Milagres na Índia (RL)

Nossa Senhora ou Shantadurga?

(Deverá “clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)

 

 

 

Imagine um “santo lugar” onde a expressão da sua devoção é tolerada, não importa se você está acendendo velas; banhando seu deus com óleo ou o vestindo com flores. Não importa se você está vestido a rigor desfilando com seu mais novo fato (ou paletó) ou se você veste sua roupa diária. Não conta se você veio à festa de BMW ou de auto-richskaw (motocicleta com três pneus) nosso famoso e popular táxi indiano.

Todos têm igual oportunidade de cultuar o mesmo deus; não importa que nome você vem a chamá-lo. É preciso apenas ser paciente e perseverante para permanecer por muito tempo nas filas que se estendem por várias centenas de metros, debaixo de um sol causticante aguardando sua vez de entrar na Igreja. A grande vantagem dessa espera é que você não precisa se preocupar com nenhum ataque terrorista ou confronto de ideias, crenças ou deuses. Apesar de sabermos que, aqui e acolá, as bombas já começaram a explodir neste pais como manifestação de protesto e violência em nome da religião. Graças a Deus ....por aqui.... as coisas ainda caminham pacificamente nesse sentido.

Foi exatamente isso o que tivemos oportunidade de testemunhar em abril, próximo passado, quando católicos, hindus e alguns poucos muçulmanos, amigavelmente celebravam juntos mais um festival religioso., desta vez promovido e organizado pela Igreja Católica, aqui no estado indiano conhecido como a “Roma do Oriente”.

E novamente, lá estávamos assumindo nossa favorita personalidade de vendedores ambulantes, nos misturando e nos identificando com o verdadeiro povo indiano, sentindo-nos como mais uma família entre milhões de outras famílias, fazendo parte da nossa querida Índia como vendedores ambulantes, armando nossa simpática barraquinha branca com nossas mesas, vendendo livros, bíblias; CDs e vídeos entre outras coisas mais. Pois assim é que vamos desfrutando de nossa normal vida em família e no ministério, enquanto sincera e dedicadamente seguimos e obedecemos a Cristo no desafio de fazer discípulos neste país com muitas nações.

É verão aqui no Sudoeste da Índia e, como sempre acontece enfrentamos nessa época o período mais quente do ano. O intenso calor e a umidade excessiva chega a nos “roubar” toda a energia, toda a graça, e muitas vezes até o humor!

Mas a doce presença do Consolador conosco é a garantia do renovo e refrigério físico quando as forças se vão. Ele sempre nos vivifica a esperança e nos traz muito gozo à alma toda vez que, espontaneamente, nos misturamos anualmente com o nosso verdadeiro povo indiano, com toda a sua diversidade cultural, religiosa, linguística e étnica, em mais um festival de fé, cores e oferendas.

Nosso desafio nesse contexto é brilhar como verdadeiros luzeiros nas mãos de Jesus, trazendo conhecimento, luz e graça capaz de revelar para alguns deles, a Verdade, o Caminho e a Vida. Desmistificando assim a confusão religiosa que se instala na mente dessa gente e, que se fortalece ainda mais todos os anos durante esse festival.

Realizamos em abril deste ano essa “campanha” com o mesmo entusiasmo do inicio, quando nos aventuramos pela primeira vez nesse sentido há mais de treze anos atrás.

Esse festival é conhecido como “FESTA DOS MILAGRES”, que corresponde a três dias com muitas festividades, missas, novenas e variada música religiosa, apresentada tanto nos arredores como dentro da Igreja de “Nossa Senhora dos Milagres”, dentro duma igreja católica, algures nesta imensa Índia. Milhares de peregrinos vindos das mais diferentes e longínquas vilas e aldeias, se mobilizam para venerar a imagem dessa santa, que segundo eles realiza muitos milagres e curas durante esses dias do festival.

