Apocalipse
de João e o Cânon neotestamentário (CC)
(Deverá “clicar” nas referências bíblicas para ter acesso aos textos)
1
– Introdução
O livro
neotestamentário “Apocalipse de João” tem levantado sérias dúvidas a muitos
crentes.
Bem sei que a esta primeira
afirmação, muitos “entendidos” certamente dirão: “É devido à ignorância e falta
de estudo bíblico”. Mas, a que tipo de “estudo” se referem? Certamente ao
“estudo” dirigido pelo pastor da igreja, sem que haja intervenção da
assistência e sem liberdade para ninguém questionar as suas afirmações, que
remete os crentes para a cómoda posição heterónoma de
quem considera o iluminado pregador, não como infalível (isso contraria a
teologia evangélica), mas quase infalível.
O pior é que, depois de
16 séculos, desde que o Apocalipse foi incorporado ao cânon neotestamentário,
os “entendidos” em teologia ainda não encontraram uma explicação aceite por
todos ou pelo menos por uma grande maioria. Será que podemos acusar a todos de
ignorância ou falta de estudo bíblico?!!
Algumas igrejas de
influência norte-americana, muito falam no Apocalipse e até já marcaram várias
datas para o cumprimento das profecias apocalípticas!!... Mas os anos passaram
e nada aconteceu, a não ser o descrédito dessas igrejas.
Por outro lado, os
pastores com melhor preparação teológica, das igrejas mais tradicionais e mais
sérias, geralmente evitam de falar nas profecias do Apocalipse, e quando fazem
alguma referência, é sempre do “alto do púlpito”, protegidos das perguntas da
assistência, pois são raros os pastores com preparação para debater o assunto
numa verdadeira Escola Dominical participativa.
Já tive a experiência
de emitir a minha opinião sobre o Apocalipse, numa igreja batista e ser
arrogantemente repreendido por um pastor batista da assistência, que nem sequer
era o pastor dessa igreja, atitude típica dum fundamentalista que não está
preparado para debater o assunto e tenta colmatar com a sua arrogância e
autoritarismo os argumentos que lhe faltam.
Parece que os
comentários ao Apocalipse e ao dogma do cânon são assuntos proibidos nas
igrejas, razão que me levou a abordar o assunto nesta página da internet, a
“Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas”, pensando nos muitos casos
semelhantes que certamente acontecem nas igrejas ditas “evangélicas”, onde
geralmente, tal como no catolicismo não há verdadeira liberdade de expressão.
2 – Formação do cânon neotestamentário
Como podemos ver em Lucas 1:1/4 - Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos
factos que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os
presenciaram, desde o princípio, e foram ministros da palavra, pareceu-me,
também, a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua
ordem, havendo-me já informado, minuciosamente, de tudo, desde o princípio;
Para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado. No
primitivo cristianismo havia muitos manuscritos (evangelhos, epístolas,
apocalipses) que circulavam pelas várias igrejas.
Através dos tempos,
alguns desses textos foram adquirindo uma maior aceitação, enquanto outros
foram rejeitados pelo primitivo cristianismo.
Duma maneira geral, podemos
afirmar que os textos que tiveram maior aceitação nas igrejas primitivas, acabaram por ser integrados nesta colecção de livros a que
hoje chamamos de Novo Testamento. Entretanto os outros livros foram
considerados como apócrifos, alguns perderam-se para sempre, mas há muitos
textos apócrifos do Novo Testamento, cujas cópias chegaram aos nossos dias,
algumas na totalidade, outras em parte, e outras só em pequenos fragmentos dos
antigos manuscritos.
Jesus não nos deixou
nenhuma lista dos livros do Novo Testamento, pois estes foram escritos depois
da sua época. Até o cânon veterotestamentário foi organizado pelos judeus na
cidade de Jâmnia no ano 90 depois de Cristo.
Assim, ao falarmos do
cânon, não estamos a questionar nenhuma afirmação do Mestre, mas estamos
perante uma decisão da teologia, que pode e deve ser questionada. Parece-me
estranho que os pastores evangélicos fundamentalistas, que tanto criticam as
decisões dos Papas, defendam o cânon com muito mais calor, direi mesmo
fanatismo, do que os teólogos católicos dos nossos dias.
