Cristianismo e Islamismo (YA)

(Visão dum islâmico português)

(Deverá “clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)

 

 

 

Se Deus quisesse, ter-vos-ia constituído em um só povo; porém, Ele desvia quem quer e encaminha quem Lhe apraz. Por certo que sereis interrogados sobre tudo quanto tiverdes feito. Alcorão, 16:93

 

 

Cada qual tem um objectivo traçado por Ele. O princípio básico é Amar a Deus sobre todas as coisas; mas para que seja completo tem que continuar-se: E ao teu próximo como a ti mesmo, por amor a Deus. Como resultado da crença em Deus e na fraternidade dos seres humanos, a humanidade deverá, necessariamente, viver uma vida de amor, concórdia, cooperação e paz. Todas as leis de Deus foram reveladas com o objectivo de enfatizar este aspecto. Os Profetas de Deus, paz esteja com eles, em épocas diferentes, mostraram à humanidade que a religião de Deus é sempre a mesma, que os homens são irmãos, sem nenhuma inimizade ou conflito entre eles, que a força da sua mensagem é sempre a mesma; que Quem os elevou foi Um e que o fundamento da sua religião é só um, sem possibilidade de contradição ou diferença entre eles. O Alcorão diz:

 

Ele ordenou para vocês a religião que encomendou a Noé, a que te revelou a ti (Muhammad), a que ordenou a Abraão, Moisés e Jesus, dizendo: 'Estabelecei a religião e não vos dividis nela. Alcorão 42:13

 

Este texto, sem dúvida alguma, é um testemunho de que a religião de Deus é a mesma, em todos os tempos. No Alcorão há muitos exemplos a este respeito, como:

 

Na verdade inspiramos-te tal como inspirámos Noé e os Profetas que o sucederam; E também inspirámos Abraão, Ismael, Isaac, Jacob e as tribos, Jesus, Job, Jonas, Aarão, Salomão, e concedemos os Salmos a David. Alcorão 4:163

 

Na verdade, Nós mandamos os Nossos apóstolos com provas claras, e enviámos com eles o Livro e a balança (do bem e do mal) para que os homens possam observar a medida justa. Alcorão 57:25

 

Dizei: 'Cremos em Deus, no que nos tem sido revelado, no que foi revelado a Abraão, a Ismael, a Isaac, a Jacob e as tribos; no que foi concedido a Moisés e a Jesus e no que foi dado aos Profetas procedente do seu Senhor. Não fazemos distinção alguma entre eles, e nos submetemos a Deus. Alcorão 2:136

 

Concedemos o Livro a Moisés, e depois dele enviamos muitos Mensageiros, e concedemos a Jesus, filho de Maria, sinais claros, e o fortalecemos com o Espírito Santo. Alcorão 2:87

 

Os fiéis, os judeus, os sabeus e os cristãos, que crêem em Deus, no Dia do Juízo Final e praticam o bem, não serão presas de temos, nem se atribularão. Alcorão 5:69

 

Ó humanidade! Nós vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em tribos e nações, para que se conheçam uns aos outros. Alcorão 49:13

 

Para Nós será o regresso deles. Então caberá a Nós chamá-los para as contas. Alcorão 88:25/26

 

Qualquer pessoa que leia o Alcorão, poderá ver que os Suras (capítulos) mais longos do Alcorão enobrecem e dignificam Jesus e a Virgem Maria. O Alcorão também menciona e clarifica alguns dos milagres de Jesus (paz esteja com ele) e narra outros milagres que não se encontram no próprio Evangelho, como por exemplo pássaros feitos de barro aos quais deu vida através de um sopro, com a permissão de Deus, e também menciona o facto de que Jesus falava às pessoas ainda no seu berço.

 

Outros dos longos capítulos do Alcorão referem--se a Jesus: o primeiro é “Maria” e o segundo é “A família de Imran”, que era a família de Maria. Nestes capítulos conta-se como Maria, que era imaculada, deu à luz a Jesus e como foi também uma concepção imaculada:

 

E quando os anjos disseram: "Ó Maria! Deus te elegeu e te purificou e te preferiu de entre todas as mulheres da humanidade... 'Ó Maria! Por certo que Deus te anuncia o Seu Verbo, cujo nome será o Ungido (Messias), Jesus, filho de Maria; nobre neste mundo e no outro; e que se contará entre os diletos de Deus. Ele falará aos homens, ainda no berço, bem como na maturidade, e se contará entre os virtuosos. Alcorão 3:42/46

 

O Alcorão dirige-se aos Povos do Livro para mostrar com clareza o alto cargo que ocupa Jesus perante Deus:

 

Ó povos do Livro! Não exagereis na vossa religião nem digais de Deus senão a verdade. O Messias, Jesus, filho de Maria, foi tão-somente um Mensageiro de Deus e o Seu Verbo que Ele insuflou em Maria. É um Espírito vindo d'Ele. Crede, pois, em Deus e nos Seus Mensageiros e não digais: “Trindade”! Abstende-vos disso, que será melhor para vós; sabei que Deus é Um só. Glorificado seja Ele! Longe está a hipótese de ter tido um filho. A Ele pertence tudo quanto há nos céus e na terra; e Deus é mais do que suficiente Guardião. Alcorão 4:171

 

Estas crenças com respeito a Jesus que são incutidas aos muçulmanos, abrem-lhes os corações aos seus ensinamentos e facilitam a convergência e a cooperação entre muçulmanos e cristãos.

 

O Alcorão mostra claramente que os cristãos são os que se encontram mais próximos dos muçulmanos devido à moral e às virtudes que partilham com eles:

 

Verás que os que estão mais próximos em afecto àqueles que acreditam são os que dizem: 'Somos cristãos'. Isto acontece porque entre eles há sacerdotes e monges e não são soberbos. Alcorão 5:82 (a)

 

O Profeta Muhammad (s.a.w.) disse:

“Muçulmanos, conquistareis o Egipto! Quando o fizerdes, sede amáveis para com os cristãos”.

O quarto Califa, Ali (r.a.), costumava dizer aos cristãos: “Nós não queremos evitar que creiam no Cristianismo, mas sim sugerir-vos que de facto lhe obedeçais (ao verdadeiro Cristianismo)”.

 

E há incontáveis exemplos como estes.

O próprio Profeta Muhammad (s.a.w.) dispôs na sua Mesquita em Medina, espaço para os seus convidados cristãos orarem. E quando os muçulmanos fizeram da grande Mesquita Omíada, em Damasco, um templo comum para muçulmanos e cristãos, que entravam pela mesma porta, mas tinham a mesquita dividida em dois e juntos faziam habitualmente as orações.

 

Este foi o resultado inevitável do entendimento, a aproximação e o respeito que existia entre estas duas religiões reveladas, naqueles tempos. Coincidiam em propósitos e objectivos, e não havia oposição na sua essência e origem.

 

É igualmente bem sabido, a este respeito, que Omar, o segundo Califa, quando entrou em Jerusalém, recusou a oferta de orar no Santo Sepulcro, para evitar que os muçulmanos, no futuro, tentassem converter a Igreja ou parte dela numa Mesquita.

 

O Profeta Muhammad (s.a.w.) ordenou aos muçulmanos que fossem amáveis com os judeus e cristãos, pois eram seguidores das duas religiões reveladas antecedentemente (Povos do Livro). E disse: “Quem causar mal a um cristão ou a um judeu será meu inimigo no dia do Juízo e pagará por isso”, acrescentando: “Sede amáveis com os cristãos”.

 

 Se a humanidade em geral não é capaz de libertar-se dos seus preconceitos e trabalhar no sentido da tolerância religiosa, a situação será espantosa e Deus nos repreenderá no Além por cada um dos nossos erros, pelo nosso fanatismo e discórdia, pois são estas as que promovem a devastação, a agonia e o derramamento de sangue.

 

A melhor conclusão para esta minha intervenção, digamos sobre o diálogo inter-civilizacional, seriam as palavras da Senhora Schmael, quando terminou o seu discurso dizendo:

 

O meu hábito não é o de fazer declarações ou escrever panfletos e não é o da excitação e dos discursos tormentosos. Eu creio que a água pura no seu incessante correr irá, através do tempo que passa, vencer as rochas sólidas. Mas eu acrescento a minha gratidão — enquanto desejo obter ajuda para a causa da paz — à qual Goethe faz a sua alusão nos seus Poemas Orientais:

 

«A Allah pertence o Oriente

E também o Ocidente,

O Hemisfério Norte

E o Sul.

Estão calma e pacificamente perante Ele;

Só Ele é o Justo;

Ele deseja o bem para os Seus adoradores;

De entre centenas de nomes Seus,

Tomem este para vós.»

 

Que Deus nos ilumine a todos.

 

 

 

(a) O significado não é que eles se intitulavam meramente cristãos, mas que eram cristãos sinceros, que apreciavam as virtudes dos muçulmanos, como aconteceu com os abissínios, ao rei dos quais (conhecido por Negus), os muçulmanos pediram refúgio durante a perseguição ocorrida em Meca (ár. Makkah), que ficou considerada como a primeira migração dos muçulmanos de Meca.

 

Mahomed Yiossuf Mahomed Adamgy

Lisboa – Portugal

Março de 2010

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas