Deus do Velho Testamento e o Deus de Jesus (DO)

(Deverá “clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)

  

 

Introdução

 

Fiquei sabendo desse rapaz afegão, Abdul Rahman, que se converteu ao cristianismo. Já sabia que o islamismo não admitia apostasias e que quem se convertia a outras religiões, corria o risco de ser condenado à morte, mas achava que era apenas conversa sem fundamento. A intolerância religiosa é um sentimento humano bastante primitivo e inadmissível em pleno século XXI. Quanto mais forte for a intolerância numa determinada religião, mais afastada do Deus de Jesus ela estará. A intolerância religiosa vem do conceito exclusivista e primitivo de Deus. Creio que ela vem da própria Bíblia, no Velho Testamento, em que se formaram “convicções” de que Deus era partidário de um povo, em detrimento de todos os outros. Esses sentimentos de indisposições estão representados nos nossos dias com as diversas facções religiosas. Cada qual se acha na exclusividade de Deus e o mundo “tem que” migrar para os seus redutos. É com muito pesar que admito esse sentimento, também na maioria do chamado meio “evangélico” e católico; claro que proporcionalmente muito mais brando e velado, mas infelizmente é uma realidade.

Nem no monte Gerizim (dos cananeus), nem no Templo de Jerusalém (dos judeus) adorareis o Pai, mas os verdadeiros adoradores adorarão (o Pai) em espírito e em verdade. João 4:21/23. A religião cristã verdadeira é acima de tudo universal e contemplativa, isto é, Deus é pai de todos os povos e está acima de qualquer questão humana que causa divisão; seja étnica, econômica, cultural, filosofal, política geo-espacial e até mesmo religiosa. É espiritualmente orientada na forma pessoal direta, criatura/criador/criatura. (imanência/transcendência/imanência). Jesus foi o primeiro grande quebrador de facções preconceituosas étnicas e religiosas. Apesar de ser essa, a orientação de adoração cristã, é justamente o atalho para se fugir das terceirizações religiosas, onde estão as tocas dos lobos, a que Paulo se referia e que constituem as más religiões de todas as épocas.

Elaborar textos de discussões e questionamentos sobre os conceitos primitivos do Deus do Velho Testamento é tarefa que quase todo mundo tem medo de o fazer. Aprendemos desde a tenra idade que a nossa religião é obedecer a um chefe e toda a forma de exposição da reflexão individual tem um clima de heresia (heresia, como o pensar diferente e não errado) e apostasia. Então o pensamento reinante é: Se, para expor minhas dúvidas é preciso cair no buraco das minorias heréticas, então vou me agüentando no platô dos hipócritas.

Fomos amedrontados diante do Deus do Velho Testamento; jogaram todo aquele conceito do Deus vingativo em nós e ficamos também com medo do Deus de Jesus. Diziam para nós: Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo, descontextualizando vários contextos.

Ficar calado no meio “religioso”, nem sempre revela aceitação total. A unanimidade calada das platéias dos sermões, religiosamente direcionados é tarefa extremamente exaustiva para quem é conhecedor autônomo da Palavra e não é hipócrita. Quanto mais tempo se agüenta nesse ambiente “religioso”, tanto mais se anula a capacidade contemplativa, isto é, no fundamento principal da verdadeira religião de Jesus de Nazaré. 

Desse deus religiosamente formulado, eu sou um ateu convicto. Aliás, tenho me tornado ateu de muitos deuses manipuláveis, ultimamente.

 

 

Jesus de Nazaré; o primeiro questionador do tanach (Velho Testamento) e Paulo, o melhor cristão.

 

O primeiro corte do cordão umbilical do Velho Testamento e do “evangelho de Moisés” foi feito por Jesus, a maior revelação mundial do verdadeiro Deus de todos os povos. Até então, ninguém ousava questionar a Torá (Lei).

Ouvistes que foi dito: (...), eu, porém vos digo. Esse... Porém, é conjunção coordenativa adversativa. Indica o início de um segundo período contrário ao primeiro, e irá contradizê-lo ou questioná-lo. Mateus 5: 22,28,32,34,39,44. 

A segunda cisão (do cordão umbilical) mais importante depois de Jesus, foi feita através da revelação de shaul (Paulo). Ele jogou no lixo, toda orientação que teve, (de sua formação rabínica do tanach) (Velho Testamento) e da torá (lei, pentatêutico), para abraçar unicamente a revelação de Cristo. Filipenses 3:7/9

 

 

O Tanach (Velho testamento); Seria uma História bem contada?

 

O Velho Testamento é, sobretudo, uma história nacionalista. Humanamente falando, não estão errados; de exaltarem seus personagens e contarem de forma romântica e heróica, a história de seu povo, mas dá-se a impressão de que todos os outros povos formavam o eixo do mal. Já vi este “filme”.

Ele (Deus, na noção primitiva) estava pronto para fazer justiça e juízo imediatos a quem o desagradasse. Vingativo, principalmente para quem não era do “Seu povo” e da minoria de alguns rebeldes que eram pegos em ações que o desagradavam. Não amava os outros povos; pelo contrário, matava-os e mandava matá-los sem compaixão. 1º Samuel 15:3. Este Deus sanguinário, austero, sem amor e misericórdia, não é o Deus de Jesus de Nazaré. O Deus de Jesus não vence o mal com o mal.

