“Tudo isto te darei se prostrado me adorares” (CC)

(Clicar nas referências sublinhadas para ter acesso aos textos)

 

 

1. Introdução

Ao ler o título deste artigo, certamente que a maior parte dos nossos leitores já o identificou com Mateus 4:9. Sim, vamos iniciar este estudo sobre as tentações de Satanás, a começar pela tentação de Jesus no deserto, com a leitura de Mateus 4:08/09 a fim de integrar o versículo 9 no seu contexto.

Como vemos na Bíblia de Jerusalém: 8. Tornou o diabo a levá-lo, agora para um monte muito alto. E mostrou-lhe todos os reinos do mundo com o seu esplendor. 9 e disse-lhe: “Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares”, 10 Aí Jesus disse: “Vai-te Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele prestarás culto.” 

 

Também Lucas nos descreve este acontecimento em Lucas 4:05/08 que podemos ler no capítulo inteiro, ou na Bíblia de Jerusalém 5 O diabo, levando-o para mais alto, mostrou-lhe num instante todos os reinos da terra 6 e disse-lhe: “Eu te darei todo este poder com a glória destes reinos, porque ela me foi entregue eu a dou a quem eu quiser. 7 Por isso, se te prostrares diante de mim, toda ela será tua.” 8 Replicou-lhe Jesus: “Está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus, e só a ele prestarás culto.” 

 

Julgo importante mencionar também Lucas 4:13 que na Jerusalém está: Tendo acabado toda a tentação, o diabo o deixou até o tempo oportuno.

 

2. Como é Satanás

Temos pouca informação sobre Satanás, pois não encontrei passagens didácticas sobre o assunto. Mas há algumas poucas descrições onde Satanás aparece e muitas mais que nos indicam a sua presença, embora sem citar o seu nome, que nos podem dar alguma informação.

Logo no início de Génesis, no jardim do Éden, na descrição da tentação de Eva e Adão, não aparece qualquer referência a Satanás, mas não podemos deixar de o relacionar com essa passagem. Embora em Génesis 3:01/06 só se fale em serpente, não podemos deixar de pensar que um animal como a serpente não fosse simplesmente o símbolo ou o instrumento doutro poder muito superior. 

Mais adiante no Velho Testamento, vemos em 1º Crónicas 21:1 que Satanás incita David a efectuar o recenseamento dos homens de Israel. Assim foi David quem desagradou a Deus, e Satanás, como habitualmente, quase que passa despercebido.

No livro canónico de Job, que não sabemos se será um relato verídico ou um conto, vemos em Job 01:06/12 que Satanás aparece com toda a naturalidade entre os filhos de Deus, e fala com Deus. Parece que Deus procura informar-se pelos seus filhos. Julgo que isto seja um simbolismo dos sofrimentos do povo e não um acontecimento real, pois essa “imagem” de Deus colocaria em dúvida a sua omnipresença e omnisciência. (a)

 

O Novo Testamento confirma a existência dos demónios e de Satanás. Além da passagem em estudo Mateus 4:08/09, há muitas outras que nos descrevem as expulsões de demónios, mas não encontrei nenhuma descrição de Satanás. Assim, penso que Satanás é um ser espiritual que pode apresentar-se em diferentes formas.

No caso de Adão e Eva (no Velho Testamento), como não conheciam outros seres humanos, o mais indicado seria a forma dum animal já conhecido por eles, e a serpente foi a escolhida. Satanás escolhe sempre a forma mais indicada para os seus objectivos.

A tradição cristã apresenta várias imagens de Satanás, como um ser horroroso, feroz, sanguinário… tudo fruto da imaginação popular e sem sólido fundamento bíblico. Claro que tal imagem prejudicaria os seus objectivos. Penso que Satanás geralmente se apresenta com a forma dum jovem ou uma jovem muito simpática e amável, que vem para ajudar, ou fala através de pessoas em quem depositamos toda a confiança, como veremos a seguir.

 

3. … para um monte muito alto… Mateus 4:08 …………..

