Situação social da mulher
no Velho e no Novo Testamento (CC)
(Deverá “clicar” nas referências
bíblicas, para ter acesso aos textos)
Há
muitos artigos na internet sobre mulheres mencionadas na Bíblia, mulheres que se
distinguiram de alguma maneira ou pela sua espiritualidade, ou pela sua
malvadez, ou pela sua alta posição social, ou pela sua sabedoria etc. mas não á
minha intenção falar sobre essas mulheres neste meu artigo.
Tenciono
investigar o caso da mulher vulgar. Como seria a vida e a situação social da
grande maioria das mulheres que seguiram o judaísmo ou o cristianismo e não
ficaram registadas nas Escrituras?!
Vamos
tentar compreender o problema dessas mulheres no contexto cultural
veterotestamentário em comparação com a nova mentalidade do Novo Testamento.
Em todo o
Velho Testamento a mulher foi considerada como um ser inferior ao homem e a sua
principal função era a procriação. Quantos mais filhos e filhas tivesse
(principalmente se fossem filhos), mais valorizada e respeitada seria. Não
participava da vida pública e quando saía de casa tapava todo o corpo e a
cabeça com as suas vestes. O historiador Joaquim Jeremias conta o caso dum
sumo-sacerdote que condenou a sua própria mãe que não reconheceu, pois ela
estava vestida segundo os “bons costumes” dessa época.
Até aos doze anos e meio, a jovem não
podia recusar o casamento com quem os pais decidissem e estes até a podiam
vender como escrava. Aliás, mesmo depois de casada, a mulher “livre”, pertencia
ao marido e podia ser vendida como escrava ou condenada à escravatura em face
de dívidas incobráveis do marido, ou do pai, se ainda fosse solteira.
Ao
meditar na situação da mulher nos nossos dias, não podemos ignorar o que era a
mulher no contexto cultural do judaísmo que tanto influenciou as religiões
posteriores como o cristianismo e o islamismo, influência que em parte ainda se
mantem. (a)
Logo
no início dos evangelhos Maria, mãe de Jesus, é vítima dessa discriminação.
Embora mencionem as condições anormais em que Jesus foi gerado, vemos em Mateus
1:01/17 a genealogia de José terminando com a afirmação de
que era marido de Maria. Também Lucas
3:23/38 começa por falar em Jesus dizendo que supunham que
fosse filho de José, apresentando em seguida a genealogia de José até Adão.
Assim, ficamos sem saber nada da verdadeira genealogia de Jesus, que é a
genealogia de Maria e temos de concluir que Jesus não foi descendente do Rei
David. Aliás tenho sérias dúvidas da veracidade do David que ficou na história.
(b) Jesus foi o resultado da intervenção de Deus
em Maria, uma jovem humilde duma pequena aldeia. (c)
No Novo
Testamento, Jesus escandalizou os seus discípulos por não discriminar e até
falar com mulheres João 4:27 ou Mateus 21:32 e Lucas 8:01/03 menciona o caso incompreensível nesse contexto
cultural das mulheres que o seguiam. Certamente por se sentirem discriminadas
por todas as “boas famílias” sentiram-se atraídas pela mensagem de Jesus que as
aceitava no seu grupo. Elas contribuíam com os seus bens para manter o grupo de
Jesus, origem da futura Igreja. Esta é das poucas passagens que menciona alguns
nomes de mulheres. Tudo isto, fruto da cultura veterotestamentária que Jesus combateu, mas que ainda não foi
completamente erradicado no Cristianismo.
Todos os
evangelhos foram escritos por homens que, como era habitual no contexto
cultural em que viviam, procuravam ignorar quase tudo que se referisse às
mulheres. Os evangelistas tiveram a preocupação de mencionar os nomes dos
homens e geralmente ignoram os nomes das mulheres e crinaças Mateus 14:21. Em Actos 1:12/14 só vemos os nomes dos homens e até os dos pais de
alguns deles, mas não os nomes das mulheres, excepto Maria mãe de Jesus e Lucas 24:09/11 dá a entender que o testemunho das mulheres não era credível até
que foi confirmado pelo dos homens.