 

 

Quem invadiu quem, em Canaã?

 

As perguntas que se fazem hoje em dia, com relação à Palestina são: Quem invadiu quem? Quem é o agressor? Ou que primeiro matou quem?

A história da terra prometida começa a partir de 1800 AC, quando Abrão e seu clã saem de Ur dos Caldeus a 300 km da atual Bagdá do Iraque e vão parar em Canaã; terra que já era dos cananeu, descendentes de Cam, filho abençoado de Noé (Gn 12:6), desde 5000 AC.

Abrão chegou e não se fixou na terra prometida; logo “armou suas tendas” e foi para o Egito fugindo da fome (os povos que já estavam lá se agüentaram como puderam). A terra prometida ainda não estava muito boa para Abrão.

No Egito, se enriqueceu à custa daquela mentira contada ao rei, de que Sara não era sua mulher, então o rei amedrontado deu-lhe das riquezas daquele Estado Génesis 12:11/16. O que se pode entender é que Abrão vendeu sua mulher para obter as riquezas do Egito. Expulso, foi “de novo” para Canaã. Rico, e com muitos homens em seu clã, finalmente se fixou em Hebrom. Em Canaã já estavam o queneu, o quenezeu, o cadmoneu, o heteu, o perizeu, os refains, o amorreu, o cananeu, o girgaseu, e o jebuseu há mais de 5000 AC. Por volta de 1.300 A.C., Jacó, um dos netos de Abraão e seus doze filhos partiram para o Egito. Esaú, o outro neto, permaneceu em Canaã e se misturou com os abençoados descendentes de Cam, os cananitas. Por volta do ano 750 AC, está de volta “de novo”, Jacó, representado por aquela multidão, os israelitas, vindos do Egito. Só que Canaã já está bastante habitada pelos edonitas, “que é Esaú”, primitivo primo; pelos filisteus, cananeus e seus derivados.

Na minha infância, havia uma pequena regrinha que se chamava “saiu ao vento, perdeu o assento”. Quando havia poucas cadeiras em um cômodo e alguém que estava assentado, saia; outro alguém ocupava o lugar deixado por aquele outro; então se dizia: saiu ao vento, perdeu o assento; aquela pessoa se conformava, pois não valorizara o seu lugar.

 

 

Invasões e carnificinas em nome de Deus

 

Antes Mesmo de atravessarem o Jordão, os Israelitas, vindos do Egito, começaram a se prostituírem com as moabitas; então o austero Deus dá a seguinte ordem: Enforcai a todos os cabeças (líderes), ao ar livre. Um tal de Finéias atravessou uma lança na barriga de um israelita e de uma midianita ao mesmo tempo. Foi o bastante para aplacar a ira de Deus, mas mesmo assim morreram vinte e quatro mil de uma certa praga. (Números 25).

A primeira carnificina foi contra os pobres dos midianitas. Mataram todos os seus homens; incendiaram suas casas e animais, mas preservaram as mulheres e suas crianças. Moisés não ficou satisfeito e mandou matá-las também. Agora, pois, matai todo o homem entre as crianças, e matai toda a mulher que conheceu algum homem, deitando-se com ele. Porém, todas as meninas que não conheceram algum homem, deitando-se com ele, deixai-as viver para vós. Números 31:17/18.

Era mandamento de Deus, segundo os israelitas, a destruição total daqueles moradores e de suas religiões. Deuteronómio 7:1/11.

E chamou Moisés a Josué, e lhe disse aos olhos de todo o Israel: Esforça-te e anima-te; porque com este povo entrarás na terra que o Senhor jurou a teus pais lhes dar; e tu os farás herdá-la. Deuteronómio 31:7. Essa terra que Moisés está dizendo, já era de Abraão, e de seu filho Isaque, pai de Israel, e do próprio Israel! Abraão já a havia possuído (invadido), há quatrocentos anos atrás, mas Jacó, seu neto, não se fixou nela; antes, foi para o Egipto, uma economia mais estável. Não podemos esquecer que Esaú, filho de Isaque, e irmão de Israel; permaneceu naquela terra para povoá-la. A maior parte dos inimigos de Israel era, portanto da descendência de seu irmão gémeo, Esaú; filho legítimo de seu pai Isaque! Não tem sentido, um irmão “herdar na força” o que é de seu irmão gémeo! Jacó, assim como Esaú, não faz muito caso de sua herança, antes a trocou pelo abrigo dos egípcios. Por que tanta briga, tanta facção familiar 

Ainda hoje vemos esse quadro, com pessoas se refugiando em países ricos e prepotentes, deixando seus patrícios se virarem como podem. Não querem assumir os problemas, ou ajudar a construir, mas só pensam na vantagem egoísta. É prova de falta de idealismos pátrios; querem somente levar vantagem imediata para si e suas famílias; lucrar com o que já está pronto. Não ficam quietos em lugar nenhum!

Por que aquele povo que ficou a passar fome em Cacaã (quando Jacó partiu), não tinha o direito de viver em sua terra nativa? Não tem sentido!

Entra em cena, Josué, e desencadeia uma série de sangrentas invasões bélicas “em nome de Deus”. A segunda vítima é a cidade cananéia de Jericó, que foi totalmente arrasada, juntamente com os seus habitantes. E tudo quanto havia na cidade destruíram totalmente ao fio da espada, desde o homem até à mulher, desde o menino até ao velho, e até ao boi e gado miúdo, e ao jumento. Josué 6:21

E assim, foi com todas as cidades da região; os moradores se defendendo e os israelitas arrasando a todos.

Quando invadiram Canaã, os israelitas, encontraram os cananeus com os seus costumes e seus ritos religiosos, especialmente na apresentação de ofertas sacrificiais ao deus Baal. Era uma forma (errada) de adoração de um povo primitivo. Justamente por isso, os israelitas achavam que deviam exterminar a todos os moradores de Canaã. Além de ser o mais novo invasor e agressor, queriam que todos se convertessem a força à sua religião!

Se ainda existir um DNA de Josué em algum torrão da palestina, este DNA ainda está agonizando pela sua crueldade, como esta: E sucedeu que, trazendo aqueles reis a Josué, este chamou todos os homens de Israel, e disse aos capitães dos homens de guerra, que foram com ele: Chegai, ponde os vossos pés sobre os pescoços destes reis. E chegaram, e puseram os seus pés sobre os pescoços deles. Então Josué lhes disse: Não temais, nem vos espanteis; esforçai-vos e animai-vos; porque assim o fará o Senhor a todos os vossos inimigos, contra os quais pelejardes. E, depois disto, Josué os feriu, e os matou, e os enforcou em cinco madeiros; e ficaram enforcados nos madeiros até à tarde. Josué: 10: 24/26      

 

 

O Deus revelado por Jesus é diferente.

 

Jesus, por outro lado, nos apresenta o Seu Deus e Pai com outros conceitos absolutamente contrários aos do Velho Testamento. Mostrou-nos a Sua misericórdia, e o Seu amor para com toda a humanidade, independendo de raça, religião, posições humanas, sexo, ou seja, lá o que causa separação entre os homens Gálatas 3:28 O Deus de Jesus é aquele que amou o mundo (humanidade), de tal maneira.... João 3:16

O Cordeiro de Deus não mata nem manda matar nenhuma pessoa que está em pecado ou tem outra religião diferente da nossa, mas ..tira o pecado do mundo.. João 1:29 com o Seu amor constrangedor 2ª Coríntios 5:14 e consciente Romanos 6:17 e está pronto para perdoar e salvar todo aquele que crê João 6:40 e Ele (Jesus), quer que todos se salvem e venham ao conhecimento da verdade. 1ª Timóteo 2:4. Jesus nos dá o direcionamento de uma vida justa, modesta e sem aquele espírito de vingança e arrogância. O perdão é fundamental para aquele que ama. Mateus 5:44 O egoísmo do “homem vencedor” do Velho Testamento é trocado pelo ensinamento do “quem ama, dá a sua vida pelos amigosJoão 15:13. O amor absoluto e infinito de Deus não é relativo quanto à compreensão e natureza humanas.

O amor de Jesus é uma centelha que contagia a todos os homens. Somos interagidos neste amor que não somente perdoa nossos pecados, mas também absorve toda a nossa maldade e nos leva para junto do Pai. É um processo consciente e sem trauma de culpabilidade. Não há ameaças nem barganhas. Somos transformados “de glória em glória” na bondade revelada do Pai, Jesus. Somos “o povo de Deus” e não precisamos brigar ou matar ninguém para conquistar nada.

Em Jesus somos salvos, não porque deixamos de pecar, ou porque nos tornamos melhores, de uma “raça pura”, mas porque deixamos-nos salvar; e essa salvação não depende de nós; porque a salvação não está em nossa destreza ou em nossas mãos. Se aceitamos nos salvar é porque cremos, e se cremos já somos salvos. A salvação é voluntária na medida do deixar-se agir pelo Espírito. Não há salvação pela força e nem pela violência, mas pelo Espírito.

A pessoa abençoada em Jesus não precisa aparecer com sinais de riquezas materiais ou força ou beleza física, ou ostentações, ou outros atributos sociais, financeiros, étnicos, educacionais; tal como era definido no Antigo Testamento, que determinava o homem abençoado pela sua raça, poderio militar, cabeças de animais, mulheres, concubinas e escravos. Não há, em nenhum lugar nos evangelhos de Jesus, promessa de prosperidade terrena, seja ela qual for, para quem decide seguir a Cristo.

Termino, parafraseando Josué: Escolhei a quem sirvais; se ao deus dos conceitos primitivos e sanguinários ou ao Deus de Jesus de Nazaré; eu, porém servirei somente ao Deus de Jesus de Nazaré.

 

David de Oliveira 

Goiânia, Brasil – Abril de 2006

 

Veja também - Deus do V.T. e Deus de Jesus (Comentários)

                 Não há no Alcorão pena capital para apostasia (YA)

 

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