já não está entre nós? Certamente que os clérigos dos nossos dias dirão para perguntar ao Pastor ou ao Padre ou ao Professor de Seminário, ou para procurar nas Escrituras, mas estas dizem para perguntar ao Pai. Tiago 1:05 e Jesus disse em João 14:16/17 que seria substituído pelo Espírito Santo.

As igrejas são úteis e necessárias, mas lealdade a uma igreja ou organização religiosa é sempre condicional e provisória…. até o Mestre voltar. Se não for assim, será mais um tipo de idolatria, pois lealdade só a Cristo.

 

25 A mulher lhe disse: “Eu sei que um Messias deve vir – aquele que chamam Cristo. Quando ele vier, anunciar-nos-á todas as coisas.” 26 Jesus lhe disse: Sou eu, eu que estou falando a ti.”

Durante muitos séculos os samaritanos, tal como os judeus, esperaram pelo Messias que Deus enviaria ao mundo e Ele anunciar-nos-á todas as coisas. Eles tinham a noção de que muita coisa estava errada e teria de ser rectificada na Velha Lei de Moisés. Apesar de todas as informações dos vários livros do Velho Testamento, eles esperavam Alguém que os viesse esclarecer, e que tivesse autoridade para alterar a Lei de Moisés, alguém que fosse muito maior que Moisés.

Jesus lhe disse: Sou eu, eu que estou falando a ti. A samaritana estava junto a Cristo e continuava à espera do Messias que havia de vir!!! Será que por vezes não nos acontece o mesmo? Desde a nossa infância que nos ensinam que Deus está muito longe… lá em cima (f) e já estamos treinados a procurar Deus muito ao longe. Procuramos estar mais perto de Deus nalgum local especial nas montanhas, ou nalgum santuário católico ou centro de conferências evangélico bem distante, ou em Roma ou em Jerusalém, mas se nos disserem que o Mestre está aqui… Quem acreditaria?! 

 

27 Nisso, os discípulos chegaram. Eles ficaram estupefatos ao verem Jesus falar com uma mulher, mas ninguém lhe disse: “Que procuras?” ou “Por que lhe falas?” 28 A mulher, então, largando o cântaro foi à cidade e disse ao povo: 29 “Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o Cristo?” 30 Eles saíram da cidade e foram ter com ele. 31 Enquanto isso, os discípulos insistiam com ele: “Rabi, come!” 32 Mas ele lhes disse: “Eu tenho para comer um alimento que vós não conheceis”. 33 Nisso os discípulos disseram entre si: “Alguém lhe teria dado de comer?” 34 Jesus lhes disse: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra”.

Temos agora, duas situações completamente opostas: Os discípulos admiraram-se ao ver Jesus falar com uma mulher, o que era um escândalo na cultura judaica, pois ainda continuavam verdadeiros judeus, ainda continuavam na sua antiga cultura veterotestamentária. Mas, pelo contrário, a mulher encontrou o Messias que há tanto tempo esperavam. Larga tudo e corre à sua cidade, para anunciar que encontrara o Messias. Era a água viva que já brotava em abundância e tinha forçosamente de escorrer para os seus conhecidos.

Tanto os apóstolos, como a mulher samaritana, foram à mesma cidade. Mas que fizeram eles nessa cidade de Samaria? A mulher, com o seu entusiasmo contagiante conseguiu entusiasmar toda a sua cidade de tal maneira que Eles saíram da cidade e foram ter com ele. (Jesus).

Mas enquanto a mulher falava a toda a sua cidade, o que fizeram os discípulos? Temos a resposta no versículo 8 Os seus discípulos, com efeito, tinham ido à cidade para comprar o que comer. Enquanto a mulher samaritana divulgava a boa notícia da chegada do Messias, os apóstolos continuavam com a sua atitude materialista e até tentavam “converter” o próprio Mestre para o seu pensamento, pois Enquanto isso, os discípulos insistiam com ele: “Rabi, come.

Certamente que a comida é importante, mas por vezes temos de estabelecer uma certa hierarquia dos nossos valores e a prioridade máxima é viver e divulgar o Evangelho.   

 

32 Mas ele lhes disse: “Eu tenho para comer um alimento que vós não conheceis”. Será que a reposta do nosso Mestre também se pode aplicar aos nossos dias? Enquanto Jesus apresentava a mensagem à mulher samaritana, todos os discípulos foram comprar pão, que consideraram o mais importante. Julgo que todos os trabalhos são necessários, mas há uma certa hierarquia nas prioridades dos trabalhos nas igrejas que está invertida. Jesus deu prioridade à evangelização pessoal. Isto faz-nos lembrar certos pastores evangélicos, mais preocupados com a pregação do dízimo que com a mensagem de Cristo. E o que encontrou o Papa Francisco no próprio Vaticano? Certamente que encotrou bons gestores, óptimos gerentes de bancos, enquanto a Igreja está fraca e desprestigiada, pois esses altos dignitários geralmente não perdem tempo com a evangelização pessoal, que quase sempre esteve a cargo das “samaritanas” até aos nossos dias. Samaritanas que passam despercebidas de todos… mas o Senhor as conhece, o Senhor compreende, o Senhor sabe, o Senhor vê e têm os seus lugares reservados no Reino dos Céus onde já não haverá discriminação de samaritanos nem de ninguém.

 

Camilo – Marinha Grande, Portugal – Junho de 2014.

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas

 

 

(a) Quem eram os samaritanos?

Samaria era a cidade capital do distrito que tinha o mesmo nome, de acordo com a divisão administrativa estabelecida por Roma.

Ao ler a Bíblia, podemos ficar com a ideia de que seria uma pequena cidade a comparar com a grandiosidade de Jerusalém. Isso é verdade, mas só num contexto de teologia. Num contexto de economia, enquanto Jerusalém já era nessa época, uma velha cidade que não podia crescer mais devido ao acidentado do terreno e as suas muralhas, dentro das quais já não havia mais lugar para a cidade se desenvolver, Samaria, pelo contrário, estava no centro duma região rica em agricultura com grande desenvolvimento, o que levou Roma a beneficiar Samaria duma via romana 

Samaria era uma cidade “moderna” para a época, onde os viajantes dispunham de todas as comodidades para obter comida, alojamento e até uma piscina pública. Como consequência, por ser uma cidade por onde passava muita gente, aliada à liberdade de religião do Império Romano, Samaria tinha vários templos onde diferentes deuses eram adorados.

 

(b) Uma das descrições da Bíblia que costuma passar despercebida à nossa compreensão é o caso de Rebeca que encontramos em Génesis 24:01/26

Um camelo que esteja com sede depois da travessia do deserto em que esgotou a sua reserva de água, pode beber até 200 litros de água que tem se ser elevada desde o fundo do poço, por vezes a algumas dezenas de metros de profundidade. Os 200 litros são o valor máximo, mas admitindo que cada um desses camelos bebesse 100 ou 120 litros seriam 100 a 120 quilos. Para os 10 camelos seria necessário elevar mais de uma tonelada a uma altura de 10 ou 20 metros, trabalho que não está ao alcance da maior parte dos homens dos nossos dias, mesmo não contando com o peso do balde. O servo de Abraão apresenta uma “foto” de Rebeca bem compreensível na sua cultura, mas que pode passar despercebida nos nossos dias e até podemos imaginar uma frágil menina que abriu a torneira pois teve dó dos camelos após a travessia do deserto. O seu povo, nesse contexto histórico, bem sabia o que era tirar água do poço para uma família, mas para satisfazer dez camelos, só uma jovem grande e forte, com braços poderosos, que seria perfeita para ser a futura matriarca duma grande e poderosa família.

 

(c) Nesse contexto cultural, tinham uma concepção cosmogónica que imaginava a terra como um prato invertido à superfície das águas, apoiada em colunas, em que os céus estavam para cima e os infernos por baixo. A terra era o centro do Universo, à volta da qual giravam as nuvens e todos os astros. Assim, certamente que quem mais alto estivesse, mais próximo estaria de Deus. Todas as religiões dessa época tinham os seus templos que consideravam o local onde o seu deus morava e exercia a sua influência. Era também esse o conceito do judaísmo. Era no Templo de Jerusalém a morada do deus dos judeus e onde ele se manifestava, podia ser contactado e exercia a sua influência.

Portanto, era mais um deus regional, como todos os deuses das tribos ou das várias cidades que lutavam a favor do seu povo, contra todos os outros povos.

 

(d) Esta passagem mostra bem a “liberdade” de pensamento e de religião que havia em Israel. Todos os praticantes de outras religiões eram condenados à morte por lapidação em que o acusador lançava primeira pedra e depois todos os outros eram obrigados a servir de carrascos.