O curioso é saber que esta igreja foi construída no século XVI por missionários católicos, exatamente onde funcionava um grande e movimentado templo hindu, cuja deusa guardiã era a deusa SHANTA DURGA, que na mitologia hindu corresponde a uma das “sete irmãs” que segundo os hindus, eram sete piedosas senhoras que se dedicavam à oração e intercessão no templo. Dizem que elas realizavam grandes sinais e prodígios atendendo ao clamor dos devotos que em seu desespero traziam oferendas e apelavam para a intercessão delas junto aos deuses que eles adoravam. Na verdade os factos históricos mostram que esses missionários derrubaram esse templo para construir a igreja. Após a destruição do templo os devotos hindus passaram a divulgar a crença de que a “Senhora” que os católicos veneravam naquela igreja, nada mais era do que a reencarnação da sua deusa Shantadurga, dando continuidade à sua missão de fazer caridade aos devotos independente da casta, cor ou religião.

É bem verdade que os muçulmanos não vêm à festa com o intuito de fazer súplicas à imagem, mas apenas para se divertir na quermesse que se organiza no largo da igreja. Nas barracas se vende de tudo, desde roupas e calçados; brinquedos; panelas; artigos de cama, mesa e banho. Além de contarmos com dezenas de restaurantes ambulantes...onde é claro, não vamos encontrar nenhum “hamburgue” do Mac Donald, mas muita comida típica e apimentada como é nosso costume neste lugar.

Nossa barraquinha é bastante visitada por todos os que se dirigem à quermesse. Temos estabelecido o propósito de não permitir que ninguém saia de lá com as mãos vazias, pois temos um excelente acervo de folhetos evangelísticos e livretos nas mais variadas línguas e dialetos falados aqui na Índia, para serem distribuídos gratuitamente durante esses três dias do festival. Fazemos isso na esperança de estar dando acesso a essas pessoas a uma pequena porção da Palavra de Deus e, tentando semear, ainda que singelamente falando, o amor de Jesus no coração delas, e já temos visto que em muitas casos, algumas dessas pessoas (hindus) estão sendo expostas às Boas Novas de Cristo pela primeira vez na sua vida.

 

 

Esse trabalho de distribuição dos folhetos e livretos evangelísticos deve ser feito de forma muito prudente e cautelosa. Evitando sempre qualquer tipo de discussão ou confronto de ideias e religião. Pois, bem sabemos que apesar da liberdade de culto, oficialmente, garantida e propagada em toda a Índia, constantemente ouvimos rumores e assistimos a cenas de violência na televisão em confronto físico entre cristãos e hindus ou hindus e muçulmanos em diferentes cidades deste país.

Não é meu propósito entrar aqui na discussão desse assunto, porque já temos testemunhado dezenas desses casos com diferentes panos-de-fundo e razões bem distintas. Por isso é que trabalhamos com muita discrição e prudência, sempre crendo que o próprio Deus que nos comissionou nesse desafio, pessoalmente atrai para Si mesmo aqueles a quem Ele tanto ama e deseja salvar. Nossa participação neste processo requer acurada sensibilidade ao Seu Espírito, para com sabedoria “lançarmos a rede”...ou melhor dizendo...armarmos nossa barraca em lugar estratégico; vendermos livros e bíblias; estabelecermos contactos para mais tarde e, de forma mais sistemática discipularmos aqueles que, a partir desse momento vão nascendo de novo e passam a fazer parte da grande família de Deus espalhada pelos quatro cantos da terra.

 

 



 

 

 

 

A exemplo de Paulo em Colossos e Atenas, nosso principal alvo é apresentar através de nossas vidas e “discurso” na barraca, o incomparável caráter de Jesus! Tentamos “pregar” sem sermão com “quatro pontos” seguindo as regras da hermenêutica ou homilética teológica. Apresentamos a Cristo, pois Ele é a imagem do Deus invisível, vivo e atuante em nosso próprio meio. E isso todos que nos conhecem e/ou visitam a nossa mesa de livros tem oportunidade de testemunhar “in loco” acerca da presença do Senhor conosco! Pois mesmo apesar do barulho do alto-falante da Igreja e das músicas, além dos gritos dos vendedores tentando atrair clientes para suas vendas; ainda temos oportunidade de conversar sobre o amor de Jesus ou orar por algumas pessoas ali mesmo na nossa barraquinha.

