Predestinação 3
(CC)
(Deverá
“clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)
Convido
o prezado visitante desta página a ler primeiro, os artigos com o mesmo título Predestinação 1-(NG), do Pastor Nilson De Gogoi, duma Assembleia de Deus de São Paulo e Predestinação
2-(MC) do Pastor Manuel Pedro Cardoso, da Igreja Evangélica Presbiteriana
de Portugal, ambos dignos colaboradores desta nossa página na internet. Foram
eles que, com os seus artigos, despertaram a minha atenção para este assunto.
Assim,
o presente artigo pode-se considerar de certa maneira, como na continuidade da
reflexão que o Pastor Nilson iniciou, o Pastor Cardoso, meu antigo Professor no
Seminário Evangélico de Teologia desenvolveu, e eu procuro dar continuidade com
novas informações.
1 – Introdução
Todas
as grandes religiões milenárias têm a noção dum Deus Supremo. Mesmo as religiões
politeístas crêem no Deus supremo, acima de todos os outros deuses. Esse Deus
Supremo, é sempre eterno, transcendente, criador, e
não está limitado ao nosso tempo e espaço.
Na
página hindu “Templo da Sabedoria” http://www.jnanamandiram.org.br/default.cfm,
no artigo dessa página http://www.jnanamandiram.org.br/default.cfm?pg=hinduismo
está a seguinte afirmação: «Os hinduístas
são freqüentemente acusados de politeístas. Eles
parecem adorar muitos deuses. Mas não é assim. Não são muitos deuses. Eles
adoram muitas imagens do mesmo Deus. Para facilitar a mente e adquirir maior
concentração num particular aspecto de Deus, os hindus usam uma particular
imagem. Ganapati ou Ganesh
é adorado no começo de toda oração e de cerimônias a fim de remover obstáculos
da mente. Os hinduístas, nesses momentos, concentram seu coração e mente no
aspecto de Deus que remove o obstáculo, e chamam esse aspecto de Ganapati.»
Assim,
segundo o pensamento deste teólogo hindu, julgo que as várias imagens seriam
como que ilustrações, símbolos, ou metáforas, para se compreender determinado
atributo de Deus, que não é acessível ao pensamento humano. Aliás, a Bíblia
também apresenta várias metáforas utilizando a semelhança entre dois objectos
ou factos, para explicar um deles, utilizando outro que é bem conhecido.
Podemos citar alguns exemplos, como a “videira” João 15:1, “porta” João 10:9, “leão” Génesis 49:9, “sol e
escudo” Salmo 84:11.
Mas há uma diferença, pois estes objectos das metáforas bíblicas, nunca foram
representados por desenho ou escultura, salvo o caso da serpente de bronze que
Moisés esculpiu em Números
21:8
Na
verdade, os católicos dizem que os hinduístas têm muitos de deuses, mas eles
próprios, no catolicismo popular (que continua a ser uma realidade), têm uma
grande quantidade de santos, que de certa maneira, correspondem aos deuses
hindus.
Os
evangélicos acusam os católicos de terem muitos santos, mas eles próprios têm
os seus ídolos, como o dinheiro, a tradição, o pastor com a sua quase
infalibilidade etc, quando não tentam tornear a sua
própria teologia, “criando” os anjos especializados para as várias tarefas, que
também de certa maneira, acabam por corresponder aos vários deuses dos hindus e
aos santos do catolicismo.
Se
conseguirmos ultrapassar as simples palavras, para investigar o que elas
significam para nós, se conseguirmos “remover esses obstáculos da mente”, como
afirma a página hindu do “Templo da Sabedoria”, talvez as diferenças entre as
grandes religiões, não sejam assim tão grandes.
Mas,
temos de ser realistas, e bem sei que entre o pensamento da teologia e
pensamento do homem vulgar dos nossos dias, vai por vezes uma grande diferença.
A grande maioria dos hindus dos nossos dias só se lembra desses deuses, quando
chega o dia do feriado dessa divindade. Com a maior parte do povo católico em
Portugal, a situação não é muito diferente, pois o mais importante são os
feriados dos dias santos e as festas dos santos populares. Nesses dias, quando
há um feriado católico, também todos os protestantes ou evangélicos, mesmo os
mais fanáticos, se tornam muito “ecuménicos” e também se associam ao feriado
religioso. Na prática, as diferenças não são tão grandes como parecem.