Logo de início, em
especial no segundo século, houve discussões entre os crentes sobre os livros
que mereciam maior credibilidade, mas não havia tanta necessidade de se definir
concretamente quais os livros do cânon, por não haver imprensa. Os vários
livros eram copiados manualmente, e certamente que todos eram livres para
copiar o que muito bem entendessem, quer fossem livros canónicos ou apócrifos, pois no Império Romano
havia inicialmente liberdade de expressão e liberdade de religião.
Segundo os
historiadores, o primitivo cristianismo não teve dúvidas em aceitar quase todos
os livros do actual Novo Testamento. Os livros que algumas igrejas primitivas
rejeitaram, e hoje estão no cânon neotestamentário, foram os seguintes:
Epístolas de Hebreus, Tiago, II Pedro, II João, III João, Judas e o Apocalipse
de João.
Mas não havia a rígida
divisão entre livros canónicos e livros apócrifos. A “fronteira” não era bem
definida. Como podemos ver pela opinião de Eusébio de Cesareia (265-340) que
fazia a seguinte divisão, numa época em que o cânon ainda estava em formação (a)
1 - Livros homologúmenos - aceites por todas as igrejas, aos quais,
escreve ele, se julgarem oportuno, podem acrescentar o Apocalipse de João.
2 – Livros
antilegúmenos – aceites por muitos, mas não pela totalidade
(deuterocanónicos).
3 – Livros adulterados
- os que, embora não estejam entre os livros canónicos, não contêm ideias
heréticas, isto é, têm carácter hortodoxo. Ele cita
como exemplos o Evangelho dos judeus, Apocalipse de Pedro, Actos de Paulo, Apocalipse
de João, Pastor de Hermas e muitos outros.
4 – Livros heréticos –
Os que pretendiam substituir os livros canónicos, utilizando o nome de algum
apóstolo já há muito falecido, como por exemplo o Evangelho de Pedro, Evangelho de
Tomé, Evangelho de Matias, Actos de João e muitos outros.
Assim, como vemos, para
os cristãos do século III e início do século IV, o Apocalipse de João era
considerado “livro adulterado”, mas nessa época, começou a ser tolerada a sua utilização
nas igrejas.
3 – Quais os critérios para incluir um livro
no cânon.
Atendendo a que toda a
nossa teologia cristã se baseia nos livros canónicos, em especial nos
neotestamentários, pode-se afirmar que o cânon se transformou de certa maneira
no fundamento da teologia. Portanto, seria de esperar que este assunto fosse
amplamente debatido nas igrejas.
No entanto, tal não
acontece. E mesmo quando há referências ao cânon, é quase “obrigatório” referir
que o cânon merece toda a nossa confiança. Esta afirmação que tantas vezes
substitui uma curta e clara comprovação dessa credibilidade, que todos
procuramos, acaba por convencer o leitor atendo, precisamente do contrário, e o
cânon continua a ser um assunto do “índex” das igrejas ditas “evangélicas”.
Considero tal atitude,
além de incorrecta, também pouco bíblica, atendendo a que Cristo não nos deixou
uma lista dos livros inspirados. Sendo o cânon produto da teologia, poderá e
deverá ser questionado. Segundo o exemplo que os bereanos nos deixaram, com o
apoio de Paulo, toda a teologia deve ser cuidadosamente examinada pelos
crentes. Se os bereanos examinaram cuidadosamente as palavras do próprio
Apóstolo Paulo, quanto mais cuidado devemos nós ter, quando ouvimos os nossos
pastores.
Os principais critérios
utilizados para incluir um texto no cânon neotestamentário eram os seguintes:
1 – Ter sido escrito
por um apóstolo ou pelo menos ter a aprovação dum apóstolo, como o caso de
Marcos, que transmitiu o que aprendeu com Pedro, ou Lucas, que foi companheiro de
Paulo.
2 – Ter a aprovação
unânime ou quase unânime das igrejas, através dos tempos. Esta condição, como
vimos, não se aplica aos vários apocalipses, inclusive o Apocalipse de João,
que foi rejeitado pelo primitivo cristianismo e ainda levantava sérias dúvidas
no Concílio de Niceia (325).
