SAMARITANA (CC)
(Deverá “clicar” nas referências bíblicas para ter acesso aos textos)
João
4:3/34 (Tradução da TEB)
3
Ele deixou a Judeia e foi para a Galileia. 4
Ora, era preciso que atravessasse a Samaria. 5
Foi assim que ele chegou a uma cidade da Samaria chamada Sicar, não
longe da terra dada por Jacó a seu filho José,
6
lá mesmo onde se acha a fonte de Jacó. Cansado da viagem, Jesus
estava assim sentado junto à fonte. Era mais ou menos a sexta hora. 7
Chega uma mulher da Samaria para tirar água; Jesus lhe disse:
“Dá-me de beber.” 8
Os seus discípulos, com efeito, tinham ido à cidade para comprar o
que comer. 9 Mas esta mulher, esta samaritana, lhe disse: “Como? Tu, um judeu,
tu me pedes de beber a mim, uma mulher samaritana?” Os judeus, com efeito, não
querem ter nada em comum com os samaritanos. 10
Jesus lhe respondeu: ”Se conhecesses o dom de Deus, e quem é aquele
que te diz: “Dá-me de beber”, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva.”
11
A mulher disse: “Senhor, tu não tens sequer um balde, e o poço é
profundo; de onde tiras, então, essa água viva? 12
Serias maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço do qual
ele mesmo bebeu, como também seus filhos e os seus animais?”
13
Jesus lhe respondeu: “Todo aquele que bebe desta água ainda terá
sede; 14 mas
aquele que beber da água que eu lhe darei nunca mais terá sede; pelo contrário,
a água que eu lhe darei se tornará nele uma fonte que jorrará para a vida
eterna”. 15 A
mulher lhe disse: “Senhor, dá-me dessa água, para que
eu não tenha mais sede e não precise mais vir aqui tirar água.”
16
Jesus lhe disse: “Vai, chama o teu marido e volta aqui.”
17
A mulher respondeu: “Eu não tenho marido.” 18 Jesus
lhe disse: “Tu dizes bem: ‘Não tenho marido’; tiveste cinco e o que tens agora
não é teu marido. Nisso disseste a verdade.” 19
“Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu
és um profeta. 20
Os nossos pais adoraram sobre esta montanha, e vós afirmais que é
em Jerusalém que se encontra o lugar onde se deve adorar.”
21
Jesus lhe disse: “Acreditai-me, ó mulher, vem a hora em que nem
sobre esta montanha, nem em Jerusalém adorareis o Pai.
22
Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos,
pois a salvação vem dos judeus. 23
Mas vem a hora, e é agora, na qual os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espírito e verdade; tais são, com efeito os adoradores que o
Pai procura. 24 Deus é espírito, e por isso os que o adoram devem adorar em
espírito e em verdade”.
25
A mulher lhe disse: “Eu sei que um Messias deve vir – aquele que chamam Cristo. Quando ele vier, anunciar-nos-á
todas as coisas.” 26
Jesus lhe disse: Sou eu, eu que estou falando a ti.”
27
Nisso, os discípulos chegaram. Eles ficaram estupefatos ao verem
Jesus falar com uma mulher, mas ninguém lhe disse: “Que procuras?” ou “Por que lhe falas?” 28
A mulher, então, largando o cântaro foi à cidade e disse ao povo:
29
“Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o
Cristo?” 30 Eles
saíram da cidade e foram ter com ele. 31
Enquanto isso, os discípulos insistiam com ele: “Rabi, come!” 32
Mas ele lhes disse: “Eu tenho para comer um alimento que vós não
conheceis”. 33
Nisso os discípulos disseram entre si: “Alguém lhe teria dado de
comer?”
34
Jesus lhes disse: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me
enviou e realizar a sua obra”.
1) Introdução
Certamente
que esta passagem é bem conhecida dos leitores da minha página na internet,
pois até faz parte do leccionário litúrgico utilizado nas igrejas católicas e
no protestantismo tradicional.
Mas
há um pormenor que me chamou a atenção. Apesar desta conversa de Jesus com a
mulher samaritana se ter passado há cerca de vinte séculos, num contexto
histórico e cultural bem diferente do nosso, há muitas semelhanças nos
problemas que enfrentava a mulher samaritana que ainda continuam válidos nos
nossos dias.
2) Contexto histórico desta
passagem
Jesus,
acompanhado pelos seus discípulos, estava na Samaria vindo da Judeia a caminho
da Galileia. Segundo afirma João 4:4,
era necessário atravessar a Samaria.
Na
verdade, a Samaria localizava-se entre a Judeia a sul, e a Galileia a norte. (a)
Mas,
não poderiam eles atravessar o rio Jordão caminhando pela Transjordânia, como
era aliás o percurso de muitos galileus que se dirigiam a Jerusalém, evitando
assim encontrar-se com samaritanos?! Por que afirma o evangelista João que era
necessário atravessar a Samaria? Qual seria a necessidade de atravessar a
Samaria? Seria somente devido à posição geográfica destas províncias? Ou seria
outro o motivo? Era necessário para o Mestre cumprir os seus planos de
divulgação da mensagem cristã? Para mostrar que a sua mensagem era também para
os samaritanos e não somente para judeus? Era necessário para desfazer a
animosidade entre judeus e samaritanos? Para se demarcar da atitude racista da
Velha Lei e dos sacerdotes de Jerusalém?
Nesse
contexto histórico e cultural a aproximação entre judeus e samaritanos parecia
tarefa impossível devido ao um passado bem recente.
Os
dois povos eram bem diferentes: Enquanto na Judeia se orgulhavam do seu
passado, nomeadamente em Jerusalém, onde segundo diz o historiador Joaquim
Jeremias, havia sacerdotes que sabiam de cor os nomes dos seus antepassados até
250 anos, o que comprovava a sua “santidade genealógica”, em Samaria, pelo
contrário, o ambiente talvez fosse mais semelhante ao do nosso tempo, pois
grande parte da população era resultado da mistura com outros povos.
Inicialmente eles eram israelitas que se misturaram com alguns dos antigos
habitantes da região, pois a maior parte destes foi exterminada segundo
instruções do deus de Moisés nas guerras de ocupação do território, mas outros
conseguiram sobreviver nas pequenas povoações das montanhas. Mais tarde, cerca
do ano 720 A.C. Sargão II levou 27280 samaritanos de origem israelita cativos
para Babilónia e em seu lugar colocou colónias de babilónios em Samaria 2º Reis 17:24 para obrigar os israelitas mais racistas
a misturar-se com os outros povos.
Mas
havia outros motivos muito mais graves. Cerca do ano 129 A.C. os samaritanos,
fartos de serem discriminados pelo racismo do Templo de Jerusalém, decidem
construir outro Templo em Garizim, que se destinava a servir o mesmo Deus dos
judeus. Mas essa proximidade teológica, pois serviam o mesmo Deus, longe de
aproximar os dois povos, ainda mais os afastou, pois os interesses económicos
foram mais fortes que as convicções teológicas. Certamente que os sacerdotes do
Templo de Jerusalém, previram uma forte redução nas contribuições dos crentes.
O
sacerdote João Hircano, ao serviço de Jerusalém, organiza uma expedição bélica,
apodera-se de Siquém (perto da cidade de Sicar, onde estava a mulher
samaritana) e destrói o Templo de Garizim, pois os sacerdotes de Jerusalém
discriminavam os samaritanos, mas não faziam discriminação nas ofertas que
recebiam. Mas, mesmo depois do seu templo arrasado, os samaritanos continuaram
a cultuar nesse monte. Até hoje, lá estão as ruínas do templo de Garizim. Houve
séculos de lutas entre judeus e samaritanos. Até havia legislação do Templo de
Jerusalém, pouco antes de chegada dos romanos, que considerava os samaritanos
como impuros ao mais alto grau desde o seu nascimento.
Embora
os templos de Jerusalém e de Garizim servissem o mesmo Deus, nunca reconheceram
tal facto como elemento de aproximação. Quando algum crente se convertia do
templo de Garizim ao de Jerusalém, ou de Jerusalém ao de Garizim, era obrigado
a nova circuncisão, pois não reconheciam como válida a circuncisão do outro
templo. Até nos faz lembrar os rebatismos de certas igrejas evangélicas.
Em
toda a história de Israel dessa época, só ficou registado um único gesto de boa
vontade quando Herodes o Grande tentou aproximar os dois povos, judeus e
samaritanos, casando-se com uma samaritana. Ele tentou desfazer essa
animosidade permitindo que os samaritanos deixassem de estar limitados ao pátio
dos gentios e pudessem entrar no salão principal do Templo de Jerusalém. Mas os
historiadores julgam ser este um caso único. Também não encontraram outros
casos de casamentos entre judeus e samaritanos.
Anos
mais tarde, já no tempo do domínio romano, depois de Jesus nascer, como reacção
pela destruição do seu templo, os samaritanos aproveitando a época da Páscoa,
quando grandes multidões afluíam a Jerusalém, escavam nos túmulos dessa cidade
e retiram ossos de cadáveres que espalham pelo Templo de Jerusalém tornando-o
assim imundo de acordo com a teologia veterotestamentária. Josefo, que era
judeu, decide omitir este facto, segundo o historiador Joaquim Jeremias.
Jesus,
em criança, deve certamente ter assistido a muitas cenas de ódio e
intransigência religiosa e deve ter visto os judeus mais ortodoxos virarem-se
para Samaria, pedindo a Deus para destruir os samaritanos.
Na
época em que Jesus viveu, já tando a Judeia como a Samaria pertenciam a Império
Romano que obrigou os judeus a aceitar a liberdade de religião. Já não podiam
cumprir Levítico 20:27 ou Êxodo 22:20 atacando as outras religiões. Mas as autoridades
romanas não conseguiam controlar tudo e ao entrar em Samaria,
Jesus e todos que o seguiam, estavam em perigo de vida, pois era frequente os
grupos de judeus que se dirigiam a Jerusalém ou de lá regressavam, serem
atacados e até mortos pelos samaritanos.
3) Poço ou fonte de Jacó?
Julgo
que para a grande maioria dos leitores da nossa página, nomeadamente os que
vivem nas nossas cidades, o facto de poço ou fonte será considerado um assunto
perfeitamente secundário e sem interesse, pois para obter água, basta
simplesmente abrir uma torneira. De onde vem a água?! Isso é problema dos
engenheiros...
O
ser humano não pode sobreviver sem água, e um poço era assunto de vida ou morte
nessa cultura, assim como continua a ser nos nossos dias em muitos países com
falta de água. Todas as antigas religiões dão uma grande importância ao assunto
da água, quer o judaísmo como o islamismo ou o antigo hinduísmo. Claro que com
o cristianismo dessa época, também a localização de água, que passa quase
despercebida nos nossos dias era assunto da máxima importância, pois sem água
não há vida.
Foi
neste contexto cultural que o apóstolo João se referiu a esta fonte. Segundo
lemos no versículo 6 lá mesmo onde se acha a fonte de Jacó. Cansado da viagem,
Jesus estava assim sentado junto à fonte. Era mais ou menos a sexta hora.
Afinal,
seria fonte ou poço? A maior parte das nossas versões da Bíblia traduz por
poço. Mas no grego as palavras são bem diferentes e no versículo 6 aparece a
palavra fonte, como está nas traduções mais rigorosas como a TEB ou a
Jerusalém, mas no vr. 11 já está poço.
Eles
nunca iriam confundir uma fonte com um poço. As fontes jorram naturalmente
enquanto nos poços a água está a níveis inferiores, por vezes bem profundos,
como disse a samaritana. Julgo não ser possível chegar a uma conclusão, mas
posso dar algumas hipóteses para tentar sanar esta dúvida.
A
mulher samaritana, no versículo vinte, já nos dá uma boa pista quando fala em “esta montanha”.
Eles não estavam em zona plana, mas numa região montanhosa, num vale entre o
monte Garizim e o monte Ebal, o que dá boas
possibilidades de se encontrar uma fonte, nomeadamente na época das chuvas.
Podemos procurar com o “Google Earth” ou com o
localizador de GPS http://showmystreet.com/
ou qualquer outro programa de internet que nos dê a presumível localização de
Sicar (próximo de Siquém) com o nome actual de “Tell
Balata”. Mas certamente que no tempo de Jesus não havia as estradas nem os
edifícios que de vêm actualmente. Podemos também, encontrar com mais certeza o
Monte Garizim com o nome actual de “Jabal at Tur - Bracha”. O monte não era
assim tão alto e hoje há estradas para subir ao ponto mais alto que está
coberto de edifícios. Nos países quentes, os lugares altos e arejados são os
mais disputados para se morar. O Rio de Janeiro é a única excepção que conheço,
onde o rico mora em baixo e o pobre no alto dos morros, beneficiando de melhor
clima e vista panorâmica.
Vemos
também que Sicar estava a 480 metros de altitude, Garizim atingia os 860 metros
e Ebal a cerca de 800 metros de altitude. Não conheço
a constituição geológica do local, mas admito que haja condições para grandes
alterações do nível freático e até para fenómenos de poços artesianos em certas
épocas do ano. Assim, na época das chuvas poderia aparecer espontaneamente um
grande manancial de águas, que secava e seria poço que poderia atingir algumas
dezenas de metros de profundidade na época seca, já que se encontravam num vale
entre dois montes.
4) Samaritana
6
lá mesmo onde se
acha a fonte de Jacó. Cansado da viagem, Jesus estava assim sentado junto à
fonte. Era mais ou menos a sexta hora.
Os
judeus contavam as horas a partir do nascer do sol, pelo que a “sexta hora”
seria cerca do meio-dia. Não podemos deixar de estranhar que depois de
caminharem juntos, só Jesus estava cansado e todos os discípulos foram à cidade
samaritana comprar comida! Será que o Mestre já sabia o que iria acontecer e
esperou pela samaritana? A sua afirmação no versículo 34 (Jesus lhes disse: “O meu alimento é fazer a
vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra.) leva-nos a pensar que o seu encontro com a mulher
samaritana foi programado com antecedência.
7
Chega uma mulher
da Samaria para tirar água; Jesus lhe disse: “Dá-me de beber.” 8
Os seus
discípulos, com efeito, tinham ido à cidade para comprar o que comer.
Também
podemos perguntar por que foram todos os apóstolos comprar comida? Um dos
motivos poderia ser a sua própria segurança. Sendo judeus, poderiam ser mal
recebidos pelos samaritanos, como muitas vezes acontecia, e sendo 12 homens,
melhor poderiam defender-se.
Esta
passagem faz-me lembrar o que vemos nos nossos dias. Os nossos clérigos,
pastores ou padres geralmente estão sobrecarregados com trabalhos burocráticos
e de gestão, relatórios, todo o tipo de reuniões, e pouco tempo lhes resta para
o mais importante. Podemos imaginar o que disseram os discípulos quando
voltaram: Vê Mestre: São pães
samaritanos… Sabes quanto pediam e quanto pagamos por eles?! Não fomos
eficientes? A resposta está no vr. 32
Mas ele lhes
disse: “Eu tenho para comer um alimento que vós não conheceis”.
Jesus
inicia a conversa com a samaritana com um pedido. “Dá-me de beber.”
9
Mas esta mulher,
esta samaritana, lhe disse: “Como? Tu, um judeu, tu me pedes de beber a mim,
uma mulher samaritana?”
É
bem compreensível a reacção da samaritana. Deve ter reconhecido que Jesus era
um judeu, pelas suas feições, suas vestes e por ser um viajante que atravessava
a Samaria, certamente a caminho de Jerusalém ou de lá regressando.
O
Mestre ultrapassa todas as divisões, entre judeus e samaritanos, entre homens e
mulheres, entre clérigos e leigos, entre o santo e a pecadora, não com a
arrogância e paternalismo do Sumo-sacerdote, mas pela forma mais humilde, com
um pedido de ajuda. É Jesus que pede água. Mas nesse contexto cultural, a água
tinha um significado que passa despercebido ao homem dos nossos dias. João
afirma que Era
mais ou menos e sexta hora. Portanto a hora do calor do meio-dia e
podemos imaginar o Sol quente a as areias escaldantes que encontraram pelo
caminho. Foi a essa hora que apareceu a mulher samaritana. Geralmente as
mulheres iam buscar água ao poço bem cedo de manhã ou ao pôr-do-sol, para
evitar o calor do caminho, após o que teriam de efectuar o esforço de puxar
pela corda para elevar a água do poço, por vezes com algumas dezenas de metros
de profundidade, para depois carregar a água para casa. Isso ainda acontece
nalguns locais do interior de África. Alguns comentadores sugerem que a mulher
samaritana tenha ido buscar água a essa hora, para não se encontrar com as
outras mulheres.
10
Jesus lhe
respondeu: ”Se conhecesses o dom de Deus, e quem é aquele que te diz: “Dá-me de
beber”, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva.”
Jesus
prefere ignorar a pergunta da samaritana. Não toma qualquer posição nos graves
problemas entre judeus e samaritanos. Deus sempre esteve muito acima de todos
os problemas entre os religiosos, quer se trate de judeus e samaritanos, ou
católicos e protestantes, ou islâmicos e hindus, ou entre as várias
denominações evangélicas, ou quaisquer outras religiões. Em vez de responder à
samaritana, o Mestre prefere falar na salvação através do simbolismo da “água
viva”, que é para todos.
Geralmente
a expressão “água viva”, que aparece também em João 7:38
como referência ao Espírito Santo, dá ideia de água em movimente, água
corrente, que ao contrário da água estagnada, é mais limpa por largar os
resíduos pelo caminho, mas principalmente por ser água mais oxigenada, mais
saudável e mais limpa de micróbios e bactérias. Os versículos em Apocalipse 21:6,
Apocalipse
22:1
e Apocalipse
22;17 referem-se a “água da vida”, referindo a sua
limpidez.
Penso
que a expressão “água da vida” tanto pode ser interpretada sob o aspecto
espiritual como também é válida no aspecto material, pois sem água não há vida.
Trata-se duma comparação apropriada e bem oportuna, que a samaritana bem
compreendia, certamente muito melhor do que nós que nos limitamos a abrir a
torneira para obter água.
Como
o caminhante desesperado, busca por água… água fresca e revigorante depois duma
longa caminhada por terrenos quentes e secos sob sol escaldante, também no
campo espiritual, acabaram-se as buscas por Deus nos vários templos das várias
religiões. Deus veio ao encontro do ser humano e está bem presente em qualquer
lugar. Água viva, antiga expressão sempre válida porque, sem água não há vida.
Num clima quente e seco a água fresca é o bem mais precioso.
A
água dum poço bem fundo, em dias de grande calor, deve parecer mais fresca,
porque o terreno é um bom isolante térmico. Assim, a temperatura em
profundidade é constante, pelo que nos dá a sensação da água estar fresca nos
dias de muito calor e estar morna nos dias mais frios.
Há
certamente muitos pormenores desta metáfora da água que escapam a quem se
habituou à facilidade como obtemos a água. Talvez as mulheres em certos locais
de África que têm de caminhar longas distâncias para ir buscar água, estejam em
melhores condições para compreender a ilustração do Mestre. Tirar água do poço,
em certos locais, é trabalho árduo que geralmente é efectuado por mulheres. (b)
11
A mulher disse:
“Senhor, tu não tens sequer um balde, e o poço é profundo; de onde tiras,
então, essa água viva? 12
Serias maior do
que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço do qual ele mesmo bebeu, como também
seus filhos e os seus animais?” 13
Jesus lhe
respondeu: “Todo aquele que bebe desta água ainda terá sede;
A
forma como a samaritana se dirige a Jesus tratando-o respeitosamente por Senhor,
caso bem raro entre samaritanos e judeus, parece indicar que reconhecera alguma
coisa de diferente em Jesus. Apesar de sozinho e indefeso na Samaria, parece
que algum poder superior ao das armas o protegia. Será isso um atributo
exclusivo do Mestre? Será só coisa dum passado distante que já não funciona nos
nossos dias? Lembro-me de ver em alguns locais da Índia as freiras da Madre
Teresa de Calcutá andarem duas a duas ou até sozinhas de bicicleta, pelos
locais mais perigosos e por todos serem respeitadas.
Mas
a samaritana nunca ouvira falar em água viva. Para ela, água era coisa que só se
conseguia com balde e cordas, com muito esforço. Como seria possível água viva,
que matasse a sede para sempre? E água gratuita?!
14
mas aquele que
beber da água que eu lhe darei nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que
eu lhe darei se tornará nele uma fonte que jorrará para a vida eterna” A
água viva que Jesus promete à samaritana, não só saciará a sua sede como se
tornará, como que uma fonte para matar a sede dos outros. O testemunho do
crente não é uma técnica que se aprende na igreja ou no seminário, como se
fosse simples propaganda duma igreja, mas é alguma coisa que brota com naturalidade,
abundantemente e espontaneamente. Não é nas igrejas que se conhecem os
verdadeiros crentes em Cristo, sejam eles leigos, pastores, padres ou bispos.
Pode alguém ser batizado, cumprir todos os rituais, ter o seu nome nos registos
da sua igreja e não ter a “água viva” a que Jesus se referiu e ser simplesmente
membro duma igreja, que só tem utilidade no salão de cultos da sua igreja, mas
é pelo seu comportamento em ambiente secular que se conhecem os verdadeiros
adoradores que não podem deixar de manifestar a Cristo.
15
A mulher lhe
disse: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede e não precise
mais vir aqui tirar água.” Não sabemos até que ponto a samaritana
terá compreendido a linguagem simbólica do Mestre, mas logo interpreta a
afirmação de Jesus da forma mais conveniente para o seu caso em particular.
Assim, deixaria de ser necessário o árduo trabalho de ir todos os dias tirar
água do poço e carregar para sua casa.
A
atitude da mulher samaritana que interpreta os ensinos do Mestre sob o aspecto
utilitário, até faz lembrar o que acontece connosco. Não é o que apregoam
muitas igrejas com a teologia da prosperidade? Venha a Jesus que Ele irá
resolver todos os seus problemas quer familiares, quer de emprego, ou de saúde,
ou de dinheiro etc. etc.
16
Jesus lhe
disse: “Vai, chama o teu marido e volta aqui.”
