Qual o teu deus? (CC)

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Não é aos ateus que me dirijo, pois esses não crêem em Deus, mas é a ti, que és crente, de qualquer igreja ou religião... católico, protestante, judeu ou islâmico, que és pastor evangélico, ou padre católico, ou imame da mesquita ou rabi da sinagoga. Qual o teu deus? É o Deus supremo, o Pai de toda a humanidade ou é somente o deus da tua comunidade, do teu país, da tua cultura?

Jesus afirmou em Mateus 5:43/46 Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão havereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?

Desculpem por trazer à memória estes versículos tão incómodos, numa altura em que muitos os parecem ter esquecido, ou os consideraram uma boa passagem para os cultos mas não para a nossa vida real. Tenho lido mensagens ditas “evangélicas” até de grandes pregadores, ou pelo menos de pregadores com grande responsabilidade, que tanto admirei nos meus primeiros anos de crente, que são mais um apelo para se “amar somente o próximo” e também um forte apelo à guerra santa, à vingança e uma sugestão para se odiar o inimigo. A frase tão divulgada de que, “quem não é por nós, é contra nós”, parece indicar o fim da liberdade de pensamento e liberdade de expressão. Será que, como alguns suspeitam, Jesus já veio, a Igreja já foi arrebatada, mas o número dos verdadeiros crentes era tão pequeno que passou despercebido?    

Mas afinal, o que fazem todos os “publicanos” assim como os crentes que se parecem com eles?

As nossas televisões se encarregam de nos dar as notícias todos os dias: É a violência na Irlanda do Norte, entre protestantes e católicos, é a guerra na Palestina entre judeus e islâmicos, são os conflitos religiosos entre hindus e islâmicos na fronteira entre a Índia e o Paquistão, e são agora as cidades destruídas, os milhares de mortos e milhões de desalojados pelo ataque americano ao Afeganistão, as mulheres que tiveram de enterrar os seus bebés que morreram de fome nos seus braços por deixarem de ter leite para os amamentar devido ao frio e ao cansaço e são os que morreram de frio e de fome, alguns perante a visão dos armazéns da Cruz Vermelha bombardeados por engano (?!!!) por três vezes, onde arderam os alimentos que os poderiam salvar e que muita gente humilde em todo o mundo contribuiu para que pudessem chegar ao seu destino. Tudo isto, todos estes horrores acontecem perante a indiferença e muitas vezes até o apoio de muitos que se consideram cristãos e continuam a falar no amor de Deus, como se se tratasse do deus de Josué com o extermínio da cidade de Jericó (Josué 6:21) ou da cidade da Ai (Josué 8:1/29) que consideram uma vitória digna de ser comemorada. Mas também tenho ouvido a interpretação oposta, quando se afirma que tudo isso são actos de pessoas sem fé. O grande problema é que todos estes horrores têm um fundo religioso e é quase sempre em nome duma fé e duma cultura que se matam inocentes. É essa a razão da minha pergunta inicial. Qual o teu deus?

Se aquilo que fazes não é mais do que defender a tua fé e a tua cultura, vingar o teu país, então não estás a fazer nada de mais, tal como muitos outros e a exortação do Mestre está esquecida. Será que para haver paz neste mundo, teremos de pregar o ateísmo? Talvez assim, não digo que as guerras acabassem, mas tenho de dizer que seria um grande contributo para a paz mundial, pois nos nossos dias os ateus são muito mais pacíficos e pacificadores e até são mais honestos do que aqueles que afirmam ter fé, e têm-na realmente.

Nunca o mundo necessitou tanto da mensagem de Jesus. Não desse “evangelho” falsificado, politizado, comercializado que mais não visa que a exploração dos mais ingénuos, mas da genuína mensagem do Mestre, que agora é esquecida, escondida, rejeitada como alguma coisa antiquada que já não funciona e o mais trágico é que essa mensagem é rejeitada precisamente por aqueles que a deveriam anunciar.

Têm-me falado nos perigos para a Igreja dos nossos dias, nas perseguições, nos crentes assassinados e nos templos incendiados em vários países do oriente, mas isso sempre aconteceu e a Igreja tem sobrevivido. No entanto, agora apresenta-se um perigo muito maior, que é o do “evangelho da violência”, em que se mata para defender uma cultura que se diz cristã. Mas será que vale a pena defender isso, que já em nada é diferente do resto do mundo a não ser nos crimes que tem praticado e no seu poder destrutivo?

Se já não encontras o Deus supremo, o Pai de toda a humanidade na tua igreja, então procura-o lá fora. Como há vinte séculos a voz de Cristo foi abafada no Templo e nas sinagogas, porque afectava os privilégios e interesses económicos da classe dominante, mas Ele não se calou e pregou nos lugares públicos, nas praças e nas praias. Nos nossos dias teria utilizado os jornais, a rádio, a TV e a internet.

Se és um seguidor do Mestre da Galileia, então eleva a tua voz contra a deturpação do Seu Evangelho e prepara-te para a reacção dos vendilhões dos nossos dias. Talvez, mesmo a tua igreja ou o teu pastor receba ajuda económica em US$ e isso certamente que tem os seus “custos”.

Que continuem a matar por interesses comerciais, por motivos imperialistas, por vingança ou simplesmente para testar novas armas, isso já muitos ditadores e muitos impérios o fizeram, mas se for em nome do Deus Supremo, tal crime nunca poderá ficar impune.

Camilo

Marinha Grande, Portugal

2002/04/22

 

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