COLONIZAÇÃO
ATRAVÉS DOS TEMPOS (CC)
(Deverá
“clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)
1.
Introdução
Um
artigo sobre colonização poderia ser abordado sobre muitos aspectos. Mas tenciono limitar-me aos métodos de
colonização utilizados pelos impérios mais poderosos, ou mais relacionados
com a nossa cultura, com base em alguns exemplos de épocas diferentes.
2. Ano
1200 AC. Época de Josué
A
guerra era considerada como um fenómeno religioso para o que se exigia “pureza
litúrgica”.
Quando
Israel ocupou a terra prometida pelo seu deus, infelizmente, não consta que
tivesse colonizado os povos que habitavam no local. Digo infelizmente, pois a
realidade que está registada no Velho Testamento é bem pior: A ordem de Jeová,
o deus de Israel, foi para exterminar a todos os seus habitantes.
Como
exemplo, vejamos o caso da cidade de Ai ou Hai, em
que depois da cidade conquistada, todos os moradores dessa cidade foram
executados na presença do rei de Ai, após o que o rei foi enforcado, como
consta no Velho Testamento em Josué 8.
Podemos
também ler o caso da destruição da cidade de Jericó em Josué 6:17/24 em que tiveram de matar todos os homens,
mulheres, crianças e velhos, até os animais domésticos, por ordem de Jeová, o
deus dos judeus. (a)
Podemos
concluir pelo Velho Testamento, que os israelitas não tinham tradição de
colonização, pois exterminaram todos povos que conquistaram, embora por vezes,
por decisão de Moisés, que de acordo com Números 12:03 era homem muito
humilde (ou manso), tenham sobrevivido algumas crianças, como no caso
mencionado em Números 31:6/18. Não sei o que
teriam feito se Moisés não fosse assim tão humilde.
Embora
os judeus no Velho Testamento, não tivessem colónias, tinham os seus escravos e
escravas, quer obtidos por compra Génesis 17:27 ou capturados
durante as guerras como vimos no versículo 9 de Números 31:6/18.
3. Ano
570 AC. Época do Profeta Daniel
Nessa
época, Daniel era um jovem, quando Israel foi conquistado pelo Império da
Babilónia como vemos no primeiro capítulo do livro do profeta Daniel, em Daniel:1
Apresento
também a versão da “Bíblia Sagrada” (católica), em que sublinhei as passagens
para que quero chamar a vossa atenção.
1. No terceiro ano do reinado de Joaquim em
Judá, Nabucodonosor, rei da Babilónia,
foi até Jerusalém e cercou a cidade. 2. O
Senhor entregou-lhe nas mãos Joaquim, rei de Judá, e parte dos objectos do
Templo de Deus. Ele então levou tudo para a terra de Senaar
e guardou os objectos na sala do tesouro do templo do seu deus. 3. Depois
o rei deu ordem a Asfenez, chefe dos eunucos, para
escolher, entre os israelitas da família real ou de outras famílias importantes,
4. alguns jovens sem nenhum defeito físico, de boa
aparência, instruídos em toda a espécie de sabedoria, práticos em conhecimento,
gente de ciência, capazes de servir na corte do rei; deu também ordem para
que lhes ensinasse a literatura e a língua dos caldeus. 5. O
próprio rei destinou-lhes uma ração diária da comida e do vinho da mesa real.
Eles deveriam ser preparados durante três anos, e depois passariam a servir o
rei. 6. Entre
eles estavam Daniel, Ananias, Misael e
Azarias, que eram judeus. 7. O chefe dos eunucos deu-lhes outros nomes: Daniel passou a chamar-se Baltassar;
Ananias, Sidrac; Misael, Misac;
e Azarias, Abdénago. 8. Daniel resolveu que não iria contaminar-se com as comidas e o
vinho da mesa real. Pediu ao chefe dos eunucos permissão para não aceitar essas
comidas. 9. O Senhor
fez com que Daniel conquistasse a simpatia do chefe dos eunucos. 10. Este disse-lhe: «Tenho medo do rei, meu
senhor, que determinou pessoalmente o que deveis comer e beber. Se ele perceber
que os vossos rostos estão mais pálidos que os dos outros jovens da mesma
idade, tornar-me-eis culpado de crime de morte aos olhos do rei».11. Daniel disse ao funcionário, a quem o chefe
dos eunucos havia confiado Daniel, Ananias, Misael e Azarias: 12.«Faz uma experiência connosco: durante dez
dias não nos dês a comer senão vegetais, e água a beber. 13. Depois, compara a nossa aparência com a dos
outros jovens que comem da mesa do rei. Depois agirás connosco como achares
melhor».14. O
funcionário aceitou a proposta e fez a experiência durante dez dias. 15. No final dos dez dias, estavam com boa
aparência e corpo mais saudável que todos os jovens que comiam da mesa do rei. 16. Então o funcionário tirou definitivamente a
comida e o vinho da mesa dos jovens e passou a dar-lhes somente legumes. 17. Aos quatro jovens Deus concedeu o
conhecimento e a compreensão de toda a literatura e também sabedoria. A Daniel especialmente, deu o dom de interpretar visões e
sonhos. 18.
Terminado o tempo que o rei havia fixado para os jovens serem apresentados, o
chefe dos eunucos levou-os à presença de Nabucodonosor. 19. O rei conversou com eles e não encontrou
ninguém melhor do que Daniel, Ananias, Misael e Azarias. E, a partir desse
momento, entraram ao serviço do rei. 20. Por tudo o que procurou saber deles em termos de conhecimento e
sabedoria, o rei achou que eram dez vezes mais capazes que todos os magos e
adivinhos que havia no seu reino. 21. Daniel ficou ali até ao primeiro ano do reinado de Ciro.
