Onde encontrar a Verdade Salvadora? (CC)
(Clicar nas referências sublinhadas para ter acesso
aos textos)
Introdução
Nos
últimos dias, a última declaração do actual Papa, conhecida por “Dominus Iesus” tem sido tema de
conversa entre católicos de certa cultura e de evangélicos ligados às igrejas
do protestantismo histórico.
Noutros
países, também tem havido reacções, algumas bem negativas de parte de outras
religiões.
Para
muitos, trata-se dum retrocesso da Igreja Católica Romana, que segundo o jornal
“Público”, já deu origem a uma reacção de mais de 70 teólogos católicos de
grande prestígio, entre eles, Hans Kung e Leonardo Boff, que assinaram o documento intitulado “Ante a
declaração Dominus Iesus”,
em que consideram a recente declaração do Vaticano mais próxima do Syllabus de Pio IX do que dos documentos do Concílio
Vaticano II e que contém expressões ofensivas para as pessoas crentes de outras
religiões.
Um pouco da origem do Movimento
Ecuménico
O
primeiro grande impulso para o movimento ecuménico foi a constituição do
Conselho Mundial de Igrejas, em Fevereiro de 1946, por iniciativa de algumas
igrejas protestantes, embora mesmo em datas anteriores já se registassem alguns
esforços para uma aproximação das igrejas cristãs.
Muitas
dessas igrejas estavam, nessa época, completamente desorganizadas devido à
guerra, e os seus dirigentes não tinham nenhuma experiência ecuménica.
Posição da Igreja Católica Romana
perante o Ecumenismo
Em
1948, vários teólogos da Igreja Católica Romana foram convidados a participar
de reuniões ecuménicas, mas o “Santo Ofício” em Roma, entendeu oportuno lembrar
um decreto de 1919 que proibia qualquer católico, sacerdote ou leigo, de
participar em reuniões ecuménicas sem autorização do Vaticano. Mais tarde, em
18 de Junho desse mesmo ano, o “Santo Ofício” tornou público que nenhum
católico romano receberia tal autorização.
Em
Agosto desse mesmo ano de 1948, um bispo holandês esclareceu que o alheamento
da Igreja Católica do movimento ecuménico se devia a razões de ordem dogmática,
uma vez que a unidade só poderia ser encontrada se todos os cristãos voltassem
à Igreja Católica Romana.
É
uma posição completamente oposta à de muitos teólogos protestantes,
nomeadamente o Professor Oscar Cullmann,
que mais tarde defendeu a unidade na diversidade, propondo uma comunidade de
igrejas verdadeiramente autónomas, permanecendo católicas, protestantes ou
ortodoxas, guardando os dons que o Espírito lhes conferiu, não para se fecharem
em si mesmas, mas para formarem a comunhão de todos os que invocam o nome de
Jesus Cristo.
No
entanto, apesar de todas as dificuldades criadas pela hierarquia católica, um
bom grupo de teólogos católicos, ligados às Ordens Religiosas, estiveram
presentes desde os primeiros tempos, mas não em nome da Igreja Católica Romana.
É
este o caso dos beneditinos da Abadia de Chévetogne,
da Bélgica, e os dominicanos do Centro Istina, de
Paris, que passaram a editar várias revistas que espalharam o seu pensamento
por todo o mundo católico, e até mesmo em Roma, os jesuítas comprometidos com o
movimento ecuménico iniciam a publicação da revista “Unitas”.
Já
era demasiado tarde para que o movimento pudesse ser travado. Em 1960, o Papa
João XXIII tentando liderar o movimento, criou o “Secretariado para a Unidade
dos Cristãos” que está na origem do Concílio Vaticano II.
Segundo
o falecido Pastor Michael P. Testa, da Igreja Evangélica Presbiteriana de
Portugal, que assistiu a este Concílio como convidado de João XXIII, grande
parte dos Bispos compareceu pensando que seria um Concílio de curta duração,
pois nada havia que precisasse de ser mudado, era o que pensavam. Mas, parece
que este Concílio não foi nada pacífico, a avaliar pelo número de votações e
várias alterações a que os documentos originais foram sujeitos, até à aprovação
final. João XXIII tinha uma árdua tarefa à sua frente e as conclusões do
Vaticano II foram muitas vezes as conclusões possíveis, nesse contexto
histórico, e não propriamente a intenção de João XXIII.
Dominus Iesus
Apresentamos
aos leitores do Jornal da Marinha Grande as nossas desculpas por não transcrevermos
neste artigo o texto completo do Dominus Iesus, mas tal não é possível, pois o seu volume ocuparia
algumas páginas do Jornal da Marinha Grande. Poderão no entanto, ter acesso ao
texto completo através da minha página na internet, a que dei o nome de Estudos bíblicos sem fronteiras
teológicas, se “clicar” em Dominus
Iesus
A Dominus Iesus tem uma primeira parte
que considero oportuna e positiva, em que se apresentam as bases da teologia
cristã, se afirma a salvação por meio da obra expiatória de Jesus o Cristo, e
se transcreve o Credo aprovado no Concílio de Constantinopla, que embora
produto da teologia, tem tido aceitação de quase todo o cristianismo, excepto a
afirmação do batismo para remissão dos pecados, que não nos parece ter sólido
fundamento bíblico.
A
afirmação, da Dominus Iesus,
que mais críticas tem levantado, encontra-se no
capítulo 4, em que se apresenta a Igreja Católica como a única Igreja de
Cristo, atitude que consideramos inaceitável numa igreja que se diz ecuménica.
Se essa é a convicção do Papa, então o tão apregoado “ecumenismo católico”, não
passa duma artimanha, ou duma tentativa de absorção das outras igrejas cristãs.
É natural que muitos teólogos católicos comprometidos com o movimento ecuménico
se sintam em situação bastante desconfortável. Entre estes, o próprio Hans Kung ,
teólogo suíço de grande prestígio, professor na Universidade de Tubingen, que participou na organização de Concílio
Vaticano II sob orientação do Papa João XXIII.
Parece
que os ventos mudaram no Vaticano, pois Hans Kung,
por colocar em dúvida a infalibilidade papal (1972) e outras divergências, foi
“dispensado” da sua função de Professor de teologia católica.
Ainda
nesse mesmo capítulo 4. Condena-se a tendência de ler e interpretar a Sagrada
Escritura à margem da Tradição e do Ministério da Igreja.
Embora
o contexto desta afirmação mostre alguma preocupação por quaisquer
interpretações precipitadas, não posso deixar de discordar dessa posição, que
de certa maneira acaba por colocar a mensagem de Cristo subordinada à palavra
do Papa. No entanto, penso que embora seja assunto teológico de grande
importância, na prática acaba por ser pouco relevante, pois muito poucos são os
católicos de certa cultura que se abstenham de raciocinar nas palavras dos
Evangelhos, ou que primeiro procurem a interpretação do Papa, antes de
raciocinar nas palavras de Jesus. Penso que os setenta teólogos católicos que
discordaram da Dominus Iesus
reflectem o pensamento da maioria do povo católico.
Onde encontrar a tal Verdade Salvadora?
A
pergunta parece sugerir o nome duma igreja ou organização religiosa, mas
afinal, o que é uma igreja, ou o que é a Igreja de Cristo?
Certo
dia, ao visitar a capela do Centro de Conferências do Monte da Sr.ª do Socorro,
manifestei a minha satisfação a uma freira da “Casa Diocesana”, que mantém essa
instituição, pelo facto dessa capela ter a mesa no centro e todos os lugares
estarem em anfiteatro à volta dessa mesa em betão. Ela deu-me a explicação:
Igreja de Cristo é isto: Onde estiverem dois
ou três reunidos em meu nome, aí estou eu, no meio deles. São as palavras de Jesus em Mateus 18:20.
Nos
nossos dias, é inegável o declínio da religiosidade, quer em Portugal, quer na
maior parte dos países. Segundo um estudo do Instituto de Ciências Sociais, 88%
dos portugueses dizem-se católicos, mas apenas 27% vão à missa regularmente, e
segundo esse relatório, os “não praticantes” são os mais jovens e os mais
cultos. Parece que o aumento da instrução leva ao afastamento da Igreja
Católica em Portugal.
Nos
países europeus de maioria protestante, a situação também é semelhante em
relação ao protestantismo histórico. Vivemos numa época de declínio da
religiosidade, mas a mensagem de Jesus, parece não ser muito afectada por esse
afastamento das igrejas. Julgo que se vão confirmando as previsões dos que
afirmam que no novo século vamos assistir ao declínio da religiosidade, mas ao
mesmo tempo a um aumento da espiritualidade. Quer isto dizer, que a mentalidade
legalista, eclesiocêntrica, será substituída por uma
mentalidade cristocêntrica, por um cristianismo mais
esclarecido, mais baseado nos evangelhos, mais ligado às origens.
Esta
tendência para o regresso às origens, nota-se em todo o cristianismo e não
acontece somente no mundo católico, nomeadamente nos seus movimentos
carismáticos.
Numa
reunião do Conselho Mundial de Igrejas, em Fevereiro de 1946, quando um pastor
luterano tradicionalista, começou a citar longamente os documentos
confessionais da sua igreja, que colocou sobre a mesa, o teólogo Karl Barth (da
mesma igreja), pediu par intervir, aproximou-se, colocou um Novo Testamento em
grego por cima de todos os documentos, e sentou-se sem quaisquer palavras.
Mas
afinal, isto remete-nos para a conversa de Jesus com a mulher samaritana. Os nossos antepassados samaritanos adoraram a Deus neste
monte. Vocês, os judeus, dizem que só em Jerusalém é que se deve adorar a Deus. João 4:20 O problema
era o mesmo. Afinal como é?!! Qual a igreja, qual o templo, qual o local, qual
a organização onde podemos encontrar a tal verdade salvadora?
Jesus
conhecia os problemas do templo de Gerizim, (dos samaritanos) onde o culto a
Jeová por vezes se misturava com os cultos pagãos, mas no Templo de Jerusalém,
a situação não era melhor. Mais tarde teria de expulsar os vendedores do
Templo.
João 4:21/23 Jesus disse: Mulher, acredita em
Mim. Vai chegar a hora, em que não adorareis o Pai, nem sobre esta montanha e
nem em Jerusalém. Vós adorais O que não conheceis, nós adoramos O que
conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vai chegar a hora, e é agora,
em que os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e verdade. Porque
são estes adoradores que o Pai procura.
É no
espírito humano que se realiza o verdadeiro culto a Deus, pois esse passa ser o
verdadeiro Santo dos Santos do antigo Templo, onde Deus é manifestado,
conhecido e adorado.
O
próprio Jesus afirmou em João 14:6 Eu sou o Caminho, e a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai
senão por mim.
É
somente por Cristo e directamente em Cristo, que podemos encontrar o caminho
para Deus o Pai. É Ele a única Porta que conduz ao Pai.
Artigo
publicado no Jornal da Marinha Grande
De
2000/11/09
Estudos
bíblicos sem fronteiras teológicas