Batismo
Consciente (CC)
(Deverá “clicar” nas referências
bíblicas, para ter acesso aos textos)
1.
Porquê este título?
Optamos por dar
a este estudo, o título de “Batismo Consciente”, em vez de utilizar os termos
tradicionais de pedobatismo e anti-pedobatismo,
que são produto da teologia, não só porque não me dirijo exclusivamente aos
teólogos, mas a todo o visitante da minha página, como também porque tais
palavras transliteradas para a nossa língua, derivam de paidion, que em grego significa criança.
Penso que a divisão entre adulto ou criança, não foi muito feliz, pois o principal problema é se o batismo é um acto consciente da parte do batizando, fruto da sua fé em Cristo, ou se pelo contrário, não é necessária a fé do batizando, funcionando assim, não como fruto da sua fé, mas como um ritual destinado a produzir algum efeito espiritual no futuro, ou uma cerimónia necessária à sua entrada na igreja local, afinal não muito diferente do acto social que muitos teólogos pedobatistas dizem rejeitar.
Assim, batismo consciente será o do adulto em pleno uso das suas faculdades mentais, bem como de jovens, que geralmente têm mais estudos e melhor preparação intelectual do que seus pais, e poderá ainda incluir crianças, que possam compreender e pedir conscientemente o batismo por sua própria iniciativa, mas nunca um bebé nos primeiros anos da sua vida, nem um jovem ou adulto que não esteja no pleno uso das suas capacidades mentais. Passaremos a referir-nos a “batismo infantil”, quando se tratar dum bebé ou criança que ainda não tenha atingido a idade de raciocinar e pedir o batismo por sua própria iniciativa.
Penso que não é
possível definir com rigor uma idade limite em que a criança tenha suficiente
entendimento para pedir o seu batismo, mas sob o assunto procuraremos ouvir a
opinião dum médico e dum psicólogo.
2.
Importância relativa do assunto.
O problema que tenciono abordar, não é novo, e certamente que muito pouco poderei acrescentar, a um assunto que já deu origem a tantas polémicas e até serviu como pretexto para guerras sangrentas na Alemanha e na Suiça, especialmente na chamada guerra dos camponeses.
Nalguma literatura que consultei, publicada em Portugal e no Brasil em 1916, 1919 e 1937, fico com a ideia de que havia uma grande polémica sobre o assunto, em que se utilizavam afirmações que, no mínimo, poderei considerar como pouco dignificantes para quem as utilizou. Foi necessário ler com calma, para no meio de tão acalorada polémica e até ataques pessoais, seleccionar as afirmações com eventual fundamento bíblico.
Talvez no nosso tempo, com uma outra mentalidade, já seja possível raciocinar com mais calma e imparcialidade sobre o batismo, um assunto cuja importância ninguém pode negar, mas que não nos parece ser o principal objectivo das igrejas, como pretendem alguns.
Valerá a pena toda a polémica que no passado se levantou sobre o batismo infantil? Será o batismo, um pormenor indispensável para a salvação, como alguns afirmavam?
2.1 - A importância
do batismo para Paulo
Gostaria que os
eventuais leitores deste artigo, na minha página da internet, durante a
leitura, tivessem sempre presentes as palavras de Paulo em 1ª Coríntios
1:14/17 - Dou graças a Deus, porque a nenhum de
vós batizei, senão a Crispo e a Gaio. Para que ninguém diga que fostes
batizados em meu nome. E batizei também a família de Estéfanas; além destes,
não sei se batizei algum outro. Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas
para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se
não faça vã.
Parece que alguma coisa nas nossas igrejas não está de acordo com o pensamento de Paulo, pois geralmente considera-se o batismo como a meta a atingir, como o ponto mais alto da nossa vida espiritual, em que se dá todo o realce ao facto de alguém ter sido batizado em determinada igreja, pois tal facto funciona como uma identificação do crente com a sua igreja, e outros até consideram o batismo como a porta de entrada na Igreja do Senhor, confundindo igreja local ou denominação, com a Igreja do Senhor.
3. Ideias básicas. O que é um sacramento, ou ritual, ou ordenança,
ou mandamento.
Menciono os
quatro termos que têm servido para designar o batismo, que para uns é um
sacramento, outros preferem o termo ritual ou ordenança, e outros chamam-lhe
mandamento. Só este pormenor já tem dado origem a polémicas entre os teólogos.
Penso no entanto, que esse pormenor é absolutamente secundário, pois o
importante é saber o que é o batismo em geral e em particular o batismo
infantil.
A esmagadora
maioria das igrejas evangélicas não aceita a doutrina da regeneração batismal,
ou seja, a salvação pelo batismo, e no caso do batismo infantil, nunca esteve em
dúvida, nem nas igrejas do protestantismo histórico, que as crianças que
morressem sem batismo não corriam qualquer perigo. Em muitos casos o batismo
acaba por se tornar um meio de mostrar a que igreja se pertence. Só me lembro
dum único caso numa igreja do protestantismo tradicional em Portugal, em que
uma revista de “Educação Cristã” !!! por influência do
ecumenismo considerou o batismo como um meio de remissão de pecados, para
justificar a parte final do Credo Niceno (aceite pelos católicos), que afirma ... Professamos um só batismo para remissão dos pecados. Compreende-se a dificuldade, pois é grande a influência, no
protestantismo histórico, quer do Credo Niceno, quer do Credo Romano (Conhecido
como Credo Apostólico, designação que me recuso a aceitar). Embora considere
estes dois credos, como respeitáveis documentos da história do cristianismo,
não deixam de ser produtos da teologia, não são palavra inspirada e como tal
devem ser considerados (produtos da teologia). No caso do Credo Romano, a
afirmação de que Jesus Cristo ... nasceu da
Virgem Maria, padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos.... certamente que foi bem útil e oportuna no seu contexto
histórico, em que se considerava Cristo como verdadeiro Deus, mas não
verdadeiro homem. No entanto, na nossa época, confere uma desastrosa ênfase a
Jesus Cristo como homem (já ninguém duvida disso), negligenciando a sua
natureza divina, e parecendo até negar a sua eternidade, pelo facto de ter
nascido da Virgem Maria. Não seria melhor deixar ficar estes velhos credos no
seu lugar na história, onde têm o seu valor, em vez de os “trazer” para os
nossos dias?
Mas então, o
que é, ou para que serve o batismo?
A fim de não
nos tornarmos repetitivos, sobre o assunto, aconselho a leitura do meu artigo
“Batismo por Aspersão”, que se encontra nesta página da internet, em especial o
seu primeiro capítulo “Significado e simbolismo do batismo”, em que chego à
conclusão de que o batismo com água é o sinal visível do batismo com o Espírito
Santo. É somente pelo batismo com o Espírito Santo que se dá a regeneração e a
entrada na Igreja do Senhor. O sacramento, ou ritual, ou ordenança, ou
mandamento do batismo será sempre consequência e nunca origem do batismo do
Espírito Santo, cuja acção está e estará sempre, fora do controle dos pastores
e das igrejas. Assim, penso que o batismo infantil não faz sentido, e não tem
fundamento bíblico, como iremos demonstrar.
4. Qual a importância do batismo infantil, para os que o defendem?
Antes
de examinar os argumentos bíblicos apresentados para justificar o batismo
infantil, vamos tentar compreender os que o defendem. Vejamos porque defendem o
batismo infantil.
4.1 – No caso da
população católica e ortodoxa, a sua grande preocupação é a salvação da criança
(ou adulto) que não tenha sido batizado, embora, como o Pastor Manuel Pedro
Cardoso afirma no seu artigo Baptismo Infantil (MC)
até o Catolicismo já abandonou a ideia do
Limbo, para onde iriam as crianças
que viessem a falecer sem o batismo.
Philipe de Landes (pedobatista),
no seu livro “Estudos Bíblicos sobre o Batismo de Crianças”, publicado em 1947,
afirma que: Não há nenhuma passagem
bíblica que, bem interpretada, ensine a doutrina da regeneração batismal, mas
há pelo contrário muitas passagens que categoricamente condenam as cerimónias e
os ritos religiosos como meios de alcançar a salvação. S. Paulo afirma que nada
vale a circuncisão ou a incircuncisão, mas antes o ser uma nova criatura Gálatas 6:15. O rito do batismo nenhum poder tem para
regenerar; é apenas um símbolo da regeneração, isto é do novo nascimento
produzido pelo poder de Deus João 1:13 .
4.2 – Outro
pressuposto de que partem os que defendem o batismo infantil, é que o
sacramento do batismo é a “porta” de entrada na Igreja.
Mas
afinal, em que igreja ? Penso que há aqui
uma confusão entre a igreja local, organização humana, como por exemplo a
Igreja dos Irmãos, a Igreja Metodista, a Igreja da Assembleia de Deus, as
Igrejas Batistas, a Igreja Católica etc.... e a Igreja do Senhor ou Igreja
Universal, que é o conjunto de todos os remidos, de todos os lugares e
todos os tempos, em que nenhum sacramento poderá interferir.
Certamente
que pelo batismo, o adulto ou criança ou bebé, se identifica com a sua igreja,
passa a ser membro dessa igreja. (No caso do bebé, nas igrejas pedobatistas, será “membro não-comungante”, ou como sugere
o Pastor Cardoso, no referido artigo, “membro não-professo”, expressão que me
parece bem melhor). Seria impensável que alguma igreja ou algum pastor tivesse
poderes para admitir alguém na Igreja de Jesus, o conjunto dos remidos de todos
os tempos e de todos os lugares, pois Jesus é a única porta dessa Igreja.
Segundo Apocalipse
3:7 Jesus é aquele ...que tem a chave de David; o que abre e ninguém fecha; e
fecha e ninguém abre.
E
que diríamos quando um crente é excluído da sua igreja? Será que a igreja que exlui tem poderes para fechar as portas da Igreja de
Jesus?!!
4.3 – Outra ideia
que transparece dos textos pedobatistas é a de que a
criança não batizada, fica de certa maneira abandonada pela sua igreja, ficando
impossibilitada de entrar nos caminhos do Senhor, ou pelo menos, com esse
caminho de certa maneira dificultado.
É
compreensível, e até louvável, esta preocupação com as crianças, mas penso que
a solução adoptada para as ajudar, é fruto duma mentalidade ritualista. O
batismo, assim como todo o ritual religioso, destina-se somente a dar
testemunho duma realidade espiritual e nunca poderá ser a sua origem. É pena o batismo infantil não poder fazer
cristãos, pois nesse caso o protestantismo tradicional teria muito mais jovens
que foram batizados na tenra infância.
Na
época em que vivemos, época de secularização com forte apelo ao raciocínio, já
há pouco “espaço” para uma religião mística com ênfase nos rituais. A
experiência das últimas décadas tem mostrado que o melhor meio de mobilizar os
jovens é através de escolas dominicais bem organizadas, em que os jovens sejam
incentivados ao estudo e investigação bíblica, em que sejam incentivados a
“discordar com base bíblica” em vez se serem pressionados a adoptar uma atitude
passiva de meros receptores das ideias dos seus pastores ou professores de
escola dominical.
5. Argumentos apresentados a favor do batismo infantil.
Procurei
investigar e seleccionar os argumentos a favor do batismo infantil. Fui à
biblioteca do Seminário Evangélico de Teologia, cuja tradição está mais
relacionada com o batismo infantil, e procurei ler os livros que têm servido
para a formação de várias gerações de pastores do protestantismo tradicional,
embora este Seminário seja propriedade da Igreja Evangélica Presbiteriana de
Portugal, que tem uma posição mais aberta que o típico protestantismo
tradicional, pois tanto aceita o batismo como a apresentação de crianças.
Pessoalmente, penso que é a atitude mais correcta. Não vale a pena levantar
problemas e escandalizar os crentes devido a um pormenor não essencial à
salvação. É verdade que essa imparcialidade nem sempre tem funcionado, pois tem
havido uma certa pressão a favor do batismo infantil, e os crentes favoráveis à
apresentação de crianças não têm apresentado os seus argumentos, ou talvez não
lhes tenha sido dada oportunidade para exporem os motivos da rejeição do
batismo infantil. A apresentação de crianças tem sido mais tolerada do que
divulgada em pé de igualdade com o batismo infantil. Tenho dúvidas, por
exemplo, de que fosse possível este estudo ser publicado nalguma revista da
IEPP, mas se isso vier a acontecer, darei graças a Deus por esta abertura,
infelizmente pouco vulgar nas igrejas evangélicas, quer favoráveis ao batismo
infantil, quer defendendo a posição contrária.
Todos
são unânimes em concordar que não há em todo o Novo Testamento, passagens
didácticas sobre o batismo infantil que se possam utilizar de acordo com as
regras da hermenêutica, para se firmar uma sólida doutrina, sobre o batismo
infantil. O nosso Professor, Pastor Manuel P. Cardoso refere-se à ausência de uma referência explícita no Novo
Testamento que justifique um sim ou um não ao baptismo infantil.
No
entanto, vários argumentos, nem sempre coincidentes e por vezes até
contraditórios, têm sido apresentados para justificar o batismo infantil, tais
como:
Para
que as crianças possam pertencer à Igreja.
Porque
as elas são crentes.
Porque
não podem crer mas os pais crêem por elas.
Porque
estão perdidas devido ao pecado original.
Porque
seus pais são crentes.
Porque
nasceram na Igreja, etc. etc.
Vamos
examinar os principais argumentos.
Sobre
a posição contrária, o anti-pedobatismo, não tive
acesso a muita literatura, mas como o Pastor Manuel P. Cardoso afirma no seu
artigo que os argumentos dos anabaptistas
eram os mesmos que hoje são usados contra as Igrejas que baptizam crianças,
julgo haver maior coerência nos argumentos dos que defendem o batismo só de
pessoas conscientes. No entanto, nas
livrarias evangélicas ligadas às igrejas anti-pedobatistas,
não encontrei literatura desenvolvida sobre o assunto, salvo pequenas
referências em livros de evangelização. O único livro, contrário ao batismo
infantil, que aborda o assunto com certo desenvolvimento, encontrei-o na
biblioteca do próprio Seminário Evangélico de Teologia.
5.1 Vamos iniciar
esta listagem dos argumentos apresentados a favor do batismo infantil, pelo
argumento mais tradicional.
Segundo
Lutero, as crianças devem ser batizadas porque podem crer e podem ter fé.
Calvino,
que defende que o batismo de João e o batismo cristão são um só (Institutas
Volume IV Capítulo XV – 7), também admite que as crianças tenham algum conhecimento
de Deus, o que justifica o seu batismo (Institutas Volume IV Capítulo XVI – 19)
Wesley,
no seu tratado sobre o batismo afirma que as crianças, devido ao pecado
original, não podem ser salvas sem o batismo.
Penso
que nos nossos dias, este argumento já não é muito utilizado pelos adeptos do
batismo infantil. Só uma única vez, um pastor com formação luterana, ao serviço
da Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal me apresentou o argumento de que
as criança devem ser batizadas “porque têm fé, e ninguém pode garantir que elas
não pensem”, justificando a sua afirmação pelo facto dum bebé com alguns dias
de vida já reconhecer a sua mãe.
A respeito da possibilidade do bebé, com alguns dias, ou mesmo alguns meses de vida, ter conhecimento de Deus ou ter alguma capacidade de raciocínio e poder de decisão, para se arrepender e pedir, ou pelo menos desejar conscientemente o batismo, resolvemos pedir a opinião a três médicos e dois psicólogos, tendo recebido até ao momento, as seguintes opiniões:
Prof. Victor Franco
– Professor de Psicologia da
Universidade
de Évora
1-
A questão do baptismo de crianças é uma questão teológica e de prática
religiosa sobre a qual a Psicologia não tem de dar opinião; da mesma forma que
não podem ser argumentos psicológicos a fundamentar ou legitimar tal prática.
2-
O desenvolvimento cognitivo do bebé não se organiza, nos primeiros tempos de
vida, como verdadeiro pensamento. As investigações feitas desde há 50 anos (e
de que Piaget será o nome mais conhecido) mostram que o pensamento das crianças
até aos 2 anos é pré-lógico, pré-verbal e não representativo (sem representação
mental da realidade).
3-
Se o baptismo e a decisão/conversão forem uma questão de compreensão simbólica
de um acto abstracto, então só bastante mais tarde no desenvolvimento infantil
estão completas as estruturas lógicas que o permitem.
4-
Piaget designa o período até aos 2 anos de Pensamento sensório-motor. Porque o
pensamento se organiza em termos de acção sobre os objectos e em função das
modalidades perceptivas. A criança sente (vê, ouve, etc..), organiza
(pré-logicamente) as suas emoções dentro
dos quadros perceptivos da sua realidade interna e externa, mas sem
representação mental nem “pensamento”.
5-
Por tudo isto não pode decidir (não organiza simbolicamente o pensamento) nem
comunicar a decisão (pensamento pré-verbal). A defesa do batismo dos bebés não
pode em caso algum fazer-se como base num argumento de “conversão” ou
“decisão”, ou de argumentos científicos relacionados com as competências cognitivas
das crianças.
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Assistente
Graduado de Clínica Geral
Leiria
Parece-me
óbvio que o batismo de recém-nascidos nunca poderá ser defendido com base numa
decisão consciente do próprio.
O
desenvolvimento cognitivo das crianças é variável. Há no entanto uma “média”
que nos permite estabelecer desvios, quer no sentido deficitário (atraso
mental), quer no sentido contrário (sobredotados), conforme os grupos etários.
Penso
que, muito dificilmente uma criança com menos de 8 – 10 anos de idade, poderá
passar pela experiência de “conversão”, sujeitando-se voluntariamente ao
batismo, de uma forma consciente e não apenas por qualquer factor emotivo
súbito.
NOTA:
Estamos receptivos à colaboração de outros profissionais, de certa forma
ligados a esta questão, psicólogos, médicos etc. que nos queiram enviar suas
opiniões sobre este assunto.
Resolvemos
também pedir a opinião a um amigo, o Senhor Orlando Ascenso, que se dedica à
agro-pecuária, principalmente à criação de vacas leiteiras, para ver como
reagem alguns animais, nos seus primeiros dias de vida.
Nas vacas leiteiras, geralmente o bezerrinho fica só umas horas com a vaca sua mãe, até a vaca acalmar e começar a produzir leite. Depois, o bezerro é afastado definitivamente de sua mãe, alimentado com leite artificial e o leite da vaca aproveitado para consumo humano. No entanto, nos casos de pessoas que ainda usam o sistema tradicional, criando o bezerro com sua mãe, dizem que inicialmente o bezerro não reage, mas ao fim de alguns dias já conhece a vaca sua mãe.
Quase
todos os pintainhos, nos nossos dias, nascem numa chocadeira, mas quando são
criados pelo sistema natural e há várias galinhas com pintainhos, poderá
momentaneamente algum deles seguir outra galinha até ouvir o piar da galinha
sua mãe, para a partir desse instante correr para a sua mãe. Nessa altura,
quando a galinha se levanta para esgravatar na terra para os seus pintainhos,
eles já têm um ou mais dias de vida.
No caso das porcas, cada leitãozinho, não só conhece a sua mãe, como vai sempre mamar na mesma teta da sua mãe porca. Não será isso uma prova de “inteligência” superior à do bebé humano? Ou estaremos a confundir inteligência com instinto?
5.2 O argumento
mais consistente a favor do batismo infantil, que também é defendido pelo
Pastor Manuel Pedro Cardoso, Reitor do Seminário Evangélico de Teologia, é o
que considera o batismo na continuidade da circuncisão, ou seja, a circuncisão
era “o batismo do Velho Testamento”.
Convido o visitante da minha página a ler o seu artigo Baptismo Infantil (MC),
caso ainda o não tenha lido.
É uma argumentação bem apresentada, como seria de esperar, mas a minha discordância com o meu Professor, está nos pressupostos em que assenta, pois começa por afirmar que a Igreja Cristã já existia no Velho Testamento, posição que não considero muito defensável biblicamente.
Também
Alfredo Teixeira (Campinas 1919) afirmou que O Judaísmo é, pois, a Igreja Cristã num estágio mais atrasado, e o
Cristianismo é a Igreja Judaica plenamente evoluída e transfigurada.
Penso que esta ideia não é nova, e ainda bem que apareceu logo no início da Igreja de Cristo, com os judaizantes que considerando essa continuidade afirmavam que para se ser cristão era necessário, primeiro ser judeu e ser circuncidado, para depois aceitar o Evangelho. Era a subordinação da Igreja de Cristo ao judaísmo, ou a tal continuidade da Igreja antes e depois de Cristo, que Paulo rejeitou.
Não
há dúvidas de que há uma inegável relação entre judaísmo e cristianismo (e até
poderíamos acrescentar o islamismo). Algumas passagens, como Hebreus 1:1/2 Havendo Deus
antigamente falado muitas vezes e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas,
a nós, falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho..., quando examinadas
isoladamente, podem dar a ideia dessa continuidade, judaísmo/cristianismo bem
como certas afirmações referentes aos “nossos pais” quando as epístolas eram
dirigidas a judeus cristãos. Temos também as palavras de Estêvão em Actos 7:37/38 Este é aquele
Moisés, que disse aos filhos de Israel: O Senhor vosso Deus, vos levantará, de
entre os vossos irmãos, um profeta como eu, a ele ouvireis. Este é o que esteve
entre a congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai, e com
os nossos pais, o qual recebeu as palavras de vida, para no-las dar.
Talvez
se possa dizer que o Judaísmo foi o “berço do Cristianismo”. O “berço do
Cristianismo” mas nunca o Cristianismo da antiguidade, nem o pai do
Cristianismo, que foi somente Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Certamente que é lícito, a teologia considerar para efeitos de estudo, uma continuidade entre o povo de Israel, a Igreja Cristã, e o Islão, ou uma continuidade entre todos que procuram aproximar-se de Deus, incluindo judeus, hindus, islâmicos, budistas etc. É lícito para estudo, para reflexão teológica, mas só para isso.
Para se firmar uma doutrina, e neste caso a continuidade do “Povo de Deus” do Velho Testamento com a “Igreja de Cristo”, para com essa continuidade “transplantar” para o cristianismo as ideias do judaísmo, temos de ver se essa foi a intenção de Cristo, o fundador da sua Igreja.
5.2.1 - O termo Igreja aparece pela
primeira vez em Mateus
16:18. Não se encontram referências
em todo o Velho Testamento e também muito poucas são as referências nos
evangelhos, embora haja abundantes referências à Igreja no livro de Actos e nas
epístolas.
5.2.2 - Jesus nunca manifestou preocupação com essa
continuidade, nem com a substituição do sumo-sacerdote ou do Sinédrio por novos
elementos, como seria necessário se a sua Igreja viesse a substituir, ou de
alguma maneira, estivesse na continuidade da organização religiosa
veterotestamentária.
5.2.3 - Em Mateus 5 aparece
várias vezes a expressão Ouvistes que foi dito aos
antigos... eu, porém, vos digo... o que mostra bem que os seus
discípulos iriam aprender um novo conceito de espiritualidade que já nada tinha
a ver com o passado e a sua experiência anterior.
5.2.4 - A Lei foi dada ao Povo de Israel e era uma lei onde havia racismo e forte discriminação sexual. Como todas as religiões, estava relacionada com um povo, uma cultura, um local. A Igreja de Jesus não tem fronteiras para o seu alargamento, e as suas portas estão abertas a todos os povos, em pé de igualdade. Ao contrário das outras religiões, o cristianismo não está limitado ou condicionado a nenhum povo, nenhuma cultura nem nenhum local.
5.2.5 - No encontro
com Nicodemos, Jesus não falou em “pequenas rectificações na sua teologia” ou
em qualquer esclarecimento complementar, mas em nascer de novo. O seguidor de
Jesus de Nazaré não é o judeu transformado e “melhorado”, mas aquele que nasce
de novo. É uma criatura completamente nova. Portanto, o Cristianismo é
completamente novo, completamente diferente do que “diziam os antigos”. Ser
judeu e pertencer ao povo de Deus era condição que se herdava, e Nicodemos
estava nessa situação, mas ninguém é cristão por nascimento, ou por batismo. É
necessário o novo nascimento.
5.2.6 - Segundo Mateus 16:18 Pois, também, eu
te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Jesus refere-se, não a remodelar, reformar, ou purificar, mas a edificar
a sua Igreja. Edificar é fazer algo de novo, que ainda não existia.
5.3 – O livro de
Actos dos Apóstolos, regista o batismo de cinco famílias inteiras, e é muito
improvável que não houvesse crianças nas famílias batizadas, numa época em que
as famílias judaicas eram muito numerosas. Será que eles eram todos pessoas
idosas, com filhos já adultos, que já não pertenciam às suas “casas”, com o
significado que a palavra “casa” tinha nessa cultura?
Vejamos as passagens:
Cornélio
Actos 10:2 Piedoso e temente
a Deus, com toda a sua casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e de
contínuo orava a Deus.
...................
Actos 10:24 E no dia imediato,
chegaram a Cesareia. E Cornélio os estava esperando, tendo já convidado os seus
parentes e amigos mais íntimos.
...................
Actos 10:44 E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito
Santo sobre todos os que ouviram a palavra.
...................
Actos 10:48 E mandou que fossem batizados em nome do Senhor....
Lídia
Actos 16:14/15 E uma certa mulher,
chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus,
nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração, para que estivesse atenta ao que
Paulo dizia. E, depois que foi batizada, ela e a sua casa, nos rogou,
dizendo: Se haveis julgado que eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa, e
ficai ali. E nos constrangeu a isso.
Carcereiro
de Filipos
Actos 16:33/34 E, tomando-os ele
consigo, naquela mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões; e logo foi
batizado, ele e todos os seus. E,
levando-os a sua casa, lhes pôs a mesa; e, na sua crença em Deus, alegrou-se
com toda a sua casa.
Crispo
Actos 18:8 E Crispo,
principal da sinagoga, creu no Senhor, com toda a sua casa; e muitos dos
coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados.
Estéfanas
1ª Coríntios
1:16/17 E batizei também a família de Estéfanas; além destes, não
sei se batizei algum outro. Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para
evangelizar....
Não
me parece que estas passagens provem o batismo de bebés, ou que de alguma
maneira nos levem a pensar ser muito improvável que não houvesse batismo de
bebés, embora pudesse haver batismo de jovens ou mesmo crianças em idade de
raciocinar. Ninguém é contra o seu batismo, desde que as crianças tenham já
idade suficiente para “crer”, “temer a Deus”, “alegrar-se” etc,
pedindo assim conscientemente o seu batismo.
É
bem possível, que os bebés ou crianças de tenra idade, tivessem sido
simplesmente esquecidos, nestas passagens. Não considero correcto dar a todos
os pormenores uma ênfase que não estava na intenção de Lucas ao escrever o
livro de Actos, mas iremos admitir que está correcta a atitude dos pedobatistas na importância que dão a estes pequenos
pormenores.
Vejamos
a que conclusão poderíamos chegar?
Quem
defende o batismo infantil, com a fé dos pais, na leitura destas passagens,
costuma colocar toda a ênfase nas passagens sublinhadas.
Convido o leitor a efectuar nova leitura, sem se deixar influenciar pelas palavras sublinhadas, pois a explicação, quase sempre está no próprio contexto das passagens em estudo.
No
caso de Cornélio, ele era Piedoso
e temente a Deus com toda a sua casa.
Portanto, caso houvesse crianças, elas eram também como seu pai, piedosas e
tementes a Deus. Ora isso só é possível em crianças de certa idade.
No
caso de Lídia, não podemos esquecer
que não estamos a ler uma descrição dos nossos dias, ignorando o contexto
cultural em que Lídia viveu. Para quem tiver alguns conhecimentos dessa
cultura, é impensável que Lídia tivesse filhos, pois nesse caso teria também
marido, e talvez não fosse a única esposa. Como poderia ela tomar decisões em
lugar do seu marido, convidando estranhos para entrar em sua casa? E mesmo que
tal acontecesse, será que Paulo iria provocar tal escândalo para a cultura da
época, entrando em casa de Lídia sem ser convidado pelo seu marido, o que
certamente iria afectar a idoneidade da jovem Igreja de Filipos?
Certamente
que Lídia seria solteira, e a sua “casa”, de acordo com o significado da
palavra casa nessa cultura, seria formada pelas suas criadas ou colaboradoras
na sua profissão.
No
caso do Carcereiro de Filipos, a
explicação está no versículo 34, onde vemos que este alegrou-se com toda a sua casa,
informação que nos permite, rejeitar a hipótese de haver bebés que não se podem
alegrar conscientemente com a pregação.
No
caso de Crispo, esta passagem é bem
elucidativa se não nos deixarmos influenciar pela ênfase que é colocada nas
palavras sublinhadas. Há aqui uma palavra muito importante, que aparece duas
vezes, a palavra crer. Não só Crispo creu no Senhor, com toda a sua casa,
como também muitos coríntios creram, e o batismo aparece como uma
consequência da sua fé. Também aqui é possível que houvesse crianças, mas
crianças com idade suficiente para crer no Evangelho.
No
caso de Estéfanas, trata-se duma breve
referência em que Paulo de maneira nenhuma defende o batismo infantil e até nem
dá grande ênfase ao batismo. Pouco se sabe da família de Estéfanas, mas podemos
ver que o mesmo Paulo diz em 1ª Coríntios 16:15 Agora vos rogo,
irmãos (sabeis que a família de Estéfanas é as primícias da Acaia, e que se tem
dedicado ao ministério dos santos) que esta família se dedicava ao
trabalho da Igreja, sem se fazer qualquer excepção de algum membro menor desta
família, pelo que até neste caso, teríamos de afastar a possibilidade de haver
batismo de alguma criança sem idade para compreender o seu significado, se,
como dissemos, quiséssemos dar um significado especial a todos estes
pormenores, como pretendem os que defendem o batismo infantil.
5.4 – Não há nenhuma
passagem neotestamentária que prive as crianças filhas de pais crentes, de
pertencer ao Povo de Deus, mas pelo contrário, encontramos ali abundantes
confirmações deste privilégio. Pedro, no dia do Pentecostes afirmou em Actos 2:39 Porque a promessa
vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a tantos quantos Deus, nosso Senhor,
chamar. Mais adiante, no versículo 41 De sorte que foram batizados os
que, de bom grado, receberam a sua palavra... vemos que o rito de admissão
foi o batismo.
Pelo
contexto desta passagem, lendo desde o versículo 37, verificamos que houve
arrependimento da parte dos que ouviam a Pedro no dia do Pentecostes e surgiu a
pergunta: Então o que podemos fazer? A resposta de Pedro no versículo 38 dá
toda a ênfase no arrependimento e consequente batismo.
Não
estamos perante um estudo teológico sobre o batismo infantil, nem é esse o
objectivo desta passagem, pois tal não se encontra em todo o Novo Testamento,
como todos são unânimes em afirmar. Mas qual é a promessa que dizia
respeito a eles e seus filhos? A resposta encontra-se no versículo 33, a
promessa do derramamento do Espírito Santo para salvação e regeneração de todo
o pecador. Certamente que incluía os filhos dos que lá estavam, mas só os
filhos desses? E os seus netos e bisnetos? Será que não é também para nós 20
séculos mais tarde? O facto da promessa ser para os seus filhos, não implica
necessariamente o seu cumprimento imediato.
Mais
importante é o citado versículo 41 em que se verifica que só foram batizados os
que de
bom grado receberam a sua palavra,
estando portanto afastada a possibilidade de haver crianças de tenra idade.
5.5 – Será que
criancinhas inconscientes, sem fé em Jesus o Cristo, podem ser regeneradas?
Jesus disse em Marcos
10:14/15 ... Deixai vir os meninos a mim, e não os impeçais, porque dos tais
é o reino de Deus. Em verdade vos digo que, qualquer que não receber o reino de
Deus como menino, de maneira nenhuma entrará nele. Sendo dos tais
o reino de Deus, já haviam nascido de novo, é o mesmo que afirmar a sua
regeneração. João Batista, segundo vemos em Lucas 1:15, foi
regenerado desde o ventre de sua mãe. Todos os remidos do Senhor, foram por
Deus escolhidos antes da fundação do mundo, segundo Efésios 1:4/5.
Portanto, se as crianças inconscientes podem ser regeneradas, também podem ser
batizadas, sendo o batismo apenas símbolo ou sinal exterior da regeneração.
Em
primeiro lugar, o que é o “reino de Deus”?
Esta palavra não tem tradução correcta na cultura ocidental, que identifica o reino com determinada área em que um rei exerce a sua influência. Alguns biblistas preferem a expressão “reinado” em vez de “reino”, pois nas línguas originais referia-se mais a uma influência do que a um local onde essa influência se exercia. Por exemplo, quando Israel caminhava pelo deserto, já era um reino, embora não tivesse território. Assim, reino de Deus, é a influência divina que se manifesta no comportamento das pessoas e sua maneira de pensar, sem que a ideia de posse do território estivesse necessariamente implícita.
Uma
das características do cidadão do reino de Deus, é ter uma mentalidade de
confiança idêntica à das crianças.
Por
vezes, temos de estabelecer uma hierarquia das doutrinas. É verdade que todos
nós nascemos com as consequências do pecado de Adão, mas quem seria capaz de
condenar um bebé, filho de pais crentes ou mesmo de pais descrentes?.... Muito
menos Cristo o fará, pois ele está acima da teologia, e esta passagem é bem
clara. Para quê complicar o que é tão simples? Como muito bem afirma o nosso
Professor, Pastor Manuel P. Cardoso, embora defendendo uma posição diferente da
minha, as crianças não precisam do baptismo.
Quanto
à passagem mencionada de Lucas 1:15, a
expressão que encontro nas traduções de Almeida, Jerusalém, TEB ou Matos
Soares, não é regenerado, mas sim cheio ou pleno ou repleto do Espírito
Santo. O simples facto de alguém ser influenciado, ou cheio, ou utilizado pelo
Espírito Santo, não implica necessariamente a regeneração, caso contrário a
jumenta de Balaão também teria sido regenerada visto que foi um instrumento do
Senhor Números 22:28.
Regenerar é gerar de novo, nascer outra vez. Como será possível ser regenerado
quem ainda nem uma única vez nasceu?
É
verdade que todos os remidos do Senhor foram escolhidos por Deus antes da
fundação do mundo, mas isso não implica que já tenham aceite o Evangelho e
estejam em condições de ser batizados, pois alguns ainda nem nasceram.
5.6 – A cerimónia da
apresentação de crianças não é bíblica e trata-se duma cópia incompleta da
apresentação do Velho Testamento.
Penso que este argumento apresentado muitas vezes pelos adeptos do batismo infantil demonstra uma mentalidade ritualista e sacerdotal que pouco ou nada tem a ver com a liberdade neotestamentária. Poderíamos também perguntar qual o fundamento bíblico para a confirmação?
Mas,
para se apresentar alguma coisa ao Senhor, ou para se dar graças, por exemplo,
pela cura duma doença, ou pelo sucesso num exame escolar, ou por conseguir um
emprego, ou pelo nascimento dum bebé etc. é necessário que haja fundamento
bíblico? Se um Pastor disser que não se pode fazer por não ser bíblico, o que
aconselho é que se dê graças à mesma, com ou sem Pastor, pois Deus é nosso Pai,
e nenhum verdadeiro filho pode tolerar que alguém, mesmo o Pastor mais
consagrado lhe venha ensinar como deverá falar com o seu próprio pai, pois isso
seria uma intolerável interferência entre Pai e filho, seria esquecer o aviso
de Paulo em Gálatas
5:1 Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não
torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão.
5.7 - Alfredo Teixeira (pedobatista)
no seu livro “Controvérsia Baptista”, afirma na página 10. É evidente a
razão moral porque um adulto precisa ter fé para ser salvo e baptizado: Trata-se
de um ente livre a quem nem a própria salvação pode ser imposta. Quanto às
crianças, é evidente o contrário: não precisam de ter fé para serem salvas e,
por maioria de razão, para serem baptizadas. Já o seu “colega pedobaptista”
Philippe Landes, no seu livro “Estudos Bíblicos sobre o Batismo de Crianças”
afirma nas páginas 139 e 140, que O rito do batismo nenhum poder tem
para regenerar; é apenas um símbolo da regeneração, isto é do novo nascimento
produzido pelo poder de Deus João 1:13. Então a que conclusão podemos chegar? As
crianças não necessitam de fé para serem batizadas, mas se o batismo é símbolo
da regeneração, então as crianças são regeneradas sem fé?
Já
estou a prever que a resposta será que têm a fé dos pais, argumento que carece
de fundamento bíblico neotestamentário. Se aceitar que alguém pode ser batizado
com a fé de outro então teria também de aceitar o batismo pelos mortos 1ª Coríntios 15:29
5.8 – Segundo Philippe Landes, Devem ser batizadas somente as crianças que forem julgadas regeneradas. Os filhos de pais crentes presumivelmente são regenerados, em virtude das promessas que lhes foram feitas por Deus. Génesis 17:7, Isaías 59:20/21, Actos 2:39 e Actos 3:25/26
Vejamos as
passagens mencionadas por Philippe Landes:
Génesis 17:7 E estabelecerei o meu concerto
entre mim e ti, e a tua semente depois de ti, nas suas gerações, por concerto
perpétuo, para te ser a ti por Deus, e à tua semente, depois de ti.
Nesta
passagem, Deus fala a Abraão, e o concerto a que se refere é a Velha Aliança.
Isaías 59:20/21 E virá um
Redentor a Sião e aos que se desviarem da transgressão em Jacob, diz o Senhor.
Quanto a mim, este é o meu concerto com eles, diz o Senhor: o meu espírito, que
está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se desviarão da
tua boca, nem da boca da tua posteridade, nem da boca da posteridade da tua
posteridade, diz o Senhor, desde agora e para todo o sempre.
Também,
nesta passagem, é Deus quem fala a Isaías e esta promessa, embora mencione já a
vinda do Messias, refere-se à posteridade de Isaías e não dos gentios, como é o
nosso caso.
Actos 2:39 Porque a promessa vos diz respeito
a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe; a tantos quantos Deus,
nosso Senhor chamar.
Nesta
passagem, a promessa de Deus, inicialmente limitada ao povo de Israel, não só
os que estavam presentes como os que estavam longe, torna-se extensiva a tantos quantos Deus, nosso Senhor chamar.
E o
que era necessário para beneficiar dessa promessa de Deus? A resposta está no
versículo 38 E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado
em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o Dom do
Espírito Santo.
O
versículo 41 contém uma descrição que não deixa margem para dúvidas quanto à
necessidade duma decisão pessoal. De sorte que foram batizados os que, de bom
grado, receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil
almas. É pouco provável que ninguém
entre essas três mil almas, tivesse
consigo seus filhos pequenos, mas o versículo 41 é bem claro, pois só foram
batizados os que receberam a sua palavra.
Entre três mil batismos, não houve somente um na fé dos seus pais.
Actos 3:25/26 Vós sois os
filhos dos profetas e do concerto que Deus fez com os nossos pais, dizendo a Abraão:
Na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra. Ressuscitando
Deus a seu Filho Jesus, primeiro o enviou a vós, para que nisso vos abençoasse,
e vos desviasse, a cada um, das vossas maldades.
Examinando
o contexto desta passagem, com uma leitura de todo o capítulo 3 do livro de
Actos, vemos que isto se passou à hora nona (três horas da tarde). A expressão subiram juntos, sugere que tenham
entrado pela Porta Dourada, no Pátio dos Gentios, pois a seguir (vr. 2) vemos que o coxo que foi curado, estava na Porta
Formosa, que ficava logo a seguir e separava o Pátio dos Gentios da zona
reservada só aos judeus, onde entraram. Portanto, estas palavras foram
dirigidas a um auditório constituído só por judeus, salvo o caso de algum
gentio convertido ao judaísmo e já circuncidado.
Certamente que todos eles eram descendentes de Abraão e estavam sob a Velha Lei, cuja promessa se transmitia de pais para filhos, portanto, todas estas afirmações só têm valor num contexto veterotestamentário e todas as passagens mencionadas referem-se aos israelitas.
6. Rebatismo
Já
desde o tempo dos anabatistas que o termo rebatismo tem sido utilizado para
significar, os que se voltam a batizar, considerando tal facto como sinal de
falta de respeito e insensibilidade perante o ritual do batismo.
Penso
no entanto, que nem sempre este termo tem sido utilizado correctamente.
É
verdade que há algumas igrejas batistas, pentecostais e outras em que o crente
já batizado em adulto é sujeito a novo batismo para se tornar membro dessa
igreja, pois não reconhecem o batismo efectuado noutras igrejas. Nestes casos o
termo rebatismo está correcto, mas penso que estes casos de rebatismo não são
muito vulgares.
Na maior
parte dos casos, trata-se de pessoas que foram batizadas nos seus primeiros
anos de vida, por decisão de seus pais, na Igreja Católica ou no protestantismo
tradicional.
Nestes
casos, penso que só se trata dum rebatismo na óptica dos pedobatistas,
pois se o batizando rejeitar o batismo a que foi sujeito por não se sentir
responsável por uma decisão tomada em seu nome, sem seu conhecimento, além de
não ser bíblica, certamente que não se considera batizado e então deverá pedir
o batismo bíblico, como homem ou mulher livre e responsável.
Também se poderia colocar a questão: Se um bebé for levado ao batismo pela sua mãe, e seu pai o levar à mesquita islâmica e um tio o iniciar como budista e uma tia como hinduísta, o bebé cresce e não acredita em nenhuma religião, como o deveremos considerar?
7.
Decadência do batismo infantil no protestantismo português.
Pouco se tem falado no
batismo infantil nos últimos anos.
Talvez tal não tenha sido necessário, visto que a esmagadora maioria do protestantismo português rejeitou o batismo infantil, que só sobrevive no protestantismo tradicional, com fraca implantação em Portugal e grande dificuldade de crescimento. Nalguns casos, é com dificuldade que se mantém o batismo infantil, e até um Pastor já foi suspenso das suas funções por se recusar a batizar um bebé. Devo no entanto mencionar, que isto se passou na Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal (IEPP), igreja que se tem mostrado mais moderada, pois aceita tanto o batismo como a apresentação de crianças recém-nascidas, pelo que o referido pastor, segundo opinião de alguns dos seus colegas, opinião que me parece ter certo fundamento, se não estava de acordo com tal liberdade de escolha da parte dos pais, já deveria ter colocado atempadamente tal problema à sua igreja.
Nalguma literatura, das primeiras décadas do século passado, apresentava-se o facto da maioria das igrejas evangélicas batizar crianças como argumento da sua validade e maior credibilidade. Não me parece que tal argumento seja aceitável, pois nem sempre a verdade está do lado da maioria, mas nos nossos dias, o seu efeito seria contrário, dada a acentuada decadência do batismo infantil no protestantismo português.
Penso que para essa decadência, muito contribuiu o aumento do nível cultural do nosso povo. Não me refiro à cultura bíblica ou religiosa, mas à cultura em geral e ao ambiente secular dos nossos dias.
Segundo um estudo do Instituto de Ciências Sociais coordenado por José Machado Pais, embora referindo-se à Igreja Católica, afirma-se que os não praticantes são mais jovens que os ritualistas..... o afastamento da Igreja (Católica) é concomitante com o aumento da educação e com o bem-estar sócio-económico. O apuramento estatístico revelou que os mais fieis à sua igreja são os mais idosos e os menos cultos, com elevada percentagem de mulheres.
Suponho que nunca houve a coragem de efectuar um estudo semelhante nas igrejas do protestantismo histórico em Portugal, mas pelo que tenho observado, suponho que o seu caso não será muito diferente do que se passa com a Igreja Católica.
Mas voltando ao nosso assunto, penso que o forte incentivo ao raciocínio, desde o aparecimento do iluminismo e o ambiente secular em que vivemos, teve as suas consequências nas igrejas. Não digo que a pregação do Evangelho se deva guiar pela opinião da maioria, mas as igrejas não podem ignorar o ambiente em que têm de divulgar o Evangelho.
Podemos notar actualmente, duas tendências divergentes nos cultos evangélicos: Uma tendência tradicionalista, com uma liturgia mais elaborada, normalizada e repetitiva, com maior ênfase nos rituais quase sempre a cargo do celebrante e pouca ou nenhuma intervenção do leigo, que levou a um abandono das escolas dominicais participativas para adultos e ao desinteresse pelo estudo bíblico; e outra tendência oposta, em que a grande preocupação já não está nos rituais e pormenores litúrgicos, mas no estudo e investigação bíblica e nas escolas dominicais participativas, não só para crianças, mas também para jovens e principalmente para adultos, tendência que se mostra mais adaptada aos nossos tempos e muito mais atractiva para a classe pensante, e para a juventude.
É neste contexto, que se tem de compreender, dum lado a defesa do batismo infantil, e do outro, a natural rejeição do batismo infantil, em especial pela classe mais culta e pela nova geração, como alguma coisa que apela mais para uma compreensão mística do que para a lógica do raciocínio característica dos nossos dias, que penso estar mais próxima do pensamento neotestamentário.
Gostaria de afirmar, que embora nunca tenha lido nada dos teólogos anabatistas, nem sei se haverá traduções em português, a minha posição é idêntica, ou muito próxima da dos anabatistas originais, de onde divergiram as actuais igrejas batistas, pois aceito o batismo por aspersão, como símbolo do batismo do Espírito Santo, mas só de pessoas com idade para aceitar o Evangelho e compreender o significado do batismo.
O nosso
Professor Pastor Manuel Pedro Cardoso, no seu artigo “Documento de Lima”,
afirmou nessa altura, no Portugal Evangélico de Maio/Junho de 1984, ser desejável que a Igreja deixe de praticar o
baptismo de crianças.
Embora apoiando a quase totalidade do seu artigo, neste aspecto sou mais moderado e direi ser desejável que a Igreja deixe de defender o batismo de crianças, embora continue ainda a praticá-lo quando solicitado pelos crentes mais tradicionalistas, deixando que o tempo acabe por resolver o problema. Embora não aceite o batismo infantil, não me parece correcto, criar problemas precipitadamente, devido a um pormenor secundário, correndo o risco de que, devido a este pormenor alguém se venha a afastar da Igreja, mas julgo que as igrejas históricas, ao envolverem-se numa defesa do batismo infantil, estão a lutar contra o tempo e a gastar as suas energias emocionais numa guerra perdida, energias que deveriam ser canalizadas para outros assuntos bem mais importantes.
Queremos concluir com as palavras de Paulo em 1ª Coríntios 1:17 Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar, não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã.
Camilo - Marinha Grande Janeiro de 2001
Com colaboração de: Prof. Victor Franco (Prof. de Psicologia na Universidade de Évora)
Dr. Isaque Pereira Assistente Graduado de Clínica Geral (Médico
em Leiria)
Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas