Pastor ou mercenário?! (CC)
Todos que vieram antes de
mim são ladrões e assaltantes...
(Deverá
fazer “duplo clique” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)
1. Contexto
da parábola
Embora
esta parábola esteja no início do capítulo 10, não podemos ignorar o que se
passou no capítulo 9 em que Jesus curou um cego de nascença num sábado,
transgredindo assim a Velha Lei de Moisés que proibia qualquer trabalho ao
sábado, facto que era punido com a pena de morte. Êxodo 31:15,
ou Números
15:32/36. De acordo com a Lei de Moisés, todos eram
obrigados a servir de carrascos, apedrejando até à morte quem fizesse algum
trabalho ao sábado. Mas na época de Jesus, os judeus já estavam dominados pelo
Império Romano que não permitia a pena de morte por motivos religiosos.
Esta
transgressão da Lei de Moisés despertou a fúria dos judeus que interrogaram o
cego já curado por Jesus, que corajosamente arrisca a sua própria vida dando
testemunho da sua cura e é expulso do Templo.
Como
vimos em João
9:39/41, estava aberta a “guerra” entre a Velha Lei de
Moisés e a nova mentalidade que Jesus veio anunciar. O cego já curado anuncia
corajosamente a sua cura perante as autoridades do Templo. Já ninguém o
conseguia calar, e os “religiosos” do seu tempo apelam para a posição que
tinham na hierarquica religiosa, para o expulsar do
Templo, atitude tantas vezes assumida pelos dirigentes religiosos, antes e
depois da época de Cristo.
É
nesta sequência que devemos interpretar os versículos 1 a 6 do capítulo 10,
primeiros pensamentos do Mestre, que mais adiante os desenvolveu com a
comparação entre dirigentes religiosos e crentes em geral com os pastores e
suas ovelhas.
Segundo
vemos em João
10:06, os judeus não compreenderam esta parábola, que
para nós é já muito usual. Possivelmente era a primeira vez que Jesus
apresentava este paralelo de ideias. Nesse contexto histórico, certamente que
Jesus se referia aos pastores no seu significado original, cuja dedicação aos
seus animais o Mestre apresenta como um exemplo do que deveria ser a dedicação
dos dirigentes religiosos aos crentes das várias congregações locais.
Julgo
que Jesus dá a maior ênfase à familiaridade entre o pastor e suas ovelhas, pois
este não se preocupa em contar as suas ovelhas. O pastor não conhece somente o
seu rebanho e sabe quantas ovelhas tem, mas conhece cada uma pelo seu nome,
conhece pessoalmente cada uma das suas ovelhas e os seus problemas, e as
ovelhas também conhecem bem o seu pastor.
Mas,
vendo que os judeus não compreenderam, o Mestre desenvolve o seu pensamento.
2. Pastor ou
mercenário
Esta passagem é bem conhecida entre católicos, evangélicos e protestantes mas geralmente fala-se muito sobre as características do pastor e pouco ou quase nada se diz sobre os mercenários. Será que o assunto está ultrapassado? Já não há mercenários no nosso tempo?
Julgo
que o Mestre desenvolve mais a ideia do mercenário do Templo, das sinagogas ou
das igrejas do que a ideia do verdadeiro pastor. Neste paralelo de ideias o
verdadeiro dirigente religioso só é comparado ao dedicado pastor de animais,
enquanto o falso dirigente é comparado ao ladrão, ao salteador e ao mercenário.
Examinando
o contexto desta parábola, que é a cura do cego que foi expulso do Templo, julgo
ser importante para a sua compreensão, alguma informação sobre o pastor.
Refiro-me ao verdadeiro pastor de animais, e sobre as ovelhas nesse contexto
histórico em que Jesus viveu.
3. Semântica de
algumas palavras no contexto cultural em que Jesus viveu.
3.1 Ovelha
A
ovelha é um animal doméstico muito utilizado na Ásia menor já nessa época.
É
um animal dócil, submisso, sem grandes possibilidades de se defender dos predadores,
ficando praticamente dependente dos seus donos. Ao contrário da cabra, a ovelha
não tem grande capacidade de orientação. Vemos que Jesus conta a história da
ovelha perdida e não da cabra perdida.
3.2 Lobo
Nos
nossos dias, quando se fala do lobo, pensamos num animal em vias de extinção,
cuja sobrevivência tem de ser defendida pela nossa legislação em Portugal e
julgo que em quase toda a Europa. O lobo até se tornou “simpático” ou pelo
menos digno da nossa simpatia, pois se tornou vítima indefesa perante outro
predador muito mais perigoso, o próprio ser humano.
Mas,
na época em que que Jesus viveu, o lobo era um terrível predador que ameaçava
não só animais domésticos como o próprio homem, principalmente quando se
juntava em perigosas alcateias. Numa época em que ainda não havia armas de
fogo, eram necessárias construções para defesa do ser humano e animais
domésticos dos ataques dos lobos e outros animais selvagens.
