Natal ... no Islão (YA)
Prezados Irmãos,
Assalamu Alaikum Wa ráhmatullahi Wa barakatuh:
Nesta época, entre alguns internautas muçulmanos se suscita um debate recorrente a
respeito de celebrar ou não o Natal com a família, especialmente entre aqueles que abraçaram o Islão na
sua maturidade ou os envolvidos de casamentos com mulheres cristãs. As posições
aqui, como em qualquer outra ocasião onde os valores e as culturas se vêem
forçadas a conviver, são variadas e não há uma resposta definitiva.
Existem certas questões superficiais e simbólicas que são
incompatíveis com o Islão, mas outras não. Entre as superficiais estão: o jogo
(Lotaria de Natal), a carne de porco e o álcool (brindes com champanhe).
No simbólico já teríamos que
colocar-nos muitos transcendentes para questionar aspectos como a divindade
de Jesus, a paz esteja com ele, e a adequação de comemorar o seu
nascimento, especialmente quando sabemos que é uma data herdada da festividade pagã do
solstício de Inverno.
Se o Mawlid, ou a celebração do nascimento do último
Profeta do Islão, Muhammad [Maomé], paz e bênçãos de Deus estejam com ele, é posta em
questão por sectores islâmicos mais rigoristas tachando-a de “idolátrica”, a
celebração do Natal por um muçulmano seria considerada por eles como
“apostasia”.
Não existe, pois, tal
coisa como o “Natal Muçulmano”, porque no Islão não
celebramos nem o nascimento de Jesus, nem o de qualquer Profeta ou
Mensageiro de Deus. (1) Isso não significa, todavia, que
Jesus, filho de Maria (Issa ibn Maryam, no Alcorão) não
tenha qualquer significado no Islão. Jesus é o Messias, a palavra do Criador e um espírito
proveniente d’Ele. Mencionado, pelo menos vinte cinco vezes no Alcorão, é tanto dos Muçulmanos como dos
Cristãos. Os Muçulmanos acreditam nele, amam-no e honram-no.
Não se pode professar o
Islão sem aceitar que o
Messias nasceu da Virgem Maria, é um Mensageiro de Deus, devolveu a visão a
cegos, curou leprosos e ressuscitou mortos, por intermédio de Deus. Também o
muçulmano aguarda a segunda vinda (2) de Jesus (p.e.c.e.) como um
prenúncio do Último Dia.
Para além destas considerações teológicas, o que realmente nos deve
preocupar é como eles interagem com ambas as comunidades por ocasião de uma
celebração tão íntima, afectuosa como o Natal e os dois Eids Islâmicos (o Eid al Fitr que
finaliza o jejum de Ramadão e Eid al Adha, a Festa do sacrifício).
Para começar, convém recordar a ambas as comunidades que o que se celebra no Natal aconteceu na
Palestina, há cerca de 2.000 anos e os seus protagonistas não eram brancos,
europeus, cristãos e imperialistas, mas sim semitas que falavam aramaico,
professavam o monoteísmo de Abraão e de Moisés e viviam no Médio Oriente. Ou seja, que
eles tinham muito mais a ver com um palestino actual do que com um Pai Natal.
Naquela época, Palestina também era uma terra ocupada por um império
pagão que reprimia com vigor qualquer ameaça aos seus interesses hegemónicos na
zona. A religião também era manipulada pelos movimentos independentistas. Demasiadas coincidências com a
actualidade.
Talvez o Natal possa ser um lugar de encontro
entre cristãos e muçulmanos para reflectir sobre a Palestina. E fazendo isso é, em suma, reflectir sobre a humanidade, já que em
2.000 anos não temos sido capazes de modelar esses desejos de paz e boa vontade
no mesmo cenário onde Jesus veio ao mundo e onde sofreu perseguição, expulsão e
tortura.
Outro lugar-comum para ambas as comunidades é a família. Acima de
diferenças de credo ou de militância política, estas festividades, como
acontece nas celebrações muçulmanas, são uma oportunidade para reunirmo-nos
com a família, amigos, vizinhos e colegas de trabalho. Isso tem as bênçãos de
ambas as religiões. É uma oportunidade de compartilhar, estabelecer
laços, cooperar e desembaraçar as dificuldades para a coexistência; o extremismo segregacionista míope é
contrário a ambas as tradições, cristãs e muçulmanas.
Por conseguinte, se um muçulmano perguntar se é
lícito ou não que ele e os seus filhos celebrem o Natal com os seus parentes
cristãos, haveria de se responder: é recomendável e além disso, ele (esse
muçulmano) deveria esforçar-se também por convidá-los (aos parentes cristãos)
para comemorar os dois EIDS.
É precisamente
nas celebrações, ao esquecermos a amargura da vida e nos deleitarmos nas suas
doçuras, quando ficamos mais predispostos a perdoar as ofensas, a ser generosos
e a encurtar as distâncias das nossas diferenças.
E quanto à preocupação a
respeito da carne de porco e do álcool, é simples: leve consigo algo de
embutidos halal, ou melhor ainda uma boa pescada, chá, alguns torrões
deliciosos e tâmaras que, pelo visto, essa sobremesa fora inventada pelos muçulmanos.
E Deus é Quem sabe melhor.
Boas Festas ao Povo
Cristão.
Wassalam! (E Paz!)
Coordenado
por: M. Yiossuf Adamgy Lisboa – Portugal.
Janeiro de
2014
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(1) – Nenhum Profeta celebrou o
seu nascimento. No entanto, há povo que tem celebrado o nascimento do seu
respectivo Mensageiro, no sentido de recordar e transmitir a sua vida e obra no
cumprimento da sua missão. A partir do séc. IX, alguns muçulmanos começaram a
celebrar a semana do nascimento do Profeta Muhammad [Maomé] (p.e.c.e.) – Maulid-al Nabi – naturalmente uma inovação, quiçá sadia,
com palestras e colóquios alusivos à vida do Profeta para recordar,
reflectir, compartilhar e passar à nova geração o melhor que há da tradição
profética, o amor em relação ao último Profeta enviado por Deus – Muhammad (s.a.w.) – e em relação a todos os Profetas anteriores (p.e.c.e.).
(2) - Ver o livro: «Jesus
Regressará», da autoria de Harun Yahya – edição portuguesa de Al Furqán.