Religião
é um Sentimento (YA)
A Religião não é apenas regras, deveres e obrigações, mas um
sentimento e uma percepção que nos faz conscientes de que há uma força maior
que lida com o Universo.
Caros
leitores, queria compartilhar estas reflexões sobre religião
e o seu verdadeiro significado convosco. Muitas pessoas entendem a religião em
geral, e em particular o Islão, como uma série de deveres e obrigações e uma
lista interminável de coisas lícitas e proibições com que se deve reger.
Religião em árabe é derivado da palavra Dayn, din,
o mesmo que dívida, e a religião em seu sentido mais profundo é ser grato a
Deus. Tudo o que se tem é de Deus, e todas as criaturas, por si só, pertencem a
Deus, pelo que se a pessoa reconhece esse facto pode ser chamada religiosa. O
incrédulo, ao contrário, é aquele que nega os dons e graças com que foi
abençoado por Deus. Na verdade, quem reconhece que todas as suas posses são de
Deus tenta, na medida das suas capacidades, retornar a dívida, ou melhor, parte
do cumprimento das ordens do seu Criador e Sustentador.
Uma
vez que ninguém pode pagar a dívida na totalidade, porque ninguém merece entrar
no Paraíso, a menos que Deus nos cubra de sua misericórdia infinita, como disse
nosso nobre Profeta (Paz e bênçãos de Allah estejam
com ele). É verdade que devemos cumprir as nossas
obrigações religiosas, mas sem esquecer que tudo o que façamos nunca poderá
pagar as nossas dívidas a Deus. No entanto, o facto de cumprir os nossos
deveres religiosos é o que nos faz aproximar de Deus e, portanto, merece fazer
a sua clemência. Para uma melhor compreensão do que foi dito anteriormente,
vamos dar um exemplo. Se um pai dá a seu filho um euro, e este último o dá na
caridade, qual dos dois merece a recompensa? A resposta é: ambos merecem o prémio,
mas graças ao pai a criança pode ser generosa. Porque, se o pai não tinha dado
o euro, a criança não teria hipótese de fazer caridade. Da mesma forma, se não
fosse por Deus, não poderíamos ter feito nada; por isso temos de agradecer de
forma constante, uma vez que é Ele que dá a todos a força e o poder que nos
move. Ninguém e nada tem a sua própria força, mas a força vem de Deus, o
Todo-Poderoso.
Religião
não é apenas regras, deveres e obrigações, mas um sentimento e uma percepção
que nos faz conscientes de que há uma força grande que corre no Universo e não
é afectada pelo sono ou sonolência ou distraída por qualquer coisa. Este
sentimento tem de ser manifestado em boas obras. Práticas de culto e as boas
maneiras são, na verdade a consequência da fé e do sentimento de amor por Deus.
Este sentimento de amor para com Deus é o que nos impulsiona a fazer o bem e
nos arrasta de volta para evitar o mal. Sem sentimentos, o ser humano não daria
um passo em frente. Nós, humanos, somos movidos pelo amor, ganância, medo e
desejo. Somos movidos pelo desejo e dor e todos os sentimentos são sensações.
Há muitos versículos do Alcorão e ditos do nobre Profeta (s.a.w.)
salientando a importância dos sentimentos e do coração como o motor que
impulsiona os outros órgãos.
A
questão enfática neste ponto é: podemos controlar os nossos sentimentos ou algo
que está além do nosso alcance e poder? Muitas pessoas acreditam que não
podemos, mas a realidade é exactamente o oposto. A melhor prova disso é o que
disse o nosso nobre Profeta (que Allah lhe conceda
paz e bênçãos), quando um homem lhe pediu conselhos: “Não fique com raiva”,
disse. Ele disse-lho três vezes porque sabia que é algo controlável, senão não
o teria dito, e na verdade a raiva ou ira é um sentimento de irritação e
alteração produzida na mente da pessoa e é um dos sentimentos mais fortes e, se
se pode controlar a raiva, é muito mais fácil
controlar os sentimentos que são menos fortes. O que não se pode controlar é o
ambiente onde pode se mover, e assim por diante, mas a chave para o seu
coração, caro leitor, está consigo, se você escolher ficar zangado ou não,
escolher amar isto ou aquilo, você escolhe ser feliz ou não. Mas o que nos
ajuda a ter esses sentimentos?
Há duas razões principais: por um lado ajuda-nos o amor e o desejo
e, por outro o medo e a saudade. A primeira razão está relacionada ao prazer e
alegria e faz com que a pessoa atenda os seus desejos; e a segunda tem a ver
com dor e faz com que a pessoa evite qualquer coisa que possa causar
sofrimento. Glorificado seja Deus que nos criou e fez inatos nos outros de quem
nos aproximamos para desfrutar o prazer que obtemos e para nos afastarmos da
dor e do sofrimento dos outros (no Alcorão) pelo estilo que queremos entender
que o Paraíso é uma fonte de alegria e satisfação, e tememos o Inferno que é a
fonte de dor e punição na vida após a morte.
Concluímos o nosso pequeno estudo, dizendo que a religião está no
coração e o nobre Profeta (paz esteja com ele) disse uma vez: “A piedade é
aqui” e apontou para seu coração, mas o que está no coração tem que ser
traduzido por outros organismos. Quem afirma ser religioso e diz que ele é uma
pessoa com fé terá que demonstrar, através de acções, cumprindo os mandamentos
de Deus. Se você disser a alguém que você ama, mas não pergunta por ela, não a
visita, não mostra interesse por ela e não se preocupa com ela, mentiria ao
dizer que a ama. Como qualquer sentimento deve manifestar-se em factos, porque
se não, o sentimento é inexistente ou muito fraco.
Coordenado
(a) por M. Yiossuf Adamgy
Lisboa,
Setembro de 2011
(a)
Tendo perguntado ao autor deste artigo o significado que dava ao
termo “coordenado”, fui informado de que se baseou em fontes islâmicas e Hadith (ditos do Profeta Muhammad). Mas o artigo é deste
prestigiado colaborador da nossa página.
Camilo
COMENTÁRIOS
RECEBIDOS
Osni
de Figueiredo Belém, Brasil
É
de grande valia a lembrança contínua de que a verdadeira religião não se limita
em meras liturgias e demonstração de conhecimento teológico, mas em aplicação
eficaz das várias facetas do Amor.
Alegram-me
artigos como este que vem descortinar a essência da vontade de Deus ao passo
que me entristeço ao ver aqui no Brasil tais verdades (a) serem usadas para a
exploração financeira dos desavisados através de pessoas que se portam como
“representantes” de Deus aqui na terra.
(a)
“Tudo o que se tem é de Deus, e todas as criaturas, por si só, pertencem a
Deus, pelo que se a pessoa reconhece esse facto pode ser chamada religiosa. O
incrédulo, ao contrário, é aquele que nega os dons e graças com que foi
abençoado por Deus. Na verdade, quem reconhece que todas as suas posses são de
Deus tenta, na medida das suas capacidades, retornar a dívida, ou melhor, parte
do cumprimento das ordens do seu Criador e Sustentador.”