Nesta
introdução, iremos apresentar algumas passagens que nos mostram o que afirmam
essas grandes religiões milenares, sobre o futuro, e o eventual conhecimento
divino sobre o futuro, ou a sua possibilidade, ou vontade de nele interferir.
Colocamos,
por ordem cronológica, a começar pelas grandes religiões mais antigas, o
hinduísmo, o judaísmo e o islamismo, deixando para o fim a mensagem de Cristo
no Novo Testamento (também o Alcorão fala em Cristo), a que daremos um maior
desenvolvimento.
1.1 - Hinduísmo
No
Bhagavad Guitá, o principal livro do hinduísmo, que está disponível nesta nossa
página da internet na secção de Outras religiões,
não encontrei referências à predestinação. Também não há referências à
imortalidade da alma, tal como é concebida no cristianismo e islamismo, mas sim
à reincarnação, que é um outro conceito de imortalidade.
Podemos
ler em Bhagavad 2:12/14
12 - Não é verdade que eu, tu e estes príncipes, em tempos remotos não
existíamos, e nem é menos verdade também que, no futuro longínquo, não havemos
de existir.
13 - Assim como o ser humano passa pelos estádios de infância, adolescência e
velhice, assim também passa ele através de mudanças dos corpos; e este fenómeno
não deixa perturbado o homem forte.
14 - As sensações de calor e frio e as impressões de prazer e dor provêm das
relações dos nossos órgãos dos sentidos com objectos exteriores; são fenómenos
efémeros, transitórios; compenetra-te disso, ó Arjuna!
Numa
outra tradução mais literal, podemos ler os mesmos versículos:
12 - Nunca houve um tempo em que todos
estes monarcas, você, ou eu não tivéssemos existido, e nem deixaremos de
existir no futuro.
13 - Da mesma forma que a alma adquire um
corpo na infância, um corpo na juventude, e um corpo na velhice, durante a sua
vida, similarmente, a alma adquire outro corpo após a morte. Isso não deveria
iludir um sábio.
14 - Os contactos
dos sentidos com os objectos dos sentidos causam os sentimentos de calor e
frio, dor e prazer. Eles são transitórios e impermanentes. Portanto, deve-se
carregá-los corajosamente.
No
hinduísmo há a noção dum Deus supremo e outros deuses menores, ou
representações do mesmo Deus, segundo vemos na página hindu que mencionei.
Shri
Crisna, que é considerado como incarnação de Deus pelos hindus, revelou o Deus
supremo que não é acessível ao ser humano, mas é protector dos que o buscam, e
até mesmo dos que não o conhecem, como vemos em Bhagavad 9:22/23
22 - Mas aos homens que Me adoram, com o
amor exclusivo, fazendo de Mim o único objecto do seu pensamento, Eu os provejo
em tudo.
23 - E, ó Arjuna,
mesmo aqueles que, com a fé sincera e ardente, adoram divindades, tomo-os por adoradores Meus, mas mediatos.
Esta
posição do hinduísmo faz lembrar certos argumentos do catolicismo a favor do
culto dos santos, como forma de chegar a Deus.
Não
encontrei no Bhagavad Guitá qualquer referência à predestinação, mas em Bhagavad 11:31/32
encontramos uma outra faceta da descrição divina.
31 - Revelai-me quem sois Vós, que revestis essa forma
tão gigantesca e cruel! Ó Deus Supremo, curvo-me
reverente perante Vós. Dai-me a Vossa graça; desejo conhecer-Vos! Donde
viestes? Incompreensível é para mim o plano das Vossas obras!
32 - SHRI CRISNA: —
Sou o Tempo, o destruidor do mundo; eis-me aqui para exterminar todos os povos.
Exceptuando tu, ó Arjuna, ambos esses exércitos alinhados
acabarão para sempre.
Claro
que isto parece uma contradição. Por um lado, as almas são eternas, mas os
exércitos acabarão para sempre. Será que esses militares serão diferentes numa
seguinte reencarnação? Julgo que seja esta a interpretação.
Esta
passagem é importante para o tema que decidimos investigar, pois Shri Crisna
que o hinduísmo considera como a revelação de Deus, mostra que Deus tem
conhecimento do futuro que está sob seu controle.
