“Natal islâmico” em Portugal (ML)
Diálogo entre comunidades
católica e muçulmana
(Deverá “clicar” nas referências
bíblicas, para ter acesso aos textos)
Depois do sucesso da iniciativa no ano passado,
a Comunidade Islâmica do Sul do Tejo promoveu, no dia 12 de Dezembro, junto à
Mesquita do Laranjeiro, o 2º Almoço de Solidariedade que contou com a
participação de cerca de uma centena de pessoas em condição económico-social
desfavorecida.
No mesmo dia em que a Agência Ecclesia dá conta de um comunicado da organização católica
Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), emitido pela Rádio Vaticano, denunciando que,
no Iraque, os cristãos vão viver um Natal «entre o medo e a fé inabalável», a
comunidade Miratejo/Laranjeiro demonstra que o respeito e a ajuda mútua são
possíveis entre cristãos e muçulmanos.
Com a visita de Dom
Gilberto dos Reis, Bispo de Setúbal, à Mesquita do Laranjeiro, aquando da
visita pastoral à Paróquia de Miratejo/Laranjeiro, em Fevereiro deste ano,
concretizou-se não só a primeira visita de um Bispo Diocesano a uma Mesquita em
Portugal, mas também, o sonho do Padre José Pinheiro, pároco dessa igreja, que
há muito queria fortalecer as relações entre as duas comunidades.
Segundo o Prior, a decisão
de dar o passo de abertura em relação à comunidade islâmica teve lugar durante
uma procissão: «Nós estávamos na procissão e vimos que estava a decorrer uma
festa de um casamento entre estes amigos. Quando passámos pelo local onde eles
se encontravam, logo ficaram em silêncio a aguardar a nossa passagem. No meio
de tanta gente indiferente, aquele respeito pela nossa manifestação de fé foi,
para mim, o sinal claríssimo de Deus para darmos esse passo».
Com o apoio da Câmara
Municipal de Almada e da Acção de Solidariedade e Desenvolvimento do Laranjeiro
(ASDL), o 2º Almoço de Solidariedade contou com a presença do Padre José
Pinheiro, da Paróquia de Miratejo/Laranjeiro, acompanhado por alguns membros da
comunidade, do Padre Marco Belchior, da Paróquia de Fernão Ferro, de Sabbir Seedat, Presidente da
Comunidade Islâmica do Sul do Tejo, do Sheikh Feizal, Imam (Responsável
Religioso) da Mesquita do Laranjeiro, do Sheikh Zabir Edriss, Professor de
Teologia Islâmica e Árabe, do Sheikh Rachid Ismael, do Conselho de Supervisão do Colégio
Islâmico de Palmela e de M. Yiossuf Adamgy, Presidente das Edições Al Furqán,
um órgão para a divulgação do Islamismo em Portugal.
Depois de um almoço
muito agradável, que recebeu os maiores elogios da parte de todos os presentes,
o Padre José Pinheiro agradeceu o convite e salientou a importância deste tipo
de ações, afirmando: «Une-nos a vontade de fazer o bem, no nosso coração temos
o desejo de construir, temos algo em comum ― a busca da Verdade. A
Verdade que vem de Deus, que nos une e nos salva, e que é relembrada na
celebração de cada Natal, no viver do Presépio. Uma Verdade que passa pelo
respeito da dignidade da pessoa humana».
O Sheikh
Zabir Edriss, Professor,
reiterou a importância destas iniciativas, como um sinal do respeito entre
muçulmanos e cristãos. «Temos uma cadeia em comum que é Jesus, aceitamos que
Jesus é o Messias, um milagre que Deus enviou à Terra» explicou o Sheikh Zabir que acrescentou,
igualmente, que «o nosso encontro é um honrar do nosso compromisso para com
Deus, respeitarmo-nos uns aos outros, amar aqueles que seguem Jesus».
Sabbir Seedat,
Presidente da Comunidade Islâmica do Sul do Tejo e também empresário, pretende
que estas ações despertem mais empresários muçulmanos para a necessidade de
ajudar o próximo. «Temos que manter o espírito natalício durante todo o ano e
desenvolver iniciativas como esta que são um sinal para todos e que permitem a
nossa aproximação», declarou.
Para o próximo ano, a Comunidade
Islâmica do Sul do Tejo/Mesquita do Laranjeiro pretende voltar a organizar este
almoço mas, para além disso, tem como objetivo começar a distribuição mensal de
uma sopa para as pessoas mais carenciadas.■
Maria Lanita
Paróquia
Miratejo/Laranjeiro
E-mail: boletimmiratejo@gmail.com
Publicado na Revista Alfurqan Nov/Dez 2011
COMENTÁRIOS RECEBIDOS
Ana Paula Lopes – Protestante de São
Paulo
Agradeço seu esforço todos os
anos relembrando por email o verdadeiro significado
dessa data. Se cada cristão fizer sua parte, acredito que o mundo poderá
entender que o Papai Noel ou Pai Natal não é símbolo do Natal, mas apenas
símbolo de um capitalismo que se apropria de tudo o que existe para lhe roubar
o verdadeiro significado, como uma sangue-suga. Sim,
o Papai Noel é um sangue-suga, um intrometido que
veio tentar roubar a cena de uma festa que é de Outro! Mas nem tudo está
perdido, pois ainda existem cristãos espalhados pelo mundo (a Igreja!) que se
lembram e guardam o significado das coisas.
Mahomed Yiossuf Adamgy
– Lisboa, Portugal
No decorrer dos séculos, a
História dos povos não passa de mútua tolerância, e assim o sonho último será
trazê-los todos numa ternura comum para os salvar o mais possível da dor comum.
No nosso tempo detestar-se e ferir-se, porque não se tem o crânio construído
exactamente da mesma maneira, começa a tornar-se a mais monstruosa das
loucuras.
A meu ver, a tolerância é a mais
bela e a mais nobre das virtudes. Nada é possível sem esta disposição da alma.
É uma questão prévia a todo o contacto da irmandade humana. A tolerância não
leva a renunciar a nenhuma ideia e não leva a pactuar com o mal. Implica,
simplesmente, que se aceite que outros não pensem como nós, sem os detestar por
isso.
Não sejais violentos para com os homens por causa da religião deles — É o que se pode entender depois dum estudo
aprofundado do Alcorão.
Camilo S. Coelho – Marinha Grande, Portugal
Depois de tantas notícias pouco
dignificantes da agressividade entre as religiões que, quer no passado ou no
presente, nos chegam de todo o mundo, é bom saber que há em Portugal,
verdadeiros católicos e verdadeiros islâmicos que se mantêm fiéis aos seus
valores.
Quero lembrar Tiago 1:27 e Alcorão 5:48 Neste versículo
do Alcorão, onde está “….Emulai-vos,
pois, na benevolência…”, na nova versão do Alcorão ainda em elaboração em
Lisboa directamente dos textos em árabe para português está “… Competi uns com os outros nas boas acções…”.
Se as várias religiões quiserem
competir entre elas, que o façam, mas com a mentalidade da sura 5 do Alcorão,
com as boas acções, seguindo o salutar exemplo da Mesquita do Laranjeiro e dos católicos da Paróquia de
Miratejo/Laranjeiro.