Simão Pedro (NG)
(Deverá “clicar” nas referências
bíblicas, para ter acesso aos textos)
Em
defesa de Pedro, ele não traiu Jesus.
Guarde a sua espada! João 18:11
Então Pedro se lembrou da palavra que Jesus dissera: Antes que o
galo cante tu me negarás três vezes. E, saindo dali, chorou amargamente. Mateus 26:75
Eu
creio que Pedro tinha motivo honesto para chorar, e não eram lágrimas de um
traidor arrependido. Comecei a pensar nos motivos destas lágrimas registradas
na bíblia, minha admiração aumentou muito em ver Jesus atuando na vida deste
homem e então... também chorei.
Não
foram poucas vezes que Pedro reafirmou sua lealdade a Jesus, Pedro tinha muitas
qualidades e com certeza era um companheiro leal.
Pedro
tinha um irmão, André, foi quem o levou a Jesus. Sou hoje grato a Jesus por
existir muitos “Andrés”, que não aparecem, são anônimos aos nossos olhos, mas,
têm a capacidade de encaminhar muitos “Pedros” para Jesus (João 1:41/42).
Antes de seu irmão André levá-lo a Jesus Pedro era um pescador, com muitas
qualidades, creio eu que entre estas qualidades estava o ideal de ver seu país
livre. O ambiente era este, observemos que entre os discípulos escolhidos por
Jesus, existia um que pertencia a um partido chamado Zelote (Mateus 10:4), como
sabemos, naquela época Roma era dominadora de Israel, o povo Israelita ou
Judeu, como eram conhecidos, estavam sujeitos ao governo romano, os Zelotes era
um grupo de patriotas anti-romanos que queriam o retorno à observação das leis de
Moisés e a conquista da independência nacional pela expulsão dos romanos. É
inegável, neste contexto, que Jesus se apresentando e sendo apontado como o
“Messias” o “Libertador”, induzia as paixões nacionalistas de Pedro.
Quando
André levou Pedro a Jesus disse: Achamos o Messias..., Pedro sem titubear, com
coragem, foi ao encontro daquele que segundo as escritura seria o “Redentor” de
Israel. Pedro deve ter ido ao encontro de Jesus pensando nas palavras do
Profeta Isaías: Na sua ira castigará os seus inimigos e povos de países
distantes receberão o que merecem... E virá um Redentor a Sião... (Isaías 59:18/20)
Andando
com Jesus, Pedro teve algumas oportunidades de demonstrar sua lealdade e
coragem:
a)
após uma noite de pescaria frustrada foi ele quem
lançou a rede novamente, atendendo a palavra de Jesus (Lucas 5:4) ;
b)
após algumas horas de pânico em mar aberto e
tempestuoso, foi o único que teve a coragem de sair do barco e andar sobre as
águas atendendo novamente ao chamado de Jesus (Mateus 14:28);
c)
foi ele quem teve a coragem de responder aberta e
objetivamente que Jesus era o Messias, o Filho do Deus vivo, aceitando a
deidade e missão de Jesus por completo, enquanto os outros, influenciados pelas
opiniões do povo, não tiveram a coragem de opinar e vacilaram (Mateus 16:13/16);
d)
quando Jesus começou a preparar os seus seguidores
para sua morte vicária, foi Pedro quem não aceitou a idéia
de Jesus ser morto dizendo: Isto não te acontecerá. (Mateus 16:21/22).
Como
escreveu H. S. Vigeveno (1) sobre Pedro: “Podemos
chamá-lo de magnífico, soberbo, fenomenal, admirável, grande... até mesmo a um
publicitário faltariam palavras e qualificativos para descrevê-lo. É verdadeiro tudo isto que se diz
deste principal dos apóstolos, deste grande pescador da Galiléia,
Pedro, o magnífico.”
Apesar
disto ele reconhecia o seu lugar, suas falhas e fraquezas, aceitava a correção
sem revoltar-se, sabia que era limitado era uma pessoa sensível, basta seguir a
seqüência dos acontecimentos de Lucas capítulo 5 -
Pedro tentou pescar a noite inteira, retornou frustrado mas, seguiu a palavra
de Jesus e foi pescar novamente - a nova tentativa foi tão grande que as redes
se rompiam e chamaram outros para pescar também, era tanta a abundância que
dois barcos quase afundaram - Pedro percebeu sua ganância (buthizesthai)
(1ª Timóteo 6:9)
ao ver o barco quase ir a pique e o exagero da abundância trazida pela palavra
de Jesus - a atitude de Pedro, vendo tudo aquilo, foi a de prostrar-se diante
de Jesus dizendo: - Senhor, afaste-se de mim, pois sou
pecador!
Uma
pessoa com esta natureza, idealista, leal, intrépido, humilde, não poderia
reagir diferente do que agiu no momento em que Jesus estava sendo traído e
preso.
No
ato da prisão, o próprio Jesus se apresentou para ser preso, e mais, Jesus
intercedeu pelos seus discípulos no sentido de que os deixassem ir embora, pois
ele, Jesus, estava se entregando, Pedro deve ter estranhado muito estas
atitudes de Jesus, até devido ao fato de que minutos antes, os algozes de
Jesus, já haviam recuado e caído ao chão quando ele se apresentou (João 18:5) sem
qualquer reação, aquilo deve ter causado alguma movimentação e Pedro que já
havia dito que aquilo não iria acontecer, que não era para Jesus “nem pensar em
ser preso”, estava pronto para morrer pelo seu líder, sacou sua espada e
arremeteu contra aquelas pessoas.
Imagino
os rápidos pensamentos de Pedro naquele momento no sentido de defender seu
Líder, o seu Messias, o grande libertador de Israel, “- não, não irão levá-lo,
vamos lutar, morrer se for preciso, mas, Jesus, nosso líder não pode ser
preso”.
Parece
que Pedro nem deu atenção para a atitude primeira de Jesus, de se entregar,
talvez Pedro pensasse consigo mesmo: “- ele quer nos proteger, por este motivo
está se entregando assim sem qualquer reação”. ou “-
parece que Jesus não está acreditando que eu posso lutar ao seu lado se
entregando assim desse jeito, sem reagir a nada” ou “- finalmente posso provar
que estou pronto para qualquer coisa para defender esta causa”.
Não
sei com certeza qual foi a motivação de Pedro para sacar sua espada e atacar os
que vieram prender Jesus, mas, é fácil retirar desta passagem, deste momento
bíblico, que a atitude de Pedro foi a mais coerente e corajosa possível do
ponto de vista humano.
Se
realmente o caso fosse de uma situação de guerrilha ou guerra convencional, sob
o ponto de vista secular ou humano, e se Jesus estivesse precisando de um bom
soldado para esta luta, com certeza Pedro seria a pessoa ideal, ele se revelou,
com sua brava atitude, um excelente soldado.
Pedro
reagiu à altura do que a situação exigia e do seu ponto de vista humano.
Muitas
vezes fazemos isto, nossa visão do que é correto ou errado nos leva a reagir
errado com boas intenções.
Tenho
um exemplo: Quando minha filha Rosana estava em fase inicial escolar, eu e
minha já falecida esposa Sônia estávamos brincando de jogar dominó, aquele
joguinho em que vamos encaixando as peças que possuem números iguais, a Rosana
se interessou e pediu para jogar, muito bem, deixamos que ela participe já que
ela poderia aprender a jogar e lhe seria útil na escola. Viramos as peças de
forma que os números não fossem vistos, começamos a misturá-las, embaralhá-las,
depois cada um teria que retirar do monte somente sete peças para o jogo iniciar,
eu e a Sônia iniciamos o procedimento de apanhar as sete peças, a Rosana vendo
que eu a Sônia estávamos pegando as peças do jogo interpretou nossa atitude do
seu ponto de vista, de forma que rápida e espontaneamente passou a pegar peças
como se o jogo já fosse aquele, a Rosana começou a tentar apanhar todas as
peças que pudesse segurar em suas pequenas mãos, ela agiu pelo que via, não
pelo que entendia, segundo o seu ponto de vista, seria o de ficar com a maioria
das peças do jogo. Eu dei muita risada naquele dia.
Assim
somos nós, temos raciocínio independente e naturalmente temos muitos
pressupostos, ou idéias em nossa mente, que
praticamente dirigem todas as nossas atitudes. Às vezes não é o plano divino.
Do
ponto de vista de Pedro, a situação criada naquele momento, no momento da
prisão de Jesus, exigia dele uma atitude, e assim ele fez, sacou sua espada e
foi à luta, chegou a cortar a orelha de alguém.
Mas,
Jesus disse para Pedro: Guarde a sua espada!... E aí...? Fico aqui engendrando
as várias coisas que Pedro pode ter pensado, naquele momento e nas horas que se
seguiram: “Como assim: Guarde sua espada?” Pedro deve ter pensado.
“Será
que Jesus não enxerga o que está acontecendo?” Pedro deve ter ficado
completamente atrapalhado, embaraçado, sem entender o motivo pelo qual Jesus
estava se entregando sem lutar e sem deixar que outros lutem por ele. Os
pensamentos de Pedro devem ter caído em devaneios sem sentido: - “Qual será a
estratégia da luta que Jesus quis travar?”, “Não tem cabimento se entregar
assim, Jesus não é um fraco ou covarde...”, “Será que ele vai querer morrer sem
ter realizado quase nada, pois ainda estamos tão subjugados por Roma... O que
fazer?”
A
aparente derrota de Jesus, deve ter jogado por terra todos os ideais políticos
de Pedro, toda sua vontade de mudar as circunstâncias deve ter sido muito
abalada, afinal o seu líder se entregou, e sem qualquer resistência. “Mas, que
líder é esse? Faz tantos milagres, até a filha de Jairo eu o vi ressuscitar (Lucas 8:51), falou
que destruiria o templo e em três dias colocaria tudo de volta (João 2:19), e agora
se entrega assim, parecendo um cordeirinho indo para o matadouro?” Poderia ter
pensado Pedro.
Agora
sim, começo a entender a atitude do grande Pedro ao negar Jesus três vezes,
afinal ele próprio não estava entendendo mais nada. No momento da prisão, no
Jardim do Getsemâni, Pedro até morreria lutando, mas,
Jesus não deixou... !
Então,
Jesus está preso, sendo levado, Pedro observando ao longe, ao ser indagado por
uma mulher sobre sua cumplicidade com Jesus... pergunto eu: - qual seria o
motivo que levaria Pedro a confirmar para aquela mulher, que deveria ser funcionária
dos sacerdotes, que realmente ele era discípulo de Jesus? Do ponto de vista de
Pedro, segundo eu entendo, não havia nenhum motivo.
Jesus
não deixou ele fazer o que podia e queria fazer para defende-lo e agora...? Com
o moral baixo, sem entender o motivo pelo qual Jesus se entregou daquele jeito.
O que mais poderia fazer? Se ele dissesse para a mulher: É, sou eu mesmo! E se
fosse levado até onde Jesus estava, existia o risco de Jesus rechaçar ele
novamente, como fez há algumas horas atrás.
Jesus
até curou a orelha do guarda que veio prende-lo,
arrancada por Pedro e sua espada. Não, disse Pedro, não o conheço! Assim, Pedro
foi argüido por três vezes, negava, mas não de
coração, pois sua fala o denunciava como discípulo de Jesus (Mateus 26:73) sendo
que na terceira vez ele até praguejou para sair daquele embaraço.
Não
sei não.., eu talvez não agisse diferente do que Pedro agiu, talvez eu nem
estivesse por perto como Pedro estava, enquanto Jesus era interrogado e
torturado.
E
o Galo cantou três vezes...
Que
interessante... ainda hoje, em nossos dias, o canto do Galo é sinônimo da hora
de acordar.
Com
o terceiro canto do Galo, Pedro então despertou, foi a grande virada nos
pensamentos dele, ele tinha muitas desculpas para agir como agiu, mas, quando o
Galo cantou três vezes, seus pensamentos mudaram como um estrondo de trovão em
dia de tempestade.
Talvez
se ele tivesse levado um golpe de espada ou um corte em seu corpo, não doesse
tanto quanto ouvir o canto daquele Galo, a dor que se apoderou de Pedro não era
pelo fato de ele ter traído Jesus, era sim pelo fato de ele se encontrar
novamente subjugado pela soberania de Jesus.
Pedro
deve ter pensado: “Como fui tolo novamente, depois de andar com o mestre Jesus
por três anos, parece que não aprendi nada!”.
Quando
Pedro, nos primeiros dias de contatos com Jesus e obedecendo a sua palavra
lançando a rede de pesca ficou embasbacado com os resultados, e agora sua
atitude foi a de reconhecer a supremacia de Jesus, após o canto de um Galo,
apesar de conviver com Jesus alguns anos e presenciar tantos milagres dele,
Pedro percebeu que sua natureza humana o havia enganado novamente, que a luta
de Jesus não era nos moldes que Pedro achava que deveria ser, que apesar de
Pedro estar totalmente enganado Jesus tinha o controle de tudo e Pedro
chorou...
Realmente
as lágrimas de Pedro devem ter sido muito amargas, conforme relata a bíblia,
mas, ele chorou devido ao fato de ter se lembrado das palavras de Jesus: Antes
que o galo cante tu me negarás três vezes (Mateus 26:75)
Garantindo que Jesus já sabia de tudo, antes de acontecer.
O
valente e independente Pedro caiu em si e percebeu que a guerra a ser travada
no Reino de Deus tinha regra diferente das que ele estava acostumado. No Reino
de Jesus a luta não é pela espada. Quando o Galo cantou, Pedro percebeu que
apesar de Jesus estar preso, sendo torturado e interrogado, ele, Jesus, tinha o
controle total das circunstâncias.
Pedro
deve ter colocado diante de Deus Pai a sua emoção, emoção tão forte que
palavras não poderiam exprimir, talvez as lágrimas amargas pudessem.
Pedro
percebeu então que toda a estratégia humana para fazer a vontade de Deus, por
mais correta que seja, é só estratégia humana, que os caminhos de Jesus não são
os nossos caminhos, e Jesus sabia disto e amou a Pedro.
Pedro
não traiu, pois amava Jesus, negou, é verdade negou... Mas, não negar, naquelas
circunstâncias, passando o que Pedro passou, resolveria algo, ou seria mais uma
atitude da iniciativa humana adâmica? Assim, além de defender Pedro no sentido
de que ele não era um traidor e sim um homem confuso pelas circunstâncias,
podemos tirar da lição que ele aprendeu, algo que serve para as nossas vidas
hoje:
Por
vezes, parece que erramos ao defender a nossa fé, parece que erramos ao não
entender os motivos de tantas frustrações, parece que as outras religiões vão
prevalecer, parece que Jesus não nos entende, parece que Jesus não precisa da
nossa vida...
Mas,
não é assim, na verdade Jesus demonstrou para Pedro, e para nós hoje, que o
amor é a única arma de lutar no seu Reino, que o uso do amor resulta em frutos
eternos, que as aparentes derrotas sob este amor são na verdade “bombas
atômicas” que mudam o mundo do homem e para amar é preciso receber a unção do
amor demonstrado na Cruz. E, finalmente que ele, Jesus, tem o controle de toda
a situação.
Não
vamos desanimar, Jesus virá, como veio a Pedro depois daquilo tudo, e vai
perguntar: - Você me ama? Realmente está certo disto? Não tem dúvidas?
Nossa
resposta certa tem que ser: Você sabe que te amo Jesus. Ele dirá
então apascenta (ame, cuide, alimente) minhas ovelhas.
(João 21:15/17)
E continua Jesus:
Pois a arma do amor que te mostrei será também usada por você (João 21:19) .
Jesus
é Soberano!
21/11/96
(1)
13 Homens que Mudaram o Mundo – HS VIGEVENO – Ed. Luz Evangelho 1976
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