Vemos
que, ao contrário de Israel nas guerras da ocupação do território no tempo de
Josué que,
devido ao fanatismo religioso, exterminou todos os
seus habitantes, a Babilónia, não tencionava matar os israelitas, mas
transformar Israel numa colónia.
A
Babilónia era uma civilização mais desenvolvida e penso que podemos meditar
nestas passagens que nos dão preciosas informações sobre os métodos de
colonização daquela época.
Certamente que Nabucodonosor, rei da Babilónia, bem sabia que não bastava
conquistar para receber os tributos dos israelitas, pois assim Israel
continuaria a ser um foco de tensões na luta constante para reconquistar a sua
independência.
Nabucodonosor
tinha os seus planos para colonizar Israel, integrando-a no seu grande império,
como vemos nestes importantes pormenores que sublinhei e que muitas vezes nos
passam despercebidos.
Podemos
assim resumir os métodos de colonização da Babilónia, admitindo que esta
amostragem seja significativa em relação aos outros povos que foram integrados
no Império da Babilónia.
1)
Escolher um grupo de jovens da aristocracia de Israel, para os educar na
Babilónia, para que no futuro fossem os governantes de Israel fiéis à
Babilónia.
2)
Desligar esses jovens da cultura de Israel e integrá-los na cultura babilónica
através dos seus hábitos alimentares e preparação cultural.
3) A
língua que falavam tinha a mesma origem, pois Abraão saíra da Babilónia cerca
do ano 1900 AC, mas já se tinham passado mais de 1300 anos até à época do
Profeta Daniel, pelo que eles teriam de se dedicar à aprendizagem, não de novas
línguas, mas somente da língua falada nessa época na Babilónia que passariam a
utilizar com gradual esquecimento do hebraico de Israel dessa época. Embora os
textos não mencionem, teriam certamente de aprender a teologia da Babilónia.
4)
Até os seus próprios nomes foram alterados para que adquirissem uma nova
personalidade integrada na cultura da Babilónia.
Normalmente,
ao fim de alguns anos, eles já seriam culturalmente mais babilónicos do que
israelitas, tanto mais, que a Babilónia, assim como o Egipto, eram as
civilizações mais avançadas dessa época nesse local.
4. Ano 30. Época de João Batista e de Jesus Cristo
Como dissemos no nosso artigo João Batista (CC) cuja leitura aconselho (nomeadamente o capítulo 3 “Contexto
histórico e cultural da época de João Batista” que a seguir transcrevemos),
essa época é
praticamente a mesma em que viveu Jesus o Cristo.
Israel
já não era nação independente. Neste caso particular, a Judeia tornara-se numa
província do Império Romano no ano 6, e Roma impunha as suas leis, embora
fosse tolerante a ponto de manter em vigor a legislação dos vários países
conquistados enquanto essa não colidisse com a Lei Romana.
Assim,
o Sinédrio de Jerusalém, embora continuasse a funcionar como a mais alta
representação política, jurídica e religiosa, aspectos que nem sempre é fácil
de se dissociar nessa cultura, já não tinha a última palavra no aspecto
jurídico.
O
Império Romano, sempre que possível, tentava pacificar os territórios
conquistados, mantendo os privilégios da classe dominante. Esse foi também o caso de Israel na
época em que João Batista inicia a sua pregação.
Segundo
nos conta o historiador Joaquim Jeremias, nessa época de dominação romana,
época de João Batista e do próprio Jesus Cristo, embora a Judeia, e todo o
território de Israel, estivesse dominado por Roma, os soberanos da dinastia
herodiana, judeus de influência romana, viviam com um luxo indescritível.
Tinham grandes palácios com arquitectura romana, mas mantiveram a sua
fidelidade a algumas antigas tradições do oriente, nomeadamente a poligamia,
pois tinham haréns que aliás eram permitidos pela Velha Lei de Moisés.
Herodes
Antipas, rei da Judeia,
era filho de Herodes o Grande, portanto da aristocracia de Israel, mas o
pormenor mais importante é que tinha sido educado em Roma que além da Judeia
lhe concedeu as tetrarquias da Galileia e da Pereia onde fundou a sua capital
em Tiberíades. Embora israelita, mas com mistura
de sangue, era um rei fiel a Roma que tinha sido tão generosa para ele. Mas
o mais estranho é que, segundo alguns historiadores, sendo Herodes Antipas
um rei israelita, a sua guarda pessoal era constituída por tropas trácias e
germânicas, a que vieram juntar-se cerca de quatrocentos guardas gauleses da
guarda pessoal de Cleópatra, depois desta se suicidar, pois o Rei da Judeia
temia mais os seus súbditos do que os estrangeiros.
Mas
ao falar em vida faustosa, não nos podemos limitar à aristocracia herodiana.
Os
altos sacerdotes viviam em palácios na zona alta de Jerusalém, como aliás se vê nas passagens dos
evangelhos que falam no julgamento de Cristo.
O
Templo de Jerusalém fora reconstruído com uma grandeza e dimensões superiores
ao antigo Templo de Salomão e estava a funcionar em pleno, embora a sua
actuação estivesse limitada pela Lei Romana, como já referimos. O Templo
perdera o “monopólio da religião”, mas continuava a ser o mais importante
centro religioso em Israel e toda a vida económica da cidade estava relacionada
com o seu Templo, onde continuavam a oferecer sacrifícios pelos pecados do
povo, com todo o rigor da Velha Lei. Nenhuma outra religião atraía tantas
multidões como o Templo de Jerusalém com a sua imponente liturgia, os mais
famosos músicos e os melhores cantores que se tinham aperfeiçoado desde os
tempos do Rei David. Também sob o aspecto político e teológico, o Templo era um
elemento de união entre as várias seitas veterotestamentárias, em que os
israelitas estavam divididos, devido às convicções religiosas, políticas ou
profissionais, como os fariseus, saduceus, essénios, zelotes, galileus, herodiamos, publicanos, escribas etc. num contexto cultural
em que não era fácil dissociar a religião da política ou dos interesses
profissionais.
Além
do Templo, havia as várias sinagogas em Jerusalém, assim como em todo o
território do grande Império Romano, que competiam entre si pelo rigor dos seus
cultos, pela sua música e pela santidade dos seus membros, embora com um
conceito veterotestamentário de santidade, mais ligado à ideia de santidade
litúrgica ou santidade higiénica e à santidade da sua genealogia. (Ver nosso
artigo Santidade ao Senhor) Algumas das principais famílias de
sacerdotes de Jerusalém, tinham até uma passagem superior ligando suas
habitações ao Templo a fim de não se contaminarem em contacto com o povo
pecador e impuro e sabiam de cor os nomes dos seus antepassados até dezenas de
gerações o que comprovava a sua santidade.
Roma
decidira manter os privilégios dos levitas e sacerdotes, nomeadamente na
cobrança do dízimo, desde que tal não interferisse nos impostos arrecadados
pelos publicanos ao seu serviço. Claro que o povo, sujeito a essa dupla tributação não tinha
possibilidades de reagir nem tinha o apoio do seu rei nem das suas autoridades
religiosas.
Claro
que os principais pontos estratégicos ou de interesse comercial estavam
controlados por Roma através dos publicanos ao seu serviço, e os grandes
investimentos públicos seguiam uma lógica economicista e não teológica. Assim,
Samaria que estava num vale fértil e muito produtivo, beneficiou duma via
romana, ao contrário de Jerusalém que nunca teve uma via romana pois a cidade
“apertada” dentro das suas muralhas, não tinha possibilidades de grande
desenvolvimento. Jerusalém continuou sempre com as suas ruelas estreitas e
sinuosas, enquanto as vias romanas davam continuidade às avenidas de Samaria,
onde carros puxados por várias parelhas de cavalos conseguiam rodar 180 graus.
Era
esta a situação religiosa na época de João Batista. Aparentemente, tudo estava
perfeito, os rituais cumpriam-se com todo o rigor, e os sacerdotes eram
nomeados de acordo com a Velha Lei. Eles tinham toda a autoridade para falar ao
povo, mas… tinham perdido para sempre a sua credibilidade. Os dirigentes
religiosos estavam completamente controlados por Roma, cegos pelos seus
interesses económicos e não estavam nada interessados em mudanças, muito menos
na vinda do Messias que poderia alterar a cómoda posição de que beneficiavam,
com uma vida fácil e a paz com os romanos.
Podemos assim resumir os métodos da antiga Roma, para dominar as
suas colónias.
1)
Manter válida a Lei do país conquistado, enquanto esta não colidisse com a
legislação do Império Romano a que estava subordinada.
2)
Divulgação do Latim como língua oficial em todo o Império Romano.
3) Manter os privilégios da classe dominante, nomeadamente os
aristocratas e clérigos em geral.
4) Educar em Roma, os jovens das famílias mais influentes, para
serem os futuros governantes ao serviço do Império Romano, bem integrados na
cultura romana.
5.
Século XX – No Império Colonial Português
Também
nos Impérios Coloniais do século passado se notam muitas semelhanças, com os
dois exemplos de colonização já citados. Entre estes exemplos, posso citar o
caso de Moçambique onde nasci. Sem pretender escrever história, mas mencionando
simples experiências pessoais com a imparcialidade que um certo distanciamento
no tempo nos permite e sem pretender, como diria Mia Couto “exaltar o colonizador em detrimento do colonizado,
nem a valorizar o invadido com a demonização do invasor”.
A
antiga aristocracia dos povos africanos antes da chegada dos europeus, era constituída pelos Régulos, autoridade ao mesmo tempo
secular, que impunha as suas leis através dos seus sipaios (polícias
tradicionais), como também autoridade religiosa e tradicional. Os Régulos, tinham autoridade sobre os Chefes das povoações.
Certamente
que com a colonização, esta autoridade dos Régulos desapareceu, mas não por
completo, pois o Governo Português logo compreendeu que não poderia governar
nem pacificar territórios tão grandes se não fosse com a colaboração da
tradicional aristocracia africana, os Régulos.
Assim,
alguns régulos, que não se subjugaram à autoridade de Portugal, foram mortos ou
destituídos das suas funções e nomeados outros em seus lugares, mas que tiveram
de se adaptar às novas condições.
Em
meados do século passado, data a que se refere a minha experiência pessoal, os
Régulos, tinham alguns privilégios, embora poucos, pois sempre foram úteis para
colaborar com o Governo Português. Eles conheciam o interior do país e o seu
povo como mais ninguém. Exerciam cargos hereditários e eram facilmente
identificados como Autoridade, pelo seu fardamento. Eram os régulos que
forneciam os homens voluntários para as forças armadas e para o chibalo (b), recebendo em
troca uma determinada quantia por cada elemento apresentado.
Também
o Catolicismo colaborava com a colonização e tinha em contrapartida os
privilégios que constam do “Acordo missionário de 1940” nomeadamente o seu
artigo 9º e seguintes do referido “acordo missionário”, que podemos ler a
seguir à Concordata de 1940 - Revogada em 2004, que ainda
está na página do Vaticano na internet em Acordo
missionário de 1940. Os missionários
católicos tinham direitos equiparados aos dos funcionários do Governo Português
nas suas colónias, e eram subsidiados pelo Governo Português.
Todas
as missões dessa época, quer católicas como protestantes, tinham escolas onde a
língua portuguesa foi divulgada, acabando por se tornar o elemento de união,
não só entre colonos e povos colonizados, como entre todos os povos desses
territórios que tinham dialetos diferentes. Actualmente, em Moçambique, fala-se
mais português do que na época da sua independência e a língua portuguesa é a
língua oficial, poderoso elemento de união entre todos os povos moçambicanos
que os diferencia dos outros países vizinhos. O mesmo se passa nas outras
antigas colónias de Portugal no continente africano e americano.
Mas
os privilégios da Igreja Católica também tiveram os seus aspectos bem
negativos, pois não havia verdadeira liberdade de religião, os feiticeiros que
eram a religião tradicional africana foram perseguidos, e as igrejas
protestantes foram vítimas da má vontade e discriminação da parte das
autoridades portuguesas. A liberdade e igualdade de religião em Moçambique, só foi possível com a sua independência. Actualmente as
religiões tradicionais africanas no sul de Moçambique, os antigos feiticeiros e
curandeiros num contexto cultural em que não é fácil distinguir quem é feiticeiro
e quem é ervanário ou curandeiro, estão organizadas na AMETRAMO que
se apresenta como (Associação dos Médicos
Tradicionais de Moçambique), com dezenas de milhares de associados. Essa
designação já teve os seus atritos com os verdadeiros médicos, assim como entre
os próprios sócios da Ametramo. Poderá obter mais informação sobre este assunto
se procurar a palavra “Ametramo” na internet.
Uma das recordações mais antigas que tenho da realidade do
interior sul de Moçambique cerca do ano 1962, foi a
seguinte:
Estava como aluno da Escola de Topografia e Agrimensura de
Moçambique, que no segundo ciclo incluía um mínimo de seis meses de trabalho de
campo no interior do território. Era a faze mais difícil desse curso, quando
tínhamos de passar pelo menos seis meses em barracas de campanha, no interior
de África, por vezes completamente isolados das povoações. Depois dum trabalho
mais fácil, a demarcação da futura povoação do Dondo, perto da cidade da Beira
onde só havia um restaurante à beira da estrada e mais dois ou três edifícios,
fomos trabalhar em Vila Machado e Gondola. Depois de ter certa experiência
nesses trabalhos tive de ir para uma zona mais isolada do interior da província
de Sofala. Como estava perto dum Posto Administrativo, fui procurar o Chefe desse
Posto, não só por estar a trabalhar no território dele, mas como era habitual
nesse contexto histórico. Claro que o Chefe de Posto, que me recebeu em sua
casa durante uns dias, ficou contente por falar com um jovem vindo da capital,
numa época em que não havia TV para ver os noticiários.
Ele estava a trabalhar no julgamento dos infractores da
legislação. Eram pequenas infracções que geralmente eram punidas com alguns
dias de trabalho. A certa altura chegou a vez dum jovem africano. Já não me
lembro qual foi o delito que ele cometeu, mas o Chefe de Posto exclamou: “Ainda
és um jovem e já estás nesse estado? Com todos estes registos na tua caderneta
indígena (equivalia ao cartão do cidadão, ou carteira de identidade)?! Vou
dar-te uma oportunidade.” Então diz aos sipaios: “Levem-no e apliquem quatro
palmatoadas em cada mão.” Levaram o jovem, enquanto o julgamento continuou.
Quando o trouxeram novamente, o Chefe de Posto, pega na caderneta indígena e à
vista de todos, rasga-a e atira para o lixo, dizendo. “Vou dar-te uma nova
caderneta indígena, sem nada escrito. És uma nova pessoa. Agora vê se te portas
bem.”
Lembro-me também duma menina africana que entrou a chorar… Não
percebi o que ela dizia, pois a língua era diferente das línguas do sul de
Moçambique, onde nasci, mas compreendi que falava em escola. Então eu perguntei
ao Chefe de Posto: “Ela não quer ir para a escola?” Ele respondeu-me: “É o
contrário, ela não pode entrar na escola, pois temos poucos lugares e ela já
tem idade a mais. Com a idade que tem, terá de ir trabalhar e já não tem idade
para ir à escola”.
Então, exclama: “Pronto... vou resolver
o problema. Nasceste dois anos mais tarde.” Também rasga a caderneta indígena e
manda passar outra, alterando a data de nascimento.
Podemos resumir os principais métodos utilizados por Portugal para
a integração da população de Moçambique no seguinte:
1) Manter, dentro de certos limites, os
privilégios dos Régulos que estivessem dispostos a colaborar com Portugal,
desde que estes se integrassem no novo contexto cultural.
2) Gradual integração das populações na cultura portuguesa, para o
que havia três tipos de cidadãos:
Os que tinham o “bilhete de identidade” (actual cartão do cidadão)
que eram os europeus e seus descendentes, assim como muitas outras raças, como
indianos, chineses, árabes etc. a maior parte deles, já eram moçambicanos há
várias gerações.
Os africanos tinham a “caderneta indígena” que lhes dava outras
obrigações e também alguns privilégios. Posso citar como exemplo o direito de
ocupar qualquer terreno que não tivesse dono (que era a maior parte dos
terrenos), adquirindo assim o direito do seu trabalho de desbravar o terreno e
o direito à habitação que construísse, mas não o direito ao terreno. Situação
que aliás estava de acordo com as suas tradições.
Os assimilados. Quando um africano tinha certo nível de instrução,
nível cultural e económico, podia requerer a situação de assimilado e passava a
ser considerado como português de pleno direito, assim como os seus filhos e a
partir dessa altura tinha o “bilhete de identidade”.
3) Divulgação de língua portuguesa que, neste caso tanto foi
benéfica para Portugal como para Moçambique, tornando-se elemento de união
entre todos os povos moçambicanos. O mesmo aconteceu noutras colónias do continente
africano e no Brasil e em certos aspectos, até no Oriente onde havia antigas
civilizações já bem desenvolvidas, mas mesmo assim a língua portuguesa por
vezes chegou a funcionar como elemento de união entre povos bem diferentes. Foi
neste contexto histórico que João Ferreira de Almeida fez a primeira tradução
completa da Bíblia para a língua portuguesa cerca do ano 1660, não em Portugal,
mas em vários locais do Oriente. Grande parte dessa tradução foi efectuada na
cidade de Colombo em Ceilão (actual Sri Lanka).
4) As missões religiosas, quer católicas (portuguesas ou
estrangeiras) quer protestantes (quase todas as estrangeiras) tiveram papel
importante na divulgação da língua portuguesa em Moçambique, que era uma das
condições impostas pelo Governo Português para o funcionamento dessas missões.
6.
Semelhanças nos métodos de colonização do passado
Tentando
meditar no assunto com imparcialidade, podemos talvez afirmar que a colonização, embora fruto da ganância de alguns povos pelas
riquezas, geralmente inexploradas, dos outros, teve os seus aspectos bem
negativos, mas também não podemos negar certos aspectos positivos.
O
que era Portugal, antes da civilização nos ter chegado
através da colonização romana? E que dizer do Brasil, ou dos países africanos
de língua oficial portuguesa antes da época da colonização?
Também
podemos perguntar o que seria de Israel se a civilização não tivesse chegado
pela colonização romana? Se Israel se mantivesse isolado de todos os
incircuncisos, de acordo com a velha Lei de Moisés, certamente que ainda
estariam a aplicar a pena de morte a quem trabalhasse num dia de sábado Êxodo 31:13/15, com
apedrejamento popular e ainda estaria válida a escravatura em Israel, assim
como a pena de morte para quem não fosse circuncidado Génesis 17:12/14, de acordo com
o Velho Testamento.
Pelo
que dissemos até aqui, comparando a colonização na época do Profeta Daniel (ano
570AC), na época de João Batista (ano 30), e em meados do século passado (ano
1960), noto algumas semelhanças.
1) Exército
A força das armas foi
utilizada de início, mas parece que só pela violência nunca seria possível
manter uma colónia, pois a guerra sempre foi prejudicial tanto para vencidos
como para vencedores. Se a principal finalidade da colonização era económica,
nunca poderia haver vantagens económicas enquanto a guerra não terminasse.
2) Apoio da classe dominante
Em todos os casos de
colonização que examinámos, o colonizador procurou pacificar os territórios,
logo que possível, procurando o apoio da antiga classe dominante (aristocratas
e clérigos). Tanto foi esse o caso da Babilónia ao educar alguns dos jovens das
principais famílias de Israel na cultura babilónica, como o caso de Roma ao
educar os descendentes dos reis de Israel em Roma, como no caso do Império
Colonial Português nos seus contactos com os Régulos de Moçambique.
3) Comércio
Logo nos primeiros
contactos com os povos, descobertos ou conquistados, começam as trocas
comerciais. Certamente que da nossa perspectiva, somos tentados a dizer que
essas trocas eram sempre favoráveis ao país colonizador. Mas não sei como
atribuir o valor de determinado produto em certo local e época da história.
Lembro-me de que cerca do ano 1965, bem no interior do planalto de Lichinga, quando trabalhava em topografia e fiz a planta,
ou o levantamento topográfico da aldeia de Mataca,
antes de haver estradas para esse local.
Já sabia, quando saí
de Lichinga (nessa época era Vila Cabral), que se
tencionasse comprar alguma coisa, o povo não aceitava dinheiro, pois não havia
comércio nessa zona. Em vez de dinheiro levei uns sacos de sal. Trocava uma
chávena de sal por uma galinha, com a sensação de que os estava a enganar e
eles também tinham a mesma sensação de me enganarem, pois num terreno tão
fértil, tinham muitas galinhas, cabras, bois e vacas, mas estavam a muitas
centenas de quilómetros do mar, e para obter sal teriam de ir muito longe, até
onde houvesse comércio.
4) Cultura
Outro aspecto da máxima importância, comum em todos estes casos é a
língua. Logo nos primeiros contactos é utilizada a língua do país colonizador e
só são válidos ou pelo menos mais valorizados os documentos escritos nessa
língua, que em muitos casos era a única hipótese possível, quando o colonizador
europeu contactou com outros povos no Continente Americano e na maior parte do
Continente Africano, povos que não tinham língua escrita.
Tanto a Babilónia teve a preocupação de ensinar a Daniel e seus
companheiros a língua e cultura da Babilónia, como Roma difundiu o latim em
todo o seu Império, assim como Portugal ensinou a nossa língua não só em todo o
seu Império Colonial, como até nos países com quem contactou.
Nos séculos passados, os vários países disputavam o ensino das suas
línguas nas suas colónias.
Mencionamos a língua por ser o aspecto cultural mais importante,
mas há outros aspectos como os hábitos alimentares, vestuário, religião, ou
religiões… Duma maneira geral, a cultura define o que é um povo. Na Índia,
nomeadamente no caso de Goa, onde funcionou um Tribunal da Inquisição, a
religião teve grande importância na ocupação do território por Portugal, como
afirmo na primeira parte do artigo Encontro de religiões (Diversos)
7.
Conclusão
7.1
Métodos de colonização em geral
Bem
sei que muitos dos leitores não me perdoariam se depois de apresentar estes
apontamentos um tanto desorganizados sobre um assunto que não é propriamente o
principal objectivo da minha página, não colocasse algumas referências à
“colonização” nos nossos dias.
Na
verdade, o objectivo da minha página é a livre reflexão teológica, mas a
teologia não pode fechar-se comodamente no seu “castelo de marfim”, indiferente
a tudo que nos rodeia. Esse tem sido o grande problema que tornou a teologia
irrelevante para o homem dos nossos dias e que não corresponde ao exemplo de
Jesus que não prescindiu de abordar os problemas sociais do sei tempo.
Assim,
procuraremos levantar algumas questões que nos ajudem a reflectir sobre a
realidade deste início do Século XXI, com realismo e imparcialidade.
Em
certos aspectos, é mais difícil compreender e falar do presente, pois as
informações do passado são mais reduzidas e já foram de certa maneira
seleccionadas e trabalhadas pelos historiadores na sua busca da verdade,
enquanto sobre o presente, temos excesso de informação, por vezes
contraditória, nem sempre credível, outras vezes tendenciosa e geralmente são
“verdades parciais” com a intenção de alterar a nossa compreensão da realidade
em que vivemos.
Será
possível compreender alguma coisa do presente com a experiência do passado?
No
mundo em que vivemos, as fronteiras políticas, raciais e culturais entre os
vários países, estão cada vez mais esbatidas, mas isso não significa que
tenhamos um mundo mais fraterno, pois aumentou o desnível social e económico
dentro dos vários países e entre os vários estratos da sua população.
Viver
num país rico, já nem sempre significa ter melhor nível de vida. Por vezes, é
nos países mais ricos onde encontramos os mais pobres, nomeadamente em países
africanos. Será que bastou substituir a exploração do colonizador pela
exploração dos governantes do próprio país?!
Será
que as colónias acabaram? Ou os colonizadores foram substituídos pelos grandes
grupos económicos? Actualmente os colonizadores já não são um país, mas um
grupo de privilegiados que controla a maior parte dos países, pois o capital
não tem pátria.
Quando
falamos em países ricos e países pobres, em que estamos a pensar? E quando lá
vamos em visita, o que nos mostram? Têm a amabilidade de nos mostrar como vivem
os seus ricos? Ou também nos mostram como vivem os pobres?
Talvez
tenhamos de dar um novo significado à palavra “colónia” incluindo os países que
são politicamente independentes, mas é uma independência política que não
funciona por não terem uma independência financeira, sendo na prática o Governo
do país livre, “governado” pelas potências estrangeiras, nomeadamente pelo
grande capital.
Mas, quais os
principais métodos de “colonização” dos nossos dias?
1)
Cultura
Parece
incrível, mas geralmente começam pela parte cultural contra a qual poucos
reagem e esses são os métodos que a Babilónia já utilizava no ano 570 AC.
Actualmente
é mais fácil através dos órgãos de informação a divulgação de hábitos
culturais, pela propaganda comercial, quer se trate de alimentos, vestuário,
modas, e também o mais importante, a língua que falamos. Como diria o linguista
brasileiro Napoleão
Mendes de Almeida, “A língua é a mais viva expressão da
nacionalidade. Como havemos de querer que respeitem a nossa nacionalidade se
somos os primeiros a descuidar daquilo que a exprime e representa o idioma
pátrio”.
Noto nos canais de TV disponíveis nas nossas televisões
em Portugal, uma oferta exagerada de filmes e noticiários em inglês, de
qualidade duvidosa, enquanto os filmes em italiano, francês, espanhol, alemão etc, praticamente desapareceram, para não mencionar os
filmes feitos no Oriente. Parece que há uma certa barreira, não sei se
cultural, política ou comercial que nos impinge a língua e cultura
norte-americana, que faz lembrar o que aconteceu no século passado em que cada
colonizador tentava divulgar a sua cultura nas suas colónias impedindo que
outras línguas fossem divulgadas.
Vemos por vezes, nos programas culturais
internacionais através da TV, o representante da França falar em francês, o da
Inglaterra em inglês, o do Brasil em português, o da Alemanha em alemão e o de
Portugal em inglês!!!! Julgo que há uma certa
tendência em nos identificarmos com alguma grande potência, que vem deste o
início da História de Portugal, quando o nosso primeiro Rei, depois de
proclamar a independência de Portugal, colocou em dúvida essa independência
quando se declarou vassalo do Papa.
Certamente que falar várias línguas é cultura geral,
mas falar só uma língua estrangeira é subserviência cultural que teve o seu
ponto mais alto quando se tornou obrigatório o ensino do inglês nas escolas
primárias, quando as crianças estão a aprender e a aperfeiçoar a sua língua
materna, verdadeiro atentado cultural do nosso Governo anterior. (c)
Assistimos actualmente em Portugal, aos abundantes
estrangeirismos (quase todos da língua inglesa) que entram na nossa língua
através dos nossos canais de TV, incluindo a RTP, enquanto se diminuem as
verbas para as Universidades e são suprimidos alguns dos feriados relacionados
com a nossa história e tradição.
Na cultura, incluo também a religião como método de
colonização, principalmente quando a direcção da igreja ou religião se encontra
no estrangeiro e não em território nacional e os seus fiéis são “comandados” do
exterior, por estrangeiros, como aconteceu em quase todas as colónias em que a
religião do colonizador tinha os seus privilégios e até perseguia as outras
religiões. Mas há igrejas, nomeadamente no Brasil, que embora sendo
“nacionais”, são fortemente influenciadas do exterior, como é o caso da maior
parte das igrejas evangélicas em que os teólogos norte-americanos têm muito
mais influência do que teólogos brasileiros. Isso nota-se perfeitamente ao
entrar em qualquer livraria dita evangélica, pois a grande maioria dos livros
são traduções de literatura americana defendendo uma política de direita
favorável ao imperialismo norte-americano. A maior parte das revistas de escola
bíblica dominical são traduzidas de revistas americanas e até as traduções da
Bíblia efectuadas a partir do inglês são mais utilizadas do que as traduções a
partir das cópias dos originais em grego e hebraico!!!
Não encontrei no Brasil a tradução BPT da Sociedade Bíblica de Portugal,
directamente das cópias dos originais em colaboração com todas as denominações,
inclusive a Igreja Católica.
Enquanto muitos católicos já têm dúvidas sobre a
infalibilidade do seu dirigente máximo em Roma, grande parte dos evangélicos
brasileiros seguem o dirigente das suas igrejas que consideram “quase
infalível” com uma religiosidade alienante, e até sonham eleger um Presidente
evangélico. Não sou brasileiro, mas não posso ficar indiferente ao que se passa
no maior país de língua portuguesa e não gostaria que houvesse no Brasil a
mesma “transparência”, a mesma “liberdade de pensamento” e de expressão que
vejo na maior parte das igrejas que se apresentam como evangélicas.
Há muitos casos em que a religião e a língua estão
intimamente relacionadas. Costuma-se dar muita ênfase à conversão tipo de
“suicídio intelectual” de que resulta um “novo homem” passivo seguidor dos seus
dirigentes, como se Deus prescindisse da nossa capacidade intelectual, o maior
dom que nos concedeu. Em certas igrejas evangélicas, falar mau português, com
termos americanos à mistura, é sintoma de espiritualidade. Nesse aspecto, os
católicos portugueses ou brasileiros, pelo menos culturalmente, são mais portugueses
ou mais brasileiros que a maior parte dos evangélicos. Será que se pode falar
em colonização teológica dos evangélicos brasileiros?!
2)
Economia.
O
colonizador apropria-se por intermédio das classes dominantes, das principais
fontes de receita. O mais cobiçado nos nossos dias é o petróleo. Claro que as
classes dominantes recebem a sua percentagem pois, tal como na antiguidade,
surge sempre uma nova classe de nacionais ao serviço do colonizador que, muito
pouco ou nada tem em comum com os cidadãos que dizem servir. Claro que essa
classe tem o apoio do grande capital, beneficia de vencimentos superiores aos
dos trabalhadores, vencimentos que atribuem a eles mesmos, têm aposentação com
menos tempo de serviço e não podem ser responsabilizados pelas suas decisões.
3)
Órgãos de informação
Além
das principais fontes de receita, o colonizador também se apropria dos órgãos
de informação, assumindo assim o controle ou pelo menos grande influência na
opinião pública, embora nos nossos dias, com a rádio, TV e internet, que não
respeitam as fronteiras entre os vários países, seja cada vez mais difícil o
controlar a opinião pública desde que o povo tenha certo nível cultural que o
leve a questionar toda a informação que recebe.
Não só Portugal, mas a Comunidade Europeia duma
maneira geral, está a ser demasiado influenciada pela informação do outro lado
do Atlântico. Um dos exemplos é a influência das agências de crédito
norte-americanas que já têm prejudicado Portugal e outros países da Comunidade
Europeia.
Será que se podem levar a sério as informações que
os americanos dão do seu próprio país, atribuindo a nota máximo AAA sendo um país
com uma grande dívida externa e uma moeda que não tem cobertura em ouro?!
Penso que mais credível é a avaliação da agência
chinesa Dagong que atribui a Portugal a classificação
BBB, bem próxima da A que é
a classificação da Espanha, Brasil e da própria América.
4)
Governantes ao serviço do colonizador
Em
quase todos estes exemplos de métodos de colonização, surge uma classe social
ou profissional dos privilegiados ao serviço do colonizador.
No
tempo de Cristo eram os publicanos, judeus cobradores de impostos ao serviço do
Império Romano. Nos nossos dias também são uma realidade, embora não tenhamos
uma palava para os designar. Mas no português de Moçambique, o semanário
informático moçambicano Verdade, já inventou a
palavra “Xiconhoca” e todas as
semanas os seus leitores elegem o “Xiconhoca da semana” que geralmente é algum
dos seus políticos ou governantes como podem ver em alguns dos últimos Xicohocas. Certamente que
isso ainda é válido nos nossos dias. Os publicanos do tempo de Cristo tiveram
vários nomes através dos tempos, mas a situação é praticamente a mesma.
5)
Forças armadas
Em
qualquer país que perder a sua cultura em primeiro lugar e também a sua
independência financeira, já para nada servirão as suas forças armadas que
nessa altura já estarão certamente tão ultrapassadas, desprestigiadas,
humilhadas, desmotivadas que nunca poderão resolver um problema para que não
estão vocacionadas. Esse país já será mais uma colónia conquistada
pacificamente.
Será
que as colónias acabaram? Parece fácil responder que a colonização foi coisa do
passado. Certamente que no Oriente, as antigas colónias são agora os poderosos
países emergentes e alguns deles apresentam os maiores índices de crescimento
dos nossos dias. Mas também há muitos casos em que a independência se limitou à
substituição do colonizador por elementos autóctones que vivem sem a mínima
identificação com os povos que dizem servir.
Será
que o colonialismo acabou nos nossos dias, pelo facto de se terem esbatido as
fronteiras entre os vários países? Ou estaremos perante novas formas de
colonialismo que no fundo não é tão diferente do que tem acontecido desde há
milénios?
7.2 O
nosso caso em Portugal
Em
quase todos estes exemplos de métodos de colonização, surge uma classe social
ou profissional dos privilegiados ao serviço do colonizador.
Será
que podemos identificar essa classe nos nossos dias e no nosso país? A classe
dos profissionais que veio substituir os antigos aristocratas e/ou clérigos ao
serviço do colonizador que encontramos nesses exemplos do passado?
Examinando
o que se passa com os nossos funcionários públicos, bancários, banqueiros (d), magistrados, militares, políticos, governantes,
professores, gestores públicos etc. Podemos colocar as seguintes questões:
Quais
os que ainda mantêm os seus privilégios intocáveis?
Quais
os que têm vencimentos bem acima das outras profissões?
Quais
os que têm pensões de aposentação com muito menor tempo de trabalho?
Quais
os que não viram o seu número reduzido para diminui o seu peso nas finanças
públicas?
Quais
os mais desastrados nas suas decisões que em vez de serem punidos, ainda
recebem os seus prémios de produtividade?
Quais
as organizações que têm recebido escandalosas ajudas económicas?
Quais
as organizações que têm recebido ajuda financeira a juros mais baixos enquanto
outras, que não o conseguem, vão à falência?
Quais
os que têm todo o apoio do grande capital para os seus privilégios?
Esta
resposta compete a cada um de nós que constituímos o povo português.
Mas
o mesmo poderei dizer do povo moçambicano, ou angolano, brasileiro etc, nos seus respectivos países.
Camilo – Marinha Grande, Portugal
Fevereiro de
2013
(a) Não podemos deixar de relacionar estas passagens do
Velho Testamento, com a história dos EUA, em que uma grande percentagem dos
seus primeiros colonos era evangélica fundamentalista que considerava toda a
Bíblia como inspirada e normativa. Não se sabe ao certo, qual a população de
índios na América do Norte quando chegaram os primeiros colonos.
Segundo
o etnólogo americano Ward Churchill, havia mais de 25
milhões de índios Genocídio nos
Estados Unidos.
Outros estudiosos do assunto falam em 75 milhões Extermínio Dos
Nativos Norte-Americanos antes da chegada dos colonos norte-americanos.
Depois das chamadas guerras indígenas (1778 a 1890) os índios ficaram reduzidos
a 2 milhões, estimativa em que parece haver acordo entre os vários estudiosos
no assunto. Devemos estar perante o maior genocídio da História Universal, do
qual pouco se fala. Será que os primeiros colonos foram inspirados no exemplo
de Josué?!
(b) Chibalo era o meio-termo
entre o escravo e o homem livre. Oficialmente era o “voluntário” obrigado ou
pressionado para determinados trabalhos.
(c) Certamente que o mundo necessita duma numeração
internacional e duma escrita internacional. O problema da numeração
internacional, está praticamente resolvido com a
numeração ideográfica árabe que foi aceite, não só em toda a Europa que
praticamente abandonou a sua antiga numeração, a numeração romana, como o mesmo
aconteceu nas grandes culturas do Oriente como a Índia, China, Japão etc. que
também aceitaram a numeração árabe. Quanto à escrita internacional, aconselho a
leitura do meu artigo Escrita universal (CC)
(d) Considero bancário o trabalhador do banco e
banqueiro o seu patrão, dono do banco.
Literatura
consultada:
Várias traduções
da Bíblia
Diversa
legislação
Jerusalém no
tempo de Jesus – De Joaquim Jeremias, Edições Paulinas,
Todos os comentários,
para eventual publicação, deverão ser enviados para ---
Estudos bíblicos sem
fronteiras teológicas
Comentários recebidos
Carlos Aragão - Gestor moçambicano
- maluar@tvcabo.co.mz
Director
do Departamento de Documentação do Banco de Moçambique.
O Xiconhoca é uma espécie de “amigo da
onça” à moçambicana.
É uma
caricatura concebida pelo Departamento de Trabalho Ideológico da FRELIMO pelo
artista plástico João José Craveirinha – filho do falecido poeta
João Craveirinha – para denotar uma pessoa ou personalidade conotada com os
maus hábitos e a cultura do antigamente da Vida do Colonialismo, incluindo
vícios socialmente condenáveis – alcoólico, mulherengo, ladrão, pilha galinhas,
burocrata, politicamente reacionário ou de ideias retrógradas.
É o oposto
do Homem Novo que o Socialismo e a Revolução visavam construir.
Xiconhoca vem de Xico – um tipo de comportamento condenável, asqueroso, mais a
adição da palavra “nhoca”
que em muitas línguas de Moçambique significa cobra ou serpente.
Enfim,
alguém com espirito retrógrado e anti-progressista ou
contra-revolucionário.