Fórum Abraâmico de Portugal (YA)

(Deverá “clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)

 

 

 

«Aos ilustres fundadores deste Fórum, parabéns pela iniciativa.»

Faço votos que tenham o maior sucesso no sentido de se alcançar os objectivos propostos.

Tive a oportunidade de assistir ao lançamento deste Fórum Abraâmico de Portugal, realizado no passado dia 4 de Julho de 2006, pelas 18h30, na Universidade Católica em Lisboa.

Em Setembro de 2003, aquando do lançamento do meu livro “Um Repto à Ignorância em Relação ao Islão” — Edição de Al Furqán — no capítulo 12, intitulado de “Um Apelo ao Povo do Livro” eu escrevia as seguintes palavras que, acho, vêm ao encontro dos objectivos deste Fórum Abraâmico, e que, modestamente deixo aqui registadas a título de reflexão:

           

«Vivemos um dos momentos em que, possivelmente, o mundo mais necessita de paz e de amizade. As guerras e os conflitos que marcaram o século XX encontram-se ainda presentes no novo século e prosseguem a toda a velocidade e, devido a estas guerras, pessoas inocentes de todo o mundo sofrem danos físicos e espirituais.

Apesar da necessidade urgente que se sente de fortalecer a solidariedade e a cooperação, alguns círculos insistem em fomentar o conflito, particularmente entre as duas grandes e profundamente estabelecidas civilizações mundiais, nomeadamente, a Judaico-Cristã e a Islâmica, sendo esta uma questão sobre a qual é necessário concentrarmo-nos. É evidente que um conflito de civilizações do tipo pretendido por estas pessoas representa uma catástrofe para a humanidade. Um dos mais importantes meios para impedir que uma tal catástrofe aconteça, consiste no fortalecimento do diálogo e da cooperação entre as civilizações. Mais, isto não é uma coisa impossível de se fazer, visto não existirem diferenças profundas entre o Islão e o mundo Ocidental, contrariamente ao que algumas pessoas nos fizeram crer. Muito pelo contrário, existem imensos aspectos comuns entre a civilização Islâmica e a cultura Judaico-Cristã, a qual constitui a base da civilização Ocidental. Tomando-se estes aspectos comuns como base, unir forças não representaria dificuldade alguma; especialmente, quando se consideram as actuais circunstâncias.

 

A Aliança entre Aqueles que Acreditam num Único Deus

 

Os Livros sagrados das três religiões divinas descrevem a essência das crenças Judaica, Cristã e Islâmica, e o modo como possuem formas comuns de cumprimento das práticas religiosas, assim como valores éticos comuns e adversários comuns. É dever dos Judeus, Cristãos e Muçulmanos verdadeiros e possuidores de fé, consciência e senso comum, travarem um esforço comum contra a maldade e os perversos, e ajudarem-se mutuamente, em união e em conjunto. Esta união deverá ser edificada tendo por base os princípios do amor, do respeito, da tolerância, da compreensão, da harmonia e da cooperação. Devem todos ter em mente a seriedade da actual situação, e devem evitar, vigorosamente, tudo o que possa conduzir à desarmonia, à acrimónia e à divisão.

No passado, podem ter acontecido mal-entendidos entre membros destas religiões; este é um facto histórico. No entanto, estes mal-entendidos tiveram origem, não nas naturezas essenciais do Judaísmo, do Cristianismo e do Islão, mas sim em decisões erradas de estados, comunidades e indivíduos e, dum modo geral, em expectativas e interesses económicos ou políticos. Por outro lado, um dos objectivos comuns das três religiões é o de que todos os povos vivam juntos em paz, segurança e felicidade, e as três condenam o conflito, o qual é, em si mesmo, uma violação deste princípio.

Quando temos em conta o Velho Testamento, que é a base do Judaísmo, o Novo Testamento, que é a base do Cristianismo, e o Alcorão, que é a base do Islão, reparamos que, num contexto de relações mútuas, é recomendado o melhor dos comportamentos, assim como os melhores modos no falar. O comportamento que os crentes deveriam adoptar para com os outros, está expresso na Bíblia, nos seguintes termos:

Procurai a paz com todos e a santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor. Hebreus 12:14

No Velho Testamento, também aos Judeus é dito que tratem bem as pessoas: Buscai o bem e não o mal, para que vivais; e, assim, o Senhor Todo-Poderoso estará convosco, como dizeis. Odiai o mal, e amai o bem, e mantende a justiça nos tribunais. Amós 5:14/15

Em muitos versículos do Alcorão, o nosso Senhor revelou a importância de uma moralidade e bondade adequadas e de responder ao mal com o bem, e ordenou aos Muçulmanos que tivessem boas intenções e fossem tolerantes para com os Judeus e Cristãos ou, por outras palavras, o Povo do Livro.

Falai com brandura a todas as pessoas. Alcorão 2:82

Jamais poderão equiparar-se a bondade e a maldade! Retribui (ó Muhammad) o mal da melhor forma possível, e eis que aquele que nutria inimizade por ti converter-se-á em íntimo amigo! Alcorão 41:34

Chama-os para o caminho do teu Senhor com sabedoria e honesta exortação, e dialoga com eles da melhor maneira, porque o teu Senhor conhece bem aquele que se afasta do Seu caminho e conhece bem aquele que caminha a direito. Alcorão 16:125

... E se Deus quisesse teria feito de vós um só Povo, mas, fez-vos como sois, para vos testar por aquilo que vos concedeu, portanto, competi uns com os outros nas boas acções. Todos voltareis para junto de Deus, que então vos esclarecerá a respeito das vossas divergências. Alcorão 5:48

(...) O Povo do Livro partilha dos mesmos padrões morais, da mesma base da palavra de Deus e dos mesmos conceitos do que é proibido e do que é permitido. É por este motivo que é permitido a um Muçulmano ingerir uma refeição preparada por membros do Povo do Livro, crente. Do mesmo modo, foi concedida permissão a um Muçulmano para desposar mulheres do Povo do Livro. São estas as fundações sobre as quais relações humanas calorosas e uma vida comum pacífica podem ser edificadas. É impossível a um Muçulmano crente ter outra ideia qualquer quando o Alcorão recomenda uma tal atitude moderada e tolerante. No Alcorão, Deus diz aos Muçulmanos para que se dirijam ao Povo do Livro da melhor maneira possível. O elemento mais importante partilhado pelo Povo do Livro e pelos crentes é, sem dúvida, a fé em Deus.

Que a paz esteja connosco.

M. Yiossuf M. Adamgy

Lisboa, 2006-07-09

 

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas