Templos
cristãos ou pagãos? (OC)
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Acerca
dos templos onde se reúnem as comunidades cristãs evangélicas, há ideias
desajustadas que me parece bem enunciar e analisar embora sucintamente.
Há
quem confunda o Templo judaico com os templos cristãos, atribuindo a estes a
designação de «casas de oração» que, como se pode ler nos evangelhos (Mateus 21:12/17;
Marcos 11:15/18;
Lucas 19:46; João 2:13/16) se
referem ao Templo judaico, onde, aliás, Jesus fez tal pronunciamento quando
expulsou dele os vendilhões que o profanavam.
Também
é costume apelar a um certo tipo de «reverência» nos templos cristãos, usando
um texto, em Eclesiastes
5:1: Guarda
o teu pé quando fores à casa de Deus... Ora essa casa, no contexto
veterotestamentário, é, certamente, o templo judaico. Quem aplica hoje esse
texto às casas de culto cristão, talvez defenda um culto em que não haja lugar
para o convívio entre os participantes, e se pretenda dar mais ênfase a uma
espécie de silêncio supersticioso nesse lugar «sagrado», como se ele fosse mais
sagrado do que qualquer outro. Seja como for, parece-nos que aquele texto não
pode fundamentar essa pretensão.
Outra
reminiscência semelhante é o apelo ao dízimo, de forma legalista, como medida
de contribuição exigida em igrejas cristãs. O dízimo é uma referência útil mas
precária, à luz do Evangelho libertador, o qual valoriza sobretudo a qualidade,
a motivação, o amor com que se dá. Sobre este tema já existe, neste «site», um
excelente e esclarecedor artigo de Camilo Coelho, cuja leitura muito
recomendamos.
Há
práticas e atitudes «judaizantes» no cristianismo actual. Estas e outras, de
que talvez uma das mais graves é a ênfase que certas igrejas dão ao Antigo
Testamento, baseando nele lições e prédicas, sistematicamente, de tal modo que,
por vezes, num culto dito «de pregação do Evangelho», não está presente Evangelho nenhum, nem é
anunciado Jesus, o Cristo, a Palavra de Deus viva e vivificadora. Apenas
antiguidades éticas, poéticas ou históricas, algumas arrepiantes, mas não a Boa
Nova de alegria, de paz, de esperança e de amor. Essas igrejas, por vezes, mais
parecem sinagogas do que comunidades cristãs.
Muito
grave é, também, criticar-se a adopção, pelo catolicismo romano, de certas
práticas, móveis e outros objectos do culto pagão, a partir da adopção do
cristianismo como religião do Império, no século IV, como se os evangélicos (na
sua «pureza exemplar»!!) estivessem isentos e fossem
intocáveis nessa matéria.
Afinal,
desde quando houve templos cristãos? Não foi o próprio templo, globalmente, a
principal recuperação material proveniente do paganismo?
Os
cristãos primitivos tinham templos? O Templo de Jerusalém era um templo
cristão? Obviamente que não. Os cristãos, até ao quarto século, reuniam-se em
casas particulares, como podemos verificar em múltiplas passagens, por exemplo
em Romanos 16:5 e
1ª Coríntios 16:19.
Mais tarde, chegaram a reunir-se em catacumbas, refugiando-se das ferozes
perseguições de que foram alvo. Também se juntavam nas sinagogas e no Templo de
Jerusalém, mas esses não eram os seus espaços. Esses espaços pertenciam aos
judeus. Frequentavam-nos para dar testemunho do Cristo aos israelitas,
procurando evangelizá-los.
Templos
evangélicos, com os seus púlpitos, seus objectos «sacramentais», seus lugares
reservados ao «clero», seus patamares diferenciados em honra e
dignidade/autoridade... Para que condenar ou censurar o catolicismo romano em
aspectos tão semelhantes aos nossos? Há que assumir os factos, as semelhanças,
sem complexos nem hipocrisias. E se o lugar é útil para culto, testemunho,
comunhão, serviço ao próximo, tudo bem. Embora devesse restaurar-se a prática
das reuniões e celebrações em casas particulares. Seria salutar des-sacralizar os locais e objectos de culto, dar mais
ênfase às comunidades menos formais e mais actuantes, à igreja aberta ao mundo
e às suas necessidades integrais, todos os dias da semana e não somente uma ou
duas horas aos domingos.
Afinal
Deus não habita em templos feitos pelas mãos dos homens (Actos 7:48/50, Actos l7:24). Jesus
afirmou categoricamente que o local de adoração não é nem em Jerusalém (Templo
judaico) nem em Samaria, nem num monte nem no outro, pois Deus é espírito e o
importante é que o adoremos em espírito e em verdade (João 4:20/24),
seja onde for. Quando Jesus expirou na cruz, o véu do Templo rasgou-se de alto
a baixo (Marcos 15:38)
e, cerca de 40 anos depois, toda a cidade de Jerusalém foi destruída (Lucas 19:43/44),
incluindo o próprio Templo, do qual resta apenas o muro das lamentações, como
se sabe.
Templo
de Deus é Jesus, disse-o Ele: Destruam este templo e em três dias o
reedificarei! – referindo-se ao seu corpo. (João 2:19/21). Templo
de Deus somos nós: Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo
que habita em vós...?
(1ª
Coríntios 3:16/17; 1ª Coríntios 6:19)
Templos
vivos, casas de Deus vivas, glorificando ao Senhor por onde andarem.
Isso
sim. Esses são os maiores, os mais importantes de todos os templos, no Novo
Testamento.
Vidas dedicadas ao Senhor, espelhando o amor do Cristo, manifestando a Sua Obra
através de obras, ao serviço a Deus na pessoa do próximo. Mas quando se vai à
igreja, dominicalmente, cumprir apenas um dever religioso, descarregar a
consciência, ouvir a pregação e dar o dízimo (nem sempre de coração, às vezes
por coacção), que cristianismo é esse afinal? E os doentes, e os pobres, e os
encarcerados, e os idosos, e as crianças? Pensa-se neles, dá-se-lhes atenção,
carinho, auxílio?
Na
última página da Bíblia é dito da Nova Jerusalém (o céu): Nela não vi templo... (Apocalipse 21:22).
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