Tradições e Contradições (OC)

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A palavra tradição refere-se à transmissão de doutrinas, costumes ou lendas ao longo do tempo, de geração a geração. (Dicionário Enciclopédico Koogan-Larousse).

Há grupos de cristãos que se insurgem contra outros, censurando-os por serem tradicionalistas e considerando assim como negativo e condenável possuir ou observar tradições. Tais grupos julgam-se isentos delas, apontando-as como desvios ou fraquezas.

Os cristãos evangélicos também têm as suas tradições. Mas será que nos questionamos quanto à utilidade, validade e fundamento das mesmas?

Haverá tradições que em nada colidem com os ensinos de Jesus Cristo, mas outras poderão estar em contradição com a essência do Evangelho, ou seja, com a doutrina do Cristo de Deus. E não é Ele, afinal, como Verbo eterno e suprema Palavra, o paradigma e regra da nossa fé e prática?

Entre as tradições que, embora não encontrando fundamento expresso em Cristo (nem sequer nas Escrituras), talvez não ponham em causa os Seus ensinos, podemos mencionar alguns costumes, como por exemplo: oração com os olhos fechados; tratar os outros cristãos por irmãos (o que, no trato individual, só excepcionalmente acontece no Novo Testamento); forma como se celebra e distribui a Ceia do Senhor; o exame de pré-ordenação dos pastores; a profissão de fé perante a igreja para efeito de baptismo; a forma e conteúdo do rito matrimonial; o baptismo distanciado da conversão em espaço temporal, etc... São exemplos de tradições que foram sendo adoptadas mais ou menos inocentemente, e integradas como hábitos ou normas eclesiásticas.

No entanto, também há práticas tradicionais que estão em frontal desacordo com o ensino de Cristo. Por exemplo: orar invocando o nome de Jesus, quando Ele próprio disse: Portanto, vós orareis assim: Pai nosso..., (Mateus 6:9), além de que sempre que Jesus orou se dirigiu ao Pai, e finalmente ensinou, prometendo, ...tudo quanto pedirdes ao meu Pai, em meu nome, Ele vo-lo há-de dar. (João 16:23). A propósito, também há quem pense ser obrigatório verbalizar a expressão em nome de Jesus, como uma espécie de fórmula ritual, quase sacramental, quando o importante é ter consciência de que, ao orarmos ao Pai, o fazemos através da imprescindível mediação de Seu Filho e nosso intercessor (João 17:9, Romanos 8:34, 1ª Timóteo 2:5).

 

 

A tradição do “Dia das Mães”

Mas uma das tradições mais flagrantes e mais graves é celebrar anualmente o “Dia das Mães”, seguindo o exemplo de uma tal Ana Jarvis (Filadélfia, EUA, 1912), em homenagem àquelas que nos deram o ser (sozinhas, por auto-fecundação ou por partenogénese?!) e proferindo discursos, poemas, cânticos, etc, em que se exalta a mãe como sendo o progenitor por excelência, até porque não há maior amor que o amor de mãe... Será mesmo?

Esta tradição tem-se perpetuado, ano após ano, década após década, e já lá vai quase um século, mesmo sabendo-se que há tantas mães que rejeitam os seus filhos à nascença e os abandonam à porta duma qualquer igreja, ou casa particular, e às vezes até, para se desfazerem dos bebés recém-nascidos, os vão despejar num contentor de lixo ou noutro lugar que sirva para o efeito. E que dizer de tantas e tantas mães que prejudicam gravemente os seus filhos pela forma como os tratam e maltratam quando crianças, adolescentes e até adultos (violência física e psicológica, super-protecção, etc.)? E aquelas mães que mandam os seus filhos (crianças e jovens) para a prostituição a fim de, explorando-os, conseguirem dinheiro através deles. E as mães que, como se verificou/descobriu recentemente, chegam ao ponto de abusarem sexualmente dos seus filhos!

É certo que há boas mães e más mães. Como há bons pais e maus pais. Mas porque continuam certas igrejas a louvar as mães e esquecer os pais? (Excepção feita ao Catolicismo Romano, por exemplo, que celebra o “Dia da Mãe” mas também o “Dia do Pai”).

No “Dia das Mães” evangélico, as mães são geralmente endeusadas. E no entanto condena-se a mariolatria. Mas no tradicional “Dia das Mães” faz-se uma espécie de culto ou veneração materna. Até já ouvi designar essa festa como culto das mães!!!

Para não chamar a isso tudo uma aberração, chamo-lhe contradição. Contradição a vários níveis, mas sobretudo face à Lei de Deus, realçada por Jesus, em Mateus 15:4 e Marcos 7:10, a propósito da tradição dos anciãos: Honra a teu pai e a tua mãe. Será que podem restar dúvidas?

Porque manter tradições vãs como quem faz do Evangelho uma religião ritualista, montada e moldada por critérios humanos arbitrários? Afinal o que queremos?

Ser cristãos (de Cristo) ou ser religiosos dum pseudo-cristianismo?

Fica a advertência do Mestre. E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus. (Mateus 15:6)

 

Orlando Caetano

Transcrição de “A Mensagem Baptista” nº 169