Pastorado
com vínculo empregatício? (CC+NG)
(Deverá
“clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)
Nos
últimos tempos tenho recebido várias mensagens do Brasil, sobre um Pastor da IURD a quem foi reconhecido o vínculo empregatício
com a sua igreja. Vínculo empregatício é expressão
utilizada no Brasil que corresponde ao vínculo laboral em Portugal e nos países
da África Lusófona.
Muitas
páginas evangélicas na internet têm comentado o assunto, algumas afirmando que
se “abriu um ninho de vespas” como o www.cristianismohoje.com.br/materia.php?k=853 . Outras
afirmam que JUSTIÇA RECONHECE VÍNCULO EMPREGATÍCIO
DE PASTOR EVANGÉLICO ou afirmam que estamos perante uma decisão inédita que poderá mudar para
sempre as relações entre as igrejas evangélicas e seus pastores.
No entanto,
estranhei alguns factos, nomeadamente:
Nenhuma
destas páginas evangélicas que se referem a este assunto transcreve o documento
principal, ou seja, o acórdão do TST (Tribunal
Superior do Trabalho).
Também
quando perguntei aos irmãos que do Brasil me enviaram esta notícia, onde
poderia ler a sentença do TST a que se referiam,
nenhum deles me soube responder.
Julgo
que seria lógico, ler primeiro o acórdão do TST e só
depois os esclarecimentos e conclusões que circulam entre os evangélicos com
base num documento que quase ninguém leu nem sabem onde o encontrar.
Contactei
com o Advogado de São Paulo, Dr. Nilson De Godoi, distinto colaborador desta página na internet, que
me enviou o seguinte esclarecimento.
Para que na Lei
Brasileira a pessoa seja reconhecida como empregado vinculado a uma igreja ou
mesmo a uma empresa as bases são: pessoalidade,
onerosidade, prestação de serviços de natureza não eventual e a subordinação
jurídica. Não havendo desses pressupostos, não há contrato de trabalho.
Quanto ao vínculo
trabalhista de pastor (ou de qualquer clérigo – pode ser padre, pai-de- santo,
diácono, apóstolo, bispo etc.) com uma igreja ou entidade religiosa a regra
geral é assim:
- A pessoa que exerce
função de serviçal religioso (sacerdote, clérigo…), a princípio não tem chefe
visível (seu chefe é espiritual), logo não há pessoalidade; não tem salário o
que recebe em ‘tese’ são esmolas, prebendas, e a atividade fim não é para obter
lucro, logo não há onerosidade; o trabalho é feito com certa liberdade no
cumprimento de horário, depende muito da necessidade das pessoas que são
consideradas seus fiéis, assim o trabalho é eventual; o serviçal religioso não
tem patrão terreno e não poderia ser mandado embora ou pedir suas contas para
se desligar, não tem indenizações para receber, logo não há subordinação
jurídica.
Agora independente do
nome do cargo, do nome dado para a função, se o serviçal religioso, pela lei
Brasileira, se enquadrar em todos os pressupostos que são: pessoalidade,
onerosidade, prestação de serviços de natureza não eventual e a subordinação
jurídica. A Justiça vai considerar como trabalhador normal.
Assim é possível mesmo
que a Igreja seja condenada a pagar todos os direitos de um pastor, ou
Pai-de-Santo, que por exemplo: - exerce funções administrativas, cumpre e marca
seu horário de trabalho, tem chefe que o fiscaliza, tem salário fixo sendo pago
pela entidade….
Existem muitas
decisões nos Tribunais Brasileiros sobre este assunto, mas, cada caso o Juiz avalia os pressupostos
legais – então é possível mesmo uma igreja ser condenada a reconhecer o
vínculo trabalhista normal de um pastor. Existe caso que o pastor trabalha durante
o dia na administração da Igreja e a noite e finais de semana faz ministrações
e atende os fiéis. Neste caso o Juiz condena a Igreja para que indenize o
pastor pelo trabalho administrativo, mas, vai absolver a igreja pelo trabalho
de pastor. Pelo trabalho de pastor a noite e finais de semana não ganha nada na
justiça.
Assim,
penso que as conclusões a que chegaram, ou pretendem chegar, certas páginas
evangélicas na internet, são um tanto precipitadas, pois como afirma o Dr.
Nilson Godoi, para “cada caso o Juiz avalia os pressupostos legais”.
Não
se confirma que estamos perante “uma
decisão inédita”, pois já houve vários casos destes, nem se pode afirmar
que “a Justiça brasileira reconhece
vínculo empregatício de pastor evangélico” como
se tal decisão se pudesse tornar extensível a todos os pastores evangélicos,
como vejo em algumas mensagens que chegaram ao meu computador.
O
simples facto desse pastor da IURD ser considerado
trabalhador da sua igreja, não significa que seja esse o caso de todos os pastores
evangélicos, a não ser que estejam na mesma situação em todos os pormenores que
o TST poderá examinar. A mesma legislação serve para
o pastor, padre, presbítero, diácono, bispo, sheik, rabi, sadú
etc.
Afinal,
o acórdão do TST está na página desse Tribunal na
internet http://www.tst.jus.br/noticias
e todos o podem consultar, mas transcrevemos a seguir, para quem o queira
consultar mais facilmente. Aconselhamos a sua leitura a todos os religiosos,
não só dirigentes, mas principalmente os leigos. Embora diga respeito à
legislação brasileira, há muitos conceitos que têm interesse noutros países
lusófonos.
Camilo
– Marinha Grande, Portugal - ---
Com
colaboração de Nilson
Franco De Godoi – São Paulo, Brasil
Agosto de 2012
Sobre este assunto, do salário do Pastor, veja também:
Pastor é profissão? (DO) Fevereiro de 2005
Pastorado com
vínculo laboral? (Diversos) Janeiro
de 2007
Pastorado: Profissão e
vocação (MC) Fevereiro de 2007
Pastor é profissão? (CC) Março de 2007
Estudos bíblicos sem fronteiras
teológicas
Veja os
comentários no fim deste artigo
7ª Turma
GMIGM/ms/fn
TRABALHO RELIGIOSO – PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PARA IGREJA
– RELAÇÃO DE EMPREGO CARACTERIZADA – AFASTAMENTO DA CONDIÇÃO DE PASTOR – SUBORDINAÇÃO,
EXIGÊNCIA DE CUMPRIMENTO DE METAS E SALÁRIO – LIVRE CONVENCIMENTO DO JUÍZO –
ART. 131 DO CPC – REEXAME DE FATOS E PROVAS VEDADO PELA SÚMULA 126 DO TST.
1. A Lei 9.608/98 contemplou
o denominado “trabalho voluntário”, entre os quais pode ser enquadrado o
trabalho religioso, que é prestado sem a busca de remuneração, em função de uma dedicação abnegada em prol de uma
comunidade, que muitas vezes nem sequer teria condições de retribuir economicamente
esse serviço, precisamente pelas finalidades não lucrativas que possui.
2. No entanto, na hipótese, o Regional, após a análise
dos depoimentos pessoais, do preposto e das testemunhas obreiras e patronais,
manteve o reconhecimento de vínculo empregatício entre o Autor e a Igreja
Universal do Reino de Deus, pois concluiu que o Obreiro não era simplesmente um
pastor, encarregado de pregar, mas um prestador de serviços à igreja, com
subordinação e metas de arrecadação de donativos a serem cumpridas, mediante
pagamento de salário.
3. Assim, verifica-se que a Corte “a quo” apreciou livremente a prova inserta nos autos, atendendo aos fatos e circunstâncias
constantes dos autos, e indicou
os motivos que lhe formaram o
convencimento, na forma preconizada no art. 131 do CPC.
4. Nesses termos, tendo a
decisão regional sido proferida em harmonia com as provas produzidas, tanto
pelo Autor, quanto pela Reclamada, decidir em sentido contrário implicaria o
reexame dos fatos e provas, providência que, no entanto, é inadmissível nesta
Instância Extraordinária, a teor da Súmula 126 do TST.
Recurso de revista não conhecido.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso
de Revista n° TST-RR-19800-83.2008.5.01.0065, em que é Recorrente IGREJA
UNIVERSAL DO REINO DE DEUS e Recorrido CARLOS HENRIQUE DE ARAÚJO.
R E L A T Ó R I O
Contra a decisão do 1º
Regional que negou provimento
ao seu recurso ordinário (seq. 1, págs. 498-512) e negou provimento aos
seus embargos de declaração (seq. 1, págs. 542-544), a Reclamada interpõe o presente recurso
de revista, postulando a reforma do julgado quanto ao:
a) vínculo empregatício com pastor;
b) multa do art. 477 da CLT;
c) valor dos danos morais (seq. 1, págs. 551-574).
Admitido o apelo (seq. 1, págs. 640-641), foram apresentadas contrarrazões (seq. 1, págs. 644-650),
sendo dispensada a remessa dos autos ao Ministério Público do
Trabalho, nos termos do art. 83, § 2º, II, do RITST.
É o relatório.
V O T O
I)
CONHECIMENTO
1) PRESSUPOSTOS GENÉRICOS
O recurso é tempestivo (seq. 1, págs. 546 e
551) e a representação regular (seq. 1, pág. 304), encontrando-se
devidamente preparado, com as custas
recolhidas (seq. 1, pág. 471) e o depósito recursal efetuado, no limite legal
(seq. 1, pág. 575).
2) PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS
a) VÍNCULO EMPREGATÍCIO – PASTOR EVANGÉLICO
Tese Regional: As duas testemunhas do
Reclamante denunciaram, expressamente, que este tinha metas de arrecadação
dos donativos a cumprir, recebendo quantia fixa pelo exercício
do mister e, que não podia exercer outra atividade. As testemunhas
presenciais da Reclamada, apesar de negarem a subordinação e as metas, também
denunciaram o pagamento de quantia mensal a título de ajuda de custo. Sendo
assim, da análise do conjunto probatório, é certo que o Autor não era
simplesmente um pastor, encarregado de pregar, mas um prestador de
serviços à instituição, com subordinação e metas a serem
cumpridas, mediante pagamento de salário, sendo imperativo o reconhecimento
do liame empregatício e a condenação da Reclamada ao pagamento das
parcelas contratuais e rescisórias (seq. 1, págs. 500-508).
Antítese Recursal: É incontroverso que,
durante mais de 8 anos, o Reclamante atuou como pastor evangélico
e líder espiritual devotado às suas convicções de fé e, por acreditar na missão
evangelizadora, resolveu espontaneamente abraçar sua vocação
sacerdotal para pregar a palavra de Deus, não se encontrando ligado à
Reclamada por uma relação de emprego, pois não foram atendidos os requisitos
dos arts. 2º e 3º da CLT, indispensáveis para o reconhecimento de
vínculo empregatício entre as Partes. Em seu depoimento, o Reclamante
afirmou que atendeu ao chamado para pertencer à igreja, motivado pela fé,
e que ministrava culto, utilizando-se da bíblia em sua pregação,
evidenciando-se aí a sua confissão real, tipificada nos arts. 334,
II, e 354 do CPC. Por se identificar com o ideário da instituição
religiosa, o ministro sacerdotal adere aos ritos espirituais, às crenças e aos
dogmas ali professados para o exercício da atividade religiosa, em obediência à
sua fé e vocação, sendo que o valor recebido pelo sacerdote não é
salário, remuneração ou retribuição, mas um suporte econômico
suficiente para sustentar o religioso e a sua família. Assim,
deve ser afastado o vínculo de emprego reconhecido judicialmente,
sob pena de violação dos arts. 5º, II e LV, da CF, 2º, 3º, 442 da CLT e divergência
de outros julgados (seq. 1, págs. 554-570).
Síntese Decisória: De início, cumpre destacar
que não há tese na decisão recorrida quanto à alegada confissão real
do Reclamante, tampouco sob a senda do contido nos arts. 334, II, e 354 do
CPC, razão por que, sobre este aspecto, emerge o óbice da Súmula 297 do
TST.
De outro lado, quanto ao
trabalho religioso, cumpre destacar que a controvérsia do início da Idade Média
foi solvida com a distinção entre trabalho profissional e estado religioso:
a) trabalho
profissional – o trabalho no meio do
mundo, no exercício de uma profissão ou ofício, correspondia a um serviço que
mereceria uma retribuição terrena, na base de honorários ou salário; e
b) estado
religioso – o serviço prestado pelo religioso a Deus e à
comunidade correspondia à resposta a uma vocação divina, segundo a qual o homem
esperaria uma retribuição extra-terrena.
Para o seu sustento,
os integrantes das ordens religiosas (monges, frades e freiras), como também os
membros da hierarquia da Igreja Católica (bispos e sacerdotes) e das diversas
confissões evangélicas ou de outras religiões (pastores, rabinos, etc), contam
com as doações e esmolas do povo
fiel. Essas contribuições não têm, de
forma alguma, a conotação de comutatividade, ou seja, de retribuição material
por um serviço de natureza espiritual. Isso constituiria o pecado de simonia, condenado desde os primórdios
do Cristianismo: venda ou promessa de bens espirituais em troca de vantagens
materiais (Simão, o Mago, pretende pagar a S. Pedro para que lhe transmita o
poder de impor as mãos sobre as pessoas, para lhes dar o Espírito Santo: Atos
dos Apóstolos, Cap. 8, v. 18-24).
Todas as atividades
de natureza espiritual desenvolvidas pelos “religiosos”, tais como administração dos sacramentos (batismo,
crisma, celebração da Missa, atendimento de confissão, extrema unção, ordenação
sacerdotal ou celebração do matrimônio) ou pregação
da Palavra Divina e divulgação da fé (sermões, retiros, palestras, visitas
pastorais, etc), não podem ser consideradas serviços a serem retribuídos
mediante uma contraprestação econômica, pois não há relação entre bens
espirituais e materiais, e os que se dedicam às atividades de natureza
espiritual o fazem com sentido de missão,
atendendo a um chamado divino e nunca por uma remuneração terrena. Admitir o
contrário seria negar a própria natureza da atividade realizada.
Pode ocorrer, no entanto, o desvirtuamento do serviço religioso, com consequências variadas
para as relações entre o religioso e a instituição a que pertence:
a)
desvirtuamento do religioso, que perde o
sentido mais elevado de sua vocação e que pretende receber uma “indenização”
pelos anos de dedicação à instituição na qual serviu, ao se desligar dela; e
b)
desvirtuamento da instituição, que perde o
seu sentido de difusão de uma determinada fé, para transformar-se em “mercadora
de Deus”, estabelecendo um verdadeiro “comércio” de bens espirituais, mediante
pagamento.
No primeiro caso, o desvirtuamento da vocação
religiosa não permite o reconhecimento de uma relação de emprego com a
Instituição à qual se filiou o “religioso”. Isto porque os integrantes da
hierarquia da Igreja, os membros de uma ordem religiosa, os pastores, rabinos e
representantes das diversas religiões se
confundem com a própria instituição.
No segundo caso, pode haver instituições que aparentam
finalidades religiosas e, na verdade, dedicam-se a explorar o sentimento religioso do povo, com fins lucrativos. Nesse
caso, o caráter “comercial” da “igreja” permite que seja reconhecido o vínculo empregatício entre os
“pastores” e a instituição. Só assim se entende que haja sindicatos de pastores, criados para defender os interesses
trabalhistas de uma “categoria profissional dos pastores” contra uma “categoria
econômica das igrejas evangélicas”.
Em fevereiro de 1998, foi editada a Lei 9.608/98, para dirimir as
discussões de membros ou colaboradores de confissões religiosas que, dedicando-se
voluntariamente ao serviço dessas instituições, pretendiam, depois, o
reconhecimento de vínculo empregatício quando deixavam de se dedicar a elas,
buscando um ressarcimento pelo tempo que a elas dedicaram.
A Lei 9.608/98
veio justamente dar uma roupagem jurídica a esse tipo de situação, contemplando
o denominado “trabalho voluntário”,
que é prestado sem a busca de remuneração, em função de uma dedicação abnegada
em prol de uma comunidade, que muitas vezes nem sequer teria condições de
retribuir economicamente esse serviço, precisamente pelas finalidades não
lucrativas que possui.
De outro lado, verifica-se que o art. 22, § 13, da Lei 8.212/91, estabelece que:
Ҥ
13. Não se considera como remuneração direta ou indireta, para os
efeitos desta Lei, os valores despendidos pelas entidades religiosas e
instituições de ensino vocacional com ministro de confissão religiosa, membros
de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa em face
do seu mister religioso ou para sua subsistência desde que fornecidos em condições que independam da natureza e da
quantidade do trabalho executado” (grifos acrescidos).
Contudo, na hipótese dos autos, nos termos do que foi
registrado pelo Regional, verifica-se que o Reclamante era obrigado a cumprir
metas, de forma que, de fato, o que se depreende daí é que percebia remuneração
sobre a qual, inclusive, incide contribuição previdenciária, em consonância com
a legislação específica retromencionada.
No entanto, no caso dos autos, o Regional cuidou de transcrever trecho
do depoimento pessoal do Reclamante que permite verificar que
este tinha metas a cumprir quanto à
arrecadação de doações, cujos valores eram sempre majorados no mês
seguinte; que exercia a atividade de administrador da igreja; que nunca teve
ata para o exercício de pastor; que ministrava cultos e cuidava das condições
físicas da igreja e ia na rua para arrecadar pessoas e doações (seq. 1, pág.
502).
Já o preposto
da Reclamada afirmou que a ata de consagração é uma confirmação
dada pela igreja para que a pessoa possa realizar batizados, casamentos, etc, e
que o Obreiro não tinha a referida ata (seq. 1, págs. 502-503).
Consignados o depoimento pessoal e do preposto, o
Regional assentou ainda os depoimentos
das testemunhas e concluiu que:
“Ora,
as duas testemunhas do autor (Colaboradores da Igreja) denunciaram,
expressamente, que o autor tinha metas de arrecadação dos donativos a cumprir,
bem como recebia quantia fixa pelo exercício do mister e, ainda, que não podia
exercer outra atividade.
Por
seu turno, as duas presenciais da ré, são Pastores e, apesar de negarem a
subordinação e metas, também denunciam o pagamento de quantia mensal a título
de ‘Ajuda de Custo’.
Sendo
assim, da análise do conjunto probatório, temos como certo que o autor não era simplesmente um ‘Pastor’,
encarregado de pregar, e sim um prestador
de serviços à Instituição, com subordinação
e metas a serem cumpridas, mediante pagamento
de salário” (grifos acrescidos) (seq. 1, pág. 508).
Assim, da leitura do acórdão regional, verifica-se que
a Corte “a quo” apreciou livremente a prova inserta nos autos, atendendo
aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, e indicou
os motivos que lhe formaram o convencimento, na forma preconizada no art. 131 do CPC, o que afasta qualquer
pretensão de cerceamento de defesa, com fulcro na alegação que circunda a
apreciação das provas dos autos.
Dessa forma, verifica-se que a decisão foi proferida
em harmonia com as provas produzidas, tanto pelo Autor quanto pela
Reclamada, em consonância com o art. 3º da CLT. Logo, decidir em sentido
contrário implicaria o reexame de fatos e provas, o que é
inadmissível nesta Instância Extraordinária, a teor da Súmula 126 do TST. Sinale-se
que não há como cogitar de divergência jurisprudencial em torno de matéria de
prova.
Pelo exposto, NÃO CONHEÇO
do recurso de revista da Reclamada, no tópico.
b) MULTA DO ART.
477 DA CLT
Tese Regional: A determinação contida no art.
477 da CLT, de que o pagamento a que fizer jus o empregado será efetuado no
ato da homologação da rescisão do contrato e no prazo ali estipulado, não
pode ser elidida diante da alegação infundada de inexistência
de relação de emprego (seq. 1, pág. 512).
Antítese Recursal: Indevida a multa
do art. 477 da CLT, uma vez que o Reclamante pretendeu o reconhecimento
em juízo de vínculo controvertido. A decisão regional divergiu
de outros julgados (seq. 1, págs. 570-572).
Síntese Decisória: No aspecto, a revista não
tem como lograr trânsito, porquanto o primeiro aresto é oriundo do mesmo
órgão prolator da decisão recorrida, esbarrando no óbice da Orientação
Jurisprudencial 111 da SBDI-1 do TST, ao passo que o segundo paradigma
não informa o órgão prolator, não havendo como ser verificado o
seu enquadramento no permissivo do art. 896, “a”, da CLT. Da mesma
forma, o terceiro precedente não tem o condão de impulsionar o apelo,
porquanto foi proferido por Turma do TST, o que não atende ao art.
896, “a”, Consolidado.
Nesses termos, NÃO
CONHEÇO do recurso de revista, quanto ao tema.
c) VALOR DOS
DANOS MORAIS
Tese Regional: O Reclamante foi acusado
de roubo e não há nenhuma prova nos autos que demonstre que tenha
cometido o ilícito, o que gera a indenização por dano moral. Na
busca do valor adequado, o juiz deve levar em consideração a intensidade do
sofrimento do ofendido, a gravidade, a natureza e a repercussão da ofensa, a
posição social do ofendido, a intensidade do dolo ou culpa, a situação
econômica do ofensor e a existência de algum tipo de retratação. Nessa linha, correta
a fixação de R$ 19.000,00 (dezenove mil reais), pois inteiramente
compatível com a situação narrada nos autos, mormente se considerado o
porte da Reclamada (seq. 1, págs. 508-512).
Antítese Recursal: Ao fixar o valor
dos danos morais em cinquenta vezes o valor do salário mínimo
nacional, a decisão de origem deixou de observar os princípios da razoabilidade
e da proporcionalidade, sendo omissa quanto ao critério e parâmetro para
fixação do “quantum” devido. Assim, o valor merece ser revisto,
determinando-se a sua redução, em observância ao critério da fixação
adotado em nosso ordenamento jurídico, para o fim de evitar o enriquecimento
sem causa do Reclamante. A decisão regional violou os arts. 5º, V, da
CF, 4º da LICC e 944 do CC e divergiu de outro julgado (seq. 1,
págs. 572-574).
Síntese Decisória: Segundo o Regional, duas
testemunhas confirmaram que o Autor foi acusado de roubo, fato
que foi denunciado em uma reunião, assentando trechos dos
depoimentos que confirmariam o ocorrido, “verbis”:
“Declarou
a presencial de fls. 269:
‘...que a depoente compunha uma reunião onde foi
comunicado que o autor estava sendo afastado sob acusação de roubo; que a
comunicação foi feita pela pessoa responsável pela unidade onde estava o
reclamante; que na unidade onde estava o autor, era ele quem era responsável
pela contagem da arrecadação, encaminhamento dos valores, etc;’
Por
seu turno, informou a testemunha que depôs às fls. 270:
‘... que sabe que o reclamante foi desligado da Igreja
em uma reunião que ocorreu num domingo, quando foi comunicado que o reclamante
teria roubado; que a comunicação foi feita pelo pastor regional; que o pastor
mencionado tinha o nome de Rogério;...’” (grifos no original) (seq. 1, págs.
510).
Pois bem, a indenização por dano, como direito trabalhista, encontra sua
previsão em nosso direito positivo no art.
7º, XXVIII, da CF, que assim dispõe:
“Art. 7°. São direitos dos trabalhadores urbanos e
rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
[...]
XXVIII –
seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que está obrigado, quando
incorrer em dolo ou culpa” (grifos nossos).
A indenização pode ser por dano moral ou material e é cobrável
perante a Justiça do Trabalho, desde
que decorrente da relação de trabalho,
conforme disposto no art. 114, VI, da CF,
“verbis”:
“Art. 114.
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
[...]
VI –
as ações de indenização por dano moral
ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho” (grifos nossos).
Do cotejo de ambos os dispositivos
constitucionais, extrai-se como conclusão inarredável a de que a modalidade de responsabilidade contemplada pela Carta
Magna como direito trabalhista e a
única para a qual a Justiça do Trabalho
tem competência de impor é a contratual. Ou seja, não tratam as
normas constitucionais em apreço da responsabilidade
civil ou aquiliana extracontratual,
decorrente da prática de ato que cause danos a terceiros.
Nesse passo, na esfera contratual, os parâmetros fixados na legislação civil (arts.
944, 945, 949, 950 e 953 do CC) não atendem, absolutamente, ao mínimo exigível
para reparar o dano e,
simultaneamente, ter efeito pedagógico para dissuadir as empresas de práticas ou omissões que podem causar dano
material ou moral aos empregados.
Com efeito, a fixação do montante da indenização por dano moral ou material na
esfera contratual trabalhista deve levar em consideração, pelo menos, os
seguintes elementos:
a) gravidade da lesão;
b) culpa concorrente do empregado;
c) função exercida pelo empregado;
d) remuneração recebida por este;
e) tempo de serviço;
f) porte da empresa e sua capacidade
financeira.
No caso do dano moral, nem todo sofrimento psicológico é enquadrado como lesão
passível de aferição e indenização, mas somente, em nosso direito positivo,
aquele que afeta os bens
constitucionalmente tutelados pelo art.
5º, X, da CF, “verbis”:
“Art. 5º. Todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
X -
são invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação” (grifos nossos).
Somente a ação ou omissão empresarial
que afetar a dignidade do trabalhador
em sua dimensão de intimidade, vida privada, honra e imagem poderá ser enquadrada
como dano moral passível de
indenização perante a Justiça do Trabalho.
“In casu”, tal como se extrai dos dados fáticos assentados nos autos:
a) o Reclamante não era simplesmente um
pastor, mas um prestador de serviços à Reclamada;
b) a Reclamada é uma igreja
nacionalmente organizada e conhecida na pregação da doutrina evangélica;
c)
a lesão invocada na reclamação diz
respeito à dignidade do Reclamante,
pelo fato de ter sido acusado de roubo
em uma reunião e que teria gerado o seu afastamento da igreja;
d)
restou comprovada a culpa da Reclamada pela acusação de
roubo, sem nenhuma prova capaz de demonstrar que o Autor tenha cometido o
ilícito;
e) o Reclamante trabalhou por cerca de 8 anos e meio para a Reclamada (25/03/99
a 03/12/07);
f) o valor do seu último salário foi de R$
2.368,00 (dois mil, trezentos e sessenta e oito reais).
Ora, a lesão é clara, os bens lesados
enquadram-se no rol dos direitos constitucionalmente tutelados e a culpa da
Reclamada restou demonstrada, razão pela qual a indenização é devida.
Quanto ao seu valor, em que pese o montante da indenização ser, subjetivamente, elevado, objetivamente não é impactante para a
Reclamada, a par de servir pedagogicamente como incentivo à adoção das medidas necessárias
ao cumprimento da legislação trabalhista ligada à Medicina e Segurança do
Trabalho.
Ademais, em se tratando de mensuração do dano, para efeito de
fixação do valor da indenização, a margem
de discricionariedade do magistrado é ampla, à míngua de tarifação por parte da legislação, até para se evitar
atitudes que se assemelhem à ponderação patronal dos ônus entre a conduta
lesiva e a sua reparação.
Sendo ampla, está mais afeta às instâncias ordinárias, por seu contato
direto com as partes e os fatos, ou, ao menos, com acesso livre a toda a
documentação alusiva à lesão e às circunstâncias da prestação dos serviços.
Assim, apenas nos casos em que o
valor fixado ou mantido pelo Regional patentemente
destoa do razoável, para mais ou para menos, é que se justificaria uma
intervenção do TST, para readequar esse montante, e, mesmo assim, quando
consignados na decisão regional os elementos fáticos necessários ao juízo de
ponderação valorativa, o que não se verifica no caso, já que, como exposto, o
Regional se utilizou de vários elementos de impossível verificação nesta
Instância Extraordinária, como a capacidade econômica da Reclamada e a condição
social da vítima e o sofrimento experimentado.
Com efeito, na hipótese dos autos, ao
manter o valor arbitrado aos danos morais, o Regional foi enfático em consignar que levou em consideração a intensidade do sofrimento sofrido pelo
ofendido, a gravidade, a natureza e a repercussão da ofensa, a posição
social do ofendido, a intensidade do
dolo ou culpa da Reclamada, a situação
econômica da agressora, a existência de algum tipo de retratação e o porte da Reclamada (seq. 1, págs.
510-512).
Ademais, considerando o valor da
última contraprestação auferida pelo Reclamante, verifica-se que a quantia
arbitrada pela Origem, de 19.000,00
(dezenove mil reais), expressa a soma
aproximada de oito meses de trabalho
obreiro, não se revelando desarrazoada, mormente em face do tempo em que o Obreiro prestou serviços à Reclamada, qual
seja, cerca de 8 anos e meio.
Nesses termos, como no caso a
indenização por dano moral foi fixada em montante
razoável, uma melhor adequação do valor demandaria o revolvimento de fatos
e provas, o que é inviável nesta Instância Superior, de natureza
extraordinária, a teor da Súmula 126 do
TST.
Assim, NÃO CONHEÇO da revista, no particular.
ISTO POSTO
ACORDAM os
Ministros da Sétima Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade,
não conhecer do recurso de revista.
Brasília, 08 de fevereiro de 2012.
Firmado por
assinatura digital (MP 2.200-2/2001)
Ives Gandra Martins Filho
Ministro Relator
Comentários
recebidos
Álvaro Querino de Moraes
Cristão,
técnico em eletrotécnica, aposentado, nasceu em 1957, residente em Belo
Horizonte - Brasil
Eu,
não fiquei sabendo de nenhum caso específico, que tenha alcançado destaque midiático, mas esta tentativa de Vínculo Empregatício é recorrente, nestas terras tupiniquins. Estas
demandas, correm a boca miúda e são abafadas pelos Pastores Presidentes de
Convenções de Instituições Religiosas. Os Bispos, ou Pastores Presidentes, das
várias Denominações, têm uma Assessoria atenta, e quando localizam este
“obreiro rebelde”, agem rapidamente. Primeiro procuram cooptá-lo com
bajulações, oferecendo cargos, salário e etc. Se não conseguirem, apelam para
desmoralização deste. Fazem divulgação do caráter corrupto deste e o excluem
sumariamente. É a limpeza da “lepra do pecado, da murmuração”, do falar contra
o “ungido do Senhor”. Grande parte, talvez a maior parte das “igrejas
evangélicas” do Brasil, são muito mais autoritárias, déspotas e obscuras, que a
própria Igreja Católica brasileira. É uma desgraçada Caixa Preta, e uma maligna
Caixa de Pandora.
Toda
esta insanidade espiritual, estes shows, este teatro montado, é para exploração
da Fé, e eu não diria da boa Fé, porque há muitos que participam, porque querem
tirar vantagens, querem um Deus Utilitário, conveniente, e em sendo usados,
também usam estas tais “igrejas”, para se locupletarem. Uns fingem que praticam
a piedade (obreiros da igreja) e outros fingem que se deixam usar (assistência
da igreja), uma autêntica simbiose, onde todos ganham de alguma forma.
Isto
atesta que: De Igreja, elas nada tem. Pois, para quem realmente quer servir a
Deus, vale a expressão, que certa vez ouvi: “Para aqueles que trabalham para
Deus, basta-lhes a recompensa de um dia O haverem conhecido”. Quem quiser fazer
algo pra Deus, já recebeu adiantado, vá e trabalhe, vá e visite os órfãos e as
viúvas, vá e sirva onde precisa. Faça o que tem que ser feito, e faça-o com
presteza e alegria, como fazendo pra Deus. Servimos a Deus, no próximo. Por que
fundar uma Instituição, um Clube, uma Associação Religiosa e chamá-la de IGREJA
TAL? Nós somos igreja, corpo espiritual de Jesus e não as Instituições, e muito
menos estes Templos eivados de paganismo, principalmente no hodierno Neopentecostalismo.
Eu
penso que, no viver do Homem de Deus (que somos todos nós), se alguém propõe no
seu Coração, viver Pregando o Evangelho exclusivamente, deixando de trabalhar,
em Ocupação Secular, Material, dedicando sua vida nesta tarefa de divulgação da
Boa Notícia, do Evangelho, nobre escolha fez. Não precisa se filiar a ninguém,
nem se registrar em nenhum Cartório Espiritual (mas os homens os constituíram,
e chamam de: Ministério ou Convenção da Igreja). Ao fazerem, deste Serviço
Piedoso, uma Profissão rendosa (e ponha rendosa nisto ultimamente), agem
equivocadamente, principalmente porque isto é feito a revelia dos membros
destas Instituições, que são os que patrocinam esta FESTA, e que nem imaginam,
quanto é o Salário dos seus líderes (pastores e demais obreiros), por isto
tantos questionamentos. No Brasil, Clubes de Futebol, Escolas de Samba e
Igrejas, não são fiscalizados e poucos sabem o que acontece em suas Contabilidades.
Estes Ministérios de igrejas, estão mais pra Mistérios de igrejas. Ultimamente
outra prática está se tornando emblemática na maioria das Igrejas Evangélicas
brasileiras: A Hereditariedade e a Vitaliciedade. Muita gente entra para nestes
Ministérios Eclesiásticos, pois este Negócio está dando muito dinheiro, status
e fama, pra muita gente. Trabalha-se quase nada e recebe-se muito. Poucos
Empregos garantem um Padrão de vida como o de alguns pastores de igreja,
principalmente das maiores. Um deles, disse outro dia: “...graças a Deus, que
meus filhos nunca precisaram estudar em Escola Pública”.
Sendo
esta prática Materialista, e até Capitalista, penso eu, que gere sim, Direitos
Trabalhistas. Mas é uma miscelânea terrível, este tal Trabalho de Obreiros
Evangélicos, que vai precisar de intervenção do Supremo Tribunal Federal, ou
Ministério do Trabalho brasileiro, qualquer Instância Superior do Trabalho.
Tem-se que se assentar em Mesa Redonda e resolver isto, mas, de uma coisa eu
sei, Ministério Espiritual é que não é, nem aqui no Brasil, nem em Portugal,
nem na China. Quem trabalha para Deus verdadeiramente e com amor, recebe dEle. Se não receber
nada da compaixão daqueles a quem serve, viva pela Fé, e se nada ganhar,
trabalhe, faça tentas, faça redes, como o Apóstolo Paulo, pra não ser pesado
aos irmãos e continue na luta. Mas se a Fé falhar, volte ao Trabalho Secular,
não estará pecando.
Mas
são os próprios Gerentes destas tais Igrejas, destas Instituições poderosas, que
criam esta balburdia eclesiástica. Não se organizam, como deveriam, mas sim,
como lhes é convenientemente. Não prestam relatório a ninguém, nem ao governo,
nem aos membros das igrejas.