Predestinação 3 (CC)

(Deverá “clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)

 

 

Convido o prezado visitante desta página a ler primeiro, os artigos com o mesmo título Predestinação 1-(NG), do Pastor Nilson De Gogoi, duma Assembleia de Deus de São Paulo e Predestinação 2-(MC) do Pastor Manuel Pedro Cardoso, da Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal, ambos dignos colaboradores desta nossa página na internet. Foram eles que, com os seus artigos, despertaram a minha atenção para este assunto.

Assim, o presente artigo pode-se considerar de certa maneira, como na continuidade da reflexão que o Pastor Nilson iniciou, o Pastor Cardoso, meu antigo Professor no Seminário Evangélico de Teologia desenvolveu, e eu procuro dar continuidade com novas informações.

 

1 – Introdução

 

Todas as grandes religiões milenárias têm a noção dum Deus Supremo. Mesmo as religiões politeístas crêem no Deus supremo, acima de todos os outros deuses. Esse Deus Supremo, é sempre eterno, transcendente, criador, e não está limitado ao nosso tempo e espaço.

Na página hindu “Templo da Sabedoria” http://www.jnanamandiram.org.br/default.cfm, no artigo dessa página http://www.jnanamandiram.org.br/default.cfm?pg=hinduismo está a seguinte afirmação: «Os hinduístas são freqüentemente acusados de politeístas. Eles parecem adorar muitos deuses. Mas não é assim. Não são muitos deuses. Eles adoram muitas imagens do mesmo Deus. Para facilitar a mente e adquirir maior concentração num particu­lar aspecto de Deus, os hindus usam uma particular imagem. Ganapati ou Ganesh é adorado no começo de toda oração e de cerimônias a fim de remover obstáculos da mente. Os hinduístas, nesses momentos, concentram seu coração e mente no aspecto de Deus que remove o obstáculo, e chamam esse aspecto de Ganapati.»

Assim, segundo o pensamento deste teólogo hindu, julgo que as várias imagens seriam como que ilustrações, símbolos, ou metáforas, para se compreender determinado atributo de Deus, que não é acessível ao pensamento humano. Aliás, a Bíblia também apresenta várias metáforas utilizando a semelhança entre dois objectos ou factos, para explicar um deles, utilizando outro que é bem conhecido. Podemos citar alguns exemplos, como a “videira” João 15:1, “porta” João 10:9, “leão” Génesis 49:9, “sol e escudo” Salmo 84:11. Mas há uma diferença, pois estes objectos das metáforas bíblicas, nunca foram representados por desenho ou escultura, salvo o caso da serpente de bronze que Moisés esculpiu em Números 21:8  

Na verdade, os católicos dizem que os hinduístas têm muitos de deuses, mas eles próprios, no catolicismo popular (que continua a ser uma realidade), têm uma grande quantidade de santos, que de certa maneira, correspondem aos deuses hindus.

Os evangélicos acusam os católicos de terem muitos santos, mas eles próprios têm os seus ídolos, como o dinheiro, a tradição, o pastor com a sua quase infalibilidade etc, quando não tentam tornear a sua própria teologia, “criando” os anjos especializados para as várias tarefas, que também de certa maneira, acabam por corresponder aos vários deuses dos hindus e aos santos do catolicismo.

Se conseguirmos ultrapassar as simples palavras, para investigar o que elas significam para nós, se conseguirmos “remover esses obstáculos da mente”, como afirma a página hindu do “Templo da Sabedoria”, talvez as diferenças entre as grandes religiões, não sejam assim tão grandes.

Mas, temos de ser realistas, e bem sei que entre o pensamento da teologia e pensamento do homem vulgar dos nossos dias, vai por vezes uma grande diferença. A grande maioria dos hindus dos nossos dias só se lembra desses deuses, quando chega o dia do feriado dessa divindade. Com a maior parte do povo católico em Portugal, a situação não é muito diferente, pois o mais importante são os feriados dos dias santos e as festas dos santos populares. Nesses dias, quando há um feriado católico, também todos os protestantes ou evangélicos, mesmo os mais fanáticos, se tornam muito “ecuménicos” e também se associam ao feriado religioso. Na prática, as diferenças não são tão grandes como parecem.

