João Batista (CC)

(Deverá “clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)

 

 

 

1) Introdução 

 

Vivemos numa época de grande crise para o cristianismo duma maneira geral. Época em que muitos se interrogam se fará sentido continuar a falar no amor de Jesus depois dos crimes cometidos por países que se apresentam como evangélicos e que teimam em querer dirigir o trabalho missionário a nível internacional.

Outros procuram uma orientação, um exemplo a seguir no trabalho missionário em geral e na implantação de novas igrejas, já que os velhos métodos de evangelismo parece que só funcionam com os mais ingénuos e se mostram incapazes de atingir a classe pensante do mundo dos nossos dias, cada vez mais esclarecida nesta “aldeia global” em que a informação aparece instantaneamente nos órgãos de informação, inclusive as imagens na TV.

Parece que alguma coisa está mal, mesmo muito mal, nas nossas igrejas.  

Tudo isso levou-me a pensar na seguinte questão: Qual o método mais bíblico e mais indicado para os nossos dias, para a divulgação do Evangelho inclusive para a abertura dum novo ponto de pregação, futura missão e futura igreja?

Esta simples pergunta, quase que nos obriga a mencionar o apóstolo Paulo e talvez com certa razão, pois ele foi um dos maiores exemplos dum verdadeiro missionário e possivelmente é o que melhor se adapta ao nosso contexto cultural.

Mas há um outro, grande pregador, que tem ficado um tanto esquecido nos nossos dias. Refiro-me a João Batista.

Procurando nas páginas da internet, verifico que há mais páginas católicas sobre o “Santo João Batista”, páginas ligadas às tradições populares, assim como páginas espíritas, do que páginas evangélicas sobre este personagem, que pelo facto de ser o elo de ligação entre o Antigo e o Novo Testamento, não sendo bem do Antigo nem bem do Novo Testamento, tem ficado um pouco esquecido.

Mas porque optei por João Batista e não por Paulo?

É que no caso de Paulo, havia já uma igreja pequena em número, mas forte e motivada, cheia do poder do Espírito Santo que apresentou a sua mensagem ao mundo pagão, enquanto que no caso de João Batista, o mal não estava no paganismo nem no ateísmo, o mal estava no próprio mundo religioso e nos seus dirigentes.

Todos sabemos que na época de João Batista, Israel estava dominada por Roma.

Isso levava-me a imaginar uma religião perseguida, as humilhações e sofrimentos dos sacerdotes, símbolo da resistência do povo, e o esforço para conservar viva a sua fé no meio de tanta perseguição, mas afinal... depois de aprofundar o assunto baseado em dados históricos dessa época, não posso deixar de ficar admirado, por ter encontrado uma realidade bem diferente da que esperava. Pois fiquei admirado e abalado por ter chegado à conclusão de que nesses dias, em que estava iminente a chegada do Messias....... havia uma grande semelhança  com a realidade dos nossos dias. 

É este o principal motivo que me leva a iniciar este artigo para tentar compartilhar com os leitores da minha página estes pensamentos sobre João Batista.

 

2) Quem foi João Batista?

 

João Batista nasceu cerca de cinco meses antes de Jesus o Cristo numa região montanhosa de Judá.

Tanto seu pai, o sacerdote Zacarias, como sua mãe Isabel, eram descendentes de Aarão. Sua mãe era prima de Maria, a mãe de Jesus.

O nascimento de João Batista foi um caso invulgar. Segundo nos conta Lucas 1:5/25, seus pais eram pessoas de vida irrepreensível mas ambos já eram pessoas idosas e Isabel era estéril.

Certo dia, quando Zacarias oferecia incenso no Templo, o anjo Gabriel apareceu para lhe dizer que sua mulher iria ter um filho que seria João, que este seria cheio do Espírito Santo desde o seu nascimento e teria a função de preparar o povo de Israel para a vinda do Messias.  

 

3) Contexto histórico e cultural da época de João Batista

 

A época de João Batista, é praticamente a mesma em que viveu Jesus o Cristo.

Israel já não era nação independente. Neste caso particular, a Judeia tornara-se numa província do Império Romano no ano 6, e Roma impunha as suas leis, embora fosse tolerante a ponto de manter em vigor a legislação dos vários países conquistados enquanto essa não colidisse com a Lei Romana.

Assim, o Sinédrio de Jerusalém, embora continuasse a funcionar como a mais alta representação política, jurídica e religiosa, aspectos que nem sempre é fácil de se dissociar nessa cultura, já não tinha a última palavra no aspecto jurídico.

Este facto pode ser apresentado sob dois aspectos bem diferentes: Uns podem dizer que deixou de haver liberdade de religião, pois os sacerdotes deixaram de poder cumprir livremente todas as prescrições da Lei de Moisés. Mas, para o vulgar israelita, que era israelita por ter nascido em Israel, por ter sido circuncidado em tenra idade, que estava pressionado por centenas de leis e regulamentos, que inclusive não podia escolher outra religião nem dar mais de uns tantos passos em dia de sábado sem que fosse condenado à morte de acordo com a Velha Lei, talvez a Lei Romana, que tirou ao Sinédrio o direito de aplicar a pena de morte, lhe trouxesse nessa altura, alguma liberdade, inclusive para escolher qualquer outra das religiões que apareceram em Israel devido à liberdade de religião do Império Romano, religiões que, de acordo com a Velha Lei deveriam ser exterminadas de Israel assim como todos os seus praticantes.

Segundo Levítico 24:16 os casos de blasfémia eram punidos com a pena de morte, mas não se encontra uma definição de blasfémia, assunto que ficava um tanto ao critério dos membros do Sinédrio.

O Império Romano, sempre que possível, tentava pacificar os territórios conquistados, mantendo os privilégios da classe dominante. Esse foi também o caso de Israel na época em que João Batista inicia a sua pregação.

 

Segundo nos conta o historiador Joaquim Jeremias, nessa época de dominação romana, época de João Batista e do próprio Jesus Cristo, embora a Judeia, e todo o território de Israel, estivesse dominado por Roma, os soberanos da dinastia herodiana, judeus de influência romana, viviam com um luxo indescritível. Tinham grandes palácios com arquitectura romana, mas mantiveram a sua fidelidade a algumas antigas tradições do oriente, nomeadamente a poligamia, pois tinham haréns que aliás eram permitidos pela Velha Lei e pela tradição, pois a Mishna permitia o máximo de dezoito mulheres e o Talmude, vinte e quatro a quarenta e oito. Herodes o Grande (37 a 4 A.C.) só teve dez mulheres, mas os seus descendentes, nesse aspecto foram maiores do que ele.

Herodes Antipas, rei da Judeia, era filho de Herodes o Grande, portanto da aristocracia de Israel, mas o pormenor mais importante é que tinha sido educado em Roma que além da Judeia lhe concedeu as tetrarquias da Galileia e da Pereia onde fundou a sua capital em Tiberíades. Embora israelita, mas com mistura de sangue, era um rei fiel a Roma que tinha sido tão generosa para ele. Mas o mais estranho é que, segundo alguns historiadores, sendo Herodes Antipas um rei israelita, a sua guarda pessoal era constituída por tropas trácias e germânicas, a que vieram juntar-se cerca de quatrocentos guardas gauleses da guarda pessoal de Cleópatra, depois desta se suicidar, pois o Rei da Judeia temia mais os seus súbditos do que os estrangeiros.

Mas ao falar em vida faustosa, não nos podemos limitar à aristocracia herodiana.

Os altos sacerdotes viviam em palácios na zona alta de Jerusalém, como aliás se vê nas passagens dos evangelhos que falam no julgamento de Cristo.

Segundo Marcos 14:53/55 E levaram Jesus ao sumo-sacerdote, e ajuntaram-se todos os principais dos sacerdotes, e os anciãos e os escribas. E Pedro o seguiu de longe, até dentro do pátio do sumo-sacerdote, e estava assentado com os servidores, aquecendo-se ao lume. E os principais dos sacerdotes, e todo o Concílio ....... Sabe-se que esse Concílio, ou Sinédrio, como era conhecido, era constituído por muitas dezenas de pessoas, e se juntarmos os seus funcionários (escribas) podemos imaginar certamente mais de cem pessoas que couberam perfeitamente numa das salas da residência do Caifás que tinha um pátio interior certamente bem espaçoso, pois deu para acenderem uma fogueira para se aquecerem.

Segundo podemos ver em João 18:17, até havia uma porteira em casa do sumo-sacerdote, o que nos dá uma ideia do grande número de pessoas a entrar e sair e das dimensões do edifício.

Mas não podemos ignorar que havia um grande desnível entre os principais sacerdotes e os vulgares sacerdotes. Flávio Josefo conta o escândalo ocorrido no ano 66 em que alguns chefes dos sacerdotes enviaram os seus escravos às eiras para roubar os dízimos reservados ao sustento dos sacerdotes comuns chegando alguns destes a morrer de fome.    

 

O Templo de Jerusalém fora reconstruído com uma grandeza e dimensões superiores ao antigo Templo de Salomão e estava a funcionar em pleno, embora a sua actuação estivesse limitada pela Lei Romana, como já referimos. O Templo perdera o “monopólio da religião”, mas continuava a ser o mais importante centro religioso em Israel e toda a vida económica da cidade estava relacionada com o seu Templo, onde continuavam a oferecer os sacrifícios pelos pecados do povo, com todo o rigor da Velha Lei. Nenhuma outra religião atraía tantas multidões como o Templo de Jerusalém com a sua imponente liturgia, os mais famosos músicos e os melhores cantores que se tinham aperfeiçoado desde os tempos do Rei David. Também sob o aspecto político e teológico, o Templo era um elemento de união entre as várias seitas veterotestamentárias, em que os israelitas estavam divididos, devido às convicções religiosas, políticas ou profissionais, como os fariseus, saduceus, essénios, zelotes, galileus, herodiamos, publicanos, escribas etc. num contexto cultural em que não era fácil dissociar a religião da política ou dos interesses profissionais. 

Além do Templo, havia as várias sinagogas em Jerusalém, assim como em todo o território do grande Império Romano, que competiam entre si pelo rigor dos seus cultos, pela sua música e pela santidade dos seus membros, embora com um conceito veterotestamentário de santidade, mais ligado à ideia de santidade litúrgica ou santidade higiénica e à santidade da sua genealogia.. (Ver nosso artigo “Santidade ao Senhor”) Algumas das principais famílias de sacerdotes de Jerusalém, tinham até uma passagem superior ligando suas habitações ao Templo a fim de não se contaminarem em contacto com o povo pecador e impuro e sabiam de cor os nomes dos seus antepassados até dezenas de gerações o que comprovava a sua santidade.

Roma decidira manter os privilégios dos levitas e sacerdotes, nomeadamente na cobrança do dízimo, desde que tal não interferisse nos impostos arrecadados pelos publicanos ao seu serviço. Claro que o povo, sujeito a essa dupla tributação não tinha possibilidades de reagir nem tinha o apoio do seu rei nem das suas autoridades religiosas.

Era esta a situação religiosa na época de João Batista. Aparentemente, tudo estava perfeito, os rituais cumpriam-se com todo o rigor, e os sacerdotes eram nomeados de acordo com a Velha Lei. Eles tinham toda a autoridade para falar ao povo... mas tinham perdido para sempre a sua credibilidade. Os dirigentes religiosos estavam completamente controlados e cegos pelos seus interesses económicos e não estavam nada interessados em mudanças, muito menos na vinda do Messias que poderia alterar a cómoda posição de que beneficiavam, com uma vida fácil e a paz com os romanos.

 

4) Métodos de pregação de João Batista 

 

Metanoeite, êggiken gar ê basileia tôn uranôn  ou seja “Mudem de mente (ou de ideias, ou de comportamento) porque chegou o Reino dos céus”, ou numa tradução mais livre, “Arrependam-se, porque já chegou o Reino de Deus”. Foi este o incómodo e inoportuno grito de João Batista. Uma das frases mais importantes de toda a Bíblia... talvez tão incómoda como seria a notícia nos nossos dias “Jesus já chegou para julgar o mundo... O tempo terminou... Já não há mais oportunidade para o arrependimento”.

Mas, num ambiente destes, que poderia fazer um homem sozinho, sem ter o apoio duma importante e prestigiada organização com um imponente edifício religioso bem colocado em Jerusalém, que desse certa credibilidade à sua mensagem e sem um bom grupo coral (grupo de louvor) que atraísse as atenções do povo?

Mas o Senhor, Deus supremo, escolheu precisamente João Batista, para que não houvesse dúvidas de que este actuava de acordo com o Seu poder, e não com as técnicas de comunicação. João faz precisamente o contrário do que faziam os religiosos do seu tempo. Era o poder do Senhor em oposição à tradição, e às técnicas de comunicação.

 

4.1 - Local de pregação.

 

Lucas 3:2/3 - Sendo Anás e Caifás sumo-sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias. E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento, para o perdão dos pecados. 

Embora não conste que houvesse alguma via romana nas proximidades do rio Jordão que era a fronteira natural entre a Judeia e a Pereia, era ao longo deste rio que se fazia grande parte do trânsito de viajantes entre Jerusalém e o norte do país. Nas línguas originais, quer o hebraico quer o grego, a palavra “deserto” significava uma região não edificada nem cultivada, mas que podia ter algumas zonas completamente estéreis e outras com alguma vegetação, útil como terreno de pastagem. Lucas refere-se ao “deserto da Judeia” e João 3:23 refere-se a um local chamado Enom, que significa muitas águas, passagens que não estão em contradição, pois a topografia do local, leva-nos a identificar uma região muito acidentada, com extensões de terrenos áridos e secos, e o tal local Enom num ponto baixo com grande quantidade de fontes, as muitas águas. Certamente águas de nascente, de melhor qualidade para beber do que as águas do Jordão para onde escorriam. Um local desses, numa zona desértica, era um importante ponto de passagem de peregrinos que certamente paravam por momentos para descansar, beber e dar de beber aos seus animais. Mas, pelo menos inicialmente, os ouvintes de João Batista não eram os entendidos em religião, mas os vulgares viajantes, numa época em que na sua maior parte seriam comerciantes ou peregrinos a caminho ou de regresso de Jerusalém.  

 

4.2 - Edifício

 

Em Jerusalém o Templo ocupava o lugar central e as várias sinagogas rivalizavam entre si na busca dos melhores locais. 

João Batista não se preocupou em competir com eles. Como vimos, foi para uma região “deserta” nas margens do Jordão. Não nos consta que tivesse construído algum edifício para o seu culto.

 

4.3 - Corais, Grupos de louvor.

 

Segundo testemunho de vários irmãos que nos têm escrito, um bom “grupo de louvor” é um dos melhores atractivos das igrejas dos nossos dias e o seu crescimento está quase sempre na base dos chamados “grupos de louvor”.

Isto não é novidade. Já tal acontecia na época de João Batista. Também na idade média, a música era muito utilizada nas igrejas e nos conventos. Mas parece que ter boa música nem sempre é sinal de espiritualidade, pois por vezes, quanto mais afastada está a igreja da mensagem de Jesus, melhor é a música e mais impecável a sua liturgia. Parece que se tenta colmatar por meios humanos o que nos falta do Poder do Senhor.

Não nos consta que houvesse música nas pregações de João Batista.

 

4.4 - Contribuições

 

Um dos aspectos mais polémicos dos nossos dias é o aspecto financeiro, as colectas levantadas para a manutenção dos cultos, pois é necessário pagar o edifício e o sustento dos pastores.

João Batista não tinha esses problemas pois ele não tinha nenhum edifício para o seu culto, nem pedia contribuições para o seu sustento. Segundo Mateus 3:4 E esse João tinha o seu vestido de pêlos de camelo e um cinto de couro em torno dos seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre. 

Mas encontramos em Lucas 3:11 a resposta de João Batista à multidão que lhe perguntava: Que faremos? ... Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos faça da mesma maneira. João Batista não pedia ofertas para o culto, nem para o seu sustento, mas pedia solidariedade entre os que o seguiam. Essa ajuda ao próximo era perfeitamente espontânea. Não havia contabilidade nem tesoureiros, nem fiscalização dos donativos.

 

4.5 - Curas e milagres

 

As curas e milagres, são outro grande atractivo dos nossos dias. As maiores igrejas evangélicas são as que anunciam grandes milagres. Também no catolicismo noto esse fenómeno. Basta comparar as multidões que se juntam nos locais que prometem milagres, com a assistência aos grupos que se juntam para estudar a mensagem de Jesus, ambos da mesma Igreja Católica.

Não há registo de milagres ou curas efectuadas por João Batista. O milagre que ele fazia era a transformação da mentalidade dos seus ouvintes.

 

4.6 - Técnicas de comunicação

 

Penso que João Batista nada percebia de técnicas de comunicação, que aconselham a apresentar um ar simpático, agradável, a evitar atritos com os seus ouvintes, a nunca os criticar, mas elogiar as suas capacidades e comportamentos, a ter uma certa prudência para não os incomodar nem ofender ninguém.

João Batista falava sem rodeios e por vezes era rude e directo ao comunicar com os seus ouvintes. Sendo um homem isolado, sem nenhuma guarda pessoal nem guarda-costas, ousou dirigir-se aos ...fariseus e saduceus, que vinham ao seu batismo, dizendo-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Mateus 3:7

Ele nunca se preocupou com o número dos seus discípulos, mas somente que fossem verdadeiros discípulos.

 

4.7 - Homilética

 

Também não me parece que João Batista se preocupasse com as regras da homilética nas suas pregações. É verdade que estamos noutra cultura bem diferente, mas segundo dizem os entendidos no grego, que não é o meu caso, ele não usa a linguagem elaborada dos intelectuais do seu tempo.

 

4.8 - Conceito de santidade

 

Segundo a mentalidade veterotestamentária, como já dissemos, o conceito de santidade era bem diferente do que temos desde que João Batista inicia a sua pregação, que foi homologada pela mensagem do Mestre.

No Velho Testamento temos uma santidade que significava pertencer ao povo santo ou separado, e ser perfeito sob o aspecto físico, quanto à saúde, à higiene e ao sexo. A discriminação sexual começava logo que um bebé nascia, pois segundo Levítico 12:2/5, ao nascer um menino, mãe ficava impura durante uma semana e proibida de entrar no Templo durante 33 dias, mas se nascesse uma menina, essa proibição passava para duas semanas e para 66 dias respectivamente. Em 1871 um arqueólogo descobriu a pedra com a inscrição que proibia a entrada de estrangeiros no Templo, que seriam condenados com a pena de morte em caso de desobediência. Também de acordo com Levítico 21:16/23, o Deus de Israel só aceitava uma oferta através dum sacerdote que fosse fisicamente perfeito, pois um sacerdote cego, ou coxo, ou de nariz chato ou com membros muito compridos (vr.18), ou com o pé ou a mão defeituosa (vr.19), ou corcunda ou anão ou com doenças de pele ou testículos defeituosos (vr.20), desde que tivesse algum defeito físico, não poderia oferecer uma oferta queimada ao seu Deus.

Na “Basileia” o novo Reino de Deus que João Batista anunciava, os critérios eram outros. Ele chamou de “raça de víboras” aos “santos” e “perfeitos” segundo o critério veterotestamentário, mas não discriminou nenhum dos que o procuravam com sinceridade, pois segundo Mateus 3:6 eram batizados no Jordão confessando os seus pecados. A ele se juntaram muitos dos que eram rejeitados pelo Templo de Jerusalém. Segundo Lucas 3:12/14 João Batista recebia publicanos, considerados como traidores a Israel e até soldados, não sendo possível dizer se seriam soldados romanos ou soldados judeus destacados para protecção dos publicanos que os acompanharam, mas em qualquer das hipóteses eram o oposto aos santos das sinagogas e do Templo de Jerusalém.

 

5) Conclusão

 

Jesus prometeu que voltaria, mas na sua segunda vinda já não será para salvar, mas sim para julgar o mundo e não podemos estar indiferentes aos últimos acontecimentos internacionais, a um mundo que cada vez se assemelha mais ao mundo que precedeu a vinda de Cristo, com a hipocrisia de certas igrejas, a deturpação da mensagem de paz e amor que Jesus nos deixou, o materialismo dos vários países em que mais importante que a justiça são os seus interesses económicos, pois qualquer dirigente político que fale em justiça internacional pouca aceitação terá, o que interessa aos governos são os seus interesses económicos.

Entretanto, a maior parte das igrejas ditas “evangélicas” continua com o seu habitual folclore religioso, tal como o Templo de Jerusalém nos dias de João Batista. Continuam indiferentes ao que se passa no nosso mundo, como se não tivessem uma função a cumprir. As igrejas tornaram-se mais um lugar de “santos” isolados do nosso mundo, do que lugar de pecadores arrependidos e transformados, com uma mensagem para os nossos dias.

Segundo Mateus 3:6, os discípulos de João Batista eram batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados, enquanto os sacerdotes e fariseus se apresentavam no Templo apregoando a sua santidade. Já tenho recebido mensagens de crentes que me dizem: “Sou um diácono ou um presbítero, e não me deixam sentar nas cadeiras na parte da frente, perto do púlpito...” Mas afinal, qual o ideal das nossas igrejas? É o Templo de Jerusalém onde exibiam a sua santidade, ou o grupo de pecadores de João Batista?

Lembro-me de que já há alguns anos, quando trabalhava no Município da Marinha Grande, um dos nossos carros que foi buscar material de construção a Lisboa, avariou-se na viagem de regresso, na vila de Alcoentre, mesmo em frente da grande prisão-escola, onde os presos são recuperados e aprendem uma profissão.

Como nessa pequena vila não havia oficina de reparação de automóveis, a não ser nas escolas profissionais dentro da prisão, foram pedir ajuda a essa instituição onde foram muito bem recebidos. Mas o que mais surpreendeu os nossos funcionários foi serem convidados para jantar, numa sala onde estavam os presos.

A comida, tanto os vegetais como a carne, eram produtos dos grandes terrenos da prisão onde os detidos se preparavam para a vida agrícola, e até o vinho era feito na adega da prisão. Alguns dos detidos, eram pessoas de idade, que já lá estavam há vários anos. Houve um que disse. “Eu já estou habituado a viver aqui. Lá fora, todos nos chateiam quando descobrem que estivemos presos.” Outro até acrescentou: “Se me mandarem embora, já sei o que vou fazer. Roubo alguma coisa e peço ao Juiz para voltar para a mesma prisão.”   

Será possível transformar as nossas igrejas em alguma coisa parecida com isto? Em vez de serem lugares “chatos” no género de museus de santidade, com os seus santos embalsamados, como o velho Templo de Jerusalém? Será possível transformar as nossas igrejas em lugares onde os pecadores e os marginalizados possam sentir que são amados e bem recebidos?!!!

 

O Evangelho já não é tão pregado nos nossos dias como parece, pois pregar o Evangelho não é só por palavras. Isso seria muito fácil com os meios de que dispomos. Com a rádio, a TV e a internet seria possível divulgar as palavras, as principais afirmações teológicas, por todo o mundo ao mesmo tempo. Alguns famosos evangelistas americanos, já o têm feito, convencidos de que estão a pregar o verdadeiro Evangelho de Jesus, só por estarem teologicamente correctos. Talvez tão correctos como estavam os fariseus e saduceus que foram ao batismo de João.

Evangelismo bíblico, como João Batista ensinou, e Jesus confirmou, implica partilha de bens materiais. Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos faça da mesma maneira. Lucas 3:11 Os países ricos, geralmente estão dispostos a enviar os seus “missionários”, muitas vezes sem a necessária preparação secular nem teológica, mas não estão abertos à genuína evangelização que implica partilha de conhecimentos através de verdadeiros Missionários devidamente preparados, e muitas vezes partilha do que roubam aos países mais pobres.

Talvez tenhamos de voltar ao início e começar com a evangelização dos “evangélicos” do nosso mundo onde os ricos são cada vez mais ricos e se consideram como cristãos evangélicos. Mas será que ainda há tempo antes de Cristo voltar?!!

Penso que não está prevista a vinda de nenhum profeta antes da segunda vinda de Cristo. Até pelo contrário, essa vinda será repentina e quando menos esperarmos.

Mas pode ser que o Senhor tenha piedade de nós e nos levante algum pregador no género de João Batista, liberto do controle eclesiástico, pois afinal, isso não depende da vontade humana, nem do apoio das igrejas, nem das decisões das juntas missionárias, nem de grandes verbas para majestosos edifícios ou divulgação nas emissoras de rádio e TV. Tudo isso pode ajudar, mas não basta, pois tem fracassado assim como fracassou o Templo de Jerusalém.

Mas então, o que é necessário? Qual o segredo de João Batista?

Pensamos que em primeiro lugar, João Batista confiou no Senhor, não procurou apoio de nenhuma organização do seu tempo e disse o que afinal já todos sabiam, mas ninguém tivera a coragem de denunciar. Antes de falar aos gentios, ele começou por tentar “arrumar a sua casa” a Casa de Israel.

Talvez estejamos perto da segunda vinda de Jesus o Cristo, e o mais grave é que desta vez não haverá nenhum profeta para a anunciar, e ele virá para julgar o mundo em que vivemos. Mas quando será essa segunda vinda? Já me têm feito essa pergunta.

Tenho procurado ser realista e não vou mostrar a minha fraca “espiritualidade” dizendo que está para muito breve.

Penso que não será durante a minha vida, e talvez seja este o pensamento de muitos dos nossos irmãos.

Mas quero terminar com Mateus 24:44 ...porque o Filho do homem há-de vir à hora em que não penseis.

 

Camilo - Marinha Grande - Portugal

Maio de 2003

 

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