Igreja = Túmulo de Deus? (MC)

Comentários ao artigo 

(Deverá “clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)

 

 

 

De: Nilson Franco OAB I nilsonfranco@adv.oabsp.org.b   

Data: 09/02/2006 12:58

Assunto: Igreja = Túmulo de Deus?

Bom dia,

Li e achei muito equilibrada a opinião do Pr Manuel Pedro Cardoso, é como ele mesmo nos leva a acreditar, não pelos Quaquer's, mas, pelo que é o verdadeiro Cristianismo: - uma Nação cuja lei básica, a Constituição, é dada por Jesus, seu único governante. “O Reino de Deus está entre vós (Jesus)”.

Nilson Franco

 

 

De: Joao Wesley joao.wesley@ajato.com.br

Data: 09/02/2006 23:33

Assunto: Igreja = Túmulo de Deus?

Saudações aqui do Brasil, irmão Camilo.

Gostei muito da matéria e penso que a reflexão é extremamente importante para a igreja evangélica que é cheia de modismos e pouca vida...

Grato pela atenção,

João Wesley.

 

 

De: A. A. Felicio aafelicio@mail.telepac.pt    

Data: 11/02/2006 10:28

Assunto: Artigo do Pastor Manuel Pedro Cardoso

Prezado Amigo e Irmão Camilo Coelho,

Li o excelente artigo do Pt. Manuel P. Cardoso. Como não podia deixar de ser, é um bom artigo, contendo aspectos muito interessantes sobre os “Quackers”, que desconhecia na sua génese e prática de vida.

Uma boa contribuição para quem gosta de saber mais sobre a religião e os vários caminhos que se colocam à disposição daqueles que têm preocupações espirituais, éticas e morais.

A abordagem que faz sobre as Igrejas Cristãs e da sua actual prática é preocupante. Não sei como situar, dentro do texto do Pt. Cardoso uma realidade que tenho vindo a verificar: um apagamento da actividade das Igrejas históricas e a militância de grupos religiosos, sendo que alguns se afirmam também cristãos.

Será que esta falta de vigor da Igreja se pode enquadrar no texto do Evangelho de Lucas 18:8? “Quando vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?

Envio cumprimentos amigos do

ASFelicio

 

 

De: Camilo Coelho ---

Em primeiro lugar, quero agradecer, não só ao nosso Professor de Teologia Manuel Pedro Cardoso, pelo seu artigo que de certa maneira é como um forte e estridente som da trombeta dentro duma sonolenta igreja tradicional ou como uma chicotada psicológica numa igreja dita carismática, onde todos gritam e não se consegue meditar nem ouvir a verdadeira Voz calma e suave do Mestre, mas quero agradecer também a todos os que já nos enviaram os seus comentários e a muitos outros que certamente ainda nos irão contactar sobre o assunto.

Gostaria de dar também a minha opinião sobre o assunto.

Já tinha ouvido falar nos quakers, mas só tinha uma ideia um tanto vaga, da sua interpretação do Evangelho.

Neste momento, sinto-me um tanto confuso, pois se disser que nunca estive numa reunião quaker, isso realmente é verdade, mas já estive em alguns cultos, e pelos contactos da internet sei de muitos grupos, que são do tipo “quaker”, sem utilizarem esse nome. Ou talvez o mais correcto é dizer, que esse é o verdadeiro cristianismo que sempre existiu e continua a existir em várias partes do mundo. Escrevo isto a pensar em pequenos grupos de cristãos no interior de Moçambique, estou a pensar numa “igreja caseira” em Goa em que o Pastor recusa esse título de Pastor, estou a pensar nas várias mensagens de grupos de crentes que se reúnem em vários pontos do Brasil, sem pastor e sem qualquer formalidade. Certamente que alguns desses irmãos irão ler estas linhas e espero que nos contem a sua experiência e os seus problemas. Penso que esse tipo de igrejas sempre existiu e sempre existirá, embora os quakers, tivessem uma maior divulgação, talvez por estarem na Inglaterra e terem dado origem à Pensilvânia. O Quakerismo é um bom exemplo do cristianismo que deve ser sempre fruto da aplicação do pensamento do Mestre nos vários contextos históricos e culturais. Certamente que eles nos oferecem muita informação bem útil e com que me identifico, embora nem tudo certamente se poderá aplicar noutras culturas. Mas deixaram um bom exemplo do que é uma igreja, e outros povos, deverão também tentar libertar-se dos rituais e da pesada tradição teológica, para aplicar os ensinos do Mestre na sua realidade, em ambiente secular, assim como os quakers o fizeram na Inglaterra do século XVII. 

Penso que têm toda a razão em não aceitar a tradicional divisão em assuntos religiosos e seculares, pois se dividirmos os assuntos que temos de tratar, em “assuntos religiosos” e “assuntos seculares”, estamos a trair o pensamento do Mestre, estamos a transformá-lo naquilo que Ele não quis ser, pois Jesus não foi homem de sinagoga, nem de Templo. O Templo de Jerusalém era a fortaleza dos seus inimigos, os “religiosos” e nas sinagogas, muitas vezes Ele foi rejeitado. As principais mensagens do Mestre foram apresentadas nas praias, nos montes, nas praças públicas, em ambiente bem secular. Mas há outro perigo, pois ao dividirmos os nossos assuntos em “religiosos” ou “seculares”, estamos a passar a “certidão de óbito” à religião, estamos a aceitar que religião é só para o interior das igrejas e nada tem a ver com o mundo real em que vivemos. 

Estes comentários ainda não estão encerrados.

Incentivamos a que outros irmãos nos contactem, enviando os seus comentários de apoio ou de desacordo.

Aguardo pela sua mensagem.

Fraternalmente

Camilo

 

 

De: David Oliveira barramento@yahoo.com.br

Para Camilo Coelho --- 

Data: 13/02/2006 20:03

Assunto: Igreja = Túmulo de Deus?

 

Ao pastor da Igreja Cristã Presbiteriana de Portugal,

Manuel Pedro Cardoso.

Prezado senhor,

 

É com muito prazer que uso esse canal que foi dado àqueles que leram o teu inteligente, isento, imparcial e sóbrio artigo.

Quero começar com a tua primeira e talvez mais importante frase. A vida humana pode ser uma aventura exultante se tivermos a preocupação de viver o dom maior com que Deu nos criou, a liberdade”.

Talvez um outro título sugestivo para esse artigo seria, “igreja; aprisionamentos do evangelho Cristo”. Tenho tentado transmitir em minhas conversas e escritos, meu pensamento a respeito daquilo que, a meu ver, tem se tornado as “igrejas evangélicas” (não preciso detalhar).

Muitas pessoas, não entendendo a minha posição, têm me “aconselhado” a procurar uma igreja, no sentido de “não deixar as nossas congregações” e me matricular no seu rol de membros para “rezar a sua cartilha” e me submeter a um jugo de “credo faccioso, particular e irredutível”.

Não é a opinião, nem a especulação, nem uma concepção da verdade, tanto como não é o assentimento ou a adesão a artigos ou proposições [de fé], por mais bem expressas que elas sejam, que fazem de um homem um verdadeiro crente ou um verdadeiro cristão”.

Não sei como dizer isso, sem magoar aqueles irmãos que defendem as suas denominações (e não Cristo), mas não abro mão da liberdade que Cristo me deu; então me posiciono “para fora” dos estatutos institucionais e nessa posição, (sem me tornar um quaker), tenho liberdade para não descartar nenhum esforço de ninguém que procure, dentro da Palavra, a melhor maneira de adorar e congregarmos ao Senhor Jesus. Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão. Gálatas 5:1.

Igreja, no sentido atual e histórico (excetuando-se outras intenções), nada mais é do que o resultado do esforço empreendedor humano, para estabelecer ajuntamentos que melhor se adapte aos ensinamentos do Mestre e de Seus apóstolos, que foram testemunhas oculares de Seus ensinamentos. Cristo não nos deixou modelos eclesiásticos e administrativos de Sua Igreja; tudo o que ela (a igreja) se tornou, depois de Sua morte e ressurreição, teve a gradativa e carnal participação da compreensão humana.  

No Brasil, reina o conceito de que para se tornar uma igreja local, seja necessário contratar (no sentido profissional e não no sentido mantenedor, que é bíblico), um pastor, apóstolo, bispo ou presbítero, seja lá que nome lhe der. Então essas posições (que são bíblicas), deixam de ser “dons concedidos por Cristo”, para se tornar títulos e posições humanas dentro da igreja. Isso, para mim é a raiz de todos os problemas, pois estes se tornaram verdadeiros “imperadores espirituais”.

Quão grande é hoje o distanciamento que temos de Cristo! Deixamos os Seus exemplos enquanto esteve aqui conosco; esquecemos de que Ele era um homem da rua; estava onde o povo estava; assentava-se junto do povão; respondia a todos, sem distinção cultural e sentia as procelas da mente humana. Hoje, colocaram-No em palácios de mármore e templos suntuosos, onde os mesmos pobres, doentes e ignorantes não têm acessos, para pelo menos tocarem em suas vestes e ouvirem a sua voz, o que só é privilegio dos melhores situados economicamente.

   Entendo perfeitamente e adiro aos avanços dos quakers, de deixar de beber “águas de afluentes”, para ir beber direto da fonte, águas cada vez mais limpas. O que devo enfatizar é a necessidade de se ter pastores nas igrejas locais. Não devemos esquecer que essa era a preocupação de Paulo para com todas as igrejas. Um grupo de ovelhas só é um rebanho se possui um pastor. Não estou falando de “Pastores”, como os que são estabelecidos em muitas igrejas, mas do presbítero, ancião, bispo, pastor e mestre do sentido bíblico, isto é, de pessoas da própria congregação, que são eleitas e que agem de acordo com as orientações neotestamentárias. Pedro exorta aos presbíteros: “Apascentai o rebanho de Deus1ª Pedro 5:2. E Paulo em Actos 20:28, por exemplo, afirma que aqueles anciãos foram levantados pelo Espírito Santo para apascentar a igreja de Deus.

Há a tendência em muitas pessoas de pensar que o misticismo isola os seus praticantes do mundo do trabalho e da luta - mas quem conhece a vida dos amigos sabe que o seu misticismo, pelo contrário, os leva a um compromisso muito claro com a acção no mundo”. Sempre achei que a importância que se dá aos dogmas, ritualismos e excessos de liturgias fosse uma das formas de se “matar” o amor, uns para com os outros, dentro das congregações. Isso não acontecia também na igreja de Tessalônica. “Sempre devemos, irmãos, dar graças a Deus por vós, como é justo, porque a vossa fé cresce muitíssimo e o amor de cada um de vós aumenta de uns para com os outros2ª Tessalonicenses 1:3. Enfim, a igreja não poderia ser, como é; um lugar sem estímulo ao amor e às boas obras, por que não?

Enfim, pastor; me impressionas pela sua “quase adesão” por tantos elogios aos ensinamentos quakers. Isso seria inconcebível a um pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil! Aqui, Cristo ainda está muito dividido e estamos ainda a dizer: “Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo1ª Coríntios 1:12

No VERBO de Deus.

David de Oliveira

 

 

De: Clovis clovislh@terra.com.br

Data: 14/02/2006 11:11

Assunto: Comentários

 

Caro Pastor Manoel

Por recomendação do irmão Camilo Coelho, li o seu artigo: IGREJA = TÚMULO DE DEUS. Tendo feito alguns comentários, enviei-os ao irmão Camilo, que gentilmente solicitou que enviasse-os diretamente a ti. Abaixo, a transcrição do e-mail que enviei ao mesmo, com meus humildes comentários.

 

Caro irmão Camilo

Tão logo recebi tua correspondência, dispus-me a ler o artigo recomendado. Embora já tivesse ouvido falar sobre os quakers, nunca tive a curiosidade de me aprofundar no assunto. Porém, na medida que lia, fui descobrindo semelhanças com algumas das minhas aspirações, que, imaginava utópicas. Aparentemente, numa primeira impressão, parece-me, que este movimento se parece em muito com aquilo que era praticado na igreja primitiva, que não visava construção de templos grandiosos, mas, reuniam-se em casas, e davam prioridade para a divulgação do evangelho. Um tempo após meu afastamento da igreja aonde participava do ministério, fui convidado por um irmão que também se afastou, para iniciar um trabalho, que, em principio me agradou, ou seja, reuniões nas casas, buscando levar a mensagem para grupos pequenos, sem compromissos com denominações, doutrinas, apenas com a Verdade. Infelizmente, porém, este irmão, na casa do qual nos reuníamos, insistia em construir um templo, o que, ao meu ver, significava uma nova denominação, sobre o que, penso como tu, e sou totalmente contrário. Sempre (ou ao menos depois que comecei a conhecer o evangelho), tive a opinião de que Jesus não quis trazer mais uma religião ao mundo, pois religiões são tentativas de homens de chegar à Deus, enquanto que o evangelho é Deus chegando aos homens, por isso, Jesus não adotava rituais, inclusive criticando a hipocrisia de muitos deles, cumpridos pelos fariseus e doutores da lei. A igreja proposta por Jesus era simples, para os simples. Jesus mandou que pregássemos o evangelho, não que construíssemos templos. Mas, tenho observado, que a ignorância do povo é tanta, que eles observam o tamanho da igreja, se ela é grande, então certamente Deus está abençoando-a (é o que levou o pessoal da Universal a construir os megatemplos). Infelizmente, os ramos produzidos a partir daquela raiz se afastaram muito do tronco. Elitizaram o evangelho, impuseram ritos para se chegar a Deus. Colocaram intermediários entre Deus e o homem. Homens que fizeram pecado tudo o que não estava de acordo com o seu próprio pensamento. De um modo geral, a velha e inútil tentativa de se chegar a salvação pelo esforço próprio. Por isso, fiquei admirado e feliz pela existência de um grupo de pessoas que procuram buscar a Deus desta maneira. Tanto gostei, que procurei na internet mais informações a respeito, e muito pouco encontrei.

Da leitura do artigo, destaquei alguns itens, sobre os quais te envio algum comentário:

 

Deus é identificado com as Igrejas e estas com realidades pouco apetecíveis.

Meus filhos não são evangélicos, e tenho muita dificuldade em explicar-lhes que o evangelho de Jesus não é aquilo que assistem na televisão, que  denominam de  “programa evangélico”, quando na realidade é um grande aparato de marketing, planejado para arrecadar somas cada vez maiores de dinheiro, alegando que é para a “obra de Deus”.

 

Não adopta uma ordem estabelecida nos seus cultos públicos. Não têm pastores nem padres.

Visitando algumas denominações, buscando conhecer o trabalho das mesmas, e, eventualmente fixar-me, verifiquei, que, embora aleguem não o fazer, de modo geral todos cultos tem uma sequência, que acaba por se caracterizar quase como um ritual. Tais rituais, fogem do que se via na primeira igreja, aonde o povo se manifestava naquilo que o Espírito Santo lhes mostrava.

 

As seitas como a Igreja Universal do Reino de Deus são a caricatura do nosso tempo.

Infelizmente, denominações mais sérias, ao verem o sucesso que fazem igrejas como a Universal, estão descambando para o mesmo tipo de apelação, tornando-se elas também “caricaturas”. Eu estive durante um período na IURD, e depois fui para a Igreja da Graça, que tem o mesmo fundador da primeira (IURD), usando apenas apelos diferentes, mas, com a mesma finalidade. Lá, sendo chamado para trabalhar como evangelista, e futuramente como pastor, vi, com meus olhos, o “amor cristão” que imperava.

 

Em alguns países, entre os evangélicos, apesar de haver muitos dizimistas, principalmente entre os mais humildes, praticamente todo o dinheiro vai para o sustento pastoral e construção de templos de que tanto se orgulham.

O dinheiro que é arrecadado (dízimos, ofertas, venda de livros, cd’s, etc.), é usado principalmente para expandir cada vez mais a igreja, seja na construção ou no aluguel de imóveis, para templos, senão, na aquisição de emissoras de rádio e televisão. Bem diversa a finalidade para que era destinado o dízimo e as ofertas em outros tempos, não é?

 

pois Deus não se contradiz

Esta afirmação vem de encontro ao que te disse sobre o que devíamos buscar como verdade na Bíblia.

 

Não vai ao culto para cumprir um mandamento, nem para receber um sacramento, nem para se mortificar com penitências. Nem mesmo para discutir doutrinas

Há algum tempo atrás, eu estava frequentando um templo da Assembléia de Deus. Ia lá todos domingos, mas, sentia-me incomodado. Alguma coisa não estava certa. Procurei analisar, e descobri, que estava indo na igreja como que para cumprir um mandamento. Como se participar dos cultos fosse indispensável para que eu fosse cristão, ou que o não participar me tirasse a salvação.

 

O pacifismo é a atitude que rejeita o uso de violência seja qual for o motivo. Não à guerra; não às armas, não ao serviço militar.

Dentre os dez mandamento, existe um que diz: Não matarás. Eu ouvi certa vez um pregador dizendo que, se eu tivesse que ir para a guerra, e em consequência disso, matasse alguém, este pecado recairia sobre quem me deu a ordem. Ocorreu-me na hora, que eu poderia me recusar a participar da luta. Embora ele fosse o principal dirigente e fundador da denominação em que eu estava, não concordei, pois Deus não colocou condicional, ou seja: Não matarás, a menos que... A ordem é peremptória, direta, sem mas, ou poréns.

 

Apenas não compreendi bem, como encaram o batismo e a ceia, que foram ordenanças de Jesus. Se puderes me explicar um pouco melhor, agradeço. E, se tiveres mais alguma coisa sobre este movimento, gostaria que me enviasse.

Um abraço

Clovis

DEUS TE ABENÇOE

 

De: Camilo

Prezado irmão Clóvis

Certamente que o Pastor Cardoso te dará oportunamente uma resposta, pelos meios que entender mais convenientes. Mas ao colocar o teu comentário na minha página, queria alertar-te para alguns artigos que abordam os mesmos assuntos a que te referes.

1 - A igreja primitiva e a pouca preocupação com a construção de igrejas (edifícios religiosos). Julgo que esta alteração em relação à mentalidade veterotestamentária de construir um local onde Deus se manifestasse vem já de João Batista e teve o apoio do nosso Mestre. Vê o meu artigo João Batista (CC)

2 – Sobre a Ceia do Senhor, temos o artigo Ceia do Senhor, Santa Ceia, Eucaristia, Missa (CC)

Fraternalmente, Camilo

 

 

 

De: Paulo Rogério Pires de Miranda

Data: 01/03/2006

 

Amado irmão Camilo Coelho

 

Ref.: ‘IGREJA = TÚMULO DE DEUS?’

Publicado no site: www.estudos-biblicos.com/index.html

 

Detivemo-nos a apreciar o artigo, supra epigrafado, de lavra do Pastor Manuel Pedro Cardoso, em vosso site. Muito pertinente para uma reflexão sobre os caminhos ou descaminhos percorridos pela igreja na face da terra, ao longo de dois mil anos de história.

Serve-nos, a todos, e a qualquer sincero buscador da verdade, como base para o entendimento do quanto as igrejas institucionalizadas afastaram-se da rota original e da simplicidade do Evangelho de N.S. Jesus Cristo.

Vejamos, então:

 

1)os quakers recusam qualquer sacramento...”

Como exemplo, tomemos o batismo.

-  Qual tipo de batismo é o mais eficaz e real, espiritualmente falando?

-  O das águas, por imersão ou derramamento; ou o batismo do Espírito Santo?

João Batista, disse: ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo.”

A postulação ao corpo de Cristo, como igreja, se confirma com o batismo nas águas, porém, a integração real ao corpo espiritual, místico de Cristo dá-se com o batismo do Espírito Santo. João 20:22, Actos 2:4 e Actos 9:17/18

O batismo com água é um sacramento formal, não habilita ninguém a receber o batismo real, que é o batismo com o Espírito Santo. Veja-se que Simão, o mágico, tendo sido batizado nas águas não o foi pelo Espírito Santo. Actos 8:9/21

Já o batismo real, introdução no corpo místico de Cristo pelo Espírito Santo, habilita-nos ao batismo formal. Actos 10:44/48. Destaque para o verso 47.

O formalismo litúrgico, os sacramentos dogmatizados e a adoração estereotipada crucificaram a Jesus Cristo; e hoje fazem das igrejas “O Túmulo de Deus”.

Com muita propriedade, disse o apóstolo Paulo: Mas temo, que assim como a serpente enganou Eva com sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo”. 2ª Coríntios 11:3

O que Paulo temia aconteceu, ou não???

 

2) Para além das Igrejas: Consideramos até hoje que os verdadeiros ensinos de Jesus Cristo estão contidos nos evangelhos, porém; a sabedoria e os princípios espirituais que o revelam só se alcançam na medida que Cristo cresce em nós e não na medida do crescimento físico e material das igrejas. Está explícito e implícito: 1ª Coríntios 2:9/13, Efésios 4:11/13, 1ª João 2:20 e 1ª João 2:27.

Disse o pastor Manuel:

“Os quakers ainda hoje, preocupam-se em abolirem todos os sinais exteriores de religião”. Jesus também preocupou-se com tal situação: vejamos Mateus 23 na íntegra e Lucas 5:33/39.

Tem os quakers muita coerência com os ensinamentos de Jesus e as práticas evangelísticas dos primórdios da igreja. Jesus não veio fundar uma religião, veio banir o caráter estritamente religioso que havia, e que impedia o homem de restabelecer o seu concerto com Deus. 2ª Coríntios 3:13/18, Efésios 2:11/22 , Colossenses 2:14.

 

3) O Quakerismo é a religião da simplicidade  Conforme Tiago 1:27

“Deixa aos seus membros toda a simplicidade na prática de seus princípios.” Conforme, Lucas 9:49/50, Romanos 14 e Tito 3:1/11.

 

4) Ação Social

A distinção das obras de ação social empreendida até hoje pelos quakers, baseia-se no evangelho conforme Mateus 25:31/46, que muitas, ou então a maioria, das igrejas só muito superficialmente as praticam.

Em tempos atuais, dentre as igrejas e movimentos evangélicos que desenvolvem ações sociais com grande envergadura, destacam-se: a Igreja Evangélica Exército de Salvação, que entre 2004/2005 recebeu do espólio da  Sra. Joan Kroc, viúva de Ray Kroc; fundador da rede McDonald’s, 1500 milhões de dólares para seus projetos mundiais de promoção social. Também, a ONG Visão Mundial, surgida em 1950 tem-se mantido atuante nesta área, em mais de 90 países.

Enquanto as igrejas progridem materialmente, em patrimônio; a pobreza mundial (tanto a material quanto a espiritual) alcança índices alarmantes; apesar de todo avanço tecnológico, científico e evangelístico. Não o digo sòmente em referência ao mundo cristão, mas sim ao mundo religioso de uma forma geral, considerando que segundo estatísticas internacionais, o islamismo é a religião que mais cresce no mundo. Se as religiões crescem, porque a pobreza não decresce?!

Relembro um artigo publicado em revista, escrito pelo Pastor Ed René Kivitz, titular da Igreja Batista de Água Branca, São Paulo-SP; que diz: “uma nova geração de empresários brasileiros estão gastando mais que 5% do seu tempo, lucros e recursos corporativos para oferecer à sociedade um capitalismo de benefícios em lugar de um capitalismo de resultados.” Diria eu: ao contrário da maioria das igrejas que menos que 5% do que arrecadam gastam com a sociedade, e ainda pregam um evangelho pragmático e de resultados. Disse Jesus: “...porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz.Lucas 16:8

O aumento da violência nas grandes metrópoles está em razão direta ao aumento da selvageria capitalista, onde o lucro deve estar acima de tudo, e também reside, em parte, a um religiosismo mercantil; pois nos últimos trinta anos o número de “igrejas” (templos) aumentou significativamente no Brasil, sem que a pobreza e a violência decrescesse proporcionalmente.

Não obstante o ilustre pastor Ed René Kivitz, em seu artigo, defenda que: “as igrejas evangélicas tem se derramado por hospitais, morros e favelas, penitenciárias e periferias realizando obras sociais...”; é verdade incontestável, também, que ao longo do tempo muito mais recursos financeiros, de magna monta, investiram as igrejas em propriedades hospitalares, constituíram universidades, fundaram colégios, institutos teológicos, centros de convenções, editoras, produtoras, estações de rádio/tv e propriedades rurais; estas últimas para exploração mercantil, ou para lazer, ou para acampamentos de jovens, ou para retiros espirituais.

Todos esses empreendimentos, certamente, não foram e não são destinados aos pobres, pois somente os que tenham boas posses financeiras podem fazer uso dos mesmos; sem contar os amplos, majestosos e primorosamente acabados templos, que glorificam e engrandecem as igrejas às quais pertencem.

 

5) A luz interior 

O foco central do evangelho é a união do humano com Deus, “E o verbo se fez carne, e habitou entre nós...”; por meio de um entendimento correto e vivenciação das prédicas de Jesus, subjugaremos a carne para vivermos em espírito e seremos morada de Deus. Gálatas 5:24/25, Efésios 2:22

A institucionalização da igreja encerrou em dogmas, sacramentos e ritualismos, aquilo que deveria ser vivido por fé.

Se a fé vem pelo "ouvir, porém, ouvir com o espírito; a palavra de Deus, e se Deus é amor, logo o amor é a instituição suprema, um legado de Cristo.

Há vida com abundância fora “do” Amor ou “pelo” Amor?!

As guerras e a fome que o digam.

E Jesus (o amor) veio para tenhamos vida com abundância. João 10:10

O supremo amor de Deus, antes de revelar-se como Filho (João 3:16), revela-se sobre todos eternamente, pois está escrito: “... porque faz que o sol se levante sobre os maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.Mateus 5:45

Esta é a luz interior que deve ser cultivada, O AMOR.

O apóstolo Paulo, exorta-nos: Não extingais o Espírito (amor)1ª Tessalonicenses 5:19

Em sua carta aos Coríntios, capítulo 13, apresenta-nos a excelência do amor.

A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros: porque quem ama aos outros cumpriu a lei.” Romanos 13:8

 

6. Adoração

A verdadeira adoração está explicitada em João 4:23/24.

Se Deus é Espírito, e busca os que o adorem em espírito e em verdade; o que não é isto; se não que: adorá-Lo é servi-Lo, e ninguém O serve se não servir ao próximo. Nisto consiste toda a lei e os profetas; Mateus 7:12.

 

7. Ecumenismo

Etimologicamente: oikos=casa , neme=mesma

Pensar que a solução para os conflitos entre os mais diversos credos religiosos, existentes até hoje, seria a adoção de um único credo, é mera utopia, seria o mesmo que pretender uma mesma cultura, uma mesma nação, uma mesma língua ou idioma.

O que é ecumenismo se não a tolerância, a bondade, o perdão, a misericórdia, em suma o amor. Os quakers entenderam bem esta questão.

Não disse o Senhor, assim?: não julgueis para não serdes julgados”; “... perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”; “... se amardes os que vos amam que virtude há nisto”; “E por que atentas no argueiro que está no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está em teu próprio olho?”; e como máxima:

E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?

 

8. Duas dificuldades

Há duas dificuldades a serem resolvidas, sem a qual não haverá paz e justiça entre os homens.

Uma é aceitar que ninguém é dono da verdade, e que a verdade é relativizada aos homens porque só o é absoluta em Deus.

Disse Jesus: eu sou o caminho, e a verdade, e a vida...”

Jesus é o evangelho. O evangelho é poder de Deus para a salvação de toda aquele que crê; porque nele se descobre a justiça de Deus. Romanos 1:16/17

A outra dificuldade é que ainda não aprendemos a lei de Cristo:

Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.” Gálatas 6:2

Se tivermos boa vontade haverá paz na terra, e assim glorificaremos a Deus, verdadeiramente, nas alturas.

 

Sem mais, abraço-vos com ósculo santo,

 

Paulo Rogério Pires de Miranda

São Paulo, 01 de março de 2006.

 

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas