Melquisedeque (DO)

Versão extra judaica de Deus

 


            A nossa melhor e mais confiável coletânea de pesquisa teológica muitas vezes é a bíblia, mas esta nos fornece uns parcos subsídios para conhecimentos mais apurados. Tanto a alegoria de Gêneses na criação do planeta como a pessoa “enigmática” de Melquisedeque, e de modo geral, os conhecimentos que a bíblia nos trás não satisfazem as curiosidades dos pesquisadores mais sérios.

A terra, segundo a ciência atual, tem 4 500 milhões de anos. Alegoricamente Gêneses mostra Deus criando tudo em “seis dias” e mais algumas “horas” do sétimo dia. De repente, pela “Palavra, logos, verbo, ação”, pronunciou o “haja” luz, que no nosso entendimento seria: que seja feito ou que apareça ou que surja, num tom imperativo, a luz. Essa é a mesma luz que conhecemos e vem da estrela de quinta grandeza chamada sol.  A criação dessa luz está subordinada à criação do sol, pois não há luz sem sol e não há sol sem luz. Mas o sol tem também mais de 4 500 milhões de anos e a sua luz é gerada por hidrogênio transformado em hélio que está queimando durante todos esses anos. Não se sabe quando o desconhecido ponteiro desse “tanque” vai apontar para a sua “reserva”. A distância entre o sol e a terra é de aproximadamente 149 597 871 km e sua luz leva 08h15min para chegar até nós.

Depois da “iluminação” e do processo da formação da atmosfera e a noção espacial acima até as nuvens, vem a fase das modificações dos relevos mar, continentes e ilhas. Na linguagem alegórica bíblico-judaica, entendo que tudo isso não passou de “fases da criação”.

Ao desculpar-me pelos erros científicos que cometi, quero perguntar agora: O que tem a ver tudo isso com o personagem Melquisedeque? Ele será apenas um exemplo neste estudo, nada mais.

O prisma judaico das versões da bíblia é muito forte, e nós, não judeus, livres da sua influência racial, estamos abertos ao conhecimento genérico do Deus de todos os povos. Muitas vezes temos a liberdade e a necessidade de buscar informações em outras fontes sérias. Quando nos deparamos com aquilo que a bíblia não pode nos oferecer, para satisfazer a nossa curiosidade, por motivos óbvios de cultura, religião e do tempo longínquo de suas informações, rompemos os laços místicos da concepção judaica para podermos entender melhor a sua historicidade sem as deduções limitadas que vem somente da linguagem bíblica. Se rompermos com as versões quase sempre rudimentares, nacionalistas e religiosas judaicas veremos que “há vida também fora dos conceitos de Israel”.

Pensemos na primeira oficina que consertava as primeiras carroças. Quais eram as suas ferramentas? Aquelas que foram inventadas para atender as necessidades para os consertos daquelas carroças! De lá para cá, a evolução dos meios de transportes exigiram também oficinas evolutivas para atender a cada novo meio de transporte. Se as oficinas não evoluíssem juntamente com os meios de transportes, como seria um conserto de um avião no nível daquela primeira oficina? É muito difícil de imaginar. Devemos menosprezar aquela oficina por não atender aos nossos conhecimentos atuais? Definitivamente não, mas os donos das primeiras carroças as amavam, pois eram as suas respostas para atender as suas necessidades temporais. Se um técnico de ferramentas, formado recentemente, fosse tele transportado para aquela primeira oficina, imagina o quanto seria útil para aquele “primeiro mecânico”! Será que não podemos ser assim também para a linguagem bíblica? Estaremos colocando a soberania divina em cheque por causa disso?

Do mesmo jeito que evoluiu a ciência para a compreensão do universo a ponto de obtermos melhor compreensão frente a linguagem de Gêneses, não temos também a mesma evolução dos conhecimentos espirituais e intelectuais para sermos útil à linguagem bíblica?  

