PERFIL DO MISSIONÁRIO EVANGÉLICO (CC)
(Deverá “clicar” nas referências
bíblicas, para ter acesso aos textos)
Referindo-se aos missionários evangélicos em África, o livro
“Protestantismo em África”, editado em Lisboa, no ano de 1960, pela “Junta de Investigações
do Ultramar”, transcreve a seguinte afirmação de A. da Silva Rego: “O
protestantismo em África, ganhou há muito, foros de
consideração e de estima. Os seus missionários sacrificaram-se pelo bem-estar
das populações, fundando instituições de assistência notáveis a todos os
títulos.”
Eu
próprio, nasci em Lourenço Marques (actual Maputo) -
Moçambique, num hospital duma missão presbiteriana, conhecida por “Missão
Suíça” em 1934. Embora estivessem na capital de Moçambique, os meus pais
tiveram mais confiança nesse hospital do que nos hospitais do Estado.
Nessa
época e nesse contexto cultural, a palavra missão tinha uma semântica um pouco
diferente da dos nossos dias.
Quando
eu era criança, se me falassem em missão, imaginava uma escola, um hospital, e
uma igreja, bem no interior de África.
Missão
em África, era não só centro religioso, mas também de cultura, de civilização e
de bem estar.
O
africano simples e analfabeto do interior de África, tudo esperava do
missionário: Ele era o dirigente religioso, mas também o professor, o médico, o
“banqueiro” a quem pedia para guardar as suas economias, (por ser o homem de
maior confiança), e o conselheiro para todos os seus problemas. Lembro-me de
falar com missionários que se queixavam dizendo não ser essa a sua função, mas
não podiam desiludir os africanos e tinham de, dentro do possível, respeitar a
sua cultura e a realidade do ambiente em que se encontravam.
Duma
maneira geral, as antigas organizações missionárias sabiam escolher e preparar
bem os seus missionários. Refiro-me ao caso de Moçambique, que conheci melhor,
mas julgo que o mesmo se poderia dizer de toda a África, duma maneira geral.
Posso citar, referindo-me a Moçambique, não só o caso da Missão Suíça
(presbiteriana), a funcionar desde 1887, como o caso Missão Metodista
Episcopal, trabalho das igrejas americanas, a funcionar desde 1883, a Missão do
Nazareno desde 1930, Missão Batista da Escandinávia desde 1937 entre muitas
outras.
Se
por um lado, o missionário evangélico dessa época,
tinha a sua liberdade limitada pelos mais diversos motivos, devido à falta de
liberdade de religião e pela acção perniciosa das “autoridades religiosas da
Igreja Católica” junto das autoridades portuguesas, por outro lado, todos
sabiam que o missionário era geralmente não só um teólogo, mas também dum
valioso profissional, geralmente médico, enfermeiro, engenheiro agrónomo etc.
Lembro-me dum idoso missionário, Pastor Rey,
(Engenheiro Agrónomo), que me recebeu em sua casa na Missão de Cambine, que conseguiu seleccionar um tipo de milho de
rápido crescimento, próprio para a zona climática em que se encontrava.
Infelizmente lembro-me também de ver pelo espelho do meu carro, sempre o mesmo
jipe a seguir-me o que culminou com um interrogatório pelas autoridades
portuguesas sobre o que tinha ido fazer numa missão protestante.
Nesses
tempos o missionário evangélico em África, por um lado era mal recebido devido
ao fanatismo das autoridades católicas da época, mas por outro lado, era
desejado por ser elemento muito valioso para o desenvolvimento dos povos.
E
nos nossos dias?
Infelizmente,
penso que esse perfil do missionário evangélico, em muitos casos se tem
deteriorado.
O
número de missionários aumentou, mas a sua preparação já não é a mesma. Não só
a preparação teológica dos missionários já não tem o mesmo nível, como a
preparação secular que antigamente se exigia a nível superior, em profissões
que fossem úteis para os países a que se destinavam, actualmente, em alguns
casos, essa preparação secular, é praticamente nula.
Admiramos
a dedicação e coragem dum missionário brasileiro ou português que vá por
exemplo para África, mas se for isoladamente, sem o apoio de outros que já
estão no terreno, e sem um período de adaptação, para aprender as línguas
africanas, embora esteja em África, só poderá ficar nas cidades e contactar,
não o verdadeiro povo africano do interior que tencionava evangelizar, mas
somente o povo das cidades que domine bem a língua portuguesa. Até tenho
conhecimento de jovens portugueses e brasileiros, que para irem como
missionários para África, até para a África de língua portuguesa, vão primeiro
para Inglaterra para aperfeiçoar o seu inglês!!! E os casos de “missionários”
em Portugal que se dedicam ao ensino da língua inglesa?
É
caso para perguntar: Afinal, são missionários de quê? Ao serviço de quem?
Estarão
ao serviço do Evangelho ou, mesmo inconscientemente, ao serviço dum
neocolonialismo britânico ou americano?
Muitos
dos jovens países africanos têm nos últimos anos encerrado as suas portas aos
missionários evangélicos duma maneira geral.
Certamente
que se trata dum facto lamentável, mas antes de os criticarmos, é necessário
ouvir as suas razões, pois mais lamentável ainda é chegarmos à conclusão de que
têm fortes razões para tal atitude. Pois poderemos ouvir argumentos como este:
“O nosso país é tão pobre, e tão baixo o nosso nível de vida!!
E que ganhamos com a entrada destes missionários? Não têm nenhuma profissão que
nos possa ser útil, e quando entram no nosso país, vão pregar sobre o dízimo e
só se sentem realizados quando conseguirem viver das contribuições do nosso
povo. Assim, se estamos mal, pior vamos ficar!!!”
Até
a própria Índia, país conhecido pela sua tolerância milenar para com todas as religiões,
fechou as portas aos missionários evangélicos, embora os crentes indianos gozem
da liberdade que lhes é conferida pelas leis do país.
Penso
que há que repensar a preparação do missionário evangélico. Há que tentar a
difícil tarefa de recuperar o prestígio dos antigos missionários, que a tanto
custo dignificaram o Evangelho conseguindo até o elogio de países tão católicos
e tão hostis ao Evangelho como era o Portugal antes do 25 de Abril de 1974.
Mesmo
países africanos, hostis ao evangelho, com as suas portas encerradas para o
missionário que se limite a ter uma formação em teologia, têm as portas abertas
para todo o profissional de especialidades que tenham interesse para o seu
desenvolvimento.
Será
que isto é ideia nova?!! Talvez não. Examinando o livro da Actos dos Apóstolos,
verificamos com admiração que o Apóstolo Paulo, profissional de tendas que
trabalhava para se bastar a si próprio, conseguiria ser bem recebido onde
muitos dos missionários dos nossos dias não conseguem entrar. A Bíblia tem
sempre a solução.
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