Louvor a Deus (CC)
(Deverá
“clicar” nas referências, para ter fácil acesso aos textos)
Este
artigo vem na sequencia dos artigos Samaritana (CC), Em espírito e
verdade (CC) e Louvor
no Islão (YA) cuja leitura
aconselhamos previamente.
1. Introdução
Caro
Yiossuf
Em
primeiro lugar os meus agradecimentos por mais este artigo que me enviaste Louvor
no Islão (YA), quase todo baseado no
Velho Testamento e que tive o prazer de publicar na minha página, pois está de
acordo com os seus objectivos, onde cada um diz o que pensa, desde que o faça
de maneira correcta e delicada, sem se referir de modo negativo às outras
igrejas ou religiões e penso que será muito útil para uma séria divulgação do
pensamento islâmico. Também está de acordo com o que defendo nesta minha
página, que seja um verdadeiro islâmico a divulgar em que crê. O mesmo digo das
outras religiões, hindus, budistas etc, que sejam os
próprios a dizer em que crêem, pois só assim a informação desta minha página
poderá ser credível.
Penso
que este, assim como a maior parte dos artigos que tenho nesta minha página,
parte do pressuposto de que toda a Bíblia é igualmente inspirada, e no caso
deste teu artigo também o Alcorão, facto que será importante para se
compreender o pensamento islâmico. Digo isto, porque esta pode não ser a
posição teológica de muitos dos leitores desta minha página.
No
meu caso, por exemplo, considero-me um crente em Cristo e só em Cristo.
Valorizo o Novo Testamento, (excepto o livro do Apocalipse, rejeitado por
grande parte do primitivo cristianismo, pelos motivos que apresento no meu
artigo Apocalipse
e o cânon neotestamentário (CC))
por ser, o Novo Testamento, a fonte de informação mais credível que temos de
Jesus o Cristo. Não aceito a inspiração total ou inerrância da Bíblia nem do
Alcorão, embora haja muita coisa positiva nestes livros assim como no Bhagavad
Guitá e noutros livros religiosos das várias religiões.
Se
verdadeiro cristão só é quem acredita em toda a Bíblia, então eu não serei um
verdadeiro cristão. Acredito no Deus supremo que Jesus nos ensinou a tratar por
Pai, que não é protestante, nem católico, nem islâmico, nem judeu, nem
evangélico, budista ou hindu, pois o Pai está muito acima de todos nossos
problemas. Nenhuma religião pode monopolizar a revelação divina, ou de certa
forma limitar ou condicionar o seu poder, pois o Pai pode revelar-se a quem
quiser, quando, onde e com os meios que entender, mesmo aqueles que as nossas
teologias considerem indesejáveis por contrariarem as nossas tradições.
Como
islâmico, perfeitamente integrado na tua religião, certamente que aceitas a
Bíblia completa, dando maior ênfase ao Alcorão. Bem sei que acreditas muito
mais do que eu, no Antigo Testamento, como dizes, embora eu prefira a expressão
Velho Testamento que corresponde à ideia que tenho de alguma coisa
ultrapassada. Esse foi o motivo do meu artigo Samaritana (CC) ter
poucas referências ao Velho Testamento.
Não
posso dizer que aceito o Velho Testamento como normativo para os nossos dias se
me recuso a cumprir a maior parte das leis veterotestamentárias que menciono
numa pequena listagem que fiz em Velho Testamento (Algumas leis do). Como o
Velho Testamento é muito grande, poucos encontram essas passagens pois
praticamente nunca são lidas nas igrejas. Mas lamento que o Velho Testamento ao
longo da história e até no presente, tenha influenciado tão negativamente o
islamismo e o cristianismo. Um dos exemplos dos nossos dias é o que apresento
nos meus artigos Violação
no Afeganistão (CC) ou Fanatismo
Evangélico (CC). No entanto, reconheço o valor histórico do Velho
Testamento que também é importante para se compreender o contexto cultural em
que Jesus divulgou a sua mensagem.
Mais outro
assunto que gostaria de abordar nesta introdução.
Bastará
apresentar um ou mais versículos para afirmar que determinado livro diz isto ou
aquilo? Vou apresentar um exemplo. Tenho um amigo que há anos, teve um acidente
no seu carro e só nos dizia: Eu vinha da
direita e tinha o direito de passagem segundo o artigo 30. Não é isso que diz o
Código de estrada?! Tivemos de lhe explicar que uma coisa é afirmar que
determinado artigo da nossa legislação diz isto ou aquilo e outra bem diferente
a afirmação de que isso é o que diz a legislação, que tem vários artigos. É por
isso que o nosso código de estrada tem no seu artigo 7 a hierarquia da
sinalização.