Exemplo disso foi o que nos aconteceu com uma senhora chamada Alisha. Ela é jovem em Cristo e nós a conhecemos em campanhas passadas. Desde que Alisha resolvera seguir a Jesus com temor e obediência, ela enfrenta forte oposição de seu esposo. Alisha era uma jovem de má reputação, apesar de nunca ter sido prostituta propriamente falando. Há alguns anos atrás ela teve um encontro pessoal com Jesus. A partir dessa experiência, ela teve sua vida completamente transformada. Infelizmente não tem apresentado nenhuma maturidade crista. Mas demonstra ser uma pessoa extremamente grata a Jesus por tudo que Ele tem feito em sua vida pessoal e família. Desta vez reencontramos Alisha completamente deprimida, doente com diabete, problemas de pressão alta e séria infecção na boca por conta de um abcesso em um de seus dentes. O relacionamento com seu esposo caminha de mal a pior. Dessa vez, ela veio nos visitar na barraca com o intuito de desabafar um pouco e pedir oração. Decidimos orar por ela ali mesmo ao lado da nossa mesinha de livros. E, enquanto orávamos, o poder, a bondade e a misericórdia de Deus foi derramada sobre sua vida de uma forma toda especial. Se Jesus a curou fisicamente naquela hora eu não sei dizer. Mas posso afirmar que o refrigério que Ele trouxera ao seu espírito abatido foi visível e encorajador. Alisha saiu da nossa barraca sorrindo e louvando ao nome de Jesus, pois havia sido visitada por Ele de uma forma maravilhosa. Vimos com isso o Senhor renovando sua vontade de continuar seguindo a Cristo mesmo em meio as grandes lutas que enfrenta em seu lar.  

Nosso filhinho Asaph Raj também foi grandemente encorajado durante esses dias do festival. Como sempre acontece reservamos coloridos e bonitos livrinhos contando a história de Jesus em quadrinhos para ele distribuir junto às crianças que passavam em frente à nossa tenda.


 

 

 

 

 

 

 Nós cremos que esse tipo de oportunidade que já estamos lhe dando, corresponde a um pequeno treino para o futuro desenvolvimento de sua “carreira”, se Deus quiser, também sendo “pescador de homens” nesta seara. Mas, muito mais eficiente do que tudo o que lhe podermos ensinar, o Senhor já iniciou a sua “preparação transcultural”, desde que em criança, brincava com as outras crianças da vizinhança. Aos sete anos de idade, já fala o concanim, o hindi, inglês e português. Entre os seus amiguinhos tem meninos e meninas hindus, católicos, islâmicos e evangélicos. Que melhor preparação posso desejar para o meu filhinho?

Em 2004 ainda com apenas 4 aninhos ele foi atropelado por uma motocicleta bem em frente à nossa barraca, quando tentava atravessar a rua me seguindo sem que eu o percebesse. Ao ver o pneu da moto sobre suas frágeis perninhas imaginei o pior. Houve grande tumultuo e como sempre acontece em casos de acidentes muitas pessoas logo correram para ver quem era a vitima. Felizmente não houve cenas de pânico porque ainda enquanto eu corria para socorrê-lo, ouvi a doce voz do Espírito Santo me consolando enquanto dizia: “Asaph está bem”. Isso foi como um bálsamo de graça e poder sobre minhas emoções me capacitando naquela hora a ter o auto-controle que se fazia necessário para que a glória de Deus fosse revelada ali através daquele incidente. Meu esposo assistia a tudo imobilizado pelo choque que sofrera. Mas sua confiança em Deus se manifestava através de sua serenidade naquela hora de muita pressão e medos. Abracei o Asaph e o transportei para a barraca... pois ele chorava muito nervoso e com dores por todo o corpo. Graças a Deus ele sofrera apenas uma pancada na testa e um pequeno corte em sua mão direita. As enfermeiras que estavam de plantão no hospital ao lado, logo trouxeram bolsa de gelo e outros medicamentos de primeiros socorros.