17
A mulher
respondeu: “Eu não tenho marido.” 18
Jesus lhe disse:
“Tu dizes bem: ‘Não tenho marido’; tiveste cinco e o que tens agora não é teu
marido. Nisso disseste a verdade.” Ficamos com a sensação de que
Jesus desiste da conversa a muda de assunto. Mas a mulher começava a
compreender a Jesus ao mesmo tempo que o Mestre mostra a sua omnisciência e
decide alertá-la para a sua condição de pecadora, marginalizada pelo seu próprio
povo, mas com delicadeza e sem a arrogância dos sacerdotes sempre prontos a
condenar, por vezes com a pena de morte de acordo com o Velho Testamento. Nesse
contexto histórico, de acordo com a Lei de Moisés, enquanto uma mulher só podia
ter um marido, sendo punida com a pena de morte se não lhe fosse fiel Deuteronómio
22:22, já não havia qualquer limite de mulheres que um
homem podia ter e a maior parte dos que são considerados como os grandes
exemplos veterotestamentários também nos deixaram o exemplo da poligamia. Não
vejo motivo para considerar a mulher como uma prostituta, como alguns
interpretam, pois há a possibilidade dos cinco maridos terem falecido, ou
terem-lhe concedido o divórcio, pois segundo o historiador Joaquim Jeremias o
direito ao divórcio pertencia quase exclusivamente ao marido. A “segurança” da
mulher residia essencialmente nos filhos, principalmente se fossem do sexo
masculino, o que lhe dava prestígio e a tornava mais respeitada. Talvez este
fosse mais um caso duma mulher estéril, o que levou os cinco maridos a
rejeita-la. O pecado da mulher era viver maritalmente com um homem sem ser
casada, o que a colocava em perigo de ser executada pelos mais zelosos pelo
cumprimento da velha Lei de Moisés.
5) Onde está Deus?
19
“Senhor,
disse-lhe a mulher, vejo que tu és um profeta. 20 Os nossos pais
adoraram sobre esta montanha, e vós afirmais que é em Jerusalém que se encontra
o lugar onde se deve adorar.” A samaritana reconhece Jesus como
Profeta e coloca uma das mais importantes perguntas de todo o Novo Testamento.
O
que ficou registado, foi certamente um resumo duma longa conversa. Podemos
imaginar o que teria perguntado a samaritana: Onde podemos adorar a Deus? Será que os nossos antepassados
samaritanos, agiram mal ao construir um templo para servir ao Deus supremo?
Será que nós, samaritanos, só podemos encontrar Deus no Templo de Jerusalém,
onde sou discriminada por ser samaritana e por ser mulher?! Alguns samaritanos
continuam a adorar entre as ruínas do templo que os judeus destruíram. Será que
Deus se pode manifestar nessas ruínas? Será que as armas que destruíram o nosso
templo onde muitos samaritanos perderam as suas vidas, não foram capazes de nos
afastar Deus? Poderemos continuar a cultuar entre essas ruínas?
Depois
dos vinte séculos que nos separam da mulher samaritana, penso que a sua
pergunta continua bem actual.
Para
a samaritana o importante seria encontrar o local certo, o sacrifício indicado,
a reza ou a frase que obrigasse o verdadeiro Deus a manifestar-se. Só havia
duas hipóteses: Jerusalém, ou Garizim. Dois templos que competiam entre si.
Qual o maior templo, ou o mais imponente? Se estavam em dois montes diferentes,
qual o mais alto?! Onde estavam os sacerdotes com maior pureza genealógica, os
descendentes directos de Abraão?! (c)
Penso
que o problema tem continuado através dos tempos, não só nas religiões abraâmicas,
como o judaísmo, cristianismo ou islamismo com todas as suas subdivisões como
noutras religiões. Qual o maior templo religioso do mundo? Qual o de maior
capacidade, o mais alto, ou o mais imponente? São esses os aspectos que mais
impressionam os visitantes. Será o Templo budista de Angkor,
no Camboja? Ou o Templo hindu de Akshardham em Nova
Deli, na Índia? Ou a Mesquita de Al-Haram em Meca, na
Arábia Saudita? Ou a Basílica de São Pedro no Vaticano?
Duvido
que Jesus esteja interessado nestes aspectos que tanto impressionam os
visitantes. Talvez o Mestre faça uma outra pergunta: Onde estão as boas obras
dessas comunidades em que o Pai está interessado? Mateus
25:31/46 Onde estão as obras de apoio social como os
hospitais, infantários, os lares de idosos etc.
Será
que Jesus, que nunca teve a sua morada, que descansou à sombra das árvores e
caminhou a pé pelas estradas, que apresentou as suas mensagens mais
importantes, não no Templo, a “fortaleza dos seus inimigos”, mas ao ar livre,
nas praias e nos montes, estará interessado no ambiente de riqueza de algumas
igrejas onde a sua mensagem é anunciada?
Há
um aspecto que mais aprecio na arquitectura nova Basílica da Santíssima
Trindade em Fátima, pois mantem, tanto quanto possível, o aspecto de igreja
humilde e rural. Ao contrário da antiga Basílica de Fátima, embora tenha 8633
lugares sentados, evitou competir em altura, fazendo precisamente o contrário,
tentando passar despercebida no meio da arborização, sendo meio enterrada.
Basílica
de Fátima – Construída em 1917 - 2 600 m2 de superfície, 37 m de altura da
torre. Capacidade de 600 lugares sentados.
Basílica da
Santíssima Trindade em Fátima – Construída em 2012 - 40 000 m2 de
superfície e 8 633 lugares sentados.
Só
tem 18 metros de altura acima do terreno.
Não
tem torre, mas o que sobressai mais alto que o edifício é a cruz como símbolo
do Cristo crucificado.
Certamente
que os sacerdotes de Jerusalém ou de Garizim, gostariam de estar perante uma crente
que lhes apresentasse esta pergunta. Onde devemos adorar? Essa seria a altura
oportuna para a propaganda dos templos de Jerusalém ou de Garizim. Será que
isso mudou? Num caso destes, que faria qualquer pastor ou padre dos nossos
dias? Ou mesmo a maior parte dos membros das nossas igrejas?
Através
dos tempos, quase todas as igrejas e religiões têm tentado monopolizar a
autoridade de conceder a salvação, assunto demasiado importante para Deus
deixar em mão humanas. Antigamente os judeus afirmavam que só o seu Deus, em
Jerusalém, concedia a salvação. Muitos séculos mais tarde o catolicismo
afirmava que “fora da Igreja não há
salvação”. Actualmente o catolicismo está muito mais aberto, mas agora são
algumas igrejas evangélicas que afirmam que só elas têm o poder de conceder a
salvação e têm o monopólio do Espírito Santo.
A
samaritana raciocinava no seu contexto cultural veterotestamentário esperando
que o Messias viesse restaurar a antiga religião de Moisés. Ela procurava, à
semelhança do que acontecia com todas as religiões dessa época, o local onde
Deus se manifestava e a oração ou reza que actuasse como uma fórmula mágica ou
código de acesso que obrigasse Deus a manifestar-se. Ela sabia “por instinto”
que esse lugar em que poderia encontrar a Deus estaria talvez perto, mas ainda
não o encontrara. Faz lembrar as pombas que depois dos incêndios que devastaram
algumas propriedades agrícolas incluindo os seus pombais, tentam voltar ao
pombal onde nasceram, pois o seu instinto de orientação lhes diz que estão
perto, mas continuam a procurar, voando em círculos, até caírem mortas de
exaustão, pois o pombal que procuravam já está reduzido a cinzas. Será que
coisa semelhante aconteceu à Igreja primitiva devido ao nosso pecado?
Tanto
em Jerusalém, como em Garizim, havia centenas de pessoas que se prostravam em
oração. Não seria essa uma forma de adoração correcta? O que faltava nessa
adoração? Seria simplesmente uma forma de cumprir um tradicional ritual a que
faltava alguma coisa? Aqueles que o Mestre identificou como ladrões e
salteadores, que exploravam as viúvas e necessitados, certamente que também
cumpriam todos esses rituais de adoração. O Mestre sofre mais com os falsos
crentes a ponto de os ter escorraçado do Templo de Jerusalém, do que com os
pecadores que o procuram.
6) Onde e como adorar a Deus?
21
Jesus lhe disse:
“Acreditai-me, ó mulher, vem a hora em que nem sobre esta montanha, nem em
Jerusalém adorareis o Pai. 22
Vós adorais o que
não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus.
23
Mas vem a hora,
e é agora, na qual os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e
verdade; tais são, com efeito os adoradores que o Pai procura. 24
Deus é espírito,
e por isso os que o adoram devem adorar em espírito e em verdade”.
O
Mestre, bem sabia o que se passava no Templo de Jerusalém, a que chamou “covil de salteadores”. Mateus 21:13.
Mas em Garizim, também, certamente que nem tudo era perfeito e o Mestre bem
conhecia o que por lá se passava.
A
preocupação da samaritana em saber se deveria adorar a Deus em Garizim ou em
Jerusalém, faz-me lembrar algumas mensagens que tenho recebido. Sabendo pela
minha página na internet, que não estou ligado a nenhuma igreja, alguns
visitantes já me fizeram perguntas semelhantes para escolher a sua igreja. Uma
vez, em que do Brasil me fizeram pergunta semelhante, perguntei por que não
colocava essa questão aos pastores da cidade onde vivia. Não me esqueço duma
das respostas que me deram: Já perguntei
aos pastores, mas agora quero saber a sua opinião, pois sei que não vai me
tentar levar para a sua igreja, pois não tem nenhuma, nem me vai cobrar nada
pela sua resposta. Parece que as igrejas estão desacreditadas do grande
público. Afinal, a única resposta honesta que lhe pude dar, é esta resposta do
Mestre. Jesus revelou à samaritana, uma gentia como quase todos nós, o que
ainda não dissera aos maiores teólogos do seu tempo: Nem na igreja A ou B ou C,
pois o Deus Pai, que Jesus nos revelou, não pode ser identificado com nenhum
local, nenhuma igreja, nenhuma religião, nenhum país nem nenhuma cultura. Se
Deus criou todo o Universo que nos deixa maravilhados pelo seu tamanho, então…
Deus não cabe no Universo que criou, muito menos numa igreja. Mas ao mesmo
tempo controla toda a mais pequena célula do nosso organismo e nos convida a
meditar.
Era
o fim dos lugares santos, como o Templo de Jerusalém e as sinagogas onde Deus
se manifestava e recebia as contribuições. O Deus que Jesus ensinou a tratar
por Pai, não está cativo em nenhum lugar nem condicionado por qualquer
liturgia. No entanto, todo o crente poderá e deverá colaborar, provisoriamente,
nalguma igreja onde haja liberdade de reflexão e se sentir útil e deverá, na medida do possível, colaborar nessa igreja, até que o Pai
o chame à sua casa, ou volte o nosso único Mestre que está muito acima de todos
os problemas e das brigas entre “religiosos”.
Bem
sei que por vezes há uma atitude de rejeição quando se fala em “meditação
teológica”. Talvez essa rejeição seja fruto duma mentalidade
veterotestamentária, que exigia obediência cega e não se mencionava o
raciocínio ou entendimento. Vejamos Deuteronómio
4:29
Na tradução de Jerusalém está: De lá, então, irás procurar Iahweh teu Deus, e o
encontrarás, se o procurares com todo o teu coração e com toda a tua alma ou
Deuteronómio
6:5
ou Deuteronómio
10:12 ou Deuteronómio
30:2
ou Deuteronómio
30:10, aparecem referências ao coração, alma e forças,
mas nunca se fala em entendimento. O judeu crente, devia obedecer cegamente,
nomeadamente quando cumpria os mandamentos de Moisés que mandavam aplicar a pena
de morte por lapidação, como Êxodo 21:17,
Êxodo
31:14/15, Deuteronómio
13:6/10 (d) etc. onde se
fala em todo o coração, toda a alma, todas as forças… mas não encontro nenhuma
referência ao entendimento. Então, será que Deus exige uma espécie de suicídio
intelectual?!
Comparemos
agora com Lucas
10:27. Respondeu-lhe ele: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu
coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. Como
podemos ver pelo contexto, isto são palavras dum doutor da Lei que
tiveram a aprovação do Mestre. É na sequência deste pensamento que Jesus
escandaliza os seus ouvintes ao apresentar a parábola do “Bom
Samaritano”.
Uma
das grandes diferenças de Lucas 10:27
em relação dos textos veterotestamentários que citámos, é que menciona o entendimento
que não aparece no Velho Testamento. O nosso intelecto é o bem mais precioso
que Deus nos concedeu e o Pai não prescinde de todo o nosso entendimento que
deve estar ao seu serviço, para nos orientar, sem a tutela de nenhum
“profissional de religião”. Se Deus é Pai, qual o verdadeiro filho que tolera
que alguém se interponha entre ele e o seu próprio Pai?! Alguns associam a reza
à simples repetição duma afirmação escrita Mateus 6:7,
para outros a oração é uma sequência de bonitas frases feitas que memorizaram
nas igrejas para exibirem a sua espiritualidade Mateus 6:5,
mas segundo o Mestre, oração privada é uma conversa com o Pai Mateus 6:6
ou podemos talvez dizer que é uma conversa privada entre Pai e filho.
Certamente
que a profissão de clérigo (padre ou pastor), quando exercida com honestidade,
é bem útil para fornecer informações e divulgar a mensagem de Cristo, mas sem
de forma alguma limitar a capacidade de reflexão dos crentes. Há um limite que
não pode ultrapassar, pois se se colocar entre Deus e o crente, poderá
tornar-se no mais perigoso dos ídolos.
A
guerra entre religiões tem sido quase sempre uma constante ao longo dos tempos.
Penso que todas as religiões são potencialmente perigosas, principalmente as
monoteístas, se a adoração deixar de ser em espírito e verdade, para seguir algum pregador
“iluminado” prescindindo da crítica dos leigos.
Mas
como divulgar o Evangelho sem entrar em conflito com outras religiões? No
século passado, em muitos países colonizados pela Europa, o cristianismo
(católico, protestante ou evangélico) com o apoio dos países dominantes
implantou-se pela força das armas, pressões políticas e económicas,
nomeadamente no continente africano, americano ou no Oriente, o que nos faz
lembrar os problemas de mulher samaritana em aceitar o deus dos seus inimigos.
Penso
que devemos procurar orientação no primitivo cristianismo. Talvez a resposta
esteja em Mateus
5:16,
ou no Alcorão
5:48,
ou como está na nova tradução, efectuada a partir dos textos originais em elaboração
na mesquita de Lisboa ... E, se Deus quisesse teria feito de vós um só Povo. Mas, fez-vos como
sois, para vos testar por aquilo que vos concedeu, portanto competi uns com os outros nas boas acções.
Todos voltareis para junto de Allah, que então vos
esclarecerá a respeito das vossas divergências.
Algumas
vezes tive oportunidade de colaborar em projectos de igrejas que geralmente
estão associadas a determinado estilo arquitectónico. A minha colaboração
limitava-se à parte de engenharia, pois o arquitecto é que percebe de
arquitectura, mas como crente leigo, já tentei investigar como seriam as
igrejas do primitivo cristianismo e nada encontrei. Julgo que geralmente se
reuniam em pequenos grupos em casas familiares e em Roma escondiam-se nas catacumbas
quando eram perseguidos. Só depois de Niceia no ano 325 é que o Imperador
Constantino “colaborou” com os cristãos confiscando alguns templos das
religiões tradicionais para os entregar aos cristãos. Esse foi o fim do
primitivo cristianismo.
Assim
a época em que o cristianismo mais cresceu foi a época em que foi perseguido e
não tinha locais próprios para se reunirem. Não encontrei qualquer fundamento
bíblico neotestamentário para a arquitectura duma igreja, mas já vi no interior
de África, muitas igrejas que eram simplesmente uma palhota pouco maior que as
outras, onde o cristianismo está bem vivo.
Não
sou contra os edifícios “estilo igreja”, onde os crentes se reúnem, mas
trata-se duma tradição que cada geração poderá e deverá avaliar se será de
manter enquanto for útil, pois no dia em que for rejeitada estaremos somente a
alterar uma tradição e não as bases da mensagem de Cristo, pois a presença de
Deus não depende desses pormenores mas da atitude do próprio crente, pois os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade; tais são, com efeito os
adoradores que o Pai procura.
Onde
os crentes se reunirem em nome de Cristo, para meditar livremente na Sua
mensagem, seja em que local for, mesmo que não tenha sido consagrado como
igreja de acordo com a tradição católica, protestante ou evangélica, teremos a
verdadeira Igreja de Cristo. Certamente que, segundo Paulo, a igreja tem os
seus dirigentes, isso tem fundamento bíblico neotestamentário. Mas se formos à
“origem das origens” segundo o nosso Único Mestre, Ele estará sempre presente
mesmo que sejam só duas ou três pessoas Mateus 18:20.
Alguns
podem pensar que há muitos desses pequenos grupos, mas não os podemos confundir
com os pequenos grupos que se juntam à volta dum iluminado, que “vende o seu
peixe” (e) e todos os outros se limitam a ouvir
sem poderem ou sem quererem interferir, numa atitude heterónoma que nada tem a
ver com o verdadeiro cristão. O verdadeiro crente não aceita toda e qualquer
informação ou mesmo a mais arreigada tradição sem confirmar se está de acordo
com os ensinos do nosso único Mestre. Actos
17:10/12
Deus
procura aqueles que o adoram em espírito e verdade, porque Deus é espírito e
Deus é a Verdade. João 14:6
O
dirigente religioso é útil e necessário, se cumprir com fidelidade a sua
missão, mas pode tornar-se perigoso se o seguirmos cegamente, considerando-o
como infalível ou quase infalível, prescindindo de questionar os seus ensinos.
O que muito tem prejudicado o cristianismo dos nossos dias é a busca de algum
dirigente religioso que consideremos como infalível, mesmo que ele próprio não
se considere como tal, assumindo o crente uma cómoda posição heterónoma,
deixando de meditar na mensagem de Cristo que não prescinde de todo o nosso
intelecto, pois conversão não é suicídio intelectual. Assim, o dirigente
religioso que é seguido cegamente pelos membros da sua igreja, poderá tornar-se
em perigoso ídolo por culpa dos que exigem dele o que ele próprio nunca
ambicionou, nem pode dar, pois a só Deus é Verdade.
Desde
a antiguidade que muitos crimes têm sido cometidos por religiosos que se
consideram acima de qualquer crítica. Isso seria evitado se os crentes
servissem a Deus com toda ou pelo menos alguma da sua capacidade intelectual e
liberdade para questionar as decisões dos seus dirigentes, como foi o caso de Números
31:6/18 em que os oficiais do exército de Israel
discordaram de Moisés, mas acabaram por se submeter às suas decisões.
Assim,
devemos ouvir os clérigos, sejam quais forem, com tolerância e compreensão sem
nunca perder a nossa capacidade de reflexão, pois eles não têm a liberdade de
reflexão que têm os leigos e devemos evitar tanto quanto possível os problemas
nas igrejas.
Mas,
se alguém tem falta de sabedoria, a quem deverá perguntar, se Jesus já não está
entre nós? Certamente que os clérigos dos nossos dias dirão para perguntar ao
Pastor ou ao Padre ou ao Professor de Seminário, ou para procurar nas
Escrituras, mas estas dizem para perguntar ao Pai. Tiago 1:05
e Jesus disse em João
14:16/17 que seria substituído pelo Espírito Santo.
As
igrejas são úteis e necessárias, mas lealdade a uma igreja ou organização
religiosa é sempre condicional e provisória…. até o Mestre voltar. Se não for
assim, será mais um tipo de idolatria, pois lealdade só a Cristo.
25
A mulher lhe
disse: “Eu sei que um Messias deve vir – aquele que chamam Cristo. Quando ele vier,
anunciar-nos-á todas as coisas.” 26
Jesus lhe disse:
Sou eu, eu que estou falando a ti.”
Durante
muitos séculos os samaritanos, tal como os judeus, esperaram pelo Messias que
Deus enviaria ao mundo e Ele anunciar-nos-á todas as coisas. Eles tinham a
noção de que muita coisa estava errada e teria de ser rectificada na Velha Lei
de Moisés. Apesar de todas as informações dos vários livros do Velho
Testamento, eles esperavam Alguém que os viesse esclarecer, e que tivesse
autoridade para alterar a Lei de Moisés, alguém que fosse muito maior que
Moisés.
Jesus lhe
disse: Sou eu, eu que estou falando a ti. A samaritana
estava junto a Cristo e continuava à espera do Messias que havia de vir!!! Será
que por vezes não nos acontece o mesmo? Desde a nossa infância que nos ensinam
que Deus está muito longe… lá em cima (f) e já
estamos treinados a procurar Deus muito ao longe. Procuramos estar mais perto
de Deus nalgum local especial nas montanhas, ou nalgum santuário católico ou
centro de conferências evangélico bem distante, ou em Roma ou em Jerusalém, mas
se nos disserem que o Mestre está aqui… Quem acreditaria?!
27
Nisso, os
discípulos chegaram. Eles ficaram estupefatos ao verem Jesus falar com uma
mulher, mas ninguém lhe disse: “Que procuras?” ou “Por que lhe falas?”
28
A mulher, então,
largando o cântaro foi à cidade e disse ao povo: 29
“Vinde ver um
homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o Cristo?” 30 Eles saíram da
cidade e foram ter com ele. 31
Enquanto isso,
os discípulos insistiam com ele: “Rabi, come!” 32 Mas ele lhes disse:
“Eu tenho para comer um alimento que vós não conheceis”. 33 Nisso os discípulos
disseram entre si: “Alguém lhe teria dado de comer?” 34
Jesus lhes
disse: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua
obra”.
Temos
agora, duas situações completamente opostas: Os discípulos admiraram-se ao ver
Jesus falar com uma mulher, o que era um escândalo na cultura judaica, pois
ainda continuavam verdadeiros judeus, ainda continuavam na sua antiga cultura
veterotestamentária. Mas, pelo contrário, a mulher encontrou o Messias que há
tanto tempo esperavam. Larga tudo e corre à sua cidade, para anunciar que
encontrara o Messias. Era a água viva que já brotava em abundância e tinha
forçosamente de escorrer para os seus conhecidos.
Tanto
os apóstolos, como a mulher samaritana, foram à mesma cidade. Mas que fizeram
eles nessa cidade de Samaria? A mulher, com o seu entusiasmo contagiante
conseguiu entusiasmar toda a sua cidade de tal maneira que Eles saíram da cidade e foram ter com ele. (Jesus).
Mas
enquanto a mulher falava a toda a sua cidade, o que fizeram os discípulos?
Temos a resposta no versículo 8 Os seus discípulos,
com efeito, tinham ido à cidade para comprar o que comer. Enquanto a
mulher samaritana divulgava a boa notícia da chegada do Messias, os apóstolos
continuavam com a sua atitude materialista e até tentavam “converter” o próprio
Mestre para o seu pensamento, pois Enquanto isso, os discípulos insistiam com ele: “Rabi, come.
Certamente
que a comida é importante, mas por vezes temos de estabelecer uma certa
hierarquia dos nossos valores e a prioridade máxima é viver e divulgar o
Evangelho.
32
Mas ele lhes
disse: “Eu tenho para comer um alimento que vós não conheceis”. Será
que a reposta do nosso Mestre também se pode aplicar aos nossos dias? Enquanto
Jesus apresentava a mensagem à mulher samaritana, todos os discípulos foram
comprar pão, que consideraram o mais importante. Julgo que todos os trabalhos
são necessários, mas há uma certa hierarquia nas prioridades dos trabalhos nas
igrejas que está invertida. Jesus deu prioridade à evangelização pessoal. Isto
faz-nos lembrar certos pastores evangélicos, mais preocupados com a pregação do
dízimo que com a mensagem de Cristo. E o que encontrou o Papa Francisco no
próprio Vaticano? Certamente que encotrou bons gestores, óptimos gerentes de
bancos, enquanto a Igreja está fraca e desprestigiada, pois esses altos
dignitários geralmente não perdem tempo com a evangelização pessoal, que quase
sempre esteve a cargo das “samaritanas” até aos nossos dias. Samaritanas que
passam despercebidas de todos… mas o Senhor as conhece, o Senhor compreende, o
Senhor sabe, o Senhor vê e têm os seus lugares reservados no Reino dos Céus
onde já não haverá discriminação de samaritanos nem de ninguém.
Camilo
– Marinha Grande, Portugal – Junho de 2014.
Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas
(a) Quem eram os samaritanos?
Samaria
era a cidade capital do distrito que tinha o mesmo nome, de acordo com a
divisão administrativa estabelecida por Roma.
Ao
ler a Bíblia, podemos ficar com a ideia de que seria uma pequena cidade a
comparar com a grandiosidade de Jerusalém. Isso é verdade, mas só num contexto
de teologia. Num contexto de economia, enquanto Jerusalém já era nessa época,
uma velha cidade que não podia crescer mais devido ao acidentado do terreno e
as suas muralhas, dentro das quais já não havia mais lugar para a cidade se
desenvolver, Samaria, pelo contrário, estava no centro duma região rica em
agricultura com grande desenvolvimento, o que levou Roma a beneficiar Samaria
duma via romana
Samaria
era uma cidade “moderna” para a época, onde os viajantes dispunham de todas as
comodidades para obter comida, alojamento e até uma piscina pública. Como
consequência, por ser uma cidade por onde passava muita gente, aliada à
liberdade de religião do Império Romano, Samaria tinha vários templos onde diferentes
deuses eram adorados.
(b) Uma das descrições da Bíblia que costuma passar
despercebida à nossa compreensão é o caso de Rebeca que encontramos em Génesis
24:01/26
Um
camelo que esteja com sede depois da travessia do deserto em que esgotou a sua
reserva de água, pode beber até 200 litros de água que tem se ser elevada desde
o fundo do poço, por vezes a algumas dezenas de metros de profundidade. Os 200
litros são o valor máximo, mas admitindo que cada um desses camelos bebesse 100
ou 120 litros seriam 100 a 120 quilos. Para os 10 camelos seria necessário
elevar mais de uma tonelada a uma altura de 10 ou 20 metros, trabalho que não
está ao alcance da maior parte dos homens dos nossos dias, mesmo não contando
com o peso do balde. O servo de Abraão apresenta uma “foto” de Rebeca bem
compreensível na sua cultura, mas que pode passar despercebida nos nossos dias
e até podemos imaginar uma frágil menina que abriu a torneira pois teve dó dos
camelos após a travessia do deserto. O seu povo, nesse contexto histórico, bem
sabia o que era tirar água do poço para uma família, mas para satisfazer dez
camelos, só uma jovem grande e forte, com braços poderosos, que seria perfeita
para ser a futura matriarca duma grande e poderosa família.
(c) Nesse contexto cultural, tinham uma concepção
cosmogónica que imaginava a terra como um prato invertido à superfície das
águas, apoiada em colunas, em que os céus estavam para cima e os infernos por
baixo. A terra era o centro do Universo, à volta da qual giravam as nuvens e
todos os astros. Assim, certamente que quem mais alto estivesse, mais próximo
estaria de Deus. Todas as religiões dessa época tinham os seus templos que
consideravam o local onde o seu deus morava e exercia a sua influência. Era
também esse o conceito do judaísmo. Era no Templo de Jerusalém a morada do deus
dos judeus e onde ele se manifestava, podia ser contactado e exercia a sua
influência.
Portanto,
era mais um deus regional, como todos os deuses das tribos ou das várias
cidades que lutavam a favor do seu povo, contra todos os outros povos.
(d) Esta passagem mostra bem a “liberdade” de
pensamento e de religião que havia em Israel. Todos os praticantes de outras
religiões eram condenados à morte por lapidação em que o acusador lançava
primeira pedra e depois todos os outros eram obrigados a servir de carrascos.
Na
época de Jesus já havia liberdade de religião, pois a civilização já tinha
chegado a Israel através da colonização romana que os impedia de aplicar a pena
de morte por divergências religiosas. Nessa época, da mulher samaritana, estava
certamente bem presente o ódio entre judeus e samaritanos, e possivelmente
alguns dos seus familiares foram vítimas dessa guerra religiosa.
(e) Não sei se no Brasil será compreensível a expressão
“vender o seu peixe” que se refere à atitude de quem apresenta a sua opinião e
não deixa falar mais ninguém.
(f) Contaram-me o caso duma crente suíça que veio a
Portugal de férias com os seus meninos. As crianças, muito curiosas por andar
de avião pela primeira vez, tudo observam com muita atenção. Vêm o avião a
circular na pista, ganhar velocidade, levantar voo, ganhar altura, passar acima
das nuvens e continuam à espera de mais alguma coisa… até que perguntam. Então mamã?!
Então o quê?,
responde a senhora. Já vamos a caminho de
Portugal.
Mas…, onde está?
Está o quê?
Onde está Deus? Não é
aqui em cima que está Deus olhando lá para baixo, para ver quem se porta mal?
Literatura consultada:
Traduções
bíblicas: TEB, Jerusalém, Almeida, BPT,
Capuchinos.
Alcorão
– Tradução de M. Yiossuf M. Adamgy
Comentário
bíblicos de Werner de Boor
Comentário
de João de Juan Mateos – Juan Barreto
“Jerusalém no tempo de Jesus” de Joaquim
Jeremias – Paulus, São Paulo
Dicionário
Bíblico de John D. Davis
Atlas
Bíblico das Edições Zairol, Ldª
Mem Martins – Lisboa
Na
sequência deste assunto da adoração a Deus, veja também os artigos Em espírito e
verdade (CC), Louvor
no Islão (YA) e Louvor a Deus (CC)
Veja
também estudos sobre outros personagens bíblicos em Diversos assuntos
bíblicos
Comentários recebidos
Pastor José Luiz Batista
– Curitiba, Paraná, Brasil - Junho de 2014
Caro Camilo.
Diante da importância do
texto e para ativar outra discussão sobre o tema, tomei a liberdade de
republica-lo na página
www.facebook.com/religiaoevida mesmo sem sua prévia
permissão.
Com fraternos respeitos.
José Luiz Batista
Prezado
Pastor José Luiz Batista
Na
minha página, onde quase todos os artigos são originais, estes podem ser
livremente divulgados, desde que mencione o nome do autor e a nossa página na
Internet, a Estudos bíblicos sem
fronteiras teológicas, que não tem quaisquer finalidades financeiras. Mas
agradeço a todos que me contactam.
Nos
casos em que são transcrições de outras páginas na internet ou de outras publicações,
deverão contactar com os autores desses artigos.
Costumo
sugerir uma ligação informática ao artigo na minha página a fim de funcionarem
também as referências bíblicas e fotos que tenho nos artigos.
Desejo
os melhores resultados para a www.facebook.com/religiaoevida
Camilo
Pastor Orlando Caetano – Leiria,
Portugal - Junho de 2014
Fica descansado que eu não o leio.
Fico com os fundamentalistas...
que não precisam de pedradas nem de “chá”!
Não me julgo melhor do que ninguém.
Ao
Pastor Orlando Caetano
Não
vou comentar esta mensagem que me enviaste. Limito-me a publicar como as
outras, pois a minha página não é fundamentalista. Não faço censura teológica e
respeito o Direito à heresia (CC)
Camilo
Arménio Anjo – Leiria, Portugal –
Junho de 2014
Acabo de ler o
artigo. Do meu ponto de vista, trata-se de um bom documento para reflexão, na
sua generalidade.
Tenho, no
entanto, opinião diferente da expressa no texto relativa à nova Igreja de
Fátima.
O facto de não ter sido
implantada num ponto elevado ou de não se tratar de uma construção
grandiosa em altura, não deixa de ser um TEMPLO GRANDIOSO interiormente, onde
foram gastos, segundo notícias vindas a público na altura do seu acabamento,
cerca de OITENTA MILHÕES de Euros. Chama-se a isto uma Igreja humilde?!!! Parte desses fundos não poderiam reverter a
favor de tanta gente carenciada por esse país fora?
Se Jesus Cristo viesse
agora e visse isto ficaria satisfeito? Ele, sim, Ele deu o exemplo da
HUMILDADE!
Obrigado
Arménio por teres levantado esta questão.
Como
disse no meu artigo Samaritana (CC), eu identifico-me com a
arquitectura da Basílica do Espírito Santo.
Apoio
a arquitetura no aspecto teológico por manter o aspecto humilde e rural,
integrando-se na paisagem, assim como a facilidade de acesso e saída, mesmo
duma grande multidão, pelos seus amplos corredores e suas 13 portas de grandes
dimensões.
Não
conheço os cálculos do edifício, mas como engenheiro de construção civil, julgo
que um edifício mais alto e imponente do lado de fora, até ficaria mais
económico. Foi necessário escavar muitos metros cúbicos de rocha e transportar
para longe muitas toneladas para que o edifício ficasse meio enterrado. Isso
teve implicações não só na arquitectura, como no isolamento térmico e acústico,
bem como resistência aos sismos.
Quem
se interessar pela acústica, poderá obter mais informações na página da TecniAcústica http://paginas.fe.up.pt/~carvalho/TA09fatima.pdf
Mas
julgo que seria muito importante, não só para os católicos como para todos os
outros religiosos meditar na questão que levantas do aspecto económico, para a
qual, como gerente bancário aposentado, estás certamente mais sensibilizado do
que eu.
Sim,
foi uma obra muito dispendiosa. Num folheto que me deram em Fátima numa secção
dedicada aos técnicos que visitavam o santuário enquanto ainda decorriam as
obras de escavação, consta que a “construção estava orçamentada em 40 milhões
de euros” (nessa altura era uma estimativa). Julgo que os 80 milhões a que te
referes, devem incluir os acessos com o túnel com passagem desnivelada, parques
de estacionamento etc. informação que me parece confirmada pela página de
internet Arquitek em http://arquitek.blogspot.pt/2007/10/igreja-da-santssima-trindade-em-ftima.html Assim seriam 70
milhões do edifício + 10 milhões de comparticipação ao município para as obras
que efectuou recentemente nos acessos.
Vamos
aceitar como certo o valor de 70 milhões de euros.
Trata-se
dum templo com 8633 lugares sentados, que atendendo aos espaçosos corredores,
como se vê nas seguintes Imagens da
igreja da Santíssima Trindade de Fátima, número que
poderia certamente ser aumentado de alguns milhares em dias especiais de
assistência de pé.
Mas,
se considerarmos que os € 70 000 000 são para 8633 lugares, teríamos o valor de
8 100 euros por cada lugar.
Nessa
proporção, a antiga Basílica
de Nossa Senhora do Rosário de Fátima que tem capacidade para 600
pessoas sentadas deveria custar 8100 x 600 = 4 865 000 euros, valor que me
parece insuficiente. Assim, a nova igreja, agora Basílica da Santíssima
Trindade, teve um menor custo por cada lugar.
Também
podemos pensar nalguma pequena igreja evangélica que compra um edifício
residencial ou apartamento tipo T4 em Leiria (cidade próxima de Fátima) por
cerca de € 200 000, se for novo, para o transformar em igreja. Na mesma
proporção, 8 100 euros por lugar, corresponderiam a 25 lugares. Parece-me que
não estamos muito longe da realidade.
Deixo
o assunto à consideração dos visitantes da nossa página, para outras opiniões.
Sobre
este assunto, poderíamos também questionar:
Será
que uma igreja cristã deverá continuar a ser um espaço dedicado exclusivamente
ao culto? Certamente que esta opção tem base bíblica veterotestamentária, mas
estará em sintonia com o pensamento do nosso Mestre? Foi essa a opção do
primitivo cristianismo?
Não
poderia, ou deveria uma igreja (edifício) ter também outras finalidades, como o
apoio social, assistência médica, etc.
Deixo
estes assuntos à consideração dos visitantes da nossa página, e estamos abertos
a outras opiniões que nos queiram enviar.
Camilo
David de Oliveira Goiânia, Brasil – Junho de 2014
Posso dar a minha
opinião?
O termo “igreja”, mais
utilizado atualmente, não passa de um lugar que representa uma sede ou filial
das mais diversas organizações humanas que abriga a religião “cristianismo”,
mas nem de longe, infelizmente, representa na prática o Evangelho de Jesus.
O teu artigo foi ótimo,
mas não dirimiu minha dúvida sobre o que realmente Jesus quis dizer sobre
adorar “em espírito e em verdade”, no lugar dos dois templos.
Caro
David
Tens
toda a razão. Sim, eu não disse o que é adorar
em espírito e verdade, porque não sei bem como é.
Mas
talvez pudesse desenvolver esse assunto um pouco mais e esperar que outros
visitantes nos possam ajudar acrescentando mais alguma coisa. Necessito de mais
tempo, para meditar no assunto.
Camilo
Aditamento
em Julho de 2014
Convido
a ler o meu novo artigo Em espírito e
verdade (CC).
Camilo