Burqa e a sua origem (YA)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Falando da burka ou burqa, exclusivamente num contexto de teologia, como me foi solicitado, para publicação na página Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas, devo afirmar que não é correcto acreditar que o Alcorão obriga a cobrir a face. O Alcorão aconselha a não exibirem os seus adornos em público e a palavra usada em Alcorão 24:31 é zinah (adorno). É melhor se não mostrarem os seus atractivos (zinah) publicamente, mas podem fazê-lo em privado nas suas próprias casas e perante as pessoas mais chegadas, como os pais, sogros, tios, outras mulheres e crianças.

Não há menção de hijab ter de cobrir a face no Alcorão. Todos os juristas e teólogos muçulmanos concordam que, de acordo com Alcorão 24:31, as mulheres podem manter o seu rosto descoberto e também podem manter as suas mãos abertas e usarem anéis nos dedos. Este versículo também pede às mulheres para cobrirem os seus seios.

Isto mostra claramente que na sociedade árabe pré-islâmica as mulheres mantinham os seus seios, pelo menos em parte, se não totalmente, descobertos, como muitas mulheres nas sociedades ocidentais fazem hoje. Além disso, há um debate entre os teólogos se este versículo se refere a ornamentação externa ou da beleza do próprio corpo, o que exigiria cobertura de todo o corpo da cabeça aos pés, de modo a esconder a beleza do corpo.

Há também um hadith que o Profeta (p.e.c.e.) disse a Asma (r.a.), irmã da sua esposa Aysha (r.a.), quando ela apareceu vestindo roupas finas:

 

"Ó Asma, quando a mulher atinge a puberdade não é adequado que qualquer parte do seu corpo seja visto, excepto isto, e ele apontou para o rosto e as mãos." (Abu Daud Sunan Alcorão 31:30). 

 

Este hadith estabelece, de forma conclusiva, que o rosto e as mãos não precisam ser cobertos. No entanto, a burqa que cobre a mulher da cabeça aos pés, incluindo a face, é amplamente difundida no mundo islâmico. Qual é a sua origem? É certamente mais cultural do que religiosa. Um eminente estudioso e juiz, Amir Ali, que escreveu extensivamente sobre o Islão e a história islâmica, afirma que teve origem muito depois do Profeta, isto é, cerca de 7º século da Hijra (XIII século d.C.), ou seja, depois do saque a Bagdad. Não se sabe sobre o período inicial do Islão. No entanto, outro eminente historiador islâmico, Maulana Shibli, contemporâneo de Juiz Amir Ali, contestou esta posição e escreveu, no seu artigo sobre Purdah que esta existia na sociedade árabe pré-islâmica e que o Islão simplesmente o aceitou. (Fonte: Centre for Study of Society and Secularism / Institute of Islamic Studies – India).

Seja qual for a posição, uma coisa é absolutamente clara: o Alcorão não obriga que cubram o rosto. E quer Maulana Shibli ou Juiz Amir Ali estejam certos, tornou-se parte da cultura islâmica.

Hoje, muitas mulheres muçulmanas usam burqa por coerção social ou familiar e muitas de forma voluntária, como uma marca de tradição islâmica. Há outras razões também. Para muitos, o purdah/burqa é uma marca da identidade muçulmana mas é também justificada como protecção da dignidade da mulher. Essas mulheres dizem que se sentem completamente seguras e não têm nada a temer e que ninguém pode molestar ou estuprá-las. São levadas a sério, como mulheres sérias. Pode ser até certo ponto, mas as mulheres podem sentir-se muito mais seguras se existir o ambiente social adequado e se a aplicação da lei e da ordem for mais rigorosa.

Muitas mulheres usam burqa por uma questão de tradição e algumas sob imposição familiar. Essas mulheres também dizem que não é de modo algum um impedimento para o seu trabalho. Bem, pode ser a racionalização de uma tradição. Além disso, às vezes o que não parece estar sujeito a opção pode realmente não ser assim. A escolha é também ditada pelo ambiente em que vivemos. Na sociedade de consumo, também nos sentimos como tendo livre escolha, mas é mais frequente que a nossa escolha seja ditada pela publicidade de produtos.

As tradições culturais também exercem uma pressão silenciosa e que parece ser uma escolha não verdadeiramente livre. Seja o caso da burqa ou da hijab para as mulheres muçulmanas, no seu próprio ambiente cultural, não é realmente um encargo ou uma prisão, como poderá parecer àqueles totalmente alheios a esta tradição. Os ocidentais estão chocados porque as suas tradições culturais são radicalmente diferentes. A cultura ocidental contemporânea revela-se em expor mais o corpo da mulher do que ao escondê-lo. A tradição ocidental é justamente o oposto.

 

Concluindo: As mulheres não devem ser tratadas nem como objecto de desejo do homem, nem como algo a ser escondido ou preso. Ela deve vestir-se para manter a sua dignidade e a sua individualidade, como um agente livre, que é o mais desejável e esse é o seu estatuto no Alcorão. A sua sexualidade não deve ser temida nem utilizada como luxúria, mas sim celebrada como uma dádiva divina.

 

Mahomed Yiossuf Mahomed Adamgy

Lisboa – Maio de 2010

 

 

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas

 

 

 

Comentários recebidos

 

 

Álvaro Querino de Moraes53 anos, técnico de electrotécnica aposentado. Minas Gerais, Brasil. Assembleia de Deus.

A respeito do Estudo em epígrafe, sobre a Burqa, do Sr. Yiossuf, são respostas importantes sobre questões de cunho Cultural e até Social, sobretudo nos países onde o islamismo é prevalente.

Infelizmente, a religião, que deveria ser lenitivo para o mundo é o desgraça tudo. Em nome de Deus, destruímos o mundo que Deus criou, para nele sermos felizes, um contra-senso total. Deus é amor, e amor implica em: tolerância e respeito para com o próximo.

Apesar de eu estar vivendo no século XXI, eu penso que o pudor e a boa moral é atemporal e deve ser observado em toda meio social humano. A liberdade é maravilhosa, mas nem todos nós a merecemos. Assim concordo plenamente com o sr. Yiossuf, que disse: “as mulheres podem sentir-se muito mais seguras se existir o ambiente social adequado e se a aplicação da lei e da ordem for mais rigorosa”. Esta aplicação da Lei tem de ser sobre todos, não deixando de atingir principalmente aos ricos e poderosos, que normalmente se safam.

O sexo masculino se excita muito com o que vê, por isto é que as mulheres no Ocidente, se mostram tanto. Pessoas inescrupulosas exploram isto e tiram vantagens de todos os jeitos, mas as pessoas, sejam homens ou mulheres íntegras, devem fazer o que deve ser feito: Ter senso crítico apurado e consciência dos seus atos. Não se deixar levar pela Mídia, nem pelas propagandas de produtos, nem pela moda, nem pelas opiniões alheias. A Bíblia nos ensina a experimentar de tudo e reter o bem.

Mais uma vez agradeço a você, e seus colaboradores.

Agradeça, por mim ao sr. Mahomed Yiossuf Mahomed Adamgy. 

Álvaro Moraes – Belo Horizonte, Maio de 2010.

 

 

 

Maria Irene Bernardo Cardoso  - Católica interessada em teologia. Natural de Moçambique. Professora do Secundário aposentada, residente em Lamego, Portugal.

Exmo Senhor Mahomed Yiossuf:

De todo o coração lhe agradeço a gentileza deste esclarecimento e subscrevo inteiramente as suas preciosas palavras que transcrevo:

«Concluindo: As mulheres não devem ser tratadas nem como objecto de desejo do homem, nem como algo a ser escondido ou preso. Ela deve vestir-se para manter a sua dignidade e a sua individualidade, como um agente livre, que é o mais desejável e esse é o seu estatuto no Alcorão. A sua sexualidade não deve ser temida nem utilizada como luxúria, mas sim celebrada como uma dádiva divina.»

As mulheres baptizadas precisavam de ler o que o Senhor escreveu ou, pelo menos, esta conclusão cheia de sabedoria e de sensatez: o bom senso que nos está a faltar.

A verdade é que (e digo isto com imensa pena e até vergonha) é que muitas mulheres vão casar-se à Igreja Católica, quase nuas da cinta para cima. Os nossos Padres já não sabem o que hão-de fazer: eu, por mim, logo ao tratar dos documentos para o casamento, imporia regras também no vestuário. Mas regras para serem cumpridas!

Há outro aspecto a considerar: a formação humana. Os nubentes (muçulmanos ou cristãos) deveriam receber uma preparação muito cuidada e durante um tempo considerado razoável para ficarem realmente conscientes dos valores da Vida e das responsabilidades do Matrimónio. O que levam para o casamento (e falo dos nubentes católicos), muitas vezes, a noção de que a união entre marido e mulher se deve fazer apenas na base da emoção e do capricho. Ora isto é o vazio!

Muito obrigada pelas suas palavras esclarecedoras!

É preciso que o Governo dê às religiões o lugar que lhes é devido, a bem de toda a Nação. Seria bom que Cristãos, Muçulmanos e outras religiões tivessem uma voz mais activa. Sem moralidade, sem regras, não vamos a lado nenhum: caímos no caos!

O que o Senhor Yiossuf escreveu poderia ter sido escrito por um Sacerdote Católico ou por um Pastor Protestante: é doutrina de Cristo, também.

Muito bem-haja!

Afectuosos cumprimentos, extensivos a sua Senhora e Filhas.

Cordialmente,

Maria Irene – Lamego, Portugal

Março de 2011.