A surpresa e o espanto das pessoas era geral! E grande foi o alívio e alegria de todos nós quando o vimos pulando e andando demonstrando que suas pernas estavam bem. Algumas pessoas vieram nos dizer perplexas, que “não vi nenhum milagre na igreja... mas aqui em frente a essa barraca branca vi Jesus livrando poderosamente esse garoto!”.

Este ano, nossos amigos muçulmanos - vendedores de panelas ao lado da nossa tenda - me fizeram novamente lembrar desse milagre, quando juntos alegremente observávamos o Asaph distribuindo os livrinhos para as crianças.   

Esse trabalho na feira durante a Festa dos Milagres meus amigos, não é nada fácil, pois exige grande esforço físico de todos nós.

Armamos nossa barraca sempre um dia antes da festa começar. Mas bem antes disso toda uma programação deve ser feita, como:

- Seleção e organização de todo material (livros; bíblias; folhetos; CDs e etc) que vamos expor nas mesas;

- Organização de todo o material que se faz necessário na barraca.. extensão elétrica .... fita isolante... lâmpadas... tesoura.... fios... cordas.... ventiladores... mesas... toalhas... latas com pedras, etc, etc.

Sem falar que todos os dias cedinho da manhã já temos que estar com a mesa pronta para atender as pessoas que nos visitam antes de se dirigirem à Igreja. O António Francisco, meu esposo, sai de casa pouco depois das seis horas....  Mais tarde, às nove horas lá eu chego. Ficamos juntos nessa maratona até uma e trinta da tarde, quando retornamos a nossa casa (cerca de 7 quilómetros) para um rápido banho e almoço. Às quatro horas da tarde o A. Francisco já está lá de plantão novamente! Às seis da tarde eu chego porque essa é a hora de grande movimentação na feira. Às nove e trinta, temos que retirar tudo das mesas, guardar nas caixas para no dia seguinte fazer tudo isso novamente.

Após o término da festa nós ainda trabalhamos quase uma semana inteira reorganizando e limpando todo o material para colocar de volta em nossa livraria. Isso sem falar nos problemas de saúde que geralmente, enfrentamos após essa campanha. Desta vez tive grande crise de garganta devido a alergia à poeira e ao calor causticante desses três dias na barraca. Asaph ficou bastante gripado por alguns dias mesmo depois da festa.

Contudo...sabemos que vale a pena!!!

Depois quando sentamos para avaliar o trabalho e ver o que conseguimos realizar nesses dias incluindo o material que conseguimos vender e distribuir gratuitamente, com louvor em nossos lábios chegamos a estes encorajadores números:

1) Distribuímos gratuitamente 2500 livretos evangelisticos e cerca de 650 livros infantis contando a história de Jesus em quadrinhos para crianças;

2) Conseguimos vender:

a) 14 Bíblias (sendo onze em inglês; duas em hindi e uma em marathi);

b) 07 Novos Testamentos (sendo cinco em inglês; um em hindi e um em kannada);

c) 56 livros (sendo nos mais diferentes temas e assuntos, como: família; oração; devocionais; estudos bíblicos; testemunhos e etc);

d) 39 livros infantis;

e) 88 livretos ao custo de apenas dez rupias indianas...ou seja ...o equivalente acerca de vinte cinco centavos de dólar

f) 13 adesivos (auto-colantes) (15) evangelísticos ;

g) 13 CDs de louvor e adoração;

h) 17 Vídeos em DVD, sendo dez deles a história de Jesus para crianças.

i) 04 Cassetes de louvor e adoração.

Em termos monetários isso correspondeu a R$. 8.845 /- (Oito mil oitocentas e quarenta e cinco rupias indianas. O que corresponde a mais ou menos o valor de 205 dólares. Investimos esse dinheiro da seguinte maneira: pagamos as taxas exigidas pela Municipalidade durante a feira (90/- o equivalente a mais o menos 2,00 U$); demos de oferta a quantia de 800 /- (oitocentas rupias) equivalentes a 18 U$, aos irmãos que estavam nos auxiliando na barraca; e o restante equivalente a R$ 7.955 /- (Sete mil novecentos e cinquenta e cinco rupias ) equivalentes a 185 U$ investimos novamente em livros, bíblias e literatura para as próximas campanhas.

Esses números podem ser insignificantes para algumas pessoas acostumadas aos “testemunhos faraónicos” acerca do que “Deus está fazendo por esses lados do Oriente” Mas para nós… eles são importantes e encorajadores porque conhecemos bem de perto aquilo, que é possível se fazer por esses lados em nome de missões... falo assim porque conheço bem as limitações e possibilidades nesse sentido especialmente no estado onde moro; depois por já ter visto “in loco” o fracasso de muitos missionários nesta seara, simplesmente pelo facto de não estarem dispostos a se identificarem com os indianos... apesar de muitos deles insistirem no envio de relatórios “fictícios” para valorizar os seus ministérios como missionários na Índia.

Felizmente já tenho alcançado algum progresso neste processo imprescindível de minha identificação com este povo, que alias já considero o “meu povo”.

No inicio, confesso, que tudo parecia tão complexo e difícil de assimilar em minha mente. Mas quando compreendi a importância desse processo para que minha missão na Índia fosse bem desenvolvida, despojei-me de todo orgulho e herança cultural brasileira e, com muita disposição “mergulhei” no desafio da aceitação e assimilação desse complexo mas rico, conjunto de padrões de comportamento dos indianos; com suas infinitas crenças e diversificados valores bem típicos desta sociedade aonde estou inserida, agora não mais como “missionária estrangeira” pois há muito tempo “perdi essa identificação”. Isso porque, naturalmente, comecei a me sentir indiana no coração e na mente, apesar da visível pele branca que ainda cobre a minha alma.

Conhecer o pensamento indiano.... saber porque eles agem dessa ou daquela maneira.... respeitar suas diferenças... aprender sua língua.... comer e vestir-me à maneira indiana.... tudo isso faz parte do “pacote de integração cultural”, que se faz necessário para que eles não venham se sentir ameaçados pela minha presença e/ou queiram ouvir a minha “mensagem” acerca do amor de Jesus.

O próximo desafio é saber com precisão como falar de Cristo para um indiano que acredita em uma infinidade de deuses. Cada caso apresenta suas particularidades. E é sempre um erro querer generalizar as ações nesse sentido ou querer seguir uma “receita evangelística” ensinada por algum missionário experiente. Penso que apesar de ser necessário ter algum conhecimento e informações acerca daquilo que um hindu acredita, mais importante ainda é ter sensibilidade e sabedoria aprimoradas para falar com unção, eficiência e autoridade. Creio, ainda, que o Espírito de Deus participa ativamente de todo processo de evangelização, quando o fazemos com temor e na dependência de Sua intervenção milagrosa para convencer o perdido acerca da condição de pecador carente do amor e da graça divina para salva-lo.

Vou tentar ilustrar o que estou tentando afirmar aqui com o relato da minha primeira experiência nesse sentido.

Logo que cheguei na Índia, ainda sem falar absolutamente nada em inglês ou hindi, percebi o Espírito Santo me dirigindo a começar o trabalho evangelístico com a população idosa que ainda fala português neste país.

Meu trabalho se resumia em duas atividades específicas:

1) Dar estudos bíblicos para algumas famílias aristocratas, geralmente bem favorecidas financeira e intelectualmente falando;

2) Dar assistência social; emocional e material para algumas velhinhas pobres; desamparadas e muito solitárias.

Um dia enquanto estava dando estudo bíblico para uma senhora abastada chamada Angelina, que morava em uma bonita e rica fazenda. Deus me deu o privilégio de ajudar um rapaz hindu a conhecer a Cristo de forma bem especial.

Eu e a Dona Angelina conversávamos em português... e a certa altura entrou na sala um dos seus criados, que se não me engano era apanhador de cocos e cultivador de arroz em sua várzea. De repente percebi que o pobre rapaz chorava compulsivamente não se importando com a nossa presença ali naquele momento e ocasião. Então resolvi sugerir à Dª Angelina para dar a assistência que o rapaz precisava. Seu nome era Prakashe. Ele não falava inglês nem português... mas apenas o hindi.

Quando a Dª Angelina começou a conversar com ele eu percebi que ele se referia à nossa conversar em particular. Afirmando que apesar de nada entender da língua em que conversávamos, sentia que “alguma coisa muito estranha acontecia em seu coração”.... e, ele desejava muito ouvir o que eu estava falando para ela.

Como ele se atrevera a esse ponto? Afinal ele era um intocável... ou seja …. uma pessoa que pertencia à mais baixa casta dentro da estratificação social da sociedade na Índia. Mas nesse momento manifestava, espontaneamente, o seu desejo de participar de uma conversa na mesa com a sua patroa! Como? O que acontecera para que ele tivesse tamanha ousadia? Simples.

Eu já havia percebido que o sistema de castas, apesar de já ter sido abolido legalmente, ainda continua forte e atuante; sempre correndo nas veias de todo o povo de Norte a Sul desse pais. Mas nesse caso especifico o Espírito de Deus estava ali transpondo todas as barreiras linguísticas e sociais querendo salvar aquela vida! E sem demora pedi a Senhora Dª. Angelina para me traduzir enquanto eu conversava com ele. Meu diálogo com ele se processou desta maneira:

Prakashe, nós estamos conversando acerca do amor de Deus”.

Ele respondeu: “Eu percebi.... e por essa razão quero ouvir mais”.

Ai eu perguntei pra ele: “Qual é o seu favorito deus dentre o panteão de milhões de deuses que você adora?".

Sua resposta foi:  “Shiva”.

Então lhe fiz outra pergunta, “Você ama Shiva, Prakashe?”.

“Claro que sim!”. Foi sua rápida resposta.

E antes que ele respirasse a segunda vez, eu já lhe fiz outra pergunta, quase que subitamente: “E Shiva ama você, Prakashe?".

Sua reação a essa minha pergunta foi instantânea....e muito emotiva, pois aos prantos o Prakashe me perguntava: “Como Shiva pode me amar?!! ... Eu sou um intocável.... e Ele é deus!!!".

Aí nesse momento eu percebi que essa fora a “pergunta-chave” que me “abrira os olhos” para que fosse possível eu lhe apresentar Jesus, como o Deus pessoal, único e cheio de ternura; que ao contrário de Shiva, não apenas nos ama.... mas nos conhece bem ...sabe nosso nome....vê os  dilemas da nossa alma ...e até sabe quantos cabelos temos na cabeça!

Resumindo .sei  que não é  preciso mencionar aqui os detalhes do final da nossa conversa, mas  naquela manhã  Prakashe teve seu encontro pessoal com Cristo e  a partir daquela data passou a ama-Lo e segui-Lo em obediência!

Sinto que já estou me prolongando demais nesse texto. Por isso vou concluindo destacando apenas que sou muito feliz estando aqui, bem no centro da vontade de Deus para a minha vida pessoal e familiar. Pois auxiliar alguns indianos no desafio de conhecer a Jesus é para mim um privilégio sem medida.

No mais…muito obrigada a todos os amigos que perseveram intercedendo por nossas vidas aqui na Índia.

Que o Senhor Jesus, que não é devedor de ninguém, possa retribuir todo o investimento que juntos temos feito, visando a extensão de Seu reino neste lugar. A Ele seja toda a glória.

Com temor,

Rúbia Lopes - Índia – Junho de 2007

 

 

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