Mas o Concílio de
Niceia (325) não tratou do assunto do cânon. Só os Concílios de Cartago (397 e
419) é que fixaram o cânon neotestamentário nos 27 livros que são aceites
actualmente.
4 - Qual o contexto histórico dos Concílios
de Niceia e Cartago?
É natural que muitos
visitantes da minha página perguntem nesta altura: Então, se os Concílios de
Cartago reconheceram o Apocalipse, podemos afirmar que esse livro foi aceite
pelo primitivo cristianismo? Qual o contexto histórico e cultural e em
especial, como era a Igreja dessa época? Ainda estavam nos tempos da igreja
primitiva?
4.1 – Concílio de Niceia
Muitos consideram
Niceia (325), como o fim do primitivo cristianismo e o nascimento da Igreja
Católica.
Não ponho em dúvida que
estamos perante uma data muito importante, mas certamente que a transição foi
gradual e não podemos esperar que o mundo mudasse dum dia para o outro.
A igreja primitiva
tinha acabado de sofrer uma perseguição, quando repentinamente o mundo mudou.
O Imperador Constantino
(Constantinus) afirmou que se convertera ao cristianismo e proibiu as
perseguições aos cristãos. Para muitos historiadores, tal conversão nada mais
foi que uma opção política. Vendo que não conseguia acabar com o cristianismo
pela violência, resolveu aproveitar a seu favor o entusiasmo e dedicação dos
primitivos cristãos.
Embora não ponha de
parte essa interpretação de muitos historiadores, penso que não nos devemos
precipitar a julgar Constantino, pois ele revela alguma sensibilidade e
interesse pela teologia, pois foi assistir e até dirigir esse Concílio de
Niceia, para o qual convidou representantes de todas as igrejas que viajaram
até ao seu palácio na actual Turquia, utilizando os transportes reservados aos
altos funcionários do Império Romano. O principal motivo era o arianismo que
negava a Trindade e a divindade plena de Cristo, pois numa época em que os
bárbaros já ameaçavam invadir o Império Romano, Constantino não queria uma igreja
dividida.
O principal assunto a
resolver, que dividia os teólogos, se Jesus era verdadeiro Deus ou se era um
ser criado por Deus, parecia não ter solução, até que o próprio Imperador
Constantino perguntou: Será que Jesus não é “homousios”?
Isto é, da mesma natureza de Deus?!!
Afinal, foi o Imperador
que ensinou teologia aos teólogos. Esse foi o pensamento principal do Credo
Niceno, que quase todos aceitaram e os poucos bispos que discordaram, tiveram
de fugir de Niceia.
Constantino conseguiu
assim unificar a Igreja, pois não era a liberdade de expressão, meditação
teológica, e tolerância que lhe servia, mas sim uma Igreja forte, autoritária e
sem evasivas, para unificar o seu Império.
Mas, o Concílio de
Niceia não examinou o assunto do cânon e a única referência dessa época que
chegou aos nossos dias é essa afirmação de Eusébio de Cesareia que já
referimos. O problema teológico resolvido em parte pela força, sem verdadeira
liberdade de expressão, não deu bons resultados, pois com a morte de Constantino
no ano 337 voltaram os teólogos arianos que estavam exilados.
4.2 – Concílios de Cartago
Foi nos Concílios de
Cartago em 397 e em 419 que pela primeira vez ficou definido o cânon
neotestamentário. Segundo os historiadores, foi no tempo do Papa Sirício
(Concílio de 397) e do Papa Bonifácio (Concílio de 419), quando Honórios
(395/423) era imperador do Ocidente.
Se o ambiente da Igreja
no Concílio de Niceia, já nada tem a ver com o primitivo cristianismo, muito
menos podemos dizer do ambiente dos Concílios de Cartago.
Limito-me a apresentar
alguns factos históricos, que nos mostram o ambiente da Igreja dessa época.
389 a
391 – Teófilo, Patriarca de Alexandria, inicia violenta campanha de destruição
de templos pagãos.
392 – O Imperador
Teodósio proíbe a liberdade religiosa dos pagãos.
397 – O Concílio de
Cartago incorpora o Apocalipse ao cânon neotestamentário.
400 – Maria passa a ser
considerada “Mãe de Deus”
403 – Epifânio combate
a adoração de Maria.
408 – Revoltas populares
pedem liberdade de culto para os não-cristãos no
Império Romano.
418 – Bonifácio I e Eulálio são eleitos bispos de Roma.
419 – Eulálio é expulso de Roma pelo Imperador e por partidários
de Bonifácio I.
440 – Leão Magno, bispo
de Roma, declara que o episcopado romano é a autoridade suprema da Igreja em
todo o mundo.
Claro que nessa época
(dos concílios de Cartago), já ninguém podia reagir, pois o cristianismo já
tinha abolido a liberdade de expressão e de religião que havia no Império
Romano.
A Igreja que anexou o
Apocalipse à Bíblia já impunha arrogantemente os seus dogmas, de acordo com o
pensamento de Tertuliano (155-220), prestigiado
apologista cristão, que afirmou: “Credo quia absurdum” ou como diríamos na nossa língua “acredito, mesmo
que seja absurdo”.
Estavam abolidas a
meditação e reflexão teológicas. Só importavam as decisões da Igreja.
Junta-se a tradução do
texto do Concílio de Cartago, referente a este assunto, tal como se encontra na
página da AgnusDei
http://www.geocities.com/Athens/Aegean/8990/test6.htm
“Parece-nos
bom que, fora das Escrituras canônicas, nada deva ser
lido na Igreja sob o nome “Divinas Escrituras”. E as Escrituras canônicas são as seguintes: Gênese,
Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué,
Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos, dois livros dos Paralipômenos,
Jó, Saltério de Davi, cinco
livros de Salomão, doze livros dos Profetas, Isaías, Jeremias, Daniel,
Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, dois livros de Esdras e dois [livros] dos
Macabeus. E do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos, um [livro de] Atos dos Apóstolos, treze epístolas de Paulo, uma do mesmo
aos Hebreus, duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas e o Apocalipse
de João. Isto se fará saber também ao nosso santo irmão e sacerdote, Bonifácio,
bispo da cidade de Roma, ou a outros bispos daquela região, para que este cânon
seja confirmado, pois foi isto que recebemos dos Padres como lícito para ler na
Igreja” (Concílio de Cartago III (397) e Concílio de Cartago IV (419)).
5. Influência da mitologia pagã e do judaísmo no Apocalipse
A leitura do apocalipse, principalmente
a partir do quarto capítulo, revela uma linguagem bem diferente da que
encontramos nos outros livros do Novo Testamento.
Nomeadamente a descrição dos seres com
várias cabeças e vários chifres e asas, parece mais uma descrição da mitologia
grega, romana ou egípcia do que um livro da Bíblia, muito menos do Novo
Testamento. (4:7/8,
9:7/10, 9:17, 11:7, 12:3/4, 13:1/2, 13:11, 17:3)
De acordo com uma interpretação
fundamentalista (que não é a minha posição), em Géneses 2:19/20,
Adão deu nome a todos os animais criados por Deus. Portanto, esses seres
mencionados no Apocalipse, ou são produto da imaginação do escritor ou não
existem, pois só Deus tem poder para os criar.
Em Apocalipse 10:10/11
vejo influência da mitologia grega que utilizava alucinantes nos seus oráculos.
Em Apocalipse 11:2 há
forte influência judaica com a ideia veterotestamentária dos lugares separados
para os gentios e os privilégios para os judeus.
Em Apocalipse 13:16 há
referência a pessoas livres e escravos. Será que a antiga condição de escravo
prevista na lei de Moisés vai voltar a estar em vigor?
Bem sei (e os leitores da minha página
também sabem), os significados simbólicos que dão a estas passagens. Mas com
essa fértil imaginação sem boa base bíblica neotestamentária, tudo se pode
provar e explicar, quer seja o Apocalipse de João ou os outros apocalipses que
não foram incluídos no cânon.
Não é preciso ser um grande teólogo para
notar a diferença no estilo literário do Apocalipse de João em relação a todos
os outros livros neotestamentários.
6. Cânon neotestamentário nos nossos dias
O problema da definição
do cânon, tomou maior importância no tempo da Reforma Protestante, com a
invenção da imprensa, que permitiu pela primeira vez juntar todos os livros
daquilo a que actualmente chamamos de Bíblia.
Com a grande divulgação
que teve a Bíblia, que ainda hoje continua a ser o livro mais lido, tornou-se
ainda mais importante definir quais os livros (antigos rolos) a ser incluídos
numa bíblia encadernada da actualidade.
Lutero (século XVI), foi o único grande teólogo que teve a coragem de questionar
o actual cânon neotestamentário. Ele rejeitou os livros de Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse, estando afinal, quase em sintonia com o primitivo
cristianismo. No entanto, Lutero não rejeitou o cânon tradicional, mas talvez
se possa dizer que criou um cânon dento do antigo cânon.
Afinal, não é isso que
acontece nas nossas igrejas com certas passagens do Velho Testamento que nunca
são mencionadas? Quem tem coragem de pregar sobre o genocídio cometido por
Josué em Jericó Josué
6:16/21, ou na cidade de Ai Josué 8:1/29, ou
nas passagens veterotestamentárias em que o Deus dos judeus legisla sobre a
escravatura Êxodo
21:2/8 em que um pai podia vender as suas filhas como escravas desde que
cumprisse determinadas condições rituais? Quem tem a coragem de pregar sobre Salmo 137:8/9?
Será isso a palavra inspirada?
Já alguns visitantes da
minha página me têm dito que por vezes entram na “Estudos bíblicos sem fronteiras
teológicas”, simplesmente para consultar a Bíblia, pois é muito mais fácil
“clicar” em Textos principais (de várias religiões),
onde têm toda a informação da Bíblia, Alcorão ou Bhagavad Guitá, do que folhear
as suas Bíblias para procurar as passagens. Parece que a Bíblia, que já foi de
pedra (decálogo), de pele e de papiro, actualmente está na fase de transição da
Bíblia de papel, para a Bíblia informática, onde já não será possível limitar
tão rigidamente o acesso aos livros de qualquer cânon.
7. Conclusão
Durante muitos séculos
os judeus esperaram pelo prometido Messias.
Quando veio o próprio
Filho de Deus, os judeus mataram-nO e os cristãos
colocaram os evangelhos, onde ficou registada a Sua mensagem, ao lado da
mensagem dos profetas do Velho Testamento.
Não me conformo com a
afirmação de que, por exemplo, o Evangelho João é tão inspirado como o livro de
Deuteronómio ou de Josué.
Só Jesus o Cristo é
verdadeiramente a Palavra de Deus, o centro da revelação, que não está ao nível
da revelação veterotestamentária Mateus 5:20/48,
pois tem poder para revogar muita coisa que foi dita aos antigos. (b)
Quanto ao Apocalipse
(exceptuando os três primeiros capítulos que são cartas a igrejas que de facto
existiram), naquilo que é propriamente Apocalipse, isto é, a revelação
escatológica, entre seguir a opinião do primitivo cristianismo ou a decisão
imposta pelos concílios católicos, e pelas organizações ditas evangélicas, eu
prefiro a opinião do primitivo cristianismo, que mais perto estava de Cristo,
não só no tempo, mas principalmente na interpretação da sua mensagem e na forma
como a viviam.
Se depois dos 16
séculos que já passaram, os teólogos ainda não chegaram a uma unanimidade
quanto à interpretação do Apocalipse de João, penso que já é tempo de
concluírem que afinal, o primitivo cristianismo teve razão quando o rejeitou.
(a) Transcrição do livro “Evangelhos Apócrifos” de Luigi Moraldi. Tradução editada
pela Paulus.
(b) Sobre este assunto, aconselho a leitura dos artigos
A
Bíblia é a Palavra de Deus? (CC) de
minha autoria.
A
Palavra é Jesus (OC) de autoria do Pastor Orlando Caetano.
Camilo – Marinha Grande,
Portugal – Setembro de 2005
Estudos bíblicos sem fronteiras
teológicas
Veja também os
comentários a este artigo