1.2 - Judaísmo
Todos
os estudos que li, sobre a predestinação, procuram basear-se em toda a Bíblia,
o que torna o assunto confuso, pois no Velho Testamento estamos perante o deus
dos judeus, que não tem o mesmo comportamento nem as mesmas características do
Deus Pai de todos os povos, que Jesus revelou. Geralmente, todo o crente
evangélico é treinado para afirmar que o deus de Moisés é o mesmo Deus que
Cristo nos ensinou a tratar por Pai, mas a conclusão a que cheguei, depois dum
estudo imparcial, leva-me a divergir da tradicional teologia evangélica, pois o
deus de Moisés tem um comportamento e atitudes bem diferentes do Deus Pai que
Jesus nos revelou.
Para
a salvação veterotestamentária, era necessário, em primeiro lugar, fazer parte
do “Povo Escolhido” e ser da descendência de Abraão, pois o seu deus lutava
sempre a seu favor, contra todos os outros povos. Aliás, essa era a atitude de
todos os outros deuses, das várias cidades e dos vários povos. Um caso típico
do que afirmamos, é o que se passou em Génesis 12:10/20,
em que Abraão combina com sua mulher para enganarem o Faraó. Isto não foi
nenhum deslize de jovens inexperientes, mas um acto premeditado de pessoas
adultas, que foram por sua iniciativa para o Egipto. O contexto dá a entender
que Sara teve relações sexuais com o Faraó, para obter bens materiais, (que
podemos chamar de prostituição). Sara tornou-se concubina do Faraó para obter
“ovelhas, bois e jumentos, servos e servas, jumentas e camelos” (vr.16) e o
deus de Abraão, em vez de o castigar, decide castigar o Faraó, que foi a
vítima. Como resultado dessa atitude do seu deus, Abraão volta a tentar repetir
a mesma falcatrua em Génesis
20.
Segundo
o Velho Testamento, vemos que Deus não só conhece com programa o futuro Jeremias 29:11, Jeremias 31:17, Ezequiel 12:27, Ezequiel 37:21/22,
Daniel 2:45
É
Deus que, não só conhece o futuro, como ele próprio programa o que irá acontecer
ao indivíduo e às nações, como vemos em Génesis 25:19/23,
Malaquias 1:2/3.
Até Paulo se refere a isto, no Novo Testamento, em Romanos 9:10/11ss.
Penso
que no Velho Testamento, temos fundamento para a dupla predestinação, em que
alguns estão predestinados para a salvação e outros já nascem predestinados
para a condenação, pois Deus por vezes intervém para que alguns não se salvem,
como vemos em Êxodo
7:3. O deus dos judeus lutava a favor de Israel, contra todos os outros
povos Isaías
14:24/27 (...esta
é a mão que está estendida sobre todas as nações. vr.26) Esse deus
dos judeus, até os incitava a cometer os maiores crimes de guerra, não só em
Jericó Josué 6 e
em Ai Josué
8:21/30, como em Números 31:7/18.
Estes
foram alguns dos motivos que me levaram a meditar na informação bíblica
veterotestamentária em separado da informação que temos nos evangelhos, pois
nem tudo que está no Velho Testamento é bom e nem tudo pode ser aceite por quem
conhece a mensagem de Cristo. Mateus 5:21/48
Também
encontramos no Velho Testamento, fundamento para o racismo, para a forte
discriminação da mulher, que começava logo que nascia Levítico 12, assim
como a pena de morte para muitos e variados casos e a escravatura também foi
regulamentada por Moisés, inspirado pelo seu deus Êxodo 21:1/7.
Como já afirmei noutros artigos, a minha fé se baseia somente em Cristo e no
Deus que Ele revelou e nos ensinou a tratar por Pai. Mas menciono estes textos
veterotestamentários assim como textos do Bhagavad Guitá ou do Alcorão, nesta
introdução a este artigo, pois no mundo em que vivemos, não sou indiferente à
informação das outras religiões, desde que se trate das grandes religiões
milenárias, como elementos de informação, pois a minha fé se baseia em Cristo.
Bem sei que haverá muitos, em especial os fundamentalistas dos nossos dias, que
discordem desta minha posição, mas é a minha posição teológica e é por isso que
não me considero como crente evangélico com o significado de membro duma igreja
evangélica, pois sou evangélico por crer só nos evangelhos e na mensagem de
Cristo.
1.3 - Islamismo
Encontrei
as seguintes passagens no Alcorão, cuja tradução em português pode ser
consultada nesta página da internet, na secção de Outras religiões.
Alcorão 2:255 - Deus! Não há mais divindade além d'Ele, Vivente,
Subsistente, a Quem jamais alcança a inatividade ou o sono; d'Ele é tudo quanto
existe nos céus e na terra. Quem poderá interceder junto a Ele, sem a Sua
anuência? Ele conhece tanto o passado como o futuro, e eles (humanos)
nada conhecem a Sua ciência, senão o que Ele permite. O Seu Trono abrange os
céus e a terra, cuja preservação não O abate, porque é o Ingente, o Altíssimo.
Alcorão 19:64 - E (os anjos) dirão: Não nos locomovemos de um
local para o outro sem a anuência de teu Senhor, a Quem pertencem o nosso
passado, o nosso presente e o nosso futuro, porque o teu Senhor jamais
esquece.
Alcorão 20:110 - Ele lhes conhece tanto o passado como o futuro, não obstante
eles não logrem conhecê-Lo.
Alcorão 22:75/76 - Deus escolhe os mensageiros, entre os anjos e entre
os humanos, porque é Oniouvinte, Onividente.
Ele conhece tanto o seu passado como o seu futuro, porque a Deus retornarão todas as coisas.
Vemos
que o Alcorão, tem passagens bem esclarecedoras sobre o conhecimento que Deus
tem do passado e do futuro, mas não encontrei referências à predestinação.
Assim,
convido os islâmicos, que tomarem conhecimento deste artigo, a enviar mais
informação sobre o assunto.
2 – Predestinação na história
Depois
desta referência às outras religiões milenárias, voltemos agora à predestinação
no cristianismo, o assunto principal do nosso tema.
Além
do Apóstolo Paulo, que nos deixou as bases para a doutrina da predestinação,
Agostinho de Hipona (354-430) foi, segundo informação disponível, o primeiro
teólogo que se referiu à doutrina da “predestinação”. No entanto, foi João
Calvino (1509-1564) quem deu maior desenvolvimento a esta doutrina. A quem
quiser aprofundar este assunto, aconselho a leitura do terceiro, dos quatro
volumes das “Institutas de João Calvino”, que tem de ser lido com a ajuda dum
dicionário etimológico e outros bons dicionários. Eu tentei estudar, comprei os
quatro volumes das Institutas e iniciei o estudo, mas....
não cheguei ao fim. Espero que o prezado visitante
desta página tenha mais dedicação ao estudo do que eu. Mas, o principal motivo
da minha desistência foi o pressuposto de que parte Calvino, que aceita toda a
Bíblia como igualmente inspirada, o que não é a minha posição, pois recuso-me a
considerar a palavra de Cristo em pé de igualdade com a palavra de Moisés ou
dos antigos profetas.
É
verdade que se podem colher muitos e variados ensinos no Velho Testamento ou em
qualquer livro histórico, mas ao tentarmos aprender alguma coisa com Moisés ou
os profetas, não podemos esquecer que se algum deles ressuscitasse nos nossos
dias, sabendo que o Messias já veio, ele é que nos faria perguntas sobre a
mensagem do Mestre, que nós temos disponível nos evangelhos.
3 - O que é predestinação.
Penso
que antes de nos pronunciarmos sobre a predestinação, é necessário definir o
que essa palavra “predestinação” significa para nós, pois há posições
diferentes.
1
- Desde a eternidade que Deus pre-ordena tudo que vai
acontecer, e escolhe um grupo de pessoas para ele mesmo, deixando o resto da
humanidade seguir o seu caminho. É a doutrina da “dupla predestinação”. Assim,
uns estão destinados à salvação e outros estão destinados à condenação eterna,
mesmo antes de nascerem.
