A MAIS
VALIOSA OFERTA DE NATAL (CC)
Estamos novamente no Natal, novamente
nas lojas enfeitadas, nas músicas natalícias, nas compras, nos presentes, nas
longas viagens e na confusão dos engarrafamentos do trânsito.
Talvez sempre tenha sido assim, desde
que Jesus veio a este mundo nesse primeiro Natal.
A paz e a calma, que ingenuamente alguém
procure na descrição que os evangelhos fazem do nascimento de Jesus, parece que se desfaz com uma leitura mais atenta.
José e Maria, apesar do seu adiantado
estado de gravidez, para cumprirem as leis do recenseamento, tiveram de fazer
uma viagem da Galileia até Belém, cerca de cento e cinquenta quilómetros, que
correspondiam a uma longa, perigosa e fatigante viagem.
Parece que esta época está destinada a
ser a época de viagens mais ou menos longas. Alguns viajam dentro do próprio
país e outros vêm da França da Alemanha e até de mais longe
Segundo a tradição, Maria teria viajado
num burrito, mas a Bíblia limita-se a dizer que foram da Galileia a Belém, sem
entrar em mais pormenores. É no entanto possível que José, operário de nível
médio, tivesse um burro, que na nossa realidade bem podia corresponder a
um “mini-qualquer-coisa” de alguns dos nossos
operários.
Segundo nos conta Lucas, Jesus nasceu em
Belém e Maria envolveu-o em panos e deitou-o numa manjedoura, por não
conseguirem arranjar lugar em casa. Não sabemos quanto José terá pago por estas
precárias condições, mas este é outro aspecto que se mantém desde o primeiro
Natal. A oportunidade de negócio para muitos. Não só no comércio. É também a
época do “quem dá mais” por um pequeno quarto, mesmo sem condições de
salubridade.
Jesus nasceu para dar a sua vida em
resgate do homem pecador.
Será também o Natal, época de dádivas
generosas e desinteressadas ao nosso semelhante?
Todos nós recordamos os presentes de
Natal que recebemos durante a nossa infância. Eu recordo a bicicleta que me deu
a minha tia Júlia, o jogo de mecânica com que aprendi a aparafusar e juntar as
peças, mas há um presente especial a que me quero referir.
Não é história de Natal, que nunca tive
jeito para as contar. Tomaria eu, saber sentir a nossa realidade bem mais
interessante que quantas histórias pudesse arranjar,
saídas da minha fraca imaginação.
No Natal de 1965 estava eu em Macau e Hong-Kong. Apesar da ilusão de felicidade dada pela
iluminação deslumbrante e pelo movimento nas ruas, sabia que a realidade por
detrás das fachadas dos bonitos prédios era bem diferente. É que nessa altura
namorava uma rapariga chinesa refugiada da China Comunista, que me mostrou
o que estava por detrás das bonitas fachadas de muitos dos arranha-céus
de Hong-Kong.
Parece no entanto, que alguma coisa
mudou em relação a esse primeiro Natal. Já arranjaram lugar para Jesus...
Nalguns hotéis e restaurantes vemos presépios alusivos
ao Natal, assim como nas lojas luxuosas. Jesus já não está confinado ao bairro
da lata. Já entrou na casa dos ricos. Já entrou na cidade do cimento e das
luzes.
Mas, será que Natal é só isto? O
comércio, o movimento nas ruas, o lucro das grandes
firmas? Já nada mais resta do exemplo de Jesus e do seu amor desinteressado
pelo homem? Até há “igrejas” que abandonam a simplicidade da genuína mensagem
de Jesus para adoptarem uma gestão mais comercial considerando que a genuína
mensagem está ultrapassada... já não funciona... não é rentável...
Nesse Natal, apesar de longe da família
e rodeado por tantas atracções resolvi tentar manter-me fiel às minhas
convicções de crente em Cristo, resolvi ir a uma igreja evangélica na noite de
Natal.
Mas a que igreja?...
Depois de pensar, resolvi ir à Igreja da Assembleia de Deus, de Macau. Talvez a
oferta que tencionava dar nessa noite fosse mais bem aproveitada nessa igreja,
uma igreja minoritária num mundo de muitas outras religiões, onde muitos dos
crentes eram refugiados que só tinham a roupa que vestiam.
Fui ao culto depois dum bom jantar com
os amigos. Assisti a todo o culto em chinês e esperava pelo momento em que
iriam recolher as ofertas.... mas... afinal nesse
culto não pediram, mas deram.
O culto terminou e à saída, deram a cada
assistente um saco de papel castanho como se usava nessa época.
Chego ao hotel, e ao abrir o saco com a
oferta que recebi, encontro dois pastéis de massa folhada, uma tangerina, três
rebuçados e alguns amendoins. Era essa a refeição de Natal dos mais pobres, que
queriam compartilhar com o próximo o que Deus lhes concedera.
Não tive coragem de comer. Nesse momento
senti-me um verdadeiro pecador, comilão e beberrão... mas estava feliz...
Afinal.... o Natal ainda não morreu....
e são os que menos têm, os que mais vivem o Natal de
Jesus e se esforçam em dar... Olho pela janela e vejo um pedinte na
esquina da rua.
Depois de tirar estas fotografias,
resolvi descer para dar esse “banquete” ao pedinte. Certamente que ele o soube
apreciar, porque isso era bom... era muito bom.... talvez, até bom demais... era mal empregado para mim...