No contexto histórico em que Mateus ou Lucas escrevem, certamente que os seus primeiros leitores não deixariam de interpretar como sendo um monte tão alto que até daria para avistarem todos os reinos do mudo inteiro, pois desconheciam a esfericidade da terra. Isto levanta algumas questões: Se isto não é possível (mesmo que a terra fosse plana como imaginavam nesse contexto histórico), nada mais poderiam ver a não ser uma mancha ao longe, como acontece a quem viaja de avião. Será que Satanás lhe mostrou em visão e nada tem a ver com o monte? Então, para que foram a um monte tão alto? O que significava a expressão “todos os reinos da terra”? Será toda a palestina? Será todo o Império Romano?

Claro que várias explicações são possíveis, inclusive a hipótese de se tratar duma visão sem que Jesus deixasse o deserto onde estava. O seu estado de fraqueza física, até poderia tornar mais credível a hipótese duma visão. Mas o que mais nos interessa é que temos aqui importantes informações sobre Satanás e os métodos que utiliza.

Embora nada se diga do seu aspecto físico, ficamos com a sensação de que teria adoptado forma humana, certamente o aspecto dum homem simpático, como sugerem as suas simpáticas palavras. Satanás veio para “ajudar” e todas as suas sugestões parecem bem viáveis. Quer a transformação das pedras em pão, quer o salto do ponto mais alto do Templo, certamente que seria viável para quem multiplicou os pães e peixes e andou sobre as águas. Menos provável seria a adoração de Satanás, mas na verdade Satanás é o dono deste mundo (2ª Coríntios 4:4 ou João 12:31) e prometeu entregar tudo a Jesus. Assim seria de se prever um longo período de paz e segurança a nível mundial. 

 

4. Lucas 4:13  Tendo acabado toda a tentação, o diabo o deixou até o tempo oportuno.

Certamente que muitos dos nossos leitores me perguntariam: Então… quando é que Satanás atacou outra vez?

Pelo que vemos nos evangelhos, Jesus efectua várias curas de enfermidades com expulsão de demónios. Só se fala em demónios e não se trata de Satanás o príncipe dos demónios. Mas quero mencionar uma ocasião em que, pela sua importância e/ou pelas suas eventuais consequências, julgo que não foi obra de qualquer demónio, mas do próprio Satanás, como descrevem Mateus e Marcos.

Em Mateus 16:13/23 vemos que Satanás escolhe as ocasiões em que ninguém esperaria um ataque seu, servindo-se das pessoas mais dedicadas de quem ninguém suspeitaria que fossem instrumentalizadas por Satanás.

Vejamos o comentário de Jesus a respeito da resposta de Pedro em Mateus 16:17 como está na Jerusalém: Jesus respondeu-lhe: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne ou sangue que te revelaram isso, e sim o meu Pai que está nos céus.

Nesta passagem, Pedro acabara de fazer a grande afirmação teológica confirmando que Jesus era o Messias que há tanto tempo esperavam. O próprio Cristo afirmou que Pedro fora inspirado pelo Espírito Santo, pois Pedro foi o instrumento pelo qual Deus falou segundo vemos pelo versículo 17. Pedro foi a primeira Cefas, que pode ser traduzida por rocha ou pedra, com que a igreja começou a ser construída. Mateus 4:18, Marcos 1:16, Lucas 5:03/10 e João 1:42 

Jesus conhecia bem o seu apóstolo. Uma revelação dessas era completamente contrária ao pensamento e aspirações de Pedro. Jesus não tem dúvidas de que essa não podia ser uma afirmação do “Simão, filho de Jonas”, mas era certamente uma revelação do próprio Pai.

Mas, podemos perguntar: Será que “Simão, filho de Jonas” compreendera bem a sua própria afirmação, ou aceitava a Jesus como o “messias” que há tanto tempo esperavam, o “messias” da sua cultura veterotestamentária, o “messias senhor dos exércitos” para combater os romanos e torna-los escravos dos judeus à semelhança do que aconteceu com outros povos nas guerras de ocupação do território!?

Certamente que Pedro estava disposto a dar a sua vida por esse “messias” morrendo em combate com uma espada na mão, pois bem sabemos o que aconteceu mais tarde, em Lucas 22:31/34 como está na Jerusalém: 31 “Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; 32 eu, porém, orei por ti, a fim de que a tua fé não desfaleça. Quando, porém, te converteres, (b) confirma teus irmãos”. 33 Disse ele: “Senhor, estou pronto a ir contigo à prisão e à morte”. 34 Ele, porém, replicou: “Pedro, eu te digo: o galo não cantará hoje sem que por três vezes tenhas negado conhecer-me.” 

Como seria a confusão no pensamento de Pedro perante todas estas contradições? Ele foi considerado bem-aventurado, mas Jesus disse seria preso e crucificado em Jerusalém e que ele, Pedro, O iria negar por três vezes!! Mas ele, Pedro, era bem-aventurado?!

 

Satanás observa os vários apóstolos… e Pedro parecia o mais indicado. Tinha sido elogiado, o que lhe dava mais coragem para intervir. Era o mais impulsivo para tomar uma decisão rápida e era respeitado pelos outros.  

Satanás sabia que a crucificação de Jesus estava para breve e isso seria a redenção de todo o ser humano que aceitasse a salvação. Portanto, tenta dissuadir Jesus de se deixar crucificar.

Para isso, Satanás teria de se servir de alguém, algum dos discípulos de Jesus e Simão Pedro pareceu-lhe o mais indicado. Pedro era pescador profissional, dono duma embarcação, homem habituado a observar e tomar decisões rápidas, pois numa pequena embarcação, muitas vezes, disso dependia a sua vida e a dos seus homens. No campo espiritual, Pedro continua o mesmo homem que decidia em nome de todos, no momento oportuno. (c)

Esta era a ocasião por que Satanás esperava. Pedro sentiu-se o escolhido para chamar o Mestre à sua “realidade”, era o predestinado para a salvação de todo o grupo, para evitar a derrocada final de todas as esperanças de Israel. A grande preocupação de Pedro era a salvação do seu “messias”, o messias da sua cultura veterotestamentária o “Senhor dos exércitos”.

Era necessário agir com urgência. O que Jesus acabara de dizer seria o fim de todas as esperanças de Israel…

 

Depois disto tudo, depois de Pedro ter falado em nome de Deus e do próprio Cristo o ter considerado bem-aventurado, entre tantos crentes … foi precisamente Pedro o escolhido por Satanás para tentar afastar Jesus da sua missão de morrer na cruz, como vimos em Mateus 16:21/22. 

Jesus reage, volta-se para Pedro… mas fala para Satanás e não propriamente para Pedro. Mateus 16:23. Aqui aparece nitidamente o nome de Satanás, que se serviu da dedicação de Pedro como seu instrumento para tentar afastar Cristo da sua morte expiatória na cruz. Até o apóstolo Pedro, nessa ocasião foi controlado por Satanás. Também Marcos 8:33 apresenta idêntica descrição.

 

5. Concílio de Niceia

O caso que apresentamos a seguir, já não é bíblico, mas resolvemos apresentar dadas as suas consequências para o cristianismo em geral e pelas suas semelhanças com a tentação de Jesus no alto do monte.

 

5.1 – Contexto histórico do Concílio de Niceia.

 

O Imperador Constantino já conseguira controlar praticamente todo o Império Romano, embora houvesse certo descontentamento em Roma.

Encontrei uma certa divergência na literatura que consultei sobre o assunto. Assim, alguns livros religiosos costumam mencionar que Constantino teve um sonho ou visão em que viu uma cruz e estava escrito “In Hoc Signo Vinces” que significa “Com este símbolo vencerás”.

Será que se trata dum acontecimento verídico? Ou duma interessante história para crianças de qualquer escola dominical ou catequese? A Igreja Ortodoxa Grega aceita isto como facto histórico e vai a ponto de considerar Constantino como um santo.

 

Mas há outra explicação do interesse de Constantino pelos cristãos que me parece mais credível. Nessa época a antiga religião romana já estava arrefecida, desacreditada e servia só para enfeitar os seus palácios com as estátuas dos seus deuses, enquanto o cristianismo estava bem vivo e crescia apesar das perseguições que sofrera. Então… deve ter pensado o Imperador Constantino, essa seria a religião mais indicada para governar o Império Romano, se tivesse o apoio dos cristãos e os pudesse controlar.

O grande problema de Constantino, para que o cristianismo lhe pudesse ser útil, era a sua desorganização. Havia inúmeras igrejas em todo o Império, por vezes baseando a sua fé em diferentes textos, e as relações entre elas, nem sempre eram as melhores. Nessa época só havia cânon do Velho Testamento que fora organizado em Jâmnia, cerca do ano 90 ou 100, mas nada ficara estabelecido quanto ao Novo Testamento. Assim cada igreja utilizava qualquer evangelho entre as dezenas que nessa época estavam em vigor, segundo informam alguns historiadores e Lucas também se refere a esse problema do seu tempo. Lucas 1:1

Constantino confiava mais nos cristãos que nas religiões tradicionais de Roma. Os cristãos eram já muito numerosos, principalmente no Oriente, pelo que Constantino mudou a capital do Império de Roma para Bizâncio a que deu o nome de Constantinopla (actual Istambul). Constantinopla estava numa posição mais estratégica, entre a Europa e o Oriente, e segundo alguns historiadores, por se sentir mais seguro do que em Roma, onde o ambiente não lhe era muito favorável, pois muitos senadores não se conformavam com o apoio aos cristãos, com prejuízo para a antiga religião de Roma.  

 

5.2- Contexto teológico do Concílio de Niceia

 

O Império Romano tinha os seus deuses tradicionais, mas havia liberdade de religião para os deuses dos países conquistados que foram gradualmente aceites e “oficializados” em todo o Império. No ano 313 foi promulgado o Édito de Milão que considerou o cristianismo como mais uma das religiões do Império Romano, pelo que os cristãos passaram a beneficiar de liberdade e até, se necessário, de protecção das Autoridades Romanas, bem como o direito de exercer cargos públicos.

No ano 325, quando se realizou o Concílio de Niceia, com a participação de cerca de 300 representantes de varias igrejas, o Imperador Constantino reinava em todo o Império Romano.

O principal objectivo de Constantino era pacificar o seu Império inclusive no aspecto religioso, o que na sua cultura seria organizar uma igreja uniformizada, hierarquizada, com um chefe com quem pudesse “dialogar” e que estivesse às suas ordens. Ele necessitava duma religião autoritária, rígida, apoiada pelo seu exército, para a impor aos novos povos anexados ao Império Romano. Foi com esse objectivo que decidiu convocar um Concílio das igrejas cristãs. (d)

Isto faz-nos lembrar o título que demos a este artigo, as palavras de Satanás quando tentou Jesus no deserto. “Tudo isto te darei se prostrado me adorares

Logo de início, os representantes das várias igrejas foram convidados a participar do Concílio que se realizou no palácio do Imperador na cidade de Niceia. Muitos dos que, há poucos anos, viviam escondidos nas catacumbas, foram para o palácio imperial.

Numa época em que não havia transportes públicos, eles viajaram nas carruagens destinadas aos altos funcionários do Império Romano que circulavam pelas vias romanas onde havia estações onde os cavalos cansados da viagem eram trocados por outros prontos a continuar.   

Os cultos cristãos familiares, do primitivo cristianismo, que se realizavam na clandestinidade, passaram a realizar-se nos grandes templos das religiões tradicionais de Roma, confiscados por Constantino para os entregar à nova religião do Império Romano, o Cristianismo.

Mas sempre houve pequenos grupos de cristãos que mantiveram os seus cultos clandestinos, para quem a vida pouco mudou a não ser que deixaram de ser perseguidos pelos pagãos e passaram a ser perseguidos pelos “cristãos” da igreja oficial.

 

6. E nos nossos dias?

Podemos certamente perguntar: E nos nossos dias? Satanás já desistiu de atacar a Igreja?

Penso que Satanás continua activo como sempre. Até os seus métodos pouco mudaram.

Ele virá sempre na forma duma pessoa muito simpática a amável, utilizando todos os métodos de persuasão e todos os argumentos da psicologia, da economia e da propaganda comercial. Virá com propostas irrecusáveis de ajuda económica e apoio às igrejas, por vezes através dum alto dirigente religioso ou político, de pessoa de grande autoridade e credibilidade ou da pressão psicológica da própria organização.

