Pela Paz, contra a guerra
Nós, os povos das Nações Unidas,
decididos:
A preservar as gerações vindouras do
flagelo da guerra (....);
A reafirmar a nossa fé nos direitos
fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade
de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e
pequenas;
Carta das Nações Unidas, 1945
Somos
diariamente bombardeados pela propaganda de guerra e pelo coro dos seus arautos
em solo europeu, como se a guerra fosse inevitável.
Essa
propaganda serve interesses do capital financeiro internacional e anónimo,
constituindo uma ameaça à soberania, dignidade e liberdade das nações e dos
povos. Essa propaganda, a pretexto da luta contra o terrorismo, pretende
justificar novas medidas de repressão e censura, impondo à sociedade uma
perigosa interpretação da segurança que retira direitos, liberdades e garantias
aos cidadãos e cria «inimigos» e desconfianças onde existe diferença e legítima
contestação.
A
guerra não é solução para a fome, para a miséria ou para o desemprego. A guerra
não é solução para resolver a situação de quase dois terços da Humanidade, que
vive abaixo dos níveis de vida mínimos. A guerra não resolve a opressão nem o
terrorismo. A guerra não pode - nem deve - ser uma bandeira religiosa.
A
propaganda da guerra revela uma «cegueira sinistra» - como sublinhou o Papa -
visto que se opõe ao direito internacional e ao desenvolvimento sustentável da
Humanidade, garantes do futuro das gerações vindouras. Retira aos cidadãos e às
instituições democráticas, nacionais e internacionais, o acesso pleno à
informação e o poder decisório sobre as questões essenciais do desenvolvimento,
da solidariedade, da justiça social e da paz. Desvirtua a utilização pacífica
da ciência e da técnica, colocando-as ao serviço da destruição e da exploração
desenfreada das pessoas e da natureza.
Assim,
»
Condenando o terrorismo em todas as suas formas;
»
Profundamente preocupados com a ameaça iminente de guerra contra o Iraque e com
a invocação crescente do recurso a «guerras preventivas»;
»
Confrontados no Médio Oriente, com a demencial violação pelas autoridades
israelitas dos tratados e dos mais elementares direitos humanos dos
palestinianos;
»
Preocupados com o silêncio e a manifesta ignorância do que representa o
processo de globalização a que assistimos, ao arrepio dos mais elementares
princípios éticos;
»
Rejeitando um eventual envolvimento de Portugal na preparação de acções
militares contra países terceiros, sem autorização prévia da Assembleia da República
e sem mandato expresso do Conselho de Segurança das Nações Unidas;
»
Revoltados com a manipulação anunciada dos meios globais de comunicação e
informação;
Vimos
juntar a nossa voz a quantos, em todo o mundo, querem construir e preservar a
paz.
Apelamos,
em consequência, ao lançamento de acções cívicas contra as limitações dos
direitos e garantias democráticas e contra histerias securitárias
que visam condicionar as liberdades individuais. Neste sentido, propomos
defender e desenvolver, por todos os meios ao nosso alcance, uma verdadeira
Cultura da Paz no respeito dos princípios da Carta das Nações Unidas.
Lisboa,
7 de Janeiro de 2003
Artigo
transcrito do “Diário de Notícias” de 10 de Janeiro de 2003, assinado por:
Mário
Soares – Ex. Presidente de Portugal;
Freitas
do Amaral - Prof. universitário;
José
Saramago - Escritor e Nobel da Literatura;
M.
Lourdes Pintassilgo – Ex. Primeira Ministra e muitos
outros intelectuais portugueses.