Dogma evangélico e protestante (CC)
(Deverá “clicar” nas referências bíblicas, para ter
acesso aos textos)
1. Introdução
Qual o fundamento do Cristianismo e das
religiões em geral? Ou qual a base de toda a teologia?
Lembro-me de que, quando trabalhava na
minha profissão de engenharia de construção civil (antes de estar aposentado),
um dos pormenores dum edifício que mais me preocupava eram as fundações. De
nada serviria todos os cálculos da estrutura estarem bem elaborados, se não
tivesse confiança nas fundações do edifício pois todos os esforços das lajes
descarregam nas vigas, e estas nos pilares que assentam nas fundações.
Estabelecendo um paralelo de ideias com
a teologia, também pergunto: Qual será a base ou o fundamento de toda a
teologia?
Podemos imaginar o início duma missa
católica em que por vezes os celebrantes entram em solene procissão, trazendo
um deles uma grande Bíblia que segura com os braços bem levantados. Mais
adiante, na leitura dos textos, a Bíblia é perfumada com incenso e quando o
texto dos evangelhos é lido pelo padre ou pregador desse dia, toda a
assistência se coloca de pé. Mas… será isso suficiente para comprovar a
inspiração dos textos bíblicos?!
Também nas igrejas protestantes e
evangélicas, se dá uma grande ênfase à Bíblia e toda a reflexão teológica se
baseia em passagens bíblicas. Mas… não faz parte da tradição cristã, questionar
a credibilidade da própria Bíblia.
Já tirei algumas cadeiras de cursos
protestantes de teologia por extensão, desses em que o aluno estuda em sua casa
e envia os trabalhos de sua investigação pelos correios ou pela internet. Todos
se baseavam na Bíblia, mas não me lembro de se ter questionado a sua
veracidade. Houve vários estudos a descrever a Bíblia, a sua composição e a origem
dos seus livros mas nunca se questionou a sua credibilidade, que sempre
funcionou como um dogma que ninguém
teve a oportunidade ou o “atrevimento” de questionar. Bem sei que a palavra
dogma não faz parte da teologia protestante, mas o importante não são
propriamente as palavra mas aquilo que elas significam e não tenho dúvidas de
que há entre evangélicos e protestantes, perante certas tradições, a mesma
atitude que os católicos têm perante os dogmas que consideram afirmações que
não estão em discussão.
Assim como na comparação que apresentei,
a primeira coisa a fazer na construção dum edifício são as suas fundações, pois
se estas não forem suficientemente sólidas todo o edifício estará em perigo e
já será demasiado tarde para emendar as fundações depois do edifício
construído, não deveríamos também começar por desenvolver o assunto da
credibilidade da Bíblia antes de “construir” toda a nossa teologia tendo por
base a própria Bíblia?!
Geralmente os teólogos judaicos
baseavam-se no Velho Testamento, os cristãos fundamentam as suas convicções em
versículos de toda a Bíblia e os teólogos islâmicos baseiam-se em versículos do
Alcorão e da Bíblia.
Duma maneira geral, todas as grandes
religiões têm os seus livros que consideram como inspirados e em que baseiam
toda a sua teologia. Todas as afirmações são demostradas e comprovadas com base
nos seus textos sagrados e o mesmo acontece nas religiões abraâmicas.
Noto nas várias igrejas uma certa
preocupação em controlar e dirigir as leituras da Bíblia dos seus crentes. Se
for numa igreja evangélica, a alguém que compre uma bíblia, logo oferecem os “planos de leitura de toda a Bíblia em x anos”
e claro que se dá maior ênfase aos versículos que mais interessam a determinada
teologia. Não seria mais fácil ler tudo de seguida do Génesis ao Apocalipse? Se
for numa igreja católica ou do protestantismo tradicional, há o leccionário
litúrgico, que certamente tem as suas vantagens, mas acaba por se dar muito
maior ênfase aos textos do leccionário, que acabam por se tornar o Cânon do
cânon e as outras passagens ficam esquecidas, em especial as passagens mais
escandalosas da Bíblia.
2. Origem da Bíblia
A Bíblia, tal como hoje a imaginamos,
como um livro com todos os textos do Génesis ao Apocalipse é bem recente, pois
os seus primeiros exemplares só apareceram em 1455 na tradução em alemão. Mas,
nem sempre foi assim, pois durante muitos séculos os vários “livros” da
antiguidade eram os rolos que estavam no Templo de Jerusalém e as cópias que
havia nas várias sinagogas. Podemos imaginar o valor de cada um desses
“livros”, não só pelo preço do material antes da invenção do papel, como pelo
trabalho dos copistas, pois tudo era feito manualmente.
Penso que hoje estamos numa época de
transição, em que a vulgar bíblia deixará de ser um livro para passar a ser um
registo informático. Eu prefiro ler no meu computador por ser mais cómodo, pois
posso regular o tamanho das letras, procurar algum versículo escrevendo o
livro/capítulo/versículo e principalmente se me lembrar de algum versículo, sem
ter ideia de onde estará, em vez de ter a missão quase impossível de o procurar
nos vários rolos duma bíblia da antiguidade ou entre as 2000 ou mais páginas
duma bíblia inteira (em livro), poderei simplesmente escrever as palavras e ao
fim de uns segundos o computador encontra todos os versículos onde essa
expressão aparece.
2.1 Velho Testamento
Os “livros” mais antigos do Velho
Testamento supõe-se que sejam da época de Salomão, que mandou escrever o que
até essa época se transmitia oralmente de pais para filhos.
Mesmo na época em que Jesus viveu, as
“Escrituras” ou os “Livros” dessa época eram os vários rolos que estavam no
Templo de Jerusalém, havendo também algumas cópias nas várias sinagogas de
Israel e noutros locais do Império Romano. Só depois da época de Cristo, cerca
do ano 90 ou 100 da nossa era, um grupo de levitas se reuniu na cidade de
Jâmnia para definir o cânon, ou seja quais os “livros” que eles consideravam
inspirados e quais os que deveriam ser rejeitados.
Será que faz sentido que protestantes e
evangélicos que, como eu, não aceitam a infalibilidade do Papa, aceitem sem
questionar esta decisão desse grupo de judeus?
Atendendo a que:
Eles não eram cristãos. Nesse contexto
histórico podiam considerar-se como os inimigos de Cristo, os que estão na
origem da sua morte.
Só foram aceites os livros escritos
originalmente em hebraico e em Jerusalém. Será que o Deus em que acreditamos é
judeu? Ou só fala hebraico? Já não é o Deus omnipresente, pois só se manifesta
em Jerusalém?
Alguns desses livros, rejeitados em
Jâmnia foram considerados como “deuterocanónicos” que significa menos
inspirados ou de inspiração duvidosa, mas são aceites no catolicismo, embora
sejam rejeitados por protestantes e evangélicos que seguem a tradição dos
judeus.
Afinal, o cânon veterotestamentário
também não foi decidido em Jerusalém, mas em Jâmnia que fica a ocidente de
Jerusalém já próximo do Mediterrâneo.
2.2 Novo Testamento
Como é óbvio, todos os “livros” do Novo
Testamento foram escritos depois da época de Cristo e o cânon neotestamentário
foi-se formando gradualmente. Na época em que Lucas escreve o seu evangelho,
segundo alguns historiadores, havia dezenas de “evangelhos” fruto da fértil
imaginação dos crentes. É a esses “evangelhos” que Lucas se refere em Lucas 1:1/4, quando decide
investigar pormenorizadamente a verdade antes de escrever o seu Evangelho fruto
duma cuidadosa investigação.
Inicialmente o problema foi a afirmação
de que os novos escritos também eram “Palavra de Deus” inspirada, em igualdade
com os escritos veterotestamentários, já tradicionalmente aceites como tal. A
antiga expressão “está escrito…” passa
a ser utilizada também em relação aos textos neotestamentários.
Mas logo de início, não houve
unanimidade na aceitação da inspiração de toda a Bíblia. Marcião afastou-se da
Igreja no ano 144 pois recusou aceitar os métodos alegóricos de exegese habituais
e achou impossível conciliar o Velho Testamento com o Evangelho de Cristo.
Considerava que o legalismo e justiça severa de um e a graça e o amor redentor
do outro representavam dois conceitos opostos de religião.
Não sabemos quais os “livros” da Bíblia
que circulavam na época de Marcião, mas se quando Lucas escreveu o seu
Evangelho já havia dezenas de evangelhos, possivelmente mais haveria na época
de Marcião. Assim surgiu a necessidade de se estabelecer um cânon para o Novo
Testamento, à semelhança do que já havia para o Velho Testamento. Há pouca
informação credível sobre Marcião, pois a quase totalidade da informação vem
através dos seus inimigos que o consideram como “o herege de Sinope”, por este
afirmar o que é mais que evidente, a grande diferença na revelação de Deus no
Velho e no Novo Testamento.
Por vezes ficamos impossibilitados de
ver o que é simples e mais que evidente por falta de liberdade de reflexão e
por estarmos condicionados pela nossa tradição e cultura religiosa que nos
obriga a defender a “nossa verdade” ou a “verdade” a que estamos ligados pelos
mais variados motivos.
Se inicialmente o problema foi aceitar
que os textos do Novo Testamento eram tão credíveis como os do Velho
Testamento, alguns séculos mais tarde, e ainda hoje, a dificuldade está em
provar o contrário, que o Velho Testamento é tão credível como o Novo
Testamento.
O cânon do Novo Testamento foi o
resultado de alguns séculos de estudos do primitivo cristianismo durante os
quais os vários “livros” foram colocados à prova, sendo muitos deles
rejeitados. No Concílio de Niceia (325) já estava praticamente definido, mas
grande parte das igrejas do primitivo cristianismo rejeitou o Apocalipse que só
foi integrado no cânon neotestamentário no século V, numa sessão muito polémica
do Concílio de Cartago, a que me refiro no meu artigo Apocalipse e o cânon
neotestamentário (CC).
3. Inspiração bíblica
O primitivo cristianismo “herdou” o
conceito de inspiração do Velho Testamento. Mas o que entendemos por
“inspiração?!
Os teólogos dos primeiros tempos,
considerados como os “Pais da Igreja”, segundo nos informa J. Kelly tinham dois conceitos diferentes inspiração:
Segundo
Filo, os profetas perdiam a consciência quando o Espírito de Deus se apoderava
deles, ficando num estado de êxtase como acontecia noutras religiões dessa
época. Eram como instrumentos musicais tocados pelo Espírito Santo.
Mas,
segundo Hipólito, quando o Verbo movia os profetas,
era para esclarecer a sua visão e instruir a sua compreensão. Também Orígenes
rejeitava a ideia de que o Espírito de Deus actuasse como os oráculos do
paganismo, pois o seu objectivo era instruir o próprio profeta, sem suspender o
seu livre-arbítrio. Portanto, os verdadeiros profetas de Deus continuavam na
plena posse de todas as suas faculdades mentais.
Penso que as duas interpretações são
possíveis: a Primeira, defendida por Filo, poderia basear-se em Actos 2:01/04
ou Actos
10:44/46 e a segunda posição teológica, seria baseada nas
contradições e afirmações bíblicas que são consideradas erradas no nosso
contexto histórico mas que eram a “verdade” da época em que foram escritos.
Pelos textos que chegaram aos nossos dias, vemos que cada evangelista ou
escritor da Bíblia, mantem o seu estilo literário e também penso que seria esta
a posição teológica de Paulo quando em 1ª
Coríntios 1:14/17 verificou que se tinha enganado. Em vez
de rasgar tudo e começar novamente (e seriam só 17 versículos), pois estava a
escrever um documento onde não podia haver nem sombra de erro, Paulo, com toda
a naturalidade, afirma que se enganou e continua a escrever.
3.1Cristo homologou o Velho Testamento?
A maior parte da literatura religiosa
afirma que Jesus Cristo aceitava a inspiração do Velho Testamento pelas várias
referências que faz aos textos veterotestamentários.
É verdade que Jesus várias vezes se
refere ao Velho Testamento, mas não podemos ignorar passagens como Mateus
5:21/46 em que corrigiu várias informações do Velho
Testamento com a sua conhecida expressão … mas Eu vos digo.
Também há passagens em que Jesus se recusa a apedrejar a mulher adúltera João
8:01/11 transgredindo assim o que diz a Lei
veterotestamentária em Levítico 20:10
que mandava aplicar a pena de morte à mulher, ou que em Lucas
8:51/55 transgrediu o Velho Testamento que em Números 19:11
proibia de tocar num cadáver.
3.2 Posição teológica de outros escritores neotestamentários sobre o
Velho Testamento
A principal passagem neotestamentária
para “provar” a inspiração de toda a Bíblia é 2ª Timóteo 3:16 que geralmente é traduzida como na TEB Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar,
refutar, corrigir, educar na justiça, … mas a própria TEB (na
sua tradução completa) alerta para uma segunda tradução possível como Toda a Escritura inspirada por Deus é útil….
Também outras traduções mais sérias e imparciais como a Bíblia de Jerusalém ou
a TOB (em francês) alertam para as duas traduções
possíveis de 2ª Timóteo 3:16.
Como não conheço a língua grega, muito
menos o grego antigo, tentei investigar numa tradução palavra por palavra que
seria: Toda (a)Escritura
(é)inspirada por Deus e útil para ensino … Nas cópias (dos originais) só está o que apresento
em azul. Foi necessário acrescentar (a) e (é), para fazer sentido na nossa
língua, mas isso foi opção do tradutor. (I)
Para
ter acesso ao texto com o grego e português, poderá clicar em 2ª
Timóteo 3:16 (interlinear)
Temos portanto duas traduções possíveis.
Vejamos qual a mais credível no contexto histórico em que Paulo escreveu.
Segundo vemos em 2ª
Timóteo 1:8 Paulo estava preso
quando escreveu esta carta a Timóteo. Esta informação é importante, pois leva
os historiadores a afirmar que a carta foi escrita no ano 67.
Assim, como qualquer documento da
história, tem de ser interpretado dando às palavras o significado que tinham
nesse contexto histórico. Quando Paulo fala em Escritura, não podemos imaginar
as nossas bíblias impressas e encadernadas, pois para Paulo eram os rolos
manuscritos que estavam no Templo (em relação do Velho Testamento) ou os
“recentes” manuscritos neotestamentários que já circulavam pelas várias
igrejas.
Mas se estavam no ano 67 e Paulo diz que
Toda a Escritura é
inspirada, e o cânon veterotestamentário é do ano 90 ou 100,
teremos de aceitar todos os “livros” veterotestamentários que foram
rejeitados em Jâmnia, bem como todos os “evangelhos” a que Lucas se
refere logo no início do seu Evangelho Lucas
1/4.
Paulo bem sabia que havia “livros” que
não mereciam confiança, por serem fruto da imaginação popular, quer no Velho
como no Novo Testamento ainda em formação. É por isso que Paulo tenta deixar
claro que não se refere a toda a escritura mas só à Escritura inspirada.
Nos nossos dias parece não fazer muito
sentido esta afirmação de Paulo. Mas temos de interpretar este versículo no seu
contexto histórico. (II)
Certamente que “escritura” são todos os
documentos escritos. Mesmo num contexto de religião “Escritura” seria o escrito
inspirado por Deus. Portanto seriam todos os documentos que se apresentavam
como Escrituras religiosas. Não podemos ignorar que nessa época nem todos
sabiam ler e escrever, e muito menor seria o número dos que se podiam dar ao
luxo de escrever, pois ainda não havia papel e os materiais para escrever não
estavam ao alcance de todos. A antiga expressão “…está escrito …”, que aparece 13
vezes no Novo Testamento e 20 vezes no Velho Testamento, dava muito mais ênfase
e credibilidade à informação, o que já não acontece nos nossos dias em que
ninguém de bom senso vai dar mais credibilidade a determinada informação só por
estar escrita. Não podemos ignorar esse contexto histórico em que Lucas logo no
início do seu Evangelho em Lucas
1:1/4,
se refere à grande quantidade de “evangelhos”, muitos deles fruto da imaginação
popular. Alguns historiadores dizem que havia dezenas de “evangelhos”. Tudo
isso também “estava escrito” e Paulo teve necessidade de alertar os crentes para
que não aceitassem “toda e qualquer escritura”, mas só a inspirada.
Costumam também mencionar 2ª
Pedro 1:21 que segundo a TEB é: Porque nunca uma profecia foi proferida pela vontade humana,
mas foi movidos pelo Espírito Santo que homens falaram
da parte de Deus.
Mas não podemos esquecer de que havia, e
certamente ainda há, os falsos profetas e falsas profecias, como somos
alertados em Mateus
7:15,
Mateus
24:11, Lucas 6:26,
2ª
Pedro 2:1 e principalmente em 1ª João 4:1.
3.3 Quem é o autor do Velho Testamento?
Não pergunto propriamente quem escreveu
o Velho Testamento, mas se são livros inspirados, temos de investigar quem os
inspirou, pois este seria o verdadeiro autor mesmo admitindo os dois tipos de
inspiração a que já nos referimos.
Na maior parte dos livros
veterotestamentários, já se sabe quem os escreveu. Em todo o Velho Testamento
aparece 29 vezes a expressão “veio a palavra do Senhor”, ou “a palavra do
Senhor foi dirigida” ou outra expressão equivalente, confirmando que o autor se
limitou a transcrever o que recebeu de Deus, que é o verdadeiro autor desses
livros. Mas, será o mesmo deus que Jesus nos revelou? Como podemos confirmar?
Os habituais métodos de identificação do
autor, não funcionam nestes casos. Certamente que não podemos esperar por uma
assinatura de Deus. A letra dos antigos manuscritos, mesmo que os originais
chegassem aos nossos dias, seria a letra de quem escreveu, assim como o seu
estilo literário. Mas há só um pormenor que nos pode dar ideia do autor: Pelas
ideias que manifesta. Será que é a mesma mentalidade, a mesma personalidade, as
mesmas ideias que vemos no Deus Pai, que Jesus nos manifestou?
Vejamos por exemplo Números
15:32/36 em que o deus dos judeus aplica a pena de morte,
transformando todos os judeus em carrascos para apedrejar o desgraçado que foi
apanhar lenha num dia de sábado. Ou Números
31:8/18 em que o deus dos judeus através de Moisés
repreende os militares de Israel por tentarem poupar algumas vidas e os obriga
a matar inocentes. Ou Deuteronómio
20:10/18 que nos mostra o imperialismo de Israel, que
certamente não é divulgado nas igrejas. Mesmo considerando que esta última lei,
no livro de Deuteronómio, foi uma Lei válida só para essa época da ocupação do
território, será argumento suficiente para justificar esses crimes?
Será possível, alguém que
verdadeiramente conhece a Cristo e ao Deus Pai, afirmar que esse do Velho
Testamento é o mesmo Deus que Jesus nos revelou?! Isto e muito mais, é o que
nos mostra o Velho Testamento, que os fundamentalistas judeus ou cristãos
afirmam ser a Palavra de Deus eterna e imutável.
Será que as Leis de Moisés são eternas e
imutáveis?! Então, teremos de aplicar a pena de morte a quem trabalhar ao
sábado, executando todo o pessoal em serviço aos sábados nos hospitais
(médicos, enfermeiros, farmacêuticos etc.), serviços de segurança (polícias,
militares, bombeiros) que velam pela nossa segurança assim como o pessoal que
trabalha aos sábados para que tenhamos o abastecimento de água e de
electricidade a funcionar? Será que a segurança nos aeroportos, quando tivermos
de viajar, nos deixará embarcar com o pau ou a pá, para cumprir Deuteronómio
23:13 (noutras traduções é o vr.
14) que faz parte da Lei eterna e imutável segundo afirmam os fundamentalistas?
Desculpem por não transcrever este versículo, mas podem ler no Velho
Testamento.
Penso que o Velho Testamento tem
utilidade é até imprescindível para se compreender o Novo Testamento além do
seu inegável valor como livro histórico. Mas será que podemos aceitar a velha
Lei de Moisés como normativa para os nossos dias, por ser uma Lei de Deus
eterna e imutável?!
4. Perigo duma interpretação fundamentalista da Bíblia
Certo dia, recebi uma mensagem dum
dirigente evangélico português, que defendia “a validade do fundamentalismo
evangélico como afirmação categórica da Bíblia
como a inerrante Palavra de Deus, a palavra eterna que não passará e que tem
toda a pertinência seja na dimensão espiritual, moral, ética, cultural,
filosófica, psicológica, antropológica, histórica, científica ou outra
qualquer.”
Penso que este tipo de interpretação é
um grande perigo, pois grande parte da velha Lei de Moisés é impraticável nos
nossos dias. Até penso que muitos dos crimes do auto proclamado Estado Islâmico
não têm fundamento no Alcorão, mas poderão ter fundamento na Velha Lei de
Moisés, nomeadamente no Pentateuco.
Mas o maior escândalo é que os mais horrorosos
crimes foram cometidos pelos israelitas em cumprimento das instruções do seu
deus que obrigava todos os israelitas a servir de carrascos ao aplicar a pena
de morte.
5. Conclusão
Pessoalmente,
tenho de rejeitar o dogma da inspiração ou infalibilidade de toda a Bíblia,
aceite por muitos evangélicos e protestantes.
Considero-me cristão e tento seguir a
Cristo, e só a Cristo. Sou um admirador do Novo Testamento, mas não
posso garantir que não haverá erros como diz a tradição.
Quanto ao Velho Testamento, o mínimo que
posso dizer é que nem tudo é bom no Velho Testamento por não estar em sintomia
com o Pai que Jesus nos revelou. Talvez tenham certa razão os que defendem que
não foi esse deus do Velho Testamento que fez o primeiro homem, mas foi o homem
primitivo que fez um deus à sua semelhança. Assim, o homem da época de Abraão
que viveu há quase 4000 anos ou da época de Moisés que viveu há 3200 anos “fez”
um deus à sua imagem e semelhança, um deus primitivo, sanguinário e indiferente
ao sofrimento humano, que faz discriminação atendendo à raça, nacionalidade e
sexo, um deus que o defendesse e lutasse a seu favor, contra todos os outros
povos. Mas também se nota a influência de algumas das mais antigas religiões
dessa época, como a da Babilónia e do Egipto nomeadamente no Decálogo. Penso
que Moisés “pirateou” o que havia de melhor nas grandes religiões que conhecia,
embora ele próprio não cumprisse o Decálogo que acabara de proclamar, como
vemos em Êxodo
32:27/28. Veja também o artigo Decálogo – Dez Mandamentos (CC)
Considero que o Velho Testamento é
perigoso se for considerado como normativo para os nossos dias por conter
passagens que apelam ao racismo, machismo extremo, xenofobia, e ódio religioso
etc.
Certamente que a Bíblia
é um livro de grande importância. Mas talvez estejamos a dar uma exagerada
importância à Bíblia, pois comportamo-nos como se Jesus tivesse dito: Não vos deixarei órfãos; Deixo-vos as
Escrituras.
Foi isto que Jesus disse?...
Por favor…. Veja o que está em João
14:15/18.
Se me amarem hão-de
cumprir os meus mandamentos, e eu pedirei ao Pai para vos enviar um
outro Defensor que esteja sempre convosco.
O Espírito de verdade
que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece. Ele está
convosco e habitará em vós, por isso o conhecem.
Não vos hei-de deixar órfãos
pois voltarei para junto de vós. Tradução
de BPT (Bíblia para todos)
Já é tempo de darmos o lugar que merece
ao Espírito de Verdade que o Pai enviou para habitar connosco e estar em nós.
Que o Pai nos perdoe se por vezes ignoramos o Seu Espírito, que está connosco,
para orar ao distante Senhor dos Exércitos.
Camilo,
Marinha Grande, Portugal
Outubro de 2016
Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas
(I) Segundo nos informa a Bíblia de Frederico Lourenço
na página 41, na época em que os evangelhos foram escritos, a escrita grega não
tinha maiúsculas, nem pontuação, nem separação de palavras.
(II) Por vezes, até no mesmo contexto histórico pode o
contexto cultural ser diferente.
Lembro-me
do caso dum casal amigo de Goa que veio residir em Portugal. O seu menino foi
para a escola e depois contacta com seus amiguinhos em Goa pela internet
enviando imagens da escola que considera muito bonita, nova, moderna e com
espaço para brincar (O principal problema na Índia é o espaço para as
crianças). Os colegas em Goa vêem as imagens enviadas pela internet e houve um
que perguntou:
O
que é aquilo aí ao teu lado?
Isto…
dizem que é um irradiador, mas não sei bem como funciona.
Para
que serve isso?
Dizem
que é para fazer calor.
O
quê?!!! Ainda
mais calor?!
Literatura consultada:
Bíblia
de Jerusalém, BPT, Novo Testamento Interlinear, TEB, Bíblia de Frederico
Lourenço.
Atlas
Bíblico da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Evangelhos
Apócrifos de Luigi Moraldi
Dicionário
de Teologia Bauer das Edições Loyola
Comentário
Esperança – Werner de Boor
Hans Burki
Doutrinas
Centrais da Fé Cristã de J. N. D. Kelly
Comentários recebidos
David de
Oliveira - Goiânia - Brasil
Outubro de
2016
Somos
mais verdadeiros quando vivemos juntos com os outros, nas ruas e na vida. É
exatamente nesses lugares que demonstramos espontaneamente aquilo que realmente
somos sem nos preocuparmos em ser o que querem que
sejamos. Foi exatamente isso que aconteceu com o apóstolo Pedro, quando Paulo o
repreendeu por ser um tipo de pessoa quando estava junto com os judeus e outro
tipo de pessoa quando estava junto com os não judeus e longe dos judeus. Esse
tipo de hipocrisia é muito comum quando pessoas comuns estão numa
igreja/prédio, mas quanto a Pedro, essa ideia é extraordinária. Três
anos seguidos juntos com o Mestre; discípulo evidenciado dentre os outros e
comandou a inauguração do período da Igreja no episódio-ícone do Pentecostes.
Menciono tudo isso para tentar ousar questionar os dois “livros” que temos dele
no cânon neotestamentário – imagine quantos escritores bíblicos de pouca
credibilidade e até desconhecidos temos na bíblia! Será que Pedro, quando
escreveu os seus dois “livros” já havia se livrado de
suas dissimulações, que equivalem a falsidades e mentiras?
A
bíblia, como um todo é como um grande supermercado de conveniências. O que é
conveniência? É aquilo que nos convém; aquilo que nos interessa; aquilo que
escolhemos para satisfazer os nossos interesses ou os interesses da maioria. A
bíblia é cheia de variedades de interpretações, por isso é que dela surgiram várias matizes teológicas ou denominações. O que é que
queremos ser? O que é certo e o que é errado? Seja lá o que for
poderemos encontrar amparos para atenuar o peso de
consciência, mas mesmo essas contemplações de interesses não vão aliviar o peso
do comportamento espúrio que escolhemos e que nos convém para levar vantagens
diversas.
A
verdade bíblica não é encontrada em seus pedaços fatiados, mas no conjunto da
obra. O seu entendimento ou moral é feito pelos seus acertos e falhas e isso
deverá ser feito levando em consideração a historicidade, cultura e costumes,
não esquecendo que, confiar nos acontecimentos descritos é confiar na
perspectiva de quem os escreveu e para confiar que “tudo está certo” tem-se que
confiar em dogmas e doutrinas fora da bíblia, porque ela mesma não se posiciona
como verdade absoluta. Mesmo sem aqueles recursos escritos temos capacidade
para entender e perceber o que realmente somos. O que
nos norteia para a Verdade Absoluta é a nossa consciência, fruto do
relacionamento/comunicação do Espírito, aquele que realmente nos convence.
“Posso
fazer, pensar, projetar, escutar, envolver-me em todas as coisas, mas também
tenho a capacidade de escolher o que melhor me convém por mim mesmo”. Se a
“inspiração” foi dada aos falhos escritores, porque eu também não a posso ter
para o meu entendimento e não precisar de intermediários para os meus
questionamentos? Se toda a bíblia é Verdade absoluta, Jesus foi o maior herege
do Velho Testamento, porque transgrediu toda a Lei de Moisés, portanto
forçosamente temos de admitir que, se Jesus estava certo, o Velho Testamento
estava errado, ou vice-versa.
Será
que eu também seria um herege se dissesse que toda a Lei de Moisés era fraca e
inútil e que não servia para edificar ninguém, conforme Hebreus
7: 18/19? Se as 613 leis mosaicas eram uma baboseira só, e a
Lei era, até o tempo de Jesus a principal “regra de fé”, o que nos resta em
termos de motivação, o Velho Testamento?
Álvaro
Moraes - Manhuaçu – Minas Gerais – Brasil
Outubro
de 2016
Eu entendo que Teologia é uma coisa meio
pretensiosa, como se pretende fazer estudo de Deus, explorar em um campo
intransponível? Deus é impossível! Só pela fé! Deus não existe: Deus é!
A origem da Bíblia, um livro que a parte
nova tem 2.000 anos e a velha é de tempos imemoriais, é quase impossível. Se
não fosse o zelo judeu, não teríamos nada do Velho Testamento.
Jesus homologou o Velho, mas o Seu: “...
eu porém vos digo”, muda tudo. Jesus é a Palavra de
Deus. As heresias todas, têm base bíblica. Maus
religiosos, deturpam, sofismam, é texto fora de
contexto, e por aí vai.
Concordo plenamente com você, quando diz
que: “Considero-me cristão e tento seguir a
Cristo, e só a Cristo. Sou um admirador do Novo Testamento, mas não posso
garantir que não haverá erros como diz a tradição”.
Como se dizia na década de 60: “CRISTO É
A ÚNICA ESPERANÇA!”.
Manuel Pedro da Silva
Cardoso – Figueira da
Foz – Portugal
Outubro de 2016
O meu mau
estado de saúde não me permite senão uma breve palavra de aplauso ao seu
artigo.
Sublinho
apenas um ponto fundamental. Jesus é a chave hermenêutica de toda a Bíblia.
O Velho
Testamento tem páginas admiráveis para o cristão e tem também aspectos
abomináveis que os fundamentalistas, judeus, cristãos e muçulmanos tomam
à letra.
Um abraço amigo.