3.3 Curral das ovelhas
Jesus
refere-se a uma dessas construções nos versículos em estudo. Era geralmente um
recinto circundado por um sólido muro de pedra, com alguns metros de altura,
coroado por ferros aguçados e cortantes, com só um portão de entrada, pesado e
forte. Era nesse local, que durante o inverno, vários rebanhos se juntavam,
estando assim protegidos não só dos lobos como das hienas, panteras, leopardos,
chacais etc.
No
seu interior, as ovelhas juntavam-se e circulavam livremente, misturando-se os
vários rebanhos durante todo o inverno.
É
natural que alguém me pergunte: Então, se houver centenas de ovelhas, quando
determinado pastor as vier buscar, como saberá quais são as suas ovelhas?
Também estavam marcadas como nos nossos dias com uma pequena chapa de
identificação dos Serviços de Veterinária?
Não.
O método de identificação era outro, como Jesus nos indica. O pastor chamava
pelas suas ovelhas e só as suas ovelhas é que respondiam à chamada do seu
pastor. Certamente que o guarda, responsável pelo curral observava, atento ao comportamento das ovelhas, para só deixar sair as
que reconhecessem a voz do seu pastor.
Isto
poderá parecer um tanto estranho e difícil de aceitar por quem nos nossos dias
mora numa cidade e não conhece os trabalhos do campo. Mas a esses pergunto: Se
alguma vez tiveram de deixar o seu cãozinho ou o seu gato numa clínica
veterinária, será que quando o foram buscar tiveram alguma dificuldade em
identificar o seu cão ou gato entre tantos outros?! Certamente que não, pois
bem conhecem o seu animal e este também conhece o seu dono e se alegra quando o
seu dono o vai buscar, pois estará ansioso por voltar para casa.
Como
nos podemos admirar de que o pastor consiga identificar todas as suas ovelhas
entre tantas outras?! Ele cuidou delas desde o dia em que nasceram e elas se
habituaram à voz do seu pastor desde tenra idade, voz que nunca mais esquecem.
3.4 Pastor na época de
Jesus
Nos
nossos dias a profissão de pastor de animais está também em vias de extinção,
pois a maior parte dos animais nasce encarcerada, mas não lhe falta
alimentação, primeiro para crescer e depois para engordar e a única viagem que
faz é para o matadouro. Mas ainda há alguns verdadeiros pastores em Portugal
nas zonas montanhosas, nas ilhas dos Açores e principalmente em África e em
muitas zonas do Brasil. Mas o que mais nos interessa para o nosso estudo é o
pastor a que Jesus de referiu, ou seja, o pastor na época e cultura em que
Jesus viveu, que não nos sugere uma cena bonita, calma e edificante como muitos
imaginam.
O
historiador Joaquim Jeremias, no seu livro “Jerusalém no tempo de Jesus”,
traduzido do alemão e editado pela Paulus, transcreve
quatro listas dessa época, com as profissões consideradas desprezíveis e em
duas dessas listas aparece a profissão de pastor.
Nem
sempre o pastor era o dono dos rebanhos, pois havia os que trabalhavam para o
seu patrão, o dono das ovelhas. Era esse o caso dos mercenários a que Jesus se
referiu.
Nessa
época, os pastores eram considerados desonestos, ladrões, acusados de levar os
rebanhos a pastar em propriedades alheias e de se apoderar de parte da lã e do
leite a ponto de ser proibido, pela legislação da época, comprar estes produtos
directamente aos pastores que não fossem os donos dos animais.
Julgo
que também tenha contribuído para a má fama dos pastores o facto de, durante a
época das pastagens, terem de passar muitos dias junto aos animais que
guardavam dia e noite e a dificuldade em cumprir todas a abluções mencionadas
na Lei de Moisés num contexto cultural em que a higiene estava relacionada com
a espiritualidade e a falta de higiene com o pecado, como era a mensagem
veterotestamentária. Também, se estivessem longe do curral, duvido que ao
sábado deixassem as ovelhas à fome, transgredindo assim o sábado.
4 Contexto
teológico da parábola
Jesus
estava perante os fariseus, que eram escrupulosos cumpridores da Lei de Moisés
e que O acusavam de ter curado um cego num sábado, dia em que era proibido
qualquer trabalho de acordo com a Lei veterotestamentária que, como já
vimos, punia o transgressor com a pena de morte.
Nessa época,
como através dos tempos em geral, sempre que o povo se afastou de Deus e
entregou a religião aos seus “profissionais”, acabou por ser vítima dos
dirigentes religiosos que o explora e mantem submisso em nome da religião.
Claro que,
quando são os dirigentes religiosos que falam em nome de Deus, todas as leis e
tudo que é efectuado “em nome de Deus”, será para benefício dos próprios
dirigentes religiosos e não do povo. Nisso são muito semelhantes aos políticos
dos nossos dias.
A maior e pior
ditadura, é a “ditadura teológica”, quando os crentes se afastam da religião e
permitem que exclusivamente os dirigentes religiosos falem em nome de Deus,
pois assim ficam acima de qualquer crítica. Foi esse o caso de Moisés que
estabeleceu a sua “dinastia teológica” Decálogo – Dez Mandamentos (CC) ou Aarão ou Arão e
o Bezerro de ouro (CC), ou David ou Davi (CC) e duma
maneira geral de todos os antigos reis de Israel que mantinham o povo pobre e
humilde para não conseguir reagir à exploração pela religião.
No Velho
Testamento, cerca dos anos 600 a 500 AC aparecem alguns profetas que reagem à
exploração do povo, em nome de Deus, pelas “autoridades religiosas” mas a
primeira grande reacção a esta cultura de exploração em nome da religião foi a
de João Batista, contemporâneo de Jesus Cristo, assunto que abordamos no nosso
artigo João
Batista (CC).
Certamente
que as autoridades religiosas da época de Cristo, não poderiam permitir que as
novas ideias que punham em causa os privilégios dos levitas, fossem livremente
divulgadas. Primeiro foi João Batista que se rebelou contra a exploração do
povo em nome da religião, mas nesta altura, até um pobre e indefeso cego que
nem poderia entrar no salão principal do Templo devido à sua deficiência,
estava agora transformado a ponto de debater teologia com os próprios fariseus!
5. Parábola do bom pastor João
10: 07/16
Vejamos
mais detalhadamente a parábola em estudo com base na tradução da TEB.
7
Jesus prosseguiu: Em verdade, em verdade, eu vos
digo, eu sou a porta das ovelhas. 8
Todos os que vieram antes de mim são ladrões e
assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram.
9
Eu sou a porta: se alguém entra por mim, será
salvo, sairá e voltará e achará com que se alimentar.
10
O ladrão só aparece para roubar, matar e levar à
perdição; eu vim para que os homens tenham a vida e a tenham em abundância.
11
Eu sou o bom pastor: o bom pastor se despoja da
própria vida por suas ovelhas. 12
O mercenário, que não é verdadeiramente pastor e
a quem as ovelhas não pertencem, ao ver chegar o lobo, abandona as ovelhas e
foge; e o lobo se apodera delas e as dispersa.
13
É que ele é mercenário e pouco lhe importam as ovelhas.
14
Eu sou o bom pastor, eu conheço as minhas
ovelhas, e as minhas ovelhas me conhecem, 15
como o meu Pai me conhece e eu conheço o meu Pai;
e eu me despojo da vida pelas ovelhas.
16
Eu tenho outras ovelhas que não são deste redil, e
também estas é preciso que eu conduza; elas ouvirão a minha voz, e haverá um só
rebanho e um só pastor.
Certamente
que Jesus utilizou esta parábola para ilustrar a sua ideia de acordo com a
cultura em que estava e também os seus ouvintes a interpretaram de acordo com
essa cultura. Assim, também nós, teremos de “ouvir
Jesus” no seu contexto histórico e cultural.
Este
pormenor é muito importante, pois temos aqui muitos personagens e muitos
pormenores. Será que tudo isto tem o seu significado alegórico?
Segundo as
regras da hermenêutica, uma parábola é uma figura de retórica que se destina a
ilustrar uma ou mais afirmações em que, para a sua correcta interpretação é
necessário procurar o seu objectivo tendo em conta o motivo da sua utilização,
para destacar somente as principais afirmações da parábola, deixando de lado
tudo que serve somente de adorno ou complemento da narração.
Vr. 7 Jesus prosseguiu: “Em verdade, em verdade, eu vos digo, eu
sou a porta das ovelhas”.
Jesus
identifica-se com a porta do curral das
ovelhas.
Como
vimos, o curral das ovelhas era um local bem protegido, que tinha uma única
porta. Tratava-se dum sólido e pesado portão que, quando encerrado, impedia a
passagem de animais ou pessoas indesejadas.
Nesta
parábola há também um porteiro, mas Jesus não é o porteiro, Ele próprio é a
porta, o único caminho legal para entrar ou sair do curral das ovelhas.
Encontrei uma certa unanimidade nesta interpretação. Jesus é a porta, símbolo
da entrada no seu reino.
Para
quem medita na sua mensagem, julgo significar que, devemos dar toda a ênfase ao
que for genuinamente o pensamento do Mestre, embora possa haver muitos
pensamentos úteis e edificantes sobre as suas parábolas e a sua mensagem em
geral que não sejam propriamente pensamentos de Jesus.
Como
vimos no vr. 1, o mercenário não entra pela porta do
curral, mas “…mas sobe por outra parte…”. João 10:01
Será que esta acusação de subir ou escalar o muro de vedação do curral das
ovelhas tem alguma relação com o falso pastor que também “sobe” na hierarquia
da sua igreja de maneira fraudulenta, à custa dos crentes e de outros
pastores?! Há quem veja aqui, também um paralelo de ideias, mas pessoalmente
tenho dúvidas de que fosse essa a intensão do Mestre, mas não deixa de ser uma
ideia interessante.
8
Todos os que vieram antes de mim são ladrões e
assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram.
Algumas
traduções tentam explicar esta afirmação do Mestre.
A
Bíblia de Jerusalém tem uma “chamada” afirmando que provavelmente tratava-se duma referência aos fariseus.
A
própria TEB (na edição completa com todos os comentários da TOB)
tem uma “chamada” em que afirma: Não se
trata dos profetas do A.T. mas de homens que, tanto no
mundo judeu como no mundo pagão, pretendiam por seus próprios meios levar aos
homens o conhecimento das coisas divinas e a salvação.
Não
é fácil encontrar uma explicação credível deste versículo. Sou crente há mais
de cinquenta anos, já ouvi muitas pregações, mas não me lembro de alguma
pregação sobre este versículo. A maior parte das “explicações” sobre este
versículo tenta culpar os fariseus, seita muito prestigiada inicialmente, mas
que na época de Jesus já se tornara fanática fundamentalista e se desviara dos
seus ideais. No entanto o Mestre é bem claro como podemos ver em várias
traduções. Ele refere-se a todos os que vieram antes dele, portanto não
foram só os fariseus.
A
parábola não nos permite limitar a palavra “todos” ao grupo
dos fariseus, pois se são somente os fariseus, então não serão todos. Não vejo
que possamos excluir algum dos que consideramos os grandes personagens
veterotestamentários. O único profeta que poderíamos excluir seria João Batista
que foi contemporâneo de Cristo, portanto, veio na mesma época e não antes.
A
mesma palavra todos
também aparece em Romanos 3:23
e Romanos
5:12
e temos de aceitar a sua interpretação, por mais que nos custe. Os profetas do
Velho Testamento também aqui estão incluídos.
Há
algumas poucas explicações para este versículo, mas os argumentos não me
parecem muito sólidos.
1) Se, de acordo com as regras da hermenêutica,
enquanto for possível, é necessário tomar as palavras no seu sentido usual e
ordinário, então, a expressão de Jesus …antes de mim… deve
referir-se a todos os dirigentes religiosos do VT.
Não podemos deixar de colocar esta interpretação em primeiro lugar, embora a
mentalidade veterotestamentária considere muitos desses personagens do Velho
Testamento como intocáveis. Assim, a palavra todos
teria o mesmo significado que em Romanos 3:23
onde não há excepções. Refere-se a todo o grupo dos dirigentes religiosos que
vieram antes de Cristo.
2)
Só os fariseus.
É
a vulgar interpretação, mas que julgo pouco credível, pelos motivos já
apresentados.
3)
Antes de mim…
podemos subentender que seria desde que se previu a vinda do Messias.
A
vinda de Jesus foi prevista por Isaías 7:14
ou Isaías
9:6
cerca 700 anos antes de Cristo. Ou Zacarias 9:9
a 500 anos antes de Cristo e algumas outras passagens dessa época.
Será que Jesus se refere a essa
época em que, segundo algumas opiniões, houve um certo vazio de profecias? O
historiador Josefo afirma que nessa época “Enquanto os ladrões enchiam
Jerusalém de crimes, os magos, por seu lado, enganavam o povo e o levavam ao
deserto, prometendo-lhe mostrar milagres e prodígios. Mas Félix castigou-os
imediatamente, por sua loucura; mandou prender e matar a vários.”
4) Transcrevemos a interpretação do
“Grande Comentário Bíblico do Evangelho de São João”, interpretação que
consideramos pertinente:
A
declaração de Jesus é muito dura. Os que se atribuíram a liderança sobre o povo
usaram da dominação e da violência para explorá-lo. O presente “são”, em vez de
um passado, refere o dito de Jesus, sobretudo, à sua época contemporânea. Mas
as ovelhas não lhes fizeram caso. O povo está submetido pelo medo e não por
convicção.
Concordo que foi esse o comportamento
dos dirigentes religiosos do Velho Testamento através dos tempos, opinião que
aliás coincide com as de outros historiadores, inclusive Joaquim Jeremias. (a) Mas também vejo que a própria Lei de Moisés proporcionava o
fundamento teológico para essa violência, bem como a exploração do povo a favor
dos levitas, o racismo, a forte discriminação da mulher, a escravatura, a pena
de morte, a falta de liberdade religiosa etc,
aspectos que têm fundamento bíblico veterotestamentário, mas geralmente falta a
coragem para os abordar. Nalguns casos, foi a lei de Moisés que obrigou a
praticar crimes que até repugnavam aos próprios militares de Israel, como
podemos ver em Números
31:07/18
5) Eu penso que nesta parábola há duas
comparações. Em primeiro lugar Jesus se apresenta como a porta das ovelhas e em segundo lugar como o bom pastor.
Neste versículo 8, tudo indica que o pensamento do Mestre se refira ao facto dele ser a porta, pois é essa a palavra que está, tanto no versículo anterior, o 7, como no versículo seguinte, o 9.
Qual era a porta no
Velho Testamento? Qual o caminho para Deus o Pai? O que ensinavam no Templo e
nas várias sinagogas? O único caminho para o Pai era pela “santidade
genealógica” ser “filho de Abraão” e pelo cumprimento escrupuloso de toda a Lei
veterotestamentária, que incluía muitas leis que Jesus rejeitou. Transcrevemos
algumas dessas leis no fim deste artigo.
Todos esses que no passado se
apresentavam como o caminho para o Pai são ladrões e
assaltantes. Apresentavam-se como intocáveis, mas
escravizavam o povo e exploravam-no para seu proveito próprio, num contexto cultural
onde não havia liberdade de expressão e qualquer heresia era punida com a pena
de morte, sendo todo o povo mobilizado para matar o desgraçado. (Ver nosso
artigo Direito à
heresia (CC)).
9
Eu sou a porta: se alguém entra por mim, será salvo,
sairá e voltará e achará com que se alimentar.
Este
versículo tem de ser lido no contexto dos anteriores.
Jesus
era e continua a ser, não uma porta, mas a porta
para fugir aos horrores do fanatismo oportunista dos levitas que encontramos em
quase todo o Velho Testamento.
Portanto,
um bom pastor é aquele que entra por Jesus Cristo e que se torna “parecido com
o Mestre”. Julgo que é possível um pastor ter boa preparação teológica, um
pastorado de “sucesso”, quando a igreja local manifesta bom crescimento do
número de crentes e crescimento económico, estar absolutamente correcto na sua
teologia, mas ser ladrão e assaltante se for
autoritário, insensível, egoísta, e o oposto à mentalidade do Mestre, pois pode
ser “parecido com Moisés” e faltar-lhe o principal. Esta pode ser a explicação
para as igrejas que crescem rápido, mas cedo se desfazem em nada. Lembro-me
duma igreja em Goiânia com um pastor com boa preparação teológica, que cresceu
muito para depois fracassar quase dum dia para o outro e esteve quase a fechar
as suas portas até que apareceu um pastor idoso e já aposentado que tomou conta
dessa igreja, mesmo sem vencimento. É fácil saber qual destes pastores é
parecido com Jesus.
Somente
a semelhança com Jesus define o que seja o bom Pastor (ou o bom crente). O bom
pastor dos nossos dias, em vez de se apresentar como uma porta, deve encaminhar as ovelhas para a
única porta que é Jesus o Cristo.
Jesus
é a única e suficiente “porta”, é a porta
de acesso ao seu Reino. Cada igreja (denominação), tem
os seus regulamentos ou rituais para admissão dos novos membro dessa igreja,
mas entrar para a Igreja de Cristo é outra coisa. Não vamos, de maneira alguma, diminuir o trabalho das várias igrejas de encaminhar as
pessoas a Cristo, mas o nosso único Mestre não prescinde de ser a única e toda
suficiente porta de entrada no seu Reino. Não é por terem cumprido todos os
rituais de determinada igreja, por vezes bem complicados, que se conhecem os
verdadeiros cristãos, mas por um pormenor muito simples, pelo seu
comportamento, por serem parecidos com Cristo em ambiente secular.
10
O ladrão só aparece para roubar, matar e levar à
perdição; eu vim para que os homens tenham a vida e a tenham em abundância.
Não só
nessa época como através dos tempos, o serviço nas sinagogas e nas igrejas tem
sido uma tentação para que os dirigentes religiosos procurem resolver os seus
próprios problemas, servindo-se das ovelhas. Quanto mais pobre e humilde for o
povo, mais “rentáveis” as igrejas.
Este
versículo 10 está em sintonia com outras passagens em que Jesus manifesta a sua
opinião sobre o pastor tipo mercenário.
Não
podemos esquecer Mateus 23:14 s bem
como João
2:14/17 em que Jesus manifesta a sua opinião sobre o pastor-mercenário do seu
tempo e de todos os tempos.
Roubar – A maior prioridade para o
pastor-mercenário é o aspeto económico. Nas suas pregações, Cristo deixa de ser
a prioridade para passar a ser a contribuição, o dízimo e procura todos os
pormenores para receber o máximo que puder. Prega mais sobre o Velho Testamento
e evita certas passagens neotestamentárias, nomeadamente os exemplos de Paulo
ou de João Batista. Se a igreja for pequena e não puder sustentar o pastor,
este logo a abandona para procurar outra mais rentável. É o tipo de pastor que
sobrevive à custa das ovelhas.
matar e levar à perdição - O mercenário leva à morte
espiritual e intelectual da ovelhas.
Em certos
aspectos o mercenário mata espiritualmente as ovelhas. Em vez de incentivar o
trabalho das ovelhas, tomará conta de todos os cargos na igreja de forma a tudo
controlar.
…eu vim para que os
homens tenham a vida e a tenham em abundância.
Ao
contrário de Paulo nas suas viagens missionárias, que ainda hoje é possível
reconstituir por algumas ruínas da via romana, que passava pelas cidades de
Éfeso, Laodiceia, Filadélfia, Sardes, Tiatira, Pérgamo e segundo os historiadores, Paulo ficou
cerca de um ou dois anos em cada cidade, organizando essas igrejas a partir do
nada, certamente incentivando e preparando colaboradores de Jesus, nessas
igrejas que ao fim desse curto tempo deixou já bem organizadas, o
pastor-mercenário faz precisamente o contrário. Onde houver pequenas igrejas já
organizadas, o mercenário começa por tomar conta de todos os cargos nas
igrejas, transformando os principais colaboradores em simples assistentes, de
forma a tornar-se, ele próprio, “imprescindível” na igreja. Penso que é assim
que os mercenários dos nossos dias “matam” as ovelhas.
