Declínio do
Protestantismo (CC)
(Deverá “clicar” nas referências
bíblicas, para ter acesso aos textos)
Introdução:
Tenho à minha frente o número de Janeiro da revista
“Portugal Evangélico”, com interessantes artigos sobre Calvino e outros importantes
personagens da história do Protestantismo. Nunca me interessei muito pela
história, pelo que toda a minha atenção se voltou para o artigo do Pastor Manuel Pedro Cardoso,
que convido a ler em primeiro lugar, bastando para isso “clicar” em Igrejas sem
futuro (MC)
Trata-se dum artigo pequeno, mas de grande valor, pois
encarou com coragem e realismo o evidente declínio, ou pelo menos a falta de
crescimento, das igrejas do protestantismo histórico, em vez de tentar encobrir
os pontos fracos da sua própria Igreja com palavras de retórica.
É sempre mais fácil falar sobre o passado, com certo
distanciamento e ideias já estabilizadas e aceites pela grande maioria, do que
falar do presente. Mas em algumas mentalidades, talvez possa surgir a ideia de
que, se a igreja do presente parece ter pouco futuro, então basta aplicar as
lições do passado para resolver os problemas do presente. Certamente que há
lições a tirar do passado, mas será que o problema é assim tão simples?!
O presente artigo, é fruto das importantes questões
levantadas pelo nosso antigo Professor de Teologia, Pastor Manuel Pedro
Cardoso, nomeadamente a necessidade de revitalizar a Igreja sem ceder a métodos
que não têm a aprovação do Senhor da Igreja, nomeadamente o “Evangelho de
facilidades, de sucesso e prosperidade”. Afinal, penso que a tentação de
empregar outros meios para servir a Deus, não é só problema dos nossos dias,
pois há registos de métodos fracassados até no Velho Testamento.
Para base da nossa reflexão, escolhi a passagem em 1º Samuel 4 que
transcrevo a seguir, da tradução da “Boa Nova”:
1
Quando Samuel falava, era para todo o povo de Israel.
Certa altura, Israel estava em guerra com os filisteus e os
israelitas acamparam junto de Eben-Ezer, enquanto os
filisteus se encontravam em Afeq. 2 Os filisteus atacaram duramente e Israel foi vencido,
tendo morrido no campo de batalha uns quatro mil homens. 3 Quando
os sobreviventes regressaram ao acampamento, os anciãos de Israel disseram:
“Por que é que o Senhor permitiu que os filisteus nos vencessem? Vamos buscar a
arca da aliança do Senhor a Silo, para que ela nos acompanhe e nos salve dos
nossos inimigos.”
4
Enviaram, pois, mensageiros a Silo, que trouxeram a arca da
aliança do Senhor todo-poderoso, que tem o seu trono sobre os querubins. E os dois
filhos de Eli, Ofni e Fineias,
acompanhavam a arca da aliança.
5 Quando a arca chegou ao acampamento, os israelitas
irromperam em enorme gritaria, de tal modo que a terra estremeceu. 6 Os
filisteus ouviram aquela gritaria e disseram: “Que gritos são aqueles?”
Compreenderam então que era por causa da arca da aliança que tinha chegado ao
acampamento dos israelitas. 7 Ficaram
cheios de medo e disseram: “Estamos perdidos! Um deus entrou no seu
acampamento! Nada disto nos aconteceu anteriormente! 8 Estamos
perdidos! Quem nos livrará de deuses tão poderosos? São estes os deuses que
esmagaram os egípcios com toda a espécie de castigos, no deserto. 9 Filisteus,
sejam valentes! Combatam com coragem, para não se tomarem escravos dos hebreus,
como eles já foram vossos escravos!”
10
Os filisteus combateram corajosamente e venceram os israelitas,
que acabaram por fugir para as suas tendas. A derrota foi muito dura: trinta
mil soldados israelitas caíram mortos. 11 A arca da aliança do Senhor foi apanhada e os dois filhos
de Eli, Ofni e Fineias,
morreram.