Voltemos à primeira oficina, ou melhor, a versão Bíblia. Deus abençoou grandemente todos os filhos de Noé, como vemos em Gêneses 9:1 e Gênesis 9:7/19. A nossa concepção do Deus de todos os povos nos faz entender que as suas bênçãos originais não podem retroceder, nem pelos motivos humanos mais convincentes e muito menos estão subordinadas às bênçãos ou maldições humanas posteriores.

Primeiramente “todos” os filhos de Noé foram abençoados! Fixemos nisso e não nos esqueçamos. A humanidade existe até hoje porque Deus quis que fosse assim. Um ramo da grande árvore de Noé, formado pelo seu abençoado filho Can, cumpriu os objetivos e desejos divinos de que o homem primitivo deveria “povoar toda a terra”, e para satisfazê-lo foram parar na futura Canaã e isso se deu séculos antes da chegada de Abraão. Sua família se espalhou por vários lugares da futura “terra santa”, formando as cidades-estado primitivas.

Imaginemos a Palestina pré abraâmica num tempo rudimentar, inocente e feliz, com várias tribos primas se compartilhando socialmente e deleitando com aquilo que aquela terra lhes proporcionava.

Jebus, um dos filhos de Canaã, estabeleceu a primeira povoação em um lugar que mais tarde viria a se chamar Jerusalém. Esse personagem preservou as experiências religiosas de seus antepassados. Os filhos, netos e bisnetos de Noé conheciam o Deus verdadeiro e lembravam-se das bênçãos com que foram abençoados. Jebus e seus descendentes, os jebuseus, já estabeleciam cultos a El Eloin, aquele mesmo Deus abençoador de Noé muito antes da migração de Abrão. A paz e consequentemente a alegria reinavam absolutas naquelas paragens ermas do tempo. Isso equivale dizer que não havia guerras, genocídios, e outras maldades humanas.

O primeiro nome daquele lugar foi tomado emprestado de seu fundador, ou seja: Jebus Salém ou simplesmente Jebus, Juízes 19:10. Seria uma das catorze cidades que ficaria para os benjamitas naquela invasão terrível israelense. Apesar da obtenção dessas cidades pela força da violência descomunal, não se fala em confrontos jebuseus/benjamitas, muito pelo contrário, eles se deram muito bem, tanto que permaneceram juntos por longo tempo sem quaisquer distúrbios de revoltas.

Antes, com a chegada de Abraão e sua família, sem guerras e conquistas violentas, Abraão se identificou muito bem com aquele povo pacífico, tanto que o patriarca foi oferecer Isaque no monte Sião ou Moriá, numa propriedade dos jebuseus. Para complementar essa ideia, houve o propalado encontro de Abraão com o rei de Jebus, Melquisedeque. Declaradamente Abraão se submeteu religiosamente a Melquisedeque a ponto de receber deste a sua bênção por reconhecimento de um autêntico sacerdote do Deus verdadeiro.

Melquisedeque era um jebuseu e além de reinar sobre os seus patrícios era reconhecido como o sacerdote do Deus de seus antepassados, o Deus verdadeiro. A paz e a tranqüilidade eram dadas pelo mesmo Deus verdadeiro que cultuamos nos dias de hoje e aquele povo aprendeu a viver em comunhão com o nosso Deus.

Quanto á genealogia de Melquisedeque é muito difícil imaginar que naquele tempo, um rei não seria da linhagem de seu povo! Por que sua genealogia não está enfatizada no noticiário israelense? Porque Melquisedeque não era da linhagem israelita! Ao longo do tempo acostumamos a ir somente pela versão judaica antiga e esquecemos de que como homens que eram estavam propícios a erros, acertos e tendências comunicativas.

Quando os hebreus estiveram fora por quatrocentos e quarenta anos no Egito e no deserto, ainda encontraram os jebuseus no mesmo lugar, mas a história do povo de Melquisedeque foi evaporada por quase meio milênio por uma questão prismática de relatar uma história.

David de Oliveira Goiânia - Brasil

Janeiro de 2014