Na época de Jesus já havia liberdade de religião, pois a civilização já tinha chegado a Israel através da colonização romana que os impedia de aplicar a pena de morte por divergências religiosas. Nessa época, da mulher samaritana, estava certamente bem presente o ódio entre judeus e samaritanos, e possivelmente alguns dos seus familiares foram vítimas dessa guerra religiosa. 

 

(e) Não sei se no Brasil será compreensível a expressão “vender o seu peixe” que se refere à atitude de quem apresenta a sua opinião e não deixa falar mais ninguém.

 

(f) Contaram-me o caso duma crente suíça que veio a Portugal de férias com os seus meninos. As crianças, muito curiosas por andar de avião pela primeira vez, tudo observam com muita atenção. Vêm o avião a circular na pista, ganhar velocidade, levantar voo, ganhar altura, passar acima das nuvens e continuam à espera de mais alguma coisa… até que perguntam. Então mamã?!

Então o quê?, responde a senhora. Já vamos a caminho de Portugal.

Mas…, onde está? 

Está o quê?

Onde está Deus? Não é aqui em cima que está Deus olhando lá para baixo, para ver quem se porta mal?

 

 

 

Literatura consultada:

Traduções bíblicas: TEB,  Jerusalém, Almeida, BPT, Capuchinos.

Alcorão – Tradução de M. Yiossuf M. Adamgy

Comentário bíblicos de Werner de Boor

Comentário de João de Juan Mateos – Juan Barreto

 “Jerusalém no tempo de Jesus” de Joaquim Jeremias – Paulus, São Paulo

Dicionário Bíblico de John D. Davis

Atlas Bíblico das Edições Zairol, Ldª Mem Martins – Lisboa

 

Na sequência deste assunto da adoração a Deus, veja também os artigos Em espírito e verdade (CC), Louvor no Islão (YA) e Louvor a Deus (CC)                    

Veja também estudos sobre outros personagens bíblicos em Diversos assuntos bíblicos

 

 

 

Comentários recebidos

 

 

Pastor José Luiz Batista – Curitiba, Paraná, Brasil - Junho de 2014

Caro Camilo.

Diante da importância do texto e para ativar outra discussão sobre o tema, tomei a liberdade de republica-lo na página www.facebook.com/religiaoevida mesmo sem sua prévia permissão.

Com fraternos respeitos.

José Luiz Batista

 

Prezado Pastor José Luiz Batista

Na minha página, onde quase todos os artigos são originais, estes podem ser livremente divulgados, desde que mencione o nome do autor e a nossa página na Internet, a Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas, que não tem quaisquer finalidades financeiras. Mas agradeço a todos que me contactam.

Nos casos em que são transcrições de outras páginas na internet ou de outras publicações, deverão contactar com os autores desses artigos.

Costumo sugerir uma ligação informática ao artigo na minha página a fim de funcionarem também as referências bíblicas e fotos que tenho nos artigos.

Desejo os melhores resultados para a www.facebook.com/religiaoevida

Camilo

 

 

Pastor Orlando Caetano – Leiria, Portugal - Junho de 2014

Fica descansado que eu não o leio.

Fico com os fundamentalistas...  que não precisam de pedradas nem de “chá”!

Não me julgo melhor do que ninguém.

 

Ao Pastor Orlando Caetano

Não vou comentar esta mensagem que me enviaste. Limito-me a publicar como as outras, pois a minha página não é fundamentalista. Não faço censura teológica e respeito o Direito à heresia (CC)  

Camilo

 

 

Arménio Anjo – Leiria, Portugal – Junho de 2014

Acabo de ler o artigo. Do meu ponto de vista, trata-se de um bom documento para reflexão, na sua generalidade.

Tenho, no entanto, opinião diferente da expressa no texto relativa à nova Igreja de Fátima.

O facto de não ter sido implantada num ponto elevado ou de não se tratar de uma construção grandiosa em altura, não deixa de ser um TEMPLO GRANDIOSO interiormente, onde foram gastos, segundo notícias vindas a público na altura do seu acabamento, cerca de OITENTA MILHÕES de Euros. Chama-se a isto uma Igreja humilde?!!! Parte desses fundos não poderiam reverter a favor de tanta gente carenciada por esse país fora?

Se Jesus Cristo viesse agora e visse isto ficaria satisfeito? Ele, sim, Ele deu o exemplo da HUMILDADE!

 

Obrigado Arménio por teres levantado esta questão.

Como disse no meu artigo Samaritana (CC), eu identifico-me com a arquitectura da Basílica do Espírito Santo. 

Apoio a arquitetura no aspecto teológico por manter o aspecto humilde e rural, integrando-se na paisagem, assim como a facilidade de acesso e saída, mesmo duma grande multidão, pelos seus amplos corredores e suas 13 portas de grandes dimensões.

Não conheço os cálculos do edifício, mas como engenheiro de construção civil, julgo que um edifício mais alto e imponente do lado de fora, até ficaria mais económico. Foi necessário escavar muitos metros cúbicos de rocha e transportar para longe muitas toneladas para que o edifício ficasse meio enterrado. Isso teve implicações não só na arquitectura, como no isolamento térmico e acústico, bem como resistência aos sismos.

Quem se interessar pela acústica, poderá obter mais informações na página da TecniAcústica http://paginas.fe.up.pt/~carvalho/TA09fatima.pdf 

Mas julgo que seria muito importante, não só para os católicos como para todos os outros religiosos meditar na questão que levantas do aspecto económico, para a qual, como gerente bancário aposentado, estás certamente mais sensibilizado do que eu.

Sim, foi uma obra muito dispendiosa. Num folheto que me deram em Fátima numa secção dedicada aos técnicos que visitavam o santuário enquanto ainda decorriam as obras de escavação, consta que a “construção estava orçamentada em 40 milhões de euros” (nessa altura era uma estimativa). Julgo que os 80 milhões a que te referes, devem incluir os acessos com o túnel com passagem desnivelada, parques de estacionamento etc. informação que me parece confirmada pela página de internet Arquitek em http://arquitek.blogspot.pt/2007/10/igreja-da-santssima-trindade-em-ftima.html Assim seriam 70 milhões do edifício + 10 milhões de comparticipação ao município para as obras que efectuou recentemente nos acessos.

Vamos aceitar como certo o valor de 70 milhões de euros.

Trata-se dum templo com 8633 lugares sentados, que atendendo aos espaçosos corredores, como se vê nas seguintes Imagens da igreja da Santíssima Trindade de Fátima, número que poderia certamente ser aumentado de alguns milhares em dias especiais de assistência de pé.

Mas, se considerarmos que os € 70 000 000 são para 8633 lugares, teríamos o valor de 8 100 euros por cada lugar.

Nessa proporção, a antiga Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima que tem capacidade para 600 pessoas sentadas deveria custar 8100 x 600 = 4 865 000 euros, valor que me parece insuficiente. Assim, a nova igreja, agora Basílica da Santíssima Trindade, teve um menor custo por cada lugar.

Também podemos pensar nalguma pequena igreja evangélica que compra um edifício residencial ou apartamento tipo T4 em Leiria (cidade próxima de Fátima) por cerca de € 200 000, se for novo, para o transformar em igreja. Na mesma proporção, 8 100 euros por lugar, corresponderiam a 25 lugares. Parece-me que não estamos muito longe da realidade.

Deixo o assunto à consideração dos visitantes da nossa página, para outras opiniões.

Sobre este assunto, poderíamos também questionar:

Será que uma igreja cristã deverá continuar a ser um espaço dedicado exclusivamente ao culto? Certamente que esta opção tem base bíblica veterotestamentária, mas estará em sintonia com o pensamento do nosso Mestre? Foi essa a opção do primitivo cristianismo?

Não poderia, ou deveria uma igreja (edifício) ter também outras finalidades, como o apoio social, assistência médica, etc.

Deixo estes assuntos à consideração dos visitantes da nossa página, e estamos abertos a outras opiniões que nos queiram enviar.

Camilo

 

 

David de Oliveira Goiânia, Brasil – Junho de 2014

Posso dar a minha opinião?

O termo “igreja”, mais utilizado atualmente, não passa de um lugar que representa uma sede ou filial das mais diversas organizações humanas que abriga a religião “cristianismo”, mas nem de longe, infelizmente, representa na prática o Evangelho de Jesus.

O teu artigo foi ótimo, mas não dirimiu minha dúvida sobre o que realmente Jesus quis dizer sobre adorar “em espírito e em verdade”, no lugar dos dois templos.

 

Caro David

Tens toda a razão. Sim, eu não disse o que é adorar em espírito e verdade, porque não sei bem como é.

Mas talvez pudesse desenvolver esse assunto um pouco mais e esperar que outros visitantes nos possam ajudar acrescentando mais alguma coisa. Necessito de mais tempo, para meditar no assunto.

Camilo

Aditamento em Julho de 2014

Convido a ler o meu novo artigo Em espírito e verdade (CC).

Camilo