12 Um homem da tribo de Benjamim correu, do campo de batalha
para Silo e chegou lá no mesmo dia. Em sinal de luto, “rasgou as suas vestes e
pôs terra por rima da cabeça. 13 Eli estava sentado
junto da estrada, em expectativa e cheio de ansiedade por causa da arca da
aliança do Senhor. O homem espalhou a notícia pela cidade e toda a gente
começou a gritar.
14
Eli ouviu o barulho e perguntou: “Que significa todo este
barulho?” Então o homem correu para Eli a anunciar-lhe as noticias. 15 Eli
estava com noventa e oito anos; levantou os olhos, mas já não conseguia ver. 16 Disse-lhe
o homem: “Sou eu que venho da frente da batalha. Hoje mesmo saí de lá e vim á
correr até aqui.” Eli perguntou-lhe: “Que aconteceu, meu filho?”
17
O mensageiro respondeu-lhe: “Israel recuou diante dos filisteus.
Foi uma enorme derrota para o nosso povo. Os teus dois filhos, Ofni e Fineias, também morreram,
e os inimigos levaram a arca da aliança do Senhor.
18
Quando Eli, que estava junto à porta, ouviu o que se tinha
passado com a arca da aliança, caiu para trás e, como estava velho e pesado,
partiu o pescoço e morreu. Eli tinha dirigido Israel durante quarenta anos.
19
A nora de Eli, mulher de Fineias,
estava grávida e prestes a dar à luz. Quando ouviu dizer que a arca da aliança
do Senhor tinha sido levada e que o sogro e o marido tinham morrido, sofreu um
choque tão grande que lhe vieram de repente as dores de parto e deu à luz. 20 Ela estava quase a morrer e as mulheres que a ajudavam no
parto disseram-lhe: “Coragem! Nasceu-te um filho!” Mas ela não lhes respondeu,
nem lhes deu atenção. 21 Deu
ao seu filho o nome de Icabod, querendo significar que, “a glória de Deus
abandonou Israel.” Referia-se à perda da arca da aliança e à morte do sogro e
do marido. 22
Mas ela disse que a glória de Deus tinha abandonado Israel,
porque a arca da aliança tinha sido levada.
Escolhi esta passagem, que em princípio parece que
pouco nos tem a dizer, pois trata-se duma das passagens mais tristes da
história de Israel, em que uma palavra se nos destaca, “Icabod” que
significa, a glória de Deus nos abandonou.
Mas foi precisamente por isso, pois também nós estamos
numa fase da história em que por vezes parece que a Igreja chegou ao fim e que
já não haverá mais “espaço” para a Igreja na sociedade do futuro, em que esta
será olhada (e isso já está a acontecer), como simples curiosidade do passado,
que talvez seja de preservar por motivos culturais, mas que já nada tem a dizer
de importante ao homem culto dos nossos dias.
Neste início de século e de milénio, vários crentes
têm meditado no futuro da teologia, quando se debatem questões que não é
habitual serem abordadas nas igrejas. É verdade que estamos perante uma
passagem veterotestamentária onde nem tudo pode ser considerado normativo para
o cristão, mas penso que algumas importantes lições
para os nossos dias, podemos tirar desta passagem.
Samuel foi educado em Siló,
onde nessa época estava a Arca do Senhor e os principais documentos da história
de Israel. É natural que tivesse adquirido uma sólida cultura, num contexto
cultural em que não era possível distinguir entre cultura teológica ou cultura
histórica ou outros ramos do conhecimento como acontece nos nossos dias. Ele
teve portanto os conhecimentos e a sensibilidade necessária para registar os
acontecimentos da sua época que fizeram a história de Israel.
Não tenho dúvidas de que este capítulo 4 terá sido
escrito por Samuel, que possivelmente terá assistido pessoalmente à maior parte
destes acontecimentos. Segundo o historiador Josefo, Samuel nessa altura era um
menino de cerca de 12 anos de idade.
Supõe-se que estes factos históricos tenham ocorrido
cerca do ano 1070 AC na Ásia Menor, mais concretamente no Israel dos nossos
dias, a sul da actual Tel Aviv,
onde nessa época se localizava a fronteira entre Israel e a Filisteia.
Estava-se já no fim da época dos Juízes, época de grande arrefecimento
espiritual, a começar pelos sacerdotes que serviam no Tabernáculo.
Personagens desta passagem
Em primeiro lugar, temos o sacerdote Eli. Como o
próprio nome significa, era homem grande e forte, mas nessa época já tinha 98
anos e estava velho e pesado. Eli fora juiz em Israel durante 40 anos, homem
piedoso e muito dedicado ao seu ministério, ao Tabernáculo e à Arca do Senhor.
Tinha no entanto uma grande falha, por não ter sabido educar os seus filhos.
Temos depois os seus dois filhos: Ofni
e Fineias. Penso que a deficiência da sua educação
deve ter começado logo na infância, pois eram os filhos do grande juiz Eli e
cedo se devem ter habituado aos privilégios e a uma vida sem dificuldades.
Nessa época a que se refere este capítulo 4, já eram sacerdotes que em
princípio deveriam suceder ao seu pai. No entanto, a sua vida espiritual tinha
grandes falhas:
Segundo 1º Samuel 2:12/17
os filhos de Eli mandavam os seus criados retirar, com um grande garfo de três
pontas, os melhores pedaços da carne oferecida em sacrifício, e se o judeu que
oferecia o sacrifício se recusasse a entregar, eles a tiravam à força.
Segundo 1º Samuel 2:22/25,
eles tinham relações sexuais com as mulheres que trabalhavam no Tabernáculo e
Eli não teve autoridade ou não teve coragem suficiente para os castigar e
destituir das funções que exerciam.
Temos também a viúva de Fineias,
mas só a descrição da sua morte. Ao saber que seu sogro e seu marido estavam
mortos, teve um parto prematuro e faleceu clamando: “A glória do Senhor nos
abandonou”.
Mas, qual a relação entre todos estes personagens?....
O principal personagem foi Eli. Os seus filhos deviam
o cargo que exerciam ao facto de serem filhos de Eli e ao prestígio de seu pai.
A atitude da viúva de Fineias
tem de ser interpretada nesse contexto cultural em que ela passaria da condição
duma esposa dum dos principais sacerdotes, para a posição de viúva desamparada,
destinada a viver de esmolas, sem meios de subsistência nem familiares que a
ajudassem.
Vamos considerar como assunto central do texto em
estudo, o facto histórico da derrota de Israel frente aos filisteus com a
consequente perda da Arca da Aliança, e o facto teológico do afastamento do
Senhor e da falta de protecção do Deus de Israel.
Aproximação crítico-teológica
Certamente que os irmãos terão já pensado em várias
perguntas relacionadas com esta passagem, como por exemplo:
Porque não funcionou a presença da Arca da Aliança?
Será que foi Deus que capitulou diante do deus dos
filisteus?
Afinal... o que eles fizeram, ao trazer a Arca, não
foi um acto de fé?
Qual a diferença entre fé e superstição?
Estas, são somente algumas
das perguntas que esta passagem nos pode suscitar.
O texto não nos dá as respostas, como gostaríamos,
pois esta é uma passagem histórica, que se limita a registar os acontecimentos
(segundo a visão e interpretação dos israelitas), acontecimentos que têm de ser
reinterpretados à luz da mensagem de Jesus.
Mas, o “centro de gravidade” da nossa reflexão está no
versículo 3, quando Israel perde os primeiros quatro mil homens e se vê perante
uma importante decisão. É nesse ambiente de grande emoção, incerteza e
violência, talvez perante os quatro mil homens mortos e certamente ainda maior
número de viúvas e órfãos a chorar os seus mortos, numa época em que a
poligamia era vista com naturalidade, que se coloca a importante pergunta que
também nos interessa:
Como mudar a situação? Como fazer com que Deus, que já
dera tantas provas do seu poder e da sua fidelidade a Israel, viesse mais uma
vez em seu auxílio?
Não acredito, que não tivessem aparecido alguns
profetas a exortar Israel ao arrependimento dos seus pecados e das suas graves
transgressões, mas todos estes foram certamente silenciados para não afectar a
moral dos combatentes, e devem ter sido olhados como traidores, como aconteceu
noutras passagens veterotestamentárias. Será que nos nossos dias não acontece
coisa semelhante nas igrejas?
Os anciãos de Israel reúnem-se para meditar na
importante questão: “Por que é que o Senhor
permitiu que os filisteus nos vencessem?... (vr. 3)
Nos momentos mais importantes, a Igreja dos nossos
dias, também se reúne para meditar nos seus problemas, em especial no
afastamento do Senhor. Isso é salutar, mas infelizmente, nem sempre é suficiente,
pois não nos dá a garantia de se ter encontrado a resposta correcta.
Samuel não nos descreve tudo que se passou, todos os
argumentos apresentados nessa altura, mas somente a decisão final: ….Vamos buscar a arca da aliança do Senhor a Silo, para que
ela nos acompanhe e nos salve dos nossos inimigos.” (vr. 3)
É verdade que não estamos perante uma passagem
didáctica, e não é correcto firmar doutrina em simples descrições históricas e
ainda para mais do Velho Testamento, mas alguns pormenores desta descrição
podem pelo menos servir para nossa meditação.
Penso que, em vez do necessário arrependimento de
Israel e em particular dos sacerdotes do Tabernáculo, eles optaram por uma
engenhosa “solução teológica”. Podemos imaginar o que terão dito:
Onde é que Deus se manifesta? O que nos ensina a
teologia? Não é na Arca do Concerto?
Então, tragam a Arca do Concerto do Senhor para o meio
do campo de batalha, e Ele não terá outra alternativa senão a defesa da sua
Arca e assim terá de nos defender, também a nós. Tragam a Arca, que eu quero
ver como Deus se vai “safar” desta?
Todos nós temos a noção do que é a fé e do que é a
superstição. No entanto, há casos em que não é fácil marcar a diferença entre
fé e superstição. Mas, talvez se possa definir superstição como a tentativa de
controlar o poder de qualquer deus ou deusa, ou de alguma forma pressionar esse
deus a actuar em nosso favor, mesmo que seja o Deus supremo.
Vejo nesta passagem, já a gestação do pensamento que
muito mais tarde daria origem à teoria da eficácia dos sacramentos, por estes
actuarem “ex opere operato”
conforme foi proclamado pelo Concílio de Trento (1545-63). Mas também no
protestantismo, quando os nossos rituais ou gestos litúrgicos deixam de ser
atitudes conscientes, fruto da nossa espiritualidade e dependência do Senhor,
para passarem a ser meios de se obter espiritualidade ou meios de desencadear a
acção do Senhor. Nestes casos, estaremos perante a superstição e não a fé, que
é sempre uma dádiva do Senhor…
Bem sei as implicações que esta afirmação pode ter na
nossa teologia, pois talvez muito do que se passa nas nossas igrejas,
(protestantes ou evangélicas), seja mais superstição do que fé. Por exemplo, a
própria oração, quando fazemos um pedido sem a necessária submissão à divina
vontade e dizemos: Temos de orar muito para que Deus nos faça isto ou aquilo,
não estaremos a utilizar a oração como uma forma de pressão para a actuação
divina? Também o batismo, quando deixa de ser o testemunho consciente duma
realidade espiritual para se tornar um meio de remissão de pecados, como por
vezes tem sido ensinado, ou um sacramento que irá produzir os seus frutos no
futuro (batismo infantil)? Ou a Ceia do Senhor, quando deixa de ser simples
memorial, fruto da realidade espiritual e é utilizada como meio de santificação,
ou como meio de se obter a ressurreição, como afirma a terceira estrofe do hino
114 do hinário “Celebrai com alegria” que afirma: Se bebermos deste cálice e
comermos deste pão, o Senhor nos há-de dar o dom da ressurreição… tantas
vezes entoado nos cultos da Ceia do Senhor, com muito mais atenção à música do
que às doutrinas da Reforma e àquilo que dizemos ao Senhor? Afinal, qual a
diferença entre jejum e greve da fome?
Será que, assim como no passado, a astronomia se
confundia com a astrologia e hoje já ninguém com certa cultura poderá confundir
a astronomia, ciência séria e respeitável, com a superstição da astrologia,
também haverá naquilo que nos nossos dias chamamos de teologia, duas atitudes
bem diferentes, uma teologia séria e uma superstição que continua a ter o mesmo
nome?
Será que a imagem de Deus, que apresentamos nas nossas
igrejas ainda é a do Deus supremo? Ou não estaremos já, influenciados pela
cosmovisão da modernidade, a apresentar a imagem dum deus ao serviço do Homem,
centro da sua própria cosmovisão, um deus para resolver os nossos problemas, um
deus que pode ser influenciado ou de certa maneira pressionado pela nossa
“teologia”?
Mas o versículo 4 descreve a entrada da Arca no
acampamento dos Israelitas. Imagino que foi num dia de sol radioso (com o clima
que eles têm, quase todos os dias são assim), em que a Arca do Senhor foi
transportada em solene procissão e ao lado da Arca, em posição de destaque, lá
estavam as imponentes figuras de Ofni e Fineias com as suas vestes sacerdotais, símbolos de
devoção, de pureza e de santidade, bem ao lado da Arca da Aliança.
Os versículos seguintes descrevem o que se passou
nesse momento.
Não há dúvidas de que foi um grande sucesso. O
exército de Israel recuperou a sua confiança e entusiasmo. Certamente que
muitos disseram: “Graças a Deus por Ofni e Fineias, dignos sucessores do grande sacerdote Eli.”
Os próprios filisteus ficaram aterrorizados ao saber
que a Arca do Senhor estava no acampamento dos Israelitas. Parece que tudo
estava a correr bem para Israel, mas... há Um que não pode ser iludido, pois vê
o íntimo de cada ser humano.
Quais seriam os pensamentos de Ofni
e Fineias nessa ocasião? A Bíblia não nos diz, mas
talvez pensassem: Foi boa ideia trazer a Arca. A nossa teologia está tão
desenvolvida, que até já conseguimos controlar o poder de Deus. Chegou a nossa
hora, pois assim, Deus será obrigado a agir, e nós vamos entrar para a história
como uns novos “Moisés” na defesa do nosso povo.
Já sabemos o que aconteceu a seguir.......
A derrota de Israel, a perda da Arca da Aliança e a morte dos trinta mil
homens.
Conclusão
Mas que lições podemos tirar para os nossos dias?
1) Deus é o Senhor, e não pode ser manipulado nem de
forma alguma pressionado, nem pela mais elaborada liturgia, nem pelo culto mais
barulhento.
2) Autoridade eclesiástica, nem sempre corresponde a
uma autoridade espiritual. Os filhos de Eli, tinham sido devidamente ordenados
como sacerdotes, tinham toda a autoridade eclesiástica, mas o Senhor já os
tinha rejeitado. Também nos nossos dias isso pode acontecer e ficou bem patente
com a visita dum antigo Papa à Índia (suponho que foi Paulo VI), quando teve de
ser protegido pela polícia indiana dos manifestantes hindus contra a sua
visita, pois queiram que o Papa pedisse desculpas pelos crimes cometidos pelos
missionários do passado, muitos deles ligados à história de Portugal no
Oriente. Mas nesse mesmo país, eu vi que as seguidoras de Madre Teresa de
Calcutá circulam livremente a pé, ou de bicicleta, em ambientes de
fundamentalistas hindus ou islâmicos, e por todos são respeitadas. O que têm
elas que o Papa não tem?
3) A acção, o entusiasmo, e o trabalho dos crentes,
embora aspectos positivos, não podem colmatar o afastamento do Senhor.
Ofni e Fineias trabalharam para
o Senhor. Foram eles que trouxeram a Arca do Concerto, com toda a pompa e
dignidade. Com as suas vestes sacerdotais, pareciam os sacerdotes perfeitos e
estavam em grande actividade. Eles eram aceites e aclamados por todo o povo e
pelo exército de Israel. Todo o povo tinha muita fé, mas… Fé em quê? Na Arca do
Concerto? Fé em quem?
Muitas vezes o “crescimento” das igrejas dos nossos
dias, não passa do resultado da “propaganda religiosa” ou da “teologia
demagógica”. Também nos nossos dias, de nada serve trabalhar para a Igreja, se
não tivermos uma vida exemplar e fidelidade ao Evangelho, pois até a
religiosidade bem sucedida, nem sempre significa a aprovação do Senhor.
Não há dúvidas de que Ofni e
Fineias foram bem sucedidos sob o aspecto
“religioso”. Eles trouxeram novo ânimo ao exército de Israel, e até os
filisteus ficaram aterrorizados ao verem Ofni e Fineias ao lado da Arca do Concerto.
No acampamento de Israel havia grande alegria e fervor
religioso, mas….. Deus já os tinha rejeitado, e
estavam prestes a perder os 30.000 homens.
Isto até faz lembrar o que se passa nos nossos dias.
Todos nós sabemos de igrejas “poderosas” com grande número de crentes, com um
grande fervor religioso, que se desfazem dum dia para o outro......
Muitas vezes por motivos que nos fazem lembrar Ofni e
Fineias.
4) Aquilo a que chamamos de “religiosidade”, nem
sempre reflecte a realidade espiritual. Por vezes não passa de encenação, de
uma nova forma de liturgia ou ritualismo que muitas vezes consegue enganar até
os próprios crentes, mas não pode iludir o Senhor da Igreja.
De nada serve um sermão empolgante e arrebatador, com
grandes manifestações de “poder”, se nada disso
corresponder a uma verdadeira situação espiritual.
Deus não está tão interessado nos nossos dotes de
oratória, na nossa alegria e no nosso louvor, mas em primeiro lugar está
interessado na nossa fidelidade.
Deus não se importa tanto com a nossa santidade
litúrgica, mas com a santidade espiritual, ou santidade contabilística dos
crentes e das igrejas, nem está interessado na imponência das nossas igrejas se
ao lado das mesmas ou entre os próprios crentes houver crianças com fome.
5) Afinal, Deus acabou por responder ao seu povo,
muito mais tarde, e a Arca voltou para Israel. Nesses momentos tristes e
difíceis para Israel, o Senhor já não olhava para os seus sacerdotes, nem para
os anciãos, mas para um menino chamado Samuel, que a todos passava
despercebido.
Deste facto, podemos concluir, que a resposta do
Senhor virá, quando, como, e pelos meios que o Senhor entender. Por vezes virá
na altura menos oportuna e muitas vezes utilizando pessoas não capacitadas pela
religião, nem aceites pela hierarquia religiosa. Quando as igrejas estão em
crise, temos a tendência de procurar a solução através da sua organização, sua
liturgia, seus pastores, seus presbíteros e estudantes de teologia, mas a
resposta poderá vir através dum jovem aluno de escola dominical.
6) Assistimos há poucos anos ao caso insólito de
igrejas americanas que apoiaram o seu país no ataque ao Iraque.
De acordo com Mateus 5:9 Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão
chamados filhos de Deus, penso que o Papa católico dessa época,
João Paulo II, foi mais “filho de Deus”
do que esses igrejas evangélicas, que já perderam a sua alma.
Mas também assistimos ao caso de igrejas evangélicas
portuguesas e brasileiras que optaram por ignorar o assunto. Preferiram não ser
frias nem quentes... Onde foi que eu já li isto?! Parece que a “Videira do
Senhor” (João 15) tem muitas varas a necessitar de urgente remoção.
7) Há uma palavra que se destaca na parte final deste
capítulo 4. A palavra Icabod, que significa Foi-se a glória de Israel. Demasiado
tarde. Já não há solução.
Geralmente o grande problema das igrejas é a falta
duma reacção atempada. Quando surgem os primeiros sintomas de arrefecimento
como os que vemos neste início do século XXI.
Quando ainda é tempo de buscar ao Senhor, há a
tendência de se procurar uma solução técnica, ou uma engenhosa solução
“teológica”, fruto da mente humana, de encobrir as fraquezas com frases feitas,
de dar uma aparência de que tudo está bem, de adiar indefinidamente as grandes
mudanças, de encobrir o mal com palavras de retórica... Até que pode surgir o
dia em que perguntamos: Mas afinal, porque é que a assistência aos cultos
diminui, as escolas dominicais encerraram, assim como os Seminários e os
problemas económicos se agravam... Porque é que já nada disto funciona?
Quando esse dia chegar, talvez a resposta seja Icabod.
Camilo
- Marinha Grande
Março de 2010
BIBLIOGRAFIA:
Bíblia na tradução “A Boa Nova” da Sociedade Bíblica
de Portugal.
Revista “Portugal Evangélico” nº 933 de Janeiro de 2010.
Livro “ICABODE – da mente de Cristo à
Consciência Moderna”, de Ruben Amorese, Presbítero da
Igreja Presbiteriana do Planalto - Brasília
Vários artigos com o mesmo título ICABODE,
dos Pastores Ricardo Gondim, Caio Fábio, Carlos Siqueira e outros.
NOTA: Toda a colaboração sobre o assunto, enviada para
eventual publicação, deverá ser dirigida a ---
Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas
COMENTÁRIOS RECEBIDOS
José Carlos de Vasconcelos, Guará I - Brasília - DF, Brasil
Diácono batista, Professor de Discipulado, preparando
vidas para o batismo, amante da Palavra de Deus. 48 anos.
Quando se fala de declínio da igreja, isto
se torna um assunto muito triste. Vejo líderes, que não sabem liderar, mas
também vejo membros inativos e que gostam de ficar no banco, somente recebendo,
vendo a vida passar.
Hoje, muitos líderes, não gostam de
prestar contas, e é aí que vejo um problema muito sério. Não temos LÍDERES.
Pensemos: Por que será que a Igreja
Católica permanece até hoje? Se olharmos uma de suas igrejinhas em uma cidade
pequena do Brasil, numa cidade que a gente pensa nem existir, verificaremos que
ela obedece a um líder: o Papa. (Mesmo não concordando com tudo que ele diz).
A igreja evangélica tem medo de
líderes, e foge deles como o diabo foge da cruz. Por isso que no Brasil,
principalmente em cidades grandes, tem uma igreja independente em cada esquina.
A pessoa rebelou-se e fundou uma igreja, e assim levou várias membros que
passam a segui-lo (Se seguissem a Cristo não iriam). Nós evangélicos, temos medo de prestar contas.
O protestantismo ficou como que uma
igreja fechada, morta, não se abriu para o mundo. Não se tornou uma igreja
“fora dos portões”. Esqueceu de buscar as almas, e aceita as coisas como são.
Uma ora, esqueceremos as nossas diferenças, e pregaremos o evangelho com poder,
e nesta hora Jesus Cristo voltará.
Estão faltando “Pedros”,
“Paulos”… Verdadeiros líderes na Igreja. Se não
prestarmos contas aqui, lá teremos que prestar.