Os seus principais alvos, como quase sempre, serão os religiosos: padres, pastores, missionários, dirigentes das igrejas e crentes em geral.

Os seus argumentos, não mudaram muito:

Se a tua igreja tem pouca gente, tens de tornar a pregação mais aceitável e prometer aquilo que a assistência quer ouvir. Promete saúde, dinheiro, poder secular, alegria, felicidade, tudo aquilo que o povo procura. Sempre foi assim, desde o tempo de Jesus.

Se tens dificuldades económicas, na verdade a mensagem do Evangelho e a ideia do sacerdócio universal não defende devidamente os privilégios dos dirigentes religiosos. Terás de colocar em vigor as leis do Velho Testamento, com todos os privilégios dos levitas e em especial a obrigatoriedade do dízimo. (e)

Certamente que Satanás virá com propostas para dinamizar as igrejas, conseguir dinheiro para construção de novas instalações etc.

Tem sido assim através dos tempos… a poderosa “igreja das cruzadas” com os seus exércitos, as “igrejas oficiais” com todos os seus privilégios que perseguiram outras religiões e até outras igrejas cristãs. 

Satanás geralmente cumpre o que promete, mas haverá certamente um pesado custo que não esperas.

Todos os teu problemas e necessidades serão resolvidas… tudo te darei… Mas a que preço?! Poderá continuar a chamar-se igreja cristã.. mas duvido que Cristo continue presente. Mas Ele continuará onde dois ou três se reunirem em seu nome, féis aos seus ensinos e seus ideais.

Estejam atentos que ele virá, ou já veio, aos crentes e igrejas dos nossos dias.

Geralmente os altos dirigentes das igrejas costumam abençoar os crentes, mas lembro-me bem das primeiras palavras do actual Papa Francisco quando foi eleito, quando surpreendeu todos pedindo que rezassem por ele, pois bem sabia a quem iria enfrentar.

 

Camilo – Marinha Grande - Portugal

Setembro de 2017

 

 

(a) Há quem mencione Isaías 14:04/20 como uma referência a Satanás, mas examinando o contexto destes versículos se verifica que Isaías se refere ao Rei da Babilónia que dominava em Israel.

Também costuma ser mencionado Ezequiel 28:12/17, que é de difícil interpretação, mas o versículo 12 afirma que se refere ao Rei de Tiro. De qualquer maneira, trata-se de linguagem simbólica em que não é correcto basear qualquer doutrina.  

No Novo Testamento há várias referências a Satanás: João 12:31, 2ª Coríntios 4:4, Efésios 2:2, Hebreus 2:14 que nos dão alguma informação, mas são somente referências a Satanás e não há nenhuma passagem didáctica sobre Satanás.

 

(b) Esta expressão “ .. quando, porem, te converteres...” pode levar-nos a pensar que Pedro não estivesse convertido. Numa tradução do grego palavra por palavra seria “… quando tiveres voltado fortalece os irmãos…   A TEB completa, traduz como “E tu, quando tiveres voltado, confirma os teus irmãos.” E tem uma chamada afirmando que: Estas palavras podem ser compreendidas de diversos modos. Quando tiveres voltado a Deus (Daí a tradução “convertido” que se encontra às vezes); Quando tiveres voltado a Jerusalém após a dispersão dos discípulos; Quando te tiveres reerguido; Quando tiveres reconduzido os teus irmãos; ou mesmo, supondo uma expressão semítica: Tu, recomeça a confirmar os teus irmãos. Segundo Lucas 24:34 e Paulo em 1ª Coríntios 15:5, Pedro foi o primeiro a quem apareceu Jesus ressuscitado. A fé de Pedro desempenha aqui, como em Mateus 16:15/19, um papel decisivo para a formação da comunidade primitiva.

 

(c) Sobre as características de Simão, filho de João, como homem, aconselho e ler o meu artigo Pedro (Simão) (CC) e a opinião do próprio Pedro em Pedro 2:04/10

 

(d) Como consta da introdução ao 2º Volume da Bíblia do Prof. Frederico Lourenço – Constantino, o primeiro Imperador cristão, quis uma Igreja de pensamento uniforme e incentivou, por isso, a supressão não só de heresias como dos textos que as veiculavam. Do Concílio de Niceia, a que Constantino presidiu em 325, saiu a determinação oficial de que quem estava na posse de escritos heréticos devia entrega-los para serem queimados; quem o não fizesse, sujeitava-se à pena de morte. 