Nesta introdução, iremos apresentar algumas passagens que nos mostram o que afirmam essas grandes religiões milenares, sobre o futuro, e o eventual conhecimento divino sobre o futuro, ou a sua possibilidade, ou vontade de nele interferir.

Colocamos, por ordem cronológica, a começar pelas grandes religiões mais antigas, o hinduísmo, o judaísmo e o islamismo, deixando para o fim a mensagem de Cristo no Novo Testamento (também o Alcorão fala em Cristo), a que daremos um maior desenvolvimento.

 

1.1 - Hinduísmo

 

No Bhagavad Guitá, o principal livro do hinduísmo, que está disponível nesta nossa página da internet na secção de Outras religiões, não encontrei referências à predestinação. Também não há referências à imortalidade da alma, tal como é concebida no cristianismo e islamismo, mas sim à reincarnação, que é um outro conceito de imortalidade.

Podemos ler em Bhagavad 2:12/14

12 - Não é verdade que eu, tu e estes príncipes, em tempos remotos não existíamos, e nem é menos verdade também que, no futuro longínquo, não havemos de existir.

13 - Assim como o ser humano passa pelos estádios de infância, adolescência e velhice, assim também passa ele através de mudanças dos corpos; e este fenómeno não deixa perturbado o homem forte.

14 - As sensações de calor e frio e as impressões de prazer e dor provêm das relações dos nossos órgãos dos sentidos com objectos exteriores; são fenómenos efémeros, transi­tórios; compenetra-te disso, ó Arjuna!

Numa outra tradução mais literal, podemos ler os mesmos versículos:

12 - Nunca houve um tempo em que todos estes monarcas, você, ou eu não tivéssemos existido, e nem deixaremos de existir no futuro.

13 - Da mesma forma que a alma adquire um corpo na infância, um corpo na juventude, e um corpo na velhice, durante a sua vida, similarmente, a alma adquire outro corpo após a morte. Isso não deveria iludir um sábio.

14 - Os contactos dos sentidos com os objectos dos sentidos causam os sentimentos de calor e frio, dor e prazer. Eles são transitórios e impermanentes. Portanto, deve-se carregá-los corajosamente.

No hinduísmo há a noção dum Deus supremo e outros deuses menores, ou representações do mesmo Deus, segundo vemos na página hindu que mencionei.

Shri Crisna, que é considerado como incarnação de Deus pelos hindus, revelou o Deus supremo que não é acessível ao ser humano, mas é protector dos que o buscam, e até mesmo dos que não o conhecem, como vemos em Bhagavad 9:22/23

22 - Mas aos homens que Me adoram, com o amor exclusivo, fazendo de Mim o único objecto do seu pensamento, Eu os provejo em tudo.

23 - E, ó Arjuna, mesmo aqueles que, com a fé sincera e ardente, adoram divindades, tomo-os por adoradores Meus, mas mediatos.

Esta posição do hinduísmo faz lembrar certos argumentos do catolicismo a favor do culto dos santos, como forma de chegar a Deus.

Não encontrei no Bhagavad Guitá qualquer referência à predestinação, mas em Bhagavad 11:31/32 encontramos uma outra faceta da descrição divina.

31 - Revelai-me quem sois Vós, que revestis essa forma tão gigantesca e cruel! Ó Deus Supremo, curvo-me reverente perante Vós. Dai-me a Vossa graça; desejo conhe­cer-Vos! Donde viestes? Incompreensível é para mim o plano das Vossas obras!

32 - SHRI CRISNA: — Sou o Tempo, o destruidor do mundo; eis-me aqui para exterminar todos os povos. Exceptuando tu, ó Arjuna, ambos esses exércitos ali­nhados acabarão para sempre.

Claro que isto parece uma contradição. Por um lado, as almas são eternas, mas os exércitos acabarão para sempre. Será que esses militares serão diferentes numa seguinte reencarnação? Julgo que seja esta a interpretação.

Esta passagem é importante para o tema que decidimos investigar, pois Shri Crisna que o hinduísmo considera como a revelação de Deus, mostra que Deus tem conhecimento do futuro que está sob seu controle.   

 

1.2 - Judaísmo

 

Todos os estudos que li, sobre a predestinação, procuram basear-se em toda a Bíblia, o que torna o assunto confuso, pois no Velho Testamento estamos perante o deus dos judeus, que não tem o mesmo comportamento nem as mesmas características do Deus Pai de todos os povos, que Jesus revelou. Geralmente, todo o crente evangélico é treinado para afirmar que o deus de Moisés é o mesmo Deus que Cristo nos ensinou a tratar por Pai, mas a conclusão a que cheguei, depois dum estudo imparcial, leva-me a divergir da tradicional teologia evangélica, pois o deus de Moisés tem um comportamento e atitudes bem diferentes do Deus Pai que Jesus nos revelou.

Para a salvação veterotestamentária, era necessário, em primeiro lugar, fazer parte do “Povo Escolhido” e ser da descendência de Abraão, pois o seu deus lutava sempre a seu favor, contra todos os outros povos. Aliás, essa era a atitude de todos os outros deuses, das várias cidades e dos vários povos. Um caso típico do que afirmamos, é o que se passou em Génesis 12:10/20, em que Abraão combina com sua mulher para enganarem o Faraó. Isto não foi nenhum deslize de jovens inexperientes, mas um acto premeditado de pessoas adultas, que foram por sua iniciativa para o Egipto. O contexto dá a entender que Sara teve relações sexuais com o Faraó, para obter bens materiais, (que podemos chamar de prostituição). Sara tornou-se concubina do Faraó para obter “ovelhas, bois e jumentos, servos e servas, jumentas e camelos” (vr.16) e o deus de Abraão, em vez de o castigar, decide castigar o Faraó, que foi a vítima. Como resultado dessa atitude do seu deus, Abraão volta a tentar repetir a mesma falcatrua em Génesis 20.

Segundo o Velho Testamento, vemos que Deus não só conhece com programa o futuro Jeremias 29:11, Jeremias 31:17, Ezequiel 12:27, Ezequiel 37:21/22, Daniel 2:45

É Deus que, não só conhece o futuro, como ele próprio programa o que irá acontecer ao indivíduo e às nações, como vemos em Génesis 25:19/23, Malaquias 1:2/3. Até Paulo se refere a isto, no Novo Testamento, em Romanos 9:10/11ss.

Penso que no Velho Testamento, temos fundamento para a dupla predestinação, em que alguns estão predestinados para a salvação e outros já nascem predestinados para a condenação, pois Deus por vezes intervém para que alguns não se salvem, como vemos em Êxodo 7:3. O deus dos judeus lutava a favor de Israel, contra todos os outros povos Isaías 14:24/27 (...esta é a mão que está estendida sobre todas as nações. vr.26) Esse deus dos judeus, até os incitava a cometer os maiores crimes de guerra, não só em Jericó Josué 6 e em Ai Josué 8:21/30, como em Números 31:7/18.

Estes foram alguns dos motivos que me levaram a meditar na informação bíblica veterotestamentária em separado da informação que temos nos evangelhos, pois nem tudo que está no Velho Testamento é bom e nem tudo pode ser aceite por quem conhece a mensagem de Cristo. Mateus 5:21/48