Também na
interpretação dos textos sagrados, uma coisa é dizer que determinado versículo
diz isto ou aquilo e outra coisa, bem mais difícil, é dizer que o Velho
Testamento, ou o Alcorão, ou o Novo Testamento diz o mesmo. Certamente
que é importante complementar as nossas afirmações com versículos tirados dos
textos religiosos, pois já é uma boa ajuda ou uma sugestão para o estudo do
assunto, mas não podemos esquecer de que de acordo com a
hermenêutica, só podemos afirmar que o Novo Testamento ou o Alcorão ou qualquer
outro livro religioso nos apresenta determinada afirmação, se conseguirmos
resumir tudo quanto esse livro religioso disser sobre esse assunto.
2. Penso que duma
maneira geral, vens confirmar o que afirmei no meu artigo sobre a samaritana:
2.1
No Velho Testamento seguiam o vulgar método de adoração, utilizado praticamente
em todas as religiões dessa época. Método que Jesus rejeitou na sua conversa
com a mulher samaritana João
4:21/24. Não significa isto que quem se ajoelha ou se
prostra na sua adoração não possa estar a adorar correctamente. Não ponho em
dúvida que muitos o fazem com toda a sinceridade, que é o mais importante, mas
simplesmente que tal pormenor será insuficiente se não for fruto duma realidade
espiritual, pois Deus é espírito e temos de o adorar em espírito e verdade.
Certamente que quem se julgar mais santo ou mais perfeito pelo simples facto de
cumprir certa e determinada liturgia no local
indicado, isso para nada lhe servirá, pois Deus é espírito. Deus não vê como
nós vemos. Ele vê o íntimo de cada um de nós e é a isso que dá a maior
importância, enquanto nós só vemos o exterior e por vezes tiramos conclusões
precipitadas.
A
liturgia da adoração tem muito a ver com as culturas dos vários povos. Por
exemplo, se o típico africano do interior de África se expressa melhor com o
seu tradicional tambor, por que não o poderá utilizar nos seus cultos?
Certamente que seria um escândalo para o cristão ocidental, mas julgo que seria
mais um problema cultural que teológico. Tenho no meu artigo Música
religiosa (CC) uma foto duma jovem africana a tocar um tambor, que
tirei numa igreja batista do norte de Moçambique, num culto tanto ou mais
abençoado que muitos dos cultos das igrejas na Europa ou no Brasil. Deus não
privilegia nenhum povo nem nenhuma cultura. Romanos 15:11 e Salmo
150:6
Como tu,
também nasci em Moçambique e já estive em cultos religiosos com as mais
variadas liturgias, como os pentecostais africanos com toda a sua exuberância
ou no protestantismo histórico europeu com a sua solenidade ou nas igrejas
católicas com os seus gestos litúrgicos, etc. Uns louvam o Deus altíssimo,
outros oram ao Deus omnipotente e bem sei que alguns me consideram insensível
por não rezar como eles, mas eu prefiro sentar-me e falar com o Pai como sempre
fiz, se houver cadeiras, coisa que nem sempre têm em algumas igreja evangélicas
indianas ou no interior de África onde se sentam no chão.
2.2
Citei algumas passagens veterotestamentárias afirmando que nessa época, o deus
de Moisés exigia obediência cega e não havia qualquer incentivo à reflexão ou meditação
ou ao pensamento do crente. É verdade que por vezes há referências ao
pensamento no Velho Testamento, mas só encontrei Provérbios 12:5
em que o pensamento é encarado de forma positiva, pois em muitas outras
referências ao pensamento, que encontrei, é sempre encarado de forma bem
negativa, como Salmo
94:11 ou Isaías
55:7/9 Também encontrei referências à meditação, mas o que
seria a meditação numa religião que condenava à pena de morte qualquer
divergência doutrinária?! Certamente que aquilo a que chamavam de meditação seria
o simples decorar os textos do Velho Testamento que era considerado como a
verdade, situação que veio quase até aos nossos dias.
Vejo
que encontraste mais passagens sobre esse assunto que confirmam a minha
afirmação, pois em nenhuma delas encontro qualquer referência ao pensamento do
crente, pois Deus segundo a revelação de Cristo, não prescinde de todo o nosso
entendimento como está por exemplo em Mateus 22:37.
