III – Que fazer com o Velho Testamento!? (CC)

 

1 – Introdução.

Este artigo vem na sequência dos primeiros artigos com os títulos “Dogma evangélico e protestante (CC)”, hem como o artigo “Que fazer com o Velho Testamento (CC) ,           artigos cuja leitura aconselho em primeiro lugar, mas que foram um tanto teóricos, razão porque agora apresento as passagens bíblicas para que o leitor as possa confirmar pela sua própria bíblia.

 

Vamos imaginar que era manhã de sábado, e um “novo convertido”, cheio da boa vontade e disposto a levar uma nova vida, levanta-se cedo.

Depois de se lavar, fazer a barba, ligar a TV e o computador dá uma olhada pela Bíblia que comprou no dia anterior. Pensou em tanta gente que trabalhou para ele nessa manhã de sábado.

Certamente que devia ser grato a todos eles, pois sem os que estiveram de serviço nas estações de captação e tratamento de água, nessa manhã de sábado, não teria água para se lavar e alimentar-se, nem teria electricidade se não fosse todo o pessoal em serviço nas barragens, postos de transformação, eólicas etc…

Dá graças a Deus por todo esse pessoal que trabalhou para ele. Senta-se e procura a palavra “sábado” desde o início da sua Bíblia e começa por ler em Êxodo 16, e Êxodo 20, mas chega a Êxodo 31, onde encontra o versículo 14 Êxodo 31:14

Mas ele, nessa manhã, já beneficiou de muitos que trabalharam ao sábado. Não só esses, mas todos os que trabalham aos sábados, o que certamente inclui o pessoal nos hospitais, nas forças de segurança etc etc.

Será possível a Bíblia condenar à morte todos esses trabalhadores?! Pena de morte por motivos religiosos?!

Será que deve continuar a falar na Bíblia a seus filhos e netos, se ele próprio não a levar a sério? Pelo menos nessa parte que acabara de ler trata-se dum livro perigoso, duma civilização milenar e primitiva, com passagens que incitam à guerra e à violência?!

A partir destes versículos e outros semelhantes, ou o leitor da Bíblia a leva a sério e se torna um perigoso assassino, o que é muito pouco provável, mas pode acontecer, ou a credibilidade da Bíblia se perde para sempre.

Em meados do século passado a Igreja Católica não permitia que os seus crentes lessem a Bíblia, assunto que era muito criticado pelos protestantes. Mas afinal, parece que há passagens que justificam essa proibição.

Muitas mais passagens há sobre estes assuntos no Velho Testamento.

Eu já sou crente há mais de 60 anos, já frequentei várias igrejas diferentes e não me lembro de ouvir pregações sobre estas passagens e outras no mesmo género do Velho Testamento que incitam ao ódio e violência.

No Velho Testamento, que tenho de rejeitar, há muitas afirmações que não foram confirmadas pelos historiadores e outras que nada têm de edificantes.

Aquilo a que as igrejas chamam de “estudo bíblico” ou “estudo teológico”, talvez muitas vezes seja mais uma mentalização doutrinária e não um estudo imparcial em que os alunos possam raciocinar, intervir e meditar livremente, limitando-se a aceitar a opinião do professor.

Vou juntar mais algumas passagens neste género, todas do Velho Testamento, consideradas canónicas, que mostram uma mentalidade que como cristão não posso aceitar.

Estamos perante textos muito antigos, que não foram traduzidos do grego, como os do Novo Testamento, mas do hebraico que era uma língua muito rudimentar, pelo que sugiro que confirmem por uma boa Bíblia, com comentários sobre as dificuldades da tradução, ou mais de uma tradução possível.

Sugiro em primeiro lugar, se possível, a TOB em francês, ou a sua tradução em português, a TEB das Edições Loyola, (mas refiro-me à TEB completa, pois também há a vulgar TEB simplificada, só com o texto bíblico e sem os esclarecimentos dos tradutores). Há também a Bíblia de Jerusalém, das Edições Paulinas, uma óptima tradução, que é no mesmo género, que deve ser mais fácil de encontrar. Essas são as traduções mais indicadas para quem queira aprofundar os seus estudos e não se limitar a aceitar passivamente as ideias do seu professor, seja ele pastor, padre ou bispo, que também tenha aceite passivamente os ensinos de quem o treinou para ser professor de teologia.

 

Vejamos mais algumas dessas passagens:

 

Legislação sobre escravatura

Em Êxodo 21 quero realçar os versículos 7, 12, 15 e 17.

 

Leis morais e religiosas  

Em Êxodo 22 

Êxodo 22:16, Êxodo 22:18, Êxodo 22;20,

 

Levítico 20:13, Levítico 20:27 .

 

Levítico 21:17/21

 

Levítico 24:16/23

 

Levítico 26/07 vr 07

Será que tem alguma semelhança com Mateus 5:44

Ou Lucas 6:27/35)?

Temos também algumas descrições da acção do Deus de Moisés que não podemos aceitar que sejam do mesmo Deus Pai, que Jesus nos revelou.

Guerras incentivadas e aprovadas pelo deus dos Judeus

Josué 6:17/24

 

Josué 8:23/30,

 

Pensamentos dessa época:

2º Reis 2;23/24

 

Salmo 137:8/9

 

 

2 – Bem sei que muitos crentes protestantes e católicos ficarão admirados por serem crentes há tantos anos e nunca terem reparado nestas horrorosas passagens na sua própria Bíblia.