Também encontramos no Velho Testamento, fundamento para o racismo, para a forte discriminação da mulher, que começava logo que nascia Levítico 12, assim como a pena de morte para muitos e variados casos e a escravatura também foi regulamentada por Moisés, inspirado pelo seu deus Êxodo 21:1/7. Como já afirmei noutros artigos, a minha fé se baseia somente em Cristo e no Deus que Ele revelou e nos ensinou a tratar por Pai. Mas menciono estes textos veterotestamentários assim como textos do Bhagavad Guitá ou do Alcorão, nesta introdução a este artigo, pois no mundo em que vivemos, não sou indiferente à informação das outras religiões, desde que se trate das grandes religiões milenárias, como elementos de informação, pois a minha fé se baseia em Cristo. Bem sei que haverá muitos, em especial os fundamentalistas dos nossos dias, que discordem desta minha posição, mas é a minha posição teológica e é por isso que não me considero como crente evangélico com o significado de membro duma igreja evangélica, pois sou evangélico por crer só nos evangelhos e na mensagem de Cristo.

 

1.3 - Islamismo

 

Encontrei as seguintes passagens no Alcorão, cuja tradução em português pode ser consultada nesta página da internet, na secção de Outras religiões.

Alcorão 2:255 - Deus! Não há mais divindade além d'Ele, Vivente, Subsistente, a Quem jamais alcança a inatividade ou o sono; d'Ele é tudo quanto existe nos céus e na terra. Quem poderá interceder junto a Ele, sem a Sua anuência? Ele conhece tanto o passado como o futuro, e eles (humanos) nada conhecem a Sua ciência, senão o que Ele permite. O Seu Trono abrange os céus e a terra, cuja preservação não O abate, porque é o Ingente, o Altíssimo.

Alcorão 19:64 - E (os anjos) dirão: Não nos locomovemos de um local para o outro sem a anuência de teu Senhor, a Quem pertencem o nosso passado, o nosso presente e o nosso futuro, porque o teu Senhor jamais esquece.

Alcorão 20:110 - Ele lhes conhece tanto o passado como o futuro, não obstante eles não logrem conhecê-Lo.

Alcorão 22:75/76 - Deus escolhe os mensageiros, entre os anjos e entre os humanos, porque é Oniouvinte, Onividente.

Ele conhece tanto o seu passado como o seu futuro, porque a Deus retornarão todas as coisas.

Vemos que o Alcorão, tem passagens bem esclarecedoras sobre o conhecimento que Deus tem do passado e do futuro, mas não encontrei referências à predestinação.

Assim, convido os islâmicos, que tomarem conhecimento deste artigo, a enviar mais informação sobre o assunto.

 

2 – Predestinação na história

 

Depois desta referência às outras religiões milenárias, voltemos agora à predestinação no cristianismo, o assunto principal do nosso tema.

Além do Apóstolo Paulo, que nos deixou as bases para a doutrina da predestinação, Agostinho de Hipona (354-430) foi, segundo informação disponível, o primeiro teólogo que se referiu à doutrina da “predestinação”. No entanto, foi João Calvino (1509-1564) quem deu maior desenvolvimento a esta doutrina. A quem quiser aprofundar este assunto, aconselho a leitura do terceiro, dos quatro volumes das “Institutas de João Calvino”, que tem de ser lido com a ajuda dum dicionário etimológico e outros bons dicionários. Eu tentei estudar, comprei os quatro volumes das Institutas e iniciei o estudo, mas.... não cheguei ao fim. Espero que o prezado visitante desta página tenha mais dedicação ao estudo do que eu. Mas, o principal motivo da minha desistência foi o pressuposto de que parte Calvino, que aceita toda a Bíblia como igualmente inspirada, o que não é a minha posição, pois recuso-me a considerar a palavra de Cristo em pé de igualdade com a palavra de Moisés ou dos antigos profetas.

É verdade que se podem colher muitos e variados ensinos no Velho Testamento ou em qualquer livro histórico, mas ao tentarmos aprender alguma coisa com Moisés ou os profetas, não podemos esquecer que se algum deles ressuscitasse nos nossos dias, sabendo que o Messias já veio, ele é que nos faria perguntas sobre a mensagem do Mestre, que nós temos disponível nos evangelhos.

 

3 - O que é predestinação.

 

Penso que antes de nos pronunciarmos sobre a predestinação, é necessário definir o que essa palavra “predestinação” significa para nós, pois há posições diferentes.

 

1 - Desde a eternidade que Deus pre-ordena tudo que vai acontecer, e escolhe um grupo de pessoas para ele mesmo, deixando o resto da humanidade seguir o seu caminho. É a doutrina da “dupla predestinação”. Assim, uns estão destinados à salvação e outros estão destinados à condenação eterna, mesmo antes de nascerem.

 

2 – Uma outra posição, mais moderada, afirma que Deus elege alguns para a salvação eterna, mas não afirma que tudo que acontece na vida do eleito ou do rejeitado, já estava previamente estabelecido, nem elimina o direito dum eleito acabar por rejeitar a Deus, pois este mantém a sua capacidade de escolha pessoal, assim como deixa bem claro que Cristo não rejeita ninguém que venha a Ele, como vemos em João 6:37: Todo o que o Pai me dá, virá a mim; e o que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora. 

 

4 - Base da nossa reflexão

 

A base da nossa reflexão, será em primeiro lugar o que está registado nos evangelhos e duma maneira geral em todo o Novo Testamento, excepto o Apocalipse, cuja inclusão no cânon neotestamentário me levanta sérias dúvidas (Ver nosso artigo Apocalipse e o cânon neotestamentário (CC). 

Poderá alguém perguntar: Por que não toda a Bíblia? Neste caso, aconselho a ler o nosso artigo A Bíblia é a Palavra de Deus? (CC) ou o início do meu artigo David ou Davi (CC) ou ainda o artigo Velho Testamento – Porque não o sigo (DO) de autoria do irmão David Oliveira.

Que me desculpem, os fundamentalistas que têm por tradição considerar toda a Bíblia como igualmente inspirada e inerrante, mas não é esta a minha posição teológica. Eu não aceito a palavra do Mestre em pé de igualdade com a mensagem de Moisés ou dos profetas. Aliás, penso que mesmo esses só aceitam essa inerrância em teoria, pois não acredito que aceitem o racismo, a forte discriminação da mulher ou a escravatura, como está no Velho Testamento. Nem Israel dos nossos dias se rege por esses textos, pois já não é a teocracia prevista no Velho Testamento.  

 

5 - Passagens bíblicas neotestamentárias relacionadas com a Predestinação

 

Quero começar por dizer que não estudei grego, como penso que seja a situação da maioria dos leitores desta página na internet. Mas isso não impede que consultemos variada literatura sobre o assunto, além de pedir ajuda a quem estiver preparado para ler as cópias dos textos originais, como foi o caso do Pastor Orlando Caetano a quem deixo os meus agradecimentos por ter colocado as palavras em grego que indico a seguir.

Afinal, há várias palavras em grego, que estão relacionadas com a “predestinação” e que por vezes foram traduzidas por “eleição”, ou “escolha”.

Os textos bíblicos que apresentamos, são da tradução de João Ferreira de Almeida, da Sociedade Bíblica de Portugal, alertando para eventuais diferença em relação à Bíblia de Jerusalém, escrita inicialmente em francês e a TEB, versão portuguesa da TOB (Traduction Oecuménique de la Bible), que considero as melhores e mais sérias traduções da Bíblia.

 

Predestinar Proorízou  (Proorizw)

 

Romanos 8:28/30 

28. Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto.

29. Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho; a fim de que ele seja o primogénito entre muitos irmãos;

30. E aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou.

 

Efésios 1:3/5

3. Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo;

4. Como também nos elegeu nele, antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;

5. E nos predestinou para filhos de adopção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito da sua vontade,

NOTA: Na tradução da Jerusalém, assim como na TEB, no vr.4, onde está “elegeu”, foi traduzido por “escolheu”.

 

Efésios 1:11 - Nele, digo, em quem, também, fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade;

 

Eleger Eklektós (Eklektos)

 

Mateus 24:22 ss - E se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas, por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias.

Nota: Tanto na Jerusalém, como na TEB, em vez de “escolhidos”, está “eleitos”.

 

Romanos 8:33Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica;

Nota: Tanto na Jerusalém, como na TEB, em vez de “escolhidos”, está “eleitos”.

 

Colossenses 3:12 - Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade

 

Escolher Hairéomai (Aireomai)

 

2ª Tessalonicenses 2:13Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido, desde o princípio, para a salvação, em santificação do Espírito e fé da verdade,

Nota: Na Jerusalém e na TEB, em vez de “elegido” está “escolheu”.

 

Eklégomai (Eklegomai)

 

1ª Coríntios 1:27 - Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes;

 

Efésios 1:4  Como também nos elegeu nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;

Nota: Tanto na Jerusalém, como na TEB, está “escolheu”, no lugar de “elegeu”.

 

Outras passagens onde está a ideia da predestinação, embora a palavra não apareça.

 

Mateus 25:34 - Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.

 

Lucas 1:13/17Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temais, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João; e terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão com o seu nascimento, porque ele será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já, desde o ventre de sua mãe; e converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus, e irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto.

 

Actos 4:28 - Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer.

 

Actos 17:30/31Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia, agora, a todos os homens, e em todo lugar, que se arrependam: Porquanto tem determinado um dia em que, com justiça, há-de julgar o mundo, por meio do varão que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.

 

Actos 22:13/15Vindo ter comigo, e apresentando-se, disse-me: Saulo, irmão, recobra a vista. Naquela mesma hora, o vi. E ele disse: O Deus de nossos pais de antemão te designou para que conheças a sua vontade, e vejas aquele Justo, e ouças a voz da sua boca. Porque hás-de ser sua testemunha, para com todos os homens, do que tens visto e ouvido.

Nota: Em lugar de “de antemão te designou”, na Jerusalém está “te predestinou” e na TEB está “te destinou”.

 

Romanos 9:10/20

10. E não somente esta, mas tam­bém Rebeca, quando concebeu de um, de Isaac, nosso pai:

11. Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, se­gundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama),

12. Foi-lhe dito a ela: O maior ser­virá o menor.

13. Como está escrito: Amei Jacob, e aborreci Esaú.

14. Que diremos pois? Que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma.

15. Pois dizia Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia.

16. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.

17. Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra.

18. Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer.

19. Dir-me-ás, então; Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem resiste à sua vontade?

20. Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?

Nota: No versículo 11, no lugar de “eleição”, na Jerusalém está “escolha” e na TEB está “desígnio”.

Embora esta seja uma passagem neotestamentária, refere-se a um acontecimento veterotestamentário, que segundo parece (vr. 14, 19 e 20), levantava algumas dúvidas no primitivo cristianismo que sentia que a dupla predestinação não estava em perfeita sintonia com o Deus Pai que Jesus revelou.

 

1ª Pedro 1:1/2

1. Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia;

2. Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.

 

1ª Pedro 1:20 -  O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos  tempos por amor de vós,

Nota: A Jerusalém confere com a tradução de Almeida, mas na TEB, em vez de “conhecido” está “predestinado”

 

Como vimos, Paulo e Pedro, são os únicos apóstolos que se referem à doutrina da predestinação, talvez porque a maior parte das cartas que os outros escreveram não chegaram aos nossos dias. Mas nas passagens que indicamos em Mateus, embora não apareça a palavra predestinação, a ideia está implícita, e estas são palavras do próprio Cristo.

Nas descrições do nascimento de Cristo, vemos que o seu futuro já estava definido, embora o seu caso não possa, evidentemente, ser tomado como exemplo devido à sua natureza divina.

Mas no caso de João Batista, vemos no evangelho de Lucas uma descrição do que seria a sua futura actuação como Profeta.

Realmente, como diz o Pastor Manuel Pedro Cardoso, julgo que há fundamento bíblico neotestamentário para a doutrina da predestinação, mas não encontro referências (no Novo Testamento), para a doutrina da dupla predestinação (para a eleição ou condenação), isto é, para afirmar que alguém já esteja condenado, mesmo antes do seu nascimento.

 

6 – Conclusão

 

Não há nos textos bíblicos, passagens didácticas sobre a predestinação, em que o assunto seja tratado de forma desenvolvida e sistemática. As principais passagens estão no Velho Testamento, mas também há referências no Novo Testamento, como vimos.

Julgo que uma das grandes dificuldades em aceitar a doutrina da predestinação é associarmos à predestinação a ideia de que Deus deseja salvar uns e deseja condenar outros.

Penso também que podemos diferenciar entre a vontade activa e vontade permissiva de Deus. Por exemplo, Deus não quer que pequenos... mas permite.

Talvez possa ajudar, se substituirmos a palavra predestinação por pré-conhecimento, pois geralmente associamos a predestinação com alguma coisa que está na vontade activa de Deus, que assim programou para que tal acontecesse.

Vamos imaginar um professor encarregado de preparar uma turma de jovens estudantes. Durante um ano ele é o professor desses jovens, ensina o melhor que sabe e ele os prepara para o rigoroso exame ao fim do ano escolar. Quando chega o dia do exame, ele já conhece bem os jovens que preparou, já tem um certo pré-conhecimento dos que vão passar e dos que ficarão reprovados.

Será que é ele, que quer fazer essa escolha? Quer que alguns dos seus alunos reprovem no exame final? Certamente que não, pois ele quer mostrar o seu trabalho e bem gostaria que todos os jovens que preparou fossem aprovados, foi para isso que ele se esforçou. Mas já tem um certo conhecimento dos que não têm condições de passar e dos que estão “predestinados” para serem rejeitados.

Mas Deus não poderia salvar a todos?

Também o professor da nossa ilustração poderia dar uma boa nota a todos e considerar todos como aptos. Mas, seria isso justo?

Ao perguntar se Deus podia, não podemos esquecer outra pergunta. Será que devia tomar essa atitude?

Será que esta comparação pode ajudar, a nossa compreensão?

Pelo que vemos em Actos 17:30/31 Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora, a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; porque tem determinado um dia em que, com justiça, há-de julgar o mundo, por meio do varão que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dos mortos. A vontade de Deus é que todos se salvem.

Os primeiros crentes não podiam compreender tudo, como Cristo deixou bem claro ao afirmar, já quase no fim do seu ministério terreno Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. João 16:12. Hoje podemos ver como seria muito difícil para os discípulos compreender os problemas que iriam surgir séculos e milénios mais tarde, e o Mestre sabia disso.

Mas Jesus deixou a solução: Tenho-vos dito isto, estando convosco. Mas, aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quando vos tenho dito. João 14:25/26.

Penso que há perguntas a que nem os evangelhos respondem. Mas quando, e se necessário, o Espírito Santo nos dará a resposta. Enquanto isso não acontecer, temos de ser humildes para reconhecer a nossa ignorância.

Tenho de concluir que, tudo que eu disser, está mal, pois se disser que não há predestinação, então nem Deus conhece o futuro e portanto, não é omnisciente. Mas se Deus é omnisciente, então conhece o futuro e o futuro está definido, como vimos nestas passagens bíblicas neotestamentárias.

Mas, como conciliar a ideia do livre arbítrio do ser humano, com a ideia da predestinação?

Por vezes é difícil compreender o Pai, porque está fora do tempo, enquanto nós estamos limitados ao nosso tempo.

Nós vivemos o nosso dia a dia, estamos prisioneiros do nosso presente onde temos liberdade de actuar, mas Deus nos vê como num filme cuja conclusão Ele já conhece.

Dou graças a Deus pela revelação que nos concedeu através de seu Filho. Mas, embora com muita prudência, não podemos ser de tal maneira fundamentalistas que ignoremos que o Espírito Santo nos poderá dar mais informação e orientação para as novas questões dos nossos dias.

Com a eleição, Deus está a formar a Sua Família presidida por Cristo. Para Deus, que não está limitado às leis do tempo como nós, essa Família já é uma realidade.

Camilo – Marinha Grande – Portugal

Julho de 2006

 

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas