Quem descobriu o Brasil? (CC) (a)
(Deverá
“clicar” nas referências, para ter acesso aos textos)
Introdução
Esta
pergunta parece muito ingénua. Pelo menos no Brasil, e também em Portugal,
todas as crianças que vão à escola “sabem” que foi Pedro Álvares Cabral quem
descobriu o Brasil em 1500.
No
Brasil, Cabral é um dos principais personagens da sua história. Já noutros
países de língua portuguesa, talvez não seja bem assim, pois toda a atenção vai
para o primeiro navegador que lá chegou. Por exemplo, na ilha da Madeira os
grandes homens das descobertas foram João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz
Teixeira, que em 1420 descobrem essa ilha e no arquipélago de Cabo Verde,
certamente que conhecem Dinis Dias, que em 1445 descobriu o arquipélago de Cabo
Verde, mas talvez não se lembrem de quem foi Cabral, assim como os meninos
brasileiros conhecem Cabral, mas talvez não se lembrem de quem foi Zarco nem
Dinis Dias.
Mas
haverá consenso em quem foi o primeiro navegador que chegou ao Brasil? Num
assunto quase “oficializado” no Brasil e em Portugal?
Parece
que não. Há alguns que defendem que o descobridor do Brasil foi o espanhol Vincente Yáñez Pinzón (b) que chegou ao Brasil em 26 de Janeiro de 1500.
Mas quem na
verdade foi o primeiro navegador a chegar ao Brasil?
É
este tema que tencionamos investigar neste artigo.
Cronologia das descobertas (c)
Vejamos
em primeiro lugar, qual é a cronologia das descobertas.
1394 Nasce na cidade do Porto, o Infante D.
Henrique o “pai” das descobertas marítimas portuguesas.
1415 Com a conquista de Ceuta no norte de
África, tem início a expansão portuguesa.
1419 João
Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira descobrem a ilha de Porto Santo.
1420 João
Gonçalves Zarco descobre a ilha da Madeira.
1427 São
descobertas algumas ilhas dos Açores e iniciada a sua colonização.
1434 Gil Eanes atinge o Cabo Bojador, limite sul
das terras conhecidas na sua época, considerado o limite habitável da terra.
1445 Dinis
Dias descobre uma ilha de Cabo Verde e todo o arquipélago no ano seguinte.
1460 Pero de Sintra atinge a Serra Leoa, no ano
do falecimento de D. Henrique, o Navegador
1471 Descoberta
das ilhas do Príncipe e de São Tomé.
1472 Gaspar Corte Real descobre a Terra Nova.
1473 Lopes
Gonçalves ultrapassa o Equador.
1487 Bartolomeu Dias atinge o Cabo da Boa
Esperança.
1492 Cristóvão
Colombo descobre a América, convencido de ter chegado à Índia.
1493 Bula pontifical dividindo o mundo em dois
hemisférios.
1494 Tratado
de Tordesilhas entre Portugal e a Espanha para a repartição dos territórios
coloniais que veio substituir a Bula papal.
1498 Vasco da Gama chega a Calecut, na Índia.
1500 Vincente
Yáñez Pinzón chega ao Brasil em 26 de Janeiro de 1500.
1500 Descoberta
oficial do Brasil por Pedro Álvares Cabral no dia 3 de Maio de 1500.
1500 Bartolomeu
Dias chega a Madagáscar.
1501 Envio
da segunda Armada ao Brasil.
1506 Lourenço
de Almeida chega a Ceilão.
1509 Os
Portugueses entram Sumatra.
1514 Jorge
Álvares atinge a China, por Cantão.
1519 Fernão de Magalhães toca no Rio de Janeiro, ao serviço do Rei de Espanha, na primeira
viagem de cricum-navegação.
Após
consultar alguns artigos sobre o assunto, pude concluir que há um certo
consenso, mas sem unanimidade nesta lista, nomeadamente quanto à descoberta do
Brasil.
Descoberta do Brasil
Parece-me
difícil de aceitar que, quer tenha sido Cabral ou Pinzón o primeiro a chegar ao
Brasil, tal descoberta só tenha ocorrido no ano de 1500.
As
minhas dúvidas devem-se aos seguintes factos:
1) Porque em 1493, Portugal não aceitou a Bula Papal
que dividia o mundo em duas partes, uma para Portugal e outra para Espanha,
para no ano seguinte propor à Espanha o Tratado de Tordesilhas que foi
ratificado pelos dois países e dividia o mundo de forma muito semelhante, mas
por outro meridiano mais a ocidente? Se, como dizem, Portugal ainda não sabia
da existência do Brasil, que vantagem teria em propor um meridiano mais a
ocidente? Assim, se o Brasil não existisse, Portugal ficaria com jurisdição
sobre muitas léguas de águas do Atlântico Sul, perdendo no “anti-meridiano”, do
outro lado do mundo (que já se sabia ser esférico mas não se sabia o seu
tamanho), o mesmo espaço, possivelmente com ricos territórios por explorar.
2) Como foi possível Portugal chegar primeiro à Índia
(1498) cujo caminho passava praticamente ao largo da costa brasileira, para
aproveitar os ventos mais favoráveis, como iremos mostrar, sem reparar na
existência do Brasil?
3) Noto um rápido desenvolvimento na sequência das
descobertas:
1471
São Tomé e Príncipe, 1472 a Terra Nova, 1473 Lopes Gonçalves ultrapassa o
Equador (o que dificilmente poderia fazer sem navegar ao largo da costa
brasileira), tudo isto com intervalos de um ou dois anos, para em seguida se
notar uma certa pausa nas descobertas, como se Portugal tivesse desistido da
aventura marítima.
Só
no ano 1487, depois de passados 14 anos, Bartolomeu Dias passa o Cabo das
Tormentas no sul de África entrando no Oceano Índico. O que fizeram os
portugueses durante estes 14 anos, desde 1473 até 1487.
4)
O meteorologista e investigador Dr. Manuel Monteiro Correia, afirma no seu
artigo sobre o observador meteorológico português, que Bartolomeu Dias, a partir de certa altura da
viagem, já depois de ter ultrapassado aquela costa (da Guiné), encontra vento
contrário extremamente forte. Para vencer a dificuldade, faz-se ao largo e
navega, em arco, primeiro para oeste, depois para sudoeste e, a seguir, para
sul. Por fim, encontra ventos gerais de oeste que o levam, com facilidade, ao
Oceano Índico.
Será
que foi tudo questão de sorte? Se os ventos eram contrários, o mais natural
seria a navegação à bolina. Como poderia ele tomar essa decisão se não tivesse
informações correctas do regime dos ventos que iria encontrar? Certamente
informações colhidas por outros navegadores, que antes dele, já teriam estudado
o regime dos ventos e correntes marítimas do Atlântico Sul e não ficaram na
história. Será possível que esses outros navegadores estudassem o regime dos
ventos e correntes na costa brasileira e não tivessem descoberto o Brasil? Ou
não interessava ao Rei de Portugal divulgar essas informações até que o Tratado
de Tordesilhas fosse assinado?
Transportes disponíveis em fins do século XV, início do século
XVI
Para
grandes distâncias, por exemplo, entre Lisboa e Goa, o único meio de transporte
disponível era praticamente o barco à vela. Os meios terrestres eram muito
perigosos, demorados e só uma pequena % sobrevivia a uma aventura dessas.
Para
Portugal dessa época, a importância do Brasil (assim como da Guiné, Angola ou
Moçambique) era o apoio logístico das caravelas e posteriormente também das
naus na rota para o Oriente. Assim, inicialmente, a ocupação da costa
brasileira e da costa de África, limitou-se à construção de fortificações em
pontos estratégicos da rota das índias, onde se acumulavam produtos alimentares
frescos, água potável e posteriormente também marfim e escravos nas fortalezas
em África. A importância da água potável era tal, que até está na origem do
nome duma dessas fortalezas, o Forte Aguada em Goa.
Poderá
parecer estranho a quem não leu os artigos anteriores, que mencionemos logo de
início (a), que o caminho marítimo de
Portugal para Goa passasse pelo Brasil. Mas, repare no seguinte mapa que
apresentamos, onde estão marcados os ventos predominantes, que foi publicado
pelo Dr. Manuel Monteiro Correia no seu artigo O observador meteorológico
português nos descobrimentos e na colonização
A
“História de Portugal” elaborada sob direcção do Historiador Prof. José Hermano
Saraiva, apresenta no seu volume sobre os descobrimentos, alguns mapas antigos
onde estão assinalados os ventos predominantes de acordo com elementos colhidos
nas primeiras viagens dos portugueses, mas este mapa, que apresentamos, foi
desenhado por mim, de acordo com elementos compilados pelo Dr. Manuel Monteiro
Correia que era na altura (1983) o Director do Centro Meteorológico da cidade
da Beira, em Moçambique, numa época em que já tínhamos vários anos de
observação meteorológica, além da informação dos satélites que já cobriam todo
o nosso planeta.