2
– Uma outra posição, mais moderada, afirma que Deus elege alguns para a
salvação eterna, mas não afirma que tudo que acontece na vida do eleito ou do
rejeitado, já estava previamente estabelecido, nem elimina o direito dum eleito
acabar por rejeitar a Deus, pois este mantém a sua capacidade de escolha
pessoal, assim como deixa bem claro que Cristo não rejeita ninguém que venha a
Ele, como vemos em João
6:37: Todo o que o Pai me dá, virá a mim; e o que
vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora.
4 - Base da nossa reflexão
A
base da nossa reflexão, será em primeiro lugar o que
está registado nos evangelhos e duma maneira geral em todo o Novo Testamento,
excepto o Apocalipse, cuja inclusão no cânon neotestamentário me levanta sérias
dúvidas (Ver nosso artigo Apocalipse e o cânon
neotestamentário (CC).
Poderá
alguém perguntar: Por que não toda a Bíblia? Neste caso, aconselho a ler o
nosso artigo A Bíblia é
a Palavra de Deus? (CC) ou o início do meu artigo David ou Davi (CC) ou
ainda o artigo Velho
Testamento – Porque não o sigo (DO) de autoria do irmão David Oliveira.
Que
me desculpem, os fundamentalistas que têm por tradição considerar toda a Bíblia
como igualmente inspirada e inerrante, mas não é esta a minha posição
teológica. Eu não aceito a palavra do Mestre em pé de igualdade com a mensagem
de Moisés ou dos profetas. Aliás, penso que mesmo esses só aceitam essa
inerrância em teoria, pois não acredito que aceitem o racismo, a forte
discriminação da mulher ou a escravatura, como está no Velho Testamento. Nem
Israel dos nossos dias se rege por esses textos, pois já não é a teocracia
prevista no Velho Testamento.
5 - Passagens bíblicas
neotestamentárias relacionadas com a Predestinação
Quero
começar por dizer que não estudei grego, como penso que seja a situação da
maioria dos leitores desta página na internet. Mas isso não impede que consultemos
variada literatura sobre o assunto, além de pedir ajuda a quem estiver
preparado para ler as cópias dos textos originais, como foi o caso do Pastor
Orlando Caetano a quem deixo os meus agradecimentos por ter colocado as
palavras em grego que indico a seguir.
Afinal,
há várias palavras em grego, que estão relacionadas com a “predestinação” e que
por vezes foram traduzidas por “eleição”, ou “escolha”.
Os
textos bíblicos que apresentamos, são da tradução de
João Ferreira de Almeida, da Sociedade Bíblica de Portugal, alertando para
eventuais diferença em relação à Bíblia de Jerusalém, escrita inicialmente em
francês e a TEB, versão portuguesa da TOB (Traduction Oecuménique de la Bible), que considero as melhores e mais sérias traduções
da Bíblia.
Predestinar Proorízou (Proorizw)
28.
Sabemos que
todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados por seu decreto.
29. Porque os que
dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de
seu Filho; a fim de que ele seja o primogénito entre muitos irmãos;
30.
E aos que predestinou,
a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que
justificou, a estes também glorificou.
3. Bendito
seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas
as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo;
4. Como também nos elegeu
nele, antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e
irrepreensíveis diante dele em amor;
5.
E nos predestinou
para filhos de adopção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito
da sua vontade,
NOTA:
Na tradução da Jerusalém, assim como na TEB, no vr.4, onde está “elegeu”, foi
traduzido por “escolheu”.
Efésios
1:11 - Nele, digo, em quem, também, fomos feitos herança, havendo
sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas
segundo o conselho da sua vontade;
Eleger Eklektós (Eklektos)
Mateus 24:22 ss - E se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se
salvaria; mas, por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias.
Nota:
Tanto na Jerusalém, como na TEB, em vez de “escolhidos”, está “eleitos”.
Romanos 8:33 – Quem intentará
acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica;
Nota:
Tanto na Jerusalém, como na TEB, em vez de “escolhidos”, está “eleitos”.
Colossenses 3:12 - Revesti-vos, pois, como eleitos
de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade,
humildade, mansidão, longanimidade
Escolher Hairéomai (Aireomai)
2ª Tessalonicenses 2:13
– Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor,
por vos ter Deus elegido, desde o princípio, para a salvação, em
santificação do Espírito e fé da verdade,
Nota: Na Jerusalém e na TEB, em vez de “elegido”
está “escolheu”.
Eklégomai (Eklegomai)
1ª Coríntios 1:27
- Mas Deus escolheu
as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as
coisas fracas deste mundo para confundir as fortes;
Efésios 1:4 – Como também nos elegeu nele, antes da fundação
do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;
Nota:
Tanto na Jerusalém, como na TEB, está “escolheu”, no lugar de “elegeu”.
Outras passagens onde está a ideia da
predestinação, embora a palavra não apareça.
Mateus 25:34 - Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu
Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do
mundo.
Lucas 1:13/17 – Mas o anjo lhe
disse: Zacarias, não temais, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua
mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João; e terás prazer e
alegria, e muitos se alegrarão com o seu nascimento, porque ele será grande
diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do
Espírito Santo, já, desde o ventre de sua mãe; e converterá muitos dos filhos
de Israel ao Senhor, seu Deus, e irá adiante dele no espírito e virtude de
Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à
prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto.
Actos 4:28 - Para fazerem tudo o
que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se
havia de fazer.
Actos 17:30/31 –
Mas Deus, não
tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia, agora, a todos os homens, e em
todo lugar, que se arrependam: Porquanto tem determinado um dia em que,
com justiça, há-de julgar o mundo, por meio do varão que destinou; e disso deu
certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.
Actos 22:13/15 –
Vindo ter comigo,
e apresentando-se, disse-me: Saulo, irmão, recobra a vista. Naquela mesma hora,
o vi. E ele disse: O Deus de nossos pais de antemão te designou para que
conheças a sua vontade, e vejas aquele Justo, e ouças a voz da sua boca. Porque
hás-de ser sua testemunha, para com todos os homens, do que tens visto e
ouvido.
Nota:
Em lugar de “de antemão te designou”, na Jerusalém está “te predestinou” e na
TEB está “te destinou”.
10. E não somente
esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaac, nosso pai:
11. Porque, não tendo
eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus,
segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por
aquele que chama),
12. Foi-lhe dito a
ela: O maior servirá o menor.
13. Como está escrito:
Amei Jacob, e aborreci Esaú.
14. Que diremos pois?
Que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma.
15. Pois dizia Moisés:
Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver
misericórdia.
16. Assim, pois, isto
não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.
17. Porque diz a
Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder,
e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra.
18. Logo, pois,
compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer.
19. Dir-me-ás, então;
Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem resiste à sua vontade?
20. Mas, ó homem, quem
és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou:
Por que me fizeste assim?
Nota:
No versículo 11, no lugar de “eleição”, na Jerusalém está “escolha” e na TEB
está “desígnio”.
Embora
esta seja uma passagem neotestamentária, refere-se a um acontecimento
veterotestamentário, que segundo parece (vr. 14, 19 e
20), levantava algumas dúvidas no primitivo cristianismo que sentia que a dupla
predestinação não estava em perfeita sintonia com o Deus Pai que Jesus revelou.
1.
Pedro, apóstolo
de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia
e Bitínia;
2.
Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do
Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz
vos sejam multiplicadas.
1ª Pedro 1:20 - O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido,
ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós,
Nota:
A Jerusalém confere com a tradução de Almeida, mas na TEB, em vez de
“conhecido” está “predestinado”
Como
vimos, Paulo e Pedro, são os únicos apóstolos que se referem à doutrina da
predestinação, talvez porque a maior parte das cartas que os outros escreveram
não chegaram aos nossos dias. Mas nas passagens que indicamos em Mateus, embora
não apareça a palavra predestinação, a ideia está implícita, e estas são
palavras do próprio Cristo.
Nas
descrições do nascimento de Cristo, vemos que o seu futuro já estava definido,
embora o seu caso não possa, evidentemente, ser tomado como exemplo devido à
sua natureza divina.
Mas
no caso de João Batista, vemos no evangelho de Lucas uma descrição do que seria
a sua futura actuação como Profeta.
Realmente,
como diz o Pastor Manuel Pedro Cardoso, julgo que há fundamento bíblico
neotestamentário para a doutrina da predestinação, mas não encontro referências
(no Novo Testamento), para a doutrina da dupla predestinação (para a eleição ou
condenação), isto é, para afirmar que alguém já esteja condenado, mesmo antes
do seu nascimento.
6 – Conclusão
Não
há nos textos bíblicos, passagens didácticas sobre a predestinação, em que o
assunto seja tratado de forma desenvolvida e sistemática. As principais
passagens estão no Velho Testamento, mas também há referências no Novo
Testamento, como vimos.
Julgo
que uma das grandes dificuldades em aceitar a doutrina da predestinação é
associarmos à predestinação a ideia de que Deus deseja salvar uns e deseja
condenar outros.
Penso
também que podemos diferenciar entre a vontade activa e vontade permissiva de
Deus. Por exemplo, Deus não quer que pequenos... mas
permite.
Talvez
possa ajudar, se substituirmos a palavra predestinação por pré-conhecimento,
pois geralmente associamos a predestinação com alguma coisa que está na vontade
activa de Deus, que assim programou para que tal acontecesse.
Vamos
imaginar um professor encarregado de preparar uma turma de jovens estudantes.
Durante um ano ele é o professor desses jovens, ensina o melhor que sabe e ele
os prepara para o rigoroso exame ao fim do ano escolar. Quando chega o dia do
exame, ele já conhece bem os jovens que preparou, já tem um certo
pré-conhecimento dos que vão passar e dos que ficarão reprovados.
Será
que é ele, que quer fazer essa escolha? Quer que alguns dos seus alunos
reprovem no exame final? Certamente que não, pois ele quer mostrar o seu
trabalho e bem gostaria que todos os jovens que preparou fossem aprovados, foi
para isso que ele se esforçou. Mas já tem um certo conhecimento dos que não têm
condições de passar e dos que estão “predestinados” para serem rejeitados.
Mas
Deus não poderia salvar a todos?
Também
o professor da nossa ilustração poderia dar uma boa nota a todos e considerar
todos como aptos. Mas, seria isso justo?
Ao
perguntar se Deus podia, não podemos esquecer outra pergunta. Será que devia
tomar essa atitude?
Será
que esta comparação pode ajudar, a nossa compreensão?
Pelo
que vemos em Actos
17:30/31 Mas
Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora, a todos os
homens, e em todo o lugar, que se arrependam; porque tem determinado
um dia em que, com justiça, há-de julgar o mundo, por meio do varão que
destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dos mortos. A
vontade de Deus é que todos se salvem.
Os
primeiros crentes não podiam compreender tudo, como Cristo deixou bem claro ao
afirmar, já quase no fim do seu ministério terreno Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o
podeis suportar agora. João 16:12. Hoje
podemos ver como seria muito difícil para os discípulos compreender os
problemas que iriam surgir séculos e milénios mais tarde, e o Mestre sabia
disso.
Mas
Jesus deixou a solução: Tenho-vos dito isto, estando convosco. Mas, aquele
Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará
todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quando vos tenho dito. João 14:25/26.
Penso
que há perguntas a que nem os evangelhos respondem. Mas quando, e se
necessário, o Espírito Santo nos dará a resposta. Enquanto isso não acontecer,
temos de ser humildes para reconhecer a nossa ignorância.
Tenho
de concluir que, tudo que eu disser, está mal, pois se disser que não há predestinação,
então nem Deus conhece o futuro e portanto, não é omnisciente. Mas se Deus é
omnisciente, então conhece o futuro e o futuro está definido, como vimos nestas
passagens bíblicas neotestamentárias.
Mas,
como conciliar a ideia do livre arbítrio do ser humano, com a ideia da
predestinação?
Por
vezes é difícil compreender o Pai, porque está fora do tempo, enquanto nós
estamos limitados ao nosso tempo.
Nós
vivemos o nosso dia a dia, estamos prisioneiros do
nosso presente onde temos liberdade de actuar, mas Deus nos vê como num filme
cuja conclusão Ele já conhece.
Dou
graças a Deus pela revelação que nos concedeu através de seu Filho. Mas, embora
com muita prudência, não podemos ser de tal maneira fundamentalistas que
ignoremos que o Espírito Santo nos poderá dar mais informação e orientação para
as novas questões dos nossos dias.
Com
a eleição, Deus está a formar a Sua Família presidida por Cristo. Para Deus,
que não está limitado às leis do tempo como nós, essa Família já é uma
realidade.
Camilo – Marinha Grande
– Portugal
Julho
de 2006
Estudos
bíblicos sem fronteiras teológicas