Penso
que a mulher não pode ser considerada inferior ao homem, nem superior, nem
podemos considerar igual ao homem, mas é complementar. Segundo os planos de
Deus, ambos são necessários e imprescindíveis, tal como as quatro rodas dos
nossos carros, pois se só uma delas não estiver em condições, para que servirá
investigar ingenuamente qual a mais importante?! O que aconteceria se
continuassem a viagem sem uma das rodas?
Nas
passagens já citadas temos 1ª Timóteo 3:2,
e 1ª
Timóteo 3:12, bem como Tito 1:6
quando Paulo afirma “…marido de uma só mulher…”,
penso que estaria a pensar somente no sujeito das frases, sempre o homem, o que
estaria mais em sintonia com outras passagens em que Paulo mostra a sua opinião
desfavorável ao casamento, atitude que talvez fosse o resultado dum casamento
desastroso do apóstolo, a ponto de aconselhar o celibato. 1ª
Coríntios 7:01/09 Quando Paulo afirma no versículo 7 “Contudo queria que todos os homens fossem como eu mesmo”, ficamos
sem saber se ele era viúvo ou divorciado. Mas não podemos ignorar o que Paulo
afirma em 1ª
Coríntios 7:06, o que ele escreveu não deve ser
considerado como mandamento, mas era permitido.
Não
nos parece que Paulo fosse solteiro, pois antes de se converter, em Actos
9:01/02 o Sumo-sacerdote deu-lhe cartas de apresentação ou
como diríamos nos nossos dias, uma procuração com plenos poderes para actuar em
seu nome, coisa impensável nessa cultura se Paulo fosse homem de meia-idade
ainda solteiro, pois isso logo levantaria dúvidas de que fosse um homem normal
e saudável em todos os aspectos.
Também
não podemos esquecer 1ª
Timóteo 4:1/5 em que Paulo, nomeadamente o versículo
3, prevê que no futuro o casamento seria proibido.
Com
a colonização romana, a civilização tal como a concebemos nos nossos dias,
chegou a Israel. Mas Roma não aboliu toda a Velha Lei de Moisés, mas só as leis
que colidissem com a Lei Romana. Assim, acabaram as muitas condenações à morte
por lapidação por motivos religiosos previstas na Lei de Moisés, mas mantiveram-se
as outras leis e tradições veterotestamentárias.
Nos
nossos dias, certamente que a mulher continua fisicamente diferente do homem,
facto que é tomado em consideração no desporto e nalgumas profissões que exigem
grande esforço físico, onde há uma certa discriminação para protecção da
mulher. Mas no aspecto intelectual, não vemos motivo para ser discriminada. Na
maior parte dos países já tem acesso a todo o tipo de estudos, e pode exercer
as mesmas funções que o homem. Defendemos que para trabalho igual deverá haver
salário igual.
Camilo
– Marinha Grande.
Outubro
de 2018
(a) Segundo o historiador Joaquim Jeremias
nos informa na página 474 do seu livro “Jerusalém no tempo de Jesus”: Em conformidade com tais regras, as
mulheres, em público, deviam passar despercebidas. Ouvimos falar da sentença de
um dos mais antigos escribas que conhecemos, Yose bem
Yohnan de Jerusalém (cerca de 150 a.C.). “Não
converse muito com uma mulher”; - acrescentaram depois: “(Isso
vale) no caso de tua mulher e mais ainda em relação à mulher do próximo”. As
regras do decoro proibiam encontrar-se sozinho com uma mulher, olhar para uma
mulher casada, e até mesmo cumprimentá-la. Seria vergonhoso para um aluno de escriba
falar com uma mulher na rua. Aquela que conversasse com alguém na rua ou
ficasse do lado de fora da sua casa podia ser repudiada sem receber o pagamento
previsto no contrato de casamento.
(b) Sobre este assunto, convido a ler o meu
artigo David
ou Davi (CC)
(c) Também convido a ler o meu artigo Maria – Mãe de Jesus
(CC)
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clerical