Toxicodependência
religiosa (OC)
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aos textos)
Ouvistes o que foi dito: Olho
por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas se
qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. E, ao que quiser
pleitear contigo e tirar-te o vestido, larga-lhe também a capa. E, se qualquer
te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.
Dá a quem te pedir, e não te
desvies daquele que quiser que lhe emprestes.
Ouvistes o que foi dito:
Amarás o teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os
vossos inimigos, bendizei aos que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e
orai pelos que vos maltratam e vos perseguem;...
Isto é o que o Mestre exige, no «sermão
da montanha» ao rever e actualizar as leis e tradições antigas, e ao apresentar
os novos padrões do Evangelho, ou seja, a ética do Novo Pacto.
Uma questão se levanta: Será que Quem
tanto requereu de simples seres humanos como nós, não fará o mesmo ou ainda
mais?
Será que Jesus, o Cristo, como Juiz, irá
adoptar a lei de Talião «olho por olho, dente por dente»? Ou, pelo contrário,
perdoará aos que O feriram, agrediram, ofenderam e, em vez de os castigar, lhes
dará também a «outra face»?
Por outras palavras: Se roubarem a Jesus
hoje, seja o que for, se ficarem em dívida para com Ele, será que Jesus reagirá
negativamente? Ou deixará que levem ainda mais... «largando-lhes também a
capa»?
Será que Jesus hoje, e no final dos
tempos, fará pelos homens mais ainda do que exigirem d’Ele,
caminhando a tal «segunda milha»?
Jesus ama e amará sempre os Seus inimigos,
«fazendo bem aos que O odeiam e maltratam»? Qual será, afinal, a medida do Seu
amor e da Sua tolerância?
Apesar das Suas advertências punitivas,
noutros textos bíblicos, pergunto: Não é de esperar que, no final dos finais,
depois de tudo, Jesus absolva aqueles que O rejeitaram, O maltrataram e
ofenderam, ou foram simplesmente indiferentes a Ele?
Aliás, no Calvário, o Cristo pediu
perdão para os que O crucificaram. E, embora estes talvez ignorassem o alcance
real do seu acto, certamente sabiam que estavam a matar um homem. Houve alguma
condição para Jesus perdoar esses assassinos? (arrependimento, fé, penitência...?)
Em João 13:21/38
lemos de um caso de traição ao Cristo, e outro de negação do Mestre. Judas
traiu-o e Pedro negou-o. Como reagiu Jesus? Exclui-os/excomungou-os da
comunidade? Castigou-os?
E como reagem as nossas comunidades
(igrejas ou congregações) quando há entre eles traidores ou membros que negam o
Senhor por palavras ou por actos?
Bem sabemos que algumas igrejas são
drásticas e rápidas. Fazem um julgamento sumário e procedem à
rejeição/excomunhão do membro que pecou... (em certos casos, mais para salvar a
«honra do convento»!)
Outras são menos intransigentes:
deixam-no permanecer integrado mas castigam-no, retirando-lhe direitos (de
voto, de participação na Ceia, de exercer cargos, etc.)
Que disse Jesus, e que ensinou Ele,
neste contexto? Que vos ameis uns aos outros como Eu
vos amei. João
13:34/35).
Convém reflectir, de modo autocrítico:
Não será que muitas vezes nós cristãos «somos mais
papistas do que o papa»? Não nos faltará a abertura, a generosidade, a
paciência, a capacidade de «vencer o mal como o bem», de perdoar 70x7 vezes, ou
seja ilimitadamente?
Condena-se os fundamentalistas
islâmicos, por exemplo, apodando-os de intolerantes e fanáticos. E nós? E as
comunidades/igrejas cristãs? Não estarão, em muitos casos, tanto ou mais
possuídas e poluídas por mentalidades legalistas, autoritárias,
exclusivistas, irredutivelmente rígidas e vazias de AMOR?
Um testemunho pessoal:
Considerando os que me procuram com os
seus problemas, através da minha página na Internet (a)
tenho constatado que um certo fundamentalismo dito cristão (nomeadamente no
seio de muitas igrejas brasileiras, chamadas evangélicas) produz efeitos
nefastos, pelo seu biblicismo judaizante e castrador.
Tenho-me apercebido de que ele bloqueia
os que caem nas suas malhas, resultando em imensos caudais de sofrimento
para estes.
Eu diria mesmo que essa intransigência
autoritária provoca aquilo que classifico de «toxicodependência
religiosa», por resultar em inibições acríticas relativamente ao ensino dos
«líderes» tidos como iluminados e quase infalíveis.
Há, frequentemente, uma interiorização
cega, sem reflexão, sem questionamento e muito menos contestação, pelos que,
assim, se comportam como ovelhas seguidistas e acomodadas. Não há espaço para
diálogo, nem debate. Não existe pluralismo de pensamento e de opinião. Nem
sequer estímulo para raciocinar, para estudar, para pesquisar, para comparar.
Só resta um dogmatismo monolítico, asfixiante e atrofiante, com algemas
invisíveis mas bem reais.
No entanto, o Cristo veio para nos
libertar, veio para que fôssemos verdadeiramente livres.
Orlando Caetano –
Leiria, Portugal.
Agosto de 2006
(a) Esta página da
internet já foi desactivada.
Estudos
bíblicos sem fronteiras teológicas