Afinal,
quanto aos ventos predominantes, os antigos já sabiam praticamente o que viemos
a confirmar muitos anos mais tarde. Note-se que as setas indicam somente a
direcção dos ventos predominantes, e o seu comprimento não é proporcional à sua
intensidade como acontece nalguns mapas antigos, pormenor que desconhecia
quando desenhei este mapa de acordo com os elementos compilados pelo
investigador Dr. Manuel Monteiro Correia.
Tanto
Vasco da Gama como os outros navegadores que o precederam, se tentassem sair de
Portugal e navegar sempre para sul, ao largo da costa de África, teriam ventos favoráveis
até ao arquipélago de Cabo Verde, mas daí em diante, teriam ventos contrários e
ainda pior, uma zona de ventos fracos com correntes marítimas contrárias. Mesmo
que tentassem navegar à bolina (d), seria
quase impossível continuar para sul. Pela rota de Vasco de Gama aqui
assinalada, vemos que ele ainda tentou seguir para sul depois de Cabo Verde,
até que desistiu desse rumo e apontou à costa brasileira.
Assim,
todos os barcos que o precederam seriam “obrigados” a rumar à costa brasileira,
depois de Cabo Verde, sempre com vento de popa até atingirem uma latitude que
lhes permitisse contornar o sul do continente africano.
Já
na viagem de regresso a Portugal, a rota mais indicada seria da actual África
do Sul em direcção ao arquipélago de Cabo Verde, pois o vento seria favorável
embora geralmente fraco, mas as correntes marítimas também os levariam na
direcção desejada.
Esta
foi a rota utilizada pelos veleiros portugueses nas viagens entre Portugal e
Goa.
Contexto histórico e cultural dos fins do século XV
Em
fins do século XV, início do século XVI, época em que o Brasil foi descoberto,
o mundo era bem diferente do que é nos nossos dias.
Portugal
e Espanha estavam na época das descobertas marítimas, mas os seus principais
objectivos eram nitidamente económicos. A Europa necessitava das especiarias do
Oriente, em especial das Índias que eram transportadas em caravanas de camelos.
Partiam da Índia através de territórios onde estão hoje o Paquistão, Irão,
Iraque e Mar Mediterrâneo pagando direitos alfandegários em todas as fronteiras
que atravessavam, numa época em que a própria Índia era constituída por muitos
pequenos países.
Certamente
que a descoberta dum caminho alternativo, sempre por mar, concentraria em
Lisboa os lucros de todos os direitos alfandegários dos muitos pequenos países
que era necessário atravessar, inclusive as ricas repúblicas italianas que
detinham o monopólio do seu transporte através do Mediterrâneo, monopólio que
estavam prontas a defender à força da espada.
Para
a mentalidade da época, quem saísse de Portugal, geralmente da cidade de Lagos
ou de Lisboa, só voltaria a encontrar “gente” quando chegasse ao Oriente. Toda
a costa de África e do Brasil, era importante só para abastecimento de água,
alimentos frescos, e se fosse no regresso, também para levar alguns escravos
exóticos, certamente mais valiosos que os escravos europeus, devido à
curiosidade em conhecer outras raças.
De
início, Portugal não se preocupou em ocupar as novas terras que descobriu, nem
tal seria possível, ocupar territórios tão grandes, pois não tinha gente em
quantidade suficiente para tal ocupação. A maior preocupação dos portugueses
foi a construção de pequenos fortes para apoio logístico aos veleiros da rota
das Índias. Assim, na costa brasileira surgiram as cidades de Salvador da Bahia
(1534), Rio de Janeiro (1565) e João Pessoa (1585), todas elas com uma baía
onde os barcos pudessem estar em segurança e ser abastecidos de água potável e
alimentos frescos.
Nas
pequenas ilhas desabitadas, largavam cabras e ovelhas para mais tarde verificar
se tinham sobrevivido, o que seria sinal da vida do ser humano também ser
possível nesses locais.
Muitos
dos primeiros colonos, das zonas ocupadas na costa de África e do Brasil, foram
malfeitores e prostitutas que viram a sua condenação à prisão, substituída pela
colonização dos novos territórios, enquanto para o Oriente foram os portugueses
com maior preparação cultural. Aliás, nesse contexto histórico, essa era uma
atitude perfeitamente aceitável que foi adoptada por praticamente todos os
países europeus que tiveram as suas colónias no continente africano ou
americano.
Quando
vou ao Brasil, alguns brasileiros se têm queixado dessa discriminação em
relação ao Oriente, mas eles próprios, nem nos nossos dias estão dispostos a
deixar as suas casas para irem viver numa aldeia no interior da Amazónia,
esquecendo o que era o Brasil nessa época. Mas ainda hoje se nota que, quer no
Brasil, ou Angola ou Moçambique, as principais cidades estão perto do mar.
Império Português do Ocidente e Oriente
Quando
Portugal atingiu o seu principal objectivo de fundar uma colónia na Índia, mais
concretamente em Goa, em 1505 nomeou D. Francisco de Almeida, não propriamente
Governador de Goa, mas Vice-Rei do Império Português do Oriente.
Assim,
o Império Português ficava com duas capitais. Uma em Lisboa, que se tornou a
capital do Império Português do Ocidente, com jurisdição no território inicial
na Europa, todos os arquipélagos no Atlântico, o Brasil e as colónias na costa
ocidental de África. Outra em Goa, como capital do Império Português do
Oriente, com jurisdição em Moçambique (na costa oriental de África) e todos os
territórios ocupados no Oriente, na Índia como na China e Indonésia.
Lembro-me
de que, até no meu tempo (meados do século passado), quando Moçambique já tinha
um Governador Geral de todas as suas províncias, quem em Moçambique discordasse
duma decisão dum Tribunal provincial, podia recorrer para o Tribunal da
Lourenço Marques (actual Maputo) a capital de Moçambique. Mas acima desse
Tribunal de Lourenço Marques, estava o Tribunal de Goa, e só depois poderia
recorrer para o Supremo Tribunal em Lisboa.
Abolição faseada de escravatura
Decorria o reinado de D. José I, quando, em 12 de Fevereiro de
1761, a escravatura foi abolida por Marquês de Pombal na Metrópole e na Índia.
Contudo, só pelo Decreto de 1854, os primeiros escravos a serem libertados
foram os do Estado e mais tarde os da Igreja pelo Decreto de 1856. E,
com a lei de 25 de Fevereiro de 1869 proclamou-se a abolição da escravatura
em todo o Império Português, até ao termo definitivo de 1878. (e)
Como o Brasil se
tornou independente em 1822, essa lei de 1869 já não se aplicou aos escravos no
Brasil, que só viram a sua liberdade em 13 de Maio de 1888. (f)
Penso
que o facto da libertação dos escravos em território português, ter começado
pelos escravos em Portugal e na Índia, mostra bem o grau de desenvolvimento de
Goa em relação aos outros territórios em África ou no Brasil. Pessoalmente
penso que, o que mais contribuiu para o fim da escravatura foi a mecanização da
agricultura. Foram motivos económicos e não motivos éticos ou religiosos, pois
a Igreja também tinha escravos, o que aliás a Bíblia permite, pois Moisés até
definiu as condições a que um pai teria de obedecer para vender as suas filhas
como escravas em Êxodo 21:7.
(Nalgumas traduções a palavra escrava está traduzida por serva) É natural que
em Portugal ou em Goa, fosse mais fácil a abolição da escravatura, do que nos
locais onde a economia se baseava na agricultura que ainda não estava preparada
para prescindir da mão-de-obra do escravo.
Influência da meteorologia na história do Brasil
Penso
que a meteorologia, em especial o regime de ventos e correntes marítimas terá
atrasado a independência do Brasil, que só surgiu em 7 de Setembro de 1822.
Poderão
alguns brasileiros dos nossos dias perguntar: Como foi possível, um país tão
pequeno como Portugal, manter um império colonial tão grande? Foi o mais
duradouro dos impérios coloniais europeus modernos, sob o nome
“Império Colonial Português” ……… a
presença portuguesa fora da Europa abrangeu quase seis séculos, desde a tomada
de Ceuta em 1415 à independência de
Timor,
em 2002. (g)
Vamos
imaginar que em 1800 se colocava a algum industrial da borracha de Fortaleza ou
de S. Luís, a questão da independência do Brasil.
Certamente
que a resposta seria sempre uma enérgica e pronta reacção a favor da
independência: Já é tempo do Brasil ser independente… já estamos fartos de
enviar os nossos impostos para Lisboa. Viva o Brasil independente e a sua
capital aqui mesmo… em Fortaleza.
O
quê?!! Capital no Rio de Janeiro?! Assim não. Se estamos mal, pior ficaremos.
As rotas para a Europa já estão bem estudadas, já fui algumas vezes a Portugal.
É só embarcar na época própria para a viagem e esperar que os ventos nos levem
aos Açores. Depois para Lisboa só mais uns dias. Para regressar a Fortaleza é
ainda mais fácil. Mas o Rio de Janeiro fica para lá da intransponível Amazónia.
De barco temos ventos favoráveis para ir. Mas depois, como voltamos a casa?
A
resposta a esta questão, teremos de procurar no mapa que apresentamos.
Reparando
na direcção dos ventos predominantes, uma caravela poderia facilmente navegar
de S. Luís ou de Fortaleza até ao Natal, para depois seguir de vento em popa
até ao Rio.
Mas
penso que o nosso brasileiro do século XVII ou XVIII, teria toda a razão em se
preocupar com o seu regresso a casa.
Para
os navios de vela redonda (h) o rumo para
norte seria impossível. A caravela era nessa época, o único tipo de embarcação
que poderia tentar a navegação à bolina para regressar ao norte do Brasil
bordejando próximo da costa, quando nem se pensava na estrada trans-amazónica.
Mas
essa possibilidade da caravela voltar ao norte do Brasil era mais teórica do
que prática, pois significava uma muito incómoda viajem de várias semanas ou
meses enfrentando ventos e ondulação. A melhor rota seria atravessar o
Atlântico a caminho da África do Sul (a tal rota das Índias) para depois seguir
em direcção a norte, numa viagem demorada, onde os ventos são geralmente
fracos, mas mesmo se não houvesse vento, as correntes os levariam na direcção
desejada até próximo de Cabo Verde onde encontrariam ventos favoráveis para o
norte do Brasil.
Mas
há ainda outro problema. Essa rota através do Atlântico Sul, África do Sul e
Cabo Verde, só seria viável no caso pouco habitual do nosso viajante poder
fretar um barco. Se ele simplesmente tentasse apanhar uma embarcação que o
levasse de volta a casa em S. Luís ou Fortaleza, o mais provável e certamente
mais económico, seria apanhar um veleiro da rota das Índias, para onde iria
quando os ventos das monções do Índico fossem favoráveis, para possivelmente no
ano seguinte viajar de Goa para Portugal e depois para o Brasil.
Não
só pela distância a percorrer, como pelo número de dias da viagem, para uma
embarcação à vela, o norte do Brasil ficaria, no regresso, muito mais longe que
Lisboa.
Conclusão
Voltando
ao assunto que tentámos investigar, não posso infelizmente dizer quem foi o
primeiro navegador que chegou ao Brasil, mas como afirmámos, é pouco provável
que tenha sido Cabral ou Pinzón.
Penso
que terá sido outro que não ficou na história, assim como não ficaram com os
seus nomes na história, muitos dos grandes navegadores e tripulantes que deram
as suas vidas pela aventura dos descobrimentos, em obediência ao seu ideal
“Navegar é preciso. Viver, não é preciso”.
O
importante é que o Brasil é uma realidade nos nossos dias. O maior país de
língua portuguesa, que muitos heróis incógnitos ajudaram a construir.
Camilo – Marinha Grande,
Portugal
Novembro
de 2009
(a) Este artigo vem na continuidade dos artigos O observador meteorológico português nos
descobrimentos e na colonização, e Navegação à vela no
Atlântico (CC), cuja leitura aconselho em primeiro lugar, a fim de poder
compreender algumas afirmações do presente artigo.
(b) http://pt.wikipedia.org/wiki/Vicente_Y%C3%A1%C3%B1ez_Pinz%C3%B3n
(c)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cronologia_dos_descobrimentos_portugueses
(d) Quem não souber o que é a navegação à bolina,
encontra uma explicação no ponto 6 do nosso artigo Navegação à vela no
Atlântico (CC).
(e) http://oficinadahistoriad.blogspot.com/2008/12/abolio-da-escravatura-em-portugal.html
(f)
http://pt.shvoong.com/humanities/h_history/1338403-aboli%C3%A7%C3%A3o-da-escravatura-brasil/
(g)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Portugu%C3%AAs
(h) Poderá ver no nosso artigo Navegação à vela no Atlântico
(CC) os tipos de velas duma embarcação.
Bibliografia:
História de Portugal sob direcção de José Hermano Saraiva, nomeadamente o IV
volume de autoria de Luís de Albuquerque.
Estudos
bíblicos sem fronteiras teológicas