Poderia também ser traduzido por pensamento, inteligência etc. Também no
Alcorão há vários incentivos ao pensamento ou meditação Alcorão 3:191,
Alcorão
6:126, Alcorão 16:13,
coisa que não encontrei no Velho Testamento.
2.3
Todas as passagens que mencionas, são passagens
históricas que descrevem o que aconteceu, ou como adoraram. Não encontro nenhuma
passagem didática sobre o assunto, escrita com o objectivo de ensinar uma única
e exclusiva forma de adorar. Se não houver passagens didáticas sobre o assunto,
não é o simples facto de algum personagem bíblico ter feito isto ou aquilo que
nos deve levar a imitá-lo.
Aliás
o próprio Cristo deu o exemplo de ignorar as leis do Velho Testamento ao curar
em dia de sábado Lucas
6:6/10 ou tocar em leprosos Mateus
8:2/3, tornando-se assim também impuro de acordo com a
Lei de Moisés. Até mesmo o exemplo de Jesus Cristo nem sempre deve ser seguido
por nós. Não me parece que o Mestre deseja que façamos jejum de 40 dias Mateus 4:2
ou que devemos seguir o que fez em João
9:1/7 fazendo lodo com o nosso próprio cuspo para curar
um cego.
Penso
que mais importante que fazer o que Jesus fez, será fazer o que Jesus faria no
nosso lugar, na realidade em que vivemos. Ou então, perguntar ao Pai: Que queres que eu faça, no contexto
histórico e cultural em que estou e com as possibilidades que tenho?
3. Quanto à tua
afirmação: O Islão é a única religião em
que Deus é diariamente adorado numa única língua e num mesmo espírito,
universalmente.
Não
sabia disso, mas se o dizes, não ponho em dúvida.
Essa
ideia não é nova. Antigamente a Igreja Católica celebrava a Missa sempre em
latim, por ser a língua oficial do Vaticano e noto também em algumas igrejas
evangélicas americanizadas uma certa tendência em valorizar o língua inglesa.
Sei de missionários evangélicos brasileiros que até para irem para Angola ou
Moçambique, ao serviço de organizações missionárias americanas, têm de aprender
o inglês em vez das línguas africanas.
Pessoalmente,
penso que cada povo deve louvar a Deus na sua língua materna, pois Deus não é
estrangeiro e não se identifica com nenhuma língua, nenhuma cultura, nenhum
povo, nem nenhum local. Actos
2:4/6, 1ª
Coríntios 13:1 (a)
4. Certamente que
confirmo Mateus 26:39 embora possa haver algumas pequenas diferenças nas várias traduções, mas o significado
é o mesmo.
Temos
uma passagem paralela em Marcos 14:35.
Mas,
como nas outras passagens, não estamos perante uma passagem didáctica com a
intenção de ensinar a orar. Ninguém condena quem se prostrar para orar. O que
digo, é que para Deus não basta isso se não for fruto duma realidade
espiritual, ou se quem ora, acreditar que essa liturgia o pode tornar melhor
que os outros crentes ou de certa maneira pressionar Deus a ouvir a sua oração.
Julgo que algumas dessas fotos que apresentei, são de
sacerdotes católicos na sua ordenação.
Há
também outras orações ou rezas que ficaram registadas no Novo Testamento, quer
de Jesus Lucas
9:28
que como era seu hábito, foi orar para um monte, o que não significa que todos
nós teremos de procurar um monte, quer do jovem rico que se ajoelhou em Marcos 10:17.
5. O que mais importa
são as passagens didáticas sobre a oração.
Encontrei
somente estas duas passagens, nitidamente didáticas no Novo Testamento, em que
Jesus nos ensina como devemos orar ou rezar. Lucas afirma que foi a pedido dum
discípulo.
5.1
Poderá haver dúvidas se estaremos perante passagens paralelas (quando Mateus e
Lucas se referem ao mesmo acontecimento), ou se isto se passou em diferentes
ocasiões, ou ainda se Jesus ensinou em várias ocasiões, mas só ficaram
registadas estas duas.
5.2
Não encontramos nenhuma referência à liturgia necessária para rezar, como
alguns dizem, ou orar como outros preferem. Eu preferia a expressão “falar com
o Pai”.
Penso
que temos inteira liberdade para “falar com o Pai” sempre que necessitarmos e
onde estivermos. Se alguém entende que se deve ajoelhar, ou prostrar-se, ou
ficar de pé, ou efectuar os gestos litúrgicos da sua tradição, que o faça, mas
com humildade, sem se julgar melhor que os outros, como era o caso de alguns
fariseus do tempo de Jesus.
5.3
Outra dúvida que estas duas passagens nos podem suscitar, é se teremos de
repetir rigorosamente as mesmas palavras que Jesus pronunciou, como alguns
ensinam.
Pessoalmente, penso que o Mestre nos deixou um exemplo de oração que
cada um deverá adaptar à sua própria realidade. Mas também poderá limitar-se a
repetir sempre as mesmas palavras, desde que pense bem no seu significado.
Ainda
bem que temos duas passagens. Se tivéssemos de repetir rigorosamente as mesmas
palavras, nas duas ocasiões Jesus teria dito precisamente a mesma oração. Mas
encontramos diferenças embora o pensamento seja o mesmo.
5.4
Algumas orações ficaram registadas no Novo Testamento:
João
17
Todo este capítulo 17 apresenta uma importante oração de Jesus Cristo. Se
lermos o capítulo anterior João 16,
podemos verificar que Jesus, perante os seus discípulos a quem falava, se
limitou a “levantar os olhos ao céu”.
Em
Mateus
11:25 e na passagem paralela em Lucas 10:21
Jesus dirigiu estas breves palavras ao Pai, portanto era uma oração, e não
consta que tivesse efectuado qualquer gesto litúrgico, pois continua com a sua
conversa com os discípulos.
Em
Actos
4:24/30 temos uma oração de Pedro, João e outros crentes da
igreja primitiva em que não repetem a oração do Pai Nosso, mas aqui podemos ver
os ideais e os pensamentos da oração que Jesus ensinou aplicados à situação em
que se encontravam.
6. Passagens do Alcorão
sobre a oração.
Efectuamos
uma busca de várias palavras sinónimas nesta tradução disponível na internet:
Não
encontrei referências a ajoelhar ou curvar no Alcorão. A quem encontrar,
peço o favor de me indicar. Mas há muitos outros sinónimos.
Inclinar
(sinónimo de curvar) – Alcorão 26:4
Orar
– Alcorão
4:142, Alcorão 24:41,
Alcorão
87:15, Alcorão 96:10
Prostrar
- Alcorão
2:34,
Alcorão
4:102, Alcorão
7:11/12, Alcorão 12:100,
Alcorão
15:30, Alcorão 17:61,
Alcorão
18:50, Alcorão 20:70,
Alcorão
20:116, Alcorão 25:60,
Alcorão
27:24, Alcorão 38:73/75
Rezar
– Alcorão
73:6
e Alcorão
73:20
Não
me parece que sejam passagens didáticas sobre a oração. Mas julgo que a
prostração era a forma habitual de oração, que Maomé utilizou e aprovou, mas
não me parece que tenha recusado alguma oração a Deus por motivos litúrgicos.
Baseei-me
nesta tradução do Alcorão que está disponível na internet que julgo ter sido
efetuada a partir do inglês e talvez algumas passagens ficaram deturpadas. Está
em elaboração na Mesquita de Lisboa, uma tradução diretamente dos textos
originais para português, mas ainda não está disponível.
7. Importância da
liturgia
Bem
sei a importância que as várias igrejas dão às suas liturgias. Não sou contra a
liturgia dos cultos, mas julgo que nalguns casos há o perigo de confiar demais
na liturgia esquecendo o mais importante. Lembro-me de ter assistido ao
casamento dum amigo que contratou uma boa firma de filmagem para registar em
vídeo todo o casamento. Foi uma filmagem muito pormenorizada. Eles vieram mais
cedo, filmaram o noivo e a noiva a arranjarem-se para a cerimónia do casamento
e na igreja filmaram bonitas imagens dos convidados e do banquete nupcial.
Dias
depois, quando esse meu amigo me mostrou o vídeo, estava à espera de ouvir
novamente a pregação, o mais importante documento que certamente eles iriam
preservar para sempre mas… não registaram a pregação. Disseram-lhe
deveria ter dito atempadamente que queria o vídeo do
casamento com a pregação, pois assim o vídeo ficaria monótono, pois a pregação
não tem movimento, a imagem é sempre a mesma e geralmente os noivos não se
interessam por essa parte. No entanto, toda a liturgia foi filmada. Mas.. em que se tornou essa
liturgia para quem a considera mais importante que a própria homilia? Será que
é só um interessante folclore tradicional e não tem interesse a mensagem do
pregador?!
8. Conclusão
Voltando
à questão inicial do artigo Samaritana (CC).
Por que Jesus rejeitou as orações dos templos de Garizim e de Jerusalém?! O que
estava mal na forma como adoravam a Deus? Não seria esse o local certo? A
posição correcta? As palavras correctas?
Penso
que, quer no Novo Testamento, quer no Alcorão, não há passagens nitidamente
didácticas sobre a liturgia a cumprir na oração ou reza embora haja descrições
que podemos tomar como exemplos. Mas noto que o Velho Testamento, apesar do
grande rigor em cumprir todos os pormenores da sua liturgia, limita-se a
aceitar a prostração tal como o faziam as religiões mais antigas.
8.1
No Novo Testamento
No
Novo Testamento, Jesus em conversa com a Samaritana, rejeita as orações dos
milhares de judeus que se prostravam em Jerusalém ou em Garizim.
Será
por discordar da prostração? Ou por ser insuficiente? Antes de Cristo, também
João Batista recusa a liturgia dos fariseus por ser insuficiente. Também Isaías
cerca do ano 500 aC Isaías
1:11/17 afirma que Deus estava farto dos cultos que faziam,
pelos motivos que Isaías menciona.
Mas
duma maneira geral, o Novo Testamento aconselha uma oração como vemos em Mateus 22:37,
mantendo o que dizia o Velho Testamento, mas acrescentando o entendimento que
também poderia ser traduzido por pensamento, ou meditação ou compreensão etc. e
em Mateus
6:6
aconselha a orar em privado, sem que ninguém saiba.
8.2
No Alcorão
Embora
não tenha encontrado no Alcorão, passagens nitidamente didácticas sobre a
oração, vejo que a palavra prostração (ou versículos em que essa forma de
adoração é sugerida) é muito superior às outras formas de adoração. Mas também
não encontro motivos para rejeitar, com base no Alcorão, outras formas
litúrgicas para a oração.
Penso
que o Alcorão, ao contrário do Novo Testamento, sugere uma adoração que todos
vejam.
8.3
Então, haverá contradição entre o Novo Testamento e o Alcorão neste assunto?
Parece
que é evidente que são mentalidades diferentes. Enquanto o Novo Testamento
valoriza a oração privada, no Alcorão vemos que tal acontece com a oração
pública. Quais as consequências desta diferença.
Assim,
para o cristão, o Alcorão ficará um livro cada vez mais “distante”. Mas mais
difícil será para o islâmico sincero, como há muitos, que aceitam os profetas
da Bíblia, embora dêem mais ênfase ao Alcorão. Se há essa diferença em que Deus
se manifesta, qual estará certo e qual o errado? Ou será que Deus que mudou?
Penso
que a explicação é outra. Temos de fazer um estudo mais aprofundado.
Qual
seria o contexto histórico cerca do ano 600, quando Maomé apresentou o Alcorão?
Era
um contexto histórico de guerra e grande instabilidade. Alcorão 4:102
No Alcorão, assim como no Velho Testamento, há uma forte ligação entre política
e religião. Assim, nesses tempos conturbados seria muito mais difícil rezar com
todas as formalidades, pois enquanto estivessem prostrados estariam mais
sujeitos aos ataques dos inimigos. Julgo que houve necessidade de incentivar a
prostração, mas com todos os cuidados que mostram o versículo que
mencionei.
E qual seria o
contexto histórico em Israel, nomeadamente em Jerusalém, quando Jesus
apresentou a sua mensagem?
O
Império Romano estava no seu auge e impôs a “Pax
Romana” em todo o seu território, incluindo Israel onde a situação política,
religiosa e económica era a que descrevo no meu artigo João Batista (CC) Uma das
formas de Roma pacificar os seus territórios era manter todos os privilégios da
classe dominante. Nessa época era bem fácil manifestar-se como crente em
público. Em especial os levitas (principais
beneficiários dessa política de Roma) gostavam de
rezar em público e exibir as sua ofertas para o Templo.
Já
mencionei Mateus
6:6 quando
afirmei que esse versículo aconselhava uma oração em privado. Vejamos agora o
mesmo versículo integrado no seu contexto, lendo Mateus
6:1/8.
Isto
mostra como o problema cerca do ano 30 era bem diferente. Era necessário
combater o exibicionismo e a hipocrisia na religião. Há mais passagens sobre a
hipocrisia religiosa nesse artigo sobre João Batista (CC).
8.4 Mas
poderão perguntar-me:
Então
Camilo? Em que é que ficamos? Qual a conclusão? Como devemos rezar ou orar?
Prefiro
confessar que não sei…. Não me atrevo a julgar alguém que invoque a Deus, seja
como for. Se rezamos ou oramos a Deus, temos de ter cuidado com o que fazemos,
que seja de acordo com as nossas consciências. Penso que ainda há, em todas a
igrejas e religiões muita hipocrisia, mas também muitos crentes sinceros. Mas
não sei como os distinguir.
Lembremo-nos
da parábola do trigo e do joio em Mateus
13:24/30. A nossa tendência é sempre separar, ou tentar separar o trigo do joio.
Mas o que disse o Mestre, também se aplica a nós. Esse não é o nosso trabalho.
O Mestre sabe que não estamos preparados para isso, pois iríamos certamente
arrancar trigo, pensando que era joio e deixaríamos muito joio julgando que era
valioso trigo. Não é isso que tem acontecido ao longo da história?!
Penso que
não há passagens didácticas sobre a liturgia da oração nem no Novo Testamento
nem no Alcorão, simplesmente por que não há locais mais santos que outros, pois
Deus é omnipresente, nem há posições que devemos assumir ou frases que devemos
dizer que nos possam tornar dignos de ser ouvidos por Deus ou que possam
pressionar Deus a atender às nossas orações. Se houvesse, então essas passagens
tornar-se-iam a base da nossa fé, iríamos acreditar mais nesse ritual, que se
tornaria o nosso código secreto para contactar com Deus.
Mas, se
Jesus nos ensinou a tratar a Deus por Pai, quais as implicações da aceitação de
tal pensamento? Será qua basta substituir as expressões “o altíssimo”, “o
omnipotente”, “o Senhor dos exércitos” pela palavra Pai e tudo ficar na mesma?!
O Pai que nos protegeu desde que fomos gerados e que nos acompanhará para além
desta vida. Será necessário ensinar alguma criança a falar com o seu próprio
Pai? Será que falamos com o Deus Pai com
a mesma intimidade com que falamos com o nosso pai biológico?
Ou podia
colocar a mesma pergunta ao contrário: Quando falamos com os nossos pais, temos
também a preocupação de cumprir os mesmos rituais se preparação?!
Deixo
estas perguntas aos visitantes desta nossa página, pois tenho a sensação de que
todos nós, cristãos e islâmicos ainda não compreendemos o que significa a
afirmação de que Deus é o Pai.
---------------------------------
(a) É natural que alguns leitores desta minha
página notem a diferença entre Sofonias 3:9
como está nesta tradução, que confere com a tradução de Almeida muito utilizada
no protestantismo lusófono ou da Bíblia Ave Maria,
muito divulgada no catolicismo que dizem “…darei
lábios puros…”, assim como nas melhores traduções, directas do hebraico
para o francês e depois para a nossa língua, como a Jerusalém ou a TEB, e a
tradução citada no artigo Louvor
no Islão (YA) em relação a Sofonias
3:9 em que diz “…darei aos povos uma língua pura e
eloquente…”
Tentei
aprofundar o assunto, pedindo a ajuda de quem conhece o hebraico das cópias dos
textos originais. Afinal, palavra “Saphah”, que
aparece nesta passagem permite as duas traduções.
Por
um lado o livro de Sofonias, escrito cerca do ano 620 aC portanto antes do
exílio na Babilónia e antes de Isaías e Jeremias que alertaram para a
necessidade de alguma coisa mais que o cumprimento dos rituais, estavam ainda
sob influência de Levítico 21:16/21 o que me levava
a interpretar os lábios puros como lábios sem nenhuma ferida ou cicatriz o que,
segundo vimos em Levítico, seria impedimento a que alguém se aproximasse do
altar. Mas por outro lado, nesse contexto histórico, de grande instabilidade,
Israel estava entre as duas superpotências dessa época, Egipto e Assíria.
Assim, a preservação da língua e cultura de Israel seria uma grande preocupação
perante a forte influência da cultura e da língua do Egipto e da Assíria o que
nos sugere que fosse a preservação do hebraico. Deixo isto ao critério dos
visitantes desta minha página.
Camilo
- Marinha Grande – Portugal
Julho
de 2014
Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas