DECÁLOGO
- Dez Mandamentos (CC)
Inspiração
divina, pirataria teológica, síntese teológica...?
(Deverá
“clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)
1. Introdução
Isto não é uma pregação,
mas uma investigação teológica. A nossa preocupação não é a evangelização,
muito menos a “edificação” seja de quem for, mas simplesmente a procura da
Verdade, sejam quais forem as consequências, mesmo que para tal seja necessário
ultrapassar as nossas próprias convicções teológicas.
Vamos
tentar meditar livremente sobre o Decálogo, com a mentalidade que menciono no
meu artigo Direito à
heresia (CC)
apresentando alguns pensamentos sobre o Decálogo para que os visitantes da
minha página possam livremente e sem a tutela de algum “profissional de
religião”, tomar a opção que entendam ser a mais verdadeira, ou apresentar
outras ideias possíveis sobre o Decálogo.
Algumas das
afirmações deste artigo serão certamente um escândalo não só para judeus, como
também para muitos cristãos e islâmicos que aceitam a inspiração do Velho
Testamento.
Se não quer ser questionado nas suas convicções, o conselho que lhe dou é que desista já da leitura deste artigo e que não entre na minha página, a Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas, em especial que não leia os artigos da secção dos Temas polémicos ou os estudos sobre David ou Davi (CC) ou Pôncio Pilatos (CC), que poderão afectar as suas convicções teológicas.
2. Decálogo
de Moisés
O
Decálogo, segundo a tradição judaica, aceite também por muitos cristãos e
islâmicos, foi escrito pessoalmente pelo Deus de Moisés em “tábuas” de pedra
que lhe foram entregues.
A
descrição bíblica é um pouco confusa. Moisés já conhecia bem o monte Sinai,
pois enquanto pastoreava os rebanhos do seu sogro deve ter subido várias vezes
a esse monte e certamente que nem todas ficaram registadas. Mas vejamos quantas
vezes ele subiu ao monte Sinai, depois de libertar o seu povo, enquanto este o
esperava na base da montanha.
Pela
primeira vez em Êxodo 19:3 que afirma “subiu Moisés…”.
Pala
segunda vez em Êxodo 19:9. O próprio
versículo não diz que Moisés subiu ao monte, mas no versículo seguinte (vr.10)
Deus disse: “Vai ao povo…”.
Pela
terceira vez, Moisés subiu ao monte,
como vemos em Êxodo 19:20 que afirma “… Moisés subiu.”
À
quarta vez levou consigo a Arão
desde Êxodo 19:24 até Êxodo 20:1/17, quando o Deus
de Moisés transmitiu-lhe verbalmente o Decálogo que Moisés registou no “livro”
do pacto que é mencionado em Êxodo 24:7.
Em
Êxodo 24:1 Deus chama
Moisés pela quinta vez, dizendo que
deveria ir acompanhado de Arão, Nadabe, Abiú e setenta anciãos que não se
poderiam aproximar de Deus e teriam de o adorar ao longe.
Vemos
em Êxodo 24:12 que Deus pela sexta vez chama a Moisés para receber
as tábuas de pedra com a Lei gravada por Deus. Mas, parece que Moisés já sabia
que dessa vez iria demorar mais tempo, pois entrega o poder de governar Israel
a Arão e Hur Êxodo 24:14 e subiu ao
monte com Josué Êxodo 24:13.
Dessa
vez, Moisés demorou 40 dias, como vemos em Êxodo 24:18.
Nos
capítulos seguintes, Êxodo 25, Êxodo 26, Êxodo 27, Êxodo 28, Êxodo 29 e Êxodo 30 há uma muito
pormenorizada descrição do Tabernáculo bem como das vestes dos sacerdotes.
Em
Êxodo 31:18 vemos que
finalmente Deus entrega as duas tábuas de pedra. Como vem na tradução da TEB Em seguida, tendo acabado
de falar com Moisés sobre o monte Sinai, deu-lhe as duas tábuas do Documento,
tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus.
Em
Êxodo 32:30 Moisés sobe ao
monte Sinai pela sétima vez.
Depois
destes acontecimentos, em Êxodo 34:1, Deus manda
Moisés subir novamente ao Sinai e preparar outras duas tábuas de pedra como as
primeiras para o próprio Deus reescrever os Dez Mandamentos. Em Êxodo 34:28 ficamos em
dúvida se foi Moisés que escreveu ou se foi o seu Deus. Mesmo examinando o
contexto deste versículo, vemos no vr. 27, que Deus
manda Moisés escrever. Mas escrever o quê? Tudo aquilo que Deus lhe dissera
anteriormente, ou somente o Decálogo?
Esta
descrição suscita-nos algumas perguntas:
Para
que foram necessárias tantas subidas e certamente outras tantas descidas do
monte Sinai? O texto não é bem claro, mas supomos que dessa vez, enquanto o
povo esperava em baixo, Moisés subiu e desceu sete vezes ao Monte Sinai, que
tinha 2240 metros de altitude, (a) admitindo que
a sua localização pela tradição esteja correcta. Mas, claro que Moisés não
subiu desde o nível do mar. Examinando as proximidades do Monte Sinai que fica
numa região alta, admitindo que o povo ficou a uma altitude de cerca de 1000 ou
1200 metros, mesmo assim, Moisés que já tinha 80 anos de idade, teria de trepar
pelo menos 1040 metros de rocha para atingir o topo da montanha.
Como
vemos em Êxodo 19:14, eles lavaram
as suas roupas. Portanto, estavam num local onde certamente havia água em
quantidade para lavar a roupa de toda a população. Não há estatísticas que nos
permitam saber ao certo quantos eram, mas podemos efectuar uma estimativa.
Joaquim Jeremias, no seu livro “Jerusalém no tempo de Jesus” dá a estimativa de
vinte mil sacerdotes e levitas, que com suas mulheres e filhos corresponderiam
a 50 ou 60 mil pessoas, e sugere uma população de um milhão de judeus em toda a
Palestina. Mas Joaquim Jeremias refere-se ao tempo de Jesus.
Mesmo
admitindo que na época de Moisés fosse só meio milhão de pessoas, para lavar a
roupa de todos, teriam de estar perto de algum rio, que é difícil de encontrar
nessa zona desértica. Penso que tal só seria possível se estivessem perto de
alguma alta montanha com neve, na época em que esta derrete e escorre pela
encosta com água abundante e límpida.
Êxodo 24:9/11
afirma que viram a Deus, afirmação que me parece uma contradição com o
evangelho de João
1:18 e a epístola 1ª
João 4:12.
Eles
não descrevem como era o seu deus, mas falam somente nos pés de deus assentes
num pavimento. Parece que não se tratava de linguagem simbólica, mas pelo menos
sugerem um deus em forma humana e afirmam que comeram e beberam. São afirmações
bem materiais para podermos admitir que se trata de linguagem simbólica.
Se
Arão,
Nadabe, Abiú, e os setenta dos anciãos de Israel tivessem visto a Deus, em vez
do Bezerro de Ouro, não teriam tentado fazer alguma estátua parecida com o deus
que viram?
A
imagem dum deus em cima dum imponente estrado ou sentado num alto trono, era
vulgar com quase todas as religiões dessa época, nomeadamente no Egipto onde
ainda hoje se podem ver os antigos deuses em lugares imponentes dos seus
templos. Também o facto de comerem e beberem perante o seu deus, era
acontecimento natural não só no Tabernáculo e posteriormente Templo de
Jerusalém Levítico
7:11/19, como também nos templos dos vários deuses dessa época e até na
época de Paulo, que se refere ao assunto em 1ª Coríntios 8:4/8.
3. A
origem do Decálogo
Claro
que em primeiro lugar coloco a explicação aceite pela maioria dos leitores. Foi
o Deus de Moisés que pessoalmente escreveu os dez mandamentos em placas de
pedra.
Mas
haverá outras interpretações? Penso que há perguntas que ficarão para sempre
sem uma resposta definitiva.
Segundo
a maioria dos historiadores, Moisés esteve no Monte Sinai pouco antes do ano
1200 AC, durante a 19ª Dinastia do Egipto. Nessa época, as principais
civilizações, dessa zona do planeta, já tinham a escrita, nomeadamente os hieróglifos
do Egipto, geralmente esculpidos em pedra ou pintados em folhas de papiro,
planta que crescia abundantemente no rio Nilo, e a escrita cuneiforme da
Mesopotâmia, terra de Abraão, escrita efectuada com um estilete em barro fresco
que posteriormente era seco ao sol ou cozido ao fogo, que eram as principais
formas de escrita dessa época. Por que motivo, o Deus de Moisés terá optado
pelo sistema egípcio e não o mais tradicional aos judeus? Pode ser por no local
não encontrar argila nem folhas de papiro, mas ter muita pedra à sua
disposição. Mas por que o Deus de Moisés escolheu o cimo do monte para se
manifestar?
Se,
segundo vemos em Êxodo 24:12 que na tradução
da TEB está: O
Senhor disse a Moisés: Sobe a mim na montanha e permanece lá, para que te dê as
tábuas de pedra: a Lei e o mandamento que escrevi para que possas ensiná-los. Será
que foi o Deus de Moisés que preparou as pedras e depois escreveu? Não sabemos
que tipo de ferramentas o Deus de Moisés utilizou para escrever, mas dessa vez
Moisés ficou 40 dias no monte, como vemos em Êxodo 24:18. Será que Deus
necessitou de 40 dias para preparar o Decálogo em pedra? Ou foi Moisés que
necessitou desse tempo? Vemos em Êxodo 24:14 que Moisés,
mesmo antes dessa subida ao monte, nomeou Arão e Hur para o substituírem.
Então, parece que já sabia que dessa vez iria demorar muito tempo!
Os
judeus não tinham tradição de escrever em pedra. Essa era tipicamente uma
tradição egípcia. Só encontrei na Bíblia duas outras ocasiões em que escreveram
em pedra: Em Êxodo 34.28 quando Moisés
faz a “segunda via” do Decálogo para substituir as tábuas que quebrara, e em Josué 8:32
.
Há mais versículos sobre o assunto, nomeadamente em Deuteronómio, mas
referem-se à descrição destes mesmos acontecimentos.
A
escrita tradicional da Babilónia, onde estão as origens de Israel, pois foi o
país de onde saiu Abraão, era a escrita cuneiforme, que influenciou também a
religião judaica, nomeadamente nos seus salmos. (b)
Todas as religiões sofreram influência de outras mais antigas.
4.
Bezerro de ouro
O
caso do “Bezerro de Ouro” está intimamente relacionado com o Decálogo.
Mas,
para evitar que este artigo se torne demasiado grande e cansativo, resolvi
abordar o tema do “Bezerro de Ouro” noutro artigo em separado, que convido a
ler, “clicando” em Aarão
ou Arão e o Bezerro de ouro (CC)
5. O
texto do Decálogo
Tentando
raciocinar num contexto de história, não podemos deixar de questionar o
seguinte:
5.1 Quais as
testemunhas desta descrição, da entrega dos Dez Mandamentos, cuja autoria a
tradição atribui a Moisés?
Parece
não haver testemunhas, pois Moisés sempre foi sozinho. O povo israelita não subiu
ao monte e mesmo quando Arão, Nadabe, Abiú e os setenta anciãos subiram ao
monte, não puderam aproximar-se do deus de Moisés. Então, que foram lá fazer?
Se adorassem a Deus no acampamento na base da montanha, o deus de Moisés não os
conseguiria ouvir?
Em
Êxodo 24:13 vemos que Josué
subiu ao monte com Moisés, mas os versículos seguintes só falam em Moisés,
dando a entender que este também não se terá aproximado do deus de Moisés.
Ficamos
assim sem qualquer testemunha que possa confirmar a descrição de Moisés da
entrega do Decálogo.
Mas
há outro pormenor mais importante. Como explicar esta atitude do deus de Moisés
que rejeita a proximidade do ser humano, até dos seus próprios sacerdotes, em
contradição com o Deus Pai que Jesus revelou que procura todo o ser humano sem
distinção de pessoas?
Era
o deus de Moisés que não queria que algum ser humano se aproximasse, ou era
Moisés que tinha alguma coisa a esconder?
5.2 Temos todo o
aparato desta descrição, das espectaculares manifestações de poder que
antecederam a entrega do Decálogo, como aliás era habitual na mitologia das
religiões dessa época. Mas, será que o seu texto é alguma coisa de novo, de
importante para toda a humanidade, alguma coisa que ninguém ouvira até essa
data e que iria mudar a história de toda a humanidade, como afirmam as igrejas?
Vejamos
quais seriam os textos de outras religiões mais antigas, nomeadamente religiões
que fossem do conhecimento de Moisés.
Temos
em primeiro lugar o “Livro dos mortos do Velho Egipto” que Moisés certamente
conhecia, pois foi educado no Egipto. Capítulo 125 do “Livro dos mortos
Em
segundo lugar, como homem culto dessa época, Moisés devia conhecer as “Tábuas de conjurar
assírio-babilónicas”,
não só pela cultura geral adquirida no Egipto, como pela tradição oral dos
descendentes de Abraão que saiu da Babilónia.
Comparando
o Decálogo com esses dois antigos documentos, não podemos deixar de suspeitar
de que haja partes do Decálogo que foram “pirateadas” desses antigos
documentos, ou são simplificações ou partes de alguns mandamentos destes
antigos “decálogos”.
Cito, por
exemplo o mandamento do Decálogo (vr.13)“Não cometerás
homicídio” como está na TEB ou “Não mates” na BPT que no Livro dos Mortos está “Não fiz chorar
ninguém. Não matei. Não mandei matar” e nas Tábuas e Conjurar está “Derramou o sangue
de seu próximo?” Se o Decálogo de Moisés é para levar a sério, como
justificar as três mil vítimas que vemos em Êxodo 32:25/29, por decisão de
Moisés, em nome do seu deus?
Quanto ao
roubo, enquanto Moisés se limita a dizer (vr.15) “Não roubes” como está na BPT e na
Jerusalém está “Não
roubarás”, ou na TEB “não raptarás”, como está nalgumas das antigas
cópias dos manuscritos, sendo o rapto uma forma de roubar a liberdade se raptar
um homem livre ou no caso dum escravo, roubar ao seu dono, o Livro dos Mortos
diz: “Não
roubei. Não fui ganancioso, Não furtei”
fazendo a distinção entre o furto e o roubo com violência.
Velho
Egipto Capítulo
125 do “Livro dos mortos” |
Alguns
artigos do Decálogo de Moisés Êxodo
20:12/17 - Tradução da Bíblia de Jerusalém |
Tábuas de conjurar assiro-babilónicas “Série Shurpu” |
Não cometi injustiça contra os homens |
12-
Honrar teu pai e tua mãe; para que se prolonguem os teus dias na terra que
Iahweh teu Deus te deu |
Seja desatado, grandes
deuses... aquilo pelo qual NN
está doente, angustiado, triste, preocupado! |
Não matei os bois destinados ao sacrifício... |
13
– Não matarás |
Comeu ele aquilo que o
seu deus abomina, aquilo que a sua deusa abomina...? |
Não fiz o que o deus abomina |
14 –
Não cometerás adultério |
Desprezou ele pai e
mãe, e teve em pouca consideração a irmã mais velha? Deu ele no pequeno e
esqueceu do grande? |
Não acusei falsamente nenhum servo diante de seu chefe |
15 –
Não roubarás |
Disse ele “não é” em
lugar de “é”? Disse ele “é” em lugar
de “não é”? |
Não deixei a ninguém passar fome |
16 –
Não apresentarás um falso testemunho contra o teu próximo. |
Disse coisa impura,
coisa irreflectida? |
Não fiz chorar ninguém |
17 – Não
cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a sua mulher, nem o seu
escravo, nem a sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa
alguma que pertença a seu próximo. |
Proferiu calúnias? |
Não matei |
|
Usou balanças falsas? |
Não mandei matar |
|
Invadiu a casa de seu
próximo? |
Não agi mal contra ninguém |
|
Aproximou-se demais da
mulher de seu próximo? |
Não diminuí as ofertas de alimentos nos templos |
|
Derramou o sangue de
seu próximo? |
Não cometi adultério... |
|
Deixou ir um homem em
sua nudez? |
Não aumentei nem diminuí a medida do trigo |
|
Tirou o vestido de seu
próximo? |
Não diminuí a medida do campo |
|
Tirou à família de um
homem honesto? |
Não enganei na medida do campo... |
|
Dividiu uma família bem
unida? |
Não roubei |
|
Levantou-se contra o
que presidia? |
Não fui ganancioso |
|
Sua boca era justa, mas
o seu coração não era correcto? |
Não furtei |
|
Sua boca era sim e seu coração
não?..." |
Não matei homens... |
|
|
Não falei mentiras |
|
|
Contentei o deus com aquilo que ele ama |
|
|
Dei pão aos famintos, água aos sedentos, vestidos aos nus e condução
para os que não tinham barco. |
|
|
Noto que enquanto
o Decálogo dá ideia duma certa passividade, pois é possível ser um bom crente
do judaísmo quem se limitar a não fazer o mal, mas deixar que outros morram à
fome sem lhes dar qualquer ajuda, o Livro dos Mortos do Velho Egipto mostra
muito mais vitalidade ao afirmar: “Contentei o deus com aquilo que ele ama” e “Dei pão aos
famintos, água aos sedentos, vestidos aos nus e condução para os que não tinham
barco.”
É bem
possível, que estes mandamentos para dar pão e água aos necessitados, tenha salvo os judeus quando foram ao Egipto para não morrerem à
fome. Não só no caso de Abraão quando este
enganou o Faraó dizendo que Sara era sua irmã como vemos em Génesis 12:10/20, como no caso de Jacob e José do
Egipto em Génesis 47:1/6 quando o Faraó os colocou em Gósen, nas terras mais férteis no delta do Nilo onde foram
bem tratados pelo Faraó dessa época.
Seria
necessário passar mais de mil anos, para que João Batista apresentasse
pensamentos semelhantes em Mateus 3:7/9, Lucas 3:7/8. Para ser, discípulo de João Batista,
não basta a ausência do mal. Depois disso, só Cristo poderia ultrapassar com o
Sermão do Monte.
6. Como interpretar o
Decálogo?
Temos várias
possíveis interpretações para o Decálogo de Moisés.
6.1 Em primeiro
lugar, com a mentalidade de quem já antecipadamente está resolvido a acreditar
em tudo, como diria o velho Tertuliano, teólogo e apologista cristão (160/220
dC) “Credo quia absurdum”,
bastará a leitura dos textos bíblicos, por mais absurdos que sejam, pois é o
livro inspirado que o afirma. Neste caso, que julgo ser a posição de muitos dos
visitantes da Estudos bíblicos
sem fronteiras teológicas, não haverá mais nada a acrescentar.
É
certamente uma posição que respeito, pois na minha página há liberdade de
pensamento e liberdade de expressão. Mas este grupo, dos que aceitam
simplesmente por estar na Bíblia, pode-se dividir em dois: Aqueles que não
querem ler mais nenhuma outra explicação e outros que, embora em princípio
aceitem a veracidade da descrição só por ser bíblica, não prescindem de
conhecer outras explicações.
6.2 Poderíamos considerar que o Deus Supremo, que está
muito acima de qualquer religião, terá inspirado tantos egípcios, como
babilónicos como a Moisés e possivelmente a outros povos, pois não podemos
limitar o seu poder e o seu direito de contactar com quem entender, quando e
como entender, pelos meios que entender, mesmo que isso seja inconveniente para
a nossa teologia.
Assim,
o Deus supremo teria contactado e inspirado a cada povo no seu contexto cultural, o que viria explicar as semelhanças
entre os vários “decálogos”, mas também a tendência dos vários dirigentes
religiosos tentarem monopolizar toda a revelação de Deus em favor da sua
religião.
Um bom exemplo dessa tendência foi a destruição do
Templo de Gerizim na Samaria, que se destinava a servir o mesmo Deus. Os judeus
destruíram Gerizim por motivos económicos, pois embora detestassem os
samaritanos, não queriam perder as contribuições destes.
Em João 4:21/24 Jesus demarca-se dos dois templos, de Jerusalém e
de Gerizim, pois os verdadeiros adoradores devem adorar em Espírito e em
Verdade. O Deus Pai, de toda a humanidade, não se identifica com nenhum povo,
nenhum local, nenhuma cultura, nenhuma língua, pois todos pecaram e só Ele é o
Deus Pai de toda a humanidade.
6.3 O ser humano
vive em sociedade, mas tal só é viável de acordo com certas leis, como o
respeito pela vida e segurança do próximo, respeito pela propriedade privada
etc. São leis comuns a todas as sociedades, pois sem elas não é possível a vida
em sociedade. Assim, as semelhanças entre todos esses “decálogos” seria uma
consequência dos problemas comuns a todas as sociedades organizadas.
6.4 Outra
interpretação possível é considerar Moisés como um homem bem-intencionado, que
conseguiu libertar o seu povo. Mas que ao dar a esse povo de “escravos”
recém-libertados, inconstantes, violentos, habituados a viver sob o chicote dos
capatazes, a liberdade para que não estavam preparados, teve de encenar a
entrega do decálogo com cenas de terror, sem permitir a aproximação do povo.
Bem sei que para muitos crentes, esta hipótese de
que Moisés copiou ou “pirateou” o Decálogo de outras religiões mais antigas e
mais avançadas, afecta o prestígio de Moisés e a sua idoneidade como homem.
Mas, temos de ser realistas, pois ele não teve outra alternativa.
7. Conclusão
Prefiro não concluir, pois para tal, teria de tomar
uma opção e não sei qual a opção certa, nem se esta estará entre as que
apresento.
Mas, deixo o assunto em aberto, convidando os
leitores desta página a colaborar, enviando as suas opiniões para eventual
publicação em resposta à questão: Qual a
verdadeira origem do Decálogo?, desde que tenham outras ideias próprias e
não seja simplesmente o que aprenderam nas igrejas ou nos seminários de
teologia.
Caso não seja já colaborador desta página, deverá
enviar também a sua identificação (nome, morada, data e local de nascimento,
profissão, religião e cargo que desempenha na sua religião, bem como outras
informações que nos queira enviar).
Esperamos que indique e justifique a sua opinião
sobre o Decálogo de Moisés, evitando comentários às outras opiniões que não
sejam aceitáveis.
Como diz o Pastor Osni
de Figueiredo de São Paulo no seu comentário ao meu artigo Direito à Heresia (CC) o filósofo
iluminista Voltaire cunhou a célebre máxima “Posso não concordar com nenhuma
das palavras que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-las.”
Eu
não digo tanto. Não sei se teria coragem de defender a liberdade de expressão até
à morte. Mas uma coisa farei, que é defender a
liberdade de expressão nesta página de teologia que não está comprometida com
nenhuma igreja ou religião e onde todos podem colaborar desde que utilizem
linguagem séria e sem a agressividade. É verdade, que por vezes, me vejo
obrigado a fazer um certo “controle de qualidade”,
quando recebo artigos para eventual colaboração. Geralmente são artigos
enviados por jovens que se limitam a repetir o que aprenderam na igreja ou no
seminário, sem qualquer reflexão pessoal, ou artigos muito ingénuos, ou artigos
com linguagem imprópria ou insultuosa, ou que pretendem servir-se da minha
página para divulgar doutrinas da sua denominação, pois não é esse o objectivo
desta página na internet.
Todos os comentários
deverão ser enviados para ---
Camilo – Marinha Grande, Portugal
Outubro de
2012
(a) Admitimos que a localização do monte Sinai que a
tradição judaica, assim como a tradição cristã e islâmica indicam ser o Sinai
mencionado na Bíblia, esteja correcta, pois não há uma certeza. Já foram
sugeridos outros locais, alguns com actividade vulcânica, a sudeste do golfo de
Akaba, a noroeste da Arábia, que seriam uma boa
explicação para a descrição de certas passagens que encontramos no livro de
Êxodo.
(b) Já nos
séculos passados que os arqueólogos encontraram referências a Ugarit nos
escritos egípcios e de outros povos da antiguidade, mas não se sabia a sua
localização, até que em 1929 arqueólogos franceses localizaram vestígios de
Ugarit, perto da cidade de Ur.
Ugarit
existiu desde 6000 AC. Foi encontrada enorme quantidade de antigas placas de barro
com escrita cuneiforme que pertenceram a duas grandes bibliotecas de Ugarit e
contêm muita informação sobre o período entre 1400 a 1200 AC. Era uma cidade
que ocupava cerca de 21 hectares, importante centro comercial e cultural para
onde convergiam os barcos e caravanas vindas por terra da Síria, Mesopotâmia e
Anatólia, pois em Ugarit havia indústrias têxteis e de produtos cerâmicos,
metálicos ou de madeira.
Algumas
dessas antiquíssimas placas de barro, contêm Salmos
muito semelhantes aos do Rei David. Mas penso que seria precipitado da nossa
parte dizer que David pirateou esses Salmos, pois eles não estão assinados. Não
sou nenhum admirador do Rei David, como certamente ficou claro no meu artigo David ou Davi (CC). Mas neste caso, até considero que David
teve o mérito de traduzir ou mandar traduzir esses antigos Salmos para os
incluir na literatura religiosa do seu tempo.
Literatura
consultada:
Várias
traduções da Bíblia (TEB, Almeida, BPT, Jerusalém)
“Atlas
Bíblico” – Edições Zairol, Ldª.
– Mem Martins, Lisboa
Dicionário
de teologia bíblica – Bauer – Edições Loyola – São Paulo
Google
Earth
“Religião”
- de Karl-Heinz Ohlig – Casa da Letras - Lisboa
“Jerusalém
no tempo de Jesus” de Joaquim Jeremias – Paulus, São
Paulo
Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas