Lei de Moisés para o
cristão?! (CC)
(Deverá
“clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)
1 - Introdução
Muitos
cristãos e também islâmicos (a) têm dificuldade
em interpretar Mateus
5:17/19 que tem levantado dúvidas a muitos crentes.
Afinal,
como é?! Além da mensagem de Jesus Cristo, também temos de obedecer a todas as
leis de Moisés?! E que fazer quando houver contradição
entre Cristo e Moisés?!
Vejamos
a tradução na Bíblia de Jerusalém: Mateus 5:17/19
17
– Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas. Não
vim revogá-los, mas para dar-lhes pleno cumprimento,
18
– porque em verdade vos digo que, até que passem o céu e a terra,
não será omitido nem um só i, uma só vírgula da Lei, sem que tudo seja
realizado.
19
– Aquele, portanto, que violar um só desses menores
mandamentos e ensinar os homens a fazerem o mesmo, será declarado o menor no
Reino dos Céus. Aquele, porém, que os praticar e os ensinar, esse será chamado
grande no Reino dos Céus.
2 - Contexto histórico
desta passagem.
No
capítulo anterior, vemos que Jesus, depois de ser tentado no deserto, foi morar
em Cafarnaum e deu início ao seu trabalho de pregação numa zona bem povoada ao
longo da margem do mar da Galileia. Chama os primeiros apóstolos, os irmãos
Pedro e André e mais adiante outros dois irmãos Tiago e João, filhos de
Zebedeu.
Com o tempo, a fama de
Jesus como pregador e os milagres que fazia, atraiu as grandes multidões que
acorriam de outras cidades para o ouvir, não só das cidades vizinhas como até
de toda a Galileia, de Decápolis, de Jerusalém, da
Judeia, e dalém do Jordão.
Segundo o capítulo 5, Jesus, vendo as multidões, subiu ao
monte. Temos de compreender esta afirmação no contexto histórico em que se
encontravam em que não havia equipamento de amplificação de som. Assim, no
monte, podia colocar-se num ponto alto, para ser ouvido e visto por um maior
número de pessoas.
É nessa altura, que Jesus apresenta as bem-aventuranças,
e compara os cidadãos do seu Reino ao sal e à luz.
É este o contexto dos versículos em estudo.
3
– A quem se destinavam estas palavras do Mestre. O perigo do vazio legislativo.
À primeira vista, parece que estava tudo a correr
optimamente.
A mensagem estava a ser recebida com grande entusiasmo,
já tinha escolhido quatro apóstolos e as multidões que o apoiavam continuavam a
aumentar.
Eles vinham do norte e do sul, de todos os caminhos,
vinham às centenas e já se contavam aos milhares os que rodeavam o Mestre.
Mas que tipo de pessoas seguiam o Mestre?
Certamente que eram crentes, mas que tipo de crentes e
crentes em quê?!
Eram pessoas do tipo do vulgar novo convertido,
entusiastas, decididos, conflituosos, que seguiam o seu dirigente, o seu
comandante, o “filho de David” (b), que viam em
Cristo o escolhido para os libertar da dominação romana.
Já estavam fartos da dupla tributação, as contribuições
para o governo romano e o dízimo para os levitas. Ansiavam por um libertador de ambos os tipos de
exploração e muitos estariam prontos a morrer por Cristo.
Mas nem o Mestre era o tipo de libertador que eles
desejavam nem eles eram o tipo de discípulos que o Mestre pudesse aceitar.
Havia também os doentes que ouvindo falar nos milagres de
Jesus, vinham para serem curados das suas doenças. Segundo dizem várias
passagens do Novo Testamento, Jesus fez várias curas milagrosas durante o seu
ministério e até ressuscitou o seu amigo Lázaro e o filho da viúva da Naim, mas
essa não era a sua principal função.
O grande problema é que havia o perigo de, entusiasmados
com a presença de Jesus, iniciarem uma grande revolução e Jesus seria a
principal causa dessa revolução embora involuntariamente. Parece que Satanás
continuava a tentar o Mestre.
Jesus não podia aceitar o papel de rei dos judeus, pois
não podia ser o rei que eles exigiam. Havia o perigo de se libertarem para
ficar um povo com leis mais permissíveis ou mesmo sem quaisquer leis. Era urgente
clarificar a situação.
4
– Qual a atitude do Mestre?
Nota-se nas palavras de Jesus uma preocupação em manter a
obediência à Velha Lei até que tudo se cumprisse, ou como está no versículo 18
… sem que tudo seja realizado.
Julgo
que Jesus se referia à sua própria morte na cruz e ao estabelecimento do Reino
de Deus neste mundo. A palavra dos antigos textos em grego “basileia”
que foi traduzida por “reino” não tem uma perfeita correspondência na nossa
língua pois a palavra reino embora signifique influência dum rei, está
geralmente associada a um território onde esse rei exerce a sua influência. Há
alguns que a preferem traduzir por “reinado” ou “influência” de Deus que se
deverá estender a todo o mundo. O texto em Lucas
17:20/21 torna-se assim mais compreensível, pois os fariseus
imaginavam um reino como um território independente, enquanto Jesus se referia
ao reinado ou influência de Deus, que se deveria estender a todos os
países.
Nas
palavras de Jesus neste capítulo, noto uma grande preocupação em definir o
comportamento do cidadão do reino de Deus. Este capítulo Mateus 5
começa com as bem-aventuranças que definem o comportamento do cidadão desse
reino espiritual ou da pessoa sob influência de Deus, compara os tais ao sal e
à luz e continua citando mandamentos do Velho Testamento mas para afirmar que
são insuficientes como vemos em Mateus 5:20.
5 - Possíveis
interpretações para o texto em estudo
5.1
Uma possível interpretação, seria a de que Jesus
homologou todo o Velho Testamento.
Há
várias passagens que mostram a preocupação dos evangelistas, principalmente
Mateus, de mostrar que se cumpriram as profecias veterotestamentárias. Vejamos Mateus 1:22,
Mateus
2:15,
Mateus
2:17,
Mateus
2:23,
Mateus
4:14,
Mateus
8:17,
Mateus
13:14, Mateus 13:35,
Mateus
26:54/56, Lucas 4:21,
Lucas
22:37, João 12:38,
João
17:12, João 19:24,
João
19:28, João 19:36.
Todas estas profecias veterotestamentárias referem-se a Jesus Cristo e à sua
obra expiatória. Os evangelistas dizem que se cumpriram as profecias do Velho
Testamento, mas isso não significa que aceitassem a validade da lei de Moisés
no primitivo cristianismo.
5.2
Poderíamos questionar o que significaria a expressão Lei ou os Profetas quando o Mestre
utilizou esta expressão cerca do ano 30.
Geralmente,
na teologia dos nossos dias, é habitual dividir o Velho Testamento em
Pentateuco ou Lei = Torá, os Salmos e os Profetas e imaginamos uma Bíblia
completa dos nossos dias. Mas no contexto histórico em que Jesus viveu, muito
antes de haver imprensa, a palavra livro era um rolo de pergaminho, pele de
animal ou papiro que se desenrolava para ser possível a leitura, cujo preço só
seria acessível a muito poucos. As sinagogas mais importantes tinham maior
número de “livros” e no Templo de Jerusalém certamente que teriam todos os
livros, mas há ainda outra dificuldade. Não eram precisamente os mesmos livros
que temos nas nossas bíblias, pois o cânon veterotestamentário só foi elaborado
por um grupo de judeus na cidade de Jâmnia cerca do
ano 90 ou 100. Portanto quando Jesus se referiu à Lei e Profetas ainda não
havia cânon.
É
lógico que teremos de interpretar a Lei ou os Profetas
a que Jesus se referiu com o significado que tinha nessa época, antes de
muitos desses livros terem sido rejeitados pelos judeus que se reuniram para
formar o cânon. Portanto incluía tanto os deuterocanónicos que os protestantes
rejeitam como os apócrifos rejeitados tanto por protestantes como por
católicos.
Afinal,
tanto católicos como protestantes ou islâmicos seguem um cânon
veterotestamentário que foi definido por esse grupo de judeus que se reuniram
em Jâmnia.
5.3
Será que a afirmação em estudo são mesmo palavras de Jesus?
Há
quem defenda que essas palavras tenham sido acrescentadas posteriormente, pelos
seguintes motivos.
No
evangelho segundo Mateus, o Mestre faz estas afirmações no “sermão do monte”,
depois das bem-aventuranças. Também em Lucas
6:20/23 encontramos a descrição das bem-aventuranças um
pouco diferente, mas não aparece qualquer referência à passagem em estudo Mateus
5:17/19.
Parece
difícil de aceitar que só Mateus tenha registado um pormenor tão importante.
Claro que muitos fundamentalistas defendem que se está na Bíblia é afirmação
verdadeira e inspirada. Mas então, as descrições dos outros três evangelistas
que omitiram esta passagem não são também inspiradas? Inclusive o Evangelho de
Lucas que, segundo afirma logo de início Lucas
1:1/4? Nunca saberemos quais os motivos que levaram Lucas
a omitir este pormenor tão importante, mas certamente que ele teria as suas
razões.
5.4
Outra posição teológica é a que afirma que a Lei veterotestamentária estava em
vigor mas já foi integralmente cumprida em Cristo.
A
grande preocupação dos evangelistas é mostrar que se cumpriu tudo que estava
profetizado a respeito de Jesus Cristo. Então, se tudo já se cumpriu, de acordo
com a passagem em estudo, Mateus 5:18 (porque em
verdade vos digo que, até que passem o céu e a terra, não será omitido nem um
só i, uma só vírgula da Lei, sem que tudo seja realizado) temos
de concluir que a lei veterotestamentária é coisa do passado, pois tudo que a
Velha Lei dizia, já se cumpriu em Cristo Jesus.
Se
não fosse assim, certamente que teríamos de cumprir todos os mandamentos de
Moisés, mesmo os mais pequenos.
Isso
incluiria cumprir Êxodo 21:17,
Levítico
20:10, Levítico 20:27,
Levítico
24:16, Êxodo 22:18, Êxodo22:20 etc,
etc.
Embora
o Decálogo diga em Êxodo 20:13 “Não matarás”, logo a seguir,
Moisés legislou para aplicação da pena de morte para muitos casos como os
homossexuais, quem comesse marisco ou carne de porco ou cultuasse deuses de outras
religiões, ou trabalhasse ao sábado etc. e por vezes, como no caso de blasfémia
e outros, o mandamento exigia que todo o povo pegasse em pedras para aplicar a
pena de morte. Assim, nesses casos, todos seriam obrigados a ser os carrascos.
6 – Outras passagens
sobre o mesmo assunto dos cristãos perante a velha lei de Moisés
Recordando
a regra da hermenêutica que afirma que qualquer afirmação dum livro, neste caso
o Novo Testamento, só será válida se conseguir resumir tudo que o Novo
Testamento disser sobre o assunto, vamos investigar outros versículos sobre o
cristão perante a lei veterotestamentária, não só o decálogo como toda a Lei de
Moisés. Verifica-se que este assunto deu origem da forte polémica o livro de
Actos, pois o cristianismo “nasceu” no seio do judaísmo e não foi sem
dificuldade que adquiriu uma teologia própria.
Inicialmente
a grande maioria dos cristãos que seguiam a Cristo era de origem judaica. Penso
que não houve grandes problemas enquanto o número de cristão de outras origens,
era uma minoria, mas quando aumentou o número de cristãos gentios, os de origem
judaica tentaram impor as suas tradições do Velho Testamento, como as suas
festas, o sábado e a circuncisão, a todo o cristianismo.
Há
várias descrições desses problemas no primitivo cristianismo, mas tal polémica
deu origem ao Concílio de Jerusalém que termina com a conclusão que ficou
registada em Actos
15:22/30
7 – Qual o exemplo de Jesus
no cumprimento de Lei de Moisés?
Penso
que será de grande importância será verificar se o próprio Jesus Cristo cumpriu
todas as leis de Moisés.
Leis
sobre |
Lei
de Moisés |
Comportamento do Mestre |
Leproso |
||
|
||
|
Nestas
passagens em Mateus 8 e Marcos 1 - Jesus tocou num leproso, tornando-se também
imundo pela Lei de Moisés.
Alcorão 3:49 também
afirma que Jesus curou cegos, leprosos e ressuscitou mortos.
Sábado |
||
|
||
|
Em
todas estas passagens Jesus curou num sábado o que era considerado trabalho,
caso que era punido com a pena de morte pela Lei de Moisés.
Adultério |
Jesus
não aplicou a pena de morte prevista na Lei de Moisés.
8 – Conclusão
Nos
pontos 5.1 a 5.4 apresentamos várias interpretações possíveis destes três
versículos em estudo Mateus 5:17/19, mas não prescindo de dar a minha opinião,
a que me parece mais de acordo com as informações que temos através dos
evangelistas e também em sintonia com o exemplo e aquilo que conhecemos do
pensamento do nosso Mestre. Pessoalmente aceito a
hipótese 5.4, mas apresento também as outras hipóteses, para que os leitores
desta minha página tomem conhecimento e escolham a posição teológica que lhes
parecer a mais verdadeira.
É
inegável que os primitivos cristãos acreditavam nos textos do Velho Testamento,
embora possa haver dúvidas a que textos se referiam propriamente. Certamente
que havia divergências entre os judeus sob quais os “livros” inspirados, pois
se houvesse unanimidade entre eles, essa reunião em Jâmnia
não seria necessária nem teriam rejeitado alguns desses livros.
Se
eu disser que entrei numa biblioteca e encontrei um ou dois livros muito úteis,
tal não significa que a minha opinião seja válida para todos os livros dessa
biblioteca.
Assim,
julgo que o ensino do primitivo cristianismo foi que a Velha Lei de Moisés
esteve em vigor até que Cristo a cumpriu. O pensamento e expressão empregada em
Mateus 5:18 que na Jerusalém é “…sem que tudo seja
realizado” e noutras traduções está “…até que tudo seja cumprido.” é
a mesma ideia que encontramos em Mateus 2:13
(ficaram no Egipto até que Herodes faleceu, depois voltaram), ou Marcos 9:9 (Depois
da ressurreição de Jesus, já podiam contar), ou Lucas 21:24
(Ficariam cativos até que terminasse o tempo dos gentios), ou Lucas 23:44
(houve trevas até a hora nona, depois tudo voltou ao normal).
Assim,
penso que os cristãos e islâmicos que estão preocupados com esta passagem em
estudo Mateus
5:17/19 podem ficar descansados que as Leis do Velho
Testamento já não estão em vigor, pois Cristo já cumpriu as profecias. Aliás
até nem acredito que em Israel dos nossos dias sejam praticados estes horrores
de aplicar a pena de morte em lugares públicos devido a diferentes hábitos
alimentares ou a pessoas de outras religiões, em que todas as pessoas sejam
obrigadas a ser carrascos.
Só
no Velho Testamento encontro esses horrores de populações inteiras mortas por
motivos religiosos, pois nem no Novo Testamento nem no Alcorão encontro
mandamentos que mandem matar. Se tais crimes religiosos aconteceram no passado
e possivelmente também no presente, duvido que seja só por motivos religiosos,
embora o fanatismo religioso possa ser um importante elemento catalisador da
agressividade humana. Mas “cristãos” ou “islâmicos” que matem por motivos
religiosos estão em grave contradição com as suas doutrinas embora possam ser
“inspirados” por certas leis do Velho Testamento.
Camilo
– Marinha Grande, Portugal
Agosto
de 2014
(a) Esta questão foi-me suscitada numa conversa com um
islâmico.
Como
sabem, Abraão viveu cerca do ano 1900 aC, quando saiu da Caldeia, mas só cerca do
ano 1200 aC, com Moisés, o judaísmo adquire a sua teologia, mas penso que
manteve certa influência da religião caldaica de onde saiu Abraão e do Egipto
onde vivia Moisés.
O
cristianismo aparece cerca do ano 30, com uma nova mensagem e uma nova teologia,
mas não se desligou por completo da teologia e tradições do judaísmo. Há no
Novo Testamento, várias referências ao Velho Testamento.
O
islamismo aparece cerca do ano 630, mas mantém a crença nos antigos profetas
como vemos em Alcorão
2:130, Alcorão 2:136,
Alcorão
3:84
, Alcorão
5:46
ou Alcorão 5:48.
Portanto,
é compressível que os islâmicos também se sintam obrigado ao cumprimento da Lei
de Moisés, tal como muitos cristãos fundamentalistas.
(b) Nesse contexto cultural, a expressão “filho de”
significava semelhante, que tinha a mesma profissão, as mesmas características.
Se David foi um grande guerreiro, Jesus deveria ser semelhante, devia ser o
escolhido para libertar Israel dos romanos.
Estudos
bíblicos sem fronteiras teológicas
COMENTÁRIOS
David Oliveira –
Goiânia, Goiás, Brasil
Agosto
de 2014
Gálatas 3:15: Irmãos, humanamente
falando, ninguém pode anular um testamento depois de ratificado, nem
acrescentar-lhe algo.
Era
cultura rudimentar judaica ensinada pelos Rabinos, que todas as promessas de
Deus seriam severamente seguidas e que nada, nem o yod, “J” do alfabeto
hebraico que equivale ao “H”, do português, que não representa nenhum som, ou o
menor sinal que se assemelharia ao nosso “til”, poderia ser mudado. Contudo
Jesus não estava dizendo que o Seu sacrifício, que não tinha nada de humano
poderia abrogar a Lei de Moisés na consumação da cruz.
Jesus,
certamente sabia que não precisaria vir para, diretamente anular a Lei, pois a
sua anulação já estava decretada, vide Gálatas 3:19. Qual
era então o propósito da Lei? Foi acrescentada por causa das transgressões, até
que viesse o Descendente a quem se referia a promessa, e foi promulgada por
meio de anjos, pela mão de um mediador.
Jesus
foi, em sua vida terrena, ministro da circuncisão, ou seja, ministrou o seu
evangelho aos que eram da circuncisão; judeus. Nem tudo o que Jesus disse se
pode tomar como ensino direto aos que “não são da circuncisão”. Devemos levar
em consideração o contexto do tempo e espaço em que Ele viveu.
Na
abordagem direta aos que “não são da circuncisão”, Paulo nos explica que
podemos cumprir a Lei, pelo menos a parte boa dela, como conseqüência
da fé em Jesus. Romanos
3:31: Anulamos,
pois, a Lei pela fé? De modo nenhum; antes estabelecemos a
lei. No sentido direto, compulsório, estamos desobrigados do
seu cumprimento, mas como conseqüência de abraçarmos
a fé em Jesus, acabamos por cumpri-la por conseqüência
ao estabelecermos (estabelecimento do Reino de Deus neste mundo), em nossa vida
aquilo que a velha Lei tentava resolver.
José Luiz Batista –
Curitiba, Paraná, Brasil
Agosto
de 2014
613 DESCULPAS PARA DESCUMPRIR A LEI
Os
antigos povos estabeleceram leis, a maioria de fundo teocrático, para
disciplinar a vida dos cidadãos. Com os hebreus não foi diferente. O legislador
Moisés instruído durante quarenta anos dentro da aristocracia egípcia aprendeu
a lidar com o vasto conhecimento daquela civilização, isso foi útil no deserto.
Depois esteve mais quarenta anos em Midiã praticando
a humildade que deveria ser a virtude de todo magistrado. Finalmente, nos
quarenta anos seguintes, usou toda essa experiência para interpretar a
inspiração divina e apresentar a Lei para um povo que despertava como nação. A epopéia dos judeus, porém, mostra sucessivos séculos de
desobediência e poucos períodos de fidelidade. Cada um dos dez conceitos
fundamentais da Lei foi sistematicamente descumprido até por quem tinha o dever
de aplicá-los. A Escritura está repleta
desses relato, muitos dos quais feitos com surpreendente naturalidade.
1º Reis 11:1/10
descreve a corrupção religiosa no final do reinado de Salomão, contrariando o
primeiro mandamento e, 1º Reis 16:7/18
revela como Acabe vilipendiou o segundo mandamento. O terceiro mandamento é
ignorado quando um profeta mentiroso usa o nome de Deus para induzir outro
profeta ao erro, 1º
Reis 13:718.
O quarto
mandamento é vítima de milhares de interpretações. O “sábado” adotado
contemporaneamente como nome de um dia da semana era para os judeus “dia de
descanso”. Com as mudanças e adaptações feitas ao longo dos séculos na forma de
denominar e contar as fases lunares, as estações, as semanas, os meses e os
dias, como garantir que o “dia de descanso” é o mesmo “sabbath”
judeu ou o domingo cristão? O sétimo dia na atual cultura em que, pelos mais
variados motivos há trabalho em todos os dias da semana, deveria ser aquele
escolhido para descansar e cultuar a Deus.
Exemplo
clássico de burla ao quinto mandamento ocorre em Gênesis 27. Depois de
se aproveitar da fraqueza de Esaú, tomando-lhe o direito de primogenitura,
Jacó, envolvido no ardil engendrado por Rebeca, sua mãe, ilude o velho pai Jacó
tomando dessa vez a bênção patriarcal reservada ao primogênito. O sexto
mandamento é transgredido nas inúmeras matanças e genocídios praticados em nome
de um deus, para muitos, o Deus de Abraão. Davi se encarregou de, entre outros
escorregões, ferir o sétimo mandamento com o selo real. Se não houvesse
adulterado com o rei que facilitou a morte de seu marido, Bate-Seba teria sido
apedrejada.
Em Gênesis 31:19/35
é a vez do oitavo mandamento. Raquel furta os preciosos ídolos domésticos de
Labão e com desfaçatez impede que alguém a reviste. E
o que foi feito do nono e do décimo mandamento? Jezabel, mulher de Acabe, usa a
própria lei para levar duas falsas testemunhas de origem nobre a mentir em
juízo contra Nabote por causa da cobiça, a mãe de
todos os pecados. Acabe, outra vez ele, cobiçava a vinha de Nabote.
Séculos
depois, em outro cenário e em outras circunstâncias, Jesus, autêntico judeu,
percebeu como era difícil ao homem obedecer especificamente a cada um dos 613
preceitos da Lei, então, os condensou numa fórmula simples:
a) Amarás, pois, o Senhor teu Deus, de todo o teu
coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força.
b) Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há
outro mandamento maior do que estes. - Marcos 12:30/31.
Aquele
que agir assim, indubitavelmente, não contrariará nenhum dos 613 preceitos da
Lei.