Missionários
e Missões (CC)
(Deverá “clicar” nas referências
bíblicas, para ter acesso aos textos)
Julgo
que vou começar por escandalizar muitos dos nossos leitores se disser que não
simpatizo muito com as palavras missão e missionário.
Talvez
o leitor conheça estas palavras do ambiente religioso, onde missionário é
pessoa altamente respeitada, que leva a mensagem do Evangelho para outros
locais e em particular, o verdadeiro missionário é o que leva o Evangelho para
outras terras e outras culturas. É uma palavra altamente respeitável no
ambiente religioso, uma palavra que apesar de não ser bíblica, é da nossa
teologia e é aceite por todos, mesmo por aqueles que dizem não ter nada com a
teologia.
No
entanto, noutros ambientes e noutras culturas, nem sempre a palavra missionário
é bem aceite. Quando Portugal tinha as suas colónias, o missionário católico
era o principal suporte do colonialismo e a Concordata com o Vaticano, em
especial o “Acordo Missionário” previa privilégios especiais para os missionários
católicos, que gozavam da mesma autoridade, direitos e privilégios das
autoridades civis. (Pode consultar estas leis na secção de legislação, ao fim
da Concordata de 1940, revogada no ano 2004).
É
verdade que tal não se pode dizer do missionário evangélico em África,
geralmente mais bem aceite pela população africana, mas também ele é sempre um
estranho, que ao levar o Evangelho nem sempre consegue dissociá-lo da sua
cultura que acaba por impor num ambiente muito diferente do que lhe deu origem,
pois devido geralmente ao desnível cultural e social, a opinião do missionário
acaba quase sempre por prevalecer, pois é ele que estudou e é ele que sabe...
Já não me lembro onde é que ouvi contar que um crente africano disse aos
outros: “Tenham paciência. Enquanto cá estiver o missionário, temos de cantar
essas músicas esquisitas com o órgão, mas ele já está a olhar para o relógio,
pois aprendeu que o culto deve durar uma hora. Quando ele se for embora, então
vamos buscar o velho tambor da aldeia e então sim... poderemos louvar ao Senhor
durante toda a noite, com Ele o merece”.
Muito
poucas missões em África conseguiram ultrapassar este problema, mas lembro-me
de que há mais de 50 anos um missionário presbiteriano no sul de Moçambique, em
serviço na chamada “Missão Suíça” (esse por acaso era português) disse-me que
os missionários dessa missão, ao chegar a Moçambique apresentavam-se à direcção
da Igreja Presbiteriana de Moçambique, onde ofereciam os seus préstimos, e os
seus dirigentes africanos destinavam o seu trabalho e a ajuda que dele
necessitavam.
Penso
que o trabalho missionário, dirigido por missionários estrangeiros, em qualquer
país deverá ser sempre uma situação provisória, até que os naturais dos vários
países possam dirigir as suas igrejas, pois somente os africanos poderão sentir
o Evangelho na sua cultura e organizar uma igreja com futuro no seu país, e o
mesmo poderia dizer dos indianos na Índia etc..
Nos
nossos dias, já não há colónias ocupadas militarmente, mas é lamentável que o
neo-colonialismo cultural e económico continue muitas vezes através dos
próprios “missionários” que preferem abrir novas igrejas e novas denominações,
muitas vezes em concorrência com as igrejas evangélicas já implantadas nos
vários países em vez de apoiar as igrejas evangélicas já implantadas nessas
países. Geralmente preocupam-se em estudar o inglês e “ainda não tiveram tempo”
para estudar a língua do povo onde vão pregar o Evangelho.
Estas
palavras servem para introduzir alguns testemunhos de verdadeiros servos do
Senhor, que estão nestas condições de pregar o Evangelho na sua própria
cultura, pois são estas as igrejas que têm futuro.
Começamos
pelo testemunho duma brasileira na Índia, porque o seu marido é um verdadeiro
indiano, e eles sabem interpretar a mensagem de Jesus na sua cultura, e têm um
pequeno grupo de crentes a que chamam de sua igreja caseira, mas sabemos que
essa é verdadeiramente a Igreja do Senhor. Refiro-me ao artigo Missionária na
Índia.
Chamo
a vossa particular atenção para as referências que ela faz à sua integração
cultural no país onde o Senhor a colocou.
No
futuro, esperamos apresentar também o testemunho dum obreiro africano no norte
de Moçambique.
Que
estes exemplos possam servir para nossa edificação e despertem nos nossos
jovens uma séria e salutar chamada missionária.
Estudos bíblicos sem fronteiras
teológicas