Penso que nunca repararam nestas passagens, pois a sua atenção tem sido desviada para as passagens neotestamentárias, que não duvido que sejam as mais importantes. Certamente que Cristo é o centro da Bíblia, mas como podemos compreender onde é o centro, sem estudar a Bíblia completa? Já é tempo das igrejas deixarem de tratar os leigos como crianças ingénuas ou crentes de segunda classe.

As igrejas têm outros meios para desviar a atenção dos crentes destas passagens escandalosas do Velho Testamento, que muitos afirmam ser a Palavra de Deus, eterna e imutável, sem sombra de erro.

Se comprar a sua bíblia numa organização protestante, é natural que lhe ofereçam um folheto com os planos de leitura de toda a Bíblia em X anos…  Mas então, não seria mais fácil ler do Génesis ao Apocalipse?! Para que complicar o que parece mais fácil?

Se for numa organização católica ou nalgumas igrejas protestantes tradicionais, para orientar a leitura da Bíblia há o lecionário litúrgico, que se repete de três em três anos. Assim, ao fim de algumas décadas os textos do leccionário litúrgico acabam por se tornar o “cânon” do cânon e a Bíblia fica esquecida a enfeitar a estante das casas dos crentes. Os sacerdotes católicos têm de seguir os textos do lecionário, mesmo que não sejam os mais indicados ou oportunos para as várias igrejas.    

Julgo que estas passagens mais escandalosas que as igrejas tentam encobrir, também têm interesse para sabermos o ambiente insuportável em que viviam os judeus que a todo o momento podiam ser chamados para serem os carrascos até de algum dos seus familiares.

No século passado o Catolicismo proibia a leitura da Bíblia, coisa impensável nos nossos dias, cujo resultado seria contraproducente.

Nós já estamos habituados a ler Mateus 5:44  Eu, porem vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orais pelos que vos perseguem; Nem podemos imaginar qual seria a reacção dum típico judeu, cumpridor de todas as leis veterotestamentárias, que já participara de várias execuções na via pública e se esforçava mais e mais em odiar os seus inimigos.

Penso que, estas descrições horrorosas dão uma ideia que era vida dos judeus no Velho Testamento, situação que se manteve até à colonização romana, quando a civilização, tal como hoje a concebemos finalmente entrou em Israel, pois no Império Romano havia liberdade de religião e Roma proibia a pena de morte por motivos religiosos, contrariando assim muitos dos horrorosos textos ou mandamentos do Velho Testamento. 

 

 

3 – Qual a finalidade do Velho Testamento em geral?

Já poucos acreditam nessas passagens veterotestamentárias que de certa forma até prejudicam a credibilidade do Novo Testamento, por estarem actualmente num único livro, a Bíblia. 

Na internet há vários artigos a favor ou contra o Velho Testamento. Mas eu prefiro apresentar algumas destas passagens e deixar a decisão ao critério e bom senso dos nossos leitores. 

A descrição da criação do mundo, que vemos em Génesis, baseia-se no que dizia a ciência dessa ápoca, em que consideravam a terra como um prato invertido à superfície das águas. Já “sabiam” que as águas do mar, vistas ao longe são azuis. Assim o azul dos céus mostra que há um outro oceano nos céus, informação confirmada pela chuva, quando o “deus” dos judeus manda abrir as janelas dos céus de acordo com Génesis 7:11         

Também em profundidade havia outro oceano, pois quando abrem um poço numa zona deserta onde viviam, só ao fim de certa profundidade aparece primeiro a humidade e depois a água cuja quantidade vai aumentando até que a água impede a escavação pelos métodos disponíveis nessa época. Assim, certamente, se fosse possível continuarem a escavação, haveria só água e deixaria de haver terra, segundo dizia a concepção cosmogónica da antiguidade.

 

Muitos dos pequenos países da antiguidade em geral, principalmente os que estavam rodeados por outros grandes impérios, tinham os seus livros épicos que contavam as suas histórias, com factos verídicos alterados e/ou adaptados para elevar o moral dos seus combatentes.

Temos o caso do Velho Testamento dos judeus, a Odisseia de Ulisses na Grécia antiga, ou os Lusíadas em Portugal que são uma mistura de factos verídicos transmitidos de geração em geração, misturados com outros que foram fruto da imaginação dos escritores. Por exemplo, no “nosso” caso dos Lusíadas, o Gigante Adamastor é uma dura realidade que ainda existe no sul de África. Perguntem a quem já fez a viagem de barco entre Moçambique a Angola- Só que não se trata de nenhum gigante, mas dum sério fenómeno da natureza que resulta do encontro das grandes vagas do Oceano Índico com as do Atlântico.

Penso que todas estas descrições se baseiam em parte em factos verídicos, mas noutras partes alteradas para exaltar os seus heróis.

O Velho Testamento é um amontoado de afirmações que nenhum historiador sério conseguiu confirmar, nem o ambiente de horror era favorável a uma séria reflexão.

 

Bem diferente foi o caso do Novo Testamento em que Lucas, contemporâneo de Jesus examinou cuidadosamente todos os evangelhos, consultando testemunhas que estiveram pessoalmente com Jesus e muitos “evangelhos” foram rejeitados até ficarem os quatro que chegaram aos nossos dias.

 

 

Como disse de início, não me vou preocupar com os argumentos a favor ou contra a validade do Velho Testamento.

Perante estes factos, qual a vossa escolha?

Vamos voltar à escravatura, e pena de morte na via pública segundo o Velho Testamento? Ou optar pela Paz de Jesus?

 

Camilo    - Marinha Grande, Portugal 2021