 

Alguns desses textos chegaram aos nossos dias e são mencionados no livro “Evangelhos Apócrifos” de Luigi Moraldi traduzido pela Paulus.

 

(e) Sobre a obrigatoriedade do dízimo no Novo Testamento, procure a palavra “dízimo” na secção Temas polémicos nesta nossa página.   

 

 

 

Literatura consultada:

Bíblia de Jerusalém, Bíblia TEB (completa), Bíblia de Frederico Lourenço, Bíblia de F. Almeida, Bíblia BPT.

Dicionário de Teologia – Bauer

Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã

Evangelhos Apócrifos de Luigi Moraldi.

Comentários de John Broardus

Comentários de Fritz Rienecker

Comentários de J. C. Ryle

 

 

Comentários recebidos

 

David de Oliveira – Goiânia - Brasil

Setembro de 2017

Todos nós cometemos peripécias, não é verdade?  Mas pelo teu artigo vimos que não somente nós, seres (animais) humanos, mas outros seres de outras esferas muito mais elevadas, não deveria, mas também têm potencial para cometem os mesmos erros nossos e até piores. Não somente Satanás, como representante angelical e protagonista de teu artigo, mas anjos comuns cometeram fornicações ainda maiores que as nossas, pois, coabitaram com espécies diferentes das deles Deuteronómio 3:11 (1 côvado = 45 cm) e como consequência, produziram as maldades da hibridização homens/anjos para habitar o planeta, o que era obviamente proibido Judas 1:6.  Será que lá no céu ou paraíso não vivem anjos (femininos?) para saciar ou abrandar o apetite sexual dos anjos (machos?), ou será que os anjos “não se casam (copulam, acasalam), e não se dão em casamento” mesmo? Marcos 12:25, Mateus 22:30Géneses 6:4/5.  Talvez as nossas fêmeas sejam mais bonitas e atrativas que as deles, o que fez com que pulassem a cerca cósmica... Judas 1:6.

O primeiro pecado de rebelião, uma das iniquidades mais abomináveis da Bíblia,  1º Samuel 15:23, não foi cometido aqui na terra; também não foi somente por Satanás não, mas por mais de 30% da população celestial. Apocalipse 12:4 Logicamente ainda não existia rebeliões e se não existia esse pecado não se conhecia esse erro para transgredi-lo, apesar disso, a consequência foi desastrosa 2ª Pedro 2:4/5, Isaías 14:13/32, para quem não sabia o que estava fazendo, ou será que Deus já sabia dessas consequências futuras e havia alertado para esse erro/anormalidade de suas criaturas? Será que isso não esbarra na omnisciência e presciência divina (como dogmas), mas não na sua soberania de fato? Será que não há um jeito de Deus optar por não ter acesso ou não querer saber do futuro? Se Ele não tem opções de “não saber” o futuro, para Ele não existe futuro e isso limitaria a Sua soberania/absolutismo e O coloca na cadeira dos réus por omissão, segundo entendimento humano. Enfim, Satanás foi o “grande erro” de Deus?  

O Novo Testamento afirma em 1ª Coríntios 15:22 que foi Adão, o primeiro ser humano criado por Deus, a pecar e por isso, nós, pobres descendentes que não tivemos nada com aquilo estamos a sofrer desde aquele episódio (serpente/Satanás). Jesus, que também não teve nada a ver, levou o ônus para nos livrar da condenação de desobediência sem desobedecermos Romanos 5:12/14. Juridicamente falando, temos álibis perfeitos. Depois veio aquele crime surreal de assassinato em que o primeiro filho gerado do primeiro homem criado, mata, sem saber o que era “matar” Romanos 5:13.

O que eu quero dizer com tudo isso? É que o céu não está tão longe de nós como sempre supúnhamos e que pecado e consequência dele não têm muita diferença nos dois ambientes.