Telenovela “Caminho das índias” e a realidade (CC)
(Deverá
“clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)
Introdução
Embora
esteja em Portugal, como a internet tem acesso a todo o mundo, e devido à minha
página a “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas”, tenho contactos com
pessoas um pouco por todo o mundo lusófono e também noutros países onde haja
falantes da nossa língua.
Um
dos países onde tenho mais contactos é certamente o Brasil e não me passou
despercebido, nos últimos tempos, um súbito interesse pela Índia. Nessa altura,
já suspeitava que fosse consequência duma telenovela da TV da Rede Globo, a que
não tinha acesso na rede de canais de TV em Portugal, mas posteriormente já
deram alguns capítulos dessa telenovela, também em Portugal.
No
entanto, chegaram à minha caixa do correio electrónico, certas mensagens que
possivelmente serão uma reacção a esse súbito interesse pela Índia, não sei se
devido a motivos religiosos do fanatismo evangélico que reage com agressividade
a todas as referência a outras religiões, neste caso, ao hinduísmo que é a
religião maioritária na Índia, ou se será reacção por motivos económicos,
devido ao receio de perderem turistas em favor do turismo indiano. Só quem está
no Brasil e tem seguido essa telenovela, e as reacções do povo brasileiro, é
que melhor do que eu, poderá avaliar as causas das mensagens que adiante irei
referir neste artigo.
Até
aqui, tudo bem... ou pelo menos seria tudo tolerável. Embora sendo atitudes lamentáveis,
seriam compreensíveis até certo ponto. Mas aqui está o problema que me levou a
abordar o assunto. É que algumas dessas referências à Índia, que pretendem
“esclarecer” o povo brasileiro, ultrapassam o aceitável, são injustas, falsas
ou insultuosas e o público brasileiro poderá ser enganado por essas informações
que circulam pela internet.
Conheço
alguma coisa da parte ocidental da Índia, pois já lá fui várias vezes,
inclusive no ano passado e presentemente acabo de regressar da minha oitava
viagem à Índia, mais propriamente ao Estado de Goa, onde tenho familiares e
amigos, pois meu pai era indiano e eu sou português de origem indiana da parte
de meu pai e de origem chinesa da parte da minha mãe, ambos já falecidos. A
Índia concedeu-me o “cartão PIO” que significa “Person
of indian origen” o que me dá possibilidade de lá entrar sem visto no
passaporte, e por lá ficar o tempo que entender, arranjar emprego e todos os
direitos de qualquer cidadão indiano, excepto o de votar ou exercer cargos
políticos. Portanto, não posso ficar indiferente a certas falsas acusações que
são apresentadas ao povo brasileiro e até chegam à minha caixa do correio aqui
em Portugal.
Vejamos algumas dessas “informações”:
1)
Opinião dum Pastor fundador da Jocum no Brasil, publicada
na página da internet Uniaonet, que a recebeu e
divulgou esta mensagem, que é da responsabilidade de quem a enviou.
Olá amigos,
Recebi este e-mail de um amigo. Muito
interessante! Leia.
A Rede Globo, no seu papel da
desinformação, tem tentado inculcar no povo os seus conceitos políticos, éticos
e religiosos.
A novela das oito, confesso que nunca ví um só capítulo, mas só pelos comerciais dá prá perceber
em qual direção a "Aldeia Global" quer levar o povo brasileiro e para
onde quer que ela vá exportar essa sujeira.
Na tal novela o país asiático da India é
pintado como um paraíso e atores como Lima Duarte e Juliana Paes
mergulham alegremente nas águas do Rio Ganges. As imagens que seguem mostra
claramente o que é, em realidade, a vida de um povo que vive numa miséria
espiritual inacreditável. Uma sandice onde crianças já nascem para a
prostituição, pois nasceram na casta das prostitutas. É esse tipo de conceito
que deve estar entrando na casa de milhares de brasileiros que não conseguem
ver outro tipo de diversão do que assistir a mais esse lixo que a Globo
apresenta aos seus telespectadores.
Espero que isto traga algumas reflexões a
nós. Temos que dar o melhor de nós no afã de testemunhar a nossos amigos,
vizinhos, colegas de trabalho e escola que conhecemos um Deus de amor e que Ele
não exige de nós sacrifícios irracionais como aquele vivido pelo povo Indiano e
que hoje entra mascarado na casa de tantos brasileiros. Ainda, que nós como sal
e luz (Isaias 49) temos que tentar fazer a diferença
entre povos como a India, abençoando missionários que se dispuseram estar entre
eles, orando por abertura de olhos e salvação para este povo e ainda
contribuindo com a obra missionária naquele país.
Deus os abençoe e como o anjo disse a Paulo
"Vai fala e não te cales" Atos 18:9
Pr. Davi Galúcio
Fundador de JOCUM-AP
3251 6508, 8124 3420
2)
Recebi também dum amigo daqui de Portugal a seguinte mensagem, que foi ter à
sua caixa de correio electrónico, e ele enviou-me por saber das minhas ligações
à Índia, pedindo a minha opinião. Essa mensagem, foi-lhe enviada por outro que
também a recebeu… etc. Já não é possível saber qual a sua origem, mas pelo
estilo literário e pelas referências à Rede Globo e à novela “Caminho das
Índias”, supomos que veio do Brasil.
ANTES QUE A "GLOBO" TE CONVENÇA A
VISITAR A ÍNDIA, VEJA O ANEXO....
O Caminho das Indias
passa por aqui também...
Imaginem a Juliana Paes,
Vera Fischer ou o Toni Ramos passeando na sujeira do
Rio Ganges, pulando entre um cadáver podrão ou outro,
ou se lavando nas escadarias.
Depois, ao voltar para casa, espantariam
até os urubus que estiveram comendo uma carcaça de vaca em decomposição e
insistiriam em pousar naquelas roupas lindas se não fosse o mau cheiro deles.
Prestem bem atenção: não há sequer uma
pessoa com aparência saudável, de gente que come RAZOAVELMENTE BEM, são
moradores da miséria, ainda descendentes da exploração britânica.
A Índia só tem disso! É um país podre, os
lugares visitados por turistas são proibidos para a maior parte da população,
existem vaporizadores para perfumar o ambiente.
Não se iluda com as belezas apresentadas na
novela. A realidade é outra. Acredite se puder!
ADVERTÊNCIA: Contém fotos com conteúdo que
pode chocar, mas é a realidade.
A Globo, certamente, não mostrará este tipo
de imagens. Mas são reais!
Existem 20 mil multimilionários, 200 mil
milionários e mais de milhão abaixo da linha da miséria.
As
imagens são de cadáveres em putrefacção boiando nas águas do Rio Ganges, em
frente duma cidade que não conheço, mas alguns amigos identificaram como sendo Benares, a actual Varanassi.
Varanasi ou Benares
Trata-se
da cidade santa do hinduísmo. Estabelecendo uma comparação com outras
religiões, posso dizer é que como Jerusalém para os judeus, ou Roma para os
católicos, ou Meca para os islâmicos.
Fica
na parte oriental da Índia, onde nunca fui, nas margens do rio Ganges, que
nasce nos Himalaias e é o principal dos sete rios considerados sagrados pelo
hinduísmo. Todo o crente no hinduísmo é incentivado a fazer pelo menos uma
viagem a Varanasi durante a sua vida.
O que é uma telenovela
Devo
lembrar em primeiro lugar, que uma telenovela não é uma reportagem sobre a
Índia, onde se espera rigor e imparcialidade, pois uma telenovela é um romance,
onde o seu autor tem liberdade de imaginar as cenas que apresenta, geralmente
baseado em parte na realidade, mas sem a preocupação com o rigor duma
reportagem.
Admito
que esta telenovela, a avaliar pelos poucos capítulos que já vi, apresenta uma imagem
pouco realista e demasiado optimista da Índia, mas por outro lado, certas
reacções que recebo, principalmente de pastores evangélicos fundamentalistas
fanáticos, essas reacções sei que não contêm informações verdadeiras, e
gostaria de as comentar com os conhecimentos que tenho da Índia e das opiniões
que recebi dos meus conhecidos nesse país, que conhecem a Índia muito melhor do
que eu.
Aliás,
custa-me a aceitar esta polémica sobre uma telenovela que apresenta uma imagem
optimista da Índia, que não corresponde á vida real, se o mesmo acontece com a
maior parte das outras telenovelas que apresentam uma imagem do Brasil que
infelizmente nada tem a ver com a vida real. Lembro-me duma senhora que nunca
saiu de Portugal, me dizer: Gosto muito do Brasil… é muito bonito… deve ser
muito bom viver no Brasil… eu sei…. tenho visto nas
telenovelas.
Cremação na religião hindu
O
Hinduísmo tem por tradição a cremação dos seus mortos.
Segundo
me informaram na própria Índia, geralmente os hindus mais ricos, utilizam uma
grande pira funerária que pode ter mais de 200 quilos de madeira, enquanto os
mais pobres utilizam o crematório eléctrico, idêntico aos que se utilizam no
Ocidente. Em Portugal, só os cemitérios das principais cidades têm crematórios
para quem os quiser utilizar. É possível que o mesmo aconteça por todo o
Brasil.
Segundo
me informaram, a teologia hindu considera 4 tipos de pessoas que não são
cremadas, pelas seguintes razões:
1)
Os sadús (homens santos) não são cremados por já
serem considerados puros, santos e não necessitarem de “queimar as suas
impurezas na fogueira”.
2)
As crianças até aos 12 anos, pela mesma razão dos sadús,
pois ainda não têm consciência dos seus pecados e são consideradas inocentes.
3)
Os leprosos também não são cremados para evitar a propagação dos micróbios da
doença. (É o que afirma a teologia hindu).
4)
As mulheres grávidas, também não são cremadas por trazerem no seu ventre um ser
inocente que nunca viu impureza nem cometeu nenhum pecado.
Nestes
casos, os corpos são enrolados em panos coloridos de acordo com a casta, estado
civil e nível espiritual e são lançados no Rio Ganges.
Pessoalmente,
penso que sob o ponto de vista estritamente técnico, a cremação é preferível ao
enterro por motivos de saúde pública. Mas discordo do que dizem no caso dos
leprosos, pois os tais micróbios seriam mais facilmente destruídos se os corpos
fossem cremados, sem possibilidade de contaminação de outros seres humanos.
Não
consegui investigar ao certo qual a actual situação deste problema, pois
deram-me as mais diversas informações. Uma coisa é o que diz a teologia hindu e
outra o que a legislação permite. Mas o Ganges é o único rio onde os cadáveres
eram, ou são lançados. Fui informado por alguns de que as autoridades
(possivelmente autoridades sanitárias) definiram os locais onde os mortos podem
ser lançados, bem longe das margens. Outros falam na proibição de lançar
cadáveres ao rio, e parece haver grande dificuldade no cumprimento dessa
decisão, que é muito polémica e divide os políticos que têm de tomar uma
decisão que certamente lhes vai tirar muitos votos da maioria da população que
é hindu. Outros citam o caso dos que não têm dinheiro para comprar lenha para a
cremação e se limitam a deitar os cadáveres ao rio. Outros ainda falam-me numa
proibição que não é possível cumprir perante milhões de hindus que defendem tal
tradição. Mas também me contaram casos em que, certas condições dos ventos e
ondulação, podem desviar os cadáveres para outros locais mais próximos da
margem, onde alguns peregrinos vão banhar-se e muitos populares vão lavar
roupa. Penso que os cadáveres acabam por ser devorados pelos peixes e aves
carnívoras, mas suponho que sejam uma minoria, pois o caso geral é a cremação.
Num
contexto de teologia, o fogo sempre teve uma função de purificação. Desde há
milénios que servia para extrair e purificar os metais, para purificar os
alimentos, e penso que na teologia hindu é símbolo da purificação dos pecados
do falecido. É também este pensamento que vemos na Bíblia, em 1ª Coríntios
3:11/16. Também a doutrina católica sobre o Purgatório apresenta o fogo
como elemento de purificação dos pecados.
Sendo
o hinduísmo, uma das mais antigas religiões, ou como eles afirmam, a religião
mais antiga, será que isso influenciou estas referências que encontramos no
cristianismo?
Párias ou “dalites”
Prefiro
empregar a palavra pária, pois a palavra “dalit” não existe em bom português.
Trata-se
do mais baixo nível social, segundo a teologia hindu, pois o pária era
considerado intocável o que significa que quem tocasse nele ficava impuro. Isso
tinha sérias implicações nos lugares públicos, restaurantes hotéis etc, que
seriam abandonados pelos seus clientes se recebessem algum pária.
Essa
divisão das castas, não faz parte da legislação indiana. Podem ver o que diz o artigo 15º. da Constituição Indiana.
No
entanto, embora a discriminação das castas seja ilegal e punível pela
legislação, é tradição milenar que não desaparece facilmente duma geração para
a seguinte.
A
Índia é uma democracia secular onde há liberdade de religião e não pode
interferir no que se passa nas várias religiões. Como vimos, a Constituição
Indiana também não permite a discriminação sexual, mas o Governo Indiano não
intervém se, por exemplo, nalguma igreja evangélica houver discriminação sexual
que impeça a mulher de ser pastora ou no catolicismo se não puder ser padre ou
cardeal ou papa, ou se numa mesquita islâmica a mulher não tiver os mesmos
direitos dos homens, atitudes que também contrariam a Constituição indiana.
Certo
dia, em Pangim, de manhã cedo, esperava de abrissem as portas da delegação duma
companhia aérea, juntamente com muitas outras pessoas. Quando finalmente eles
abrem as portas, mesmo nessa altura, aparecem uns…. talvez
fossem párias, mas estavam tão sujos, cheiravam tão mal, que todos se afastaram
e eles tiveram “prioridade de passagem” e foram os primeiros a ser atendidos.
Eu
também me afastei e não reclamei. Será que também fiz discriminação de casta?!
Casamentos combinados pelos pais
Um
dos assuntos que a telenovela “Caminho das Índias” explora com interesse, são os
casamentos. Nisso é semelhante à maioria dos filmes indianos. Penso que a
telenovela concede à autoridade dos pais no assunto, uma ênfase que não
corresponde à realidade dos nossos dias, pois os jovens conhecem bem a
legislação em vigor e podem rejeitar o que os pais combinarem.
Tenho
familiares e amigos na Índia, e não me lembro de casos em que os jovens sejam
obrigados a casar contra a sua vontade. Mas lembro-me, pelo menos dum caso em
que um jovem, com vida estabilizada e um curso superior, pediu à sua mãe para
lhe escolher uma esposa.
Duma
maneira geral, a família indiana é muito mais unida do que os ocidentais. Isso
até tem influência na arquitectura, pois vi casos em que irmãos se juntam para
construir uma grande vivenda com espaço para todos, dos avós aos netos, não
esquecendo os sogros e sogras.
Um pouco da história das relações entre cristianismo e hinduísmo
Pouco
se sabe dos primeiros contactos entre cristãos e hindus, mas sabe-se que há
muitos anos, em data que não é possível determinar com precisão, houve um
homem, chamado Tomé que foi evangelizar o continente indiano. Também diz a
tradição ocidental cristã que o Apóstolo Tomé foi para a Índia, onde terá
divulgado a sua fé. Será o mesmo Apóstolo Tomé?!
Mas
a verdade é que ainda hoje há uma igreja cujo nome se pronuncia “Martoma” que
significa Mestre Tomé, que nunca visitei, mas me disseram ser semelhante às
Igrejas Ortodoxas.
Outro
marco importante para a história dos contactos entre estas duas religiões é a
época que se seguiu à descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da
Gama, quando se iniciou a “evangelização” do Oriente pela pior forma.
Houve
templos hindus centenários que foram vandalizados, arrasados e incendiados pelo
fanatismo dos missionários católicos dessa época. Posso citar o caso do templo
hindu de Rammath em Pondá, destruído em 1566 e o
templo de Vernã em Salcete,
destruído em 1567, assim como muitos outros. Nem Shantadurga,
que é a Deusa da Paz, escapou ao fanatismo dos missionários católicos dessa
época. Em épocas posteriores, alguns desses templos foram reconstruídos, ainda
durante o Governo português.
Em
Goa funcionou um Tribunal da Santa Inquisição, e todos sabem os métodos que
utilizava. Mas o facto mais importante, que os cristãos do ocidente
desconhecem, foi Portugal ter confiscado todos os terrenos agrícolas em Goa. Os
agricultores perderam as terras que cultivavam há muitas gerações e os campos
ficaram abandonados a ponto o Vice-Rei das Índias ter participado ao Rei de
Portugal as desastrosas consequências económicas do fanatismo desses
missionários católicos. Mas tudo fazia parte dum plano bem organizado, pois
anos mais tarde, foi promulgada uma lei que permitia que, quem se convertesse
ao catolicismo, pudesse recuperar as terras dos seus antepassados. (a)
Nos
nossos dias, continuam esses vergonhosos ataques ao hinduísmo, embora de outra
forma. No presente é através da calúnia e da desinformação, através de alguns
missionários evangélicos americanos e brasileiros, fundamentalistas fanáticos,
ao serviço das multinacionais de evangelismo que divulgam falsas notícias a fim
de denegrir não só o hinduísmo como a própria Índia. (b)
Nos
nossos dias, pelo menos no Estado de Goa, não há problemas religiosos e uma boa
percentagem da sua população é católica, embora a maioria seja hindu.
Tenho
um casal amigo, que mora num condomínio fechado, nos arredores de Pangim. Eles
são evangélicos, mas as suas crianças brincam com outras crianças hindus,
islâmicas, católicas, e de todas as religiões, nos jardins desse condomínio. Na
Índia há muitos feriados religiosos. São feriados hindus, feriados islâmicos,
feriados cristãos e possivelmente outros que eu desconheço. Como será possível
algum estudante desconhecer o Deus Ganesh se ele lhe
dá uma semana de férias todos os anos? Segundo me conta a esposa desse amigo,
em certas épocas do ano, em festas hindus, eles distribuem os seus bolos
tradicionais por todas as crianças do condomínio, os islâmicos fazem o mesmo, e
ela, quando chega a época do Natal, também retribui da mesma maneira.
Esperemos
que o fanatismo dos missionários fundamentalistas evangélicos não estrague essa
boa convivência, como já tem acontecido noutros Estados da Índia.
Algumas informações sobre a Índia dos nossos dias
Os
conhecimentos que tenho da Índia, limitam-se à Índia
ocidental. Também conheço alguma coisa do Brasil, desde Minas Gerais até Santa
Catarina e posso afirmar que noto muitas semelhanças entre estes dois grandes
países:
1)
As grandes distâncias que “obrigam” a viajar de avião entre as suas principais
cidades.
2)
O grande desnível social e económico na sua população, onde o rico é mais rico
que na Comunidade Europeia, mas o pobre é muito mais pobre.
3)
Grande diversidade étnica, cultural e religiosa entre a sua população. Além do
hinduísmo, a religião maioritária, há islâmicos, budistas, cristãos, persas,
ismaelitas, etc, e certamente também intelectuais agnósticos e ateus. (c).
4)
Ambos os países, Brasil e Índia, estão em grande desenvolvimento, mas devido às
suas grandes dimensões, diria que “arrancam a várias velocidades”. Tal como no
Brasil, também vemos na Índia, tanto zonas muito pobres e atrasadas como zonas
super-desenvolvidas.
O
que se passa em Varanassi não “mostra claramente o
que é, em realidade, a vida de um povo que vive numa miséria espiritual
inacreditável” como afirma, ou subscreve, o Pr. Davi Galúcio,
Fundador de JOCUM-AP, pois só no Ganges, ao que
me parece, são lançados os cadáveres nos casos que mencionei. Pegar nessa
amostragem e dizer que toda a Índia é assim, é o mesmo que algum indiano entrar
no Brasil, tirar umas fotos das favelas ou de aldeias do interior da Amazónia,
com índios quase nus e mostrar na Índia dizendo: “Vejam... isto é o Brasil e
estes são os brasileiros”. Qual seria a reacção dos brasileiros se tal
acontecesse? Pois isso é semelhante ao que alguns pastores evangélicos
brasileiros e americanos estão fazendo em relação à Índia, no próprio Brasil
onde há legislação para punir casos de intolerância religiosa, neste caso muito
mais grave, pois a impunidade desses pastores pode afectar as relações entre os
dois países.
Quando
esse Pastor fala em miséria espiritual inacreditável, deveria guardar
essas afirmações que só poderão ter algum significado no contexto cultural da sua
igreja. Eu sou cristão, embora não me identifique com nenhuma igreja em
especial, mas considero que, duma maneira geral o sadú
do hinduísmo é mais sério que o vulgar pastor evangélico que explora os mais
humildes com a cobrança do dízimo (d).
Nos
nossos dias, tanto a Índia, como o Brasil estão numa fase de grande
desenvolvimento e encontro várias semelhanças entre estes dois grandes países.
Mas, duma maneira geral, considero a Índia mais desenvolvida que o Brasil,
embora eu prefira o Brasil por causa da língua portuguesa que temos em comum,
pois na Índia, como não falo hindi, detesto falar em inglês para me entender
com os indianos.
1)
As principais cidades indianas estão ligadas por melhores estradas, melhores
linhas aéreas, bem como caminhos-de-ferro (trem), que no Brasil quase não
existem.
2)
No aspecto económico, a rupia indiana é uma moeda estável, que tem acompanhado
a evolução do real brasileiro e do próprio euro. É vulgar num banco indiano, um
depósito a prazo de um ano, render um juro ilíquido de 8%, a que corresponde o
juro líquido de cerca de 6.5%.
3)
Quanto à segurança, posso afirmar por experiência própria que as grandes
cidades indianas são muito mais seguras que as grandes cidades brasileiras,
tanto nas zonas mais nobres como nas favelas.
4)
Na ciência e investigação, inclusive a investigação espacial, também a Índia
está muito mais desenvolvida, pois o lançamento de satélites já se tornou
acontecimento rotineiro que deixou de despertar a atenção dos órgãos de
informação. Mas nos satélites lunares, depois da América e Rússia, o Japão
lançou um satélite para gravitar à volta da Lua em Setembro de 2007, seguido da
China em Outubro de 2007 e a Índia foi o quinto país a colocar um satélite em
órbita lunar em Janeiro de 2009 com a sua própria tecnologia e foguetões de
fabrico indiano.
Quanto
à afirmação desse pastor que na Índia Existem 20 mil multimilionários, 200
mil milionários e mais de milhão abaixo da linha da miséria.
Não
sei se na Índia haverá 20 mil multimilionários, ou os 200 mil milionários,
mas penso que não haverá só mais de um milhão abaixo da linha de miséria. Para
um país que no senso do ano 2000 registou 1 080 milhões de habitantes, número
que certamente já está ultrapassado, esse milhão a que ele se refere, daria
0.09% da população indiana.
Será
que devo agradecer ao tal Pastor fundador da Jocum
que escreveu essas linhas, por ter emitido uma opinião tão optimista sobre a
Índia, mas que não posso aceitar, por não corresponder à verdade? Ou devo
atribuir tal opinião à falta de conhecimento, de quem não faz a mínima ideia do
que seja a Índia?!
Antes
de terminar este artigo, como faço algumas referências ao hinduísmo e aos
problemas sanitários da Índia, atendendo a que os meus conhecimentos do
hinduísmo são muito limitados, assim como dos assuntos de saúde pública, pois
sou engenheiro de construção civil e não engenheiro sanitarista, quero pedir
ajuda a quem esteja dentro destes assuntos, principalmente a quem está na
Índia, para que me enviem as correcções ou aditamentos a este artigo que
julgarem oportunos, pois quero ser o primeiro a agradecer a eventual
colaboração de pessoas entendidas no assunto.
Camilo – Marinha Grande,
Portugal
Abril
de 2009
(a) Quem for a Goa e se interessar pela história, vale a
pena passar algum tempo no “Xavier Centre of Historical Research” (Centro Xavier de Investigação
Histórica) no Alto Porvorim, arredores de Pangim, a
capital do Estado Indiano de Goa.
O
seu Director, o frade Jesuíta Délio Mendonça, que se tornou Padre, é a pessoa
que mais sabe deste assunto, pois foi investigar, não só nos documentos
históricos disponíveis nas centenárias igrejas de Goa, como em Portugal e no
Vaticano, como foi também aos velhos templos hindus. O resultado dessas
investigações está no seu livro “Conversions and Citizenry – Goa under Portugal 1510-1610” impresso em Nova Deli.
O
Rer. Délio Mendonça nasceu em Moçambique e o português é a sua língua materna,
mas foi levado em criança para Goa, quando os seus pais fugiram da
independência de Moçambique e da prolongada guerra civil que lhe sucedeu.
Segundo
ele próprio me informou, gostaria de publicar o seu livro em português e já fez
a tradução, embora necessite de ser revista por alguém mais actualizado na língua
portuguesa, mas não encontrou nenhum editor interessado na publicação do seu
livro, que na edição em inglês tem cerca de 450 páginas tamanho A5.
(b) Sobre o assunto, aconselho a leitura dos seguintes
artigo desta nossa página.
Discriminação religiosa na
Índia (CC)
Sacrifícios humanos na
Índia dos nossos dias?! (CC)
Comentários aos artigos
sobre a Índia
Violência religiosa em Orissa (CC)
(c) Há alguns judeus em certos locais da Índia. Em Goa
já não há judeus, mas ficou só a “Rua dos Judeus” na Velha Goa. Os judeus
iniciais foram “convertidos” pela Santa Inquisição e há o caso dumas ilhas onde
o seu número ficou muito reduzido, a ponto de já não poderem manter um deles
cuidava da Sinagoga e se dizia descendente dos antigos levitas, que acabou por
se “converter” ao hinduísmo, tornando-se sacerdotes do hinduísmo, pois hindus
havia muitos para o sustentar.
(d) Por favor, não me venham dizer que dízimo é bíblico
neotestamentário, sem primeiro lerem os artigos sobre o assunto que tenho na
secção da minha página “Temas
polémicos”
Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas