Quem é Jesus? (GN)
(Deverá “clicar”
nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)
O
evangelho deste domingo situa-nos no Norte da Galileia, perto das nascentes do
rio Jordão, os romanos chamavam-lhe Cesareia de Filipe, hoje chama-se Bânias e é uma zona arqueológica.
O
texto de hoje decorre quando Jesus sofre a oposição dos líderes religiosos e o
desinteresse das populações pela Sua mensagem, e pela proposta do Reino, que
Jesus anuncia. As multidões que O seguiam, não acolhem a Sua mensagem. Então
Jesus coloca aos discípulos uma série de perguntas sobre si mesmo, para que os
discípulos entendam melhor e confirmem se O desejam seguir e aceitar a Sua
proposta do Reino de Deus.
Ao
estudarmos este texto podemos dividi-lo em duas partes; a 1ª de carácter mais
cristológico, ou seja no estudo de Jesus como pessoa e na sua doutrina e a 2ª A
de carácter mais eclesiológico, ou seja centra-se na Igreja, que Jesus convida
à volta de Pedro, o versículo 18, cita
as palavras de Jesus: “…Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei
a minha Igreja…”.
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Na 1ª parte (versículos 13 a 16),
Jesus interroga os discípulos: acerca do que as pessoas dizem Dele e também do
que os próprios discípulos pensam Dele. Os discípulos respondem que a opinião
do povo é que associam Jesus aos profetas anteriores, como um continuador da
voz de Deus, que Jesus é apenas, um homem bom, justo, generoso, que escutou os
apelos de Deus e que se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como tantos
outros profetas antes d’Ele, mas não O reconhecem como o Filho prometido de
Deus. O povo não entende a concretização da promessa com a presença do Messias.
Mas a opinião dos discípulos acerca de Jesus vai além da opinião do povo, e
Pedro, é o porta-voz dos discípulos, e responde: “Tu és
o Messias, o Filho do Deus vivo.” (versículo 16). Resumindo
nestes dois títulos a fé e a doutrina da Igreja. A afirmação de que Jesus é o Messias,
significa que é enviado por Deus, que é o prometido rei libertador que Israel
esperava, para lhes oferecer a salvação definitiva. Na verdade Jesus não é
apenas o Messias: é também o “Filho de Deus”,
porque esta expressão, designa que não só recebe vida de Deus, mas que vive em
total comunhão com Deus. Significa reconhecer a profunda unidade e intimidade
entre Jesus e o Pai, que Deus Lhe confiou uma missão única para a salvação da
humanidade. E que Jesus conhece e realiza os projectos
do Pai, e é dessa forma que os discípulos são convidados a entender o mistério
de Jesus.
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Na 2ª parte (versículos 17 a 20),
temos a resposta de Jesus à confissão de fé dos discípulos, apresentada por
Pedro. Lemos que Jesus começa por felicitar Pedro, pela clareza da sua fé, mas
lembra-lhe que a fé não é mérito seu, mas um dom de Deus, (versículo 17) “…porque não foi o entendimento humano que te fez descobrir isso, por ti
mesmo, mas o meu Pai que está no céu.” O texto descreve-nos
que Pedro e os outros discípulos, estão abertos à
mensagem de Jesus e à proposta de Deus, eles estão disponíveis para acolher os
dons que Deus lhes dá e aceitarem serem continuadores dessa mensagem, o desafio
e é neste contexto, no vers.18,
Jesus diz a Pedro: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a
minha Igreja..” Com simplicidade Jesus
usa o nome de Pedro, que significa pedra ou rocha, para afirmar que é sobre uma
base firme e estável que vai constituir a sua Igreja. É esta a confissão de fé,
já demonstrada antes e testemunhada naquele momento por Pedro e pelos outros
discípulos. Então o Filho de Deus, promete no
versículo 19: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus.”.
Esta citação de Jesus da entrega das chaves a Pedro,
relembra e simboliza o administrador que zela por todos os bens, que define as
regras e que o deve fazer com respeito, sabedoria e amor, tal como lemos no
livro de Isaías sobre o administrador do palácio. E o
versículo 19 termina com a frase: “O que tu proibires
na terra é proibido no céu, e o que tu permitires na terra é permitido no céu.”
As palavras proibir e permitir, desligar e ligar ou desatar e atar eram
designadas, entre os judeus da época, com o poder para interpretar a Lei com
autoridade, para declarar o que era ou não permitido, para excluir ou
reintroduzir alguém na comunidade do Povo de Deus. Deste modo Jesus declara
Pedro para administrador da Igreja, dando-lhe autoridade para interpretar as
Suas palavras, para adaptar os Seus ensinamentos a novas necessidades e
situações, e para acolher ou não novos membros na comunidade. A mensagem da Boa
Nova é para todos sem excepção e todos, mas mesmo todos são chamados por Jesus
a integrar o projecto do Reino de Deus. O Evangelho apresenta-nos Pedro como o
discípulo que dá voz pelos outros discípulos e também por todos aqueles que
acreditam em Jesus e que desejam ser discípulos e ser Igreja. Deste modo Pedro
é o exemplo do discípulo, que tem fé e que proclama que Jesus é o Filho de
Deus. O discípulo Pedro simboliza a Igreja, que somos cada um de nós que forma
a comunidade cristã, que se reúne à volta de Jesus e que proclama a fé no
Messias, o Filho de Deus. Em pleno século XXI, cada um de nós é continuador da
Igreja que Jesus construiu sobre a pedra, representada por Pedro como diz o seu
próprio nome.
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E se a pergunta for colocada: Quem é Jesus?… Tal como
no passado, muitos dirão que Jesus foi um homem bom, generoso, atento aos
sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente. Outros dirão que
Jesus tinha uma proposta de vida interessante, mas que não conseguiu impor os
seus valores. Outros dizem que Jesus foi um admirável orador seguido por
multidões, que deu esperança às multidões carentes, mas que passou de moda.
Outros falam que Jesus era um revolucionário, preocupado em construir uma
sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os
marginalizados, mas que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter o
seu status poderoso. Ou seja tantos séculos depois,
muitos continuam a apresentar Jesus só como um homem, um simples homem mesmo
que excepcional, que marcou a história e que deixou a sua pegada na história,
como tantos outros…
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Mas se a pergunta for feita a cada um de nós, que se afirma cristã ou cristão e
que é Igreja? “E vocês! Quem dizem que é Jesus?” … Na verdade
cada um de nós deve colocar esta pergunta, ela deve ser uma constante nas
nossas vidas, Cada um deve interrogar-se e tentar perceber qual é o lugar que
Jesus Cristo ocupa… Responder a esta questão obriga-nos a pensar
verdadeiramente no significado de ser Igreja, na atenção que damos às propostas
de Deus, na importância que os valores da Boa Nova têm nas nossas escolhas …
Quem
é Jesus Cristo para mim?
O
que é ser Igreja?
O
texto de hoje responde de uma forma clara: Jesus
é o Messias, o Filho de Deus.
Afirmar estas palavras é ser
Igreja, é
desejar caminhar com Jesus em comunidade fraternal com Deus e com os irmãos na
fé. Ser discípulo de Jesus é desejar estar em união com Ele na infinita
grandeza de Deus, contemplando o Seu mistério, entregando-nos confiadamente nas
Suas mãos, aceitar os Seus projectos e em comunidade louvando o Seu santo nome.
Ser comunidade é sermos pedras vivas da Igreja por amor a Jesus Cristo. Nenhuma
comunidade cristã sobrevive em inércia, a comunidade de Jesus não pode ficar a
olhar para o céu, numa contemplação nula. A Igreja do Messias, do Filho de
Deus, existe para testemunhar a Sua mensagem, para levar a todos os outros a
proposta de salvação e de vida eterna, que Cristo veio oferecer. Ser Igreja é
termos consciência de que cada um é missionário no seu dia-a-dia. Ser Igreja é
ser amor e serviço em nome de Cristo, numa relação contínua com Deus, através
da oração, nunca esquecendo que a oração origina e obriga à acção. Que o
possamos sempre afirmar que o Senhor Jesus, é o nosso
Caminho, a Verdade e a Vida! Amem
Glória Nogueira (Lolita)
– glorianogueira.lolita@sapo.pt
Figueira da Foz, Portugal -
Setembro de 2014
Estudos
bíblicos sem fronteiras teológicas