Lembro-me
dum crente do Recife que um dia afirmou. Já
não me sinto ovelha do Senhor… Agora estou transformado em simples ovelha do
pastor e o meu trabalho é dar lã e estar calado.
11
Eu sou o bom pastor: o bom pastor se despoja da
própria vida por suas ovelhas.
Eu nasci na antiga Lourenço Marques, actual Maputo, a capital de
Moçambique num hospital da chamada Missão Suíça, hospital mantido pelas igrejas
presbiterianas da Suíça de língua francesa. Mais tarde, conheci alguns
missionários suíços e portugueses dessa missão, pessoas com boa preparação que
deixaram uma cómoda vida na Suíça para viverem a sua vida não só na capital de
Moçambique como nas suas igrejas locais no interior do Sul de Moçambique.
Jesus deu
a sua vida pelas suas ovelhas. Será isso possível nos nossos dias?!
Esta
alegoria da ovelha, encontramos também no Velho Testamento em Ezequiel e em Isaías 40:11
Através dos tempos, Deus tinha observado como os seus sacerdotes levíticos que
já nessa época (500 anos antes de Cristo), deturpavam a sua mensagem a favor
dos seus próprios interesses e prometera enviar o bom pastor. Agora, Jesus se
identifica com essa promessa. Chegou finalmente o Bom Pastor.
12
O mercenário, que não é verdadeiramente pastor e a
quem as ovelhas não pertencem, ao ver chegar o lobo, abandona as ovelhas e
foge; e o lobo se apodera delas e as dispersa. 13
É que ele é mercenário e pouco lhe importam as ovelhas.
Nos
nossos dias o lobo e outros animais selvagens já não são um verdadeiro problema
na Europa. O nosso problema é bem diferente. Se o lobo não tivesse protecção da
nossa legislação em Portugal, já seria um animal extinto. (b) A solução para defesa do próprio lobo foi
indemnizar o pastor por cada ovelha devorada pelos lobos.
Em
África, onde o perigo não é o lobo, mas outros animais ainda mais perigosos
como o leão, leopardo etc. costumam deixar do lado de fora o boi ou a vaca mais
velha e menos valiosa para as feras a devorem sem tentar saltar para dentro do
curral que apesar dos vários metros de altura, nem sempre consegue evitar a
entrada dos leões.
O
principal problema a que Jesus se refere é a ligação do verdadeiro pastor aos
seus animais, pormenor que não se encontra no mercenário.
No
contexto cultural em que Jesus viveu, a maior parte dos pastores eram donos das
ovelhas, mas havia também os mercenários que tomavam conta das ovelhas do seu
patrão. Certamente que haveria mercenários que cumpriam as suas funções e se
dedicavam aos animais a seu cargo. O que Jesus condena é a atitude do
pastor-mercenário que só se preocupa com o seu salário e abandona as ovelhas
quando há perigo ou outras dificuldades. Mas, será que se poderia esperar outra
atitude de quem não é dono das ovelhas? Que desse a sua vida em troca dum
modesto salário de pastor de ovelhas?
Penso
que o “lobo” dos nossos dias podem ser as dificuldades económicas dos crentes,
quando o pastor-mercenário abandona a igreja que não pode manter o nível do seu
salário. Se esse não for o pastor que fundou a igreja e que a viu crescer, bem
como todos os seus membros, se for um simples pastor que a igreja contratou
para esse trabalho, certamente que se irá embora se a igreja não lhe der o
salário que contratou.
O
pastor-mercenário fala porque tem a profissão de pregar, mas sem o poder do
Senhor, embora possa berrar bem alto. Incentiva a evangelização e a
contribuição com argumentos que aprendeu no seminário, mas ele próprio, nunca
traz nenhum visitante, fruto do seu próprio evangelismo pessoal.
Outro
“lobo” dos nossos dias pode ser a própria pregação. O pastor-mercenário prefere
apresentar uma mensagem mais “demagógica” para agradar à assistência e assim
garantir o seu “emprego”. Se houver falhas graves no comportamento dos crentes,
prefere ignorá-las, em especial se forem dizimistas, para não afectar a
rentabilidade da igreja e o seu salário ao fim do mês.
É
preciso deixar tudo para ser um bom pastor, que tem de se dedicar às ovelhas 24
horas por dia. Tem de viver permanentemente com os seus animais, inclusive
dormir ao lado das suas ovelhas. O Mestre diz que o pastor duma igreja também
deve ser assim. Não pode ter horário de trabalho. Conheço pastores cujo telemóvel
(celular) está sempre a tocar.
14
Eu sou o bom pastor, eu conheço as minhas ovelhas, e
as minhas ovelhas me conhecem, 15 como o meu
Pai me conhece e eu conheço o meu Pai; e eu me despojo
da vida pelas ovelhas.
Jesus
dá a maior ênfase ao mútuo conhecimento que o bom pastor tem das suas ovelhas
assim como as ovelhas conhecem o seu pastor. Refere-se certamente ao vulgar
pastor dessa época, que é o dono das ovelhas, que assistiu ao nascimento das
ovelhas e que as criou desde pequenas e indefesas.
Também
para cada ovelha que nasce, a primeira visão que tem deste mundo é certamente a
da ovelha mãe e do seu pastor. É a imagem que ficará “gravada” para sempre no
animal, que instintivamente sempre a irá buscar em caso de perigo ou
desorientação. Há uma perfeita sintonia entre a ovelha e o seu pastor que o
Mestre apresenta como um exemplo do que é a relação entre Ele e o Pai e também
deveria ser a relação entre todos nós e o nosso único Pastor.
Lembro-me
dum caso, também passado em Moçambique, quando já há alguns anos houve uma
grande cheia no rio Limpopo que inundou todo o seu vale com vários quilómetros
de largura a ponto de nalguns locais perderem de vista a terra firme. Algumas
populações das margens desse rio, que viviam da agricultura e pecuária refugiaram-se
em locais um pouco mais altos e ficaram isoladas pelas águas que continuavam a
subir. Todos estavam em risco de morrer afogados. O Governo de Moçambique
enviou barcos para pelo menos salvar os habitantes dessas zonas.
Foi nessa
altura trágica que alguns pastores responderam: Nós sempre fomos pastores, como os nossos pais e nossos avós. Vivemos
para servir estes bois, cabras e outros animais. Um pastor não pode abandonar
os seus animais. Se eles não forem salvos, nós também não vamos. Temos de
morrer com eles.
Nunca mais
tive notícias dessa gente. Possivelmente morreram os últimos verdadeiros
pastores a que Jesus se referia.
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Eu tenho outras ovelhas que não são deste redil, e
também estas é preciso que eu conduza; elas ouvirão a minha voz, e haverá um só
rebanho e um só pastor.
Quais
seriam essas outras ovelhas que Jesus previu que iriam reconhecer a sua voz e
unir-se ao seu redil?
Como
disse de início, para compreender o Mestre, temos de ouvi-lo no seu tempo.
Jesus não falava para cristãos do século XXI, mas para judeus da sua época e
cultura na qual se expressou.
O
que ensinava a teologia dessa época? A salvação era pelo cumprimento da Lei de
Moisés e pela genealogia. Para pertencer ao Reino de Deus era necessário ser
judeu e cumprir os mandamentos. Os estrangeiros nem podiam entrar no salão
principal do Templo de Jerusalém e teriam de ficar fora, no pátio dos gentios,
assim como as mulheres no pátio das mulheres.
As
outras ovelhas
a que Jesus se referiu eram certamente os gentios, cujo número acabou por
exceder em muito o número dos judeus.
As
duras palavras de Jesus aos “religiosos” que escorraçaram o cego que o Mestre
curou ao sábado, acusando os dirigentes religiosos de serem …ladrões e assaltantes… João 10:08
certamente que dividiram os assistentes.
E muitos deles diziam: Tem demónio, e perdeu o juízo; por que o
escutais? Enquanto outros respondiam Essas palavras não são de quem está endemoninhado; pode porventura
um demónio abrir os olhos aos cegos?
João
10:20/21
Era a voz do Bom Pastor
a dividir as ovelhas. As suas respondiam à chamada, enquanto as outras o
rejeitavam.
6 – Conclusão
No
mundo da informação em que vivemos, afinal, como identificar a voz do bom pastor nos nossos dias?
Também
nós, como crentes, que conhecem a Cristo, temos uma forma de conhecer a sua
Palavra que não sei explicar, mas é uma realidade de todos que conhecem o nosso
Pastor.
Os
contemporâneos de Cristo podiam identificá-lo pela sua voz, tal como as
ovelhas, mas nós não temos esse privilégio.
Todos
os dias, chegam-nos mensagens e informações, pelos mais diversos meios. Pelos
livros e jornais, pelos correios, pela rádio e TV ou internet. Muitas dessas
mensagens pretendem ser a voz do nosso Pastor. Então, como distinguir a voz do
verdadeiro Pastor?!
Tradicionalmente
conhecia-se que determinado documento era genuíno pela letra (caligrafia) mas
se vier pela internet é o computador que escreve e esse método, na maior parte
dos casos, já deixou de funcionar. Também poderíamos ver pela assinatura, mas
essa pode ser falsificada.
Mas,
há um método que sempre funciona, mas só para aqueles que O conhecem e já aceitaram
a sua mensagem e os exemplos que o Mestre nos apresentou.
Só
esses estarão em condições de compreender se determinado pensamento ou atitude
estará em sintonia com o pensamento e os ideais do nosso Único Pastor estando
portanto, também em sintonia com o Pai.
Podemos
indicar alguns exemplos, que por vezes nos são apresentados como voz do nosso
pastor. São passagens do Velho Testamento que muitos que se consideram crentes
maduros e espirituais dizem ser a Palavra de Deus, eterna e imutável, em perfeita
sintonia com o pensamento de Jesus.
Os
judeus do tempo de Jesus conheciam bem essas passagens e possivelmente muitos
deles já tinham sido obrigados a apedrejar outros judeus até à morte, em
cumprimento da Lei de Moisés. Eles examinavam as Escrituras do seu tempo, o
Velho Testamento, pois julgavam conseguir assim a vida eterna João 5:39
pois consideravam-se salvos devido à sua genealogia e rigoroso cumprimento de
Velha Lei. Era o contexto cultural em que viveram os apóstolos até encontrarem
o Mestre. Pedro ultrapassou este problema ao afirmar a Cristo …para quem iremos
nós? Tu tens as palavras da vida eterna. João 6:68.
Perante
algumas passagens veterotestamentárias como: Êxodo 21:7, Êxodo 22:18, Êxodo22:20, Levítico 20:27, Levítico 21:9, Levítico
21:17/21,
Levítico 24:16, Deuteronómio
13:6/11,
Deuteronómio
23:2, 1º Samuel 15:32/35,
Salmo 137:8/9.
Em comparação com
as conhecidas passagens neotestamentárias como Mateus 5:01/11, Mateus 5:43/46, Lucas 6:24/29 , João 08:03/07, coloco
as seguintes perguntas:
Há muitos entendidos em
religião que conseguem ver uma perfeita sintonia entre todas estas passagens,
pois é tudo Palavra de Deus eterna e imutável, do Génesis ao Apocalipse.
Mas há outros, que
mesmo sem nada perceberem de teologia, vêm uma grande diferença, pois basta
conhecer a Cristo, e quem vê a Cristo vê o Pai.
Será tudo isto a mesma
“voz”? Serão todas estas passagens a “voz” do Teu Pastor?!
Entre tantas ovelhas e
tantos rebanhos, qual o teu “rebanho” e qual a voz do teu Pastor?
Camilo
– Marinha Grande, Portugal
Junho
de 2015
Estudos bíblicos sem
fronteiras teológicas
(a) Sobre a situação do povo em Israel na época de
Jesus, veja também o artigo João Batista (CC)
(b) Nos nossos dias a opinião pública até já é favorável à defesa do lobo.
Veja por exemplo http://www.publico.pt/noticias/jornal/cacadores-portugueses-participam-no-abate-de-lobos-junto-a-fronteira-154100 que é uma entre muitas outras informações sobre o assunto disponíveis na
internet.
Literatura consultada
Várias
traduções da Bíblia, nomeadamente a TEB, Jerusalém, BPT.
Jerusalém no tempo de
Jesus Por Joaquim Jeremias – Edições Paulinas
O Evangelho de São João
–
Grande Comentário Bíblico – Edições Paulinas
Todos
os comentários a este artigo, para eventual publicação, deverão ser enviados
para ---
acompanhados da sua identificação, salvo se já for colaborador desta página.
COMENTÁRIOS RECEBIDOS
David de Oliveira
– Goiânia, Brasil
Junho
de 2015
Eu,
pessoalmente, considero “mercenário”, todo aquele indivíduo que se escora numa
comunidade religiosa para que esta lhe sustente e à sua família com
proventos regulares. Em qualquer congregação que tem como motivo mencionar (estudar
e comentar), o evangelho de Jesus, não há necessidade de se ter a presença de
um indivíduo profissional com o título de “Pastor”. Isto é um vocábulo/metáfora
que deve ser transliterado para os nossos dias e não precisamos de seu
rudimentar significado. A mistificação das metáforas proferidas por Jesus e as
suas não transliterações é que levou a verdadeira Igreja à situação a que
se encontra hoje, na posição de Empresas religiosas.
Uma
das formas de fundamentalismo religioso é levar ao pé da letra tudo o que se
encontra na bíblia. Quando Jesus disse: “Na casa de meu Pai há muitas moradas”,
o disse a uma população que não sabia nada a respeito do universo. Hoje, talvez
dissesse: “No universo onde meu Pai gosta de estar há muitas galáxias e entre
estas, há vários sistemas solares com muitos planetas habitáveis”.
Quanto
a João 10:08 Todos os que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as
ovelhas não os escutaram.
Todas
as pessoas que exerceram ensinos religiosos em Israel “antes de Jesus” foram os que colaboraram genericamente para que o
cânon do Velho Testamento, como o conhecemos hoje se fizesse conhecido.
O
Velho testamento foi escrito pelos escribas e mestres judeus; não podemos nos
esquecer disso. Se o aceitarmos completamente como “Escritura Inspirada”, do
jeito que os crentes ingênuos compreendem estaremos depositando toda a
confiança de inspiração divina nessa classe religiosa. Isso é muito temerário.
Eu
entendo nesse ponto particular (até que me convençam do contrário), que Jesus
está se referindo a “todas as pessoas que ocuparam posições de destaques ou
autoridades em ensinos religiosos de Israel, desde os anjos que trouxeram a Lei
dos judeus aos: mestres, profetas, sacerdotes,
sumo-sacerdotes etc.”.