Textos Deuterocanónicos

 

 

Tobias (ou Tobit)

 

Tbi.01.1 História de Tobit, filho de Tobiel, filho de Ananiel, filho de Aduel, filho de Gabael, descendente de Asiel, da tribo de Neftali.
Tbi.01.2 No tempo de Salmanasar, rei da Assíria, Tobit foi exilado de Tisbé, que fica ao sul de Cedes, em Neftali, na Galileia do norte, acima de Hasor, a ocidente, ao norte de Sefat.
Tbi.01.3 Eu, Tobit, durante toda a minha vida, andei pelos caminhos da verdade e da justiça. Sempre dei ajuda aos meus irmãos e compatriotas, exilados comigo em Ninive, no país da Assíria.
Tbi.01.4 Quando eu era moço e estava na minha terra, no país de Israel, toda a tribo do meu antepassado Neftali se separou da dinastia de David e de Jerusalém, cidade escolhida por Deus, entre todas as tribos de Israel, para os sacrifícios. Aí foi construído e consagrado o Templo para ser a morada perpétua de Deus.
Tbi.01.5 Todos os meus irmãos e a tribo de Neftali ofereciam sacrifícios ao bezerro que Jeroboão, rei de Israel, tinha colocado em Dan, na região montanhosa da Galileia.
Tbi.01.6 Muitas vezes, eu era o único a ir em peregrinação a Jerusalém, por ocasião das festas, a fim de cumprir a Lei perpétua que obriga todo o Israel. Eu corria a Jerusalém com os primeiros produtos da lavoura e as primeiras crias dos animais, com o dízimo do gado e a primeira lã das ovelhas,
Tbi.01.7 e os entregava aos sacerdotes, filhos de Aarão, para o altar. Aos levitas que estavam exercendo função em Jerusalém, eu entregava o dízimo do trigo, do vinho, do óleo, das romãs, dos figos e das frutas. Por seis anos consecutivos, eu converti o segundo dízimo em dinheiro e o gastava a cada ano em Jerusalém.
Tbi.01.8 O terceiro dízimo, eu dava para os órfãos, as viúvas e os estrangeiros convertidos que viviam com os israelitas, e o dava a eles de três em três anos. Então nós comíamos juntos, conforme a lei de Moisés e a orientação que nos deixou Débora, mãe do nosso pai Ananiel, pois meu pai tinha morrido, deixando-me órfão.
Tbi.01.9 Homem feito, casei-me com uma mulher parente nossa, de nome Ana. Ela me deu um filho, a quem chamei com o nome de Tobias.
Tbi.01.10 Exilado na Assíria, levado como prisioneiro, eu cheguei a Ninive. Meus irmãos e compatriotas comiam alimentos dos pagãos,
Tbi.01.11 mas eu tomei cuidado para não fazer o mesmo.
Tbi.01.12 Porque permaneci fiel a Deus com todo o meu coração,
Tbi.01.13 o Altíssimo me fez ganhar o favor de Salmanasar, e cheguei a ser procurador dele.
Tbi.01.14 Até à sua morte, eu costumava ir à Média e aí fazia as compras na casa de Gabael, irmão de Gabri, em Rages, na Média, onde deixei em depósito algumas sacolas com trezentos quilos de prata.
Tbi.01.15 Depois Salmanasar morreu, e seu filho Senaquerib lhe sucedeu no trono. Os caminhos para a Média foram fechados, e eu não pude mais viajar para lá.
Tbi.01.16 No tempo de Salmanasar, dei muita esmola aos meus compatriotas.
Tbi.01.17 Eu dava o meu próprio alimento para os que estavam com fome, roupa aos que estavam mal vestidos, e quando via o cadáver de algum compatriota jogado fora das muralhas de Ninive, eu o enterrava.
Tbi.01.18 Também sepultei os que Senaquerib matou, quando voltou fugindo da Judeia, por ocasião do castigo que o Rei do céu lhe aplicou por causa das blasfémias que ele disse. Nessa ocasião, enfurecido, ele matou muitos israelitas. Eu recolhia os corpos às escondidas e os enterrava. Senaquerib mandava procurá-los, mas não os encontrava.
Tbi.01.19 Alguém de Ninive foi denunciar ao rei que era eu quem os enterrava às escondidas. Quando fiquei sabendo que o rei estava informado a meu respeito e que me procuravam para me matar, fiquei com medo e fugi.
Tbi.01.20 Tudo o que eu possuía foi confiscado, e nada restou que não fosse levado para o tesouro do rei. Só ficaram minha mulher Ana e meu filho Tobias.
Tbi.01.21 Não se passaram quarenta dias, e os dois filhos de Senaquerib o assassinaram e fugiram para os montes de Ararat. Seu filho Asaradon lhe sucedeu no trono. Asaradon nomeou Aicar, filho de meu irmão Anael, para dirigir toda a economia do país, de modo que ele tinha poder sobre toda a administração.
Tbi.01.22 Então Aicar interferiu em meu favor, e eu pude voltar para Ninive. O fato é que Aicar tinha sido chefe dos copeiros, chanceler, administrador e encarregado das finanças durante o governo de Senaquerib, rei da Assíria. Por isso, Asaradon o manteve no cargo. Aicar era da minha família, era meu sobrinho.

 

Tbi.02.1 Durante o reinado de Asaradon, eu pude voltar para a minha casa e ter de novo minha mulher Ana e meu filho Tobias. Em nossa festa de Pentecostes, isto é, na festa das Semanas, foi-me preparado um belo almoço e eu me sentei à mesa para comer.
Tbi.02.2 Enquanto serviam a mesa e preparavam vários pratos, eu disse ao meu filho Tobias: "Filho, vá ver se encontra algum pobre entre os nossos compatriotas exilados em Ninive, alguém que permanece fiel a Deus de todo o coração, e traga-o aqui para almoçar connosco. Vou esperar você voltar, meu filho!"
Tbi.02.3 Então Tobias foi procurar um pobre entre os nossos compatriotas. Ao voltar, disse: "Meu pai!" E eu perguntei: "O que foi, meu filho?" Ele continuou: "Pai, assassinaram um compatriota nosso. Foi estrangulado e jogado na praça do mercado. Ainda está lá".
Tbi.02.4 Imediatamente deixei a mesa, sem ao menos provar o almoço. Fui buscar o corpo e o coloquei num quarto, esperando o pôr-do-sol para enterrá-lo.
Tbi.02.5 Voltando, lavei-me e fui almoçar cheio de tristeza,
Tbi.02.6 lembrando-me das palavras que o profeta Amós disse contra Betel: "As festas de vocês vão se transformar em luto, e seus cânticos alegres em lamentações".
Tbi.02.7 E comecei a chorar. Logo que o sol se pôs, saí de casa, fiz uma cova e enterrei o corpo.
Tbi.02.8 Os meus vizinhos caçoavam de mim, dizendo: "Ele não tem mais medo! Por esse motivo, já foi procurado para ser morto. Da primeira vez, conseguiu fugir. Agora, está aí de novo enterrando os mortos!"
Tbi.02.9 Nessa mesma noite, depois de tomar banho, fui para o pátio de minha casa e deitei-me junto ao muro do pátio, com o rosto descoberto por causa do calor.
Tbi.02.10 Não tinha notado, porém, que havia uns pardais no muro, bem acima de mim. Caiu excremento quente nos meus olhos, produzindo neles manchas brancas. Fui aos médicos para me tratar. Porém, quanto mais pomadas aplicavam, mais as manchas aumentavam, até que fiquei completamente cego. Fiquei cego durante quatro anos. Todos os meus irmãos lamentaram muito a minha sorte. Aicar me sustentou por dois anos, até que se mudou para Elimaida.
Tbi.02.11 Nessa situação, minha mulher Ana começou a trabalhar para ganhar dinheiro. Fiava lã e recebia tela para tecer.
Tbi.02.12 Entregava as encomendas, e os fregueses lhe pagavam o trabalho. No dia sete do mês de distros, ela terminou uma dessas encomendas e a entregou aos fregueses. Eles lhe pagaram tudo e ainda lhe deram um cabrito para o almoço.
Tbi.02.13 Quando ela chegou em casa e o cabrito começou a berrar, eu a chamei e lhe perguntei: "De onde veio esse cabrito?! Será que não foi roubado? Devolva ao dono! Não podemos comer nada que seja roubado!"
Tbi.02.14 Ana me respondeu: "Eles me deram o cabrito, além do pagamento". Eu não acreditei, e insisti para que devolvesse o cabrito aos donos. Eu estava envergonhado por causa dela. Então ela me disse: "Onde estão as suas esmolas? Onde está o bem que você fez? Está vendo a que ponto chegou?

 

Tbi.03.1 Muito entristecido com tudo isso, soluçando e chorando, comecei a rezar:
Tbi.03.2 "Senhor, tu és justo, e tuas obras todas são justas. Tu ages com misericórdia e fidelidade. Tu és o juiz do mundo.
Tbi.03.3 Agora, Senhor, lembra-te de mim e olha para mim. Não me castigues pelos pecados e erros, meus e de meus antepassados,
Tbi.03.4 que cometemos em tua presença, desobedecendo aos teus mandamentos. Tu nos entregaste ao saque, ao exílio e à morte, transformando-nos em piada, comentário e desprezo de todas as nações, por onde nos espalhaste.
Tbi.03.5 Sim, todas as tuas sentenças são justas, quando me tratas segundo as minhas faltas, porque não cumprimos teus mandamentos, nem procedemos lealmente em tua presença.
Tbi.03.6 Agora, faz de mim o que desejares. Manda que me tirem a vida, e eu desaparecerei da face da terra, e em terra me transformarei. Sim, é melhor morrer do que viver, pois sofro ultrajes que não mereço, e a tristeza me invade. Manda, Senhor, que eu seja liberto dessa prova. Deixa-me partir para a morada eterna, e não afastes o teu rosto de mim, Senhor. Sim, é melhor morrer do que viver aguentando esta prova e ouvindo tantos ultrajes".
Tbi.03.7 Nesse mesmo dia, Sara, filha de Raguel, que morava na Média, em Ecbátana, também teve que suportar os insultos de uma empregada do seu pai.
Tbi.03.8 Sara tinha-se casado com sete homens, porém, Asmodeu, o pior dos demónios, tinha matado cada um deles, antes que tivessem relações conjugais com ela. A empregada lhe dizia: "É você mesma que mata seus maridos. Já se casou com sete homens, e nenhum deles consumou o casamento!
Tbi.03.9 Você quer castigar a nós pela morte de seus maridos? Pois vá com eles, e que nunca você tenha filho ou filha".
Tbi.03.10 Então Sara, abatida, começou a chorar e subiu ao quarto do seu pai, pensando em se enforcar. Depois, reflectiu melhor e pensou: "Ainda vão jogar isso na cara de meu pai. Vão dizer que sua única e querida filha se enforcou de tanta infelicidade! Desse jeito, eu causaria tanta dor ao meu velho pai, que ele morreria. Em vez de me enforcar, é melhor pedir que o Senhor me tire a vida, e eu nunca mais terei de ouvir esses insultos".
Tbi.03.11 Nesse momento, ela estendeu os braços para a janela, e suplicou: "Bendito sejas tu, Deus misericordioso! Bendito seja o teu Nome eternamente, e que tuas obras te bendigam para sempre.
Tbi.03.12 Para ti levanto meu rosto e meus olhos.
Tbi.03.13 Manda que eu desapareça da terra, para não ouvir mais insultos.
Tbi.03.14 Tu sabes, Senhor, que eu estou pura e que homem algum me tocou.
Tbi.03.15 Nunca desonrei o meu nome, nem o nome de meu pai, na terra do meu exílio. Sou filha única, e meu pai não tem outro filho como herdeiro, nem irmão ou parente próximo com quem eu possa me casar. Já perdi sete maridos. Para que viver mais? Se não me quiseres tirar a vida, Senhor, trata-me com compaixão, para que eu não ouça mais insultos".
Tbi.03.16 No mesmo instante, o Deus da glória escutou a oração dos dois,
Tbi.03.17 e mandou Rafael para curá-los: tirar as manchas dos olhos de Tobit, a fim de que ele pudesse ver a luz de Deus; e fazer com que Sara, filha de Raguel, se casasse com Tobias, filho de Tobit, livrando-a de Asmodeu, o pior dos demónios. De fato, Tobias tinha mais direito de casar-se com ela do que todos os outros pretendentes. No mesmo momento, Tobit voltava do pátio para dentro de casa, e Sara, filha de Raguel, descia do quarto do pai.

 

Tbi.04.1 Nesse dia, Tobit lembrou-se do dinheiro que tinha deixado com Gabael em Rages, na Média,
Tbi.04.2 e pensou: "Eu pedi a morte. Por que não chamar o meu filho Tobias e não informá-lo sobre esse dinheiro, antes de morrer?"
Tbi.04.3 Então chamou o filho Tobias, e lhe disse: "Quando eu morrer me dê uma sepultura digna. Honre sua mãe, e não a abandone nunca, enquanto ela viver. Faça sempre o que for do agrado dela, e por nada lhe cause tristeza.
Tbi.04.4 Lembre-se, meu filho, de que ela passou muitos perigos por sua causa, quando você estava no ventre dela. Quando ela morrer, sepulte-a junto de mim, no mesmo túmulo.
Tbi.04.5 Meu filho, lembre-se do Senhor todos os dias. Não peque, nem transgrida seus mandamentos. Pratique a justiça todos os dias da vida, e jamais ande pelos caminhos da injustiça.
Tbi.04.6 Se você agir conforme a verdade, será bem-sucedido em tudo o que fizer, como todos os que praticam a justiça.
Tbi.04.7 Dê esmolas daquilo que você possui, e não seja mesquinho. Se você vê um pobre, não desvie o rosto, e Deus não afastará seu rosto de você.
Tbi.04.8 Que sua esmola seja proporcional aos bens que você possui: se você tem muito, dê muito; se você tem pouco, não tenha receio de dar conforme esse pouco.
Tbi.04.9 Assim você estará guardando um tesouro para o dia da necessidade,
Tbi.04.10 pois a esmola livra da morte e não deixa cair nas trevas.
Tbi.04.11 Quem dá esmola, apresenta uma boa oferta ao Altíssimo.
Tbi.04.12 Meu filho, afaste-se de qualquer união ilegal. Em primeiro lugar, escolha uma esposa que pertença à família de seus antepassados. Não se case com mulher estrangeira, que não seja da tribo do seu pai, porque somos filhos de profetas. Lembre-se de Noé, Abraão, Isaac e Jacob, nossos antepassados mais antigos. Todos eles se casaram com mulheres da sua parentela, foram abençoados em seus filhos, e sua descendência possuirá a terra como herança.
Tbi.04.13 Meu filho, ame seus parentes, não se mostre orgulhoso diante de seus irmãos, os filhos e filhas do seu povo, e escolha entre elas a sua mulher. De fato, o orgulho é causa de ruína e muita inquietação. A preguiça traz pobreza e miséria, porque a preguiça é mãe da fome.
Tbi.04.14 Não atrase o pagamento de quem trabalha para você. Pague sem demora, e se você estiver sendo justo, Deus o recompensará. Meu filho, seja reservado em tudo o que fizer, e bem-educado em todo o seu comportamento.
Tbi.04.15 Não faça para ninguém aquilo que você não gosta que façam para você. Não beba vinho até se embriagar, e não deixe que a embriaguez seja sua companheira de caminho.
Tbi.04.16 Reparta seu pão com quem tem fome e suas roupas com quem está nu. Dê como esmola tudo o que você tem de supérfluo, e não seja mesquinho.
Tbi.04.17 Ofereça seu pão e vinho sobre o túmulo dos justos, ao invés de dá-los aos infiéis.
Tbi.04.18 Procure aconselhar-se com pessoas sensatas, e nunca despreze um conselho útil.
Tbi.04.19 Bendiga ao Senhor Deus em todas as circunstâncias. Peça que ele guie você em todos os caminhos, e que ele faça você ter sucesso em todas as iniciativas e projectos, pois nenhum povo possui a sabedoria. Somente o Senhor é quem dá seus bens. Segundo o projecto dele, o Senhor exalta ou rebaixa até o fundo da mansão dos mortos. Portanto, meu filho, lembre-se dessas normas, e não permita que elas desapareçam de sua memória.
Tbi.04.20 Meu filho, quero ainda contar-lhe que deixei trezentos quilos de prata com Gabael, filho de Gabri, na cidade de Rages, na Média.
Tbi.04.21 Não tenha medo, meu filho, se nós ficamos pobres. Se você temer a Deus, se evitar todo tipo de pecado e se você fizer o que agrada ao Senhor seu Deus, você terá uma grande riqueza.

 

Tbi.05.1 Tobias perguntou a seu pai: "Meu pai, vou fazer tudo o que o senhor me mandou.
Tbi.05.2 Mas como posso recuperar esse dinheiro? Gabael não me conhece e eu não o conheço. Que sinal posso dar-lhe para que ele me reconheça, acredite em mim e me entregue o dinheiro? Além disso, não conheço o caminho para ir até a Média".
Tbi.05.3 Tobit respondeu: "Gabael me deu um documento e eu dei outro a ele. Dividi o documento em duas partes, e cada um ficou com uma delas. Uma parte, eu deixei lá com o dinheiro, e a outra está comigo. Já se passaram vinte anos, desde que eu depositei esse dinheiro! Agora, meu filho, vá procurar uma pessoa de confiança que possa acompanhá-lo na viagem, e nós pagaremos a ela quando vocês voltarem. Vá e recupere esse dinheiro que está com Gabael".
Tbi.05.4 Tobias saiu para procurar uma pessoa que pudesse ir com ele até a Média e conhecesse o caminho. Logo que saiu, encontrou o anjo Rafael bem à frente dele, mas não sabia que era um anjo de Deus.
Tbi.05.5 Tobias lhe perguntou: "De onde você é, rapaz?" Ele respondeu: "Sou israelita, seu compatriota, e estou aqui procurando trabalho". Tobias lhe perguntou: "Você sabe o caminho para a Média?"
Tbi.05.6 Ele respondeu: "Sim. Já estive lá muitas vezes e conheço bem todos os caminhos. Fui muitas vezes à Média, e me hospedei na casa do nosso compatriota Gabael, que mora em Rages, na Média. São dois dias de viagem de Ecbátana até Rages, pois Rages fica na região montanhosa e Ecbátana fica na planície".
Tbi.05.7 Tobias disse: "Espere aqui, rapaz, enquanto vou contar isso a meu pai. Estou precisando que você viaje comigo. Eu lhe pago depois".
Tbi.05.8 Rafael disse: "Está bem. Ficarei esperando, mas não demore".
Tbi.05.9 Tobias entrou em casa e contou a seu pai Tobit: "Pai, encontrei um israelita, que é nosso compatriota!" Tobit lhe disse: "Chame-o para que eu saiba de que família e tribo ele é, e se é de confiança para viajar com você, meu filho".
Tbi.05.10 Tobias saiu para chamá-lo e disse: "Rapaz, meu pai está chamando você!" O anjo entrou na casa, e Tobit se apressou em cumprimentá-lo. O anjo disse: "Desejo-lhe muita alegria". Tobit respondeu: "Que alegria ainda posso ter? Sou cego, não enxergo a luz do dia, vivo na escuridão com os mortos, que já não enxergam a luz. Escuto a voz das pessoas, mas não posso vê-las". Rafael disse-lhe: "Coragem! Em breve, Deus vai curá-lo. Tenha confiança". Tobit disse a ele: "Meu filho Tobias quer ir até a Média. Você pode ir com ele para ensinar o caminho? Eu lhe pagarei por isso, meu irmão". Ele respondeu: "Posso ir. Conheço todas as estradas. Muitas vezes viajei até a Média e já percorri todas as suas planícies e montanhas, e conheço todos os caminhos por lá".
Tbi.05.11 Tobit lhe perguntou: "Meu irmão, de que família e tribo você é? Conte para mim".
Tbi.05.12 O anjo respondeu: "Para que você quer saber sobre minha família e tribo?" Tobit insistiu: "Gostaria de saber de quem você é filho e qual é o seu nome."
Tbi.05.13 Rafael respondeu: "Sou Azarias, filho do grande Ananias, um compatriota seu".
Tbi.05.14 Tobit disse: "Seja bem-vindo, meu irmão. Não leve a mal se eu procuro saber exactamente seu nome e sua família. Acontece que você é parente meu e vem de uma família honesta e honrada. Conheço bem Ananias e Natan, os dois filhos do grande Semeías. Eles costumavam ir comigo a Jerusalém, para juntos adorarmos a Deus. Eles nunca se desviaram do caminho certo. Seus parentes são homens de bem. Seja bem-vindo, porque você vem de uma raiz muito boa".
Tbi.05.15 E acrescentou: "Vou lhe pagar uma dracma por dia, além do necessário para você e meu filho.
Tbi.05.16 Acompanhe meu filho, que depois eu ainda posso lhe aumentar o pagamento".
Tbi.05.17 O rapaz respondeu: "Vou com ele. Não tenha medo. Iremos e voltaremos sãos e salvos. O caminho é seguro". Tobit disse: "Deus lhe pague, meu irmão". Então Tobit chamou o filho e recomendou: "Filho, prepare o necessário para a viagem e parta com o seu parente. Que o Deus do céu proteja vocês e os traga sãos e salvos. Que seu anjo os acompanhe com sua protecção, meu filho". Tobias beijou seu pai e sua mãe e partiu para a viagem, enquanto Tobit lhe dizia: "Boa viagem!"
Tbi.05.18 Sua mãe começou a chorar, e disse a Tobit: "Por que você mandou o meu filho? Ele era o nosso apoio e sempre estava perto de nós!
Tbi.05.19 O dinheiro não vale nada em comparação com o nosso filho.
Tbi.05.20 O que Deus nos dava era o bastante".
Tbi.05.21 Tobit disse: "Não se preocupe! Nosso filho partiu e voltará são e salvo. Você verá com seus próprios olhos, quando ele voltar são e salvo.
Tbi.05.22 Não se preocupe nem se atormente, minha irmã. Um anjo bom o acompanhará, lhe dará uma viagem tranquila e o trará são e salvo".
Tbi.05.23 Então, ela parou de chorar.

 

Tbi.06.1 Tobias partiu com o anjo, e o cachorro os acompanhou. Caminharam até o anoitecer e acamparam junto ao rio Tigre.
Tbi.06.2 Tobias foi lavar os pés no rio, quando um grande peixe saltou da água, tentando devorar-lhe o pé. Tobias deu um grito.
Tbi.06.3 Mas o anjo lhe disse: "Pegue o peixe. Não o deixe fugir". Tobias conseguiu agarrar o peixe e o tirou para fora da água.
Tbi.06.4 O anjo lhe disse: "Abra o peixe, tire o fel, o coração e o fígado e os guarde. Jogue fora as tripas. O fel, o coração e o fígado desse peixe são excelentes remédios".
Tbi.06.5 Tobias, então, abriu o peixe e tirou o fel, o coração e o fígado. Depois assou um pedaço, comeu e salgou o resto.
Tbi.06.6 E continuaram a viagem até chegarem perto da Média.
Tbi.06.7 Tobias perguntou ao anjo: "Azarias, meu irmão, que remédio se pode fazer do fígado, do coração e do fel desse peixe?"
Tbi.06.8 Ele respondeu: "O coração e o fígado servem para serem queimados na presença de homem ou mulher atacados por algum demónio ou espírito mau. A fumaça espanta o mal e faz o demónio desaparecer para sempre.
Tbi.06.9 Se uma pessoa tem mancha branca nos olhos, basta passar o fel. Depois se sopra sobre as manchas, e a pessoa fica curada".
Tbi.06.10 Quando entraram na Média e estavam perto de Ecbátana,
Tbi.06.11 Rafael disse: "Irmão Tobias!" Ele respondeu: "O que foi?" O anjo continuou: "Hoje devemos passar a noite em casa de Raguel. Ele é parente seu e tem uma filha chamada Sara.
Tbi.06.12 Ela é filha única. Você é o parente mais próximo, tem mais direitos sobre ela do que os outros. Por isso, é justo que seja você o herdeiro dos bens do pai dela. A moça é séria, corajosa e muito bonita, e o pai dela é de boa posição".
Tbi.06.13 E continuou: "Você tem o direito de se casar com ela. Preste atenção, meu irmão: hoje à noite vou falar com o pai dela, pedindo que lhe dê sua filha em casamento. Quando voltarmos de Rages, faremos o casamento. Eu lhe garanto que Raguel não vai poder negar a filha para você, fazendo-a casar-se com outro. Nesse caso, ele seria réu de morte, conforme a sentença do Livro de Moisés, pois ele sabe que você tem mais direito de se casar com a filha dele, que qualquer outro homem. Portanto, preste atenção, meu irmão: vamos falar esta noite sobre a moça, e pedir a mão dela. Quando voltarmos de Rages, nós a receberemos e a levaremos para a sua casa".
Tbi.06.14 Tobias, porém, respondeu: "Azarias, meu irmão, ouvi dizer que ela já foi dada em casamento a sete homens, e que todos eles morreram no quarto, durante a noite de núpcias, quando iam se unir com ela. Ouvi dizer que foi um demónio que matou a todos eles.
Tbi.06.15 Eu tenho medo. O demónio não faz nada para a moça, porém mata qualquer um que se aproxime dela. Sou filho único. Tenho medo de morrer e levar meu pai e minha mãe à sepultura, pelo desgosto de me perderem. Eles não têm outro filho que possa enterrá-los".
Tbi.06.16 Então o anjo falou a Tobias: "Você não se lembra de que seu pai lhe disse para você se casar com uma mulher da sua família? Pois preste atenção, meu irmão: não se preocupe com o demónio, e se case com ela. Eu tenho certeza de que esta noite ela vai ser dada a você em casamento.
Tbi.06.17 Quando você for para o quarto nupcial, pegue o fígado e o coração daquele peixe e coloque-os no queimador de incenso. Quando a fumaça começar a subir e o demónio sentir o cheiro, ele fugirá e nunca mais aparecerá perto dela.
Tbi.06.18 Antes de se unir a ela, levantem-se os dois e rezem, pedindo ao Senhor do céu que tenha misericórdia e proteja vocês. Não tenha medo. Ela foi destinada a você desde a eternidade, e você é quem vai salvá-la. Ela irá com você, e eu estou certo de que lhe dará filhos, que serão como irmãos. Não se preocupe!"
Tbi.06.19 Quando Tobias ouviu o que Rafael lhe dizia, e soube que a moça era parente sua, da mesma família do seu pai, ficou tão enamorado que seu coração não conseguia separar-se dela.

 

Tbi.07.1 Quando entraram em Ecbátana, Tobias disse: "Azarias, meu irmão, leve-me logo até a casa do nosso irmão Raguel". O anjo o levou até a casa de Raguel, que estava sentado junto ao portão. Eles o cumprimentaram primeiro, e Raguel respondeu: "Como vão, irmãos? Sejam bem-vindos!" E os fez entrar na casa.
Tbi.07.2 E foi logo dizendo para sua mulher Edna: "Como esse rapaz é parecido com o meu irmão Tobit!"
Tbi.07.3 Edna lhes perguntou: "De onde são vocês, meus irmãos?" Eles responderam: "Somos da tribo de Neftali e estamos exilados em Ninive!"
Tbi.07.4 Ela perguntou: "Vocês conhecem nosso irmão Tobit?" Eles responderam: "Conhecemos, sim!" Ela continuou: "Ele está bem?"
Tbi.07.5 Eles responderam: "Sim. Está vivo e passando bem". E Tobias acrescentou: "Tobit é meu pai!"
Tbi.07.6 Raguel se levantou, deu um beijo em Tobias e, chorando, disse: "Deus o abençoe, meu filho! Você tem um pai justo e bom! Que infelicidade ficar cego um homem tão justo e bom!" E, lançando-se ao pescoço de Tobias, desatou a chorar.
Tbi.07.7 Sua mulher Edna e sua filha Sara também começaram a chorar.
Tbi.07.8 Em seguida, Raguel mandou matar um cordeiro do rebanho, e deu-lhes uma calorosa recepção.
Tbi.07.9 Depois de se lavarem e se purificarem, sentaram-se à mesa. Tobias disse então a Rafael: "Azarias, meu irmão, peça a Raguel que me dê minha irmã Sara em casamento!"
Tbi.07.10 Raguel ouviu a conversa e disse ao rapaz: "Coma, beba e fique à vontade esta noite, pois, além de você, meu irmão, não há outro homem que tenha direito de se casar com minha filha Sara. Eu nem tenho o direito de entregá-la a outro, porque você é o meu parente mais próximo. Mas vou ser franco com você, meu filho.
Tbi.07.11 Já dei minha filha em casamento a sete homens parentes nossos, e todos morreram na noite em que entraram no quarto dela. Mas agora, meu filho, coma e beba. O Senhor cuidará de vocês".
Tbi.07.12 Tobias disse: "Não vou comer nem beber antes que o senhor me dê uma decisão!" Raguel respondeu: "Vou fazer o que você me pede. A minha filha vai lhe ser dada em casamento, conforme está determinado no Livro de Moisés, e como Deus mandou fazer. Receba então a sua irmã. Vocês, a partir de agora, são marido e mulher. Ela pertence a você de hoje para sempre. Que o Senhor do céu os ajude esta noite, e lhes conceda a sua misericórdia e a sua paz".
Tbi.07.13 Então Raguel chamou sua filha Sara, que se apresentou. Ele a tomou pela mão e a entregou a Tobias, dizendo: "Receba Sara. Conforme a Lei e a sentença que está escrita no Livro de Moisés, ela é dada a você como esposa. Receba-a e volte são e salvo para a casa do seu pai. Que o Deus do céu os acompanhe com a sua paz".
Tbi.07.14 Então chamou a mãe da moça e mandou trazer uma folha de papiro. Escreveu o contrato de casamento, segundo o qual concedia a própria filha como esposa de Tobias, conforme a sentença da lei de Moisés. Depois disso, começaram a comer e beber.
Tbi.07.15 Raguel chamou sua esposa Edna e disse: "Irmã, prepare o outro quarto e leve para lá a nossa filha".
Tbi.07.16 Ela foi preparar a cama no quarto e levou a filha para lá. Depois começou a chorar pela filha, enxugou as lágrimas e disse:
Tbi.07.17 "Coragem, filha! Que o Senhor do céu transforme sua tristeza em alegria. Coragem, filha!" E saiu.

 

Tbi.08.1 Quando terminaram de comer e beber, foram dormir. Acompanharam o rapaz até o quarto.
Tbi.08.2 Tobias lembrou-se do que Rafael tinha dito, pegou o fígado e o coração do peixe, que estavam na sua sacola, e colocou no queimador de incenso.
Tbi.08.3 O cheiro do peixe expulsou o demónio, que fugiu para as regiões do alto Egipto. Rafael imediatamente o perseguiu, o pegou e o acorrentou.
Tbi.08.4 Os outros tinham saído e fechado a porta do quarto. Tobias levantou-se e disse a Sara: "Levante-se, minha irmã! Vamos rezar e suplicar ao Senhor que nos conceda misericórdia e salvação".
Tbi.08.5 Então ela se levantou, e os dois começaram a rezar, pedindo que Deus os protegesse. Eles diziam: "Bendito sejas tu, Deus de nossos antepassados, e bendito seja o teu Nome para todo o sempre! Que o céu e tuas criaturas todas te bendigam para todo o sempre.
Tbi.08.6 Tu criaste Adão e, como ajuda e apoio, criaste Eva, sua mulher, e dos dois nasceu a raça humana. Tu mesmo disseste: 'Não é bom que o homem fique só. Façamos para ele uma auxiliar que lhe seja semelhante'.
Tbi.08.7 Se eu me caso com minha prima, não é para satisfazer minha paixão. Eu me caso com recta intenção. Por favor, tem piedade de mim e dela e faz que juntos cheguemos à velhice".
Tbi.08.8 E os dois disseram juntos: "Amém! Amém!"
Tbi.08.9 Depois dormiram a noite inteira.
Tbi.08.10 Raguel, porém, levantou-se e chamou os empregados que tinha em casa para cavarem uma sepultura. Ele pensava assim: "Se eu não fizer isso e ele morrer, nós vamos ser objecto de riso e caçoada".
Tbi.08.11 Quando acabaram de cavar a sepultura, Raguel entrou em casa, chamou a mulher
Tbi.08.12 e disse: "Mande uma empregada entrar no quarto deles e ver se Tobias está vivo. Se tiver morrido, vamos sepultá-lo imediatamente, para que ninguém fique sabendo".
Tbi.08.13 Mandaram a empregada, acenderam um lampião e abriram a porta. A empregada entrou e encontrou os dois deitados juntos e dormindo.
Tbi.08.14 Saindo do quarto, ela contou que ele estava vivo e que nada de mau parecia ter acontecido.
Tbi.08.15 Raguel deu graças ao Deus do céu, dizendo: "Bendito sejas tu, ó Deus, com todo o louvor mais sincero! Sejas bendito para sempre!
Tbi.08.16 Bendito sejas tu, pela alegria que me deste, pois não aconteceu o mal que eu temia. Tu nos trataste segundo a tua grande misericórdia.
Tbi.08.17 Bendito sejas tu, que tiveste compaixão de dois filhos únicos. Tem piedade deles, Senhor, e concede-lhes a tua salvação. Faz com que eles cheguem ao fim da vida deles em meio à alegria e à graça".
Tbi.08.18 Em seguida, Raguel mandou os empregados taparem a sepultura, antes que amanhecesse.
Tbi.08.19 Raguel disse à sua mulher para fazer muitos pães. Foi ao curral, escolheu dois bois e quatro carneiros, e mandou preparar tudo. E começaram os preparativos.
Tbi.08.20 Depois chamou Tobias e lhe disse: "Durante catorze dias você não sairá daqui, mas ficará em minha casa, comendo e bebendo comigo e alegrando o coração da minha filha, que estava tão abatida.
Tbi.08.21 Depois você pegará a metade do que é meu e voltará são e salvo para seu pai. Quando eu e minha mulher morrermos, também a outra metade será de vocês. Coragem, filho! Eu sou seu pai e Edna é sua mãe. De hoje em diante, nós pertencemos a você e à sua esposa. Coragem, filho".

 

Tbi.09.1 Tobias chamou, então, Rafael e lhe disse:
Tbi.09.2 "Azarias, meu irmão, leve com você quatro criados e dois camelos,
Tbi.09.3 vá até Rages e procure a casa de Gabael. Entregue-lhe o documento, receba dele o dinheiro e o convide a vir até aqui para a festa do casamento.
Tbi.09.4 Você sabe que meu pai está contando os dias, e se eu atrasar um dia que seja, vou lhe causar muita preocupação. E você sabe também que não posso quebrar o compromisso com Raguel".
Tbi.09.5 Então Rafael partiu para Rages, acompanhado dos quatro criados e levando os dois camelos. Hospedaram-se na casa de Gabael. E Rafael lhe entregou o documento, deu-lhe a notícia que Tobias, filho de Tobit, havia se casado e que o convidava para a festa do casamento. Gabael foi depressa pegar as sacolas ainda lacradas e as contou na presença de Rafael. Depois carregaram tudo sobre os camelos.
Tbi.09.6 Os dois madrugaram, e juntos partiram para a festa do casamento. Ao entrarem na casa de Raguel, encontraram Tobias à mesa. Ele se levantou imediatamente para cumprimentá-lo. Então Gabael o abençoou chorando e dizendo: "Bom filho de um homem excelente, justo e bom! Que Deus lhe dê a bênção do céu, a você e à sua esposa, ao pai e à mãe de sua esposa. Bendito seja Deus, porque vejo em você o retrato vivo do meu primo Tobit".

 

Tbi.10.1 Enquanto isso, Tobit ficava contando, um por um, os dias da viagem de Tobias, quantos eram necessários para a ida e quantos para a volta. Quando, porém, terminou esse prazo e o seu filho não chegou,
Tbi.10.2 ele ficou pensando: "Quem sabe ele teve algum contratempo! Será que Gabael morreu e não lhe quiseram entregar o dinheiro?"
Tbi.10.3 E começou a ficar preocupado.
Tbi.10.4 Ana, sua mulher, dizia: "Meu filho morreu, não faz mais parte do mundo dos vivos". E começou a chorar e a se lamentar por causa do filho; dizia:
Tbi.10.5 "Que desgraça para mim! Filho meu, por que deixei você partir? Você que era a luz dos meus olhos!"
Tbi.10.6 Tobit, porém, disse: "Fique calma! Não se preocupe, irmã! Ele está bem. Talvez tenha tido algum imprevisto. O companheiro dele é de confiança, é um dos nossos irmãos. Não se preocupe, minha irmã. Logo ele estará aqui".
Tbi.10.7 Ela respondeu: "Não me fale assim, não queira me enganar! O meu filho morreu mesmo!" E todos os dias, ela saía e ficava olhando a estrada por onde o filho tinha partido. Não acreditava em mais ninguém. Somente ao pôr-do-sol ela voltava para casa e passava a noite inteira em claro, chorando e se lamentando.
Tbi.10.8 Passados os catorze dias da festa de casamento, que Raguel tinha mandado fazer para a sua filha, Tobias dirigiu-se a ele, dizendo: "Deixe-me partir. Estou certo de que meu pai e minha mãe já perderam a esperança de me rever. Por favor, pai, deixe-me voltar para casa. Já lhe expliquei em que situação os deixei".
Tbi.10.9 Raguel insistiu: "Fique, meu filho, fique comigo! Mandarei um mensageiro dar notícias suas ao seu pai Tobit". Mas Tobias respondeu: "De maneira nenhuma! Por favor, deixe-me voltar imediatamente para a casa do meu pai".
Tbi.10.10 Então Raguel entregou a esposa de Tobias e a metade de todos os seus bens: empregados e empregadas, bois e ovelhas, jumentos e camelos, roupas, dinheiro e utensílios.
Tbi.10.11 E os deixou partir em paz. Despedindo-se de Tobias, lhe disse: "Passe bem, meu filho! Vá em paz. Que o Senhor do céu conduza você e sua esposa Sara pelo bom caminho. Quem sabe, antes de morrer, eu possa ver os filhos de vocês".
Tbi.10.12 E disse para a filha Sara: "Vá para a casa do seu sogro, que a partir de agora eles são seus pais, da mesma forma como nós, que lhe demos a vida. Vá em paz, minha filha! Que eu tenha sempre boas notícias de você durante toda a minha vida". E saudando-os despediu-se deles.
Tbi.10.13 Edna disse a Tobias: "Meu filho Tobias, meu irmão querido, que o Senhor um dia o traga de volta e que, antes de morrer, eu possa ver os seus filhos e de minha filha Sara. Diante do Senhor, eu confio a você a minha filha Sara. Não lhe cause tristeza durante todos os dias de sua vida. Vá em paz, filho. A partir de agora eu sou sua mãe e Sara é sua irmã. Que bom se pudéssemos viver todos juntos e felizes por toda a vida!" Em seguida, beijou os dois, e os deixou partir.
Tbi.10.14 Tobias partiu feliz da casa de Raguel, cantando e louvando ao Senhor do céu e da terra, ao rei de todas as coisas, pelo sucesso da viagem. Ao se despedir de Raguel e Edna, Tobias disse: "Que eu seja digno de vocês todos os dias da minha vida".

 

Tbi.11.1 Quando estavam perto de Caserin, já defronte a Ninive, Rafael disse:
Tbi.11.2 "Você sabe em que estado deixamos o seu pai.
Tbi.11.3 Vamos na frente, antes de sua esposa, para preparar a casa, enquanto os outros vão chegando".
Tbi.11.4 Então os dois foram juntos, na frente. O anjo disse a Tobias: "Leve com você o fel do peixe". E o cachorro ia atrás deles.
Tbi.11.5 Ana estava sentada, olhando a estrada pela qual o filho tinha partido.
Tbi.11.6 Percebendo antes de todos a chegada dele, ela disse a Tobit: "Seu filho está chegando com o companheiro dele!"
Tbi.11.7 Antes de chegarem à casa do pai, Rafael disse a Tobias: "Eu tenho certeza de que os olhos dele vão se abrir!
Tbi.11.8 Coloque o fel do peixe nos olhos dele. O remédio vai fazer com que as manchas brancas se encolham e se soltem. Então seu pai vai recuperar a vista e poderá enxergar".
Tbi.11.9 Ana correu e lançou-se ao pescoço do filho, dizendo: "Vi você de novo, meu filho! Agora posso morrer". E começou a chorar.
Tbi.11.10 Tobit se levantou e, tropeçando, conseguiu chegar até o portão.
Tbi.11.11 Tobias foi ao seu encontro, levando na mão o fel do peixe. Soprou nos olhos do pai, enquanto o abraçava, e disse: "Coragem, pai!" Aplicou-lhe o remédio nos olhos e segurou um pouco.
Tbi.11.12 Depois, com as duas mãos, tirou uma pele dos cantos dos olhos do pai.
Tbi.11.13 Tobit, então, lançou-se ao pescoço do filho, chorou e disse: "Estou vendo você, meu filho, luz dos meus olhos!"
Tbi.11.14 E continuou: "Bendito seja Deus! Bendito seja o seu Nome grandioso! Benditos sejam os seus santos anjos. Que seu nome glorioso nos proteja. Porque, num momento ele me castigou, mas depois se compadeceu, e agora estou vendo o meu filho Tobias!"
Tbi.11.15 Em seguida, Tobias entrou feliz em casa, bendizendo a Deus em voz alta. Depois contou a seu pai que a viagem tinha dado certo. Estava trazendo o dinheiro e tinha casado com Sara, a filha de Raguel. Ela estava chegando às portas de Ninive.
Tbi.11.16 Tobit saiu, então, em direcção à porta de Ninive, para ir ao encontro da nora. Estava alegre e dando graças a Deus. Os ninivitas ficaram admirados ao vê-lo caminhando com passo firme, sem ninguém que o ajudasse. Tobit testemunhava para todos que Deus tinha tido misericórdia para com ele e lhe tinha devolvido a visão.
Tbi.11.17 Ao se aproximar de Sara, esposa do seu filho Tobias, lhe deu a bênção e disse: "Seja bem-vinda, minha filha! Bendito seja o seu Deus, que trouxe você para nós! Bendito seja o seu pai, e abençoado seja também o meu filho Tobias. Bendita seja você, minha filha! Seja bem-vinda a esta sua casa. Fique alegre e esteja à vontade. Entre, minha filha".
Tbi.11.18 Nesse dia, todos os judeus que viviam em Ninive fizeram uma grande festa.
Tbi.11.19 Aicar e Nadab, primos de Tobit, foram participar da sua alegria. E, durante sete dias, festejaram alegremente o casamento de Tobias.

 

Tbi.12.1 Terminada a festa do casamento, Tobit chamou seu filho Tobias e lhe disse: "Filho, está na hora de você pagar a esse homem que o acompanhou e dar-lhe também alguma gratificação".
Tbi.12.2 Tobias respondeu: "Pai, quanto devo dar a ele? Mesmo que eu dê a ele a metade dos bens que trago comigo, não me faria falta.
Tbi.12.3 Ele me conduziu são e salvo, libertou minha mulher, resgatou o dinheiro e ainda curou o senhor. Como é que vou lhe pagar?"
Tbi.12.4 Tobit disse: "Filho, ele bem merece a metade de tudo o que você trouxe!"
Tbi.12.5 Então Tobias o chamou e disse: "Como pagamento, pegue metade de tudo o que você trouxe e vá em paz".
Tbi.12.6 Mas ele chamou os dois à parte, e disse: "Bendigam a Deus e proclamem diante de todos os seres vivos os benefícios que ele concedeu a vocês. Bendigam e cantem ao seu Nome. Anunciem a todos os homens, como convém, as obras de Deus. E não se cansem de lhe agradecer.
Tbi.12.7 É bom manter oculto o segredo do rei, mas é necessário revelar e manifestar as obras de Deus. Pratiquem o bem, e não lhes acontecerá nenhuma desgraça.
Tbi.12.8 Vale mais a oração com jejum e a esmola com justiça, do que a riqueza adquirida com a injustiça. É melhor praticar a esmola do que acumular ouro.
Tbi.12.9 A esmola livra da morte e purifica de todo pecado. Quem pratica esmola, terá vida longa.
Tbi.12.10 Os pecadores e injustos são inimigos de si próprios.
Tbi.12.11 Vou revelar-lhes toda a verdade, sem ocultar nada. Já lhes expliquei que é bom manter oculto o segredo do rei, mas as obras de Deus devem ser proclamadas publicamente.
Tbi.12.12 Quando você e Sara rezavam, era eu quem apresentava o memorial da súplica de vocês diante do Senhor glorioso. A mesma coisa eu fazia quando você sepultava os mortos.
Tbi.12.13 Quando você não teve dúvidas em deixar o almoço, a comida, para ir esconder um morto, eu fui mandado para provar a sua fé.
Tbi.12.14 Da mesma forma, fui mandado para curar você e sua nora Sara.
Tbi.12.15 Eu sou Rafael, um dos sete anjos que estão sempre prontos para entrar na presença do Senhor glorioso".
Tbi.12.16 Os dois ficaram assustados e caíram com o rosto por terra, cheios de medo.
Tbi.12.17 Rafael, porém, lhes disse: "Não tenham medo! Que a paz esteja com vocês! Bendigam a Deus para sempre.
Tbi.12.18 Se eu estive com vocês, não foi por vontade minha, mas de Deus. É a ele que vocês devem sempre bendizer e cantar hinos.
Tbi.12.19 Vocês pensavam que eu comia, mas era só aparência.
Tbi.12.20 Agora, bendigam ao Senhor na terra, e agradeçam a Deus. Volto para aquele que me enviou. Escrevam tudo o que lhes aconteceu". E o anjo desapareceu.
Tbi.12.21 Quando se levantaram, não o puderam ver mais.
Tbi.12.22 Então louvaram a Deus e entoaram hinos, agradecendo-lhe as maravilhas que ele tinha realizado, porque o anjo de Deus tinha aparecido a eles.

 

Tbi.13.1 Tobit disse:
Tbi.13.2 "Bendito seja Deus que vive eternamente. E bendito o seu reino, que dura para sempre, pois é ele quem castiga e tem piedade. Ele faz descer à mansão dos mortos e subir da grande perdição. E ninguém pode fugir de sua mão.
Tbi.13.3 Celebrem a Deus, israelitas, diante das nações, porque ele dispersou vocês entre elas,
Tbi.13.4 para proclamar a sua grandeza. Exaltem a Deus diante de todo ser vivo, porque ele é o nosso Senhor. Ele é o nosso Deus. Ele é o nosso Pai. Ele é Deus para todo o sempre.
Tbi.13.5 Se ele castiga vocês por causa das injustiças, também terá compaixão de todos vocês, e os reunirá de todas as nações, entre as quais foram espalhados.
Tbi.13.6 Se vocês se voltarem para ele com todo o coração e com toda a alma, para praticar a verdade diante dele, então ele se voltará para vocês, e nunca mais lhes esconderá a sua face.
Tbi.13.7 Considerem o que ele fez por vocês e lhe agradeçam em alta voz. Bendigam o Senhor da justiça, e exaltem o rei dos séculos.
Tbi.13.8 Eu o celebro na terra do meu exílio, e mostro sua força e grandeza a um povo de pecadores. Voltem-se para ele, pecadores, e diante dele pratiquem a justiça. Talvez ele seja favorável a vocês, e os trate com misericórdia.
Tbi.13.9 Eu exalto o meu Deus, minha alma louva o rei do céu, e se alegra com a sua grandeza.
Tbi.13.10 Que todos o louvem e em Jerusalém o celebrem. Jerusalém, cidade santa, Deus castigou você pelas obras de seus filhos, mas de novo terá piedade do povo justo.
Tbi.13.11 Celebre dignamente o Senhor e bendiga o rei dos séculos, para que o seu Templo seja reconstruído com alegria;
Tbi.13.12 para que alegre em você todos os exilados, e em você ame todos os miseráveis, por todas as gerações futuras.
Tbi.13.13 Uma luz brilhante iluminará todas as regiões da terra. De longe, povos numerosos virão a você, e habitantes de todos os extremos da terra virão visitar o nome do Senhor Deus, com ofertas para o rei do céu. Gerações sem fim cantarão sua alegria em você, e o nome da Eleita permanecerá pelas gerações futuras.
Tbi.13.14 Malditos os que insultarem você! Malditos os que arruinarem você! Malditos os que lhe derrubarem as muralhas, demolirem as torres e incendiarem as casas! Benditos para sempre aqueles que a reconstruírem!
Tbi.13.15 Então você exultará e se alegrará por causa do povo justo, pois todos se reunirão em você, para bendizer o Senhor dos séculos. Felizes os que amam você. Felizes os que lhe desejam a paz!
Tbi.13.16 Felizes os que sofrem com as desgraças de você. Com você, eles se alegrarão vendo sua perpétua alegria. Bendiga, ó minha alma, ao Senhor, ao rei soberano,
Tbi.13.17 porque Jerusalém será reconstruída, e seu Templo aí estará para sempre. Feliz de mim, se restar alguém do meu sangue para ver sua glória e louvar o rei do céu. As portas de Jerusalém serão reconstruídas com safiras e esmeraldas, e todas as suas muralhas com pedras preciosas. As torres de Jerusalém serão construídas de ouro, e de ouro puro os seus baluartes. As ruas de Jerusalém serão calçadas com turquesas e pedras de Ofir.
Tbi.13.18 As portas de Jerusalém ressoarão com cantos de júbilo, e em todas as suas casas aclamarão: Aleluia! Bendito seja o Deus de Israel! Benditos aqueles que bendizem o seu Nome santo, para todo o sempre!".

 

Tbi.14.1 Aqui terminam as palavras do cântico de Tobit.
Tbi.14.2 E Tobit morreu em paz com a idade de cento e doze anos, e foi sepultado em Ninive com todas as honras. Tinha sessenta e dois anos quando ficou cego e, depois que recuperou a vista, viveu feliz, praticou a esmola e continuou a bendizer a Deus e celebrar sua grandeza.
Tbi.14.3 Quando estava para morrer, chamou o seu filho Tobias e lhe deu estas recomendações: "Filho, você vai ajuntar os seus filhos
Tbi.14.4 e mandar-me para a Média, pois eu creio na palavra de Deus a respeito de Ninive, pronunciada pelo profeta Naum. Vai se cumprir e se realizar tudo o que os profetas de Israel, enviados por Deus, anunciaram contra a Assíria e contra Ninive. Nada ficará sem se realizar. Tudo acontecerá no tempo certo. Haverá mais segurança na Média do que na Assíria ou na Babilónia. Pois eu sei e acredito que vai acontecer tudo o que Deus disse, e não falhará uma só palavra do que foi dito. Nossos irmãos que estão na terra de Israel serão recenseados e exilados para longe de sua bela pátria. Toda a terra de Israel se transformará num deserto. Samaria e Jerusalém ficarão desertas. O Templo será incendiado e ficará algum tempo em ruínas.
Tbi.14.5 Mas Deus terá novamente misericórdia do seu povo e vai levá-lo de volta para a terra de Israel. Eles reconstruirão o Templo, menos belo que o primeiro, até que chegue o tempo determinado. Então todos voltarão do exílio, reconstruirão Jerusalém em seu esplendor, e o Templo de Deus será reconstruído como os profetas de Israel anunciaram.
Tbi.14.6 Todas as nações da terra se converterão e temerão a Deus com sinceridade. Eles todos abandonarão os ídolos, que os enganaram com mentiras, e bendirão, como é justo, o Deus dos séculos.
Tbi.14.7 Nesse dia, todos os israelitas que se salvarem, se lembrarão de Deus com sinceridade. Irão reunir-se em Jerusalém, e daí por diante habitarão com segurança na terra de Abraão, que será propriedade deles. E aqueles que amam a Deus com sinceridade serão felizes, mas todos os que praticam o pecado e a injustiça serão eliminados da terra.
Tbi.14.8 Agora, meus filhos, eu lhes recomendo: Sirvam a Deus com sinceridade e façam sempre o que ele aprova. Ensinem aos seus filhos a prática da justiça e da esmola, e a se lembrarem de Deus e louvarem o seu Nome por todo o tempo, com sinceridade e com todas as forças.
Tbi.14.9 Quanto a você, meu filho, saia de Ninive, não fique aqui. No dia em que você sepultar sua mãe junto comigo, não pernoite mais nesta região. Aqui existe muita injustiça, acontecem muitas fraudes e ninguém se sente envergonhado.
Tbi.14.10 Veja, meu filho, quanta coisa Nadab fez para Aicar, seu pai de criação! Não é verdade que ele queria colocá-lo vivo debaixo da terra? No entanto, Deus fez o criminoso pagar sua injustiça diante da sua própria vítima, pois Aicar voltou à luz, enquanto Nadab desceu às trevas eternas, castigado por atentar contra a vida de Aicar. Por causa de suas boas obras, Aicar escapou da armadilha mortal que Nadab havia preparado para ele, enquanto Nadab caiu na armadilha e morreu.
Tbi.14.11 Portanto, meus filhos, vejam quais são os frutos da esmola, e quais são os frutos da injustiça, que mata! Estou perdendo a respiração..." Então deitaram Tobit na cama. E ele morreu e foi sepultado com honra.
Tbi.14.12 Quando sua mãe morreu, Tobias a sepultou junto com o pai. Em seguida, ele partiu para a Média com a mulher e os filhos, e ficou morando com seu sogro Raguel, em Ecbátana.
Tbi.14.13 Cuidou, como devia, da velhice dos sogros e os sepultou em Ecbátana, na Média. Herdou o que era da família de Raguel e também o que era do seu pai Tobit.
Tbi.14.14 Cercado de respeito, Tobias morreu em Ecbátana, na Média, com cento e dezassete anos.
Tbi.14.15 Antes da sua morte, porém, viu e ouviu falar da destruição de Ninive. Viu os prisioneiros ninivitas serem levados para o exílio na Média por Ciáxares, rei da Média. Tobias bendisse a Deus pelo castigo dos ninivitas e assírios. Antes de morrer, ele ainda pôde alegrar-se com a desgraça de Ninive, e bendisse o Senhor Deus para todo o sempre.

 

 

Judite

 

Jdt.01.1 Era o décimo segundo ano do reinado de Nabucodonosor, rei da Assíria, em Ninive, a capital. Nesse tempo, Arfaxad reinava sobre os medos em Ecbátana.
Jdt.01.2 Arfaxad cercou Ecbátana com muralhas feitas com pedras de um metro e meio de largura por três de comprimento. A altura da muralha era de trinta e cinco metros, e a largura era de vinte e cinco metros.
Jdt.01.3 Sobre as portas, levantou torres com cinquenta metros de altura e trinta metros de largura na base.
Jdt.01.4 Fez as portas com trinta e cinco metros de altura e vinte de largura, para que os soldados do seu exército pudessem sair, e a infantaria fazer suas evoluções.
Jdt.01.5 Por esse tempo, o rei Nabucodonosor guerreou contra o rei Arfaxad na grande planície, que se encontra no território de Ragau.
Jdt.01.6 Os habitantes da montanha, todos os habitantes das regiões do Eufrates, do Tigre, do Hidaspes e os habitantes das planícies de Arioc, rei dos elimeus, aliaram-se a Nabucodonosor. E assim, muitas nações fizeram aliança para guerrear contra os filhos de Queleud.
Jdt.01.7 Nabucodonosor, rei da Assíria, enviou embaixadores para a Pérsia e nações do Ocidente, para a Cilícia, Damasco, Líbano e Antilíbano, para os habitantes do litoral
Jdt.01.8 e os povos do Carmelo, de Galaad, da Alta-Galileia, da grande planície de Esdrelon,
Jdt.01.9 para os habitantes de Samaria e suas cidades, para os que habitam além do Jordão até Jerusalém, em Batana, Quelus, Cades, o rio do Egipto, Táfnis, Ramsés e toda a terra de Gessen,

Jdt.01.10 até chegar além de Tânis e de Mênfis, e a todos os egípcios, até a fronteira da Etiópia.
Jdt.01.11 Todos, porém, desprezaram o convite de Nabucodonosor, rei da Assíria, e não se aliaram com ele. Não respeitavam Nabucodonosor, porque achavam que ele era pessoa sem poder. Mandaram de volta os embaixadores de mãos vazias e humilhados.
Jdt.01.12 Nabucodonosor ficou furioso com esses países e jurou, por seu trono e seu reino, vingar-se de todos os territórios da Cilícia, Damasco e Síria, e passar a fio de espada todos os moabitas, amonitas, judeus e egípcios, até chegar à fronteira dos dois mares.
Jdt.01.13 No décimo sétimo ano, Nabucodonosor guerreou contra o rei Arfaxad, venceu-o no combate e derrotou todo o exército, cavalaria e carros dele.
Jdt.01.14 Tomou posse de suas cidades e, chegando até Ecbátana, tomou suas torres, saqueou suas ruas e transformou sua beleza em humilhação.
Jdt.01.15 Depois prendeu Arfaxad nas montanhas de Ragau, o atravessou com suas lanças e o eliminou para sempre.
Jdt.01.16 Em seguida, voltou para Ninive com o seu exército, uma imensa multidão de soldados. Ficaram despreocupados, descansando e banqueteando-se por cento e vinte dias.

 

Jdt.02.1 No dia vinte e dois do primeiro mês do ano décimo oitavo, no palácio de Nabucodonosor, rei da Assíria, deliberou-se sobre a vingança contra toda a terra, conforme o rei havia falado.
Jdt.02.2 Então ele convocou todos os ministros e conselheiros, expôs seu plano secreto e decretou a destruição de todos esses territórios.

Jdt.02.3 Decidiram exterminar todos os que não tinham aceite o convite de Nabucodonosor.
Jdt.02.4 Terminada a reunião, Nabucodonosor, rei da Assíria, convocou Holofernes, general do seu exército, o segundo homem no reino, e lhe ordenou:
Jdt.02.5 "Assim diz o grande rei, o senhor de toda a terra: Ao sair de minha presença, tome consigo homens experientes, uns cento e vinte mil de infantaria e forte contingente de cavalaria, com doze mil cavaleiros.
Jdt.02.6 Marche contra toda a região ocidental, porque não aceitaram o meu convite.
Jdt.02.7 Obrigue-os a colocar à minha disposição a terra e a água, porque vou marchar furioso contra eles. Vou cobrir o chão com os pés de meus soldados e entregá-los ao saque.
Jdt.02.8 Seus feridos encherão os vales e as torrentes, e os rios transbordarão de cadáveres,
Jdt.02.9 e eu levarei os prisioneiros para os confins do mundo.
Jdt.02.10 Siga à minha frente e conquiste os territórios deles para mim. Se eles se renderem a você, deixe que eu os castigue.
Jdt.02.11 Não tenha consideração para com os rebeldes. Entregue-os à matança e ao saque em toda a terra que você conquistar.
Jdt.02.12 Por minha vida e por meu império, vou cumprir o que estou dizendo.
Jdt.02.13 Não desobedeça a nenhuma ordem do seu senhor. Faça tudo conforme eu lhe ordenei. Não perca tempo".
Jdt.02.14 Holofernes saiu da presença de seu senhor e convocou todos os chefes, generais e oficiais do exército da Assíria.
Jdt.02.15 Em seguida, escolheu um contingente de cento e vinte mil homens e doze mil arqueiros a cavalo, conforme seu senhor tinha mandado.
Jdt.02.16 E os organizou para o combate.
Jdt.02.17 Tomou então grande quantidade de camelos, jumentos e mulas, para carregar o equipamento, e também inumeráveis ovelhas, bois e cabras para o abastecimento.
Jdt.02.18 Cada soldado recebeu farta provisão e muito ouro e prata do palácio do rei.
Jdt.02.19 Então Holofernes saiu com todo o seu exército à frente do rei Nabucodonosor, para cobrir toda a região ocidental com carros, cavaleiros e tropas escolhidas.
Jdt.02.20 A eles juntou-se ainda um bando numeroso, incontável como os gafanhotos e como a areia da terra.
Jdt.02.21 Partiram de Ninive e caminharam três dias em direcção à planície de Bectilet. Acamparam fora de Bectilet, perto da montanha, ao norte da Alta-Cilícia.
Jdt.02.22 Daí, com todo o seu exército, formado por infantaria, cavalaria e carros, Holofernes partiu para a região montanhosa.
Jdt.02.23 Devastou Fut e Lud, e saqueou todos os filhos de Rassis e de Ismael, que vivem na beira do deserto, ao sul de Queleon.
Jdt.02.24 Depois costeou o rio Eufrates, atravessou a Mesopotâmia e destruiu todas as cidades fortificadas que estão junto ao riacho Abrona, até chegar ao mar.
Jdt.02.25 Tomou posse dos territórios da Cilícia, despedaçou todos os que resistiram e foi até à fronteira sul de Jafé, diante da Arábia.
Jdt.02.26 Cercou todos os madianitas, incendiou suas tendas e devastou seus estábulos.

Jdt.02.27. A seguir, desceu para a planície de Damasco no tempo da colheita de trigo, e incendiou as plantações, destruiu ovelhas e bois, saqueou as cidades, devastou as plantações e passou todos os jovens ao fio da espada.
Jdt.02.28 Um medo terrível caiu sobre os habitantes do litoral, sobre os sidónios e tírios, sobre os de Sur, de Oquina e de Jâmnia. Também os habitantes de Azoto e Ascalon ficaram aterrorizados.

 

Jdt.03.1 Os habitantes do litoral enviaram mensageiros com proposta de paz, nestes termos: "Aqui estamos.
Jdt.03.2 Somos servos do grande rei Nabucodonosor e nos prostramos diante de você: faça de nós o que quiser.
Jdt.03.3 Aqui estão à sua disposição nossos estábulos, nosso território, os campos de trigo, as ovelhas e os bois, e todos os nossos acampamentos. Sirva-se como achar melhor.
Jdt.03.4 Nossas cidades e seus habitantes são seus escravos. Venha e trate-as como quiser".
Jdt.03.5 Então os mensageiros se apresentaram a Holofernes, e transmitiram a mensagem.
Jdt.03.6 Holofernes desceu com seu exército para o litoral, deixou guarnições nas cidades fortificadas e recrutou homens escolhidos para servirem de tropas auxiliares.
Jdt.03.7 Os habitantes das cidades e arredores o receberam com coroas, danças e tamborins.
Jdt.03.8 Mas Holofernes destruiu os santuários deles, cortou suas árvores sagradas e exterminou todos os deuses da terra, para que todas as nações só adorassem a Nabucodonosor, e todas as tribos o invocassem como deus, cada uma na própria língua.
Jdt.03.9 Quando chegou à vista de Esdrelon, perto de Dotaia, aldeia que está diante da grande serra da Judeia,
Jdt.03.10 Holofernes acampou entre Geba e Citópolis, e aí ficou por um mês, recolhendo provisões para o exército.

 

Jdt.04.1 Os israelitas da Judeia ficaram sabendo de tudo o que Holofernes, general de Nabucodonosor, rei da Assíria, tinha feito às nações, atacando seus templos e entregando-os ao saque.

Jdt.04.2 Então ficaram aterrorizados com Holofernes e temeram por Jerusalém e pelo Templo do Senhor seu Deus.
Jdt.04.3 Eles tinham voltado do exílio fazia pouco tempo, e todo o povo da Judeia se havia reunido novamente. Os utensílios, o altar e o Templo haviam sido recentemente purificados da profanação.

Jdt.04.4 Então mandaram mensageiros por todo o território da Samaria, a Cona, Bet-Horon, Belmain, Jericó, Coba, Aisora e ao vale de Salém.
Jdt.04.5 Ocuparam o topo dos montes mais altos, fortificaram as aldeias da região montanhosa e ajuntaram provisões para a guerra, pois nesse tempo tinham acabado de fazer a colheita.
Jdt.04.6 O sumo-sacerdote Joaquim, que nessa ocasião se achava em Jerusalém, escreveu aos habitantes de Betúlia e Betomestaim, que estão diante de Esdrelon, em frente da planície vizinha de Dotain.
Jdt.04.7 Ele mandou que ocupassem as passagens da serra, porque era por aí que passava o caminho para a Judeia. Desse modo, era fácil impedir que o inimigo avançasse, porque o desfiladeiro era tão estreito que somente se podia passar dois a dois.
Jdt.04.8 Os israelitas obedeceram ao sumo-sacerdote Joaquim e ao conselho dos anciãos do povo de Israel, que tinham sede em Jerusalém.
Jdt.04.9 Ao mesmo tempo, cada israelita suplicou insistentemente a Deus, e todos se humilharam diante dele.
Jdt.04.10 Eles e suas mulheres, seus filhos e rebanhos, e todos os imigrantes, mercenários e escravos se vestiram com pano de saco.
Jdt.04.11 Os que viviam em Jerusalém, inclusive mulheres e crianças, se prostraram diante do Templo, com cinzas na cabeça, e estenderam as mãos diante do Senhor.
Jdt.04.12 Cobriram o altar com panos de saco e clamaram, a uma só voz e com ardor, para que o Deus de Israel não entregasse seus filhos ao saque, nem suas mulheres ao exílio, nem à destruição as cidades que tinham herdado, nem o Templo à profanação e caçoadas humilhantes das nações.
Jdt.04.13 O Senhor ouviu-lhes o grito e tomou conhecimento da tribulação deles. O povo jejuou por dias seguidos em toda a Judeia e em Jerusalém, diante do Templo do Senhor Todo-poderoso.
Jdt.04.14 O sumo-sacerdote Joaquim, junto com todos os sacerdotes e ministros do culto do Senhor, ofereciam o holocausto diário, as ofertas e os dons voluntários do povo. Vestidos com panos de saco
Jdt.04.15 e com cinza sobre os turbantes, eles clamavam com toda força ao Senhor, para que protegesse a casa de Israel.

 

Jdt.05.1 Holofernes, general do exército assírio, foi informado de que os israelitas estavam se preparando para a guerra. Contaram-lhe que eles tinham fechado as passagens das montanhas, fortificado o topo dos montes mais altos e preparado obstáculos nas planícies.
Jdt.05.2 Holofernes ficou enfurecido e convocou todos os chefes moabitas, generais amonitas, governadores do litoral,
Jdt.05.3 e lhes perguntou: "Cananeus, digam-me: Que gente é essa que vive na serra? Em que cidades moram? Qual é a potência do exército deles? Em que ponto está seu poder e sua força? Que rei os governa?
Jdt.05.4 Por que não se dignaram vir ao meu encontro, como fizeram todos os povos do Ocidente?"
Jdt.05.5 Aquior, chefe de todos os amonitas, respondeu: "Escute, meu senhor, o que este seu servo vai dizer. Vou contar-lhe a verdade sobre esse povo que vive na serra, aqui perto. Não direi mentiras.
Jdt.05.6 Esse povo é descendente dos caldeus.
Jdt.05.7 Primeiro estiveram na Mesopotâmia, porque não quiseram seguir os deuses de seus antepassados, que viviam na Caldeia.
Jdt.05.8 Eles abandonaram a religião de seus antepassados e adoraram o Deus do céu, que reconheceram como Deus. Os caldeus, porém, os expulsaram da presença de seus deuses, e eles tiveram que fugir para a Mesopotâmia, onde ficaram por longo tempo.
Jdt.05.9 O Deus deles ordenou que saíssem daí e fossem para a terra de Canaã. Instalaram-se aí e ficaram muito ricos em ouro, prata e rebanhos numerosos.
Jdt.05.10 Em seguida, foram para o Egipto por causa de uma fome que atingia o país de Canaã. E aí ficaram enquanto havia alimento. No Egipto, multiplicaram-se muito e se transformaram num povo numeroso.
Jdt.05.11 O rei do Egipto, porém, ficou contra eles e os explorou no trabalho de preparar tijolos, e eles foram humilhados e tratados como escravos.
Jdt.05.12 Então eles clamaram ao seu Deus, e este castigou todo o país do Egipto com pragas incuráveis. Os egípcios, então, os expulsaram do país.
Jdt.05.13 Deus secou diante deles o mar Vermelho
Jdt.05.14 e os conduziu pelo caminho do Sinai e de Cades Barnea. Eles expulsaram todos os habitantes do deserto,
Jdt.05.15 instalaram-se na terra dos amorreus, e exterminaram pela força todos os habitantes de Hesebon. Depois atravessaram o Jordão, tomaram posse de toda a serra,

Jdt.05.16 expulsaram os cananeus, perizeus, jebuseus, siquemitas e todos os gergeseus, e aí viveram por muito tempo.
Jdt.05.17 Enquanto não pecaram contra o seu Deus, a prosperidade estava com eles, porque o Deus deles odeia a injustiça.
Jdt.05.18 Mas quando se afastaram do caminho que Deus lhes havia marcado, uma parte deles foi completamente exterminada em guerras, e a outra foi exilada num país estrangeiro. O Templo do Deus deles foi arrasado e suas cidades foram conquistadas pelo inimigo.
Jdt.05.19 Mas agora eles se voltaram para o Deus deles, regressaram da dispersão, ocuparam Jerusalém, onde está o Templo deles, e repovoaram a serra que tinha ficado deserta.
Jdt.05.20 Agora, meu soberano e senhor, se essa gente se desviou, pecando contra o Deus deles, comprovemos essa falta, e subamos para atacá-los.
Jdt.05.21 Contudo, se eles não tiverem pecado, é melhor que o senhor os deixe em paz. Caso contrário, o Senhor e Deus deles vai protegê-los, e nós ficaremos envergonhados diante de todo o mundo".
Jdt.05.22 Quando Aquior acabou de falar, todos os que estavam ao redor da tenda protestaram. Os oficiais de Holofernes, os habitantes do litoral e os moabitas queriam matar Aquior.
Jdt.05.23 E diziam: "Não vamos ficar com medo dos israelitas. É um povo sem exército e sem forças para aguentar um combate duro.
Jdt.05.24 Por isso, vamos lá. Serão presa fácil para todo o seu exército, senhor Holofernes".

 

Jdt.06.1 Quando se acalmou o alvoroço dos que assistiam à reunião, Holofernes, general do exército assírio, disse a Aquior, na frente de toda a tropa estrangeira e de todos os moabitas:
Jdt.06.2 "Quem é você, Aquior, e esses mercenários de Efraim, para profetizarem dessa forma, aconselhando-nos a não lutar contra os israelitas, porque o Deus deles vai protegê-los? Quem é deus, além de Nabucodonosor? Nabucodonosor enviará sua força e exterminará os israelitas da face da terra. E o Deus deles não conseguirá salvá-los.
Jdt.06.3 Nós, servos de Nabucodonosor, os esmagaremos como se fossem um só homem. Não poderão resistir à nossa cavalaria.
Jdt.06.4 Nós os queimaremos de uma só vez. Seus montes ficarão embriagados com o sangue deles, e suas planícies transbordarão de cadáveres. Eles não poderão ficar de pé diante de nós. Todos morrerão, diz o rei Nabucodonosor, o senhor de toda a terra. Ele assim falou, e suas palavras não serão desmentidas.
Jdt.06.5 Quanto a você, Aquior, mercenário amonita, você disse essas frases num momento de loucura. Por isso, não voltará a me ver até que eu castigue essa gente que escapou do Egipto.
Jdt.06.6 Então a espada de meus soldados e a lança de meus oficiais atravessarão suas costelas, e você cairá entre os feridos deles.
Jdt.06.7 Meus servos vão levar você para a montanha e deixá-lo em alguma cidade dos desfiladeiros.

Jdt.06.8 Você ficará vivo para ser morto junto com eles.
Jdt.06.9 Se você confia que eles não serão capturados, não fique de cabeça baixa. Nada do que eu disse ficará sem se realizar".
Jdt.06.10 Holofernes ordenou aos servos, que estavam na tenda, para pegarem Aquior, o levarem a Betúlia e o entregarem aos israelitas.
Jdt.06.11 Os servos agarraram Aquior e o levaram para a planície, fora do acampamento. Daí se dirigiram para a serra e chegaram às fontes que estão abaixo de Betúlia.
Jdt.06.12 Quando os homens da cidade os viram no alto dos montes, pegaram suas armas, saíram da cidade e foram para lá, enquanto os atiradores jogavam pedras sobre os homens de Holofernes, para impedir que subissem.
Jdt.06.13 Então estes desceram pela encosta do monte, amarraram Aquior e o deixaram ao pé do monte. E voltaram para junto do seu senhor.
Jdt.06.14 Então os israelitas desceram da cidade e foram até Aquior. Eles o desamarraram e o levaram a Betúlia para apresentá-lo aos chefes da cidade.
Jdt.06.15 Nesse tempo, os chefes eram Uzias, filho de Micas, da tribo de Simeão; Cabris, filho de Gotoniel, e Carmis, filho de Melquiel.
Jdt.06.16 Eles convocaram todos os anciãos da cidade. Também os jovens e as mulheres foram para a assembleia. Colocaram Aquior no meio de todos, e Uzias lhe perguntou o que havia acontecido.
Jdt.06.17 Então Aquior contou-lhes o que haviam falado no conselho de Holofernes, o que ele próprio tinha dito aos chefes assírios e as vantagens que Holofernes tinha contado contra Israel.
Jdt.06.18 Então o povo se prostrou, adorou a Deus e suplicou:
Jdt.06.19 "Senhor Deus do céu, olha do alto o orgulho deles e tem piedade da humilhação de nossa gente. Acolhe hoje com boa vontade a presença daqueles que são consagrados a ti".
Jdt.06.20 Depois, animaram Aquior e o elogiaram muito.
Jdt.06.21 Uzias o levou para sua casa e ofereceu um banquete aos anciãos. E durante toda essa noite, ficaram invocando o auxílio do Deus de Israel.

 

Jdt.07.1 No dia seguinte, Holofernes ordenou ao exército e às tropas aliadas que levantassem acampamento, avançassem contra Betúlia, ocupassem as passagens das montanhas e atacassem os israelitas.
Jdt.07.2 Nesse mesmo dia, todos os soldados levantaram acampamento. O exército contava com cento e setenta mil soldados de infantaria e doze mil cavaleiros, sem contar a bagagem e a multidão que os acompanhava a pé.
Jdt.07.3 Formaram-se em ordem de batalha no vale perto de Betúlia, junto à fonte, e se estenderam ao largo, na direcção de Dotain, até Belbaim, e de Betúlia até Quiamon, que está diante de Esdrelon.
Jdt.07.4 Quando os israelitas viram essa multidão, ficaram aterrorizados e comentaram: "Eles vão engolir toda a face da terra. Nem os montes mais altos, nem os precipícios, nem as colinas suportarão tanto peso".
Jdt.07.5 Cada um empunhou suas armas, acenderam fogueira nas torres e ficaram em guarda a noite inteira.
Jdt.07.6 No segundo dia, Holofernes fez a cavalaria avançar diante dos israelitas que estavam em Betúlia.
Jdt.07.7 Inspeccionou as subidas para a cidade, examinou as fontes e ocupou-as, deixando aí destacamentos militares. Depois voltou para junto do exército.
Jdt.07.8 Os oficiais edomitas, os chefes moabitas e os generais do litoral disseram a Holofernes:
Jdt.07.9 "Senhor, ouça o nosso palpite, e o exército não sofrerá um só arranhão.
Jdt.07.10 Esses israelitas não confiam tanto nas armas. Eles confiam na altura dos montes onde vivem, porque não é fácil escalar o topo desses montes.
Jdt.07.11 Por isso, senhor, não os combata como se faz em campo aberto, e não haverá nenhuma baixa em seu exército.
Jdt.07.12 Fique no acampamento com todo o exército e deixe que ocupemos a fonte que brota ao pé do monte.
Jdt.07.13 É dela que os habitantes de Betúlia tiram água. A sede os forçará a entregar a cidade ao senhor. Nós subiremos com nossos soldados ao topo dos montes vizinhos e montaremos acampamento, para impedir que alguém saia da cidade.
Jdt.07.14 A fome tomará conta deles, com suas mulheres e crianças. O senhor nem precisará usar a espada: eles cairão sozinhos pelas ruas da cidade.
Jdt.07.15 Desse modo, o senhor os fará pagar bem caro por não terem ido pacificamente ao seu encontro".
Jdt.07.16 Holofernes e seus oficiais gostaram da proposta, e ele deu ordem para agir de acordo.
Jdt.07.17 Então uma tropa de moabitas e cinco mil assírios avançaram. Acamparam no vale e ocuparam as minas e fontes dos israelitas.
Jdt.07.18 Os edomitas e os amonitas subiram a serra, acamparam diante de Dotain e mandaram destacamentos para o sul e para o leste, diante de Egrebel, perto de Cuch, sobre a torrente de Mocmur. O grosso do exército assírio acampou na planície, cobrindo toda a região. As tendas e equipamentos formavam um acampamento enorme, pois a multidão era imensa.
Jdt.07.19 Vendo-se cercados pelo inimigo e sem possibilidades de escapar, os israelitas ficaram desanimados e clamaram ao Senhor seu Deus.
Jdt.07.20 O exército assírio, com infantaria, cavalaria e carros, manteve o cerco por trinta e quatro dias. A provisão de água dos habitantes de Betúlia se esgotou,
Jdt.07.21 e os poços ficaram vazios. Ninguém tinha como saciar a sede nem por um dia sequer, porque a água estava racionada.
Jdt.07.22 As crianças desmaiavam e as mulheres e jovens desfaleciam de sede. Caíam pelas ruas e saídas das portas da cidade, completamente esgotados.
Jdt.07.23 Então todo o povo se reuniu contra Uzias e os chefes da cidade, junto com jovens, mulheres e crianças, gritando e dizendo a todos os anciãos:
Jdt.07.24 "Que o Senhor seja o nosso juiz, porque vocês causaram um grande mal, não querendo negociar a paz com os assírios.
Jdt.07.25 Agora não temos a quem recorrer, porque Deus nos entregou nas mãos deles e estamos morrendo de sede e grande destruição.
Jdt.07.26 Agora chamem os assírios e entreguem a cidade inteira, para que o exército de Holofernes a saqueie.
Jdt.07.27 É preferível sermos saqueados. Seremos escravos deles, mas salvaremos a nossa vida, e não veremos nossas crianças morrer e nossas mulheres e filhos expirar.
Jdt.07.28 Se vocês não fizerem isso hoje mesmo, nós convocaremos o céu e a terra como testemunhas contra vocês diante do nosso Deus, Senhor de nossos antepassados, que nos está castigando por causa de nossos pecados e os pecados de nossos antepassados".
Jdt.07.29 Então levantou-se da assembleia um pranto geral, e todos gritaram súplicas ao Senhor Deus.
Jdt.07.30 Então Uzias procurou animá-los: "Tenham confiança, irmãos. Vamos resistir por mais cinco dias. O Senhor nosso Deus terá compaixão de nós. Ele não vai nos abandonar até o fim.
Jdt.07.31 Depois desse prazo, se ele não nos socorrer, farei o que vocês estão propondo".
Jdt.07.32 Então dispersou o povo, cada um para seu lugar: os homens voltaram para as muralhas e torres da cidade, e mandaram as mulheres e crianças para casa. A cidade estava tomada pela angústia.

 

Jdt.08.1 Nesses dias, a notícia chegou até Judite. Ela era filha de Merari, filho de Ox, filho de José, filho de Oziel, filho de Elquias, filho de Ananias, filho de Gedeão, filho de Rafaim, filho de Aquitob, filho de Elias, filho de Helcias, filho de Eliab, filho de Natanael, filho de Salamiel, filho de Surisadai, filho de Israel.
Jdt.08.2 Seu marido Manassés, da mesma tribo e parentela, tinha morrido durante a colheita da cevada.
Jdt.08.3 Ele estava dirigindo os que amarravam feixes no campo, e teve uma insolação. Caiu de cama e morreu em Betúlia, sua cidade. E foi enterrado na sepultura da família, que ficava em sua propriedade, entre Dotain e Balamon.
Jdt.08.4 Judite era viúva fazia três anos e quatro meses. Vivia em sua casa,
Jdt.08.5 num quarto que mandara fazer no terraço. Vestia pano de saco e usava roupas de viúva.
Jdt.08.6 Desde que ficou viúva, jejuava diariamente, menos no dia de sábado e na véspera, no primeiro e último dia do mês, nas festas e comemorações israelitas.
Jdt.08.7 Era muito bonita e atraente. Manassés, seu marido, lhe havia deixado ouro e prata, servos e servas, rebanhos e terras. E ela vivia disso.
Jdt.08.8 Ninguém podia fazer-lhe a mínima crítica, pois era muito temente a Deus.
Jdt.08.9 Judite ficou sabendo das palavras desesperadas que o povo tinha dito ao governador, porque estava desanimado com a falta de água. Soube também que Uzias tinha jurado entregar a cidade aos assírios dentro de cinco dias.
Jdt.08.10 Então Judite mandou a serva, que administrava seus bens, chamar Cabris e Carmis, anciãos da cidade.
Jdt.08.11 Quando chegaram, ela disse: "Ouçam-me, chefes do povo de Betúlia. O que vocês disseram ao povo hoje foi um erro. Vocês juraram, obrigando-se diante de Deus a entregar a cidade ao inimigo, caso o Senhor não socorra vocês dentro de cinco dias.
Jdt.08.12 Quem são vocês para tentar a Deus, colocando-se hoje publicamente acima dele?
Jdt.08.13 Vocês, que nunca entenderão nada, estão pondo à prova o Senhor Todo-poderoso.
Jdt.08.14 Se são incapazes de sondar a profundidade do coração humano e entender as razões dos pensamentos dele, como podem sondar a Deus, criador de tudo, e compreender sua mente e entender seu projecto? Não, irmãos, não queiram irritar o Senhor nosso Deus.
Jdt.08.15 Ainda que não nos queira socorrer nesses cinco dias, ele tem poder para nos proteger no dia que quiser, ou nos destruir diante de nossos inimigos.
Jdt.08.16 Não pretendam exigir garantias sobre os planos do Senhor nosso Deus, porque Deus não é um homem que possa ser intimidado, nem algum ser humano que possa ser pressionado.
Jdt.08.17 Por isso, enquanto esperamos pacientemente que ele nos salve, vamos suplicar-lhe que venha em nosso auxílio. Se ele quiser, vai ouvir a nossa voz.
Jdt.08.18 É verdade que em nosso tempo, e hoje mesmo, não tem havido entre nós nenhuma tribo, família, povo ou cidade que tenha adorado deuses feitos por mãos humanas, como acontecia outrora.
Jdt.08.19 Foi por isso que nossos antepassados foram entregues à espada e ao saque, e caíram miseravelmente diante de seus inimigos.
Jdt.08.20 Nós, pelo contrário, não conhecemos outro Deus além dele. Por isso confiamos que ele não nos vai desprezar, nem se afastar de nossa gente.
Jdt.08.21 Se formos capturados, o mesmo acontecerá com toda a Judeia, e o santuário será saqueado. Então deveremos pagar essa profanação com o nosso próprio sangue.
Jdt.08.22 Nas nações onde estivermos como escravos, seremos responsáveis pela morte de nossos compatriotas, pelo exílio do povo da terra e pela desolação de nossa herança. Seremos assim motivo de caçoada e desprezo diante de nossos dominadores.
Jdt.08.23 Nossa escravidão não nos fará ganhar o favor de nossos dominadores. Pelo contrário, o Senhor nosso Deus a transformará em desonra para nós.
Jdt.08.24 Portanto, irmãos, mostremos aos nossos irmãos que a vida deles depende de nós, e que de nós depende a segurança do santuário, do Templo e do altar.
Jdt.08.25 Agradeçamos ao Senhor nosso Deus por tudo isso, porque ele nos está pondo à prova, como fez com os nossos antepassados.
Jdt.08.26 Lembrem-se do que ele fez com Abraão, como provou Isaac, e o que aconteceu com Jacob na Mesopotâmia da Síria, quando ele apascentava os rebanhos de Labão, seu tio materno.
Jdt.08.27 Deus os provou com fogo para avaliar o coração deles, e está fazendo o mesmo connosco. O Senhor açoita os que dele se aproximam, não para se vingar, mas para torná-los conscientes".
Jdt.08.28 Então Uzias lhe disse: "Tudo o que você disse é muito sensato, e ninguém poderá dizer o contrário.
Jdt.08.29 Não é de hoje que todo mundo percebe que você é sábia. Desde pequena, todos conhecem a sua inteligência e o seu bom coração.
Jdt.08.30 Mas o povo estava morrendo de sede e nos obrigou a fazer o que fizemos, forçando-nos a um juramento que não podemos violar.
Jdt.08.31 Agora, você que é mulher piedosa, suplique por nós. O Senhor mandará chuva para encher os poços, e nós não morreremos".
Jdt.08.32 Judite respondeu: "Escutem-me com atenção. Vou fazer uma coisa que será comentada de geração em geração pelos filhos de nossa gente.

Jdt.08.33 Esta noite vocês ficarão vigiando na porta da cidade. Eu sairei com minha serva e, antes do prazo que vocês estabeleceram para entregar a cidade ao inimigo, o Senhor virá socorrer Israel através de mim.
Jdt.08.34 Quanto a vocês, não perguntem o que vou fazer. Só contarei depois que tiver feito".

Jdt.08.35 Uzias e os chefes lhe disseram: "Vá em paz. Que o Senhor Deus acompanhe você, para que possa vingar-se do nosso inimigo".
Jdt.08.36 E deixando o aposento dela, eles voltaram para seus postos.

 

Jdt.09.1 Era o momento em que acabavam de oferecer o incenso da tarde, no Templo de Jerusalém. Judite colocou cinza sobre a cabeça, tirou as roupas e prostrou-se no chão, vestida apenas com o pano de saco. Levantou a voz e gritou ao Senhor, dizendo:
Jdt.09.2 "Senhor, Deus de meu pai Simeão, em cuja mão colocaste uma espada, para vingar-se dos estrangeiros que violentaram vergonhosamente uma jovem, tiraram suas roupas para a estuprar, e profanaram o seio dela para sua desonra. E tu havias dito: 'Não façam isso'. Mas eles o fizeram.
Jdt.09.3 Por isso, entregaste seus chefes à morte. E o leito deles, manchado pelo engano, pelo engano ficou ensanguentado. Feriste os servos junto com os chefes, e os chefes junto com seus servos.
Jdt.09.4 Entregaste suas mulheres ao rapto e suas filhas à escravidão. Entregaste seus despojos à partilha, em proveito dos filhos que amavas, e que, ardendo de zelo por ti, abominaram a mancha do sangue deles e invocaram o teu socorro. Deus, meu Deus, ouve esta pobre viúva.
Jdt.09.5 Tu fizeste o passado, e o que vem agora e o que virá depois. Tu projectas o presente e o futuro, e o que desejas acontece.
Jdt.09.6 Teus projectos se apresentam e dizem: 'Aqui estamos'. Pois teus caminhos estão todos preparados, e teus projectos foram feitos de antemão.
Jdt.09.7 Aí estão os assírios! Eles se apoiam em sua força, orgulhosos de seus cavalos e cavaleiros, e se gabam com a força de sua infantaria. Eles confiam no escudo e na lança, no arco e na funda, e não sabem que tu és o Senhor que acaba com as guerras.
Jdt.09.8 Teu nome é: 'o Senhor'! Quebra a força deles com teu poder, e, com tua cólera, despedaça o domínio deles. Porque decidiram profanar o teu santuário, manchar a tenda onde repousa o teu Nome glorioso e derrubar a ferro as pontas do teu altar.
Jdt.09.9 Olha a soberba deles e descarrega tua ira em suas cabeças. Dá força a esta viúva, para fazer aquilo que ela decidiu.
Jdt.09.10 Através de minha língua sedutora, fere o servo junto com o chefe e o chefe com seu servo. Quebra a altivez deles pela mão de uma mulher.
Jdt.09.11 Tua força não está no número, nem tua autoridade nos guerreiros. Tu és o Deus dos humildes, o socorro dos oprimidos, o protector dos fracos, o abrigo dos abandonados, o salvador dos desesperados.
Jdt.09.12 Sim, Deus de meu pai, Deus da herança de Israel, Senhor do céu e da terra, Criador das águas, Rei de toda a criação. Ouve a minha súplica,
Jdt.09.13 e concede-me falar com sedução, para ferir mortalmente os que planejaram uma vingança cruel contra teus fiéis, contra tua morada santa, o monte Sião, e a casa de teus filhos.
Jdt.09.14 Faz que todo o povo e todas as tribos reconheçam que tu és o único Deus, o Deus de toda força e de todo poder, e que o povo de Israel só tem a ti como protector".

 

Jdt.10.1 Quando parou de suplicar ao Deus de Israel e terminou o que estava dizendo,
Jdt.10.2 Judite se levantou, chamou a serva e foi para a casa em que ficava nos dias de sábado e de festa.
Jdt.10.3 Tirou o pano de saco e o vestido de viúva, tomou banho, passou perfume caro, penteou os cabelos, colocou um turbante na cabeça e se vestiu com a roupa de festa, que usava enquanto seu marido Manassés era vivo.
Jdt.10.4 Calçou sandálias e enfeitou-se com braceletes, colares, anéis, brincos e todas as suas jóias. Ficou belíssima, capaz de seduzir os homens que a vissem.
Jdt.10.5 Depois entregou à serva uma vasilha de vinho e uma jarra de óleo, encheu uma sacola com farinha de cevada, bolos de frutas secas e pães puros. Embrulhou as provisões e as entregou à serva.
Jdt.10.6 Em seguida, saíram para a porta da cidade de Betúlia e encontraram aí Uzias, Cabris e Carmis, dois anciãos da cidade.
Jdt.10.7 Ao vê-la com o rosto transformado e outros vestidos, ficaram pasmos com tanta beleza, e lhe disseram:
Jdt.10.8 "Que o Deus de nossos antepassados ajude você e permita que seja bem-sucedida em seus planos, para a glória dos israelitas e a exaltação de Jerusalém".
Jdt.10.9 Judite adorou a Deus, e lhes disse: "Mandem abrir para mim a porta da cidade. Sairemos para realizar o que vocês estão desejando". Eles ordenaram que os soldados lhe abrissem a porta, conforme ela tinha pedido.
Jdt.10.10 Assim fizeram, e Judite saiu com a serva. Os homens da cidade a seguiram com o olhar, enquanto ela descia a encosta, até que atravessou o vale e desapareceu.
Jdt.10.11 Estavam caminhando directo pelo vale, quando as sentinelas dos assírios foram ao encontro delas.
Jdt.10.12 Detiveram Judite e lhe perguntaram: "De que lado você está? De onde vem? Para onde vai?" Judite respondeu: "Sou hebreia, e estou fugindo do meu povo, porque falta pouco para ele ser devorado por vocês.
Jdt.10.13 Gostaria de apresentar-me a Holofernes, general do exército de vocês, para dar-lhe informações seguras. Vou mostrar a ele o caminho por onde poderá passar e conquistar toda a serra, sem arriscar um só de seus homens".
Jdt.10.14 Enquanto a escutavam, as sentinelas ficaram observando o rosto dela, admirados com tanta beleza. E lhe disseram:
Jdt.10.15 "Você salvou a vida, vindo ao encontro do senhor nosso general. Pode ir até a tenda dele; alguns dos nossos vão escoltar você até lá.
Jdt.10.16 Quando estiver diante dele, não tenha medo, diga-lhe o que disse a nós, e ele a tratará bem".
Jdt.10.17 Então eles destacaram cem homens, que escoltaram Judite e sua serva até a tenda de Holofernes.
Jdt.10.18 Ao correr pelas tendas a notícia da chegada de Judite, o acampamento ficou em alvoroço. Judite estava do lado de fora da tenda de Holofernes, esperando ser anunciada, e todos a rodearam.
Jdt.10.19 Estavam admirados com sua beleza e, olhando para ela, ficavam admirando os israelitas. E comentavam: "Não podemos desprezar uma nação que tem mulheres tão bonitas. Não podemos poupar nenhum homem deles. Os que ficassem, seriam capazes de conquistar o mundo inteiro".
Jdt.10.20 Os guarda-costas de Holofernes e os oficiais saíram e introduziram Judite na tenda.
Jdt.10.21 Holofernes estava descansando em sua cama, debaixo de um mosquiteiro de púrpura, bordado a ouro e recamado com esmeraldas e pedras preciosas.
Jdt.10.22 Anunciaram Judite. Então ele saiu para a parte da frente da tenda, precedido de portadores de lâmpadas de prata.
Jdt.10.23 Quando Judite ficou na frente de Holofernes e dos oficiais, todos ficaram admirados com a beleza do rosto dela, que se prostrou diante de Holofernes. Mas os escravos a levantaram.

 

Jdt.11.1 Holofernes disse a Judite: "Coragem, mulher. Não tenha medo. Nunca maltratei ninguém que estivesse disposto a servir a Nabucodonosor, rei do mundo inteiro.
Jdt.11.2 Até seu povo que mora na serra: se ele não me tivesse desprezado, eu não estaria lutando contra ele. Eles é que provocaram isso.
Jdt.11.3 Agora, diga-me: Por que fugiu e passou para o nosso lado? Vindo até nós, você salvou a própria vida. Pode confiar. Você não correrá perigo, nem esta noite, nem depois.
Jdt.11.4 Ninguém vai maltratá-la. Pelo contrário, nós a trataremos bem, como fazemos com os servos do rei Nabucodonosor, o meu senhor".
Jdt.11.5 Então Judite lhe falou: "Permita-me falar-lhe e acolha as palavras desta sua serva. Esta noite não vou dizer mentira nenhuma.
Jdt.11.6 Se o senhor seguir os conselhos desta sua serva, Deus o ajudará em sua campanha, e seus planos não falharão.
Jdt.11.7 Viva Nabucodonosor, rei de toda a terra, que enviou o senhor para colocar todos em ordem. Viva o seu poder! Graças ao senhor, não são apenas os homens que servem o rei. Graças ao seu poder, também as feras, os rebanhos e as aves do céu viverão à disposição de Nabucodonosor e do seu palácio.
Jdt.11.8 Ouvimos falar da sabedoria e astúcia que o senhor tem. Todos comentam que o senhor é o melhor em todo o império, o conselheiro mais hábil e o estrategista mais admirado.
Jdt.11.9 Nós ficamos sabendo do relatório que Aquior fez em seu conselho. Os habitantes de Betúlia o pouparam, e ele contou tudo o que havia dito diante do senhor.
Jdt.11.10 Por isso, senhor poderoso, não despreze a opinião dele. Pode crer nela, porque é verdadeira: nossa gente não sofrerá castigo, nem as armas poderão submetê-la, a não ser que ela cometa pecado contra Deus.
Jdt.11.11 Agora, para que o meu senhor não fique decepcionado e de mãos vazias, saiba que a morte cairá sobre eles, porque são réus de um pecado com que irritam seu Deus toda vez que o cometem.
Jdt.11.12 Quando lhes faltaram víveres e água, resolveram lançar mão do rebanho e consumir tudo o que Deus, por suas leis, tinha proibido a eles de comer.
Jdt.11.13 Resolveram consumir até os primeiros frutos do trigo e os dízimos do vinho e do azeite, coisas consagradas aos sacerdotes que ministram diante do nosso Deus em Jerusalém, e que nenhum leigo pode jamais tocar.
Jdt.11.14 E como os habitantes de Jerusalém já estão fazendo o mesmo, mandaram até lá uma comissão, para que o conselho permita fazer isso.
Jdt.11.15 Logo que receberem a permissão e a puserem em prática, nesse mesmo dia cairão em seu poder, meu senhor, e serão aniquilados.
Jdt.11.16 Quando percebi tudo isso, tratei de fugir. Deus me mandou para realizar com o senhor uma façanha que assombrará todos os que dela ficarem sabendo.
Jdt.11.17 Esta sua serva é piedosa e serve ao Deus do céu dia e noite. Agora, eu gostaria de ficar junto com o senhor. Sairei toda noite pelo vale, rezarei a Deus, e ele me dirá quando a minha gente cometer o pecado.
Jdt.11.18 Eu contarei ao senhor, e então o senhor sairá com todo o seu exército, e nenhum deles lhe poderá resistir.
Jdt.11.19 Eu guiarei o senhor através da Judeia, até chegar a Jerusalém, e colocarei seu trono bem no meio da cidade. Então o senhor os manejará como ovelhas sem pastor, e não haverá nem mesmo um cão para latir diante do senhor. Já estou prevendo todas essas coisas. Tudo foi anunciado a mim, e eu fui enviada para contá-las ao senhor".
Jdt.11.20 As palavras de Judite agradaram a Holofernes e seus oficiais. Admirados com a sabedoria dela, disseram:
Jdt.11.21 "De um extremo a outro da terra, não existe mulher tão bonita e que saiba falar tão bem".
Jdt.11.22 Holofernes lhe disse: "Deus fez bem mandando você na frente do povo, para colocar o poder em nossas mãos e destruir todos os que desprezaram o meu senhor.
Jdt.11.23 Você é bela e eloquente. Se fizer o que me disse, o seu Deus será o meu Deus, você viverá no palácio do rei Nabucodonosor e será famosa no mundo inteiro".

 

Jdt.12.1 Holofernes mandou levar Judite para o lugar onde era colocada sua baixela de prata, e ordenou que servissem a ela a mesma comida e o mesmo vinho que ele tomava.
Jdt.12.2 Judite, porém, disse: "Não provarei nada disso, para não cair em pecado. Eu trouxe minhas provisões".
Jdt.12.3 Holofernes lhe perguntou: "E se acabar o que você trouxe, onde poderemos arrumar comida igual? Entre nós, não há ninguém da sua gente".
Jdt.12.4 Judite respondeu: "Pela sua vida, meu senhor, o que eu trouxe comigo não acabará antes que o senhor realize seu plano através de mim".
Jdt.12.5 Os oficiais de Holofernes levaram Judite para a tenda, e ela repousou até a meia-noite. Depois se levantou antes do amanhecer,
Jdt.12.6 e mandou dizer a Holofernes: "Senhor, ordene que me deixem sair para rezar".
Jdt.12.7 Holofernes ordenou aos guardas que a deixassem sair. E assim Judite passou três dias no acampamento. De noite, ela ia em direcção ao vale de Betúlia e tomava banho na fonte, no posto avançado do acampamento.
Jdt.12.8 Depois do banho, ela suplicava ao Senhor Deus de Israel que dirigisse o plano dela, para reerguer o seu povo.
Jdt.12.9 Depois de purificar-se, voltava para a tenda e aí ficava até que lhe trouxessem o alimento à tarde.
Jdt.12.10 No quarto dia, Holofernes ofereceu um banquete somente para o seu pessoal de serviço, sem convidar nenhum oficial.
Jdt.12.11 Disse a Bagoas, seu mordomo: "Vá e veja se você consegue convencer essa mulher hebreia, que está a seu cuidado, para que venha comer e beber connosco.
Jdt.12.12 Seria uma vergonha não aproveitar a ocasião de ter relações com essa mulher. Se eu não a conquistar, vão caçoar de mim".
Jdt.12.13 Bagoas saiu da presença de Holofernes, foi até Judite, e lhe disse: "Que esta bela jovem não tenha medo de se apresentar ao meu senhor como hóspede de honra. Você beberá connosco, se alegrará e passará o dia como uma das mulheres assírias, que vivem no palácio de Nabucodonosor".
Jdt.12.14 Judite respondeu: "Quem sou eu para contrariar o meu senhor? Farei tudo o que lhe agradar, e isto será para mim uma lembrança agradável até o dia de minha morte".
Jdt.12.15 Então Judite se levantou e se enfeitou com suas roupas e jóias. Sua serva foi na frente e estendeu no chão, diante de Holofernes, as peles que Bagoas lhe tinha dado, para que se reclinasse enquanto comia.
Jdt.12.16 Judite entrou e se acomodou. Ao vê-la, Holofernes ficou arrebatado, e a paixão o agitou com o desejo violento de se unir a ela. De fato, desde a primeira vez que a viu, ele espreitava uma ocasião para seduzi-la.
Jdt.12.17 E Holofernes disse a Judite: "Vamos, beba e se alegre connosco".
Jdt.12.18 Judite respondeu: "Claro que vou beber, meu senhor. Hoje é o dia mais feliz de toda a minha vida".
Jdt.12.19 E Judite comeu e bebeu diante de Holofernes, servindo-se do que a sua serva tinha preparado para ela.
Jdt.12.20 Holofernes, entusiasmado com ela, bebeu muitíssimo vinho, como nunca havia feito antes, em toda a vida.

 

Jdt.13.1 Quando ficou tarde, o pessoal de Holofernes se retirou. Bagoas fechou a tenda por fora, depois de fazer com que todos os servos saíssem. Todos foram repousar, entregues pelo excesso de bebida.
Jdt.13.2 Na tenda, ficaram apenas Judite e Holofernes caído na cama, completamente embriagado.
Jdt.13.3 Judite tinha dito à serva que ficasse do lado de fora do quarto, esperando que ela saísse, como nos outros dias. Tinha dito que sairia para rezar, e já havia falado disso com Bagoas.
Jdt.13.4 Todos saíram. Não ficou mais ninguém no quarto, nem pequeno nem grande. Então, de pé e junto ao leito de Holofernes, Judite rezou interiormente: "Senhor Deus de toda a força, volta agora o teu olhar para o que eu estou para fazer em favor da exaltação de Jerusalém.
Jdt.13.5 Chegou o momento de ajudar a tua herança e dar sucesso ao meu plano, ferindo o inimigo que se levantou contra nós".
Jdt.13.6 Então Judite se aproximou da coluna da cama, que ficava junto à cabeça de Holofernes, e pegou a espada dele.
Jdt.13.7 Depois chegou perto da cama, agarrou a cabeleira de Holofernes, e pediu: "Dá-me força agora, Senhor Deus de Israel".
Jdt.13.8 E com toda a força, deu dois golpes no pescoço de Holofernes e lhe cortou a cabeça.
Jdt.13.9 Rolou o corpo do leito e tirou o mosquiteiro das colunas. Depois saiu, entregou a cabeça de Holofernes para a serva,
Jdt.13.10 que a colocou na sacola de alimentos. E saíram juntas, como de costume, para rezar. Atravessaram o acampamento, rodearam o vale, subiram a encosta de Betúlia e chegaram à porta da cidade.
Jdt.13.11 Judite gritou de longe para as sentinelas das portas: "Abram! Abram a porta! O Senhor nosso Deus está connosco, demonstrando ainda sua força em Israel e seu poder contra o inimigo. Isso acaba de acontecer hoje".
Jdt.13.12 Os homens da cidade ouviram, desceram logo até a porta e convocaram os anciãos.
Jdt.13.13 Adultos e crianças, todos foram correndo. Parecia-lhes incrível que Judite estivesse de volta. Abriram a porta e as receberam. E logo fizeram uma grande fogueira para clarear, e se ajuntaram ao redor delas.
Jdt.13.14 Judite começou a gritar: "Louvem a Deus! Louvem a Deus! Louvem a Deus que não retirou sua misericórdia da casa de Israel. Nesta noite, ele matou o inimigo através da minha mão".
Jdt.13.15 Então Judite tirou a cabeça de Holofernes que estava na sacola, mostrou-a e disse: "Esta é a cabeça de Holofernes, general do exército da Assíria. Este é o mosquiteiro, debaixo do qual ele dormia embriagado. O Senhor o matou pela mão de uma mulher.
Jdt.13.16 Viva o Senhor, que me protegeu no meu plano. Juro a vocês que meu rosto seduziu Holofernes, para a sua ruína, mas ele não me fez pecar. Minha honra está intacta".
Jdt.13.17 Todos ficaram assombrados e, inclinando-se em adoração a Deus, disseram a uma só voz: "Bendito sejas, nosso Deus, porque hoje aniquilaste os inimigos do teu povo!"
Jdt.13.18 E Uzias disse a Judite: "Que o Deus Altíssimo abençoe você, minha filha, mais que a todas as mulheres da terra. Bendito seja o Senhor Deus, criador do céu e da terra, que guiou você para cortar a cabeça do chefe dos nossos inimigos.
Jdt.13.19 Os que se lembrarem dessa façanha de Deus, jamais perderão a confiança que você inspira.
Jdt.13.20 Que Deus a exalte sempre e lhe dê prosperidade, porque você não vacilou em expor a própria vida por causa da humilhação de nossa gente, mas vingou a nossa ruína, indo directamente ao alvo, diante do nosso Deus". E todo o povo aclamou: "Amém! Amém!"

 

Jdt.14.1 Judite falou ao povo: "Escutem, irmãos. Peguem esta cabeça e a pendurem no parapeito da muralha.
Jdt.14.2 Quando a aurora raiar e o sol sair sobre a terra, cada um de vocês pegue suas armas, e todos os homens fortes saiam da cidade. Coloquem à frente um chefe, como se fossem descer para a planície contra as sentinelas dos assírios. Mas não desçam.
Jdt.14.3 Eles pegarão em armas, e irão ao acampamento para despertar os oficiais do exército assírio. Irão correndo à tenda de Holofernes e não o encontrarão. Aí ficarão apavorados e fugirão de vocês.
Jdt.14.4 Nesse momento, vocês e todos os que vivem no território israelita os perseguirão para abatê-los na fuga.
Jdt.14.5 Antes, porém, chamem Aquior, o amonita, para que ele veja e reconheça aquele que caçoava dos israelitas e que o mandou até nós como réu de morte".
Jdt.14.6 Então chamaram Aquior, que estava na casa de Uzias. Quando ele chegou e viu a cabeça de Holofernes na mão de um homem na assembleia do povo, desmaiou e caiu de bruços.
Jdt.14.7 Quando o levantaram, Aquior se lançou aos pés de Judite e, prostrando-se diante dela, disse: "Bendita seja você em todas as tendas de Judá e entre todos os povos! Os que ouvirem sua fama, ficarão perturbados.
Jdt.14.8 Agora, conte-me o que foi que você fez nesses dias". Judite, no meio do povo, contou tudo o que havia feito, desde o dia em que saíra de Betúlia até esse momento.
Jdt.14.9 Quando terminou, todos gritaram vivas e encheram a cidade com gritos de alegria.
Jdt.14.10 Aquior, vendo tudo o que o Deus de Israel tinha feito, acreditou firmemente em Deus, apresentou-se para a circuncisão e foi definitivamente admitido entre os israelitas.
Jdt.14.11 Ao raiar do dia, penduraram a cabeça de Holofernes na muralha. Os homens empunharam armas e saíram, em esquadrões, para as encostas do monte.
Jdt.14.12 Ao vê-los, os assírios informaram seus chefes, e estes informaram os generais, os comandantes e os oficiais.
Jdt.14.13 Quando chegaram à tenda de Holofernes, disseram ao mordomo: "Acorde o nosso chefe, porque esses escravos se atreveram a descer para nos atacar. Estão querendo ser completamente destruídos".
Jdt.14.14 Bagoas entrou e bateu palmas diante da cortina, pensando que Holofernes estivesse dormindo com Judite.
Jdt.14.15 Como ninguém respondesse, Bagoas afastou as cortinas, entrou no quarto e encontrou Holofernes morto, jogado na entrada; tinham-lhe cortado a cabeça.
Jdt.14.16 Bagoas soltou um grito e, rasgando as roupas, começou a chorar, soluçando e gritando.
Jdt.14.17 Correu para a tenda onde Judite se alojava. Não a encontrando, precipitou-se para a tropa, gritando:
Jdt.14.18 "Os escravos nos traíram. Uma só mulher hebreia desonrou a casa do rei Nabucodonosor. Holofernes está atirado no chão, com a cabeça cortada".
Jdt.14.19 Ao ouvirem isso, os oficiais assírios rasgaram os mantos e ficaram completamente perturbados. Seus gritos e clamores ressoaram por todo o acampamento.

 

Jdt.15.1 Os soldados que ainda estavam nas tendas, ao ouvirem, ficaram espantados com o que acontecera.
Jdt.15.2 Entraram em pânico e, sem esperar um pelo outro, fugiram todos pelos caminhos da planície e da serra, numa debandada geral.
Jdt.15.3 Os que estavam acampados na serra, ao redor de Betúlia, também fugiram. Então todos os guerreiros israelitas se lançaram contra eles.
Jdt.15.4 Uzias enviou mensageiros a Betomestaim, a Bebai, a Cobe, a Cola e a todo o território de Israel, comunicando o acontecido e pedindo que todos caíssem sobre o inimigo e o exterminassem.
Jdt.15.5 Informados disso, os israelitas caíram sobre todos eles, matando-os até Coba. Os habitantes de Jerusalém e todos os da serra, informados do que acontecera no acampamento inimigo, vieram ajudar. Também os de Galaad e da Galileia os atacaram pelos flancos, causando-lhes muitas baixas, até mais além de Damasco e suas fronteiras.
Jdt.15.6 Os que ficaram em Betúlia caíram sobre o acampamento assírio e o devastaram, recolhendo imensos despojos.
Jdt.15.7 Ao voltar da matança, os israelitas se apossaram do resto. Os habitantes das aldeias e dos lugares da serra e da planície tomaram posse de muitos despojos. O saque foi enorme.
Jdt.15.8 O sumo-sacerdote Joaquim e o conselho de anciãos israelitas de Jerusalém foram contemplar os benefícios que o Senhor tinha feito por Israel e também para conhecer Judite.
Jdt.15.9 Chegando à casa dela, todos a elogiaram, dizendo: "Você é a glória de Jerusalém! Você é a honra de Israel! Você é o orgulho da nossa gente!
Jdt.15.10 Você fez essas coisas com sua própria mão, realizando benefícios para Israel, e Deus se alegrou com isso. Que o Senhor Todo-poderoso abençoe você para todo o sempre!" E todos aclamaram: "Amém".
Jdt.15.11 O saque do acampamento durou trinta dias. Deram a Judite a tenda de Holofernes, com toda as suas pratas, leitos, vasilhas e móveis. Judite recolheu tudo e o carregou sobre sua mula. Atrelou os carros e empilhou tudo em cima deles.
Jdt.15.12 Todas as mulheres israelitas correram para ver Judite e dar-lhe uma boa recepção. Algumas organizaram uma dança em sua honra. Judite pegou ramos e os repartiu com as companheiras,
Jdt.15.13 que fizeram coroas com folhas de oliveira para Judite e para si mesmas. Depois Judite foi na frente de todos, dirigindo a dança das mulheres. Os israelitas iam logo atrás, armados, coroados e cantando hinos.
Jdt.15.14 No meio de todos os israelitas, Judite entoou este cântico de acção de graças, enquanto todo o povo a acompanhava com refrães:

 

Jdt.16.1 "Louvem o meu Deus com pandeiros, celebrem o Senhor com címbalos. Componham para ele um salmo de louvor. Exaltem e invoquem o seu nome.
Jdt.16.2 O Senhor é um Deus que acaba com as guerras. Do seu acampamento no meio do povo, ele me livrou da mão dos perseguidores.
Jdt.16.3 A Assíria chegou das montanhas do norte, com seus milhares de soldados. Sua multidão cercou as torrentes e seus cavalos cobriram as colinas.
Jdt.16.4 Ameaçou incendiar meu território e matar meus jovens à espada. Ameaçou jogar no chão meus bebés, tomar minhas crianças como presa e raptar as minhas jovens.
Jdt.16.5 Mas o Senhor Todo-poderoso os deixou frustrados pela mão de uma mulher.
Jdt.16.6 Seu chefe não caiu diante de soldados, nem foi ferido por filhos de titãs ou atacado por gigantes enormes. Foi Judite, filha de Merari, que o desarmou com a beleza de seu rosto.
Jdt.16.7 Ela deixou as vestes de viúva, para levantar os aflitos de Israel. Ungiu o rosto com perfume,
Jdt.16.8 prendeu os cabelos com turbante e se vestiu de linho para seduzi-lo.
Jdt.16.9 Sua sandália cativou o olhar dele. Sua beleza lhe escravizou a alma, e a espada lhe cortou o pescoço!
Jdt.16.10 Os persas se assustaram com a audácia dela, e os medos se perturbaram com sua ousadia.
Jdt.16.11 Então meus pobres lançaram o grito de guerra, e eles ficaram assustados. Meus fracos lançaram seu grito, e eles se encheram de terror. Levantaram a voz e eles recuaram.
Jdt.16.12 Filhos de escravos os trespassaram e os feriram como a desertores. E eles pereceram na batalha do meu Senhor.
Jdt.16.13 Cantarei a meu Deus um cântico novo: Senhor, tu és grande e glorioso, admirável e invencível em tua força!
Jdt.16.14 Que toda a criação sirva a ti, porque ordenaste, e os seres existiram. Enviaste o teu espírito, e eles foram feitos. E nada pode resistir à tua voz.
Jdt.16.15 As ondas sacudirão o alicerce das montanhas e, diante de ti, as rochas derreterão como cera. E tu serás favorável aos teus fiéis.
Jdt.16.16 Os sacrifícios de odor agradável pouco valem, e a gordura dos holocaustos é um nada, mas quem teme o Senhor sempre será grande.
Jdt.16.17 Ai das nações que atacam o meu povo! O Senhor Todo-poderoso as castigará no dia do julgamento. Ele porá fogo e vermes na carne deles, e eles chorarão de dor para sempre".
Jdt.16.18 Chegando a Jerusalém, adoraram a Deus e, quando todos terminaram de purificar-se, ofereceram holocaustos, sacrifícios espontâneos e ofertas votivas.
Jdt.16.19 Judite consagrou ao Senhor todos os objectos de Holofernes, que o povo lhe tinha dado, e também o mosquiteiro que ela mesma pegara do leito dele.
Jdt.16.20 O povo continuou a festejar em Jerusalém, perto do Templo, durante três meses. E Judite ficou entre eles.
Jdt.16.21 Depois disso, cada um voltou para a sua herança. Judite retornou para Betúlia e continuou vivendo em sua propriedade. Durante toda a vida, ficou muito famosa em todo o país.
Jdt.16.22 Teve muitos pretendentes, mas, desde que seu marido Manassés morreu e se reuniu com os seus, ela nunca mais se casou.
Jdt.16.23 E a fama de Judite crescia sempre mais. Viveu na casa de seu marido até a idade de cento e cinco anos. Deu liberdade à sua serva e morreu em Betúlia, sendo enterrada na sepultura de seu marido Manassés.
Jdt.16.24 Os israelitas fizeram luto por sete dias. Antes de morrer, Judite repartiu seus bens entre os parentes de seu marido Manassés e entre seus próprios parentes.
Jdt.16.25 Em seu tempo e depois, durante muitos anos, ninguém mais molestou os israelitas.

 

 

1º Macabeus

 

1Mc.1.1 Ora, aconteceu que, já senhor da Grécia, Alexandre, filho de Filipe da Macedónia, oriundo da terra de Cetim, derrotou também Dário, rei dos persas e dos medos e reinou em seu lugar.
1Mc.1.2 Empreendeu inúmeras guerras, apoderou-se de muitas cidades e matou muitos reis.
1Mc.1.3 Avançou até os confins da terra e apoderou-se das riquezas de vários povos, e diante dele silenciou a terra. Tornando-se altivo, seu coração ensoberbeceu-se.
1Mc.1.4 Reuniu um imenso exército,
1Mc.1.5 impôs seu poderio aos países, às nações e reis, e todos se tornaram seus tributários.
1Mc.1.6 Enfim, adoeceu e viu que a morte se aproximava.
1Mc.1.7 Convocou então os mais considerados dentre os seus cortesãos, companheiros desde sua juventude, e, ainda em vida, repartiu entre eles o império.
1Mc.1.8 Alexandre havia reinado doze anos ao morrer.
1Mc.1.9 Seus familiares receberam cada qual seu próprio reino.
1Mc.1.10 Puseram todos o diadema depois de sua morte, e, após eles, seus filhos durante muitos anos; e males em quantidade multiplicaram-se sobre a terra.
1Mc.1.11 Desses reis originou-se uma raiz de pecado: Antíoco Epifânio, filho do rei Antíoco, que havia estado em Roma, como refém, e que reinou no ano cento e trinta e sete do reino dos gregos.
1Mc.1.12 Nessa época saíram também de Israel uns filhos perversos que seduziram a muitos outros, dizendo: Vamos e façamos alianças com os povos que nos cercam, porque, desde que nós nos separamos deles, caímos em infortúnios sem conta.
1Mc.1.13 Semelhante linguagem pareceu-lhes boa,
1Mc.1.14 e houve entre o povo quem se apressasse a ir ter com o rei, o qual concedeu a licença de adoptarem os costumes pagãos.
1Mc.1.15 Edificaram em Jerusalém um ginásio como os gentios, dissimularam os sinais da circuncisão, afastaram-se da aliança com Deus, para se unirem aos estrangeiros e venderam-se ao pecado.
1Mc.1.16 Quando seu reino lhe pareceu bem consolidado, concebeu Antíoco o desejo de possuir o Egipto, a fim de reinar sobre dois reinos.
1Mc.1.17 Entrou, pois, no Egipto com um poderoso exército, com carros, elefantes, cavalos e uma numerosa esquadra.
1Mc.1.18 Investiu contra Ptolomeu, rei do Egipto, o qual, tomado de pânico, fugiu. Foram muitos os que sucumbiram sob seus golpes.
1Mc.1.19 Tornou-se senhor das fortalezas do Egipto, e apoderou-se das riquezas do país.
1Mc.1.20 Após ter derrotado o Egipto, pelo ano cento e quarenta e três, regressou Antíoco e atacou Israel, subindo a Jerusalém com um forte exército.
1Mc.1.21 Penetrou cheio de orgulho no santuário, tomou o altar de ouro, o candelabro das luzes com todos os seus pertences,
1Mc.1.22 a mesa da proposição, os vasos, as alfaias, os turíbulos de ouro, o véu, as coroas, os ornamentos de ouro da fachada, e arrancou as embutiduras.
1Mc.1.23 Tomou a prata, o ouro, os vasos preciosos e os tesouros ocultos que encontrou.
1Mc.1.24 Arrebatando tudo consigo, regressou à sua terra, após massacrar muitos judeus e pronunciar palavras injuriosas
1Mc.1.25 Foi isso um motivo de desolação em extremo para todo o Israel.
1Mc.1.26 Príncipes e anciãos gemeram, jovens e moças perderam sua alegria e a beleza das mulheres empanou-se.
1Mc.1.27 O recém-casado lamentava-se, e a esposa chorava no leito nupcial.
1Mc.1.28 A própria terra tremia por todos os seus habitantes e a casa de Jacob cobriu-se de vergonha.
1Mc.1.29 Dois anos após, Antíoco enviou um oficial a cobrar o tributo nas cidades de Judá. Chegou ele a Jerusalém com uma numerosa tropa;
1Mc.1.30 dirigiu-se aos habitantes com palavras pacíficas, mas astuciosas, nas quais acreditaram; em seguida lançou-se de improviso sobre a cidade, pilhou-a seriamente e matou muita gente.
1Mc.1.31 Saqueou-a, incendiou-a, destruiu as casas e as muralhas que a cercavam.
1Mc.1.32 Seus soldados conduziram ao cativeiro as mulheres e as crianças e apoderaram-se dos rebanhos.
1Mc.1.33 Cercaram a Cidade de David com uma grande e sólida muralha, com possantes torres, tornando-se assim a sua fortaleza.
1Mc.1.34 Instalaram ali uma guarnição brutal de gente sem leis, fortificaram-se aí;
1Mc.1.35 e ajuntaram armas e provisões. Reunindo todos os espólios do saque de Jerusalém, ali os acumularam. Constituíram desse modo uma grande ameaça.
1Mc.1.36 Serviram de cilada para o templo, e um inimigo constantemente incitado contra o povo de Israel,
1Mc.1.37 derramando sangue inocente ao redor do templo e profanando o santuário.
1Mc.1.38 Por causa deles, os habitantes de Jerusalém fugiram, e só ficaram lá os estrangeiros. Jerusalém tornou-se estranha a seus próprios filhos e estes a abandonaram.
1Mc.1.39 Seu templo ficou desolado como um deserto, seus dias de festa se transformaram em dias de luto, seus sábados, em dias de vergonha, e sua glória em desonra.
1Mc.1.40 Quanto fora ela honrada, agora foi desprezada, e sua exaltação converteu-se em tormento.
1Mc.1.41 Então o rei Antíoco publicou para todo o reino um edito, prescrevendo que todos os povos formassem um único povo e
1Mc.1.42 que abandonassem suas leis particulares. Todos os gentios se conformaram com essa ordem do rei, e
1Mc.1.43 muitos de Israel adoptaram a sua religião, sacrificando aos ídolos e violando o sábado.
1Mc.1.44 Por intermédio de mensageiros, o rei enviou, a Jerusalém e às cidades de Judá, cartas prescrevendo que aceitassem os costumes dos outros povos da terra,
1Mc.1.45 suspendessem os holocaustos, os sacrifícios e as libações no templo, violassem os sábados e as festas,
1Mc.1.46 profanassem o santuário e os santos,
1Mc.1.47 erigissem altares, templos e ídolos, sacrificassem porcos e animais imundos,
1Mc.1.48 deixassem seus filhos incircuncidados e maculassem suas almas com toda sorte de impurezas e abominações, de maneira
1Mc.1.49 a obrigarem-nos a esquecer a lei e a transgredir as prescrições.
1Mc.1.50 Todo aquele que não obedecesse à ordem do rei seria morto.
1Mc.1.51 Foi nesse teor que o rei escreveu a todo o seu reino; nomeou comissários para vigiarem o cumprimento de sua vontade pelo povo e coagirem as cidades de Judá, uma por uma, a sacrificar.
1Mc.1.52 Houve muitos dentre o povo que colaboraram com eles e abandonaram a lei. Fizeram muito mal no país, e
1Mc.1.53 constrangeram os israelitas a se refugiarem em asilos e refúgios ocultos.
1Mc.1.54 No dia quinze do mês de Quisleu, do ano cento e quarenta e cinco, edificaram a abominação da desolação por sobre o altar e construíram altares em todas as cidades circunvizinhas de Judá.
1Mc.1.55 Ofereciam sacrifícios diante das portas das casas e nas praças públicas,
1Mc.1.56 rasgavam e queimavam todos os livros da lei que achavam;
1Mc.1.57 em toda parte, todo aquele em poder do qual se achava um livro do testamento, ou todo aquele que mostrasse gosto pela lei, morreria por ordem do rei.
1Mc.1.58 Com esse poder que tinham, tratavam assim, cada mês, os judeus que eles encontravam nas cidades
1Mc.1.59 e, no dia vinte e cinco do mês, sacrificavam no altar, que sobressaía ao altar do templo.
1Mc.1.60 As mulheres, que levavam seus filhos a circuncidar, eram mortas conforme a ordem do rei,
1Mc.1.61 com os filhos suspensos aos seus pescoços. Massacravam-se também seus próximos e os que tinham feito a circuncisão.
1Mc.1.62 Numerosos foram os israelitas que tomaram a firme resolução de não comer nada que fosse impuro, e preferiram a morte antes que se manchar com alimentos;
1Mc.1.63 não quiseram violar a santa lei e foram trucidados.
1Mc.1.64 Caiu assim sobre Israel uma imensa cólera.

 

1Mc.2.1 Foi nessa época que se levantou Matatias, filho de João, filho de Simeão, sacerdote da família de Joiarib, que veio de Jerusalém se estabelecer em Modin.
1Mc.2.2 Tinha ele cinco filhos: João, apelidado Gadi,
1Mc.2.3 Simão, alcunhado Tassi,
1Mc.2.4 Judas, chamado Macabeu,
1Mc.2.5 Eleázar, cognominado Avaran, e Jónatas, chamado Afos.
1Mc.2.6 Vendo as abominações praticadas em Judá e em Jerusalém, exclamou: Ai de mim, por que nasci eu, para ver a ruína de meu povo e da cidade santa,
1Mc.2.7 e ficar sem fazer nada, enquanto ela é entregue ao poder de seus inimigos
1Mc.2.8 e seu centro religioso abandonado aos estrangeiros? Seu templo tornou-se como um homem desonrado
1Mc.2.9 e os vasos sagrados, que eram o motivo de seu orgulho, levados como para um cativeiro; seus filhos foram trucidados nas ruas e os seus jovens sucumbiram ao gládio do inimigo.
1Mc.2.10 Que povo há que não tenha herdado de seus atributos reais, que não se tenha apoderado dos seus despojos?
1Mc.2.11 Toda a sua glória desapareceu e, de livre que era, tornou-se escrava.
1Mc.2.12 Eis que tudo o que tínhamos de sagrado, de belo, de glorioso, foi assolado e profanado pelas nações.
1Mc.2.13 Por que viver ainda?
1Mc.2.14 Matatias e seus filhos rasgaram suas vestes, cobriram-se de sacos, e choravam amargamente.
1Mc.2.15 Sobrevieram enviados do rei a Modin, para impor a apostasia e obrigar a sacrificar.
1Mc.2.16 Muitos dos israelitas uniram-se a eles, mas Matatias e seus filhos permaneceram firmes.
1Mc.2.17 Em resposta disseram-lhe os que vinham da parte do rei: Possuis nesta cidade notável influência e consideração, teus irmãos e teus filhos te dão autoridade.
1Mc.2.18 Vem, pois, como primeiro, executar a ordem do rei, como o fizeram todas as nações, os habitantes de Judá e os que ficaram em Jerusalém. Serás contado, tu e teus filhos, entre os amigos do rei; a ti e aos teus filhos o rei vos honrará, cumulando-vos de prata, de ouro e de presentes.
1Mc.2.19 Matatias respondeu-lhes: Ainda mesmo que todas as nações que se acham no reino do rei o escutassem, de modo que todos renegassem a fé de seus pais e aquiescessem às suas ordens,
1Mc.2.20 eu, meus filhos e meus irmãos, perseveraremos na Aliança concluída por nossos antepassados.
1Mc.2.21 Que Deus nos preserve de abandonar a lei e os mandamentos!
1Mc.2.22 Não obedeceremos a essas ordens do rei e não nos desviaremos de nossa religião, nem para a direita, nem para a esquerda.
1Mc.2.23 Mal acabara de falar, eis que um judeu se adiantou para sacrificar no altar de Modin, à vista de todos, conforme as ordens do rei.
1Mc.2.24 Viu-o Matatias e, no ardor de seu zelo, sentiu estremecerem-se suas entranhas. Num ímpeto de justa cólera arrojou-se e matou o homem no altar.
1Mc.2.25 Matou ao mesmo tempo o oficial incumbido da ordem de sacrificar e demoliu o altar.
1Mc.2.26 Com semelhante gesto mostrou ele seu amor pela lei, como agiu Fineias a respeito de Zimeri, filho de Salú.
1Mc.2.27 Em altos brados Matatias elevou a voz então na cidade: Quem for fiel à lei e permanecer firme na Aliança, saia e siga-me.
1Mc.2.28 Assim, com seus filhos, fugiu em direcção às montanhas, abandonando todos os seus bens na cidade.
1Mc.2.29 Então, uma grande parte dos que procuravam a lei e a justiça, encaminhou-se para o deserto.
1Mc.2.30 Ali refugiaram-se, com seus filhos, suas mulheres e seus rebanhos, porque a perseguição se encarniçava contra eles.
1Mc.2.31 Contaram aos oficiais do rei e às forças acantonadas em Jerusalém, na cidadela de David, que certo número de judeus, culpáveis de terem transgredido a ordem real, havia descido ao deserto, para ali se ocultar e que muitos se haviam precipitado em seu seguimento.
1Mc.2.32 Os sírios arremessaram-se ao encalço deles e os alcançaram, depois se prepararam para agredi-los no dia de sábado.
1Mc.2.33 Isso basta, agora, gritaram-lhes eles, saí, obedecei à ordem do rei, e vivereis.
1Mc.2.34 Não sairemos, replicaram os judeus, e nem obedeceremos ao rei, com a profanação do dia de sábado.
1Mc.2.35 Instantaneamente os sírios travaram combate contra eles;
1Mc.2.36 mas eles não responderam, não atiraram uma pedra e não barricaram seu refúgio.
1Mc.2.37 Que morramos todos inocentes! O céu e a terra nos servirão de testemunha, de que nos matais injustamente.
1Mc.2.38 E foi assim que os inimigos se lançaram sobre eles em dia de sábado, morrendo eles, suas mulheres e seus filhos, com seu gado, em número de mil.
1Mc.2.39 Matatias e seus amigos o souberam e comoveram-se muito;
1Mc.2.40 mas disseram uns aos outros: Se todos nós agirmos como nossos irmãos, e se não pelejarmos contra os estrangeiros para pormos a salvo nossas vidas e nossas leis, exterminar-nos-ão bem depressa da terra.
1Mc.2.41 Tomaram, pois, naquele dia a seguinte resolução: Mesmo que nos ataquem em dia de sábado, pugnaremos contra eles e não nos deixaremos matar a todos nós, como o fizeram nossos irmãos no seu esconderijo.
1Mc.2.42 Então se ajuntou a eles o grupo dos judeus hassideus, particularmente valentes em Israel, apegados todos à lei;
1Mc.2.43 e todos os que fugiam das perseguições se ajuntaram do mesmo modo a eles e os reforçaram.
1Mc.2.44 Formaram, pois, um exército e na sua ira e indignação massacraram certo número de prevaricadores e de traidores da lei; os outros procuraram refúgio junto aos estrangeiros.
1Mc.2.45 Assim Matatias e seus amigos percorreram o país, destruíram os altares e
1Mc.2.46 circuncidaram à força as crianças, ainda incircuncisas nas fronteiras de Israel,
1Mc.2.47 e perseguiram os sírios orgulhosos. Sua empresa alcançou bom êxito.
1Mc.2.48 Arrancaram a lei do poder dos gentios e dos reis, e não permitiram que prevalecesse o mal.
1Mc.2.49 Ora, chegou para Matatias o dia de sua morte e ele disse a seus filhos: O que domina até este momento é o orgulho, o ódio, a desordem e a cólera.
1Mc.2.50 Sede, pois, agora, meus filhos, os defensores da lei e dai vossa vida pela Aliança de vossos pais.
1Mc.2.51 Recordai-vos dos feitos de vossos maiores em seu tempo, e merecereis uma grande glória e um nome eterno.
1Mc.2.52 Porventura, não foi na prova que Abraão foi achado fiel? E não lhe foi isso imputado em justiça?
1Mc.2.53 José observou os mandamentos na sua desgraça e veio a ser o senhor do Egipto.
1Mc.2.54 Fineias, nosso antepassado, por ter sido inflamado de zelo, recebeu a promessa de um perpétuo sacerdócio.
1Mc.2.55 Josué, cumprindo a palavra de Deus, veio a ser juiz em Israel.
1Mc.2.56 Caleb deu testemunho na assembleia e herdou a terra.
1Mc.2.57 Por todos os séculos, em vista de sua piedade, mereceu David o trono real.
1Mc.2.58 Porque ardia em zelo pela lei, Elias foi arrebatado ao céu.
1Mc.2.59 Ananias, Azarias e Michael foram salvos das chamas por terem tido fé.
1Mc.2.60 Daniel, na sua rectidão, foi livre da boca dos leões.
1Mc.2.61 Recordai-vos assim, de geração em geração, de que todos os que esperam em Deus não desfalecem.
1Mc.2.62 Não receeis as ameaças do pecador, porque sua glória chega à lama e aos vermes:
1Mc.2.63 hoje ele se eleva e amanhã desaparece, porque tornará ao pó, e seus planos são frustrados.
1Mc.2.64 Quanto a vós, meus filhos, sede corajosos e destemidos em observar a lei, porque por ela chegareis à glória.
1Mc.2.65 Aqui tendes Simão, irmão vosso, eu sei que ele é homem de conselho, ouvi-o sempre e será para vós um pai.
1Mc.2.66 Judas Macabeu, bravo desde a juventude: será o general do exército e dirigirá a guerra contra os gentios.
1Mc.2.67 Atraireis a vós todos os que observam a lei e vingareis vosso povo.
1Mc.2.68 Pagai aos gentios o que nos fizeram e atendei aos preceitos da lei.
1Mc.2.69 Depois disso abençoou-os e foi unir-se aos seus pais.
1Mc.2.70 Morreu no ano cento e quarenta e seis. Seus filhos sepultaram-no em Modin, entre as sepulturas de seus antepassados, e todo o Israel o chorou dolorosamente.

 

1Mc.3.1 Seu filho Judas, cognominado Macabeu, ficou em seu lugar.
1Mc.3.2 Todos os seus irmãos o auxiliaram, bem como todos os que se tinham unido a seu pai, aceitando generosamente a promessa de combater por Israel.
1Mc.3.3 Dilatou a glória do povo; revestiu-se com a couraça como um gigante, cingiu-se com as armas de guerra, e empenhava-se nos combates, protegendo seu exército com sua espada.
1Mc.3.4 Assemelhava-se nas acções a um leão, e parecia um leãozinho que ruge na caçada.
1Mc.3.5 Perseguia e rebuscava com cuidado os traidores e lançava ao fogo os que perseguiam seu povo.
1Mc.3.6 Os maus recuavam diante dele transidos de medo, tremiam os que praticavam o mal e a salvação do povo firmava-se em suas mãos.
1Mc.3.7 Seus feitos exasperavam os reis, mas alegravam Jacob, e sua memória permaneceu eternamente bendita.
1Mc.3.8 Percorreu as cidades expulsando de Judá os ímpios, desviando assim de Israel a cólera divina.
1Mc.3.9 Seu nome foi pronunciado até as extremidades da terra, e ele conseguiu a adesão daqueles que estavam a ponto de perecer.
1Mc.3.10 Aconteceu que Apolónio convocou os gentios e, de Samaria, partiu com um grande exército para pelejar contra Israel.
1Mc.3.11 Soube-o Judas, saiu-lhe ao encontro, venceu-o e o matou; muitos caíram aos seus golpes e os restantes puseram-se em fuga.
1Mc.3.12 Apoderou-se dos espólios, tomou a espada de Apolónio, e desde então usava-a sempre nos combates.
1Mc.3.13 Seron, general do exército sírio, veio a saber que Judas cercara-se de soldados fiéis convocados e que ele os levara ao combate.
1Mc.3.14 Tornar-me-ei célebre, disse ele, e cobrir-me-ei de glória no reino, vencerei Judas com seus correligionários, que se opõem às ordens reais.
1Mc.3.15 Armou-se ele para a guerra. Um poderoso exército de ímpios marchou com ele, para reforçar e tomar vingança dos filhos de Israel.
1Mc.3.16 Avançaram até a muralha de Bet-Horon e Judas, seguido de poucos homens, foi-lhe ao encontro.
1Mc.3.17 Mas à vista do exército que vinha contra eles, os companheiros de Judas disseram-lhe: Como poderemos enfrentar tamanho exército, se somos tão poucos, tanto mais que nos sentimos fracos, porque hoje nada temos comido?
1Mc.3.18 É fácil, respondeu Judas, a um punhado de gente fazer-se respeitar por muitos; para o Deus do céu não há diferença entre a salvação de uma multidão e de um punhado de homens,
1Mc.3.19 porque a vitória no combate não depende do número, mas da força que desce do céu.
1Mc.3.20 Esta gente vem contra nós, com insolência e orgulho, para nos aniquilar, juntamente com nossas mulheres e nossos filhos, e para nos despojar;
1Mc.3.21 nós, porém, lutamos por nossas vidas e nossas leis.
1Mc.3.22 O próprio Deus os esmagará aos nossos olhos. Não os temais.
1Mc.3.23 E logo que cessara de falar, arrojou-se Judas com rapidez sobre os inimigos, e Seron diante dele foi derrotado com seu exército;
1Mc.3.24 e Judas o perseguiu na descida de Bet-Horon até a planície. Morreram cerca de oitocentos sírios e os restantes fugiram para a terra dos filisteus.
1Mc.3.25 E foi assim que se espalhou o terror de Judas e dos seus irmãos e todos os povos das vizinhanças encheram-se de consternação.
1Mc.3.26 Seu nome chegou aos ouvidos do rei, e todas as nações comentaram os feitos heróicos de Judas.
1Mc.3.27 Quando o rei Antíoco soube dessas novas, encolerizou-se terrivelmente, reuniu todas as forças do reino, de que formou um exército poderosíssimo.
1Mc.3.28 Abriu seu tesouro, e deu ao exército o soldo de um ano com a ordem de estarem prontos para qualquer eventualidade.
1Mc.3.29 No entanto viu que lhe faltava dinheiro no tesouro e que os tributos do território eram deficientes em vista das perturbações e da maldade que havia provocado, suprimindo em toda a parte as instituições em vigor, desde outrora.
1Mc.3.30 Receou, portanto, não poder pagar as despesas, como fizera já uma ou duas vezes, e outorgar as liberalidades, que distribuía em certo tempo com mão generosa, porque excedia em liberalidade a todos os reis, seus predecessores.
1Mc.3.31 Profundamente consternado, resolveu ir à Pérsia cobrar os tributos dessas regiões e ajuntar muito dinheiro.
1Mc.3.32 Deixou Lísias, pessoa de relevo, de linhagem real, para dirigir os negócios do reino, do Eufrates às fronteiras do Egipto,
1Mc.3.33 e ocupar-se, até sua volta, de seu filho Antíoco.
1Mc.3.34 Deixou-lhe a metade do exército do reino, com os elefantes, e deu-lhe as instruções referentes à execução de suas vontades, especialmente o que dizia respeito aos habitantes da Judeia e de Jerusalém:
1Mc.3.35 ele devia enviar um exército contra eles, para destruir e aniquilar o poderio de Israel e o que restava de Jerusalém, e apagar desses lugares até a sua lembrança
1Mc.3.36 e estabelecer em todos os seus confins estrangeiros, aos quais distribuiria por meio de sorte as terras.
1Mc.3.37 O rei tomou a outra metade do exército, partiu de Antioquia, capital de seu reino, pelo ano cento e quarenta e sete, passou o Eufrates e atravessou as terras superiores.
1Mc.3.38 Lísias escolheu Ptolomeu, filho de Dorímenes, Nicanor e Górgias, valorosos generais e familiares do rei;
1Mc.3.39 enviou com estes quarenta mil homens e sete mil cavaleiros para invadir e devastar o país de Judá, conforme a ordem do rei.
1Mc.3.40 Postos a caminho com todas essas tropas, chegaram à planície de Emaús e penetraram nela.
1Mc.3.41 Quando os mercadores ouviram falar deles, tomaram muita prata e ouro e se dirigiram com peias ao campo para comprar os filhos de Israel como escravos. Exércitos da Síria, bem como do estrangeiro, vieram juntar-se a eles.
1Mc.3.42 Judas e seus irmãos viram que a situação era grave e que as forças inimigas acampavam dentro de suas fronteiras. Sabendo também como o rei havia ordenado de tratar o povo para destruí-lo e exterminá-lo,
1Mc.3.43 disseram uns aos outros: Levantemos nossa pátria de seu abatimento e lutemos por nosso povo e nossa religião.
1Mc.3.44 Convocaram então toda a gente, a fim de se prepararem para a luta, de rezarem, de implorarem piedade e misericórdia de Deus.
1Mc.3.45 Porquanto Jerusalém estava desabitada e deserta: não havia um só de seus filhos que nela entrasse ou dela saísse. Seu santuário estava profanado, soldados estrangeiros ocupavam a cidadela, gentios faziam ali sua habitação. Toda a alegria havia desaparecido de Jacob; a flauta e a harpa estavam caladas.
1Mc.3.46 Os israelitas se ajuntaram, pois, e se dirigiram a Mispá, defronte de Jerusalém, porque tinham tido outrora, em Mispá, um lugar de oração.
1Mc.3.47 Jejuaram aquele dia, vestiram-se com sacos, cobriram a cabeça com cinza e rasgaram suas vestes.
1Mc.3.48 Abriram um dos livros da Lei, para ler nele o que os gentios perguntavam às representações de seus falsos deuses;
1Mc.3.49 trouxeram os ornamentos sacerdotais, as primícias e os dízimos e mandaram vir os nazarenos que haviam cumprido o tempo de seu voto;
1Mc.3.50 em seguida sua voz se elevou com força ao céu: Que havemos nós de fazer destas ofertas e para onde vamos nós levá-las?
1Mc.3.51 Vosso santuário está profanado e manchado, vossos sacerdotes estão em luto e na humilhação,
1Mc.3.52 as nações se coligaram para nos aniquilar e vós sabeis o que elas tramam contra nós.
1Mc.3.53 Como resistir diante deles, se vós não vierdes em nosso auxílio?
1Mc.3.54 Então eles soaram a trombeta e fizeram um grande clamor.
1Mc.3.55 Depois disso Judas nomeou chefes para grupos de mil, cem, cinquenta e dez homens,
1Mc.3.56 e disse aos que acabavam de construir uma casa, de tomar mulher, plantar uma vinha, ou que tinham medo, que voltassem cada qual para sua casa, conforme a lei.
1Mc.3.57 Os israelitas se puseram então a caminho e vieram acampar ao sul de Emaús.
1Mc.3.58 Preparai-vos, disse-lhes Judas, sede corajosos e estai prontos desde a manhã para o combate a essas nações que estão unidas para nos arruinar, a nós e tudo o que possuímos de sagrado;
1Mc.3.59 porquanto é preferível morrer no combate, que ver nosso povo perseguido e profanado nosso santuário.
1Mc.3.60 Que se faça somente a vontade de Deus!

 

1Mc.4.1 Tomando consigo cinco mil homens e mil cavaleiros de elite, Górgias se pôs a caminho à noite
1Mc.4.2 para surpreender o acampamento dos judeus e atacá-lo de improviso. A gente da cidadela servia-lhe de guia.
1Mc.4.3 Mas Judas o soube, e com seus destemidos companheiros saiu para esmagar aquelas forças do rei que tinham ficado perto de Emaús,
1Mc.4.4 enquanto as tropas estavam espalhadas na planície.
1Mc.4.5 Chegou Górgias à noite ao acampamento de Judas, mas não encontrou ninguém; pôs-se então à sua procura nas montanhas, dizendo: Fugiram diante de nós.
1Mc.4.6 Todavia Judas apareceu na planície ao despertar do dia com três mil homens, que, exceptuando espadas e escudos, não estavam armados como o teriam querido;
1Mc.4.7 entrementes viram eles o campo dos gentios poderoso, fortificado de cavalaria e os próprios inimigos prontos para o combate.
1Mc.4.8 Não temais seu número, disse Judas a seus companheiros, e nem receeis seu choque.
1Mc.4.9 Lembrai-vos como nossos pais foram salvos no mar Vermelho, quando o faraó os perseguia com seu exército.
1Mc.4.10 Gritemos agora para o céu para que ele se compadeça de nós, que se lembre da Aliança com nossos antepassados e queira hoje esmagar esse exército aos nossos olhos.
1Mc.4.11 Todas as nações saberão que Israel possui um libertador e um salvador.
1Mc.4.12 Erguendo os olhos, os gentios viram-nos avançar contra eles
1Mc.4.13 e saíram do acampamento para a luta, enquanto os homens de Judas soavam a trombeta.
1Mc.4.14 Travou-se a batalha, mas os inimigos, derrotados, puseram-se em fuga através da planície.
1Mc.4.15 Os últimos tombaram todos sob a espada, enquanto eram perseguidos até Guézer e as planícies de Idumeia, de Asdod e de Jâmnia. E sucumbiram cerca de três mil.
1Mc.4.16 Então Judas parou de persegui-los, voltou atrás com suas tropas pelo mesmo caminho,
1Mc.4.17 e disse: Não penseis nos despojos, porque outro combate nos aguarda:
1Mc.4.18 Górgias está perto de nós na montanha, com suas forças. No momento, enfrentai o inimigo e combatei; após isto, podereis apoderar-vos de seus despojos, com toda a segurança.
1Mc.4.19 Ainda Judas falava, quando alguns homens apareceram e olharam de cima da montanha.
1Mc.4.20 Viram que o exército tinha sido posto em fuga e que o acampamento se queimava porque a fumaça que se percebia indicava o que se passara.
1Mc.4.21 À vista disso todos foram tomados de grande espanto e, certificando-se de que o exército de Judas se achava na planície, pronto para o combate,
1Mc.4.22 fugiram todos para terra estrangeira.
1Mc.4.23 Judas voltou para pilhar o acampamento, e seus homens apoderaram-se de muito ouro, prata, jacinto, púrpura marinha, e de grandes riquezas.
1Mc.4.24 Ao voltarem, cantavam hinos e elevavam ao céu os louvores do Senhor, porque ele é bom e sua misericórdia é eterna.
1Mc.4.25 Israel foi, com efeito, naquele dia salvo de um grande perigo.
1Mc.4.26 Os gentios que escaparam vieram contar a Lísias os acontecimentos,
1Mc.4.27 o qual ficou consternado e abatido ouvindo-os, porque Israel não tinha sido tratado como ele quis, e porque as ordens do rei não tinham sido cumpridas.
1Mc.4.28 Por isso, no ano seguinte, reuniu Lísias sessenta mil infantes escolhidos e cinco mil cavaleiros para acabar com os judeus.
1Mc.4.29 Esse exército veio da Idumeia acampar em Bet-Sur. Judas foi-lhe ao encontro com dez mil homens.
1Mc.4.30 Tendo ante os olhos esse poderoso exército, rezou nestes termos: Sede bendito, Salvador de Israel, vós que quebrastes a força do poderoso pela mão do vosso servo David e entregastes os exércitos estrangeiros nas mãos de Jónatas e do seu escudeiro.
1Mc.4.31 Entregai esse exército ao poder do povo de Israel e confundi nossos inimigos com suas tropas e sua cavalaria.
1Mc.4.32 Inspirai-lhes o terror, fazei derreter seu orgulho audaz. Que eles sejam sacudidos e pisados.
1Mc.4.33 Derribai-os sob a espada dos que vos amam e que todos aqueles que conhecem vosso nome cantem vossos louvores.
1Mc.4.34 Travou-se então o combate, e do exército de Lísias tombaram cinco mil homens, que sucumbiram diante deles.
1Mc.4.35 Vendo seu exército posto em fuga e os judeus cheios de bravura, prontos a viver ou a morrer valentemente, voltou Lísias a Antioquia para arregimentar tropas de mercenários, com o intuito de reaparecer na Judeia com um exército mais forte.
1Mc.4.36 Judas e seus irmãos disseram então: Eis que nossos inimigos estão aniquilados; subamos agora a purificar e consagrar de novo os lugares santos.
1Mc.4.37 Reunido todo o exército, subiram à montanha de Sião.
1Mc.4.38 Contemplaram a desolação dos lugares santos, o altar profanado, as portas queimadas, os átrios cheios de arbustos que tinham nascido como num bosque ou sobre as colinas, os aposentos demolidos.
1Mc.4.39 Rasgando suas vestes, eles se lamentaram muito e cobriram as cabeças com cinza,
1Mc.4.40 prostraram-se com o rosto por terra, tocaram as trombetas e ergueram clamores ao céu.
1Mc.4.41 Então Judas encarregou alguns homens de combater os soldados da cidadela, enquanto purificavam o templo.
1Mc.4.42 Escolheu sacerdotes sem mancha e zelosos pela lei,
1Mc.4.43 os quais purificaram o templo, transportando para um lugar impuro as pedras contaminadas.
1Mc.4.44 Consultaram-se entre si, o que se deveria fazer do altar dos holocaustos, que havia sido profanado,
1Mc.4.45 e tomaram a excelente resolução de demoli-lo, para que não recaísse sobre eles o opróbrio vindo da mancha dos gentios. Destruíram-no, portanto,
1Mc.4.46 e transportaram suas pedras a um lugar conveniente sobre a montanha do templo, aguardando a decisão de algum profeta a esse respeito.
1Mc.4.47 Tomaram pedras intactas, segundo a lei, e construíram um novo altar, semelhante ao primeiro.
1Mc.4.48 Restauraram também o templo e o interior do templo e purificaram os átrios.
1Mc.4.49 Fizeram novos vasos sagrados e transportaram ao santuário o candeeiro, o altar dos perfumes, e a mesa.
1Mc.4.50 Queimaram incenso no altar, acenderam as lâmpadas do candeeiro, para alumiarem o templo,
1Mc.4.51 colocaram pães sobre a mesa e suspenderam os véus, terminando completamente seu trabalho.
1Mc.4.52 No dia vinte e cinco do nono mês, isto é, do mês de Quisleu, do ano cento e quarenta e oito, eles se levantaram muito cedo,
1Mc.4.53 e ofereceram um sacrifício legal sobre o novo altar dos holocaustos, que haviam construído.
1Mc.4.54 Foi no mesmo dia e na mesma data em que os gentios o haviam profanado, que o altar foi de novo consagrado ao som de cânticos, das harpas, das liras e dos címbalos.
1Mc.4.55 Todo o povo se prostrou com o rosto em terra para adorar e bendizer no céu aquele que os havia conduzido ao triunfo.
1Mc.4.56 Prolongaram por oito dias a dedicação do altar, oferecendo com alegria holocaustos e sacrifícios de acções de graças e de louvores.
1Mc.4.57 Adornaram a fachada do templo com coroas de ouro e com pequenos escudos, consagraram as entradas do templo e os quartos, nos quais colocaram portas.
1Mc.4.58 Reinou uma alegria imensa entre o povo e o opróbrio das nações foi afastado.
1Mc.4.59 Foi estabelecido por Judas e seus irmãos, e por toda a assembleia de Israel que os dias da dedicação do altar seriam celebrados cada ano em sua data própria, durante oito dias, a partir do dia vinte e cinco do mês de Quisleu, e isto com alegria e regozijo.
1Mc.4.60 Na mesma época cercaram a montanha de Sião com uma alta muralha com fortes torres, para que não fosse mais possível às nações pisá-la aos pés, como outrora.
1Mc.4.61 Judas pôs ali tropas para guardá-la e fortificou também Bet-Sur para protegê-la, a fim de que o povo tivesse uma muralha do lado da Idumeia.

 

1Mc.5.1 Ora, ouvindo falar da reconstrução do altar e da restauração do templo, os povos circunvizinhos encolerizaram-se muito, e,
1Mc.5.2 tomada a resolução de exterminar toda a raça de Jacob, que vivesse entre eles, puseram-se a matá-los e a persegui-los.
1Mc.5.3 Por eles perseguirem desse modo Israel, Judas atacou os filhos de Esaú na Idumeia, junto de Acrabata, infligiu-lhes uma grande derrota, esmagou-os e apoderou-se de seus despojos.
1Mc.5.4 Lembrou-se igualmente da malícia dos filhos de Bean, armadilha e perigo para seu povo, por causa das emboscadas que eles armavam nos caminhos.
1Mc.5.5 Foram rechaçados em suas torres, onde ele os sitiou e os exterminou, queimando as torres com todos os que ali se achavam.
1Mc.5.6 Em seguida atacou os amonitas, entre os quais ele descobriu um forte exército e numeroso povo, sob a chefia de Timóteo.
1Mc.5.7 Travou com eles numerosos combates; foram aniquilados aos seus olhos e despedaçou-os.
1Mc.5.8 Apoderou-se da cidade de Jazer e de seus arrabaldes e voltou depois à Judeia.
1Mc.5.9 No entanto, as nações de Guilead se coligaram contra os israelitas, que habitavam seu território, com a intenção de exterminá-los, mas estes se refugiaram no forte de Dátema
1Mc.5.10 e enviaram uma mensagem a Judas e a seus irmãos, nestes termos: As nações que nos cercam se uniram contra nós e querem exterminar-nos.
1Mc.5.11 Preparam-se para vir tomar a fortaleza, em que nos achamos refugiados. Timóteo chefia suas tropas.
1Mc.5.12 Vinde, pois, agora nos livrar de suas mãos, porque muitos dos nossos foram mortos.
1Mc.5.13 Mataram todos os nossos irmãos que se achavam na região de Tob, levaram consigo suas mulheres, seus filhos e seus bens e mataram, lá perto de cem mil homens.
1Mc.5.14 Quando ainda se estava lendo essa carta, eis que chegam outros da Galileia, com as vestes em farrapos e portadores de notícias idênticas,
1Mc.5.15 dizendo: Congregaram-se contra nós nações de Ptolemaida, de Tiro, de Sidónia, e de toda a Galileia das Nações, para nos destruir inteiramente.
1Mc.5.16 Logo que Judas e o povo souberam da situação, organizaram uma grande assembleia, para deliberar sobre o que se deveria fazer em favor dos irmãos atacados e provados.
1Mc.5.17 Disse Judas a seu irmão Simão: Escolhe homens e põe-te a caminho para livrar teus irmãos da Galileia; Jónatas, meu irmão, e eu dirigir-nos-emos à terra de Guilead.
1Mc.5.18 Para guardar a Judeia deixou ali José, filho de Zacarias, e Azarias, chefe do povo, à frente do resto do exército,
1Mc.5.19 com esta ordem: Governai este povo e, até nossa volta, evitai toda luta com os gentios.
1Mc.5.20 A Simão foram dados três mil homens, para se dirigir à Galileia, e a Judas oito mil, para ocupar a terra de Guilead.
1Mc.5.21 Simão tomou, portanto, o caminho da Galileia e sustentou muitos combates, esmagando diante dele as nações,
1Mc.5.22 as quais perseguiu até as portas de Ptolemaida. Perto de três mil gentios caíram e ele se apoderou de seus despojos.
1Mc.5.23 Com grandes manifestações de regozijo, conduziu à Judeia os judeus que se achavam na Galileia e em Arbata, bem como suas mulheres, seus filhos e tudo o que eles possuíam.
1Mc.5.24 Por seu lado, Judas Macabeu e seu irmão Jónatas atravessaram o Jordão e andaram três dias pelo deserto.
1Mc.5.25 Encontraram os nabateus, os quais se aproximaram deles pacificamente e lhes contaram tudo aquilo que tinha acontecido a seus irmãos em Guilead,
1Mc.5.26 Dizendo que muitos dentre eles haviam sido encerrados em Bosra e Bosor, em Alema, em Casfor, em Maked, e em Carnaim, todas elas cidades grandes e fortificadas.
1Mc.5.27 Eles estão também reunidos, acrescentaram eles, nas outras cidades de Guilead. Seus inimigos se preparam para atacar amanhã suas fortificações, apoderar-se deles e exterminá-los num só dia.
1Mc.5.28 Judas mudou de caminho e atravessou o deserto para alcançar Bosor de improviso. Tomou a cidade, mandou passar a fio de espada todos os homens, apoderou-se dos espólios e incendiou a cidade.
1Mc.5.29 Na mesma noite partiu e atacou a fortaleza.
1Mc.5.30 No entanto, ao romper do dia, seus homens, erguendo os olhos, viram uma multidão incalculável carregando escadas e máquinas para escalar de assalto a fortaleza, e começando já o ataque.
1Mc.5.31 Enquanto a cidade erguia um clamor, misturado ao som da trombeta e um ruído formidável, viu Judas que o ataque estava começado
1Mc.5.32 e disse a seus homens: Pelejai hoje por vossos irmãos.
1Mc.5.33 Separou-os em três batalhões e apareceu na retaguarda do inimigo, tocando a trombeta e erguendo preces em alta voz.
1Mc.5.34 O exército de Timóteo conheceu que era Macabeu e fugiu diante dele. Sofreu uma grande derrota e tombaram nesse dia oito mil homens.
1Mc.5.35 Judas voltou-se em seguida para Alema; atacou-a e conquistou-a de assalto. Matou todos os homens, tomou seus despojos e incendiou-a.
1Mc.5.36 Dali continuou e apoderou-se de Casfor, de Maked, de Bosor e das outras cidades de Guilead.
1Mc.5.37 Depois de tudo o que temos acabado de dizer, Timóteo reuniu um novo exército, acampou do outro lado da corrente, defronte de Rafon.
1Mc.5.38 Imediatamente Judas mandou alguém espionar sua posição, e vieram-lhe dizer: Todas as nações circunvizinhas se uniram contra nós formando um poderoso exército.
1Mc.5.39 Tomaram em seu auxílio mercenários árabes, e se estabeleceram do outro lado do rio, prontos a atravessá-lo, para vir atacar-te. Judas foi então contra ele.
1Mc.5.40 Ao chegar Judas com suas tropas à torrente, disse Timóteo, por sua vez, aos oficiais de seu exército: Se ele atravessar primeiro a torrente contra nós, nós não lhe poderemos resistir, porque terá vantagem sobre nós;
1Mc.5.41 mas se ele temer passar e acampar do outro lado do rio, nós atravessaremos e teremos vantagem sobre ele.
1Mc.5.42 Ora, logo que chegaram à torrente, Judas pôs ao longo do rio os escribas do povo, com a seguinte ordem: Não deixeis ninguém se instalar aqui, mas venham todos ao combate.
1Mc.5.43 E foi ele o primeiro a se arrojar, e todo o povo o seguiu. Os gentios foram derrotados aos seus olhares, lançaram suas armas e fugiram para o templo de Carnaim.
1Mc.5.44 Os judeus, porém, apoderaram-se da cidade e incendiaram o templo, com todos aqueles que ali se achavam. Carnaim foi assolada e não pôde mais resistir a Judas.
1Mc.5.45 Este reuniu todos os judeus da terra de Guilead, do menor ao maior, as mulheres, as crianças e seus haveres, uma multidão enorme que ele resolveu conduzir à terra de Judá.
1Mc.5.46 Caminharam até Efron, cidade muito grande e bem fortificada, que se achava no caminho da volta. Não se podia contorná-la nem pela direita, nem pela esquerda, mas era preciso atravessá-la.
1Mc.5.47 Os habitantes fecharam as portas e se entrincheiraram com pedras. Judas, todavia, enviou-lhes mensageiros com palavras de paz:
1Mc.5.48 Atravessaremos vossa terra, para irmos à nossa, e ninguém vos molestará, apenas passaremos. Mas eles não lhes quiseram abrir o acesso.
1Mc.5.49 Então Judas ordenou que cada um em seu posto se dispusesse para a luta.
1Mc.5.50 Todos os homens do exército se prepararam, pois. Durante todo o dia e toda a noite assaltaram a cidade, e esta caiu em suas mãos.
1Mc.5.51 Passaram a fio da espada todos os homens, destruíram completamente a cidade, apoderaram-se dos espólios e atravessaram por cima dos seus cadáveres.
1Mc.5.52 Depois a caravana passou o Jordão, para chegar à grande planície, em frente a Betsã.
1Mc.5.53 Em caminho, Judas não cessava de ajuntar os retardatários e de encorajar a multidão até que chegassem à terra de Judá.
1Mc.5.54 Escalaram a montanha de Sião com alegria e regozijo e ofereceram holocaustos, por terem voltado em paz, sem que ninguém dentre eles tivesse sucumbido.
1Mc.5.55 Ora, enquanto Judas se achava em Guilead com Jónatas, e seu irmão Simão na Galileia diante de Ptolemaida,
1Mc.5.56 José, filho de Zacarias, e Azarias, à frente de suas tropas, souberam de seus feitos heróicos e de suas proezas.
1Mc.5.57 Façamos também nós célebre o nosso nome, disse um para o outro, e vamos combater nações vizinhas.
1Mc.5.58 Transmitiram ordens às forças, que eles tinham consigo, e foram contra Jâmnia.
1Mc.5.59 Mas Górgias saiu com seus homens para opor-se à sua investida.
1Mc.5.60 José e Azarias foram postos em fuga e perseguidos até as fronteiras da Judeia. Pereceram nesse dia cerca de dois mil homens de Israel, e foi grande a derrota do povo,
1Mc.5.61 isso porque não haviam escutado Judas, supondo que mostrariam seu valor,
1Mc.5.62 mas não pertenciam à raça desses homens, a quem era dado salvar Israel.
1Mc.5.63 O valoroso Judas e seus irmãos foram de modo particular honrados por todo o povo de Israel e por todas as nações onde penetrava seu nome.
1Mc.5.64 Vinham em grande número para aclamá-los.
1Mc.5.65 Entrementes, Judas e seus irmãos partiram para combater os filhos de Esaú, que habitavam no sul. Abateu Hebron e seus arrabaldes, destruiu as fortificações e queimou todas as torres dos arredores.
1Mc.5.66 Partiu ainda para atingir a terra dos estrangeiros e atravessou Marisa.
1Mc.5.67 Naquele dia pereceram alguns sacerdotes no combate, por terem querido mostrar sua valentia, saindo imprudentemente para travarem combate.
1Mc.5.68 Judas voltou para Asdod, na terra dos estrangeiros, derrubou seus altares, queimou seus ídolos, sujeitou suas cidades à pilhagem e em seguida voltou para a terra de Judá.

 

1Mc.6.1 Enquanto percorria as províncias superiores, soube o rei Antíoco que na Pérsia, em Elimaida, havia uma cidade famosa por suas riquezas, sua prata e ouro.
1Mc.6.2 Seu templo, extremamente rico, possuía véus de ouro, escudos, couraças e armas, abandonados ali por Alexandre, filho de Filipe, rei da Macedónia, que foi o primeiro a reinar sobre a Grécia.
1Mc.6.3 Dirigiu-se ele para essa cidade, com a finalidade de tomá-la e pilhá-la, mas foi em vão, porque os habitantes haviam sido prevenidos.
1Mc.6.4 Eles se aprontaram para lhe resistir e ele teve que voltar de lá, para alcançar Babilónia com grande humilhação.
1Mc.6.5 E eis que, na Pérsia, um mensageiro veio dizer-lhe que as tropas enviadas à Judeia tinham sido derrotadas,
1Mc.6.6 e que Lísias, tendo partido a princípio com um poderoso exército, havia fugido na presença dos judeus, os quais haviam aumentado ainda suas forças com armas e tropas e se tinham enriquecido com todo o material raptado de seus campos devastados.
1Mc.6.7 Eles tinham também destruído a abominação edificada por ele sobre o altar, em Jerusalém, e haviam cercado o templo com altas muralhas, como outrora, assim como a cidade de Bet-Sur.
1Mc.6.8 Ouvindo essas novas, o rei ficou irado e profundamente perturbado. Atirou-se à cama e caiu doente de tristeza, porque os acontecimentos não tinham correspondido à sua expectativa.
1Mc.6.9 Passou assim muitos dias, porque sua mágoa se renovava sem cessar, e pensava na morte.
1Mc.6.10 Mandou chamar todos os seus amigos e lhes disse: O sono fugiu dos meus olhos e meu coração desfalece de tristeza.
1Mc.6.11 Eu repito para mim mesmo: Em que aflição fui eu cair e a que desolação fui eu reduzido até o presente, eu que era bom e querido no tempo de meu poder?
1Mc.6.12 Mas agora eu me lembro dos males que causei em Jerusalém, de todos os objectos de ouro e de prata que saqueei, e de todos os habitantes da Judeia que exterminei sem motivo.
1Mc.6.13 Reconheço que foi por causa disso que todos esses males me fulminaram, e agora morro de tristeza numa terra estrangeira.
1Mc.6.14 Ele chamou Filipe, um de seus amigos, e constituiu-o regente de todo o seu reino.
1Mc.6.15 Entregou-lhe seu diadema, seu manto, e seu anel, com a responsabilidade de guiar seu filho Antíoco e de educá-lo para sua realeza.
1Mc.6.16 O rei Antíoco morreu ali no ano cento e quarenta e nove.
1Mc.6.17 Por sua vez soube Lísias que o rei havia morrido e elevou ao trono seu filho Antíoco que ele havia educado desde a infância, e a quem ele dera o nome de Eupátor.
1Mc.6.18 Nesse ínterim, os ocupantes da cidadela importunavam os judeus que se dirigiam ao templo, procuravam constantemente causar-lhes dano, para apoiar os gentios.
1Mc.6.19 Judas resolveu arrancar-lhes das mãos a cidadela e convocou todo o povo para sitiá-los.
1Mc.6.20 Reuniram-se, portanto, para começar o cerco no ano cento e cinquenta, e construíram balistas e máquinas.
1Mc.6.21 Mas alguns dos sitiados, aos quais se juntaram alguns israelitas perversos, fugiram
1Mc.6.22 e correram ao rei para lhe dizer: Até quando deixarás de fazer justiça e vingar nossos irmãos?
1Mc.6.23 Julgamos bom servir a teu pai, obedecer suas ordens e seguir suas leis;
1Mc.6.24 e os filhos de nosso povo se afastaram de nós como dos estrangeiros. Eles cercam a cidadela; mal capturam um dos nossos, matam-no e pilham os nossos bens.
1Mc.6.25 E não é somente sobre nós que eles estendem a mão, mas ainda contra os povos vizinhos.
1Mc.6.26 Eis que hoje eles se empossaram da cidadela, para serem senhores do templo e da cidade, e fortificaram Bet-Sur.
1Mc.6.27 Se tu não os prevenires, farão ainda piores males e tu não poderás mais detê-los.
1Mc.6.28 A estas palavras o rei se encolerizou e convocou todos os seus amigos, os generais de seus exércitos e os chefes de sua cavalaria.
1Mc.6.29 E ajuntaram-se a ele outros reinos e ilhas marítimas, tropas de mercenários;
1Mc.6.30 e seu exército atingiu a cem mil infantes, vinte mil cavaleiros e trinta e dois elefantes, prontos para a guerra.
1Mc.6.31 Atravessaram eles a Idumeia e acamparam defronte a Bet-Sur, onde combateram por muito tempo; construíram máquinas, mas os sitiados saíram e lançaram fogo, lutando com coragem.
1Mc.6.32 Abandonando a cidadela, veio Judas estabelecer-se em Bet-Zacarias, defronte do campo de luta do rei.
1Mc.6.33 Ao amanhecer, levantou-se o rei e dirigiu impetuosamente suas tropas em direcção a Bet-Zacarias: as forças se prepararam para o combate, e soaram as trombetas.
1Mc.6.34 Mostraram aos elefantes suco de uvas e de amoras para incitá-los ao combate.
1Mc.6.35 Foram repartidos nas falanges, pondo-se em volta de cada elefante mil homens armados de cotas de malhas e de capacetes de bronze para a cabeça, e quinhentos cavaleiros escolhidos estavam igualmente ao redor de cada animal.
1Mc.6.36 Esses cavaleiros tinham o costume de estar com o animal onde quer que ele estivesse e de ir aonde ele ia sem jamais se afastarem dele.
1Mc.6.37 Sobre cada um havia também fortes torres de madeira, muito firmes e defendidas pelas máquinas. Sobre cada um achavam-se também valentes guerreiros, que combatiam lá em cima, e, finalmente, seu condutor indiano.
1Mc.6.38 O restante da cavalaria, colocada de um lado e de outro, nas duas alas, manobrava cobrindo as falanges.
1Mc.6.39 Quando o sol brilhou sobre os escudos de ouro e bronze, a montanha resplandeceu, como que iluminada por outras tantas lâmpadas.
1Mc.6.40 Uma parte das tropas do rei se espalhou sobre as colinas e outra na planície, caminhando com precaução e em boa ordem.
1Mc.6.41 O ruído de seu número, de sua marcha, da colisão de suas armas era pavoroso, porque era um exército extremamente numeroso e possante.
1Mc.6.42 Judas, no entanto, avançou com os seus para travar a batalha, e seiscentos homens do exército do rei foram aniquilados.
1Mc.6.43 Eleázar, cognominado Avaran, viu que um dos elefantes estava armado com um couraçado real e ultrapassava todos os outros; ele julgou que o rei o montasse.
1Mc.6.44 Projectou então salvar todo o povo e conquistar um nome eterno.
1Mc.6.45 Precipitou-se audaciosamente nessa direcção, para o meio da falange, matando à direita e à esquerda e separando o inimigo de lado a lado.
1Mc.6.46 Meteu-se debaixo do elefante e, tomando posição abaixo dele, matou-o. O animal rolou sobre ele, e ele morreu ali.
1Mc.6.47 No entanto, averiguando o poder do exército real e a impetuosidade de suas tropas, retiraram-se os judeus.
1Mc.6.48 Mas os soldados do rei subiram-lhe ao encontro até Jerusalém, dirigindo-se então o rei à Judeia e ao monte Sião.
1Mc.6.49 Fez igualmente a paz com os habitantes de Bet-Sur, porquanto estes saíram da cidade, porque já não tinham víveres para continuarem ali, pois era o ano sabático.
1Mc.6.50 Assim o rei apoderou-se da cidade e pôs nela uma guarnição.
1Mc.6.51 Por muitos dias cercou a cidade santa, construiu máquinas, guindastes para lançar fogo ou pedras, escorpiões para lançar flechas e fundas.
1Mc.6.52 De seu lado, os sitiados construíram também máquinas, para se oporem aos seus inimigos, e combateram por muito tempo.
1Mc.6.53 Todavia faltavam víveres nos celeiros, por ser o sétimo ano e todos os que se achavam refugiados na Judeia, para fugir dos gentios, haviam esgotado o resto da reserva.
1Mc.6.54 Restavam afinal poucos homens para a defesa do templo, atingidos como estavam pela fome e por dispersarem-se cada um para sua casa.
1Mc.6.55 Filipe, que antes de morrer o rei Antíoco fora designado para educar seu filho Antíoco para a realeza,
1Mc.6.56 tinha chegado da Pérsia e da Média com o exército do rei e procurava apoderar-se do governo.
1Mc.6.57 Soube-o Lísias e apressou a partida dizendo ao rei, aos oficiais e aos homens: Nós nos vamos enfraquecendo aqui dia por dia, temos poucos víveres, e o lugar que sitiamos é forte, enquanto nos devemos ocupar com os negócios do reino.
1Mc.6.58 Estendamos a mão a esses homens e façamos paz com eles e com toda a sua raça.
1Mc.6.59 Deixemo-los viver como outrora segundo as suas próprias leis, porque foi por causa dessas leis que nós abolimos, que eles se revoltaram e fizeram tudo isso.
1Mc.6.60 Essa proposta agradou ao rei e aos generais. Enviou, pois, alguém para tratar da paz com os sitiados, que a aceitaram.
1Mc.6.61 Sob a palavra do juramento feito pelo rei e os generais, abandonaram a fortaleza.
1Mc.6.62 O rei subiu o monte Sião e visitou as fortificações, mas quebrou a palavra dada e ordenou a destruição da muralha.
1Mc.6.63 Em seguida, partiu a toda a pressa, recuperou Antioquia, onde achou Filipe como senhor da cidade. Atacou-a e tomou a cidade à força.

 

1Mc.7.1 No ano cento e cinquenta e um, Demétrio, filho de Seleuco, escapou de Roma e, com alguns companheiros, alcançou uma cidade marítima onde se proclamou rei.
1Mc.7.2 Quando ele entrou no palácio real de seus pais, o exército se apoderou de Antíoco e de Lísias para conduzi-los a ele.
1Mc.7.3 Soube-o o rei e disse: Não me mostreis a sua face.
1Mc.7.4 E o exército os matou, e Demétrio sentou-se no trono que lhe cabia.
1Mc.7.5 Todos os traidores e os ímpios de Israel achegaram-se dele sob a chefia de Alcimo, que aspirava tornar-se sumo-sacerdote.
1Mc.7.6 Acusaram o povo nestes termos: Judas e seus irmãos mataram todos os teus amigos e nos expulsaram de nosso país.
1Mc.7.7 Envia portanto, agora, um homem que possua tua confiança e que venha ver em que triste situação nos puseram, a nós e ao país que pertence ao rei, para castigar a eles e a todos os seus partidários.
1Mc.7.8 O rei escolheu Báquides, um de seus amigos, então governador além do rio, um dos grandes do reino e fiel ao rei. Enviou-o
1Mc.7.9 com o ímpio Alcimo, a quem destinou o cargo de sumo-sacerdote, e deu-lhe ordem de tomar vingança dos filhos de Israel.
1Mc.7.10 Partiram, pois, e tomaram o caminho do país de Judá com um forte exército, enviando a Judas e seus irmãos palavras de paz capciosas.
1Mc.7.11 Vendo-os chegar com numerosas tropas, estes não lhes deram ouvido.
1Mc.7.12 Houve todavia um grupo de escribas que foi ter com Alcimo e Báquides, com palavras de justas reivindicações.
1Mc.7.13 Estes hassideus, que eram os mais benquistos em Israel, pediam-lhes a paz.
1Mc.7.14 Diziam entre si: É um sacerdote da raça de Aarão que vem a nós com exército, ele não nos fará mal algum.
1Mc.7.15 Alcimo trocou com eles palavras de paz e lhes jurou: Não faremos mal nem a vós, nem a vossos amigos.
1Mc.7.16 Acreditaram neles, mas ele apoderou-se de sessenta deles e mandou-os matar no mesmo dia, conforme estava escrito:
1Mc.7.17 Espalharam a carne e o sangue dos teus santos ao redor de Jerusalém, e não havia ninguém para os sepultar.
1Mc.7.18 O assombro e o terror apoderou-se do povo, porque se dizia: Não há entre eles nem verdade nem justiça, depois que violaram o pacto e o juramento, que haviam confirmado.
1Mc.7.19 Báquides afastou-se de Jerusalém e instalou seu acampamento em Bet-Zait, onde prendeu e lançou numa grande cisterna muitos desertores de seu exército e algumas pessoas do país.
1Mc.7.20 Confiou a terra nas mãos de Alcimo e, deixando-lhe um exército para socorrê-lo, regressou para junto do rei.
1Mc.7.21 Entretanto, Alcimo teve que lutar para se impor como sumo-sacerdote.
1Mc.7.22 Agrupavam-se ao redor dele todos os perturbadores do povo com os quais ele se tornara senhor da terra de Judá e foi um tempo doloroso para Israel.
1Mc.7.23 Judas viu que o mal que Alcimo e seus cúmplices faziam aos filhos de Israel era pior ainda que o mal praticado pelos gentios.
1Mc.7.24 Por isso percorreu ele toda a terra da Judeia, até as fronteiras, vingando-se dos traidores e impedindo-lhes a volta ao país.
1Mc.7.25 Vendo Alcimo que Judas com os seus eram mais fortes e reconhecendo sua impotência em lhes resistir, refugiou-se junto do rei e acusou-os dos piores crimes.
1Mc.7.26 O rei enviou Nicanor, general eminente, que detestava e odiava Israel, com a ordem de exterminar esse povo.
1Mc.7.27 Nicanor partiu para Jerusalém com um numeroso exército e mandou levar a Judas e a seus irmãos falsas palavras de paz:
1Mc.7.28 Que não haja guerra entre vós e mim. Chegarei somente com um punhado de homens para te ver, como amigo.
1Mc.7.29 Com efeito, ele chegou e saudaram-se pacificamente, mas seus soldados se achavam prontos para se lançarem sobre Judas.
1Mc.7.30 Todavia, Judas estava a par dos desígnios pérfidos de Nicanor a afastou-se dele, recusando vê-lo de novo.
1Mc.7.31 Reconheceu Nicanor que seu projecto fora descoberto e propôs a Judas uma batalha perto de Cafarsalama.
1Mc.7.32 Foram mortos do seu exército quinhentos homens e o resto fugiu para a cidade de David.
1Mc.7.33 Após o combate, subiu Nicanor a colina de Sião, e sacerdotes saíram do templo com anciãos do povo, para saudá-lo em espírito de paz, e mostrar-lhe o holocausto que se oferecia pelo rei,
1Mc.7.34 mas ele escarnecia deles, dirigia-lhes mofas, desprezava-os e falava-lhes com desdém,
1Mc.7.35 jurando em sua ira: Se Judas não me for entregue imediatamente com seu exército, afirmo, logo que estabelecer a paz, retornarei e lançarei fogo a esta casa. Partiu depois todo enfurecido.
1Mc.7.36 Então os sacerdotes entraram, e, em pé diante do altar e do templo, choraram dizendo:
1Mc.7.37 Fostes vós que escolhestes esta casa, para que se invoque nela vosso nome e para que ela seja uma casa de súplicas, de orações pelo vosso povo.
1Mc.7.38 Tomai vingança desse homem e de seu exército, e que eles caiam sob o golpe da espada. Lembrai-vos de suas blasfémias e não permitais que eles vivam.
1Mc.7.39 Saiu Nicanor de Jerusalém e acampou em Bet-Horon, onde um exército sírio se lhe ajuntou.
1Mc.7.40 Judas acampou em Adasa com três mil homens e começou a rezar nestes termos:
1Mc.7.41 Quando os soldados enviados pelo rei da Síria vos blasfemaram, apareceu vosso anjo e matou cento e oitenta e cinco mil homens dentre eles.
1Mc.7.42 Do mesmo modo exterminai hoje este exército aos nossos olhos, para que os outros saibam que Nicanor insultou vosso templo, e julgai-o segundo sua perfídia.
1Mc.7.43 Chocaram-se os exércitos no dia treze do mês de Adar; o de Nicanor foi vencido e ele foi o primeiro a tombar na luta.
1Mc.7.44 Assim que as tropas de Nicanor viram que ele fora morto, largaram as armas e fugiram.
1Mc.7.45 Os judeus perseguiram-nos todo o dia desde Adasa até Guézer e fizeram soar as trombetas dos sinais.
1Mc.7.46 E saíram então os habitantes de todas as aldeias da Judeia e dos arredores, para cercar os fugitivos. Estes voltaram de encontro a eles e caíram todos sob a espada. E não sobrou nem mesmo um dentre eles.
1Mc.7.47 Os judeus apoderaram-se de seus despojos e haveres. Cortaram a cabeça de Nicanor e a mão direita que ele orgulhosamente estendera, e suspenderam-nas à vista de Jerusalém.
1Mc.7.48 Alegrou-se muito o povo que passou aquele dia em grande regozijo.
1Mc.7.49 Decidiu-se que esse dia seria celebrado a cada ano no dia treze do mês de Adar.
1Mc.7.50 Após isso, a terra de Judá esteve tranquila durante algum tempo.

 

1Mc.8.1 Pela voz da fama soube Judas que os romanos eram extremamente poderosos, que se mostravam benevolentes para com seus aliados, e que a todos os que recorriam a eles ofereciam sua amizade, porque eram verdadeiramente potentes.
1Mc.8.2 Contaram-lhe também seus combates, suas façanhas junto aos gauleses, aos quais haviam vencido e subjugado;
1Mc.8.3 como haviam chegado à Espanha para se apoderar das minas de prata e de ouro que ali existem e, como, por sua sabedoria e longanimidade, eles haviam conciliado todo o país,
1Mc.8.4 por mais que ele fosse afastado deles; como haviam derrotado reis que haviam surgido contra eles das extremidades da terra, e os haviam aniquilado devidamente, enquanto outros lhes pagavam o tributo anual.
1Mc.8.5 Filipe Perseu, reis da Macedónia, e outros se haviam insurgido contra eles, mas tinham sido derrotados e subjugados.
1Mc.8.6 Antíoco, o Grande, rei da Ásia, lhes tinha movido guerra com cento e vinte elefantes, cavalaria, carros e um numeroso exército, mas havia sido aniquilado por eles.
1Mc.8.7 Eles o haviam tomado vivo e haviam imposto a ele e aos seus sucessores um grande tributo, a entrega de reféns e a cessão de um território,
1Mc.8.8 arrebatando-lhe a Índia, a Média, a Lídia e suas melhores regiões que eles deram ao rei Eumenes.
1Mc.8.9 Os gregos haviam querido atacá-los para exterminá-los, mas eles o souberam
1Mc.8.10 e enviaram um general que os atacou, levando a perecer um grande número, arrastou ao cativeiro suas mulheres e seus filhos, saqueou e tornou-se senhor do país, destruiu suas praças fortes e os reduziu à servidão, que ainda durava.
1Mc.8.11 Haviam eles igualmente arruinado e subjugado ao seu domínio os outros reinos e as ilhas, que lhes haviam resistido.
1Mc.8.12 Por outro lado, conservavam sua protecção a seus amigos e aliados, estendiam seu poder sobre os reinos vizinhos ou distantes e todos os que ouviam pronunciar seu nome, temiam-nos.
1Mc.8.13 Aqueles que eles queriam auxiliar e ver reinar, reinavam com efeito, mas os que eles não queriam, eram exilados. Engrandeciam-nos muito.
1Mc.8.14 Apesar de tudo isso, ninguém deles trazia diadema, nem se envolvia com púrpura, para se engrandecer.
1Mc.8.15 Eles tinham estabelecido entre si um conselho supremo onde, cada dia, trezentos e vinte conselheiros discutiam assuntos do povo, para governá-lo bem.
1Mc.8.16 Cada ano confiavam a autoridade suprema a um só homem, que comandava em todo o território e todos obedeciam a um só, sem haver ali entre eles nem inveja nem ciúme.
1Mc.8.17 Escolheu Judas a Eupólemo, filho de João, filho de Hacos, e Jasão, filho de Eleázar, e enviou-os a Roma, para estabelecer amizade e aliança com eles,
1Mc.8.18 pedindo-lhes que os libertasse do jugo que os gregos, como estavam vendo, faziam pesar sobre Israel, reduzindo-o à escravidão.
1Mc.8.19 Dirigiram-se eles a Roma, apesar da duração da viagem, e entraram no Senado, onde disseram:
1Mc.8.20 Judas Macabeu, seus irmãos e todo o povo de Israel nos enviaram a vós, para concluir aliança e paz, e para que nos conteis entre vossos amigos e aliados.
1Mc.8.21 Essa linguagem agradou aos romanos e
1Mc.8.22 eis a cópia da carta que os romanos mandaram gravar sobre tabuletas de bronze e enviaram a Jerusalém, para ali ficar como memorial da paz e da amizade de sua parte:
1Mc.8.23 Felicidade para sempre aos romanos e ao povo judeu, por terra e por mar! Longe deles esteja a espada e o inimigo!
1Mc.8.24 Se sobrevier uma guerra contra os romanos ou contra um de seus aliados em todo império,
1Mc.8.25 o povo judeu tome as armas por sua vez, conforme o permitirem as circunstâncias e isso de boa vontade.
1Mc.8.26 Não fornecerão aos adversários nem trigo, nem armas, nem dinheiro, nem navios, segundo a vontade dos romanos. Os judeus observarão esses contratos sem receber nada.
1Mc.8.27 Por outro lado, se for o povo judeu o atacado, os romanos tomarão armas voluntariamente por eles conforme as circunstâncias o indicarem.
1Mc.8.28 E não será fornecido aos combatentes nem trigo, nem armas, nem dinheiro, nem navios, conforme a vontade de Roma, e esses contratos serão observados sem fraude.
1Mc.8.29 Por essas palavras os romanos aliaram-se com os judeus.
1Mc.8.30 Se uns ou outros contratantes quiserem ajuntar ou subtrair e essas cláusulas, farão a proposta, e o que for acrescentado ou tirado será ratificado.
1Mc.8.31 Pelo que toca aos danos causados pelo rei Demétrio, eis o que nós lhe escrevemos: Por que fizestes pesar vosso jugo sobre os judeus, nossos amigos e aliados?
1Mc.8.32 Se, pois, eles vierem a nós outra vez contra vós, nós lhes faremos justiça e vos combateremos, por terra e mar.

 

1Mc.9.1 Soube logo Demétrio do fim de Nicanor e da aniquilação de seu exército e resolveu enviar pela segunda vez Báquides e Alcimo à terra de Judá, com a ala direita de suas tropas.
1Mc.9.2 Estes tomaram o caminho que leva a Guigal, e acamparam em frente de Mezalot, no distrito de Arbelas; apoderaram-se da cidade e mataram um grande número de habitantes.
1Mc.9.3 No primeiro mês do ano cento e cinquenta e dois colocaram cerco diante de Jerusalém,
1Mc.9.4 depois eles se apartaram e foram a Berzet com cento e vinte mil homens e dois mil cavaleiros.
1Mc.9.5 Judas estava acampado em Elasa, e três mil homens de escol estavam com ele.
1Mc.9.6 Todavia, ante o número considerável de seus adversários, ficaram tomados de pânico; muitos se retiraram do acampamento e, por fim, ali ficaram não mais que oitocentos homens.
1Mc.9.7 Verificando Judas a dispersão de seu exército e a iminência do combate, sentiu seu coração angustiado, porque já não tinha tempo de reunir os fugitivos.
1Mc.9.8 Consternado, disse aos que tinham ficado: Vamos, e ataquemos o inimigo, talvez possamos combatê-lo!
1Mc.9.9 Mas eles o desviavam disso, dizendo: Nós não poderemos. Salvemos antes nossas vidas agora; voltaremos depois com nossos irmãos e travaremos a batalha; mas neste momento somos muito poucos.
1Mc.9.10 Livre-nos Deus, disse Judas, que proceda desse modo e que eu me salve diante deles. Se chegou a nossa hora, morramos corajosamente por nossos irmãos e não deixemos uma nódoa sequer em nossa memória.
1Mc.9.11 O exército do inimigo saiu do acampamento e tomou posição diante deles: a cavalaria se dividiu em dois batalhões, os fundibulários e os flecheiros se colocaram à frente e todos os mais valentes postaram-se na primeira fileira.
1Mc.9.12 Báquides achava-se na ala direita e, ao som das trombetas, a falange avançou dos dois lados.
1Mc.9.13 Os soldados de Judas tocaram também as trombetas e a terra foi abalada pelo tumulto das armas. O combate se prolongou desde a manhã até à tarde.
1Mc.9.14 Viu Judas que Báquides se encontrava à direita com a mais forte porção de seu exército, e cercado dos mais corajosos dos seus.
1Mc.9.15 Rompeu ele essa ala direita e a perseguiu até o sopé da montanha.
1Mc.9.16 Mas a ala esquerda, vendo derrotada a direita, lançou-se atrás nas pegadas de Judas e dos seus soldados.
1Mc.9.17 O combate tornou-se mais encarniçado, e, tanto de um como de outro lado, caíram muitos feridos.
1Mc.9.18 Judas mesmo caiu morto, e então todos os outros fugiram.
1Mc.9.19 Jónatas e Simão levaram Judas, seu irmão, e enterraram-no no sepulcro de seus pais em Modin.
1Mc.9.20 Todo o povo de Israel caiu na desolação e o chorou longamente, guardando o luto por vários dias, dizendo:
1Mc.9.21 Como sucumbiu o valente salvador de Israel?
1Mc.9.22 O resto das façanha de Judas, de seus combates, de seus feitos heróicos e actos gloriosos não foram escritos: eles são, com efeito, por demais numerosos.
1Mc.9.23 Ora, após a morte de Judas, aconteceu que os perversos reapareceram em todas as fronteiras de Israel e todos os que praticavam o mal deram-se a conhecer.
1Mc.9.24 Naqueles dias dominou também uma grande fome, e todo o país passou para o inimigo com eles.
1Mc.9.25 Báquides escolheu homens ímpios, para colocá-los nos postos de comando.
1Mc.9.26 Estes procuravam com empenho os amigos de Judas e os conduziam a Báquides, que se vingava deles e os escarnecia.
1Mc.9.27 A opressão que caiu sobre Israel foi tal, que não houve igual desde o dia em que tinham desaparecido os profetas.
1Mc.9.28 Reuniram-se todos os amigos de Judas e disseram a Jónatas:
1Mc.9.29 Após a morte de Judas, teu irmão, não há mais ninguém como ele, para opor-se a nossos inimigos, a Báquides e aos que odeiam nossa raça.
1Mc.9.30 Por isso, nós te escolhemos hoje por chefe, para nos conduzires ao combate.
1Mc.9.31 A partir dessa hora, Jónatas tomou o comando e assumiu o lugar de seu irmão Judas.
1Mc.9.32 Tendo Báquides conhecimento disso, procurava matá-lo,
1Mc.9.33 mas, advertidos, Jónatas, seu irmão Simão e todos os seus companheiros fugiram ao deserto de Técua, onde acamparam junto às águas da cisterna de Asfar.
1Mc.9.34 Soube-o Báquides no dia de sábado e atravessou o Jordão com todo o seu exército.
1Mc.9.35 Nesse ínterim, Jónatas havia enviado seu irmão, chefe do povo, aos nabateus, seus amigos, rogando-lhes se podiam guardar as suas bagagens, que eram numerosas.
1Mc.9.36 Mas os filhos de Jambri saíram de Medaba, apoderaram-se de João e de tudo o que ele tinha e o levaram.
1Mc.9.37 Logo em seguida disseram a Jónatas e a seu irmão Simão que os filhos de Jambri celebravam um grande casamento, e traziam de Nadabá, com grande pompa, a jovem esposa, filha de um dos maiores príncipes de Canaã.
1Mc.9.38 Lembraram-se do sangue de seu irmão João, e retiraram-se para a montanha, onde se ocultaram.
1Mc.9.39 Erguendo os olhos, eles se puseram de espreita, e eis que em grande tumulto e com grande aparato, o esposo saía com seus amigos e seus irmãos na direcção dessa, com tambores, instrumentos de música e uma considerável equipagem.
1Mc.9.40 Os companheiros de Jónatas saíram então de seu esconderijo, e lançaram-se sobre eles, para massacrá-los. Muitos caíram aos seus golpes e os restantes fugiram para a montanha, enquanto os agressores apoderavam-se de seus despojos.
1Mc.9.41 Assim a boda transformou-se em luto e os sons de música, em lamentações.
1Mc.9.42 Dessa maneira os judeus vingaram-se do sangue de seu irmão, e voltaram à margem do Jordão.
1Mc.9.43 Soube-o Báquides e, no dia de sábado, avançou com um poderoso exército até a margem do Jordão.
1Mc.9.44 Dirigindo-se então a seus companheiros, disse-lhes Jónatas: Vamos, pelejemos agora por nossa vida, porque hoje não é como ontem e anteontem.
1Mc.9.45 Eis a batalha diante e atrás de nós; de um lado e de outro do rio Jordão, um pântano, um bosque: não há meio de escapar.
1Mc.9.46 Clamai, pois, agora ao céu, para nos livrar de nossos inimigos. E travou-se o combate.
1Mc.9.47 Jónatas estendeu a mão para ferir Báquides, mas este se afastou e o evitou.
1Mc.9.48 Então Jónatas e seus companheiros atiraram-se ao Jordão e passaram, a nado, para a outra margem, sem que o inimigo atravessasse atrás dele.
1Mc.9.49 Naquele dia caíram cerca de mil homens da parte de Báquides. Este voltou a Jerusalém;
1Mc.9.50 edificou fortalezas na Judeia, e consolidou com densos muros, portas e fechaduras, as fortificações de Jericó, Emaús, Bet-Horon, Betel, Tanata, Faraton, e de Tefon.
1Mc.9.51 E colocou nelas guarnições para importunar Israel.
1Mc.9.52 Fortificou igualmente Bet-Sur, Guézer e a cidadela, onde ele deixou tropas e depósitos de víveres.
1Mc.9.53 Tomou como reféns os filhos dos importantes do país, e os mandou guardar na cidadela de Jerusalém.
1Mc.9.54 No segundo mês do ano cento e cinquenta e três, ordenou Alcimo a destruição do muro do pátio interior do santuário e, deitando a mão sobre a obra dos profetas, começou por destruí-la.
1Mc.9.55 Neste instante, porém, Alcimo foi ferido por Deus e seu plano foi suspenso. Ficou ele com a boca fechada pela paralisia e não pôde mais dizer uma palavra, nem dar ordens relativamente à sua casa;
1Mc.9.56 morreu depois atormentado por grandes sofrimentos.
1Mc.9.57 Vendo Báquides essa morte, retirou-se para perto do rei, e a terra de Judá permaneceu em paz durante dois anos.
1Mc.9.58 Mas, entre os judeus, os maus conspiravam, dizendo: Eis que Jónatas e os seus vivem em paz e descuidados aproveitemos para chamar Báquides, que os exterminará numa só noite.
1Mc.9.59 Foram eles, pois, aconselhá-lo
1Mc.9.60 e ele se pôs a caminho com um grande exército. Secretamente enviou mensageiros aos partidários que ele possuía junto aos judeus, para que eles lançassem mão sobre Jónatas e seus companheiros; mas eles não conseguiram, porque seu plano tinha sido descoberto.
1Mc.9.61 Pelo contrário, cinquenta dos principais cabeças da conjuração foram presos e mortos.
1Mc.9.62 Quanto a Jónatas, fugiu com Simão e seus partidários até Bet-Basi, no deserto, ergueram as suas ruínas, e fortificaram-se nelas.
1Mc.9.63 Logo que Báquides o soube, reuniu todo o seu exército e foi avisar seus amigos da Judeia.
1Mc.9.64 Veio acampar defronte a Bet-Basi, que ele sitiou por muito tempo, construindo máquinas.
1Mc.9.65 Jónatas, deixando na cidade seu irmão Simão, ganhou o campo com um pequeno número de homens.
1Mc.9.66 Matou Odomera e seus irmãos na sua própria tenda, bem como os filhos de Fasiron, e começou a dar combates e aumentar em número.
1Mc.9.67 Do outro lado, Simão e seus homens saíram da cidade e incendiaram as máquinas.
1Mc.9.68 Travaram combate com Báquides que foi derrotado por eles e ficou muito entristecido pela presunção e insucesso de sua tentativa.
1Mc.9.69 Por isso mostrou-se irritadíssimo contra os maus judeus que o haviam aconselhado a vir à sua terra; mandou matar a muitos e decidiu voltar a seu país.
1Mc.9.70 Sabendo disso, enviou-lhe Jónatas mensageiros para propor-lhe a paz e a devolução dos prisioneiros.
1Mc.9.71 Ele os recebeu, aceitou a proposta e jurou nunca mais tentar nada de mal contra eles, por todos os dias de sua vida.
1Mc.9.72 Restituiu os prisioneiros que havia feito anteriormente na Judeia e voltou a seu país, para nunca mais tentar reaparecer junto aos judeus.
1Mc.9.73 A espada repousou em Israel e Jónatas fixou residência em Micmás; ali começou a julgar o povo e exterminou os ímpios de Israel.

 

1Mc.10.1 No ano cento e sessenta, Alexandre Epifânio, filho de Antíoco, embarcou e veio ocupar Ptolemaida, onde foi acolhido e proclamado rei.
1Mc.10.2 Soube-o o rei Demétrio, que reuniu um numerosíssimo exército e atacou-o.
1Mc.10.3 Enviou a Jónatas uma carta cheia de palavras de paz, para lisonjeá-lo,
1Mc.10.4 dizendo consigo mesmo: Apressemo-nos em fazer a paz com os judeus, antes que eles a façam com Alexandre contra nós,
1Mc.10.5 porque certamente eles se lembram do mal que lhes fizemos, a eles, a seus irmãos e à sua raça.
1Mc.10.6 Concedeu-lhe a liberdade de reunir tropas, de fabricar armas e de ser seu aliado e mandou-lhe entregar os reféns aprisionados na cidadela.
1Mc.10.7 Jónatas veio então a Jerusalém e leu a mensagem diante do povo todo e diante das tropas que ocupavam a cidadela.
1Mc.10.8 Estes ficaram tomados de um grande medo, quando souberam que o rei lhe havia permitido levantar um exército;
1Mc.10.9 os guardas lhe entregaram os reféns e ele os entregou a seus pais.
1Mc.10.10 Ficou habitando em Jerusalém e começou a edificar e a restaurar a cidade.
1Mc.10.11 Ordenou aos que executavam os trabalhos, que construíssem ao redor do monte Sião um muro de pedras de cantaria para sua fortificação, e isso foi feito.
1Mc.10.12 Os estrangeiros que se achavam nas fortalezas edificadas por Báquides fugiram;
1Mc.10.13 Cada qual deixou seu posto para se refugiar no seu país.
1Mc.10.14 Sobraram somente em Bet-Sur alguns dos desertores da lei e dos preceitos, porque achavam ali um refúgio seguro.
1Mc.10.15 Entretanto, soube o rei Alexandre da carta que Demétrio havia enviado a Jónatas, e contaram-lhe as batalhas e feitos deste e de seus irmãos, como também os trabalhos que tinham suportado.
1Mc.10.16 Poderíamos nós achar, disse ele, um homem semelhante a este? Procuremos imediatamente fazê-lo nosso amigo e nosso aliado.
1Mc.10.17 Escreveu-lhe então e mandou-lhe uma carta lavrada nestes termos:
1Mc.10.18 O rei Alexandre a seu irmão Jónatas, saúde!
1Mc.10.19 Ouvimos dizer de ti, que tu és um homem ponderoso e forte e que mereces a nossa amizade.
1Mc.10.20 Por isso nós te constituímos desde agora sumo-sacerdote de teu povo, outorgamos-te o título de amigo do rei - mandou-lhe uma toga de púrpura e uma coroa de ouro - e pedimos-te escolher nosso partido e conservar-nos tua amizade.
1Mc.10.21 No sétimo mês do ano cento e sessenta, pela festa dos Tabernáculos, revestiu-se Jónatas com a túnica sagrada; organizou um exército e ajuntou armas em quantidade.
1Mc.10.22 Demétrio foi informado de tudo isso e inquietou-se:
1Mc.10.23 Como fomos nós deixar que Alexandre nos precedesse, travando com os judeus uma amizade, que o fortifica?
1Mc.10.24 Eu também enviar-lhe-ei belas palavras, títulos e presentes, para que eles passem ao meu lado e venham em meu auxílio.
1Mc.10.25 E ele mandou-lhes levar uma mensagem nestes termos: O rei Demétrio ao povo dos judeus, saúde!
1Mc.10.26 Vós observastes nossos acordos, permanecestes fiéis à nossa amizade, e não fizestes convenções com nossos inimigos; nós o sabemos e regozijamo-nos com isso.
1Mc.10.27 Ainda agora continuai a nos conservar a mesma fidelidade e vos recompensaremos do que fazeis por nós:
1Mc.10.28 isentar-vos-emos dos muitos impostos e vos cumularemos de presentes.
1Mc.10.29 Desde agora concedemos-vos a todos os judeus dispensa dos impostos, da taxa do sal e das coroas.
1Mc.10.30 Ao terço dos produtos do solo e à metade dos frutos das árvores, que me pertencem, eu renuncio, a partir deste dia, a cobrar na terra de Judá e dos três distritos de Samaria e da Galileia, que lhe estão anexos; isso desde agora e para sempre.
1Mc.10.31 Que Jerusalém seja sagrada e isenta, com seu território, dos dízimos e dos impostos.
1Mc.10.32 Abandono também todo poder sobre a cidadela de Jerusalém e a entrego ao sumo-sacerdote, para que ele coloque ali como guardas os homens que ele quiser.
1Mc.10.33 Concedo gratuitamente a liberdade a todo cidadão judeu, em cativeiro no meu reino e todos serão isentos de impostos, mesmo sobre seus rebanhos.
1Mc.10.34 Todos os dias solenes, os sábados, as luas novas, as festas prescritas, os três dias anteriores às solenidades e os três dias posteriores, serão dias de imunidade e de isenção para todos os judeus que se acham no meu reino,
1Mc.10.35 e ninguém poderá perseguir ou molestar quem quer que seja dentre eles, por motivo algum.
1Mc.10.36 Que se alistem no exército do rei até trinta mil judeus e que lhes sejam dados os mesmos direitos que às tropas reais.
1Mc.10.37 Colocar-se-á uma parte nas grandes fortalezas do rei, tomar-se-ão alguns para postos de confiança do reino. Seus chefes e seus oficiais serão escolhidos entre eles, seguirão suas próprias leis, como o exige o rei para a Judeia.
1Mc.10.38 Os três distritos de Samaria que foram anexados à Judeia lhe serão incorporados de maneira que sejam considerados como sendo um só com ela, e não obedeçam a nenhuma outra autoridade a não ser a do sumo sacerdote.
1Mc.10.39 Faço de Ptolemaida e de seu território doação ao templo de Jerusalém, para prover seu sustento.
1Mc.10.40 Darei também cada ano quinze mil siclos de prata das rendas do rei, provenientes dos seus domínios.
1Mc.10.41 Todo o dinheiro que os administradores dos negócios não tiveram despendido, e que lhes sobrar, como nos anos passados, será destinado à construção do templo.
1Mc.10.42 Além disso será feita a entrega dos cinquenta mil siclos de prata cobrados cada ano das rendas do templo, porque essa soma pertence aos sacerdotes que exercem o serviço do culto.
1Mc.10.43 Todo aquele que se refugiar no templo de Jerusalém ou no seu recinto, por motivo de dívida ao fisco, ou por qualquer coisa que seja, será poupado, bem como tudo o que ele possui no meu reino.
1Mc.10.44 As despesas para os trabalhos de construção e de restauração do templo serão postas na conta do rei.
1Mc.10.45 Do mesmo modo as despesas para a construção dos muros e do recinto da cidade ficarão a cargo das rendas do rei, bem como os gastos da construção das outras fortificações na Judeia.
1Mc.10.46 Quando Jónatas e o povo ouviram essas propostas, não acreditaram e não quiseram aceitá-las, lembrando-se de todo o mal que Demétrio fizera a Israel e do quanto ele os havia oprimido.
1Mc.10.47 Escolheram então o partido de Alexandre, porque ele tinha sido o primeiro a lhes falar de paz, e foram sempre seus auxiliares.
1Mc.10.48 Alexandre reuniu um grande exército e veio ao encontro de Demétrio.
1Mc.10.49 Os dois reis travaram o combate, mas o exército de Demétrio fugiu. Perseguiu-o Alexandre, obtendo pleno êxito.
1Mc.10.50 Combateu com ardor até o pôr-do-sol e Demétrio sucumbiu nesse mesmo dia.
1Mc.10.51 Então Alexandre enviou embaixadores a Ptolomeu o rei do Egipto, com a missão de lhe dizer:
1Mc.10.52 Eis-me de volta ao solo do meu reino e assentado no trono de meus pais; recobrei o poder, derrotei Demétrio e entrei na posse de meu país.
1Mc.10.53 Travei batalha com ele, venci-o com seu exército e subi ao trono onde ele reinava.
1Mc.10.54 Façamos agora laços de amizade, dá-me tua filha por esposa e serei teu genro, e vos cumularei, a ti e a ela, com presentes dignos de vós.
1Mc.10.55 O rei Ptolomeu respondeu: Venturoso o dia em que entraste na terra de teus pais e te assentaste no trono de seu reino!
1Mc.10.56 Por isso dar-te-ei o que me pedes, mas vem ter comigo em Ptolemaida, para que nos vejamos, e farei de ti o meu genro como desejas.
1Mc.10.57 Saiu Ptolomeu do Egipto com sua filha Cleópatra, e foi a Ptolemaida no ano cento e sessenta e dois.
1Mc.10.58 Deu-a em casamento a Alexandre que lhe veio ao encontro e celebrou as bodas com real magnificência.
1Mc.10.59 O rei Alexandre escreveu também a Jónatas, para que viesse procurá-lo,
1Mc.10.60 e este se dirigiu a Ptolemaida, com pompa, onde encontrou os dois reis. Ofereceu-lhes, como também a seus amigos, prata, ouro e numerosos presentes e conquistou sua confiança inteiramente.
1Mc.10.61 Todavia, alguns perversos de Israel reuniram-se contra ele e esses ímpios quiseram acusá-lo, mas o rei não lhes deu atenção alguma.
1Mc.10.62 Ordenou até mesmo que se tirassem as vestes de Jónatas, para revesti-lo de púrpura, o que foi feito; e o rei fê-lo assentar-se junto de si.
1Mc.10.63 Disse também aos grandes de sua corte: Saí com ele para o meio da cidade, e proclamai que ninguém o acuse por qualquer coisa que seja e que ninguém o moleste de maneira alguma.
1Mc.10.64 Quando seus acusadores o viram assim exaltado publicamente e revestido de púrpura, fugiram.
1Mc.10.65 Honrou-o o rei, inscreveu-o entre seus primeiros amigos e deu-lhe o título de chefe do exército e de governador.
1Mc.10.66 Após isto, regressou Jónatas a Jerusalém, tranquilo e alegre.
1Mc.10.67 No ano cento e sessenta e cinco, Demétrio, filho de Demétrio, voltou de Creta à terra de seus pais.
1Mc.10.68 Com essa notícia, Alexandre, muito contristado, partiu para Antioquia.
1Mc.10.69 Demétrio constituiu Apolónio como governador da Celessíria. Este levantou um poderoso exército, que ele reuniu em Jâmnia, e mandou avisar ao sumo-sacerdote Jónatas:
1Mc.10.70 Só tu nos resistes e, por causa de ti, eu me tornei objecto de zombaria e de opróbrio. Por que te fazes de arrogante diante de nós, em tuas montanhas?
1Mc.10.71 Se tens ainda confiança em tuas tropas, desce agora das montanhas a nós na planície, onde nos poderemos medir, porque tenho comigo a força das cidades.
1Mc.10.72 Informa-te e saberás quem sou eu e quais são os meus aliados. Estes também dizem que não podereis manter-vos de pé diante de nós, porque já duas vezes teus pais foram afugentados em sua própria terra.
1Mc.10.73 Hoje não poderás mais resistir à nossa cavalaria e a um tal exército, nesta planície, onde não há nem pedra nem rochedo nem esconderijo algum para se refugiar.
1Mc.10.74 Ouvindo estas palavras de Apolónio, indignou-se Jónatas; e, tomando consigo dez mil homens, saiu de Jerusalém. Seu irmão Simão trouxe-lhe reforço.
1Mc.10.75 Veio acampar defronte de Jope que, possuindo uma guarnição de Apolónio, fechou-lhe suas portas. Jónatas atacou-a.
1Mc.10.76 Os habitantes, espantados, abriram-lhe as portas e assim Jónatas conquistou Jope.
1Mc.10.77 Sabendo Apolónio, pôs a caminho três mil cavaleiros e um poderoso exército
1Mc.10.78 e de lá dirigiu-se para Asdod, como se fosse atravessá-la ao mesmo tempo, ganhou a planície, porque possuía uma numerosa cavalaria, na qual se fiava: Jónatas perseguiu-o até Asdod e os dois exércitos chocaram-se.
1Mc.10.79 Apolónio havia deixado escondidos mil cavaleiros, para pegar os judeus de emboscada.
1Mc.10.80 Mas Jónatas foi informado da emboscada dirigida contra ele. Os inimigos cercavam sua formação e, desde a manhã até o pôr-do-sol, atacaram seus homens;
1Mc.10.81 o povo permanecia firme em suas fileiras como Jónatas havia ordenado, enquanto que os cavaleiros do inimigo se fatigavam.
1Mc.10.82 Em seguida, Simão avançou com sua tropa e travou uma batalha contra a falange, quando a cavalaria já estava enfraquecida; o inimigo, aniquilado, foi posto em fuga.
1Mc.10.83 Os cavaleiros se dispersaram pela planície, e os fugitivos alcançaram Asdod, onde se refugiaram no templo de Dagon, seu ídolo, para ali se porem em segurança.
1Mc.10.84 Jónatas incendiou Asdod e todos os povoados das circunvizinhanças depois de tê-los pilhado. Queimou o templo de Dagon com todos os que estavam ali refugiados.
1Mc.10.85 O número dos que pereceram pela espada ou pelo fogo foi cerca de oito mil.
1Mc.10.86 Jónatas partiu de lá e veio acampar diante de Ascalon, cujos habitantes saíram-lhe ao encontro, rendendo-lhe grandes honras.
1Mc.10.87 Em seguida, alcançou Jerusalém com seus companheiros, carregados de espólios.
1Mc.10.88 Quando o rei Alexandre soube desses acontecimentos, quis honrar ainda mais Jónatas:
1Mc.10.89 mandou-lhe uma fivela de ouro, como se concedia aos pais dos reis, e deu-lhe como propriedade pessoal Ecron e seu território.

 

1Mc.11.1 Ora, o rei do Egipto reuniu um exército tão numeroso como a areia que cobre a praia do mar, bem como uma considerável frota, e por astúcia procurou apoderar-se do reino de Alexandre, para anexá-lo ao seu.
1Mc.11.2 Chegou à Síria com palavras de paz; por isso os habitantes das cidades lhe abriam suas portas e lhe vinham ao encontro, porque o rei Alexandre havia mandado acolhê-lo, já que era seu sogro.
1Mc.11.3 Mas Ptolomeu, logo que entrava numa cidade, deixava ali tropas para assegurar-se dela.
1Mc.11.4 Quando se aproximou de Asdod, mostraram-lhe o templo de Dagon destruído pelo fogo, Asdod e os arrabaldes da cidade em ruínas, os cadáveres jacentes por terra, e os restos calcinados daqueles que haviam sido queimados na guerra, postos em montes sobre seu caminho.
1Mc.11.5 Acusaram igualmente Jónatas, contando ao rei tudo o que ele havia feito, mas o rei guardou silêncio.
1Mc.11.6 Jónatas veio-lhe ao encontro com pompa até Jope, onde se saudaram mutuamente e passaram a noite.
1Mc.11.7 Em seguida, Jónatas acompanhou o rei até o rio, chamado Eleutério, e voltou a Jerusalém.
1Mc.11.8 O rei Ptolomeu estabeleceu assim seu poderio sobre todas as cidades, da costa até a cidade marítima de Selêucia, forjando maus desígnios contra Alexandre.
1Mc.11.9 Mandou dizer ao rei Demétrio: Vem, façamos juntos uma aliança e dar-te-ei minha filha, a mulher de Alexandre, e tu reinarás sobre o reino de teus pais.
1Mc.11.10 Lamento com razão ter-lhe dado minha filha, porque ele procurou matar-me.
1Mc.11.11 E acusava-o assim porque cobiçava seu reino.
1Mc.11.12 Retomou-lhe sua filha para dá-la a Demétrio, separando-se dele e manifestando-lhe assim sua inimizade pública.
1Mc.11.13 Ptolomeu entrou em Antioquia e cingiu-se com um duplo diadema: o do Egipto e o da Ásia.
1Mc.11.14 Nesse ínterim, o rei Alexandre achava-se na Cilícia, cujos habitantes se haviam revoltado;
1Mc.11.15 mas, logo avisado, veio para travar o combate. Ptolomeu fez sair seu exército, avançou com forças imponentes e o pôs em fuga.
1Mc.11.16 Enquanto o rei Ptolomeu triunfava, Alexandre chegou à Arábia, para procurar ali um asilo,
1Mc.11.17 mas o árabe Zabdiel mandou cortar-lhe a cabeça e enviou-a ao rei do Egipto.
1Mc.11.18 Ptolomeu morreu três dias depois, e as guarnições que ele havia posto nas fortalezas foram massacradas pelos habitantes das cidades vizinhas.
1Mc.11.19 Demétrio começou a reinar pelo ano cento e sessenta e sete.
1Mc.11.20 Nessa época, Jónatas convocou os homens da Judeia para apoderar-se da cidadela de Jerusalém e construiu, com esse intuito, numerosas máquinas.
1Mc.11.21 Imediatamente alguns ímpios, animados de ódio para com sua própria nação, dirigiram-se ao rei e lhe contaram que Jónatas sitiava a cidadela.
1Mc.11.22 Com essa notícia, ele se irritou e, pondo-se logo a caminho, alcançou Ptolemaida. De lá escreveu a Jónatas que não atacasse a cidadela e que viesse ter com ele o mais depressa possível, para conferenciar com ele;
1Mc.11.23 mas Jónatas, logo que recebeu a mensagem, deu ordem para continuar o cerco e, escolhendo alguns dos mais antigos de Israel e alguns sacerdotes, entregou-se ao perigo.
1Mc.11.24 Levou consigo ouro, prata, vestes e inúmeros outros presentes e foi a Ptolemaida encontrar-se com o rei, ante o qual encontrou graça.
1Mc.11.25 Com efeito, ainda que alguns renegados de sua nação o combatessem,
1Mc.11.26 o rei tratou-o como o haviam feito seus predecessores, e o exaltou à vista de seus cortesãos.
1Mc.11.27 Confirmou-o no sumo sacerdócio e em todos os títulos que ele possuía anteriormente, e o considerou como um de seus primeiros amigos.
1Mc.11.28 Jónatas pediu ao rei que lhe concedesse imunidade de impostos na Judeia e nos três distritos da Samaria, prometendo-lhe em troca trezentos talentos.
1Mc.11.29 Consentiu o rei e escreveu a Jónatas sobre esse assunto uma carta assim lavrada:
1Mc.11.30 O rei Demétrio a seu irmão Jónatas e ao povo judeu, saúde!
1Mc.11.31 Para vossa informação, enviamos também a vós uma cópia da carta que escrevemos a vosso respeito a Lástenes, nosso parente:
1Mc.11.32 O rei Demétrio a seu pai Lástenes, saúde!
1Mc.11.33 Resolvemos fazer bem à nação dos judeus, nossos leais amigos, em vista de seus bons sentimentos a nosso respeito.
1Mc.11.34 Confirmamos-lhes, pois, a posse dos territórios da Judeia e dos três distritos de Aferema, de Lida e Ramata, arrebatados da Samaria, para serem anexados à Judeia; e todos os seus lucros pertencerão aos que sacrificam em Jerusalém, em lugar do tributo que a cada ano o rei cobrava dos frutos da terra e das árvores.
1Mc.11.35 Desde agora, deixamos-lhes liberalmente tudo o que nos cabe do dízimo e do imposto, a taxa das salinas e as coroas que nos eram dadas.
1Mc.11.36 Destas vontades nada será anulado, nem agora nem nunca.
1Mc.11.37 Cuidai, pois, agora, de fazer uma cópia e entregai-a a Jónatas, para que ela seja gravada e colocada na santa montanha.
1Mc.11.38 Viu Demétrio que a terra estava silenciosa diante dele e que nada lhe resistia; foi por isso que ele licenciou seu exército e mandou seus soldados cada um para sua casa, com excepção das forças mercenárias que ele havia recrutado nas ilhas estrangeiras. Com esta decisão, ele desagradou todas as tropas de seus pais.
1Mc.11.39 Todavia, Trifon, um antigo partidário de Alexandre, verificando que todo o exército murmurava contra Demétrio, foi procurar Imalcué, o árabe que educava Antíoco, o jovem filho de Alexandre.
1Mc.11.40 Instou para que o entregasse, a fim de fazê-lo reinar em lugar de seu pai, contando-lhe tudo o que fizera Demétrio e a hostilidade que seu exército nutria contra ele. E lá se demorou muitos dias.
1Mc.11.41 Nesse meio tempo, Jónatas mandou pedir ao rei Demétrio que tirasse as tropas que se achavam na cidadela e nas fortalezas, porque elas guerreavam contra Israel.
1Mc.11.42 Demétrio mandou a Jónatas esta resposta: Não só farei isso por ti e por teu povo, mas cumular-vos-ei de honra, a ti e a tua nação, assim que tiver ocasião.
1Mc.11.43 Agora farias bem em me enviar homens em meu socorro, porque meus soldados me abandonaram.
1Mc.11.44 No mesmo instante enviou Jónatas a Antioquia três mil homens valorosos, que se ajuntaram ao rei, e este sentiu-se muito feliz com sua chegada.
1Mc.11.45 Com efeito, os habitantes da cidade se uniram, em número de aproximadamente cento e vinte mil, com o intuito de matarem o rei.
1Mc.11.46 Este refugiou-se no seu palácio e o povo, ocupando as ruas da cidade, começou o assalto.
1Mc.11.47 Então o rei chamou os judeus em seu auxílio, e todos se agruparam ao redor dele; depois, espalharam-se pela cidade, matando nesse dia cerca de cem mil homens.
1Mc.11.48 Incendiaram a cidade, apoderaram-se nesse mesmo dia de um numeroso espólio e salvaram o rei.
1Mc.11.49 Os habitantes viram que os judeus faziam da cidade o que eles queriam e perderam a coragem. Por isso ergueram deprecações ao rei:
1Mc.11.50 Dai-nos a mão e que os judeus parem de combater, a nós e à cidade.
1Mc.11.51 Lançaram, pois, suas armas e concluíram a paz, enquanto os judeus, cobertos de glória diante do rei e dos súbditos, voltaram a Jerusalém com abundantes despojos.
1Mc.11.52 Demétrio conservou seu trono e todo o país ficou tranquilo diante dele.
1Mc.11.53 Todavia, ele desmentiu sua palavra, separou-se de Jónatas e não lhe pagou mais benevolência com benevolência; ao contrário, tratou-o muito mal.
1Mc.11.54 Foi após esses acontecimentos que Trifon chegou com Antíoco, que, apesar de jovem ainda, tomou o título de rei e cingiu-se com o diadema.
1Mc.11.55 Todas as forças que Demétrio havia despedido agruparam-se ao redor dele, para combater este último que virou as costas e fugiu.
1Mc.11.56 Trifon apoderou-se dos elefantes e conquistou Antioquia.
1Mc.11.57 O jovem Antíoco escreveu a Jónatas: Eu te confirmo no sumo pontificado. Mantenho-te à frente dos quatro distritos e quero que estejas entre os amigos do rei.
1Mc.11.58 Mandou-lhe também vasos de ouro, utensílios, e concedeu-lhe autorização de beber em copos de ouro, de vestir-se com púrpura, de trazer uma fivela de ouro.
1Mc.11.59 Constituiu também seu irmão Simão governador da região que se estende da Escada de Tiro à fronteira do Egipto.
1Mc.11.60 Então Jónatas pôs-se em campanha, atravessou o país ao longo do rio e percorreu as aldeias. As tropas sírias juntaram-se a ele para lutar a seu lado, e chegou assim a Ascalon, cujos habitantes saíram todos diante dele com sinais de honra.
1Mc.11.61 De lá seguiu para Gaza, que lhe fechou suas portas; investiu contra ela e pôs fogo aos arredores que pilhou.
1Mc.11.62 Os habitantes de Gaza imploraram então a Jónatas, que lhes estendeu a mão, mas tomou como reféns os filhos dos nobres e os enviou a Jerusalém; em seguida atravessou o país até Damasco.
1Mc.11.63 Soube Jónatas que os generais de Demétrio tinham chegado a Quedes, na Galileia, com um forte exército, com a intenção de pôr fim à sua actividade.
1Mc.11.64 Foi contra eles e deixou na terra seu irmão Simão.
1Mc.11.65 Este acampou ante Bet-Sur, combateu por muito tempo e a sitiou.
1Mc.11.66 Por fim, os habitantes pediram-lhe a paz. Ele concedeu-lha, mas os expulsou da cidade, da qual se apoderou, para pôr ali uma guarnição.
1Mc.11.67 Jónatas acampou com seu exército perto do lago de Genesaré e, pela manhã, muito cedo, penetrou na planície de Haçor.
1Mc.11.68 Logo o exército estrangeiro avançou contra ele na planície e pôs emboscadas nas montanhas. Enquanto o exército marchava recto, para a frente,
1Mc.11.69 as tropas de emboscada saíram de seu esconderijo e travaram a luta.
1Mc.11.70 Todos os homens de Jónatas fugiram e não ficou nenhum com excepção de Matatias, filho de Absalão, e de Judas, filho de Calfi, chefe da milícia.
1Mc.11.71 Jónatas rasgou suas vestes, cobriu a cabeça com pó, e rezou;
1Mc.11.72 em seguida, retornou à luta e fez recuar e fugir o adversário.
1Mc.11.73 Os seus que fugiam perceberam-no e, retornando para junto dele, perseguiram com ele os inimigos até Quedes e seu acampamento. Ali se estabeleceram.
1Mc.11.74 Naquele dia morreram cerca de três mil estrangeiros, e Jónatas voltou a Jerusalém.

 

1Mc.12.1 Jónatas aproveitou-se das circunstâncias favoráveis e escolheu alguns homens, que enviou a confirmar e renovar a amizade com os romanos.
1Mc.12.2 Com este mesmo objectivo enviou cartas também aos espartanos e a outros países.
1Mc.12.3 Os embaixadores chegaram a Roma e dirigiram-se ao Senado, onde disseram: O sumo-sacerdote Jónatas e o povo judeu enviaram-nos a vós para a renovação da amizade e da aliança com eles como outrora.
1Mc.12.4 E deram-lhes, para as autoridades locais, um salvo-conduto, recomendando que os deixassem voltar sãos e salvos à Judeia.
1Mc.12.5 Eis a cópia da carta que Jónatas escreveu aos espartanos:
1Mc.12.6 Jónatas, sumo-sacerdote, o conselho da nação, os sacerdotes e todo o povo judeu, a seus irmãos espartanos, saúde!
1Mc.12.7 Outrora, Onias, sumo-sacerdote, recebeu de Areu, vosso rei, uma mensagem em que se dizia que éreis nossos irmãos, como o comprova a cópia, aqui anexa.
1Mc.12.8 Onias acolheu o enviado com honra e aceitou a carta, na qual havia referências à aliança e à amizade.
1Mc.12.9 Por nosso lado, embora não tenhamos necessidade dessas vantagens, tendo para nossa consolação os livros santos, que estão em nossas mãos,
1Mc.12.10 resolvemos renovar os laços de fraternidade e de amizade convosco, com receio de que nos tornássemos estranhos a vós, porque já decorreu muito tempo após vossa passagem junto a nós.
1Mc.12.11 Sem cessar, em toda ocasião, nas grandes festas e em outros dias solenes, nós nos lembramos de vós, nos sacrifícios que oferecemos e nas nossas preces, como é justo e conveniente pensar nos irmãos.
1Mc.12.12 Alegramo-nos com o que ouvimos dizer de vós.
1Mc.12.13 Quanto a nós, vivemos entre tribulações e guerras incontáveis: todos os reis que nos cercam nos têm combatido.
1Mc.12.14 Em todas essas guerras não quisemos, todavia, ser pesados, nem a vós, nem aos outros aliados e amigos,
1Mc.12.15 porque temos por auxílio o socorro do céu; com isso pudemos escapar aos nossos inimigos, os quais foram humilhados.
1Mc.12.16 Escolhemos, pois, a Numénio, filho de Antíoco, e Antípatro, filho de Jasão, e nós os enviamos a renovar, com os romanos, a amizade e a aliança de outrora.
1Mc.12.17 Do mesmo modo encarregamo-los de ir-vos saudar e de entregar-vos, de nossa parte, esta carta, que visa a reavivar nossa fraternidade.
1Mc.12.18 Teríamos muito prazer em receber uma resposta vossa sobre esse assunto.
1Mc.12.19 Eis a cópia da carta enviada outrora:
1Mc.12.20 Areu, rei dos espartanos, ao sumo-sacerdote Onias, saúde!
1Mc.12.21 Achou-se, num escrito sobre os espartanos e os judeus, que estes povos são irmãos e descendem de Abraão.
1Mc.12.22 Agora que sabemos isto, faríeis bem em nos escrever, se gozais de paz;
1Mc.12.23 nós também escrever-vos-emos. Vossos rebanhos e vossos haveres são nossos e os nossos são vossos. Enviamos-vos esta mensagem para que sejais informados disso.
1Mc.12.24 Soube Jónatas que os generais de Demétrio haviam voltado com tropas muito mais numerosas que anteriormente, para guerreá-lo.
1Mc.12.25 Saiu, pois, ele de Jerusalém e foi ao seu encontro no país de Hamat, sem lhes deixar tempo para invadir seu próprio país.
1Mc.12.26 Mandou espiões ao acampamento dos inimigos; esses regressaram e lhe contaram que os inimigos se preparavam para lançar-se sobre eles durante a noite.
1Mc.12.27 Ao pôr-do-sol, ordenou Jónatas aos seus que velassem e empunhassem as armas, prontos para o combate, durante toda a noite, enquanto ele postava sentinelas ao redor de todo o acampamento.
1Mc.12.28 Ouvindo falar que Jónatas e seus soldados estavam prontos para o combate, os inimigos ficaram tomados de sobressalto e de pavor, e retiraram-se, acendendo fogueiras em seu acampamento.
1Mc.12.29 Jónatas e seus companheiros viram queimar os fogos, e não perceberam nada até de manhã;
1Mc.12.30 puseram-se então a persegui-los, mas não os apanharam, porque eles haviam atravessado o rio Eleutério.
1Mc.12.31 Voltou-se então Jónatas contra os árabes, chamados zabadeus, abateu-os e carregou seus despojos.
1Mc.12.32 Em seguida, reuniu seu exército, alcançou Damasco e percorreu toda aquela região.
1Mc.12.33 Por seu lado, Simão investiu até Ascalon, e até as fortalezas vizinhas. De lá dirigiu-se a Jope e ocupou-a,
1Mc.12.34 porque ouvira falar que os habitantes tinham a intenção de entregar a cidadela às tropas de Demétrio. Ele colocou, pois, ali, uma guarnição para defendê-la.
1Mc.12.35 De volta a Jerusalém, Jónatas convocou os anciãos do povo e tomou com eles a decisão de edificar fortalezas na Judeia,
1Mc.12.36 de erguer muralhas em Jerusalém, e de construir um muro elevado entre a cidadela e a cidade, para separá-la desta, isolá-la completamente e impedir que ali se vendesse ou comprasse alguma coisa.
1Mc.12.37 Formaram-se grupos para reconstruir a cidade, os quais ergueram de novo o muro da torrente do lado leste, e restauraram a parte cognominada Cafenata.
1Mc.12.38 Simão edificou Adida, em Sefela, e a muniu de portas e ferrolhos.
1Mc.12.39 No entanto, Trifon planejava reinar sobre a Ásia, tomar o diadema, e levantar a mão contra o rei Antíoco.
1Mc.12.40 Mas receava que Jónatas não o permitisse e combatesse seus esforços; por isso, procurou apoderar-se dele, para dar-lhe um fim. Partiu, pois, para Betsã.
1Mc.12.41 Jónatas saiu ao seu encontro e atacou Betsã com um exército de quarenta mil homens de escol.
1Mc.12.42 Vendo que ele se aproximava com um numeroso exército, Trifon, receou lançar-lhe a mão.
1Mc.12.43 Recebeu-o com grande honra, apresentou-o a todos os seus amigos, ofereceu-lhe presentes, e ordenou às suas tropas que lhe obedecessem, como a ele mesmo.
1Mc.12.44 Depois disse a Jónatas: Por que fatigaste todo este povo, uma vez que não estamos em guerra?
1Mc.12.45 Envia-os de volta a suas casas e escolhe alguns para ficarem contigo. Após isso, acompanhar-me-ás a Ptolemaida e entregar-te-ei a cidade, todas as outras fortalezas, as outras tropas e todos os funcionários; feito isto, retirar-me-ei, porque foi para isso que vim.
1Mc.12.46 Jónatas confiou, fez o que ele dizia, e reenviou as tropas, que regressaram à terra de Judá.
1Mc.12.47 Reteve todavia três mil homens, dos quais enviou dois mil à Galileia e conservou consigo mil.
1Mc.12.48 Mal penetrara Jónatas em Ptolemaida, os habitantes fecharam as portas, prenderam-no, e passaram a fio da espada todos os que estavam com ele.
1Mc.12.49 Por sua vez, Trifon enviou à Galileia e à grande planície um exército e cavaleiros, para esmagar os que Jónatas para lá enviara.
1Mc.12.50 Mas estes, ouvindo dizer que Jónatas fora morto com todos os seus companheiros, encorajaram-se mutuamente e marcharam em boa ordem, prontos para o combate.
1Mc.12.51 Seus perseguidores viram que eles queriam defender sua vida, e regressaram,
1Mc.12.52 enquanto os judeus entravam de novo, sãos e salvos, na terra de Judá. Choraram Jónatas e os seus e foram tomados de grande inquietude, e todo o povo caiu na desolação.
1Mc.12.53 Todos os povos circunvizinhos procuraram oprimi-los, dizendo entre si:
1Mc.12.54 Eles não têm ninguém para comandá-los nem para socorrê-los: é o momento de atacá-los e destruir sua lembrança dentre os homens.

 

1Mc.13.1 Simão foi informado de que Trifon havia organizado um poderoso exército para vir à Judeia e devastá-la.
1Mc.13.2 Vendo o povo amedrontado e espavorido, subiu a Jerusalém, convocou a população
1Mc.13.3 e dirigiu-lhe a palavra nestes termos: Vós mesmos sabeis bem o que eu, meus irmãos e a casa de meu pai temos feito pelas leis e pelo santuário, as guerras e as dificuldades que temos conhecido.
1Mc.13.4 Foi assim que meus irmãos foram mortos pela causa de Israel e que fiquei eu só.
1Mc.13.5 Deus me guarde agora de poupar minha vida, quando o inimigo nos oprime, porque não sou melhor que meus irmãos!
1Mc.13.6 Por isso tirarei vingança de meu povo, do santuário, de vossas mulheres e filhos, uma vez que todas as nações, por seu ódio, estão coligadas para nos destruir.
1Mc.13.7 A estas palavras, os ânimos inflamaram-se
1Mc.13.8 e todos responderam, gritando: Tu és nosso chefe em lugar de Judas e de Jónatas, teu irmão;
1Mc.13.9 combate por nós e nós faremos tudo o que disseres.
1Mc.13.10 Então Simão reuniu todos os que podiam lutar, apressou-se em terminar os muros de Jerusalém e fortificou o recinto.
1Mc.13.11 Enviou Jónatas, filho de Absalão, com consideráveis tropas a Jope. Jónatas expulsou seus habitantes e instalou-se em seu lugar.
1Mc.13.12 Todavia, Trifon saiu de Ptolemaida com um numeroso exército e se dirigiu à Judeia. Trouxe consigo Jónatas, prisioneiro.
1Mc.13.13 Simão acampou em Adida, defronte à planície.
1Mc.13.14 Informado de que Simão havia ocupado o lugar de seu irmão Jónatas e se aprontava para combatê-lo, Trifon enviou-lhe mensageiros, para dizer-lhe:
1Mc.13.15 Guardamos teu irmão por causa do dinheiro que ele deve ao tesouro real em vista das funções que exercia.
1Mc.13.16 Envia, pois, agora, cem talentos e, para que, uma vez livre, não abandone nossa causa, manda também dois de seus filhos como reféns, e nós o deixaremos ir.
1Mc.13.17 Simão percebeu que essas palavras eram falazes, mas mandou buscar o dinheiro e os filhos, com receio de cair na hostilidade do povo, que poderia dizer:
1Mc.13.18 Foi porque eu não mandei o dinheiro e os filhos, que o mataram.
1Mc.13.19 Remeteu, pois, o dinheiro e os filhos, mas Trifon quebrou a palavra e não libertou Jónatas.
1Mc.13.20 Depois, pôs-se ele a caminho para entrar na Judeia e devastá-la, fazendo um rodeio pelo caminho que conduz a Adora, mas Simão se apresentava diante dele por toda parte aonde ele ia.
1Mc.13.21 Por seu lado, os ocupantes da cidadela enviaram a Trifon mensageiro pedindo-lhe que se apressasse a ir ter com eles pelo deserto e lhes fornecesse víveres.
1Mc.13.22 Trifon aprontou sua cavalaria para partir naquela mesma noite, mas havia ali muita neve e ele não pôde encetar o caminho. Partiu, todavia, e foi à região de Guilead.
1Mc.13.23 Quando chegou perto de Bascama matou Jónatas e o sepultou;
1Mc.13.24 em seguida, retrocedeu e voltou à sua terra.
1Mc.13.25 Simão mandou recolher os restos de seu irmão Jónatas e os sepultou em Modin, cidade de seus pais.
1Mc.13.26 E todo o Israel chorou abundantemente e conservou o luto durante muitos dias.
1Mc.13.27 Sobre o túmulo de seu pai e de seus irmãos, Simão edificou um monumento grandioso com pedras polidas, na frente e por trás.
1Mc.13.28 Ergueu ali sete pirâmides uma diante da outra, para seu pai, sua mãe e seus quatro irmãos.
1Mc.13.29 Colocou nelas ornamentos e cercou-as com altas colunas, sobre as quais, para eterna lembrança, colocou muitas armas e, junto a estas, navios esculpidos, que podiam ser vistos por todos os que se achavam no mar.
1Mc.13.30 Tal foi a sepultura que ele construiu em Modin e que existe ainda hoje.
1Mc.13.31 Trifon, que servia o jovem rei Antíoco, com duplicidade, mandou assassiná-lo,
1Mc.13.32 reinou em seu lugar e usurpou o diadema da Ásia. Ele causou muito mal ao país.
1Mc.13.33 Simão reergueu as praças fortes da Judeia, muniu-as com torres elevadas, com grandes muros, portas, ferrolhos, e as abarrotou de víveres.
1Mc.13.34 Escolheu mensageiros e enviou-os ao rei Demétrio, pedindo-lhe que restabelecesse o país porque Trifon o havia submetido inteiramente à pilhagem.
1Mc.13.35 O rei Demétrio mandou-lhe sua resposta e escreveu-lhe nestes termos:
1Mc.13.36 O rei Demétrio a Simão, sumo-sacerdote e amigo dos reis, aos anciãos e ao povo judeu, saúde!
1Mc.13.37 Recebemos a coroa de ouro e a palma que nos enviastes e estamos dispostos a concluir convosco uma paz sólida, bem como a escrever aos funcionários que vos dispensem dos impostos.
1Mc.13.38 Tudo o que foi decidido em vosso favor está confirmado, e as fortalezas que construístes são vossas.
1Mc.13.39 Nós vos perdoamos todos os erros e as faltas cometidas até o dia de hoje. Renunciamos à coroa que nos devíeis e, se existem ainda em Jerusalém outras dívidas a pagar, não se paguem mais.
1Mc.13.40 Finalmente, se existem entre vós alguns que sejam aptos a se alistarem em nossa guarda, que eles o sejam e que a paz reine entre nós.
1Mc.13.41 Foi no ano cento e setenta que o jugo dos gentios foi afastado de Israel,
1Mc.13.42 e que o povo começou a datar os actos e os contratos do primeiro ano de Simão, sumo-sacerdote, chefe do exército e governador dos judeus.
1Mc.13.43 Nessa época, Simão veio acampar diante de Guézer, a qual cercou. Construiu uma máquina, levou-a contra a cidade, atacou uma torre e apoderou-se dela.
1Mc.13.44 Da máquina os soldados lançaram-se na cidade, causando ali uma grande confusão,
1Mc.13.45 de modo que os habitantes, com suas mulheres e seus filhos, apareceram sobre os muros, rasgaram suas vestes e pediram com altos brados a Simão que os poupasse.
1Mc.13.46 Não nos trates conforme nossas maldades, diziam eles, mas segundo a tua misericórdia.
1Mc.13.47 Simão perdoou-os e não prosseguiu o combate. Não obstante expulsou-os da cidade e mandou purificar todas as habitações onde se achavam os ídolos; em seguida, fez sua entrada ao som de hinos e de cânticos de louvor.
1Mc.13.48 Fez desaparecer dali toda impureza e trouxe de volta os habitantes fiéis à lei; fortificou-a e construiu para si mesmo uma morada.
1Mc.13.49 Os ocupantes da cidadela de Jerusalém que não podiam sair para ir à cidade comprar e vender, achavam-se numa grande miséria e um bom número deles morreu de fome.
1Mc.13.50 Suplicaram a Simão para que ele lhes estendesse a mão. Ele lhes deu a mão, mas os expulsou de lá e purificou a cidadela de todas as suas contaminações.
1Mc.13.51 E entrou nela no dia vinte e três do segundo mês, no ano cento e setenta e um, com cânticos e palmas, harpas, címbalos, liras, hinos e louvores, porque um grande inimigo de Israel tinha sido aniquilado.
1Mc.13.52 Ordenou também que esse dia fosse celebrado a cada ano com regozijo.
1Mc.13.53 Fortificou a montanha do templo do lado da cidadela e habitou ali com os seus.
1Mc.13.54 Em seguida, verificando que seu filho João se havia tornado um homem, confiou-lhe o comando de todas as tropas e este residiu em Guézer.

 

1Mc.14.1 Pelo ano cento e setenta e dois, o rei Demétrio reuniu suas tropas e penetrou na Média, para aí organizar um exército de socorro na sua luta contra Trifon.
1Mc.14.2 Mas Arsaces, rei da Pérsia e da Média, informado de que Demétrio havia entrado no seu território, enviou um de seus generais para pegá-lo vivo.
1Mc.14.3 Partiu, pois, este, desbaratou o exército de Demétrio e apoderou-se de sua pessoa. Enviou-o a Arsaces, e este o encarcerou.
1Mc.14.4 Na Judeia reinou a paz, enquanto viveu Simão. Procurou o bem-estar de seu povo, e este se agradou do seu poder e reputação.
1Mc.14.5 Com toda a glória que adquiriu, tomou Jope como porto e construiu um acesso para as ilhas do mar.
1Mc.14.6 Alargou as fronteiras de seu povo e estendeu sua autoridade sobre todo o país.
1Mc.14.7 Repatriou muitos dos judeus prisioneiros do estrangeiro, apoderou-se de Guézer, de Bet-Sur e da cidadela de Jerusalém, que purificou de suas manchas, e ninguém ousava opor-lhe resistência.
1Mc.14.8 Os que cultivavam a terra trabalhavam em paz; o solo dava suas colheitas e as árvores dos campos, seus frutos.
1Mc.14.9 Os velhos assentavam-se nas praças públicas e entretinham-se com o bem comum; os jovens revestiam-se com troféus e com equipamentos de guerra.
1Mc.14.10 Simão forneceu víveres às cidades e tomou resoluções para edificar praças fortes, de modo que em toda parte, até as extremidades da terra, celebrava-se seu nome.
1Mc.14.11 Estabeleceu a paz em seu país, e todo o Israel exultava de alegria.
1Mc.14.12 Cada um podia assentar-se sob sua parreira ou figueira sem recear o inimigo.
1Mc.14.13 Não houve ninguém para atacá-los, e os reis, nessa época, foram abatidos.
1Mc.14.14 Protegeu os humildes entre seu povo, zelou pela lei e exterminou os ímpios e os perversos.
1Mc.14.15 Contribuiu para o esplendor do templo e enriqueceu o tesouro.
1Mc.14.16 A morte de Jónatas foi bem depressa conhecida em Roma e até em Esparta, provocando grandes pesares.
1Mc.14.17 Mas, logo que os romanos e os espartanos souberam que seu irmão Simão se tinha tornado sumo-sacerdote em seu lugar e governava o país com as cidades que ali se achavam,
1Mc.14.18 escreveram-lhe em tabuletas de bronze para renovar a amizade e a aliança, outrora concluída com seus irmãos Judas e Jónatas.
1Mc.14.19 Essas mensagens foram lidas diante da assembleia em Jerusalém e eis a cópia daquela que enviaram os espartanos:
1Mc.14.20 Os arcontes da cidade de Esparta ao sumo-sacerdote Simão, aos anciãos, aos sacerdotes e ao povo judeu, seu irmão, saúde!
1Mc.14.21 Os mensageiros que enviastes ao nosso povo contaram-nos vossa celebridade e glória, e nós nos regozijamos com sua chegada.
1Mc.14.22 Nós consignamos, como segue, a proposta que eles fizeram às deliberações do povo: Numénio, filho de Antíoco, e Antípatro, filho de Jasão, vieram a nós, da parte dos judeus, para renovar sua amizade connosco.
1Mc.14.23 Pareceu bem ao povo recebê-los com honra e depositar uma cópia de suas palavras nos arquivos públicos, para que ficasse na memória do povo de Esparta; e sobre isso enviamos um cópia a Simão, sumo-sacerdote.
1Mc.14.24 Em seguida, Simão enviou Numénio a Roma, com um grande escudo de ouro, que pesava mil minas, para confirmação da aliança com os romanos.
1Mc.14.25 Quando o povo foi informado disso tudo, disse: Que sinal de reconhecimento daremos a Simão e a seus filhos?
1Mc.14.26 Ele mesmo, seus irmãos e a casa de seu pai mostraram-se valorosos, venceram os inimigos de Israel e asseguraram-lhe a liberdade. Gravaram, pois, uma inscrição em tábuas de bronze e colocaram-nas entre as estelas conservadas no monte Sião.
1Mc.14.27 Eis a cópia dessa inscrição: No dia dezoito do mês de Elul, do ano cento e setenta e dois, o terceiro ano do pontificado de Simão, em Asaramel,
1Mc.14.28 na grande assembleia dos sacerdotes, do povo, dos chefes da nação e dos anciãos do país, foi declarado isto: No momento em que as guerras renasciam sem cessar no país,
1Mc.14.29 Simão filho de Matatias, descendente de Jarib, e seus irmãos, expuseram-se ao perigo e resistiram aos inimigos de sua raça, para salvar o templo e a lei, levando seu povo a uma grande glória.
1Mc.14.30 Jónatas reuniu seu povo e tornou-se o sumo-sacerdote; depois foi juntar-se aos seus mortos.
1Mc.14.31 Os inimigos quiseram invadir o país para devastá-lo e lançar a mão sobre os lugares santos,
1Mc.14.32 mas então se levantou Simão. Combateu por sua nação, distribuiu uma grande parte de seus bens para armar os homens de seu exército e pagar seu soldo.
1Mc.14.33 Fortificou as cidades da Judeia: Bet-Sur, que se acha na fronteira, outrora arsenal do inimigo, onde ele estabeleceu uma guarnição judia;
1Mc.14.34 Jope, que se acha na costa; Guézer, na região de Asdod, outrora povoada de inimigos, que ele substituiu por judeus. E muniu todas estas cidades com o que era necessário para sua defesa.
1Mc.14.35 O povo viu o procedimento de Simão e a glória que ele queria adquirir para a sua raça; escolheu-o para chefe e sumo-sacerdote, por causa de tudo o que ele havia efectuado, pela justiça e fidelidade que guardou à sua pátria e porque procurava de todo modo exaltá-la.
1Mc.14.36 Sob sua autoridade o povo tinha chegado a rechaçar os gentios de seu território e a expulsar os ocupantes da cidade de David em Jerusalém, lugar no qual haviam estabelecido uma cidadela e da qual saíam para manchar os acessos do templo e profanar gravemente a santidade.
1Mc.14.37 Simão colocou ali uma guarnição judia, fortificou-a para proteger o país e a cidade, e ergueu os muros de Jerusalém.
1Mc.14.38 Depois disso o rei Demétrio confirmou Simão no cargo de sumo-sacerdote,
1Mc.14.39 contou-o no número de seus amigos e demonstrou-lhe uma grande consideração.
1Mc.14.40 Com efeito, ele soube que os romanos davam aos judeus o nome de irmãos, de amigos e de aliados e que haviam recebido com honras os enviados de Simão.
1Mc.14.41 Soube também que os judeus e seus sacerdotes haviam consentido que Simão se tornasse seu chefe e sumo-sacerdote, perpetuamente, até a vinda de um profeta fiel,
1Mc.14.42 que tomasse o comando do exército, cuidasse do culto, designasse superintendentes para os trabalhos, as regiões, os armamentos e as fortificações;
1Mc.14.43 que se ocupasse do culto e fosse obedecido por todos; que, no país, todos os actos fossem escritos em seu nome; e que andasse vestido de púrpura e trouxesse fivelas de ouro.
1Mc.14.44 Não seria permitido a ninguém do povo ou dos sacerdotes rejeitar uma só de suas disposições, contradizer suas ordens, convocar uma assembleia no país sem o seu assentimento, vestir-se com púrpura ou usar uma fivela de ouro.
1Mc.14.45 Quem quer que agisse contra essas decisões ou violasse uma, seria culpado.
1Mc.14.46 Aprouve ao povo permitir a Simão agir conforme essas disposições.
1Mc.14.47 Simão aceitou. Prontificou-se a ser sumo pontífice, chefe do exército, governador dos judeus e dos sacerdotes e exercer autoridade sobre todos.
1Mc.14.48 Foi ordenado que essa inscrição fosse gravada em tábuas de bronze e colocada num lugar visível da galeria do templo,
1Mc.14.49 ao passo que uma cópia seria depositada na sala do tesouro, à disposição de Simão e de seus filhos.

 

1Mc.15.1. Antíoco, filho de Demétrio, escreveu das ilhas do mar a Simão, sacerdote e chefe dos judeus, e a todo o povo.
1Mc.15.2 Dizia assim sua carta: O rei Antíoco a Simão, sumo-sacerdote e príncipe, e ao povo judeu, saúde!
1Mc.15.3 Perversos apoderaram-se do reino de meus pais, mas quero recobrá-lo e restabelecê-lo como foi outrora: organizei, pois, um poderoso exército e aluguei navios de guerra,
1Mc.15.4 e pretendo penetrar no país, para vingar-me daqueles que o devastaram e assolaram inúmeras cidades.
1Mc.15.5 Pela presente carta, confirmo-te todas as imunidades conferidas por meus reais predecessores, e todas as dádivas que eles te fizeram.
1Mc.15.6 Dou-te a permissão de cunhar uma moeda especial para teu país.
1Mc.15.7 Que Jerusalém e os lugares santos gozem de liberdade! Todos os armamentos que mandaste fazer e todas as fortalezas que construíste e que estão em teu poder, podes guardá-las.
1Mc.15.8 Que te sejam perdoadas, desde agora e para sempre, as dívidas que deves ou deverás ao tesouro real.
1Mc.15.9 Quando nós tivermos entrado na posse do nosso reino, cumular-te-emos com grandes honras, a ti, a teu povo, e ao templo, de maneira que vossa reputação fique célebre em toda a terra.
1Mc.15.10 No ano cento e setenta e quatro, entrou Antíoco no reino de seus pais, e todas as tropas se ajuntaram a ele, de modo que foram poucos os que ficaram com Trifon.
1Mc.15.11 Este, perseguido por Antíoco, foi refugiar-se em Dora, porto da costa,
1Mc.15.12 porque sabia que o mal o ia atingindo e que seu exército o abandonava.
1Mc.15.13 Antíoco cercou Dora com cento e vinte mil homens e oito mil cavaleiros.
1Mc.15.14 Cercou a cidade e seus navios aproximaram-se, formando assim o bloqueio por terra e por mar sem deixar ninguém sair ou entrar.
1Mc.15.15 Nessa ocasião, Numénio e seus companheiros voltaram de Roma com cartas dirigidas aos reis e aos povos. Eis o conteúdo:
1Mc.15.16 Lúcio, cônsul romano ao rei Ptolomeu, saúde!
1Mc.15.17 Os embaixadores enviados por Simão, sumo-sacerdote, e pelo povo judeu, como amigos e aliados vieram a nós para renovar a amizade e a aliança de outrora.
1Mc.15.18 Trouxeram eles um escudo de ouro de mil minas.
1Mc.15.19 Nós resolvemos então pedir aos reis e aos países, que não lhes causem mal, nem lhes façam guerra, a eles, às suas cidades, e aos seus campos, e nem se aliem a seus inimigos.
1Mc.15.20 Aprouve-nos aceitar seu escudo.
1Mc.15.21 Se judeus apóstatas se refugiaram junto a vós, entregai-os ao sumo-sacerdote Simão, para que ele os castigue segundo sua lei.
1Mc.15.22 A mesma carta foi enviada ao rei Demétrio, a Átalo, a Ariarates, a Arsaces
1Mc.15.23 e a todos os países: a Sampsamo, aos espartanos, a Delos, a Mindo, à Siciônia, à Cária, a Samos, à Panfília, à Lícia, a Halicarnasso, a Rodes, a Fasélides, a Cós, a Siden, a Arado, a Gortine, a Gnido, a Chipre e a Cirene.
1Mc.15.24 A cópia dela foi enviada ao sumo-sacerdote, Simão.
1Mc.15.25 O rei Antíoco continuava o cerco de Dora, oprimindo-a de todos os lados, construindo máquinas, e encerrando Trifon, de maneira que ele não pudesse mais sair nem entrar.
1Mc.15.26 Por sua vez, enviou Simão dez mil homens de escol para combater ao lado dele, além de prata, ouro e muitos equipamentos.
1Mc.15.27 Mas o rei não quis aceitá-los; retirou o que lhe havia concedido a princípio e tornou-se-lhe hostil.
1Mc.15.28 Enviou-lhe um de seus amigos, Atenóbio, para comunicar-lhe isso: Vós ocupastes Jope e Guézer, cidades de meu reino, como também a cidadela de Jerusalém.
1Mc.15.29 Assolastes o território, devastastes gravemente o país e vos apoderastes de numerosas localidades de meu reino.
1Mc.15.30 Entregai agora as cidades das quais vos haveis apoderado e os tributos das regiões que conquistastes fora das fronteiras da Judeia;
1Mc.15.31 senão, retribuí em troca quinhentos talentos de prata e quinhentos outros talentos pelas perdas causadas e pelas rendas das cidades; do contrário, iremos guerrear-vos.
1Mc.15.32 Atenóbio, amigo do rei, chegou então a Jerusalém; viu as honras prestadas a Simão, o armário com as taças de ouro e prata, sua habitação faustosa, e ficou maravilhado. Referiu, todavia, as palavras do rei,
1Mc.15.33 e Simão respondeu: Não foi uma terra estrangeira que conquistamos, nem a propriedade de outrem que conservamos, mas somente a herança de nossos pais, injustamente usurpada, durante algum tempo, por nossos inimigos.
1Mc.15.34 Chegou a hora para nós de a reivindicarmos.
1Mc.15.35 Pelo que toca a Jope e a Guézer, que tu reclamas, e que fizeram tanto mal ao nosso povo, devastando o país, nós te concedemos cem talentos. Atenóbio nada respondeu,
1Mc.15.36 mas voltou cheio de ira para junto do rei, repetindo-lhe essa resposta e contando-lhe o fausto de Simão, bem como tudo o que vira, e isso levou o rei a uma grande ira.
1Mc.15.37 Por esse tempo, Trifon fugia em navio para Ortósia.
1Mc.15.38 O rei nomeou então Cendebeu comandante da costa, e entregou-lhe tropas de infantaria e cavalaria;
1Mc.15.39 encarregou-o de atacar a Judeia, deu-lhe ordens de reconstruir Quédron, de fortificar os acessos e de atacar o povo judeu, enquanto ele mesmo perseguiria Trifon.
1Mc.15.40 Chegado a Jâmnia, Cendebeu começou a importunar o povo judeu, a realizar incursões na Judeia, a fazer um grande número de prisioneiros e a massacrar os habitantes. Construiu Quédron
1Mc.15.41 e colocou ali infantes e cavaleiros com a ordem de realizar investidas e de infestar os caminhos da Judeia, como lhe ordenara o rei.

 

1Mc.16.1 Subindo de Guézer a Jerusalém, veio João anunciar a seu pai os actos de Cendebeu;
1Mc.16.2 mandou então Simão vir seus dois filhos mais velhos, João e Judas, e lhes disse: Eu, meus irmãos e a casa de meu pai temos resistido aos inimigos de Israel desde nossa juventude até o dia de hoje, e, muitas vezes, conseguimos libertar a nação.
1Mc.16.3 Mas já estou velho, enquanto que vós, graças a Deus, tendes a idade necessária. Tomai, pois, o meu lugar e o de meu irmão; ide combater por nossa raça, e que o socorro do céu esteja convosco.
1Mc.16.4 João recrutou no país vinte mil combatentes e cavaleiros. Foram eles contra Cendebeu e acamparam em Modin.
1Mc.16.5 Levantaram-se ao romper da aurora, avançaram pela planície, e eis que um exército numeroso de infantes e de cavaleiros apareceu diante deles, estando separado apenas por uma torrente.
1Mc.16.6 João dispôs seus homens diante do inimigo, mas, verificando que eles temiam passar a torrente, atravessou-a por primeiro e, a exemplo dele, todos atravessaram em seguida.
1Mc.16.7 Dividiu seu exército e colocou os cavaleiros entre os infantes, porque a cavalaria inimiga era numerosa.
1Mc.16.8 Fizeram. soar as trombetas sagradas. Cendebeu e seu exército foram derrotados; muitos dentre os seus caíram sob os golpes e o restante fugiu para a fortaleza.
1Mc.16.9 Judas, irmão de João foi ferido, mas João perseguiu o inimigo até Quédron, construída por ele.
1Mc.16.10 Muitos fugiram para as torres construídas no campo de Asdod, mas ele incendiou-as e pereceram cerca de dois mil homens. Após isso, João voltou em paz para a Judeia.
1Mc.16.11 Ptolomeu, filho de Abubo, havia sido nomeado comandante da planície de Jericó. Possuía muito ouro e prata,
1Mc.16.12 porque era genro do sumo-sacerdote.
1Mc.16.13 Seu coração ensoberbeceu-se, e ele resolveu tornar-se senhor do país; maquinou pois uma traição contra Simão e seus filhos, para livrar-se deles.
1Mc.16.14 Ora, no undécimo mês, isto é, no mês de Sabat do ano cento e setenta e sete, quando ele percorria as cidades do país, para cuidar de seus interesses, Simão desceu a Jericó com seus filhos Matatias e Judas.
1Mc.16.15 O filho de Abubo recebeu-o dolosamente no forte de Doc, que tinha construído, e onde ele havia ocultado seus homens. Deu um grande banquete
1Mc.16.16 e, quando Simão e seus filhos ficaram ébrios, Ptolomeu e seus companheiros ergueram-se, tomaram suas armas e lançaram-se sobre Simão, na sala do banquete. Mataram-no como também seus dois filhos e alguns dos seus servidores.
1Mc.16.17 Isso foi uma grande perfídia cometida em Israel: e pagou-se o bem com o mal.
1Mc.16.18 Ptolomeu escreveu ao rei para informá-lo, pedindo-lhe que lhe enviasse tropas de socorro e lhe cedesse a região e as cidades.
1Mc.16.19 Mandou outros a Guézer, com a missão de matar João; convocou através de cartas os chefes do exército, para entregar-lhes prata, ouro e presentes;
1Mc.16.20 e enviou outros emissários a conquistar Jerusalém e a montanha santa.
1Mc.16.21 Mas, antecipando-os, alguém veio a Guézer avisar João de que seu pai e seus irmãos haviam perecido e que haviam enviado assassinos para matá-lo.
1Mc.16.22 Com essa notícia ficou espavorido, mas mandou prender aqueles que vinham matá-lo, e os exterminou, sabendo perfeitamente que tinham a intenção de assassiná-lo.
1Mc.16.23 As outras palavras de João, suas guerras e os seus feitos que realizou com valentia, como construiu as muralhas,
1Mc.16.24 tudo isso está narrado nos anais de seu pontificado, desde o momento em que ele se tornou sumo sacerdote depois de seu pai.

 

 

2º Macabeus

 

2Mc.1.1 Aos irmãos judeus que estão no Egipto. Saudações! Os irmãos judeus que moram em Jerusalém e na Judeia desejam paz e prosperidade.
2Mc.1.2 Deus conceda suas graças a vocês e se lembre da aliança que fez com Abraão, Isaac e Jacob, seus servos fiéis.
2Mc.1.3 Que ele dê a todos vocês coração capaz de honrá-lo e de praticara sua vontade, coração generoso e espírito decidido.
2Mc.1.4 Que lhes abra o coração para a sua lei e seus mandamentos, e lhes conceda a paz.
2Mc.1.5 Que ele escute suas orações, se reconcilie com vocês e não os abandone no tempo da desgraça.
2Mc.1.6 Nós estamos rezando por vocês, aqui e agora.
2Mc.1.7 Durante o reinado de Demétrio, no ano cento e sessenta e nove, nós, judeus, tínhamos escrito a vocês o seguinte: "No meio da grande tribulação que caiu sobre nós, nesses anos em que Jasão e seus companheiros traíram a terra santa e o reino,
2Mc.1.8 quando incendiaram o portal do Templo e mataram inocentes, nós oramos ao Senhor, e ele nos ouviu. Então oferecemos um sacrifício e uma oblação de flor de farinha, acendemos as lâmpadas e apresentamos os pães".
2Mc.1.9 Portanto, celebrem a festa das Tendas do mês de Casleu.
2Mc.1.10 Ano cento e oitenta e oito.
2Mc.1.11 Libertados por Deus dos maiores perigos, nós agradecemos muito a ele, como a alguém que lutou junto connosco contra o rei,
2Mc.1.12 pois Deus expulsou os que se haviam entrincheirado contra a cidade santa.
2Mc.1.13 De fato, o chefe deles foi para a Pérsia acompanhado de um exército que parecia invencível, mas que acabou destroçado no templo de Nanéia, através de uma cilada armada pelos sacerdotes da deusa.
2Mc.1.14 Antíoco foi para esse lugar, junto com os amigos que o acompanhavam, pretendendo casar-se com a deusa, a fim de pegar as grandes riquezas que havia nesse lugar, a título de dote.
2Mc.1.15 Os sacerdotes do templo de Nanéia lhe mostraram as riquezas, e ele entrou no recinto sagrado com alguns poucos companheiros. Logo que Antíoco entrou, os sacerdotes fecharam o templo,
2Mc.1.16 abriram a porta secreta do forro e mataram o rei a pedradas. Esquartejaram o rei e jogaram a cabeça dele para os que estavam do lado de fora.
2Mc.1.17 Por tudo isso, bendito seja o nosso Deus, que entregou esses ímpios à morte.
2Mc.1.18 Estando para celebrar a purificação do Templo, no dia vinte e cinco de Casleu, achamos que seria bom comunicar-lhes isso, para que vocês também a comemorem de maneira semelhante à festa das Tendas e à festa do Fogo, que apareceu quando Neemias ofereceu os sacrifícios, depois da reconstrução do Templo e do altar.
2Mc.1.19 De fato, quando os nossos antepassados foram levados para a Pérsia, alguns sacerdotes piedosos pegaram fogo do altar e secretamente o esconderam num poço seco. Deixaram a coisa tão segura, que ninguém ficou sabendo onde era esse lugar.
2Mc.1.20 Passados muitos anos, quando Deus achou conveniente, Neemias, o enviado do rei da Pérsia, mandou os descendentes dos sacerdotes procurar o fogo que tinham escondido. Segundo nos contam, eles não encontraram o fogo, mas somente um líquido grosso. Neemias mandou que tirassem e trouxessem o tal líquido.
2Mc.1.21 Depois de colocarem em cima do altar tudo o que fazia parte do sacrifício, Neemias ordenou aos sacerdotes que molhassem com esse líquido a lenha e tudo o que estava em cima.
2Mc.1.22 Feito isso e passado algum tempo, o sol, até então encoberto pelas nuvens, começou a brilhar, e um fogo forte logo se acendeu, de tal maneira que todos ficaram admirados.
2Mc.1.23 Enquanto o sacrifício era queimado, os sacerdotes rezavam com todo o povo presente. Jónatas entoava e todos os outros respondiam junto com Neemias.
2Mc.1.24 A oração era assim: "Senhor, Senhor Deus, Criador de todas as coisas, terrível, forte, justo, misericordioso, único rei, único bom,
2Mc.1.25 único generoso, único justo, todo-poderoso e eterno, tu que salvas Israel de todo o mal, tu que tornaste escolhidos os nossos antepassados e os santificaste,
2Mc.1.26 aceita o sacrifício em favor de todo o teu povo Israel. Guarda e santifica a tua herança.
2Mc.1.27 Reúne os nossos dispersos. Liberta os que são escravos no meio das nações. Olha para os que são marginalizados e desprezados. Assim as outras nações ficarão sabendo que tu és o nosso Deus.
2Mc.1.28 Castiga aqueles que nos oprimem, que nos humilham com soberba.
2Mc.1.29 Planta o teu povo em teu lugar santo, conforme disse Moisés".
2Mc.1.30 Enquanto isso, os sacerdotes entoavam os hinos.
2Mc.1.31 Logo que o sacrifício foi consumado, Neemias mandou jogar o resto do líquido em cima de grandes pedras.
2Mc.1.32 Feito isso, brilhou uma chama, que logo se apagou, enquanto o fogo sobre o altar continuava aceso.
2Mc.1.33 Logo que o fato se tornou conhecido, contaram ao rei dos persas que, no lugar onde os sacerdotes exilados tinham escondido o fogo, aparecera uma água, com a qual os companheiros de Neemias purificaram as oferendas do sacrifício.
2Mc.1.34 Confirmado o fato, o rei mandou cercar o lugar e o declarou sagrado.
2Mc.1.35 Daí se tiravam muitos lucros, que eram repartidos entre os favorecidos do rei.
2Mc.1.36 Os companheiros de Neemias deram então a esse líquido o nome de "neftar", que significa purificação. Muitos, porém, o chamam de "nafta".

 

2Mc.2.1 Nos documentos se lê que o profeta Jeremias mandou que os deportados levassem o fogo, conforme foi explicado acima.
2Mc.2.2 Dando-lhes a Lei, Jeremias mandou que não esquecessem os mandamentos do Senhor, nem deixassem o próprio pensamento se desviar, ao verem as imagens de ouro ou de prata, ou seus enfeites.
2Mc.2.3 Dizendo muitas coisas desse tipo, recomendou que não afastassem do coração a Lei.
2Mc.2.4 Nesse documento também se encontra que o profeta, avisado por oráculo, mandou que a Tenda e a Arca o acompanhassem, quando ele foi à montanha, sobre a qual Moisés subiu para contemplar a herança de Deus.
2Mc.2.5 Ao chegar, Jeremias encontrou uma espécie de gruta, onde colocou a Tenda, a Arca e o altar do incenso. Em seguida, tapou a entrada.
2Mc.2.6 Mais tarde, alguns dos que tinham acompanhado Jeremias, foram até aí para indicar o caminho, mas não conseguiram encontrar a gruta.
2Mc.2.7 Quando soube, Jeremias repreendeu-os dizendo: "O lugar ficará desconhecido, até que Deus se mostre misericordioso e reúna novamente toda a comunidade do povo.
2Mc.2.8 Então o Senhor mostrará esses objectos. A glória do Senhor e a nuvem também vão aparecer, como apareceram no tempo de Moisés e quando Salomão pediu que Deus santificasse grandiosamente o lugar".
2Mc.2.9 Contava-se que Salomão, com toda a sua sabedoria, ofereceu o sacrifício de consagração e inauguração do Templo.
2Mc.2.10 Da mesma forma que Moisés rezou ao Senhor e desceu um fogo do céu para queimar o sacrifício, assim também Salomão rezou, e o fogo desceu do alto e queimou os holocaustos.
2Mc.2.11 Moisés disse também: "O sacrifício oferecido pelo pecado foi devorado pelo fogo, porque não foi comido".
2Mc.2.12 Da mesma forma, também Salomão ofereceu os oito dias de festa.
2Mc.2.13 Além dessas coisas, também se conta, nos escritos e memórias de Neemias, como ele fundou uma biblioteca, e reuniu os Anais dos Reis, os escritos dos profetas e de David, e também as cartas dos reis sobre as oferendas consagradas.
2Mc.2.14 Também Judas reuniu os escritos, que estavam espalhados por causa da guerra que sofremos. Agora está tudo connosco.
2Mc.2.15 Se precisarem de alguma coisa, mandem alguém buscar.
2Mc.2.16 Nós estamos escrevendo a vocês, porque queremos celebrar a purificação do Templo. Vocês farão bem se celebrarem esses dias.
2Mc.2.17 Deus é quem salva todo o seu povo e dá a todos a herança, o reino, o sacerdócio e a santificação,
2Mc.2.18 como ele mesmo prometeu através da Lei. Por isso, esperamos que Deus em breve tenha misericórdia de nós e nos reúna, de todas as partes da terra, no lugar santo. Ele nos livrou dos maiores males e purificou o lugar santo.
2Mc.2.19 Vou falar sobre o que aconteceu com Judas Macabeu e seus irmãos, sobre a purificação do Templo grandioso e a consagração do altar.
2Mc.2.20 Falarei também das guerras contra Antíoco Epifânio e seu filho Eupátor.
2Mc.2.21 Contarei as aparições celestes que tiveram aqueles que corajosamente realizaram as maiores proezas em favor do judaísmo. Eles eram poucos, no entanto, conseguiram recuperar o país inteiro, perseguiram multidões de inimigos violentos,
2Mc.2.22 retomaram o Templo, que é famoso no mundo inteiro, libertaram a cidade de Jerusalém e colocaram novamente em vigor as leis que estavam sendo abolidas. É que o Senhor, com toda a consideração, foi muito misericordioso para com eles.
2Mc.2.23 Tudo isso é contado por Jasão de Cirene em cinco livros, mas nós tentaremos resumir tudo num livro só.
2Mc.2.24 São muitos os números, e também a matéria é muito vasta. Por isso, quem deseja embrenhar-se numa narrativa desses fatos encontra dificuldades.
2Mc.2.25 Nossa preocupação foi proporcionar prazer aos que buscam leitura agradável, facilitar o trabalho aos que a querem guardar na memória, e trazer enfim algum proveito para todos os que tiverem esta obra nas mãos.
2Mc.2.26 A nós, porém, que nos dedicamos ao sacrifício de fazer este resumo, o trabalho não foi leve. Ao contrário, custou suores e noites em claro.
2Mc.2.27 Não é fácil preparar um banquete; quem o faz, procura agradar a todos. Assim também, foi com prazer que nos dedicamos a essa tarefa, esperando o reconhecimento de grande número de pessoas.
2Mc.2.28 Para o historiador deixamos o julgamento sobre cada pormenor. Nós nos demos a esse trabalho, buscando seguir as normas de resumo.
2Mc.2.29 É como o construtor de casa nova, que zela pelo conjunto da estrutura, enquanto o encarregado da pintura e dos arremates procura cuidar do material certo para o acabamento. É esse, penso eu, o nosso caso.
2Mc.2.30 Aprofundar e percorrer os fatos, discutindo os pormenores de cada parte, é coisa própria do historiador.
2Mc.2.31 Quem faz resumo tem o direito de procurar a síntese de tudo o que se conta, deixando de lado o desenvolvimento de cada fato.
2Mc.2.32 Agora, pois, vamos dar início à nossa narrativa, só ajuntando o seguinte ao que já foi dito: seria tolice a gente se prolongar em considerações sobre a narrativa, e depois resumir a própria narrativa.

 

2Mc.3.1 A cidade santa vivia na mais completa paz, e os mandamentos eram observados da melhor maneira possível, por causa da santidade do sumo-sacerdote Onias, e de sua firme oposição a tudo o que havia de mal.
2Mc.3.2 Os próprios reis respeitavam o lugar santo, e homenageavam o Templo com os mais belos donativos.
2Mc.3.3 Até Seleuco, rei da Ásia, com seus próprios recursos sustentava todas as despesas necessárias para as funções dos sacrifícios.
2Mc.3.4 Um tal de Simão, porém, da tribo de Belga, e que era administrador do Templo, desentendeu-se com o sumo-sacerdote a propósito da administração da cidade.
2Mc.3.5 Como não foi capaz de derrotar Onias, ele foi então procurar Apolónio de Tarso que, nessa ocasião, era o comandante da Celessíria e da Fenícia.
2Mc.3.6 Contou-lhe que o tesouro do Templo em Jerusalém estava cheio de riquezas, tantas que nem dava para falar, e que a quantidade de dinheiro era incalculável. Disse-lhe também que isso não era necessário para os sacrifícios e poderia muito bem cair em poder do rei.
2Mc.3.7 Apolónio, ao ter uma audiência com o rei, contou-lhe tudo o que lhe tinha sido relatado. Então o rei destacou Heliodoro, encarregado da administração, e deu-lhe ordem para ir e retirar as tão faladas riquezas.
2Mc.3.8 Heliodoro partiu imediatamente. Dava a entender que estava apenas percorrendo as cidades da Celessíria e da Fenícia, mas o que ia mesmo executar era a tarefa que o rei lhe tinha confiado.
2Mc.3.9 Chegando a Jerusalém, foi recebido amigavelmente pelo sumo-sacerdote da cidade. Falou a este da informação recebida, explicou o motivo de sua presença, e perguntou-lhe se as coisas eram realmente assim.
2Mc.3.10 O sumo-sacerdote, de sua parte, explicou que as coisas aí depositadas eram de viúvas e órfãos,
2Mc.3.11 e que algumas coisas pertenciam a Hircano, filho de Tobias, homem poderoso e de alta posição. Diversamente do que estava sendo espalhado pelo irreverente Simão, disse também que havia um total de catorze toneladas de prata e sete de ouro.
2Mc.3.12 Disse ainda ser inconcebível que se cometesse tal injustiça contra os que confiaram no lugar santo, na sagrada inviolabilidade do Templo, venerado no mundo inteiro.
2Mc.3.13 Heliodoro, porém, seguindo as ordens recebidas do rei, afirmou resolutamente que tudo isso devia ser transferido para o tesouro real.
2Mc.3.14 Marcou uma data e se apresentou para fazer um inventário das riquezas. Isso provocou enorme agitação em toda a cidade.
2Mc.3.15 Os sacerdotes, com suas vestes sagradas e prostrados no chão diante do altar, invocavam o Céu, cuja lei tinha determinado esses donativos e segundo a qual se deviam conservar intactos os bens em favor daqueles que os tinham depositado.
2Mc.3.16 Quem olhasse para o sumo-sacerdote ficava de coração partido, pois o olhar e a palidez do seu rosto mostravam a agonia que lhe ia na alma.
2Mc.3.17 Ele estava tomado de pavor, e o tremor do seu corpo mostrava a todos os que o viam o sofrimento que levava no coração.
2Mc.3.18 Aos bandos, vinham as pessoas correndo de suas casas para as rogações públicas, por causa do ultraje que ameaçava o lugar santo.
2Mc.3.19 Com saias de pano grosseiro, as mulheres se amontoavam pelas ruas. As moças, que costumavam ficar fechadas em casa, saíam para as portas de casa, ou subiam ao muro, ou se debruçavam na janela.
2Mc.3.20 Todas, porém, erguiam as mãos para o céu e faziam suas preces.
2Mc.3.21 Era comovente a apreensão do povo em geral e a ansiedade do sumo-sacerdote, tomado de profunda angústia.
2Mc.3.22 Pediam ao Senhor Todo-poderoso para guardar intactos e em segurança os depósitos em favor daqueles que os tinham depositado.
2Mc.3.23 Heliodoro, porém, procurava executar o que havia decidido.
2Mc.3.24 Acompanhado de seus guardas, Heliodoro já estava junto à sala do tesouro, quando o Senhor dos Espíritos e do Poder manifestou-se com tal esplendor, que todos os que se arriscaram a entrar aí, ficaram desfalecidos e em pânico, atingidos pela força de Deus.
2Mc.3.25 Apareceu-lhes um cavalo ricamente ajaezado com belíssimo arreio e montado por terrível cavaleiro. Ele avançou bruscamente, e o cavalo começou a dar patadas em Heliodoro. O cavaleiro parecia ter armadura de ouro.
2Mc.3.26 Apareceram também para Heliodoro outros dois jovens extraordinariamente fortes, muito belos e com roupas magníficas. Puseram-se aos lados de Heliodoro e começaram a chicoteá-lo, dando-lhe muitos golpes.
2Mc.3.27 Heliodoro caiu logo no chão. Envolto em densa escuridão, tiveram de levantá-lo e colocá-lo na maca.
2Mc.3.28 Foi assim que retiraram daí, inteiramente sem acção, aquele mesmo que tinha entrado até a sala do tesouro com todo o acompanhamento e toda a sua guarda pessoal. Foram obrigados a reconhecer que o poder de Deus se havia manifestado com toda a clareza.
2Mc.3.29 Heliodoro, prostrado pelo poder de Deus, estava sem fala e sem qualquer esperança de salvação.
2Mc.3.30 Enquanto isso os judeus davam louvores a Deus, que tinha glorificado o seu lugar santo. Até há pouco o Templo estava cheio de pavor e preocupação. Agora, por causa da manifestação do Senhor Todo-poderoso, estava repleto de alegria e acções de graças.
2Mc.3.31 Alguns da comitiva de Heliodoro pediram que Onias invocasse o Altíssimo, suplicando pela vida de quem já estava, sem dúvida, agonizando.
2Mc.3.32 Preocupado e com medo de que o rei fosse imaginar que os judeus tinham armado algum ato criminoso contra Heliodoro, o sumo-sacerdote ofereceu um sacrifício pela saúde do homem.
2Mc.3.33 No momento em que o sacerdote oferecia o sacrifício de expiação, os mesmos jovens apareceram de novo a Heliodoro, vestidos com o mesmo traje. De pé, eles lhe disseram: "Você deve agradecer muito ao sumo-sacerdote Onias, porque é em consideração a ele que o Senhor lhe concede a vida.
2Mc.3.34 Você foi chicoteado pelo Céu. Agora anuncie a todos o grandioso poder de Deus". E ao dizerem isso, desapareceram.
2Mc.3.35 Heliodoro ofereceu um sacrifício ao Senhor, fez grandes promessas ao Deus que lhe devolvera a vida, despediu-se de Onias, e voltou com seu exército para junto do rei.
2Mc.3.36 A todos ia dando testemunho das obras do Deus supremo, que ele tinha visto com os próprios olhos.
2Mc.3.37 Quando o rei lhe perguntou quem seria a pessoa mais indicada para ser mandada outra vez a Jerusalém, ele respondeu:
2Mc.3.38 "Se Vossa Majestade tem algum inimigo, alguém que se opõe aos seus actos de governo, mande-o para lá, e vai recebê-lo de volta devidamente castigado, caso consiga escapar. Naquele lugar existe realmente uma força divina.
2Mc.3.39 Aquele que mora no céu é o guarda e protector daquele lugar. Ele fere e mata quem se aproxima do Templo com más intenções".
2Mc.3.40 Foi o que aconteceu com Heliodoro e com a conservação do tesouro do Templo.

 

2Mc.4.1 O mesmo Simão, que foi traidor das riquezas e da pátria, começou a difamar Onias, como se fosse este quem tinha ferido e causado males a Heliodoro.
2Mc.4.2 Ele teve coragem de chamar de agitador da ordem pública ao benfeitor da cidade, ao protector da sua gente e fervoroso cumpridor das leis.
2Mc.4.3 O clima de inimizade foi crescendo tanto, que alguns agentes de Simão acabaram cometendo assassínios.
2Mc.4.4 Onias percebeu o perigo dessa rivalidade. Vendo que Apolónio, filho de Menesteu e comandante da Celessíria e da Fenícia apoiava as más intenções de Simão,
2Mc.4.5 foi procurar o rei. Não foi denunciar cidadão nenhum, mas batalhar pelo bem comum e privado de todo o povo.
2Mc.4.6 Ele percebeu que, se o rei não tomasse providência, seria impossível alcançar a paz na vida pública, e que Simão não pararia com suas loucuras.
2Mc.4.7 Depois que Seleuco morreu, subiu ao trono o rei Antíoco, chamado Epifânio. Foi quando Jasão, irmão de Onias, conseguiu, com suborno, o cargo de sumo-sacerdote.
2Mc.4.8 Numa audiência com o rei, Jasão lhe prometeu treze toneladas de prata, mais três toneladas de outros rendimentos.
2Mc.4.9 Além disso, daria mais cinco toneladas, se o rei lhe desse permissão para construir uma praça de desportos e uma escola para jovens, além de fazer o recenseamento dos cidadãos de Antioquia em Jerusalém.
2Mc.4.10 Com o consentimento do rei e após tomar posse do cargo, Jasão passou imediatamente a fazer os seus irmãos de raça adoptarem o estilo de vida dos gregos.
2Mc.4.11 Anulou os favores que o rei concedera aos judeus, graças à intervenção de João, pai de Eupólemo. Este Eupólemo é o mesmo que negociou o pacto de amizade e mútua defesa com os romanos. Jasão também aboliu as leis da constituição e procurava introduzir práticas contrárias à Lei.
2Mc.4.12 Foi com satisfação que construiu uma praça de desportos abaixo da Acrópole, e levou os melhores jovens a usar o chapéu chamado pétaso.
2Mc.4.13 Era o auge do helenismo, a exaltação do modo de viver dos estrangeiros. Tudo por causa da corrupção do ímpio e falso sumo-sacerdote Jasão.
2Mc.4.14 A coisa chegou a tal ponto, que os sacerdotes já não se interessavam pelas funções do altar. Deixavam de lado o Templo e, sem se preocupar com os sacrifícios, logo que era anunciado o lançamento de discos, corriam para a praça de desportos, a fim de participar dos jogos contrários à Lei.
2Mc.4.15 Ninguém ligava mais para as tradições nacionais e achavam muito mais importantes as glórias gregas.
2Mc.4.16 Por causa da própria cultura grega acabaram se colocando numa situação crítica: aqueles mesmos, cujos costumes eles procuravam promover e a quem procuravam em tudo se assemelhar, tornaram-se seus inimigos e carrascos.
2Mc.4.17 Porque desrespeitar as leis divinas não é coisa sem importância, como se verá no episódio seguinte.
2Mc.4.18 Realizavam-se em Tiro os jogos quinquenais, com a presença do rei.
2Mc.4.19 O abominável Jasão mandou alguns espectadores antioquenos de Jerusalém, encarregando-os de levar trezentas moedas de prata para o sacrifício em honra de Hércules. Os encarregados, porém, acharam melhor não usar esse dinheiro para o sacrifício, coisa inconveniente, mas empregá-lo em outras despesas.
2Mc.4.20 Assim, o dinheiro que fora enviado para o sacrifício em honra de Hércules, por iniciativa dos portadores, foi usado para a construção de navios a remo.
2Mc.4.21 Quando Apolónio, filho de Menesteu, foi enviado ao Egipto para a festa de casamento do rei Filométor, Antíoco soube que esse rei estava fazendo projectos contrários aos seus interesses. Por isso, ele passou por Jope e chegou a Jerusalém.
2Mc.4.22 Aí foi recebido com toda a pompa por Jasão e pela cidade, à luz de tochas e sob aclamações. Em seguida, partiu com o seu exército para a Fenícia.
2Mc.4.23 Três anos depois, Jasão mandou Menelau, irmão do já mencionado Simão, levar o dinheiro para o rei e apresentar o relatório sobre alguns assuntos importantes.
2Mc.4.24 Menelau, porém, apresentou-se ao rei dando mostra de ser homem poderoso e, com adulações, conseguiu para si o posto de sumo-sacerdote, oferecendo dez toneladas de prata a mais do que Jasão.
2Mc.4.25 Depois de receber a nomeação do rei, ele voltou, sem levar consigo coisa alguma que fosse digna de sumo-sacerdote. Pelo contrário, levava em si o furor de um tirano cruel e a fúria de animal selvagem.
2Mc.4.26 E Jasão, que tinha suplantado seu próprio irmão, foi por sua vez suplantado por outro, e teve que fugir para a região dos amonitas.
2Mc.4.27 Menelau assumiu o poder, mas não tomou qualquer providência com relação ao dinheiro que tinha prometido ao rei,
2Mc.4.28 apesar das cobranças feitas por Sóstrato, comandante da Acrópole, a quem cabia a questão dos tributos. Por essa razão, os dois foram convocados pelo rei.
2Mc.4.29 Menelau deixou seu irmão Lisímaco como substituto no sumo sacerdócio, enquanto Sóstrato deixou em seu lugar Crates, comandante dos soldados cipriotas.
2Mc.4.30 Enquanto isso, as cidades de Tarso e de Malos estavam em plena rebelião, por terem sido dadas de presente a Antioquides, concubina do rei.
2Mc.4.31 Então o rei partiu rapidamente com o intuito de normalizar a situação. No seu lugar, deixou Andrónico, um de seus altos ministros.
2Mc.4.32 Achando que era boa oportunidade para tanto, Menelau tirou do Templo alguns objectos de ouro e os deu de presente a Andrónico. Além disso, vendeu outra parte em Tiro e nas cidades vizinhas.
2Mc.4.33 Onias tinha se abrigado num lugar de refúgio em Dafne, perto de Antioquia. Ao saber com certeza do que Menelau tinha feito, Onias o desaprovou.
2Mc.4.34 Por causa disso, Menelau sugeriu secretamente a Andrónico que desse fim a Onias. Então Andrónico procurou Onias e tentou convencê-lo com mentiras, dando-lhe até a mão direita como juramento. Embora Onias tivesse suspeitas, foi convencido por Andrónico a sair do refúgio. Este o matou imediatamente, sem respeito algum pela justiça.
2Mc.4.35 Por isso, não somente os judeus, mas também muitos de outras nações ficaram indignados e condenaram totalmente o assassínio desse homem.
2Mc.4.36 Quando o rei voltou dos citados lugares da Cilícia, os judeus da capital se reuniram em torno dele, junto com os gregos, para denunciar o crime cometido contra Onias.
2Mc.4.37 Antíoco ficou profundamente amargurado e, tocado de compaixão, chorou por causa do equilíbrio e moderação do falecido.
2Mc.4.38 Inflamado em ira, mandou imediatamente tirar de Andrónico o manto de púrpura, rasgar-lhe as roupas, conduzi-lo por toda a cidade, levá-lo para o mesmo local onde tinha cometido o crime contra Onias, e aí executar o assassino. O Senhor estava assim aplicando a Andrónico o merecido castigo.
2Mc.4.39 Nesse meio tempo, muitos furtos de objectos sagrados foram cometidos por Lisímaco em Jerusalém, sob a conivência de Menelau. Quando a notícia se espalhou, muitos objectos de ouro já tinham sido desviados, e o povo se revoltou contra Lisímaco.
2Mc.4.40 Realmente o povo estava revoltado e enfurecido. Então Lisímaco armou cerca de três mil homens e começou uma violenta repressão, dirigida por tal Aurano, homem avançado em idade e muito mais em loucura.
2Mc.4.41 Quando perceberam o ataque de Lisímaco, alguns pegaram pedras, outros se armaram de porretes, outros ainda recolhiam punhados de terra do lugar e avançaram contra os homens de Lisímaco.
2Mc.4.42 Dessa forma, feriram a muitos, mataram alguns e puseram todos a correr. Quanto ao ladrão dos objectos sagrados, conseguiram matá-lo ao lado da sala do tesouro.
2Mc.4.43 A propósito desses fatos, foi aberto processo contra Menelau.
2Mc.4.44 Quando o rei estava em Tiro, três emissários do conselho dos anciãos foram defender, junto ao rei, a causa do povo.
2Mc.4.45 Menelau, sentindo-se perdido, prometeu grande soma de dinheiro a Ptolomeu, filho de Dorímenes, para que ele convencesse o rei a seu favor.
2Mc.4.46 Ptolomeu levou o rei para a sacada, como se fosse para tomar um pouco de ar, e conseguiu fazê-lo mudar de ideia.
2Mc.4.47 Foi assim que o rei absolveu Menelau, o causador de toda essa desgraça, e condenou à morte os três infelizes, que teriam sido absolvidos como inocentes, até diante de um tribunal bárbaro.
2Mc.4.48 A injusta condenação foi imediatamente executada contra aqueles que estavam apenas defendendo a cidade, o povo e os objectos sagrados.
2Mc.4.49 Por isso, alguns de Tiro, revoltados, providenciaram generosamente tudo o que era preciso para a sepultura deles.
2Mc.4.50 Enquanto isso, Menelau, graças à ganância dos poderosos, continuou no poder, aumentando sempre mais a sua própria crueldade e tornando-se o maior inimigo dos seus compatriotas.

 

2Mc.5.1 Nesse tempo, Antíoco preparava sua segunda expedição contra o Egipto.
2Mc.5.2 Aconteceu então que, durante quase quarenta dias, começaram a aparecer no ar, pela cidade inteira, cavaleiros vestidos de ouro, armados de lanças, organizados em pelotões e empunhando espadas.
2Mc.5.3 Viam-se brigadas de cavalaria em linha cerrada, ataques e contra-ataques de um lado e do outro, movimento de escudos, multidões de lanças, lançamento de projécteis, faiscar de adornos dourados e todo tipo de couraças.
2Mc.5.4 Todos pediam para que essa aparição fosse de bom agouro.
2Mc.5.5 Correu então um falso boato que Antíoco tinha morrido. Jasão reuniu mais de mil homens e atacou a cidade de surpresa. Ao serem derrotados aqueles que estavam na muralha e consumando-se a tomada da cidade, Menelau refugiou-se na Acrópole.
2Mc.5.6. Enquanto isso, Jasão promovia impiedosamente a matança dos seus próprios concidadãos, sem compreender que uma vitória sobre seus irmãos era a sua maior derrota. Ele pensava estar triunfando sobre inimigos e não sobre compatriotas.
2Mc.5.7 Contudo, não conseguiu tomar o poder. O resultado foi a humilhação que lhe veio por causa do seu motim, e teve de fugir novamente para a região dos amonitas.
2Mc.5.8 Seu comportamento perverso teve triste fim: denunciado a Aretas, rei dos árabes, foi perseguido e teve de ficar fugindo de cidade em cidade, detestado por todos como traidor das suas leis, repelido como inimigo da própria nação e dos próprios compatriotas e, por isso, enxotado para o Egipto.
2Mc.5.9 Dessa forma, Jasão, que tinha exilado tantos de sua pátria, também foi morrer no exílio, já que se refugiou na terra dos lacedemónios, com a esperança de receber protecção devido aos laços de parentesco.
2Mc.5.10 Ele que havia deixado muitos mortos sem sepultura, morreu sem que alguém chorasse por ele, não teve nenhum tipo de funeral, nem foi sepultado junto aos seus antepassados.
2Mc.5.11 Quando chegou ao rei a notícia desses acontecimentos, ele pensou que a Judeia tivesse se revoltado. Voltando furioso do Egipto, ocupou militarmente a cidade.
2Mc.5.12 Mandou os soldados matar sem piedade quantos encontrassem, e trucidar os que procurassem refúgio nas casas.
2Mc.5.13 Houve grande matança de jovens e velhos, massacre de homens, mulheres e crianças, carnificina de moças e bebés.
2Mc.5.14 Em três dias, pereceram oitenta mil pessoas: quarenta mil foram assassinadas, e os vendidos como escravos não foram menos do que os mortos.
2Mc.5.15 Não satisfeito com isso tudo, Antíoco ainda teve a ousadia de entrar no Templo mais sagrado do mundo, tendo por guia Menelau, traidor das leis e da pátria.
2Mc.5.16 Com suas mãos impuras, Antíoco pegou as vasilhas sagradas e, com suas mãos sacrílegas, levou embora os donativos aí depositados por outros reis para engrandecimento, glória e honra do lugar santo.
2Mc.5.17 Antíoco foi arrogante, sem perceber que o Senhor se havia irritado durante breve tempo, por causa dos pecados dos habitantes da cidade. Era por isso que o Senhor se descuidava do lugar santo.
2Mc.5.18 De fato, se eles não se tivessem envolvido em tantos pecados, Antíoco seria imediatamente barrado no seu atrevimento a poder de chicotadas, logo que chegasse, como aconteceu com Heliodoro, enviado pelo rei Seleuco para fiscalizar o tesouro.
2Mc.5.19 Contudo, o Senhor não escolheu o povo para o lugar santo, mas o lugar santo para o povo.
2Mc.5.20 Por isso, é que o lugar santo, havendo participado das desgraças que ocorreram ao povo, depois participou também da felicidade dele. Ficou abandonado no momento de ira do Todo-poderoso, mas foi restaurado em toda a sua glória, quando o Senhor novamente se reconciliou.
2Mc.5.21 Depois de ter roubado sessenta e duas toneladas de ouro do Templo, Antíoco voltou imediatamente para Antioquia. Em seu orgulho e insolência, ele acreditava que poderia navegar em terra firme e andar a pé dentro do mar.
2Mc.5.22 No entanto, ele deixou alguns superintendentes, para continuarem a maltratar o povo. Em Jerusalém colocou Filipe, de origem frígia, de carácter mais bárbaro do que aquele que o havia nomeado para o cargo.
2Mc.5.23 No Garizim, deixou Andrónico. Além desses, deixou também Menelau, que era pior que os outros na opressão contra seus próprios compatriotas. Cheio de ódio profundo contra os cidadãos judeus,
2Mc.5.24 o rei enviou o comandante Apolónio com vinte e dois mil soldados e com ordens para matar todos os adultos e vender as mulheres e os mais jovens.
2Mc.5.25 Ao chegar a Jerusalém, Apolónio, simulando atitude pacífica, aguardou o dia santificado do sábado. Surpreendeu os judeus em repouso, mandando os soldados fazer um desfile militar.
2Mc.5.26 Ordenou então que matassem todos os que saíam para ver o desfile. Depois, percorrendo a cidade com armas, provocou terrível massacre.
2Mc.5.27 Então Judas, chamado Macabeu, reuniu cerca de dez homens, retirou-se para o deserto e, como os animais selvagens, passou a viver nas montanhas com os seus companheiros. Para não se contaminarem com alimentos impuros, comiam ervas apenas.

 

2Mc.6.1 Não muito tempo depois, o rei mandou um ancião ateniense convencer os judeus a que abandonassem as leis dos antepassados e deixassem de se governar segundo as leis de Deus.
2Mc.6.2 Mandou também profanar o Templo de Jerusalém e dedicá-lo a Júpiter Olímpico, e também a Júpiter Hospitaleiro, dedicar o templo do monte Garizim, conforme o desejo dos moradores do lugar.
2Mc.6.3 Até para a massa do povo, era difícil e insuportável o crescimento dessa maldade.
2Mc.6.4 De fato, o Templo ficou cheio de libertinagem e orgias de pagãos, que aí se divertiam com prostitutas e mantinham relações com mulheres no recinto sagrado do Templo, além de levarem para dentro objectos proibidos.
2Mc.6.5 O próprio altar estava repleto de ofertas proibidas pela Lei.
2Mc.6.6 Não se podia celebrar o sábado, nem as festas tradicionais, nem mesmo se declarar judeu.
2Mc.6.7 Todos os meses eram forçados a participar do banquete ritual, que se realizava no dia do aniversário do rei. Quando chegavam as festas de Dionísio, eram obrigados a participar da procissão em honra a Dionísio, com ramos de hera na cabeça.
2Mc.6.8 Por sugestão dos ptolomeus, foi decretado que as cidades gregas vizinhas também seguissem as mesmas disposições contra os judeus, obrigando-os a comer a carne dos sacrifícios,
2Mc.6.9 e matassem os que não quisessem aceitar os costumes gregos. Podia-se perceber a calamidade que estava para chegar.
2Mc.6.10 Duas mulheres foram presas por terem circuncidado seus filhos. Depois de fazê-las percorrer publicamente a cidade com os filhos pendurados ao seio, as jogaram muralha abaixo.
2Mc.6.11 Outros, que tinham saído juntos para os arredores da cidade, para as cavernas, a fim de aí celebrar às escondidas o sábado, após serem denunciados a Filipe, foram queimados juntos, pois ficaram com escrúpulo de reagir, por respeito à santidade do dia.
2Mc.6.12 Recomendo àqueles que lerem este livro, que não fiquem perturbados por causa de tais calamidades. Ao contrário, pensem que esses castigos não vieram para destruir, mas apenas para corrigir a nossa gente.
2Mc.6.13 É sinal de grande bondade não deixar por muito tempo sem castigo aqueles que cometem injustiça, mas aplicar-lhes logo a merecida punição.
2Mc.6.14 O Senhor não age connosco como faz com os outros povos, esperando pacientemente o tempo de castigá-los, até que os pecados deles cheguem ao máximo. Ele quis agir dessa forma connosco,
2Mc.6.15 para não chegarmos primeiro ao extremo dos nossos pecados, e só então nos castigar.
2Mc.6.16 Significa que ele nunca retira de nós a sua misericórdia. Mesmo quando nos corrige com desgraças, não está abandonando o seu povo.
2Mc.6.17 O que acabamos de dizer fique apenas como aviso. Agora vamos passar logo para a narrativa.
2Mc.6.18 Eleázar era um dos principais doutores da Lei, homem de idade avançada, mas com rosto de traços ainda belos. Queriam obrigá-lo a comer carne de porco, enfiando-a boca adentro.
2Mc.6.19 Ele, porém, que preferia morte honrada a viver envergonhado, dirigiu-se espontaneamente para a tortura do tímpano,
2Mc.6.20 tendo antes cuspido fora o que lhe estava na boca. Assim é que devem fazer os que corajosamente querem resistir ao que não é permitido comer, nem mesmo por amor à própria vida.
2Mc.6.21 Os que dirigiam esse sacrifício proibido, velhos amigos de Eleázar, o chamaram de lado e lhe propuseram que pegasse carne permitida, por ele mesmo preparada, fingindo que comia a carne do sacrifício ordenado pelo rei.
2Mc.6.22 Se ele assim fizesse, estaria livre da morte e, pela antiga amizade que havia entre eles, o tratariam com benevolência.
2Mc.6.23 Ele, porém, tomou uma nobre decisão, coerente com a sua idade e com o respeito da velhice, coerente com a dignidade dos seus cabelos brancos e com a vida correcta que levava desde a infância; acima de tudo, coerente com as santas leis dadas pelo próprio Deus. Ele respondeu prontamente: "Podem mandar-me para a mansão dos mortos.
2Mc.6.24 Em minha idade não fica bem fingir, senão muitos dos mais moços pensarão que um velho de noventa anos chamado Eleázar passou para os costumes estrangeiros.
2Mc.6.25 Com o seu fingimento, por causa de um pequeno resto de vida, eles seriam enganados, e eu só ganharia mancha e desprezo para a minha velhice.
2Mc.6.26 Ainda que no presente eu me livrasse do castigo humano, nem vivo nem morto conseguiria escapar das mãos do Todo-poderoso.
2Mc.6.27 É por isso que, se eu passar corajosamente para a outra vida, me mostrarei digno da minha idade.
2Mc.6.28 Para os mais moços posso deixar um exemplo honrado, mostrando como se deve morrer corajosa e dignamente pelas veneráveis e santas leis". Dito isso, foi imediatamente para o suplício.
2Mc.6.29 Os seus torturadores, que pouco antes queriam ser amáveis com ele, então se tornaram cruéis por causa do que ele dissera, ao considerar tudo aquilo uma loucura.
2Mc.6.30 Já quase morto, em meio às torturas, Eleázar ainda falou entre gemidos: "O Senhor, que possui a santa sabedoria, sabe que eu, podendo escapar da morte, suporto em meu corpo as dores cruéis da tortura, mas em minha alma estou alegre, porque sofro por causa do temor a ele".
2Mc.6.31 E assim terminou sua vida. Sua morte deixou, não só para os jovens, mas também para todo o restante do povo, exemplo memorável de heroísmo e virtude.

 

2Mc.7.1 Aconteceu também que sete irmãos foram presos junto com sua mãe. Espancando-os com relhos e chicotes, o rei pretendia obrigá-los a comer carne de porco, que era proibida.
2Mc.7.2 Um deles, falando em nome dos outros, disse: "O que você quer perguntar ou saber de nós? Estamos prontos a morrer, antes que desobedecer às leis de nossos antepassados".
2Mc.7.3 Enfurecido, o rei mandou esquentar assadeiras e caldeirões.
2Mc.7.4 Logo que ficaram quentes, mandou cortar a língua, arrancar o couro cabeludo e decepar as extremidades daquele que tinha falado pelos outros, e tudo diante dos irmãos e da mãe.
2Mc.7.5 Já mutilado de todos os membros e enquanto ainda vivia, o rei mandou que o pusessem no fogo para assar. Da assadeira subia grande volume de fumaça. E os seus irmãos com a mãe se animavam entre si para enfrentarem corajosamente a morte, dizendo:
2Mc.7.6 "O Senhor Deus nos observa e certamente terá compaixão de nós, conforme afirmou claramente Moisés no seu cântico: 'Ele terá compaixão de seus servos' ".
2Mc.7.7 Depois que o primeiro morreu, levaram o segundo para a tortura. Após lhe arrancarem o couro cabeludo, perguntaram: "Você gostaria de comer, antes que seu corpo seja torturado membro por membro?"
2Mc.7.8 Ele, porém, respondeu na sua língua materna: "Não". Por isso, foi submetido às mesmas torturas do primeiro.
2Mc.7.9 Antes de dar o último suspiro, ainda falou: "Você, bandido, tira-nos desta vida presente, mas o rei do mundo nos fará ressuscitar para uma ressurreição eterna de vida, a nós que agora morremos pelas leis dele".
2Mc.7.10 Depois desse, também o terceiro foi levado para a tortura. Intimado, colocou imediatamente a língua para fora e apresentou corajosamente as mãos,
2Mc.7.11 dizendo com dignidade: "De Deus eu recebi esses membros, e agora, por causa das leis dele, eu os desprezo, pois espero que ele os devolva para mim".
2Mc.7.12 O rei e aqueles que o rodeavam ficaram admirados da coragem com que o rapaz enfrentava os sofrimentos, como se nada fossem.
2Mc.7.13 Logo que esse morreu, começaram a torturar da mesma forma o quarto irmão.
2Mc.7.14 Estando para morrer, ele falou: "Vale a pena morrer pela mão dos homens, quando se espera que o próprio Deus nos ressuscite. Para você, porém, não haverá ressurreição para a vida".
2Mc.7.15 Imediatamente apresentaram o quinto e passaram a torturá-lo.
2Mc.7.16 Olhando bem para o rei, ele afirmou: "Mesmo sendo simples mortal, você faz o que quer, porque tem poder sobre os homens. Mas não pense que o nosso povo foi abandonado por Deus.
2Mc.7.17 Espere um pouco, e verá como o grande poder dele vai torturar você e sua descendência".
2Mc.7.18 Depois desse, trouxeram também o sexto. Quando estava morrendo, ele ainda falou: "Não se iluda! Nós estamos sofrendo tudo isso por nossa culpa, porque pecamos contra o nosso Deus. Por isso nos acontecem essas coisas espantosas.
2Mc.7.19 Quanto a você, que se atreveu a lutar contra Deus, não pense que ficará sem castigo".
2Mc.7.20 Extraordinariamente admirável, porém, e digna da mais respeitável lembrança, foi a mãe. Ela, vendo morrer seus sete filhos num só dia, suportou tudo corajosamente, esperando no Senhor.
2Mc.7.21 Ela encorajava cada um dos filhos, na língua dos seus antepassados. Com atitude nobre, e animando sua ternura feminina com força viril, assim falava com os filhos:
2Mc.7.22 "Não sei como vocês apareceram no meu ventre. Não fui eu que dei a vocês o espírito e a vida, nem fui eu que dei forma aos membros de cada um de vocês.
2Mc.7.23 Foi o Criador do mundo, que modela a humanidade e determina a origem de tudo. Ele, na sua misericórdia, lhes devolverá o espírito e a vida, se vocês agora se sacrificarem pelas leis dele".
2Mc.7.24 Antíoco pensou que a mulher o enganava e desconfiou que ela o estava insultando. Restava, porém, o filho mais novo. E o rei tentava convencê-lo, e até lhe garantiu, sob juramento, que, se renegasse as tradições dos antepassados, ele o tornaria rico e feliz, o teria como amigo e lhe daria cargos importantes.
2Mc.7.25 Entretanto, o menino não lhe deu a menor atenção. Por isso, o rei chamou a mãe e pedia que ela aconselhasse o menino para o próprio bem dele.
2Mc.7.26 Depois de muita insistência do rei, ela aceitou falar com o filho.
2Mc.7.27 Abaixou-se e, enganando esse rei cruel, usou a língua dos antepassados e falou assim: "Meu filho, tenha dó de mim. Eu carreguei você no meu ventre durante nove meses. Eu amamentei você por três anos. Eduquei, criei e tratei você até esta idade!
2Mc.7.28 Meu filho, eu lhe imploro: olhe o céu e a terra, e observe tudo o que neles existe. Deus criou tudo isso do nada, e a humanidade teve a mesma origem.
2Mc.7.29 Não fique com medo desse carrasco. Ao contrário, seja digno de seus irmãos e enfrente a morte. Desse modo, eu recuperarei você junto com seus irmãos, no tempo da misericórdia".
2Mc.7.30 Apenas ela acabou de falar, o rapazinho disse: "O que vocês estão esperando? Eu não obedeço às ordens do rei. Obedeço às determinações da Lei que foi dada a nossos antepassados através de Moisés.
2Mc.7.31 Quanto a você, que está procurando fazer tudo o que há de mau aos hebreus, você não vai conseguir escapar das mãos de Deus.
2Mc.7.32 Nós estamos sofrendo por causa de nossos pecados.
2Mc.7.33 Por um pouco de tempo, o Senhor vivo está irado connosco e nos castiga e nos corrige, mas ele voltará a se reconciliar com os seus servos.
2Mc.7.34 Quanto a você, ímpio e pior criminoso do mundo, não fique se exaltando à-toa ou gritando esperanças que não têm fundamento, enquanto ergue as mãos contra os servos do Céu.
2Mc.7.35 Você ainda não escapou do julgamento do Deus todo-poderoso, que tudo vê.
2Mc.7.36 Depois de suportar um sofrimento passageiro, os meus irmãos já estão participando da vida eterna, na aliança com Deus. Em troca, no julgamento de Deus, você receberá o castigo justo por sua soberba.
2Mc.7.37 Quanto a mim, da mesma forma que meus irmãos, entrego o meu corpo e a minha vida em favor das leis de meus antepassados, suplicando que Deus se compadeça logo do meu povo. Enquanto isso, você, à custa de castigos e flagelos, terá de reconhecer que ele é o único Deus.
2Mc.7.38 Suplico que a ira do Todo-poderoso, que se abateu com toda a justiça contra o seu povo, se detenha em mim e em meus irmãos".
2Mc.7.39 O rei, sentindo-se envenenado pelo sarcasmo, ficou furioso, e tratou o menino com crueldade ainda mais feroz do que fizera com os outros.
2Mc.7.40 E o menino morreu sem mancha, confiando totalmente no Senhor.
2Mc.7.41 A mãe morreu por último, depois dos filhos.
2Mc.7.42 Por ora, basta o que contei sobre as refeições sacrificais e as incríveis crueldades.

 

2Mc.8.1 Nesse meio tempo, Judas, chamado Macabeu, com seus companheiros, se infiltravam nas aldeias. Convocando os compatriotas e recrutando os que continuavam fiéis ao judaísmo, reuniram cerca de seis mil pessoas.
2Mc.8.2 Suplicaram ao Senhor que olhasse para o povo, desdenhado por todos, e tivesse compaixão do Templo, profanado por ímpios;
2Mc.8.3 que tivesse misericórdia da cidade de Jerusalém já destruída e em vias de ser nivelada ao solo; que escutasse o clamor do sangue que subia até ele;
2Mc.8.4 que se lembrasse do criminoso massacre de crianças inocentes e das blasfémias contra o seu Nome, e pusesse em acção a sua vingança.
2Mc.8.5 Quando conseguiu organizar o pessoal, o Macabeu tornou-se invencível para os pagãos. Dessa forma, a ira do Senhor transformou-se em misericórdia.
2Mc.8.6 Judas chegava de surpresa e incendiava cidades e povoados, tomava os pontos estratégicos e afugentava muitos inimigos.
2Mc.8.7 Para esses ataques, escolhia de preferência a noite como sua aliada. E a fama de sua valentia se espalhava por toda a parte.
2Mc.8.8 Quando viu que Judas ia pouco a pouco chegando ao sucesso, e subindo firmemente de vitória em vitória, Filipe escreveu a Ptolomeu, comandante da Celessíria e da Fenícia, pedindo que fosse socorrer os interesses do rei.
2Mc.8.9 Ele imediatamente escolheu Nicanor, filho de Pátroclo, um dos principais amigos do rei, e colocou sob o comando dele mais de vinte mil homens pagãos de todas as nações, com ordem de liquidar com a raça dos judeus. Junto com ele, mandou o comandante Górgias, homem experiente em questões de guerra.
2Mc.8.10 Nicanor planejou vender escravos judeus, para levantar a quantia de setenta toneladas de prata para o tributo que o rei devia aos romanos.
2Mc.8.11 Por isso, antes de mais nada, mandou alguém às cidades do litoral oferecer escravos judeus, propondo o preço de noventa escravos por trinta e cinco quilos de prata. Ele não imaginava o castigo que o Todo-poderoso lhe reservava.
2Mc.8.12. A notícia da vinda de Nicanor chegou até Judas, que preveniu os companheiros sobre a aproximação do inimigo.
2Mc.8.13 Os medrosos e aqueles que não confiavam na justiça de Deus abandonavam suas posições e fugiam para se salvar.
2Mc.8.14 Os outros venderam tudo o que possuíam, e juntos suplicaram ao Senhor que os libertasse, pois já tinham sido vendidos como escravos pelo ímpio Nicanor.
2Mc.8.15 Pediam que Deus os atendesse, se não por causa deles próprios, pelo menos em vista da aliança feita com os seus antepassados e também por causa do próprio Nome sagrado e grandioso que estava sendo invocado.
2Mc.8.16 O Macabeu reuniu os seus companheiros em número de seis mil. Procurou animá-los, dizendo para não se apavorarem, nem se sentirem inferiorizados pela grande quantidade de pagãos que vinham fazer guerra injusta contra eles, mas que lutassem com bravura.
2Mc.8.17 Que tivessem diante dos olhos o desrespeito criminoso com que os inimigos trataram o nosso lugar santo, a vergonha da cidade humilhada e também a abolição das tradições dos nossos antepassados.
2Mc.8.18 Judas falou: "Os inimigos confiam nas armas e nos seus actos de bravura. Nós, porém, confiamos no Deus Todo-poderoso. Ele, com um simples gesto, é capaz de derrubar nossos inimigos e até o mundo inteiro".
2Mc.8.19 Lembrou-lhes também o socorro que tinha vindo de Deus para os antepassados, como no caso de Senaquerib, quando morreram cento e oitenta e cinco mil.
2Mc.8.20 Lembrou-lhes também a batalha contra os gálatas na Babilónia, quando todos os que estavam em combate eram oito mil, além de quatro mil macedónios. Como os macedónios estivessem em dificuldade, os oito mil mataram cento e vinte mil com a ajuda que lhes veio do céu, e ainda recolheram muitos despojos.
2Mc.8.21 Depois de encorajá-los com essas palavras e tornando-os prontos para morrer pelas leis e pela pátria, Judas repartiu o exército em quatro divisões aproximadamente iguais.
2Mc.8.22 Como comandantes de cada uma das divisões nomeou seus irmãos Simão, José e Jónatas, ficando cada um com cerca de mil e quinhentos homens,
2Mc.8.23 e também Eleázar. Lido o livro sagrado e dada a palavra de ordem: "Ajuda de Deus", Judas partiu contra Nicanor, comandando a primeira divisão.
2Mc.8.24 Como o Todo-poderoso se tornou seu aliado, eles liquidaram mais de nove mil, enquanto feriram e mutilaram mais da metade do exército de Nicanor, obrigando todos os outros a fugir.
2Mc.8.25 Tomaram o dinheiro dos que tinham vindo com a intenção de comprá-los. Perseguiram os fugitivos por longo tempo, mas desistiram por estar ficando tarde,
2Mc.8.26 pois era véspera de sábado. Por isso, não continuaram a persegui-los.
2Mc.8.27 Após terem tomado as armas deles e despojado os cadáveres dos inimigos, celebraram o sábado de maneira extraordinária, louvando e agradecendo ao Senhor que nesse dia os libertou, marcando assim o início da sua misericórdia para com eles.
2Mc.8.28 Passado o sábado, repartiram os despojos dos inimigos entre os mutilados, viúvas e órfãos. Repartiram entre si e seus filhos tudo o que sobrou.
2Mc.8.29 Depois disso, fizeram uma súplica colectiva, pedindo ao Senhor misericordioso que se reconciliasse totalmente com seus servos.
2Mc.8.30 Em seguida, atacaram o pessoal de Timóteo e de Báquides. Mataram mais de vinte mil deles e, com muita facilidade, tomaram algumas fortalezas em pontos elevados. Dividiram então muitos despojos em partes iguais, entre si e com os mutilados, órfãos, viúvas e velhos.
2Mc.8.31 Recolheram cuidadosamente as armas dos inimigos, colocaram todas em lugares convenientes e levaram para Jerusalém o resto dos despojos que tinham recolhido.
2Mc.8.32 Conseguiram matar o comandante da guarda pessoal de Timóteo, homem sanguinário que tinha feito os judeus sofrerem muito.
2Mc.8.33 Quando estavam celebrando na pátria a festa da vitória, queimaram vivos aqueles que tinham incendiado os portais sagrados e também o tal de Calístenes, que se havia refugiado numa casa. Assim eles receberam o castigo merecido pela profanação que tinham cometido.
2Mc.8.34 O bandido Nicanor, que tinha trazido mil negociantes para a venda de judeus,
2Mc.8.35 foi humilhado, com a ajuda do Senhor, por aqueles mesmos que ele considerava os últimos. Teve que abandonar suas roupas sumptuosas, e fugiu pelo campo como escravo, chegando a Antioquia sem nada, em situação mais feliz que o seu exército derrotado.
2Mc.8.36 Assim, aquele que se havia responsabilizado em saldar o tributo devido aos romanos, mediante a venda de prisioneiros de Jerusalém, passou a proclamar que os judeus têm um Defensor e que, por essa razão, são invulneráveis, porque seguem as leis determinadas por ele.

 

2Mc.9.1 Por essa mesma ocasião, Antíoco foi forçado a voltar desordenadamente das regiões da Pérsia.
2Mc.9.2 Entrou em Persépolis, tentou despojar o templo e tomar a cidade. Diante disso, o povo se revoltou e recorreu às armas. Foi quando Antíoco, derrotado e perseguido pelos habitantes, teve que bater em vergonhosa retirada.
2Mc.9.3 Quando estava perto de Ecbátana, chegou-lhe a notícia do que tinha acontecido a Nicanor e ao pessoal de Timóteo.
2Mc.9.4 Então, furioso, pensava em cobrar dos judeus a injúria sofrida diante daqueles que o tinham posto em fuga. Por isso, mandou seu cocheiro tocar a carruagem, seguindo em frente sem parar. Entretanto, o julgamento do céu já o estava alcançando. De fato, na sua arrogância, ele tinha dito: "Vou transformar Jerusalém num cemitério de judeus. Basta eu chegar lá!"
2Mc.9.5 O Senhor Deus de Israel, porém, que tudo vê, mandou-lhe uma doença incurável e invisível. Pois logo que acabou de dizer essas palavras, lhe veio uma forte dor de barriga, uma terrível cólica de intestinos.
2Mc.9.6 Era uma coisa justa, porque ele havia torturado as entranhas de outros com muitas e refinadas torturas.
2Mc.9.7 Nem assim diminuiu a sua arrogância. Ao contrário, ficou ainda mais exaltado e, furioso de raiva contra os judeus, mandou tocar mais depressa. Aconteceu então cair da carruagem que corria precipitadamente e, por causa da queda violenta, todos os seus membros se quebraram.
2Mc.9.8 Aquele que, pouco antes, com insolência até desumana, se achava com poderes de dar ordens para as ondas do mar, e que se imaginava pesando em balança as altas montanhas, ficou estendido no chão, e teve de ser carregado numa padiola. Assim, para todos ele dava mostras evidentes do poder de Deus.
2Mc.9.9 A coisa foi tal, que do corpo desse renegado brotavam vermes. Ainda vivo, em meio a sofrimentos e dores, suas carnes se soltavam do corpo. Por todo o acampamento não se aguentava o mau cheiro da sua podridão.
2Mc.9.10 Aquele que pouco antes parecia capaz de tocar as estrelas do céu, agora ninguém era capaz de o carregar, por causa do mau cheiro insuportável.
2Mc.9.11 Em tal situação, prostrado por sua doença, Antíoco começou a ceder em sua arrogância. Atormentado cada vez mais pelas dores, chegou a reconhecer o castigo divino,
2Mc.9.12 e já não podendo suportar seu próprio cheiro, disse: "É justo que o mortal se submeta a Deus e não queira igualar-se à divindade".
2Mc.9.13 Mas esse criminoso rezava ao Soberano, que já não se compadecia dele. Então jurou
2Mc.9.14 que proclamaria livre a cidade santa, contra a qual antes caminhava apressadamente, a fim de arrasá-la e transformá-la em cemitério.
2Mc.9.15 Jurou que daria os mesmos direitos dos atenienses a todos os judeus, sobre quem havia decretado que não mereciam sepultura, mas que fossem jogados com seus filhos para servir de comida às feras e aves de rapina.
2Mc.9.16 Jurou que enfeitaria, com os mais belos donativos, o Templo santo, que ele mesmo tinha despojado. Jurou que devolveria, em número maior, todos os objectos sagrados. Jurou que manteria, com suas rendas pessoais, todas as despesas necessárias para os sacrifícios.
2Mc.9.17 Além de tudo isso, jurou que se tornaria judeu e percorreria todos os lugares habitados do mundo, anunciando o poder de Deus.
2Mc.9.18 Como as dores não passassem, pois a justa condenação de Deus o tinha atingido, e perdendo as esperanças de cura, Antíoco escreveu aos judeus, em tom de súplica, a seguinte carta:
2Mc.9.19 "Aos ilustríssimos cidadãos judeus. O rei e governador Antíoco lhes manda muitas saudações e deseja saúde e bem-estar.
2Mc.9.20 Espero, graças ao Céu, que vocês e seus filhos estejam bem, e seus negócios corram segundo seus desejos.
2Mc.9.21 Lembro com carinho o respeito e os bons sentimentos de vocês. Ao voltar da Pérsia, contraí uma grave doença e julguei necessário pensar na segurança pública.
2Mc.9.22 No meu caso, não perdi a esperança. Ao contrário, espero escapar dessa doença.
2Mc.9.23 Eu me lembro que meu pai, toda vez que partia em campanha para a região do planalto, indicava o seu futuro sucessor.
2Mc.9.24 Desse modo, se acontecesse algo inesperado ou se chegasse alguma notícia má, o pessoal que estava no país não iria agitar-se, pois já saberia a quem fora confiado o governo.
2Mc.9.25 Além disso, considerando que os soberanos próximos e vizinhos do nosso reino estão à espera de uma oportunidade e observando o que acontece, nomeio como rei o meu filho Antíoco. É ele que tantas vezes tenho recomendado a muitos de vocês, ao me ausentar para as províncias do norte. A ele escrevi a carta que segue abaixo.
2Mc.9.26 Assim, pois, eu os exorto e lhes peço que conservem para com o meu filho a mesma boa vontade demonstrada para comigo, lembrados de tudo de bom que fiz por vocês, seja em comum para todos, seja em particular para cada um.
2Mc.9.27 Estou plenamente convencido de que meu filho, seguindo a minha decisão, os tratará com muita compreensão e cordialidade".
2Mc.9.28 E assim, esse assassino e blasfemo, entre dores atrozes, morreu nas montanhas, em terra estrangeira. Seu final foi desastroso, da mesma forma como ele havia tratado a outros.
2Mc.9.29 Filipe, seu companheiro de infância, transportou seus restos. Mas, com medo do filho de Antíoco, Filipe foi para o Egipto, para junto de Ptolomeu Filométor.

 

2Mc.10.1 O Macabeu com seus companheiros, guiados pelo Senhor, reconquistou o Templo e a cidade de Jerusalém.
2Mc.10.2 Demoliram os altares construídos pelos estrangeiros na praça pública e seus templos.
2Mc.10.3 Depois de purificar o santuário, construíram novo altar para os holocaustos. Tiraram fogo das pedras e ofereceram sacrifícios, após uma interrupção de dois anos. Acenderam também o fogo do altar de incenso e as lâmpadas, e apresentaram os pães.
2Mc.10.4 Em seguida se prostraram por terra e suplicaram ao Senhor que nunca mais os deixasse cair em tais desgraças. Caso voltassem a pecar, que ele os corrigisse com moderação, sem que fossem entregues em mãos de bárbaros e blasfemadores.
2Mc.10.5 A purificação do Templo aconteceu na mesma data em que tinha sido profanado pelos estrangeiros, isto é, no dia vinte e cinco do mês de Casleu.
2Mc.10.6 Durante oito dias, fizeram uma comemoração semelhante à das Tendas, para lembrar que pouco tempo antes, durante a festa das Tendas, eles tiveram de andar pelos montes e cavernas, vivendo como animais selvagens.
2Mc.10.7 Por isso, carregando folhagens, ramos novos e folhas de palmeira, cantaram hinos ao Deus que lhes tinha dado a graça de purificar o seu lugar sagrado.
2Mc.10.8 Na ocasião, editaram um decreto público, confirmado por votação e aprovação geral, mandando que todo o povo judeu celebrasse essa data todos os anos.
2Mc.10.9 Esse foi o fim de Antíoco, chamado Epifânio.
2Mc.10.10 Vamos relatar agora os fatos ligados a Antíoco Eupátor, filho desse ímpio, procurando resumir os males causados pelas guerras.
2Mc.10.11 Logo que tomou posse do reino, Eupátor nomeou como encarregado da administração um tal de Lísias, até então governador e comandante da Celessíria e da Fenícia.
2Mc.10.12 Entretanto, Ptolomeu, chamado Macron, que tinha tomado a iniciativa de tratar com justiça os judeus, a fim de reparar a injustiça contra eles cometida, projectava conduzir tranquilamente todos os assuntos que se referiam a eles.
2Mc.10.13 Por isso, Ptolomeu foi acusado diante de Eupátor pelos amigos deste rei. Ele era a todo momento chamado de traidor, por ter abandonado Chipre, que lhe fora confiada por Filométor, e por ter passado para o lado de Epifânio. Não conseguindo exercer o poder com toda a dignidade, ele se suicidou, tomando veneno.
2Mc.10.14 Nesse meio tempo, Górgias tornou-se comandante dessas regiões. Ele mantinha um exército mercenário e estava continuamente provocando guerras contra os judeus.
2Mc.10.15 Da mesma forma os idumeus, que ocupavam fortalezas bem situadas, viviam provocando os judeus, e atiçavam o clima de guerra, acolhendo refugiados de Jerusalém.
2Mc.10.16 Os companheiros do Macabeu, depois de fazer preces públicas e suplicar a Deus que se aliasse a eles, atacaram as fortalezas dos idumeus.
2Mc.10.17 Assaltaram vigorosamente as fortalezas e conseguiram tomar essas posições, vencendo os inimigos que lutavam de cima da muralha. Mataram a quantos estavam sob seu alcance e eliminaram pelo menos vinte mil.
2Mc.10.18 Entretanto, pelo menos nove mil conseguiram escapar para duas torres solidamente fortificadas e que tinham tudo para aguentar cerco prolongado.
2Mc.10.19 O Macabeu deixou aí Simão e José, e também Zaqueu com seus companheiros, o suficiente para manter o cerco, enquanto ele foi para outros lugares, onde sua presença era mais necessária.
2Mc.10.20 Os companheiros de Simão, porém, cheios de ganância por dinheiro, foram subornados por alguns que estavam nas torres: receberam setenta mil dracmas e os deixaram fugir.
2Mc.10.21 Denunciaram ao Macabeu o que tinha acontecido. Então ele reuniu os chefes do exército e os acusou de ter vendido seus irmãos por dinheiro, deixando sair livres os inimigos que combatiam contra eles.
2Mc.10.22 Mandou matar os traidores e, sem mais, ocupou as duas torres.
2Mc.10.23 O Macabeu tinha sucesso em todas as lutas armadas, e só nessas duas fortalezas eliminou mais de vinte mil homens.
2Mc.10.24 Já antes derrotado pelos judeus, Timóteo reuniu numeroso e variado exército estrangeiro, recrutou numerosa cavalaria da Ásia e apareceu para ocupar militarmente a Judeia.
2Mc.10.25 Os companheiros do Macabeu se reuniram com ele para rezar a Deus. Cobriram de pó a cabeça, vestiram-se com panos de saco
2Mc.10.26 e, prostrados no degrau que fica em frente do altar, suplicaram que Deus fosse favorável a eles, que se tornasse inimigo de seus inimigos e adversário de seus adversários, como a Lei diz claramente.
2Mc.10.27 Terminada a oração, pegaram em armas e se afastaram bastante da cidade. Entretanto, ao chegarem perto dos que vinham combater contra eles, pararam.
2Mc.10.28 Mal raiou a madrugada, uns e outros se lançaram à luta. Uns, além da boa disposição, tinham como garantia de êxito e de vitória a protecção do Senhor. Os outros lutaram guiados pelo seu próprio furor.
2Mc.10.29 No auge do combate, os inimigos viram no céu cinco homens resplandecentes, montados em cavalos com rédeas de ouro e que se puseram como comandantes dos judeus.
2Mc.10.30 Colocaram o Macabeu no meio deles e o protegeram com seus escudos, tornando-o invulnerável, enquanto atiravam setas e raios contra os adversários. Desorientados por não poderem enxergar, os inimigos dos judeus se dispersaram totalmente confusos.
2Mc.10.31 Dessa forma, foram eliminados vinte mil e quinhentos homens, além de seiscentos cavaleiros.
2Mc.10.32 Timóteo, porém, conseguiu refugiar-se na fortaleza chamada Guézer, que era muito bem fortificada e cujo comandante era Quereias.
2Mc.10.33 Os companheiros do Macabeu, cheios de entusiasmo, cercaram a fortaleza durante quatro dias.
2Mc.10.34 Os que estavam dentro, confiando na segurança que o lugar oferecia, multiplicavam as blasfémias, dizendo palavras ímpias.
2Mc.10.35 Ao amanhecer do quinto dia, porém, vinte jovens dos companheiros do Macabeu, inflamados por causa dessas blasfémias e cheios de coragem, atacaram a muralha e, com furor selvagem, matavam quem chegasse ao seu alcance.
2Mc.10.36 Os demais subiram por outro lado, e, surpreendendo os de dentro, incendiaram as torres, provocando fogueiras e queimando vivos os que blasfemavam. Enquanto isso, os primeiros arrebentaram as portas, abrindo caminho para o restante do exército. E conquistaram então a fortaleza.
2Mc.10.37 Mataram a Timóteo, que se havia escondido numa cisterna, e também seu irmão Quereias e Apolófanes.
2Mc.10.38 Depois de tudo isso, com hinos e acção de graças louvaram ao Senhor, que tinha feito tão grande benefício em favor de Israel, concedendo a eles essa vitória.

 

2Mc.11.1 Pouco tempo depois, Lísias, tutor e parente do rei, além de encarregado dos negócios, não suportou o que tinha acontecido.
2Mc.11.2 Reuniu oitenta mil soldados com toda a cavalaria, e partiu para enfrentar os judeus. Sua intenção era transformar Jerusalém em morada de gregos,
2Mc.11.3 submeter o Templo a pagar tributo como os outros santuários das nações e, todos os anos, pôr à venda o cargo de sumo-sacerdote.
2Mc.11.4 Confiando somente nas dezenas de milhares de seus soldados de infantaria, em seus milhares de cavaleiros e em seus oitenta elefantes, nem lhe ocorria pensar no poder de Deus.
2Mc.11.5 Logo que entrou na Judeia, aproximou-se da fortaleza de Bet-Sur, a umas cinco léguas de Jerusalém, e a cercou.
2Mc.11.6 Quando os companheiros do Macabeu souberam que Lísias estava cercando as fortalezas, suplicavam ao Senhor entre gemidos e lágrimas, junto com o povo, que mandasse um anjo bom para salvar Israel.
2Mc.11.7 O próprio Macabeu foi o primeiro a pegar em armas e pôr-se à frente de todos. Assim convenceu os outros a enfrentar junto com ele o perigo, a fim de levar ajuda aos irmãos. Unidos e cheios de coragem, puseram-se em marcha.
2Mc.11.8 Estavam ainda perto de Jerusalém, quando apareceu, marchando à frente deles, um cavaleiro vestido de branco e empunhando armas de ouro.
2Mc.11.9 Todos juntos agradeceram ao Deus misericordioso, e ficaram tão animados e corajosos que iam dispostos a atacar não somente homens, mas até as feras mais selvagens e as muralhas de ferro.
2Mc.11.10 Iam de armas em punho e com um aliado vindo do céu, pois o Senhor se havia compadecido deles.
2Mc.11.11 Como leões, atacaram o inimigo e deixaram mortos onze mil soldados de infantaria e mil e seiscentos da cavalaria. Os outros foram obrigados a fugir.
2Mc.11.12 Muitos deles, depois de feridos, abandonavam as armas e escapavam. O próprio Lísias, para sair com vida, teve de fugir vergonhosamente.
2Mc.11.13 Como não era tolo, Lísias reflectiu sobre a humilhação que sofrera, e percebeu que os hebreus eram invencíveis, porque o Deus Todo-poderoso lutava ao lado deles.
2Mc.11.14 Então mandou representantes, propondo acordo em termos justos, e prometendo convencer o rei a tornar-se amigo deles.
2Mc.11.15 O Macabeu, pensando no bem comum, concordou com o que Lísias propunha. E o rei concedeu tudo o que o Macabeu pediu por escrito a Lísias em favor dos judeus.
2Mc.11.16 A carta enviada por Lísias aos judeus dizia o seguinte: "De Lísias ao povo judeu. Saudações!
2Mc.11.17 João e Absalão, mensageiros de vocês, me entregaram o documento, solicitando o que aí é proposto.
2Mc.11.18 Expliquei ao rei tudo o que era preciso ser explicado. Ele aprovou tudo o que se podia aceitar.
2Mc.11.19 Se vocês conservarem boa vontade para com a administração pública, eu também me esforçarei, de ora em diante, para ser advogado dos seus interesses.
2Mc.11.20 Ordenei aos seus mensageiros e aos meus, que tratem com vocês as questões em pormenores.
2Mc.11.21 Passar bem! Dia vinte e quatro de Dióscoro do ano cento e quarenta e oito".
2Mc.11.22 A carta do rei dizia o seguinte: "Do rei Antíoco ao seu irmão Lísias. Saudações!
2Mc.11.23 Depois que o nosso pai se mudou para junto dos deuses, decidimos que os habitantes do nosso reino podem cuidar dos seus interesses sem sofrerem a menor perturbação.
2Mc.11.24 Ouvimos falar que os judeus não concordaram com a mudança para os costumes gregos, querida por meu pai, mas que preferem sua própria maneira de viver. E eles estão pedindo autorização para seguir o que é conforme à sua própria Lei.
2Mc.11.25 Desejando também que esse povo viva sem temores, decidimos que o Templo seja devolvido a eles e que possam governar-se de acordo com os costumes de seus antepassados.
2Mc.11.26 Por isso, você fará muito bem, se mandar alguém até eles para fazer as pazes, a fim de que eles, tomando conhecimento dessas nossas disposições, se sintam satisfeitos e alegres, e cuidem apenas de seus assuntos particulares".
2Mc.11.27 A carta do rei ao povo dizia o seguinte: "Do rei Antíoco ao conselho dos anciãos dos judeus e a todos os judeus. Saudações!
2Mc.11.28 Esperamos que vocês estejam passando bem. Nós também vamos indo bem.
2Mc.11.29 Menelau nos fez ver que vocês desejam voltar para cuidar de suas coisas.
2Mc.11.30 Garantimos a imunidade para todos os que voltarem para casa até o dia trinta do mês de Xântico. Dou permissão
2Mc.11.31 para que esses judeus façam uso de seus alimentos próprios e também de suas leis, como faziam antigamente. E que nenhum deles seja molestado por causa de faltas cometidas por ignorância.
2Mc.11.32 Menelau é o meu mensageiro para levar a vocês a minha aprovação.
2Mc.11.33 Passar bem! Dia quinze do mês de Xântico do ano cento e quarenta e oito".
2Mc.11.34 Os romanos também enviaram aos judeus uma carta que dizia: "De Quinto, Mémio, Tito Manílio e Mânio Sérgio, legados romanos, ao povo dos judeus. Saudações!
2Mc.11.35 Nós concordamos com o que Lísias, parente do rei, lhes concedeu.
2Mc.11.36 Agora, quanto aos pontos que ele determinou levar ao conhecimento do rei, mandem logo alguém, depois de tudo bem analisado por vocês, para nos falar sobre isso, a fim de que possamos apresentar as coisas conforme convêm a vocês, pois nós estamos indo para Antioquia.
2Mc.11.37 Por isso, andem depressa e mandem alguém para tomarmos conhecimento de suas propostas.
2Mc.11.38 Passar bem! Dia quinze do mês de Xântico do ano cento e quarenta e oito".

 

2Mc.12.1 Feitos esses acordos, Lísias voltou para junto do rei, e os judeus voltaram para seus trabalhos no campo.
2Mc.12.2 Os governadores locais, como Timóteo e Apolónio, filho de Geneu, e também Jerónimo e Demofonte, como também Nicanor, governador de Chipre, não os deixavam tranquilos, nem viver em paz.
2Mc.12.3 Além disso, os habitantes de Jope chegaram ao extremo da maldade: sem apresentar a menor intenção hostil, convidaram os judeus que viviam com eles a entrarem com suas mulheres e filhos em barcos que eles mesmos tinham preparado.
2Mc.12.4 Como se tratava de decreto oficial da cidade, e já que os judeus desejavam viver em paz e não tinham nenhuma suspeita, estes aceitaram o convite. Quando, porém, o barco chegou em alto mar, aqueles o afundaram. E eram pelo menos duzentas pessoas.
2Mc.12.5 Quando soube da crueldade praticada contra seus compatriotas, Judas mandou que seus companheiros se preparassem.
2Mc.12.6 Depois de invocar a Deus, o justo juiz, foi atacar os assassinos de seus irmãos. À noite incendiou o porto, queimou as barcas, depois de ter passado a fio de espada os que aí se haviam refugiado.
2Mc.12.7 Como a cidade estava fechada, Judas foi embora, com planos de voltar e eliminar toda a população de Jope.
2Mc.12.8 Entretanto, foi informado que os habitantes de Jâmnia queriam fazer o mesmo com os judeus que moravam na cidade.
2Mc.12.9 Então ele atacou Jâmnia de surpresa, também à noite, incendiou o porto e as embarcações, de modo que o clarão do incêndio foi visto até em Jerusalém, a duzentos e quarenta estádios de distância.
2Mc.12.10 Judas se havia afastado nove estádios daí para enfrentar Timóteo, quando pelo menos cinco mil árabes com quinhentos cavaleiros o atacaram.
2Mc.12.11 Aconteceu então uma luta violenta, e os companheiros de Judas, com a ajuda de Deus, ainda que menos numerosos, venceram. Os árabes pediram a paz a Judas. E prometeram dar-lhe gado e ajudá-lo em tudo o mais.
2Mc.12.12 Judas, percebendo que eles seriam realmente úteis em muitas coisas, achou conveniente fazer as pazes com eles. Assim, depois de darem as mãos, eles foram embora para as suas tendas.
2Mc.12.13 Judas tomou uma cidade, chamada Caspin, que era protegida por vales, rodeada de muralhas e habitada por gente de todas as raças.
2Mc.12.14 Os que estavam dentro da cidade, confiando na firmeza das muralhas e nos alimentos que tinham de reserva, foram ficando cada vez mais provocadores para com os companheiros de Judas: caçoavam, blasfemavam e diziam palavrões.
2Mc.12.15 O pessoal de Judas, porém, depois de invocar o grande Soberano do universo, que sem aríetes ou máquinas de guerra derrubou os muros de Jericó no tempo de Josué, avançaram como feras contra a muralha.
2Mc.12.16 Após tomar a cidade por vontade de Deus, fizeram indescritível matança. Um lago vizinho, com mais de quatrocentos metros de largura, parecia cheio de sangue que havia escorrido.
2Mc.12.17 Distanciando-se uns setecentos e cinquenta estádios daí, chegaram a Cáraca, onde viviam os judeus chamados tobianeus.
2Mc.12.18 Não encontraram Timóteo nessa região, porque este, não havendo conseguido nada até então, tinha partido, deixando no lugar apenas uma guarnição bem munida.
2Mc.12.19 Dositeu e Sosípatro, oficiais do exército do Macabeu, desviaram-se para esse lugar e mataram o pessoal deixado por Timóteo na fortaleza. E eliminaram mais de dez mil homens.
2Mc.12.20 O Macabeu dividiu o seu exército em grupos e colocou os dois na chefia desses grupos. Em seguida, partiu para atacar Timóteo, que tinha sob seu comando cento e vinte mil soldados de infantaria e dois mil e quinhentos cavaleiros.
2Mc.12.21 Ao saber que Judas vinha atacá-lo, Timóteo mandou, na frente, para o lugar chamado Cárnion, as mulheres e as crianças com as bagagens. A posição era impossível de conquistar, e o local inacessível por causa dos muitos desfiladeiros que havia por aí.
2Mc.12.22 Logo que apareceu o primeiro grupo do exército de Judas, os inimigos ficaram tomados de medo e apoderou-se deles o pânico, causado pela manifestação daquele que tudo vê. Fugiram então desordenadamente, uns tropeçando nos outros, muitas vezes atrapalhando os próprios companheiros e ferindo-se gravemente com suas próprias espadas.
2Mc.12.23 Judas perseguiu-os com toda a energia, fustigou esses criminosos e eliminou cerca de trinta mil homens.
2Mc.12.24 O próprio Timóteo caiu nas mãos dos soldados de Dositeu e Sosípatro. Com esperteza, Timóteo pediu que o deixassem partir com vida, afirmando que tinha em seu poder pais e irmãos de muitos deles, e poderia acontecer que eles fossem mortos.
2Mc.12.25 Conseguiu convencer os soldados com muitas palavras, prometendo que devolveria os prisioneiros sãos e salvos. Então lhe deram a liberdade em trocada libertação dos irmãos.
2Mc.12.26 Em seguida, Judas marchou contra Cárnion e o santuário de Atergates, e matou aí vinte e cinco mil homens.
2Mc.12.27 Depois dessa reviravolta e matança, Judas dirigiu-se para o lado de Efron, cidade fortificada, onde morava Lísias e uma população de todas as raças. Jovens bem fortes ficavam na frente da muralha para lutar com bravura. Dentro havia máquinas de guerra e muitos projécteis.
2Mc.12.28 Após invocarem o Soberano, que com seu poder esmaga as forças inimigas, tomaram a cidade e mataram vinte e cinco mil dos que aí moravam.
2Mc.12.29 Afastando-se daí, foram atacar Citópolis, a seiscentos estádios de Jerusalém.
2Mc.12.30 Contudo, os judeus que moravam nessa cidade disseram que os cidadãos do lugar demonstravam grande simpatia para com eles e sempre os ajudavam nos momentos difíceis.
2Mc.12.31 Então Judas e seus companheiros agradeceram a eles e pediram que continuassem tendo para o futuro a mesma consideração para com seus irmãos de raça. Depois, voltaram para Jerusalém, bem próximo da festa das Semanas.
2Mc.12.32 Após a festa denominada Pentecostes, atacaram Górgias, governador da Idumeia.
2Mc.12.33 Este saiu para enfrentá-los, comandando três mil soldados de infantaria e quatrocentos cavaleiros.
2Mc.12.34 Começaram a luta, e alguns judeus caíram mortos.
2Mc.12.35 Um tal de Dositeu, dos tubianos, fortíssimo soldado de cavalaria, enfrentou Górgias, agarrou-o pelo manto e o foi arrastando com força, querendo pegar vivo o amaldiçoado. Um cavaleiro trácio, porém, atacou Dositeu e lhe cortou o ombro. Dessa forma, Górgias pôde fugir para Marisa.
2Mc.12.36 Os soldados de Esdris já estavam exaustos de tanto lutar. Então Judas invocou o Senhor, suplicando-lhe que se mostrasse aliado e comandante dessa batalha.
2Mc.12.37 Em seguida, lançou o grito de guerra na língua materna e, cantando hinos, lançou-se de surpresa contra os soldados de Górgias, obrigando-os a fugir.
2Mc.12.38 Após reunir o seu exército, Judas chegou até a cidade de Adulam. No sétimo dia, depois de se purificarem conforme o costume, celebraram o sábado.
2Mc.12.39 No dia seguinte, como a tarefa era urgente, os homens de Judas foram recolher os corpos daqueles que tinham morrido na batalha, a fim de sepultá-los ao lado dos parentes, nos túmulos de seus antepassados.
2Mc.12.40 Foi então que encontraram, por baixo das roupas de cada um dos mortos, objectos consagrados aos ídolos de Jâmnia, coisa que a Lei proibia aos judeus. Então ficou claro para todos o motivo da morte deles.
2Mc.12.41 E todos louvaram a maneira de agir do Senhor, que julga com justiça e coloca às claras as coisas escondidas.
2Mc.12.42 Puseram-se em oração, suplicando que o pecado cometido fosse totalmente cancelado. O nobre Judas pediu ao povo para ficar longe do pecado, pois acabava de ver, com seus próprios olhos, o que tinha acontecido por causa do pecado daqueles que tinham morrido na batalha.
2Mc.12.43 Então fizeram uma colecta individual, reuniram duas mil moedas de prata e mandaram a Jerusalém, a fim de que fosse oferecido um sacrifício pelo pecado. Ele agiu com grande rectidão e nobreza, pensando na ressurreição.
2Mc.12.44 Se não tivesse esperança na ressurreição dos que tinham morrido na batalha, seria coisa inútil e tola rezar pelos mortos.
2Mc.12.45 Mas, considerando que existe uma bela recompensa guardada para aqueles que são fiéis até à morte, então esse é um pensamento santo e piedoso. Por isso, mandou oferecer um sacrifício pelo pecado dos que tinham morrido, para que fossem libertados do pecado.

 

2Mc.13.1 No ano cento e quarenta e nove, chegou até ao pessoal de Judas a notícia de que Antíoco Eupátor estava se aproximando com grande exército para lutar contra a Judeia.
2Mc.13.2 Com ele vinha Lísias, que era o seu tutor e regente do reino. Os dois comandavam um exército grego de cento e dez mil soldados de infantaria, cinco mil e trezentos cavaleiros, vinte e dois elefantes e trezentos carros armados de foices.
2Mc.13.3 Menelau se ajuntou a eles e, com muita bajulação, encorajava Antíoco. Ele não estava pensando na pátria, mas em recuperar o poder.
2Mc.13.4 O Rei dos reis, porém, provocou o ódio de Antíoco contra esse criminoso, quando Lísias mostrou que era Menelau o causador de todas essas desgraças. Então o rei mandou levá-lo para a Bereia e aí matá-lo, segundo o costume do lugar.
2Mc.13.5 Aí existe uma torre de vinte e cinco metros de altura, cheia de cinzas, provida de máquina giratória inclinada de todos os lados em direcção à cinza.
2Mc.13.6 Aí são jogados para a morte os condenados por roubo de coisas sagradas ou por outros crimes maiores.
2Mc.13.7 Foi dessa forma que Menelau encontrou a morte, sem merecer nem mesmo a terra da sepultura.
2Mc.13.8 E isso com plena justiça, pois ele tinha cometido muitos pecados contra o altar, onde não só o fogo, mas até a cinza é pura. E na cinza ele encontrou a morte.
2Mc.13.9 O rei vinha com fúria de bárbaro, querendo mostrar aos judeus coisas ainda piores que as acontecidas no tempo de seu pai.
2Mc.13.10 Sabendo disso, Judas mandou que o povo invocasse dia e noite ao Senhor, para que, agora também como em outras vezes, ele socorresse os que estavam para ser privados da Lei, da pátria e do Templo sagrado;
2Mc.13.11 e não permitisse que pagãos blasfemos submetessem o povo, que mal estava começando a respirar.
2Mc.13.12 Todos juntos fizeram isso, suplicando ao Senhor misericordioso com lágrimas, jejuns e prostrados no chão, por três dias sem parar. Depois, Judas disse que eles deviam preparar-se.
2Mc.13.13 Privadamente, ele se reuniu com os anciãos e decidiu que iria sair para a luta, a fim de decidir a questão com a ajuda de Deus, em vez de esperar que o rei invadisse a Judeia com seu exército e tomasse a cidade.
2Mc.13.14 Confiando o êxito ao Criador do mundo, animou seus companheiros a lutarem nobremente até a morte, pela Lei, pelo Templo, pela cidade, pela pátria e pelos seus direitos de cidadãos. Em seguida, acampou perto de Modin.
2Mc.13.15 Deu a seus comandados a palavra de ordem: "Vitória de Deus!" À noite, acompanhado de alguns jovens escolhidos entre os mais valentes, atacou a tenda do rei no seu próprio acampamento. Matou cerca de dois mil homens e também o maior dos elefantes, juntamente com o soldado que ficava na torrinha em cima do elefante.
2Mc.13.16 Em resumo, encheram de terror e confusão o acampamento deles. E saíram bem sucedidos,
2Mc.13.17 quando o dia já começava a raiar. Isso aconteceu por causa da protecção do Senhor, que auxiliou Judas.
2Mc.13.18 Depois de perceber uma amostra da ousadia dos judeus, o rei tentou apoderar-se de posições deles, valendo-se de astúcia.
2Mc.13.19 Marchou contra Bet-Sur, uma segura e bem armada fortaleza dos judeus. Mas foi diversas vezes rechaçado, derrotado e vencido.
2Mc.13.20 Judas conseguia mandar, para os que estavam dentro da fortaleza, tudo aquilo de que precisavam.
2Mc.13.21 Entretanto, um tal de Rodoco, das fileiras judaicas, estava passando os segredos de guerra para os inimigos. Ele foi procurado, preso e executado.
2Mc.13.22 Pela segunda vez, o rei conferenciou com os que estavam em Bet-Sur. Ofereceu a paz, aliou-se com eles e se retirou. Atacou os companheiros de Judas, mas foi derrotado.
2Mc.13.23 O rei ficou sabendo que Filipe, deixado na administração do governo em Antioquia, tinha se revoltado. Desolado, entrou em negociação com os judeus, aliou-se com eles e jurou respeitar todas as condições justas. Feito o acordo, ofereceu um sacrifício, honrou o Templo e teve consideração para com o lugar sagrado.
2Mc.13.24 Acolheu o Macabeu e deixou Hegemónides como comandante da região que vai desde Ptolemaida até Gerra.
2Mc.13.25 Em seguida, foi para Ptolemaida. Os cidadãos do lugar andavam descontentes com os acordos, pois estavam irritados com aqueles que queriam abolir os privilégios deles.
2Mc.13.26 Lísias subiu ao palanque, defendeu-se o melhor que pôde, os convenceu, os acalmou, conseguiu a adesão deles, e partiu para Antioquia. Assim terminou a expedição e a volta do rei.

 

2Mc.14.1 Três anos depois, os companheiros de Judas souberam que Demétrio, filho de Seleuco, tinha desembarcado no porto de Trípoli com grande exército e uma frota de navios,
2Mc.14.2 e que tinha tomado o país, depois de eliminar Antíoco e seu tutor Lísias.
2Mc.14.3 Tal Alcimo, que tinha sido sumo-sacerdote e se contaminara voluntariamente por ocasião da revolta, percebeu que para ele não haveria mais salvação, e que não lhe seria jamais permitido aproximar-se do altar sagrado.
2Mc.14.4 Por volta do ano cento e cinquenta e um, procurou o rei Demétrio, levando-lhe uma coroa de ouro, um ramo de palmeira e alguns dos ramos de oliveira que é costume oferecer no Templo. E nesse dia não pediu nada.
2Mc.14.5 Encontrou, porém, uma oportunidade favorável para a sua loucura, quando Demétrio o chamou diante do conselho. Interrogado sobre a disposição e intenções dos judeus, ele respondeu:
2Mc.14.6 "Os judeus chamados hassideus, dirigidos por Judas Macabeu, fomentam a guerra e provocam revoltas, impedindo que o reino alcance sua desejada estabilidade.
2Mc.14.7 Por isso, depois de ter perdido o cargo que recebi dos meus pais, isto é, o cargo de sumo-sacerdote, aqui me apresento agora.
2Mc.14.8 Estou sinceramente querendo, em primeiro lugar, os interesses do rei e, em segundo, os interesses de meus concidadãos, porque é pela falta de bom senso dos mencionados homens que o nosso povo está sofrendo muito.
2Mc.14.9 Desejo que o senhor rei se informe de tudo isso em pormenores e, segundo sua bondade compreensiva para com todos, assuma o cuidado do país e do nosso povo, que está rodeado de perigos.
2Mc.14.10 Enquanto Judas viver, será impossível alcançar a paz".
2Mc.14.11 Dito isso, logo os outros amigos do rei, irritados com os sucessos de Judas, começaram a inflamar Demétrio.
2Mc.14.12 Então ele escolheu Nicanor, comandante do batalhão dos elefantes, o nomeou governador da Judeia e para aí o mandou.
2Mc.14.13 Deu-lhe ordens para matar Judas, dispersar seus companheiros, e colocar Alcimo como sumo sacerdote do Templo máximo.
2Mc.14.14 Os pagãos da Judeia, que tinham fugido de Judas, se ajuntaram em torno de Nicanor, imaginando que o malogro e a desgraça dos judeus reverteriam em felicidade para eles.
2Mc.14.15 Logo que ouviram falar da expedição de Nicanor e que os pagãos estavam também contra eles, os judeus cobriram a cabeça de terra, começaram a rezar a Deus, que tinha feito deles o seu povo para sempre, e que sempre se manifestava em socorro daqueles que eram a sua herança.
2Mc.14.16 Em seguida, a uma ordem do comandante, saíram imediatamente daí e foram enfrentar os homens de Nicanor no povoado de Dessau.
2Mc.14.17 Simão, irmão de Judas, enfrentou Nicanor. Contudo, foi obrigado a ceder por causa do aparecimento inesperado do inimigo.
2Mc.14.18 Apesar disso, ouvindo falar da coragem que os companheiros de Judas tinham e da disponibilidade que demonstravam em lutar pela pátria, Nicanor ficou receoso de resolver a questão com derramamento de sangue.
2Mc.14.19 Por isso, mandou Possidónio, Teódoto e Matatias para negociar a paz com os judeus.
2Mc.14.20 Depois de amplo debate sobre as condições, cada chefe as comunicou à sua tropa, e todos concordaram com o tratado de paz.
2Mc.14.21 Marcaram a data para uma entrevista privada dos chefes num lugar determinado. De ambos os lados se adiantou uma liteira, e dispuseram cadeiras de honra.
2Mc.14.22 Judas, entretanto, tinha distribuído homens armados em lugares estratégicos, prontos para intervir, se o inimigo cometesse alguma traição. A entrevista se realizou normalmente.
2Mc.14.23 Nicanor passou a viver em Jerusalém, mas nada fez de inconveniente. Ao contrário, licenciou as tropas que, em massa, se haviam juntado a ele.
2Mc.14.24 Judas comparecia todos os dias à presença de Nicanor que era interiormente muito favorável a Judas.
2Mc.14.25 Nicanor chegou a aconselhar Judas a se casar e ter filhos. E Judas se casou e viveu feliz como cidadão comum.
2Mc.14.26 Alcimo, vendo a amizade entre os dois, pegou uma cópia do acordo que tinham feito e foi procurar Demétrio, para lhe dizer que Nicanor estava com intenções contrárias ao seu governo, pois até havia nomeado como seu sucessor a Judas, o agitador do reino.
2Mc.14.27 O rei ficou furioso e, provocado pelas acusações desse perverso, escreveu uma carta a Nicanor, condenando o acordo feito e dizendo que mandasse imediatamente o Macabeu preso para Antioquia.
2Mc.14.28 Ao receber essas ordens, Nicanor ficou inteiramente perdido. Era muito difícil para ele desfazer um acordo realizado com uma pessoa que nada tinha praticado de injusto.
2Mc.14.29 Contudo, como não podia contrariar as ordens do rei, ficou esperando uma ocasião para cumprir a ordem através de estratagema.
2Mc.14.30 Judas, porém, percebeu que Nicanor o estava tratando com mais frieza, e que as relações normais se haviam tornado difíceis. Desconfiando que esse comportamento ríspido não era sinal de boa coisa, reuniu bom número de companheiros e escapou de Nicanor secretamente.
2Mc.14.31 Nicanor, ao perceber que tinha sido habilmente enganado por Judas, dirigiu-se imediatamente ao grandioso e santo Templo, e deu ordem aos que estavam apresentando os sacrifícios de praxe, que entregassem Judas.
2Mc.14.32 Eles disseram e juraram que não sabiam onde se poderia encontrar o homem que ele procurava.
2Mc.14.33 Então, erguendo a mão na direcção do santuário, Nicanor jurou: "Se vocês não me entregarem Judas preso, eu destruirei esta morada de Deus, demolirei o altar e erguerei aqui um belo templo para Dionísio".
2Mc.14.34 Dito isso, retirou-se. Os sacerdotes, então, ergueram as mãos para o céu e invocaram a Deus, que sempre luta em favor da nossa nação, dizendo:
2Mc.14.35 "Tu, Senhor, que de nada necessitas no mundo, julgaste bom colocar no meio de nós o Templo onde moras.
2Mc.14.36 Agora, Senhor santo e fonte de toda a santidade, conserva sempre sem contaminação esta casa que acaba de ser purificada".
2Mc.14.37 Razias, membro do conselho de anciãos em Jerusalém, foi denunciado a Nicanor. Ele era defensor de seus concidadãos, homem de muito boa fama e, por causa da sua bondade, era chamado "pai dos judeus".
2Mc.14.38 Já fazia algum tempo, na época da revolta, que ele também tinha sido acusado de praticar o judaísmo e se havia entregue ao judaísmo de corpo e alma, sem reservas.
2Mc.14.39 Nicanor, querendo mostrar hostilidade contra os judeus, mandou mais de quinhentos soldados para prender esse homem.
2Mc.14.40 Calculava que estaria dando um duro golpe nos judeus com a prisão dele.
2Mc.14.41 Quando as tropas estavam quase tomando a torre e já forçavam a porta do pátio, foi dada a ordem de trazer fogo para incendiar as portas. Então Razias, sentindo-se cercado por todos os lados, atirou-se sobre a própria espada.
2Mc.14.42 Cheio de brio, ele preferiu morrer do que cair nas mãos desses criminosos e ter a sua dignidade insultada da maneira mais baixa.
2Mc.14.43 Mas, como o ferimento não foi tão certeiro por causa da precipitação da luta, e como o batalhão já entrava pelos pórticos, ele correu corajosamente até a muralha e valentemente se jogou contra o pelotão de soldados.
2Mc.14.44 Todos recuaram rapidamente, abrindo um espaço, onde ele caiu.
2Mc.14.45 Capaz ainda de respirar, e com o ânimo inflamado, ele se levantou, perdendo sangue aos borbotões e, por mais agudas que fossem as dores, correu pelo meio do batalhão. Depois, subindo a uma pedra íngreme,
2Mc.14.46 já completamente sem sangue, arrancou os próprios intestinos e com as duas mãos os atirou no pelotão de soldados. Suplicou ao Senhor da vida e do espírito que os devolvesse a ele novamente. E morreu.

 

2Mc.15.1 Nicanor soube que os homens de Judas estavam na Samaria. Então planejou atacá-los de modo seguro no dia do repouso.
2Mc.15.2 Alguns judeus, que estavam sendo forçados a acompanhá-lo, disseram: "Não os mate de maneira tão bárbara e selvagem! Respeite esse dia, que foi honrado com o nome de santo por aquele que olha por todas as coisas".
2Mc.15.3 Mas o bandido perguntou se existe alguém poderoso no céu, que tenha determinado celebrar o dia de sábado!
2Mc.15.4 Eles responderam sem vacilar: "Sim. É o Senhor vivo, o Soberano do céu. Ele mandou celebrar o dia do sábado".
2Mc.15.5 O outro continuou: "Eu sou o soberano da terra. E ordeno pegar em armas e defender os interesses do rei". Apesar de tudo, ele não conseguiu levar o seu projecto maligno até o fim.
2Mc.15.6 Nicanor, cheio de arrogância, pretendia fazer um troféu colectivo com as coisas que tomaria dos homens de Judas.
2Mc.15.7 Enquanto isso, o Macabeu não perdia a confiança, esperando receber do Senhor o socorro.
2Mc.15.8 Procurou animar seus companheiros, para que não tivessem medo do ataque dos pagãos, mas que lembrassem os auxílios que o Céu lhes tinha concedido, e esperassem também agora a vitória que o Todo-poderoso lhes ia conceder.
2Mc.15.9 Em seguida, animou-os com textos da Lei e dos Profetas, e, recordando também as lutas pelas quais já tinham passado, os tornou ainda mais entusiasmados.
2Mc.15.10 Depois de os animar, deu-lhes instruções, chamando a atenção deles para a falta de palavra dos pagãos que tinham violado os acordos.
2Mc.15.11 Tendo armado cada um dos seus soldados, não tanto com a segurança oferecida pelos escudos e lanças, mas principalmente com a força das boas palavras, Judas ainda lhes contou um sonho digno de fé, uma espécie de visão, que muito os alegrou.
2Mc.15.12 No sonho, ele viu o seguinte: Onias, o antigo sumo-sacerdote, homem coreto e bom, respeitoso no encontro com as pessoas, manso no comportamento, precavido e delicado no falar, e bem educado desde criança em todo o seu comportamento virtuoso, esse homem, de mãos erguidas, rezava em favor de toda a comunidade judaica.
2Mc.15.13 Da mesma forma, apareceu outra personagem extraordinária pela sua velhice e dignidade, envolta num clarão de majestade maravilhosa.
2Mc.15.14 Então Onias disse: "Este é o amigo dos seus irmãos, que está sempre rezando muito pelo povo e pela cidade santa. É Jeremias, o profeta de Deus".
2Mc.15.15 Então Jeremias estendeu a mão direita e entregou a Judas uma espada de ouro, dizendo:
2Mc.15.16 "Receba a espada santa, que é dom de Deus. Com ela, você destruirá os inimigos".
2Mc.15.17 Animados com as palavras de Judas, realmente belas e capazes de encorajar e encher de valentia o ânimo dos jovens, os judeus resolveram não continuar acampados, mas tomar ousadamente a ofensiva. Assim, lutando com toda a valentia, resolveram decidir a questão através das armas, pois tanto a cidade como a religião e o Templo corriam perigo.
2Mc.15.18 A preocupação deles não era tanto suas mulheres e crianças, irmãos e parentes. Eles se preocupavam sobretudo com o Templo consagrado.
2Mc.15.19 Entretanto, não era menor a preocupação dos que tinham ficado na cidade, com medo da batalha em campo aberto.
2Mc.15.20 Enquanto todos estavam esperando o desfecho iminente, o inimigo se concentrava, alinhando o exército para a batalha, colocando os elefantes em pontos estratégicos e distribuindo a cavalaria pelas alas.
2Mc.15.21 Ao ver as divisões do exército se apresentando, os vários tipos de armas e o aspecto selvagem dos elefantes, o Macabeu elevou as mãos para o céu e suplicou ao Senhor que faz prodígios, certo de que ele concede a vitória aos que dela são dignos, não pelas armas, mas pelo meio que ele mesmo deseja.
2Mc.15.22 Em sua oração, Judas disse: "Senhor, tu mandaste, em favor do rei Ezequias de Judá, o teu mensageiro que eliminou do acampamento de Senaquerib cento e oitenta e cinco mil homens.
2Mc.15.23 Agora, Soberano do céu, envia um anjo bom à nossa frente para provocar terror e tremor.
2Mc.15.24 Que a grandeza do teu braço quebre aqueles que blasfemaram contra o teu povo santo". E assim terminou a sua oração.
2Mc.15.25 Os homens de Nicanor marchavam ao som das trombetas e gritos de guerra.
2Mc.15.26 Os de Judas, ao contrário, foram se infiltrando no meio dos inimigos, fazendo invocações e preces.
2Mc.15.27 Combatiam com as mãos e rezavam com o coração, deixando mais de trinta e cinco mil homens estendidos por terra. E transbordaram de alegria pela clara manifestação de Deus.
2Mc.15.28 Terminada a batalha, quando já se retiravam cheios de alegria, reconheceram Nicanor caído, com a sua armadura.
2Mc.15.29 Em meio a gritarias e alvoroço, louvavam o Senhor na língua materna.
2Mc.15.30 Judas que sempre fora, de corpo e alma, o primeiro na luta por seus concidadãos e que nunca perdera sua afeição juvenil para com seus compatriotas, mandou cortar a cabeça e o braço inteiro de Nicanor, levando-os para Jerusalém.
2Mc.15.31 Chegando a Jerusalém, convocou os concidadãos e sacerdotes. E de pé, diante do altar, mandou chamar os que ocupavam a fortaleza.
2Mc.15.32 Então mostrou a cabeça do imundo Nicanor e a mão que o blasfemador tinha erguido, com toda a arrogância, contra a morada santa do Todo-poderoso.
2Mc.15.33 Arrancou a língua do desalmado Nicanor e mandou cortá-la em pedaços para os passarinhos. O braço, símbolo da sua loucura, mandou pendurar na frente do Templo.
2Mc.15.34 Todos elevaram os olhos ao céu, louvando o Senhor glorioso e dizendo: "Bendito seja aquele que conservou sem contaminação o seu lugar sagrado".
2Mc.15.35 Judas mandou pendurar na fortaleza a cabeça de Nicanor, como prova visível e clara da ajuda do Senhor.
2Mc.15.36 Então todos decidiram, de comum acordo, que esse dia nunca mais passaria despercebido, mas que seria sempre comemorado no dia treze do mês doze, em aramaico o mês de Adar, ou seja, na véspera do dia de Mardoqueu.
2Mc.15.37 Assim terminou a história de Nicanor. A partir desse tempo, a cidade passou a ser governada pelos hebreus. Por isso, aqui encerro a minha narrativa.
2Mc.15.38 Se ficou boa e literariamente agradável, era o que eu queria. Se está fraca e medíocre, é o que fui capaz de fazer.
2Mc.15.39 É desagradável beber só vinho ou só água, ao passo que vinho misturado com água é agradável e gostoso. O mesmo acontece numa obra literária, onde o tempero do estilo é um prazer para o ouvido do leitor. E assim termino.

 

 

Sabedoria

Sbd.1.1 Amai a justiça, vós que governais a terra, tende para com o Senhor sentimentos perfeitos, e procurai-o na simplicidade do coração,
Sbd.1.2 porque ele é encontrado pelos que o não tentam, e se revela aos que não lhe recusam sua confiança;
Sbd.1.3 com efeito, os pensamentos tortuosos afastam de Deus, e o seu poder, posto à prova, triunfa dos insensatos.
Sbd.1.4 A Sabedoria não entrará na alma perversa, nem habitará no corpo sujeito ao pecado;
Sbd.1.5 o Espírito Santo educador (das almas) fugirá da perfídia, afastar-se-á dos pensamentos insensatos, e a iniquidade que sobrevém o repelirá.
Sbd.1.6 Sim, a Sabedoria é um espírito que ama os homens, mas não deixará sem castigo o blasfemador pelo crime de seus lábios, porque Deus lhe sonda os rins, penetra até o fundo de seu coração, e ouve as suas palavras.
Sbd.1.7 Com efeito, o Espírito do Senhor enche o universo, e ele, que tem unidas todas as coisas, ouve toda voz.
Sbd.1.8 Aquele que profere uma linguagem iníqua, não pode fugir dele, e a Justiça vingadora não o deixará escapar;
Sbd.1.9 pois os próprios desígnios do ímpio serão cuidadosamente examinados; o som de suas palavras chegará até o Senhor, que lhe imporá o castigo pelos seus pecados.
Sbd.1.10 É, com efeito, um ouvido cioso, que tudo ouve: nem a menor murmuração lhe passa despercebida.
Sbd.1.11 Acautelai-vos, pois, de queixar-vos inutilmente, evitai que vossa língua se entregue à crítica, porque até mesmo uma palavra secreta não ficará sem castigo, e a boca que acusa com injustiça arrasta a alma à morte.
Sbd.1.12 Não procureis a morte por uma vida desregrada, não sejais o próprio artífice de vossa perda.
Sbd.1.13 Deus não é o autor da morte, a perdição dos vivos não lhe dá alegria alguma.
Sbd.1.14 Ele criou tudo para a existência, e as criaturas do mundo devem cooperar para a salvação. Nelas nenhum princípio é funesto, e a morte não é a rainha da terra,
Sbd.1.15 porque a justiça é imortal.
Sbd.1.16 Mas, (a morte), os ímpios a chamam com o gesto e a voz. Crendo-a amiga, consomem-se de desejos, e fazem aliança com ela; de fato, eles merecem ser sua presa.

 

Sbd.2.1 Dizem, com efeito, nos seus falsos raciocínios: Curta é a nossa vida, e cheia de tristezas; para a morte não há remédio algum; não há notícia de ninguém que tenha voltado da região dos mortos.
Sbd.2.2 Um belo dia nascemos e, depois disso, seremos como se jamais tivéssemos sido! É fumaça a respiração de nossos narizes, e nosso pensamento, uma centelha que salta do bater de nosso coração!
Sbd.2.3 Extinta ela, nosso corpo se tornará pó, e o nosso espírito se dissipará como um vapor inconsistente!
Sbd.2.4 Com o tempo nosso nome cairá no esquecimento, e ninguém se lembrará de nossas obras. Nossa vida passará como os traços de uma nuvem, desvanecer-se-á como uma névoa que os raios do sol expulsam, e que seu calor dissipa.
Sbd.2.5 A passagem de uma sombra: eis a nossa vida, e nenhum reinício é possível uma vez chegado o fim, porque o selo lhe é aposto e ninguém volta.
Sbd.2.6 Vinde, portanto! Aproveitemo-nos das boas coisas que existem! Vivamente gozemos das criaturas durante nossa juventude!
Sbd.2.7 Inebriemo-nos de vinhos preciosos e de perfumes, e não deixemos passar a flor da primavera!
Sbd.2.8 Coroemo-nos de botões de rosas antes que eles murchem!
Sbd.2.9 Ninguém de nós falte à nossa orgia; em toda parte deixemos sinais de nossa alegria, porque esta é a nossa parte, esta a nossa sorte!
Sbd.2.10 Tiranizemos o justo na sua pobreza, não poupemos a viúva, e não tenhamos consideração com os cabelos brancos do ancião!
Sbd.2.11 Que a nossa força seja o critério do direito, porque o fraco, em verdade, não serve para nada.
Sbd.2.12 Cerquemos o justo, porque ele nos incomoda; é contrário às nossas acções; ele nos censura por violar a lei e nos acusa de contrariar a nossa educação.
Sbd.2.13 Ele se gaba de conhecer a Deus, e se chama a si mesmo filho do Senhor!
Sbd.2.14 Sua existência é uma censura às nossas ideias; basta sua vista para nos importunar.
Sbd.2.15 Sua vida, com efeito, não se parece com as outras, e os seus caminhos são muito diferentes.
Sbd.2.16 Ele nos tem por uma moeda de mau quilate, e afasta-se de nossos caminhos como de manchas. Julga feliz a morte do justo, e gloria-se de ter Deus por pai.
Sbd.2.17 Vejamos, pois, se suas palavras são verdadeiras, e experimentemos o que acontecerá quando da sua morte,
Sbd.2.18 porque, se o justo é filho de Deus, Deus o defenderá, e o tirará das mãos dos seus adversários.
Sbd.2.19 Provemo-lo por ultrajes e torturas, a fim de conhecer a sua doçura e estarmos cientes de sua paciência.
Sbd.2.20 Condenemo-lo a uma morte infame. Porque, conforme ele, Deus deve intervir.
Sbd.2.21 Eis o que pensam, mas enganam-se, sua malícia os cega:
Sbd.2.22 eles desconhecem os segredos de Deus, não esperam que a santidade seja recompensada, e não acreditam na glorificação das almas puras.
Sbd.2.23 Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de sua própria natureza.
Sbd.2.24 É por inveja do demónio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demónio prová-la-ão.

 

Sbd.3.1 Mas as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará.
Sbd.3.2 Aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos: seu desenlace é julgado como uma desgraça.
Sbd.3.3 a sua morte como uma destruição, quando na verdade estão na paz!
Sbd.3.4 Se aos olhos dos homens suportaram uma correcção, a esperança deles era portadora de imortalidade,
Sbd.3.5 e por terem sofrido um pouco, receberão grandes bens, porque Deus, que os provou, achou-os dignos de si.
Sbd.3.6 Ele os provou como ouro na fornalha, e os acolheu como holocausto.
Sbd.3.7 No dia de sua visita, eles se reanimarão, e correrão como centelhas na palha.
Sbd.3.8 Eles julgarão as nações e dominarão os povos, e o Senhor reinará sobre eles para sempre.
Sbd.3.9 Os que põem sua confiança nele compreenderão a verdade, e os que são fiéis habitarão com ele no amor: porque seus eleitos são dignos de favor e misericórdia.
Sbd.3.10 Mas os ímpios terão o castigo que merecem seus pensamentos, uma vez que desprezaram o justo e se separaram do Senhor: e desgraçado é aquele que rejeita a sabedoria e a disciplina!
Sbd.3.11 A esperança deles é vã, seus sofrimentos sem proveito, e as obras deles inúteis.
Sbd.3.12 Suas mulheres são insensatas e seus filhos malvados; a raça deles é maldita.
Sbd.3.13 Feliz a mulher estéril, mas pura de toda a mancha, a que não manchou seu tálamo: ela carregará seu fruto no dia da retribuição das almas.
Sbd.3.14 Feliz o eunuco cuja mão não cometeu o mal, que não concebeu iniquidade contra o Senhor, porque ele receberá pela sua fidelidade uma graça de escol, e no templo do Senhor uma parte muito honrosa,
Sbd.3.15 porque é esplêndido o fruto de bons trabalhos, e a raiz da sabedoria é sempre fértil.
Sbd.3.16 Quanto aos filhos dos adúlteros, a nada chegarão, e a raça que descende do pecado será aniquilada.
Sbd.3.17 Ainda que vivam muito tempo, serão tidos por nada e, finalmente, sua velhice será sem honra.
Sbd.3.18 Caso morram cedo, não terão esperança alguma, e no dia do julgamento não encontrarão nenhuma piedade:
Sbd.3.19 porque é lamentável o fim de uma raça injusta.

 

Sbd.4.1 Mais vale uma vida sem filhos, mas rica de virtudes: sua memória será imortal, porque será conhecida de Deus e dos homens.
Sbd.4.2 Quando está presente, imitam-na; quando passada, desejam-na; ela leva na glória uma coroa eterna, por ter triunfado sem mancha nos combates.
Sbd.4.3 Mas para nada servirá, ainda que numerosa, a raça dos ímpios; procedendo de renovos bastardos, não estenderá raízes profundas, não se estabelecerá numa base sólida.
Sbd.4.4 Ainda que por algum tempo estenda seus ramos, estando instavelmente assentada, será abalada pelo vento e, pela violência da tempestade, será desarreigada.
Sbd.4.5 Os galhos serão quebrados antes do desenvolvimento, o fruto deles será inútil, verde demais para ser comido, e impróprio para qualquer uso,
Sbd.4.6 porque os filhos nascidos de uniões ilícitas serão no dia do juízo testemunhas a deporem contra seus pais.
Sbd.4.7 Quanto ao justo, mesmo que morra antes da idade, gozará de repouso.
Sbd.4.8 A honra da velhice não provém de uma longa vida, e não se mede pelo número dos anos.
Sbd.4.9 Mas é a sabedoria que faz as vezes dos cabelos brancos; é uma vida pura que se tem em conta de velhice.
Sbd.4.10 Ele agradou a Deus e foi por ele amado, assim (Deus) o transferiu do meio dos pecadores onde vivia.
Sbd.4.11 Foi arrebatado para que a malícia lhe não corrompesse o sentimento, nem a astúcia lhe pervertesse a alma:
Sbd.4.12 porque a fascinação do vício atira um véu sobre a beleza moral, e o movimento das paixões mina uma alma ingénua.
Sbd.4.13 Tendo chegado rapidamente ao termo, percorreu uma longa carreira.
Sbd.4.14 Sua alma era agradável ao Senhor, e é por isso que ele o retirou depressa do meio da perversidade. Os povos que vêem esse modo de agir não o compreendem, e não reflectem nisto:
Sbd.4.15 que o favor de Deus e sua misericórdia são para seus eleitos, e sua assistência está no meio de seus fiéis.
Sbd.4.16 O justo, ao morrer, condena os ímpios que sobrevivem, e a juventude, atingindo tão depressa a perfeição, confunde a longa velhice do pecador.
Sbd.4.17 Eles verão o fim do sábio, e não compreenderão os desígnios do Senhor a seu respeito, nem por que ele o pôs em segurança.
Sbd.4.18 Eles verão e mostrarão desprezo, mas o Senhor zombará deles.
Sbd.4.19 Depois disso serão cadáveres sem honra, desterrados entre os mortos, numa eterna ignomínia, porque ele os ferirá, e os precipitará sem voz, abatê-los-á nas suas bases e os mergulhará na última desolação. Eles serão entregues à dor, e a memória deles perecerá.
Sbd.4.20 Comparecerão aterrorizados com a lembrança de seus pecados, e suas iniquidades se levantarão contra eles para os confundir.

 

Sbd.5.1 Então, com grande confiança, o justo se levantará em face dos que o perseguiram e zombaram dos seus males aqui em baixo.
Sbd.5.2 Diante de sua vista serão presos de grande temor e tomados de assombro ao vê-lo salvo contra sua expectativa;
Sbd.5.3 tocados de arrependimento, dirão entre si, e, gemendo na angústia de sua alma, dirão:
Sbd.5.4 Ei-lo, aquele de quem outrora escarnecemos, e a quem loucamente cobrimos de insultos! Considerávamos sua vida como uma loucura, e sua morte como uma vergonha.
Sbd.5.5 Como, pois, é ele do número dos filhos de Deus, e como está seu lugar entre os santos?
Sbd.5.6 Portanto, nós nos desgarramos para longe da verdade: a luz da justiça não brilhou para nós e o sol não se levantou sobre nós!
Sbd.5.7 Nós nos manchamos nas sendas da iniquidade e da perdição, erramos pelos desertos sem caminhos e não conhecemos o caminho do Senhor!
Sbd.5.8 O que ganhamos com nosso orgulho, e que nos trouxe a riqueza unida à arrogância?
Sbd.5.9 Tudo isso desapareceu como sombra, como notícia que passa;
Sbd.5.10 como navio que fende a água agitada, sem que se possa reencontrar o rasto de seu itinerário, nem a esteira de sua quilha nas ondas.
Sbd.5.11 Como a ave que, atravessando o ar em seu voo, não deixa após si o traço de sua passagem, mas, ferindo o ar com suas penas, fende-o com a impetuosa força do bater de suas asas, atravessa-o e logo nem se nota indício de sua passagem;
Sbd.5.12 como quando uma flecha, que é lançada ao alvo, o ar que ela cortou volta imediatamente à sua posição de modo que não se pode distinguir sua trajectória,
Sbd.5.13 assim, também nós, apenas nascidos, cessamos de ser, e não podemos mostrar traço algum de virtude: é no mal que nossa vida se consumiu!
Sbd.5.14 Assim a esperança do ímpio é como a poeira levada pelo vento, e como uma leve espuma espalhada pela tempestade; ela se dissipa como o fumo ao vento, e passa como a lembrança do hóspede de um dia.
Sbd.5.15 Mas os justos viverão eternamente; sua recompensa está no Senhor, e o Altíssimo cuidará deles.
Sbd.5.16 Por isso receberão a régia coroa de glória, e o diadema da beleza da mão do Senhor, porque os cobrirá com sua direita, e os protegerá com seu braço.
Sbd.5.17 Por armadura tomará seu zelo cioso, e armará as criaturas para se vingar de seus inimigos.
Sbd.5.18 Tomará por couraça a justiça, e por capacete a integridade no julgamento.
Sbd.5.19 Ele se cobrirá com a santidade, como com um impenetrável escudo,
Sbd.5.20 afiará o gume de sua ira para lhe servir de espada, e o mundo se reunirá a ele na luta contra os insensatos.
Sbd.5.21 Os raios partirão como flechas bem dirigidas, e, como de um arco bem distendido, voarão das nuvens para o alvo;
Sbd.5.22 uma balista fará cair uma pesada saraiva de ira; a água do mar se levantará em turbilhão contra eles e os rios os arrastarão impetuosamente.
Sbd.5.23 O sopro do Todo-poderoso se insurgirá contra eles e os dispersará como um furacão; a iniquidade fará de toda a terra um deserto, e a malícia derribará os tronos dos poderosos!

 

Sbd.6.1 Ouvi, pois, ó reis, e entendei; aprendei vós que governais o universo!
Sbd.6.2 Prestai ouvidos, vós que reinais sobre as nações e vos gloriais do número de vossos povos!
Sbd.6.3 Porque é do Senhor que recebestes o poder, e é do Altíssimo que tendes o poderio; é ele que examinará vossas obras e sondará vossos pensamentos!
Sbd.6.4 Se, ministros do reino, vós não julgastes equitativamente, nem observastes a lei, nem andastes segundo a vontade de Deus,
Sbd.6.5 ele se apresentará a vós, terrível, inesperado, porque aqueles que dominam serão rigorosamente julgados.
Sbd.6.6 Ao menor, com efeito, a compaixão atrai o perdão, mas os poderosos serão examinados sem piedade.
Sbd.6.7 O Senhor de todos não fará excepção para ninguém, e não se deixará impor pela grandeza, porque, pequenos ou grandes, é ele que a todos criou, e de todos cuida igualmente;
Sbd.6.8 mas para os poderosos o julgamento será severo.
Sbd.6.9 É a vós, pois, ó príncipes, que me dirijo, para que aprendais a Sabedoria e não resvaleis,
Sbd.6.10 porque aqueles que santamente observarem as santas leis serão santificados, e os que as tiverem estudado poderão justificar-se.
Sbd.6.11 Anelai, pois, pelas minhas palavras, reclamai-as ardentemente e sereis instruídos.
Sbd.6.12 Resplandecente é a Sabedoria, e sua beleza é inalterável: os que a amam, descobrem-na facilmente.
Sbd.6.13 Os que a procuram encontram-na. Ela antecipa-se aos que a desejam.
Sbd.6.14 Quem, para possuí-la, levanta-se de madrugada, não terá trabalho, porque a encontrará sentada à sua porta.
Sbd.6.15 Fazê-la objecto de seus pensamentos é a prudência perfeita, e quem por ela vigia, em breve não terá mais cuidado.
Sbd.6.16 Ela mesma vai à procura dos que são dignos dela; ela lhes aparece nos caminhos cheia de benevolência, e vai ao encontro deles em todos os seus pensamentos,
Sbd.6.17 porque, verdadeiramente, desde o começo, seu desejo é instruir, e desejar instruir-se é amá-la.
Sbd.6.18 Mas amá-la é obedecer às suas leis, e obedecer às suas leis é a garantia da imortalidade.
Sbd.6.19 Ora, a imortalidade faz habitar junto de Deus;
Sbd.6.20 assim o desejo da Sabedoria conduz ao Reino!
Sbd.6.21 Se, pois, ceptros e tronos vos agradam, ó vós que governais os povos, honrai a Sabedoria, e reinareis eternamente.
Sbd.6.22 Mas eu vou dizer o que é a Sabedoria e como ela nasceu. Não vos esconderei os seus mistérios; mas investigá-la-ei até sua mais remota origem; porei à luz o que dela pode ser conhecido, e não me afastarei da verdade.
Sbd.6.23 Não imitarei aquele a quem a inveja consome, porque esse tal não tem nada a ver com a Sabedoria:
Sbd.6.24 é no grande número de sábios que se encontra a salvação do mundo, e um rei sensato faz a prosperidade de seu povo.
Sbd.6.25 Deixai-vos, pois, instruir por minhas palavras, e nelas encontrareis grande proveito.

 

Sbd.7.1 Eu mesmo não passo de um mortal como todos os outros, e descendo do primeiro homem formado da terra. Meu corpo foi formado no seio de minha mãe,
Sbd.7.2 onde, durante dez meses, no sangue tomou consistência, da semente viril e do prazer ajuntado à união (conjugal).
Sbd.7.3 Eu também, desde meu nascimento, respirei o ar comum; eu caí, da mesma maneira que todos, sobre a mesma terra, e, como todos, nos mesmos prantos soltei o primeiro grito.
Sbd.7.4 Envolto em faixas fui criado no meio de assíduos cuidados;
Sbd.7.5 porque nenhum rei teve outro início na existência;
Sbd.7.6 para todos a entrada na vida é a mesma e a partida semelhante.
Sbd.7.7 Assim implorei e a inteligência me foi dada, supliquei e o espírito da sabedoria veio a mim.
Sbd.7.8 Eu a preferi aos ceptros e tronos, e avaliei a riqueza como um nada ao lado da Sabedoria.
Sbd.7.9 Não comparei a ela a pedra preciosa, porque todo o ouro ao lado dela é apenas um pouco de areia, e porque a prata diante dela será tida como lama.
Sbd.7.10 Eu a amei mais do que a saúde e a beleza, e gozei dela mais do que da claridade do sol, porque a claridade que dela emana jamais se extingue.
Sbd.7.11 Com ela me vieram todos os bens, e nas suas mãos inumeráveis riquezas.
Sbd.7.12 De todos esses bens eu me alegrei, porque é a Sabedoria que os guia, mas ignorava que ela fosse sua mãe.
Sbd.7.13 Eu estudei lealmente e reparto sem inveja e não escondo a riqueza que ela encerra,
Sbd.7.14 porque ela é para os homens um tesouro inesgotável; e os que a adquirem preparam-se para se tornar amigos de Deus, recomendados (a ele) pela educação que ela lhes dá.
Sbd.7.15 Que Deus me permita falar como eu quisera, e ter pensamentos dignos dos dons que recebi, porque é ele mesmo quem guia a sabedoria e emenda os sábios,
Sbd.7.16 porque nós estamos nas suas mãos, nós e nossos discursos, toda a nossa inteligência e nossa habilidade;
Sbd.7.17 foi ele quem me deu a verdadeira ciência de todas as coisas, quem me fez conhecer a constituição do mundo e as virtudes dos elementos,
Sbd.7.18 o começo, o fim e o meio dos tempos, a sucessão dos solstícios e as mutações das estações,
Sbd.7.19 os ciclos do ano e as posições dos astros,
Sbd.7.20 a natureza dos animais e os instintos dos brutos, os poderes dos espíritos e os pensamentos dos homens, a variedade das plantas e as propriedades das raízes.
Sbd.7.21 Tudo que está escondido e tudo que está aparente eu conheço: porque foi a sabedoria, criadora de todas as coisas, que mo ensinou.
Sbd.7.22 Há nela, com efeito, um espírito inteligente, santo, único, múltiplo, subtil, móvel, penetrante, puro, claro, inofensivo, inclinado ao bem, agudo,
Sbd.7.23 livre, benéfico, benévolo, estável, seguro, livre de inquietação, que pode tudo, que cuida de tudo, que penetra em todos os espíritos, os inteligentes, os puros, os mais subtis.
Sbd.7.24 Mais ágil que todo o movimento é a Sabedoria, ela atravessa e penetra tudo, graças à sua pureza.
Sbd.7.25 Ela é um sopro do poder de Deus, uma irradiação límpida da glória do Todo-poderoso; assim mancha nenhuma pode insinuar-se nela.
Sbd.7.26 É ela uma efusão da luz eterna, um espelho sem mancha da actividade de Deus, e uma imagem de sua bondade.
Sbd.7.27 Embora única, tudo pode; imutável em si mesma, renova todas as coisas. Ela se derrama de geração em geração nas almas santas e forma os amigos e os intérpretes de Deus,
Sbd.7.28 porque Deus somente ama quem vive com a sabedoria!
Sbd.7.29 É ela, com efeito, mais bela que o sol e ultrapassa o conjunto dos astros. Comparada à luz, ela se sobreleva,
Sbd.7.30 porque à luz sucede a noite, enquanto que, contra a Sabedoria, o mal não prevalece.

 

Sbd.8.1 Ela estende seu vigor de uma extremidade do mundo à outra e governa todas as coisas com felicidade.
Sbd.8.2 Eu a amei e procurei desde minha juventude, esforcei-me por tê-la por esposa e me enamorei de seus encantos.
Sbd.8.3 Ela mostra a nobreza de sua origem em conviver com Deus, ela é amada pelo Senhor de todas as coisas.
Sbd.8.4 Ela é iniciada na ciência de Deus e, por sua escolha, decide de suas obras.
Sbd.8.5 Se a riqueza é um bem desejável na vida, que há de mais rico que a Sabedoria que tudo criou?
Sbd.8.6 Se a inteligência do homem consegue operar, o que, então, mais que a Sabedoria, é artífice dos seres?
Sbd.8.7 E se alguém ama a justiça, seus trabalhos são virtudes; ela ensina a temperança e a prudência, a justiça e a força: não há ninguém que seja mais útil aos homens na vida.
Sbd.8.8 Se alguém deseja uma vasta ciência, ela sabe o passado e conjectura o futuro; conhece as subtilezas oratórias e revolve os enigmas; prevê os sinais e os prodígios, e o que tem que acontecer no decurso das idades e dos tempos.
Sbd.8.9 Portanto, resolvi tomá-la por companheira de minha vida, cuidando que ela será para mim uma boa conselheira, e minha consolação nos cuidados e na tristeza.
Sbd.8.10 Graças a ela, receberei as honras das multidões, e, embora jovem como sou, o respeito dos anciãos.
Sbd.8.11 Reconhecerão a penetração de meu julgamento, e excitarei a admiração dos reis.
Sbd.8.12 Se me calo, esperarão que eu fale; se falo, estarão atentos; e se prolongo meu discurso, levarão a mão à boca.
Sbd.8.13 Por meio dela obterei a imortalidade, e deixarei à posteridade uma lembrança eterna.
Sbd.8.14 Governarei povos e as nações ser-me-ão submissas.
Sbd.8.15 Príncipes temíveis estarão cheios de medo ao ouvirem falar de mim; mostrar-me-ei bom para com o povo e valoroso no combate.
Sbd.8.16 Recolhido em minha casa, repousarei junto dela, porque a sua convivência não tem nada de desagradável, e sua intimidade nada de fastidioso; ela traz consigo, pelo contrário, o contentamento e a alegria!
Sbd.8.17 Meditando comigo mesmo nesses pensamentos, e considerando em meu coração que a imortalidade se encontra na aliança com a Sabedoria,
Sbd.8.18 a alegria perfeita na sua amizade, contínua riqueza na sua actividade, inteligência nas lições de seus entretenimentos familiares, e glória na comunicação de suas sentenças, saí à sua procura a fim de possuí-la em mim.
Sbd.8.19 Eu era um menino vigoroso, dotado de uma alma excelente,
Sbd.8.20 ou antes, como era bom, eu vim a um corpo intacto;
Sbd.8.21 mas, consciente de não poder possuir a sabedoria, a não ser por dom de Deus, (e já era inteligência o saber de onde vem o dom), eu me voltei para o Senhor, e invoquei-o, dizendo do fundo do coração:

 

Sbd.9.1 Deus de nossos pais, e Senhor de misericórdia, que todas as coisas criastes pela vossa palavra,
Sbd.9.2 e que, por vossa sabedoria, formastes o homem para ser o senhor de todas as vossas criaturas,
Sbd.9.3 governar o mundo na santidade e na justiça, e proferir seu julgamento na rectidão de sua alma,
Sbd.9.4 dai-me a Sabedoria que partilha do vosso trono, e não me rejeiteis como indigno de ser um de vossos filhos.
Sbd.9.5 Sou, com efeito, vosso servo e filho de vossa serva, um homem fraco, cuja existência é breve, incapaz de compreender vosso julgamento e vossas leis;
Sbd.9.6 porque qualquer homem, mesmo perfeito, entre os homens, não será nada, se lhe falta a Sabedoria que vem de vós.
Sbd.9.7 Ora, vós me escolhestes para ser rei de vosso povo e juiz de vossos filhos e vossas filhas.
Sbd.9.8 Vós me ordenastes construir um templo na vossa montanha santa e um altar na cidade em que habitais: imagem da sagrada habitação que preparastes desde o princípio.
Sbd.9.9 Mas, ao lado de vós está a Sabedoria que conhece vossas obras; ela estava presente quando fizestes o mundo, ela sabe o que vos é agradável, e o que se conforma às vossas ordens.
Sbd.9.10 Fazei-a, pois, descer de vosso santo céu, e enviai-a do trono de vossa glória, para que, junto de mim, tome parte em meus trabalhos, e para que eu saiba o que vos agrada.
Sbd.9.11 Com efeito, ela sabe e conhece todas as coisas; prudentemente guiará meus passos, e me protegerá no brilho de sua glória.
Sbd.9.12 Assim, minhas obras vos serão agradáveis; governarei vosso povo com justiça, e serei digno do trono de meu pai.
Sbd.9.13 Que homem, pois, pode conhecer os desígnios de Deus, e penetrar nas determinações do Senhor?
Sbd.9.14 Tímidos são os pensamentos dos mortais, e incertas as nossas concepções;
Sbd.9.15 porque o corpo corruptível torna pesada a alma, e a morada terrestre oprime o espírito carregado de cuidados.
Sbd.9.16 Mal podemos compreender o que está sobre a terra, dificilmente encontramos o que temos ao alcance da mão. Quem, portanto, pode descobrir o que se passa no céu?
Sbd.9.17 E quem conhece vossas intenções, se vós não lhe dais a Sabedoria, e se do mais alto dos céus vós não lhe enviais vosso Espírito Santo?
Sbd.9.18 Assim se tornaram direitas as veredas dos que estão na terra; os homens aprenderam as coisas que vos agradam e pela sabedoria foram salvos.

 

Sbd.10.1 O primeiro homem, o pai do mundo, que foi criado sozinho, foi a Sabedoria que cuidou dele, tirou-o de seu próprio pecado,
Sbd.10.2 e deu-lhe o poder de reinar sobre todas as coisas.
Sbd.10.3 E porque o perverso, na sua ira, dela se afastou, pereceu depois de seu furor fratricida.
Sbd.10.4 E estando a terra submersa por causa dele pelo dilúvio, a Sabedoria de novo o salvou, conduzindo o justo num lenho sem valor.
Sbd.10.5 E quando as nações unânimes caíram no mal, foi ela que distinguiu o justo, o manteve irrepreensível diante de Deus, e lhe deu a força para vencer sua ternura pelo seu filho.
Sbd.10.6 Foi ela que, quando do aniquilamento dos ímpios, salvou o justo, subtraindo-o ao fogo que descera sobre a Pentápole,
Sbd.10.7 cuja perversidade ainda no presente é testemunhada por uma terra fumegante e deserta, onde as árvores carregam frutos incapazes de amadurecer, e onde está erigida uma coluna de sal, memorial de uma alma incrédula.
Sbd.10.8 Porque aqueles que desprezaram a Sabedoria, não somente se prejudicaram em ignorar o bem, mas ainda deixaram aos homens um testemunho de sua loucura, para que seus pecados não fossem esquecidos.
Sbd.10.9 Quanto aos que a honram, a Sabedoria os liberta de sofrimentos;
Sbd.10.10 foi ela que guiou por caminhos rectos o justo que fugia à ira de seu irmão; mostrou-lhe o reino de Deus, e deu-lhe o conhecimento das coisas santas; ajudou-o nos seus trabalhos, e fez frutificar seus esforços;
Sbd.10.11 cuidou dele contra ávidos opressores e o fez conquistar riquezas;
Sbd.10.12 ela o protegeu contra seus inimigos e o defendeu dos que lhe armavam ciladas; e no duro combate, deu-lhe vitória, a fim de que ele soubesse quanto a piedade é mais forte que tudo.
Sbd.10.13 Ela não abandonou o justo vendido, mas preservou-o do pecado.
Sbd.10.14. Desceu com ele à prisão, e não o abandonou nas suas cadeias, até que lhe trouxe o ceptro do reino e o poder sobre os que o tinham oprimido; revelou-lhe a mentira de seus acusadores, e conferiu-lhe uma glória eterna.
Sbd.10.15 Foi ela que livrou das nações que o tiranizavam, o povo santo e a raça irrepreensível;
Sbd.10.16 entrou na alma do servo de Deus, e se opôs, com sinais e prodígios, a reis temíveis.
Sbd.10.17 Deu aos santos o galardão de seus trabalhos, conduziu-os por um caminho miraculoso; durante o dia serviu-lhes de protecção, e deu-lhes a luz dos astros, durante a noite.
Sbd.10.18 Fê-los atravessar o mar Vermelho, e deu-lhes passagem através da massa das águas,
Sbd.10.19 ao passo que engoliu seus inimigos, e depois os tirou das profundezas do abismo.
Sbd.10.20 Também os justos, depois de despojados os ímpios, celebraram, Senhor, vosso santo nome, e louvaram, unidos num só coração, vossa mão protectora,
Sbd.10.21 porque a Sabedoria abriu a boca aos mudos, e tornou eloquente a língua das crianças.

Parte inferior do formulário

 

Sbd.11.1 Pela mão de um santo profeta aplanou suas dificuldades;
Sbd.11.2 eles atravessaram um deserto inabitado, e levantaram suas tendas em lugares ermos;
Sbd.11.3 resistiram aos que os atacavam, e repeliram seus inimigos.
Sbd.11.4 Tiveram sede e clamaram a vós: do rochedo abrupto a água lhes foi dada, e da pedra seca estancaram sua sede.
Sbd.11.5 Porque os elementos que tinham servido para punir seus inimigos, foram-lhes dados, na sua necessidade, como benefício:
Sbd.11.6 em lugar das ondas de um rio perene turvadas por uma lama de sangue,
Sbd.11.7 pela punição do decreto que consagrava crianças à morte, vós lhes destes, de maneira inesperada, água em abundância,
Sbd.11.8 mostrando-lhes, pela sede que então sofreram, como punistes seus inimigos.
Sbd.11.9 Por isso, tratados com piedade na sua provação, reconheceram quanto deviam ter sofrido os ímpios, julgados com ira.
Sbd.11.10 A estes provastes como um pai que corrige, mas a outros provastes como um rei severo que condena.
Sbd.11.11 Tanto estando longe como perto, a dor os consumiu da mesma forma,
Sbd.11.12 porque tiveram um segundo para se entristecer e gemer à lembrança dos males passados.
Sbd.11.13 Compreendendo, com efeito, que o que era para eles castigo, era para outros ocasião de benefício, sentiram a mão do Senhor;
Sbd.11.14 e aquele que, outrora exposto e abandonado, tinham repelido com zombaria, admiraram-no finalmente, porque sofreram uma sede diferente da sede do justo.
Sbd.11.15 Por outro lado, para os punir dos loucos pensamentos de sua perversidade, que os faziam extraviar-se na adoração de répteis irracionais e de vis animais, enviastes contra eles uma multidão de animais estúpidos,
Sbd.11.16 a fim de que compreendessem que por onde cada um peca, será punido.
Sbd.11.17 Não era difícil à vossa mão todo-poderosa, que formou o mundo de matéria informe, mandar contra eles bandos de ursos e de leões ferozes,
Sbd.11.18 ou animais desconhecidos e duma nova espécie, cheios de furor, exalando um hálito inflamado, ou espalhando um fumo infecto, ou lançando de seus olhos faíscas terríveis,
Sbd.11.19 capazes não só de os exterminar com seus golpes, mas ainda de os matar de terror só pelo seu aspecto.
Sbd.11.20 E, mesmo sem isso, eles poderiam perecer por um sopro, perseguidos pela justiça e arrebatados pelo vento de vosso poder; mas, dispusestes tudo com medida, quantidade e peso,
Sbd.11.21 porque sempre vos é possível mostrar vosso poder imenso, e quem poderá resistir à força de vosso braço?
Sbd.11.22 Diante de vós o mundo inteiro é como um nada, que faz pender a balança, ou como uma gota de orvalho, que desce de madrugada sobre a terra.
Sbd.11.23 Tendes compaixão de todos, porque vós podeis tudo; e para que se arrependam, fechais os olhos aos pecados dos homens.
Sbd.11.24 Porque amais tudo que existe, e não odiais nada do que fizestes, porquanto, se o odiásseis, não o teríeis feito de modo algum.
Sbd.11.25 Como poderia subsistir qualquer coisa, se não o tivésseis querido, e conservar a existência, se por vós não tivesse sido chamada?
Sbd.11.26 Mas poupais todos os seres, porque todos são vossos, ó Senhor, que amais a vida.

 

Sbd.12.1 Vosso espírito incorruptível está em todos.
Sbd.12.2 É por isso que castigais com brandura aqueles que caem, e os advertis mostrando-lhes em que pecam, a fim de que rejeitem sua malícia e creiam em vós, Senhor.
Sbd.12.3 Foi assim que se deu com os antigos habitantes da Terra Santa.
Sbd.12.4 Tínheis horror deles por causa de suas obras detestáveis, sua magia e seus ritos ímpios,
Sbd.12.5 seus cruéis morticínios de crianças, seus festins de entranhas, carne humana e sangue, suas iniciações nos mistérios orgíacos,
Sbd.12.6 e os crimes de pais contra seres indefesos; e resolvestes aniquilá-los pela mão de nossos pais,
Sbd.12.7 para que esta terra, que estimais entre todas, recebesse uma digna colónia de filhos de Deus.
Sbd.12.8 Contudo, porque também eles eram homens, vós os poupastes, enviando-lhes vespas precursoras de vosso exército, para que elas os fizessem perecer pouco a pouco.
Sbd.12.9 Não é que vos fosse impossível esmagar os maus por meio dos justos num combate, ou exterminar todos juntos por animais ferozes ou por uma palavra categórica;
Sbd.12.10 mas castigando-os pouco a pouco, dáveis tempo para o arrependimento, não ignorando que sua raça era maldita, ingénita a sua perversidade, e que jamais seus pensamentos se mudariam,
Sbd.12.11 porque sua estirpe era má desde a origem… Não era por temor do que quer que fosse que vos mostráveis indulgente para com eles em seus pecados.
Sbd.12.12 Porque, quem ousará dizer-vos: Que fizeste tu? E quem se oporá a vosso julgamento? Quem vos repreenderá de terdes aniquilado nações que criastes? Ou quem se levantará contra vós para defender os culpados?
Sbd.12.13 Não há, fora de vós, um Deus que se ocupa de tudo, e a quem deveis mostrar que nada é injusto em vossos julgamentos;
Sbd.12.14 nem um rei, nem um tirano que vos possa resistir em favor dos que castigastes.
Sbd.12.15 Mas porque sois justo, governais com toda a justiça, e julgais indigno de vosso poder condenar quem não merece ser punido.
Sbd.12.16 Porque vossa força é o fundamento de vossa justiça e o fato de serdes Senhor de todos, vos torna indulgente para com todos.
Sbd.12.17 Mostrais vossa força aos que não crêem no vosso poder, e confundis os que a não conhecem e ousam afrontá-la.
Sbd.12.18 Senhor de vossa força, julgais com bondade, e nos governais com grande indulgência, porque sempre vos é possível empregar vosso poder, quando quiserdes.
Sbd.12.19 Agindo desta maneira, mostrastes a vosso povo que o justo deve ser cheio de bondade, e inspirastes a vossos filhos a boa esperança de que, após o pecado, lhes dareis tempo para a penitência;
Sbd.12.20 porque se os inimigos de vossos filhos, dignos de morte, vós os haveis castigado com tanta prudência e longanimidade, dando-lhes tempo e ocasião para se emendarem,
Sbd.12.21 com quanto cuidado não julgareis vós os vossos filhos, a cujos antepassados concedestes com juramento vossa aliança, repleta de ricas promessas!
Sbd.12.22 Portanto, quando nos corrigis, castigais mil vezes mais nossos inimigos, para que em nossos julgamentos nos lembremos de vossa bondade, e para que esperemos em vossa indulgência quando somos julgados.
Sbd.12.23 Por isso também aqueles que loucamente viveram no mal, vós os torturaste por meio das suas próprias abominações:
Sbd.12.24 porque se tinham afastado demais nos caminhos do erro, tomando por deuses os mais vis animais, deixando-se enganar como meninos sem razão;
Sbd.12.25 assim é que, como a meninos sem razão, lhes destes um castigo irrisório.
Sbd.12.26 Mas os que recusam a advertência de semelhante correcção sofrerão um castigo digno de Deus.
Sbd.12.27 Excitados, então, pelos sofrimentos causados por esses animais que tinham julgado deuses, e que os atormentavam, viram o que no começo tinham recusado ver, e reconheceram o verdadeiro Deus. Por isso é que caiu sobre eles a condenação final.

 

Sbd.13.1 São insensatos por natureza todos os que desconheceram a Deus, e, através dos bens visíveis, não souberam conhecer Aquele que é, nem reconhecer o Artista, considerando suas obras.
Sbd.13.2 Tomaram o fogo, ou o vento, ou o ar agitável, ou a esfera estrelada, ou a água impetuosa, ou os astros dos céus, por deuses, regentes do mundo.
Sbd.13.3 Se tomaram essas coisas por deuses, encantados pela sua beleza, saibam, então, quanto seu Senhor prevalece sobre elas, porque é o criador da beleza que fez estas coisas.
Sbd.13.4 Se o que os impressionou é a sua força e o seu poder, que eles compreendam, por meio delas, que seu criador é mais forte;
Sbd.13.5 pois é a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece o seu autor.
Sbd.13.6 Contudo, estes só incorrem numa ligeira censura, porque, talvez, eles caíram no erro procurando Deus e querendo encontrá-lo:
Sbd.13.7 vivendo entre suas obras, eles as observam com cuidado, e porque eles as consideram belas, deixam-se seduzir pelo seu aspecto.
Sbd.13.8 Ainda uma vez, entretanto, eles não são desculpáveis,
Sbd.13.9 porque, se eles possuíram luz suficiente para poder perscrutar a ordem do mundo, como não encontraram eles mais facilmente aquele que é seu Senhor?
Sbd.13.10 Mas são desgraçados e esperam em mortos, aqueles que chamaram de deuses a obras de mãos humanas: o ouro, a prata, artisticamente trabalhados, figuras de animais, alguma pedra inútil, a que, outrora, certa mão deu forma.
Sbd.13.11 Assim, um lenhador cortou e serrou uma árvore fácil de manejar. Habilmente ele lhe tirou toda a casca, e com a habilidade do seu ofício, fez dela um móvel útil para seu uso.
Sbd.13.12 Com as sobras de seu trabalho, cozinhou comida, com que se saciou.
Sbd.13.13 O que ainda lhe restava, não era bom para nada, não passando de madeira torcida e toda cheia de nós; contudo, ele a tomou e consagrou suas horas de lazer a talhá-la; ele a trabalhou com toda a arte que adquirira, e lhe deu a semelhança de um homem,
Sbd.13.14 ou o aspecto de algum vil animal. Pôs-lhe vermelhão, uma demão de uma tinta encarnada, e encobriu-lhe cuidadosamente todo defeito.
Sbd.13.15 Em seguida, preparou-lhe um nicho digno dele. e o fixou à parede, segurando-o com um prego:
Sbd.13.16 foi por medo que caísse, que tomou este cuidado, porque sabe muito bem que ele não pode ajudar-se a si mesmo, pois não passa de uma estátua que tem necessidade de um apoio.
Sbd.13.17 Mas quando lhe implora por seus bens, seus casamentos, seus filhos, não se envergonha de falar ao que é inanimado, e pede saúde ao que é desprezível.
Sbd.13.18 Reclama a vida ao que é morto, e procura socorro no que é débil; e para uma viagem, invoca o que não pode andar;
Sbd.13.19 para um lucro, um trabalho, o bom êxito de uma obra de suas mãos, pede a força ao que nem é capaz de mover as mãos.

 

Sbd.14.1 Outro, por sua vez, que quer navegar e se prepara para atravessar as impetuosas ondas, invoca um madeiro de pior qualidade que o navio que o leva;
Sbd.14.2 porque o desejo do lucro inventou o navio, e uma hábil sabedoria dirigiu sua construção.
Sbd.14.3 Mas sois vós, Pai, que o governais pela vossa Providência, porque, se abristes caminho, mesmo no mar, e uma rota segura no meio das ondas -
Sbd.14.4 mostrando por aí que vós podeis tirar do perigo aquele que as afronta mesmo sem meios -,
Sbd.14.5 quereis entretanto que não sejam inúteis as obras de vossa sabedoria. Por isso os homens confiam a própria vida a um pouco de madeira e atravessam em segurança as ondas num navio.
Sbd.14.6 Assim, com efeito, quando na origem dos tempos fizestes perecer gigantes orgulhosos, a esperança do universo, refugiando-se num barco, que vossa mão governava, conservou para o mundo o germe de uma geração.
Sbd.14.7 Porque é bendito o madeiro pelo qual se opera a justiça,
Sbd.14.8 mas maldito é o ídolo, ele e o que o fez; este porque o formou, aquele porque, sendo corruptível, leva o nome de deus.
Sbd.14.9 Com efeito, Deus odeia tanto o ímpio quanto sua impiedade,
Sbd.14.10 e a obra sofrerá o mesmo castigo que o autor.
Sbd.14.11 Este é o motivo porque também os ídolos das nações serão julgados, porque, na criação de Deus, eles se tornaram uma abominação, objectos de escândalo para os homens, e laços para os pés dos insensatos.
Sbd.14.12 É pela idealização dos ídolos que começou a apostasia, e sua invenção foi a perda dos humanos.
Sbd.14.13 Eles não existiam no princípio e não durarão para sempre;
Sbd.14.14 a vaidade dos homens os introduziu no mundo. E, por causa disso, Deus decidiu a sua destruição para breve.
Sbd.14.15 Um pai aflito por um luto prematuro, tendo mandado fazer a imagem do filho, tão cedo arrebatado, honrou, em seguida, como a um deus aquele que não passava de um morto, e transmitiu, aos seus, certos ritos secretos e cerimónias.
Sbd.14.16 Este costume ímpio, tendo-se firmado com o tempo, foi depois observado como lei.
Sbd.14.17 Foi também em consequência das ordens dos príncipes que se adoraram imagens esculpidas, porque aqueles que não podiam honrar pessoalmente, porque moravam longe deles, fizeram representar o que se achava distante, e expuseram publicamente a imagem do rei venerado, a fim de lisonjeá-lo de longe com seu zelo, como se estivesse presente.
Sbd.14.18 Isto contribuiu ainda para o estabelecimento deste culto, mesmo entre os que não conheciam o rei; foi a ambição do artista,
Sbd.14.19 que, talvez, querendo agradar ao soberano, deu-lhe, por sua arte, a semelhança do belo;
Sbd.14.20 e a multidão, seduzida pelo encanto da obra, em breve tomou por deus aquele que tinham honrado como homem.
Sbd.14.21 E isto foi uma cilada para a humanidade: os homens, sujeitando-se à lei da desgraça e da tirania, deram à pedra e à madeira o nome incomunicável.
Sbd.14.22 Como se não bastasse terem errado acerca do conhecimento de Deus, embora passando a vida numa longa luta de ignorância, eles dão o nome de paz a um estado tão infeliz.
Sbd.14.23 Com efeito, sacrificando seus filhos, celebrando mistérios ocultos, ou entregando-se a orgias desenfreadas de religiões exóticas,
Sbd.14.24 eles já não guardam a honestidade nem na vida nem no casamento, mas um faz desaparecer o outro pelo ardil, ou o ultraja pelo adultério.
Sbd.14.25 Tudo está numa confusão completa - sangue, homicídio, furto, fraude, corrupção, deslealdade, revolta, perjúrio,
Sbd.14.26 perseguição dos bons, esquecimento dos benefícios, contaminação das almas, perversão dos sexos, instabilidade das uniões, adultérios e impudicícias -
Sbd.14.27 porque o culto de inomináveis ídolos é o começo, a causa e o fim de todo o mal.
Sbd.14.28 (Seus adeptos) incitam o prazer até a loucura, ou fazem vaticínios falsos, ou vivem na injustiça, ou, sem escrúpulo, juram falso,
Sbd.14.29 porque, confiando em ídolos inanimados, esperam não ser punidos de sua má fé.
Sbd.14.30 Contudo, o castigo os atingirá por duplo motivo: porque eles desconheceram a Deus, afeiçoando-se aos ídolos, e porque são culpados, por desprezo à santidade da religião, de ter feito juramentos enganadores.
Sbd.14.31 Pois não é o poder dos ídolos invocados, mas o castigo reservado ao pecador, que sempre persegue as faltas dos maus.

 

Sbd.15.1 Mas vós, Deus nosso, sois benfazejo e verdadeiro, vós sois paciente e tudo governais com misericórdia;
Sbd.15.2 com efeito, mesmo se pecamos, somos vossos, porque conhecemos vosso poder; mas não pecaremos, cientes de que somos considerados como vossos.
Sbd.15.3 Porque conhecer-vos é a perfeita justiça, e conhecer vosso poder é a raiz da imortalidade.
Sbd.15.4 Não fomos seduzidos pelas invenções da arte corruptora dos homens nem pelo vão trabalho dos pintores: borrada figura de cores misturadas,
Sbd.15.5 cuja vista excita os desejos dos insensatos, fantasma inanimado de uma imagem sem vida que provoca a paixão!
Sbd.15.6 Cativados pelo mal, não merecem esperar senão o mal, os que o fazem, os que o amam e os que o veneram.
Sbd.15.7 Eis, portanto, um oleiro que amassa laboriosamente a terra mole, e forma diversos objectos para nosso uso, mas da mesma argila faz vasos destinados a fins nobres e outros, indiferentemente, para usos opostos. Para qual destes usos cada vaso será aplicado? O oleiro será o juiz.
Sbd.15.8 Do mesmo barro, forma também, como obreiro perverso, uma vã divindade, ele que, ainda há pouco, nasceu da terra, e em breve voltará a ela, de onde foi tirado, quando lhe serão pedidas as contas de sua vida.
Sbd.15.9 Ele mesmo não tem preocupação alguma com o próprio desfalecimento, nem com a brevidade da vida; ele rivaliza, pelo contrário, com aqueles que trabalham o ouro e a prata, imita os que trabalham o cobre.
Sbd.15.10 Pó é o seu coração, mais vil que a terra sua esperança, e põe sua glória em fabricar objectos enganadores. E mais desprezível que o barro é sua vida,
Sbd.15.11 porque não reconheceu aquele que o formou, aquele que lhe inspirou uma alma activa e lhe insuflou o espírito vital.
Sbd.15.12 Para ele a vida é um divertimento, e nossa existência um mercado lucrativo, porque, diz ele, é preciso aproveitar-se de tudo, mesmo do mal.
Sbd.15.13 Mais que qualquer outro, esse homem sabe que peca, fazendo do mesmo barro vasos frágeis e ídolos.
Sbd.15.14 Ora, verdadeiramente, muito insensatos, mais infortunados que a alma da criança, são os inimigos de vosso povo, que o oprimiram,
Sbd.15.15 porque eles também tiveram por deuses todos os ídolos das nações, que não podem servir-se de seus olhos para ver, que não têm nariz para aspirar o ar, nem ouvidos para ouvir, nem os dedos das mãos para apalpar, e cujos pés são incapazes de andar;
Sbd.15.16 foi, com efeito, um homem que os fez, formou-os alguém que recebeu a alma de empréstimo. Nenhum homem pode fazer um deus, mesmo semelhante a si próprio,
Sbd.15.17 porque, sendo ele próprio mortal, morto é tudo que produz com suas mãos ímpias. De fato, ele vale mais que os objectos que venera; ele, pelo menos, tem vida, enquanto os ídolos não a têm.
Sbd.15.18 Chega-se até a adorar os mais odiosos animais, que são piores ainda que os outros animais irracionais,
Sbd.15.19 que nem mesmo possuem o que outros seres vivos possuem: bastante beleza para serem amados, e que foram excluídos da aprovação e da bênção de Deus.

 

Sbd.16.1 Por isso foram justamente castigados por animais dessa espécie e atormentados por uma multidão de animais;
Sbd.16.2 em vez de feri-lo assim, vós favorecíeis vosso povo, satisfazendo por um alimento surpreendente o ardor de seu apetite, e oferecendo-lhe por alimento codornizes.
Sbd.16.3 De tal modo que aqueles, mau grado sua fome, diante do aspecto hediondo de animais enviados contra eles, experimentaram a náusea; estes, após uma curta privação, receberam um alimento maravilhoso.
Sbd.16.4 Pois era preciso que os primeiros, os opressores, fossem oprimidos por uma inexorável fome, e que aos outros fossem apenas mostrados os tormentos suportados por seus inimigos.
Sbd.16.5 Efectivamente, quando o cruel furor dos animais os atingiu também, e quando pereceram com a mordedura de sinuosas serpentes, vossa cólera não durou até o fim.
Sbd.16.6 Foram por pouco tempo atormentados, para sua correcção: eles possuíram um sinal de salvação que lhes lembrava o preceito de vossa lei.
Sbd.16.7 E quem se voltava para ele era salvo, não em vista do objecto que olhava, mas por vós, Senhor, que sois o salvador de todos.
Sbd.16.8 Com isso mostráveis a vossos inimigos, que sois vós que livrais de todo o mal.
Sbd.16.9 Quanto a eles as mordeduras dos gafanhotos e das moscas os matavam e não se encontrou remédio para salvar sua vida, porque mereciam ser castigados por tais instrumentos;
Sbd.16.10 mas a vossos filhos, mesmo os dentes de serpentes venenosas não os puderam vencer, porque sobrevindo a vossa misericórdia curou-os.
Sbd.16.11 Eram picados, para que se lembrassem de vossas palavras, e, em seguida, ficavam curados, para que não viessem a esquecê-las completamente e a subtraírem-se a si mesmos de vossos benefícios.
Sbd.16.12 Não foi uma erva nem algum unguento que os curou, mas a vossa palavra que cura todas as coisas, Senhor.
Sbd.16.13 Porque vós sois senhor da vida e da morte. Vós conduzis às portas do Abismo e de lá tirais;
Sbd.16.14 enquanto o homem, se pode matar por sua maldade, não pode fazer voltar o espírito uma vez saído, nem chamar de volta a alma que o Abismo já recebeu.
Sbd.16.15 Escapar à vossa mão é impossível,
Sbd.16.16 e os ímpios, que recusaram conhecer-vos, foram fustigados pela força de vosso braço, perseguidos por chuvas extraordinárias, saraivas e implacáveis tempestades, e consumidos pelo fogo dos raios.
Sbd.16.17 O que havia de mais admirável ainda, é que, na água que tudo extingue, o fogo tomava mais violência, porque o universo toma a defesa dos justos.
Sbd.16.18 Ora, a chama temperava seu ardor para não queimar os animais enviados contra os ímpios, para que estes se apercebessem e reconhecessem que eram perseguidos pelo julgamento de Deus.
Sbd.16.19 Ora, excedendo sua força habitual, o fogo ardia mesmo no meio da água para destruir os frutos de uma terra iníqua…
Sbd.16.20 Mas, pelo contrário, foi com o alimento dos anjos que alimentastes vosso povo, e foi do céu que, sem fadiga, vós lhe enviastes um pão já preparado, contendo em si todas as delícias e adaptando-se a todos os gostos.
Sbd.16.21 Esta substância que dáveis se parecia com a doçura que mostráveis a vossos filhos. Ela se adaptava ao desejo de quem a comia, e transformava-se naquilo que cada qual desejava.
Sbd.16.22 (Embora fosse como) neve e gelo, ela suportava o fogo sem se fundir, para mostrar que era para os inimigos que o fogo destruía as colheitas, quando ardia, apesar da saraiva, e brilhava debaixo de chuvas,
Sbd.16.23 enquanto que, quando se tratava de alimentar os justos, até perdia sua natural violência.
Sbd.16.24 A criatura que vos é submissa, a vós, seu Criador, aumenta sua força para castigar os maus, e os modera para o bem dos que puseram em vós sua fé.
Sbd.16.25 Do mesmo modo, transformada em tudo que se queria, servia à vossa generosidade que a todos alimenta, segundo a vontade dos que dela tinham necessidade,
Sbd.16.26 para que os filhos que vós amais, Senhor, aprendessem que não são os frutos da terra que alimentam o homem, mas é vossa palavra que conserva em vida aqueles que crêem em vós.
Sbd.16.27 O que não era destruído pelo fogo, fundia-se ao simples calor de um raio de sol,
Sbd.16.28 para que se soubesse que é preciso antecipar-se ao sol para vos agradecer, e que é preciso adorar-vos antes de raiar o dia;
Sbd.16.29 porque a esperança do ingrato é como a geleira do inverno, que se derramará como água inútil.

 

Sbd.17.1 Em verdade, grandes e impenetráveis são vossos juízos, Senhor; por isso as almas grosseiras caíram no erro.
Sbd.17.2 Por terem acreditado que podiam oprimir a santa nação, os ímpios, prisioneiros das trevas e encarcerados por uma longa noite, jaziam encerrados nas suas casas, tentando escapar à vossa incessante vigilância.
Sbd.17.3 Depois de terem imaginado que, com seus secretos pecados, ficariam escondidos sob o sombrio véu do esquecimento, eles se viram dispersados, como presa de um terrível espanto, e amedrontados por alucinações.
Sbd.17.4 Mesmo o canto mais afastado em que se abrigavam não os punha ao abrigo do terror: ruídos aterradores ressoavam em torno deles, e taciturnos espectros de lúgubre aspecto lhes apareciam.
Sbd.17.5 Nenhuma chama, por intensa que fosse, chegava a iluminar. E a luz brilhante dos astros era impotente para alumiar esta noite sombria.
Sbd.17.6 Mas aparecia-lhes de súbito nada mais que uma chama aterradora, e, tomados de terror por esta visão fugitiva, julgavam essas aparições mais terríveis ainda.
Sbd.17.7 A arte dos mágicos se mostrou ilusória, e esta sabedoria, a que eles pretendiam, evidenciou-se vergonhosamente como falsidade.
Sbd.17.8 Aqueles que se jactavam de banir das almas doentes o terror e a perturbação, eram eles mesmos atormentados por um ridículo temor.
Sbd.17.9 Mesmo quando nada de mais grave os aterrorizava, a passagem dos animais e o silvo das serpentes punham-nos fora de si, e eles morriam de medo. Recusavam até mesmo contemplar essa atmosfera à qual nada podia escapar;
Sbd.17.10 porque a maldade, condenada por seu próprio testemunho, é medrosa, e, sob o peso da consciência, supõe sempre o pior,
Sbd.17.11 pois o temor não é outra coisa que a privação dos socorros trazidos pela reflexão,
Sbd.17.12 porque, quanto menor for em sua alma a esperança de auxílio, tanto mais penosa é a ignorância daquilo de que se tem medo.
Sbd.17.13 Eles, durante essa noite de impotência, saída dos recantos do Abismo impotente, dormiam num mesmo sono,
Sbd.17.14 agitados, de um lado, pelo terror dos espectros, e paralisados, de outro, pelo desfalecimento da alma; pois era um pavor repentino e inesperado o que se abatera sobre eles.
Sbd.17.15 E todo aquele que caía sem força, ficava como que preso e encerrado num cárcere sem ferros.
Sbd.17.16 Fosse ele camponês ou pastor, ou o operário que se afadiga sozinho no seu trabalho, uma vez surpreendido, tinha de suportar a inevitável necessidade, porque todos estavam ligados por uma mesma cadeia de trevas.
Sbd.17.17 O silvo do vento, o canto harmonioso dos passarinhos nos ramos espessos, o murmúrio da água correndo precipitadamente, o estrondo das rochas que se despenhavam,
Sbd.17.18 a carreira invisível dos animais que saltavam, os urros dos animais selvagens, o eco que repercutia nas cavidades dos montes: tudo os paralisava de terror.
Sbd.17.19 Enquanto o mundo inteiro era alumiado de uma brilhante luz, e sem obstáculo se entregava às suas ocupações,
Sbd.17.20 somente sobre eles se estendia uma pesada noite, imagem das trevas que mais tarde os deviam acolher; e eram para si mesmos um peso mais insuportável que esta escuridão.

 

Sbd.18.1 Contudo, para vossos santos havia uma luz brilhantíssima. Sem verem seus semblantes, os outros ouviam-lhes a voz, e julgavam-nos felizes por não sofrerem os mesmos tormentos.
Sbd.18.2 Davam-lhes graças, porque não se vingavam dos maus tratos suportados, e pediam-lhes perdão de sua inimizade.
Sbd.18.3 Pelo contrário, vós destes uma coluna luminosa para guiá-los na sua marcha para o desconhecido, como um sol que sem incomodá-los alumiava seu glorioso êxodo.
Sbd.18.4 Mas eles bem mereciam ser privados da luz e aprisionados nas trevas, eles, que tinham encerrado em prisões os vossos filhos, através dos quais a incorruptível luz da lei se devia comunicar ao mundo.
Sbd.18.5 Também tinham resolvido levar à morte os filhos dos santos, mas um deles foi exposto e salvo, e para puni-los fizestes perecer em multidão os seus filhos, e, todos juntos, vós os aniquilastes na profundeza das águas.
Sbd.18.6 Esta mesma noite tinha sido conhecida de antemão por nossos pais, para que, conhecendo bem em que juramentos confiavam, ficassem cheios de coragem.
Sbd.18.7 Assim vosso povo esperava tanto a salvação dos justos como a perdição dos ímpios,
Sbd.18.8 e pelo mesmo fato de terdes destruído nossos inimigos, vós nos convidastes a ser vossos e nos honrastes.
Sbd.18.9 Por isso, os santos filhos dos justos ofereciam secretamente um sacrifício; de comum acordo estabeleciam o pacto divino: que os santos participariam dos mesmos bens e correriam os mesmos perigos; e entoavam já os hinos de seus pais,
Sbd.18.10 quando se elevaram os gritos confusos dos inimigos e se espalharam as lamentações dos que choravam seus filhos.
Sbd.18.11 Uma mesma sentença feria o escravo e o senhor, o homem do povo sofria o mesmo castigo que o rei.
Sbd.18.12 Todos igualmente tinham um número incalculável de mortos abatidos da mesma maneira; os sobreviventes não eram suficientes para sepultá-los. porque, num instante, sua melhor geração era exterminada.
Sbd.18.13 Depois de terem permanecido incrédulos por causa de seus sortilégios, reconheceram, vendo morrer seus primogénitos, que esse povo era verdadeiramente filho de Deus,
Sbd.18.14 porque, quando um profundo silêncio envolvia todas as coisas, e a noite chegava ao meio de seu curso,
Sbd.18.15 vossa palavra todo-poderosa desceu dos céus e do trono real, e, qual um implacável guerreiro, arremessou-se sobre a terra condenada à ruína.
Sbd.18.16 De pé, ela tudo encheu de morte, e, pisando a terra, tocava os céus.
Sbd.18.17 No mesmo instante, visões e sonhos terríveis os perturbaram, e temores inesperados os assaltaram;
Sbd.18.18 tombando aqui e acolá, semimortos, revelavam a causa da morte que os atingia;
Sbd.18.19 porque os sonhos que os tinham agitado tinham-nos informado antecipadamente, para que eles não perecessem sem conhecer a causa de sua desgraça.
Sbd.18.20 Verdade é que a prova da morte feriu também os justos, e numerosos foram os que ela abateu no deserto, mas a ira de Deus não durou muito tempo;
Sbd.18.21 porque um homem irrepreensível se apressou a tomar sua defesa, servindo-se das armas de seu ministério pessoal, a oração e o sacrifício expiatório do incenso. Opôs-se à ira, e pôs fim ao flagelo, mostrando que era vosso servo.
Sbd.18.22 Dominou a revolta, não pela força física, nem pela força das armas, mas pela sua palavra deteve aquele que castigava, relembrando-lhe os juramentos feitos aos antepassados e a aliança estabelecida.
Sbd.18.23 Já os mortos se amontoavam uns sobre os outros, quando ele interveio, deteve a cólera e afastou-a dos vivos.
Sbd.18.24 Na sua longa vestimenta estava representado o universo inteiro; nas quatro fileiras de pedras os nomes gloriosos dos patriarcas; e no diadema de sua cabeça vossa Majestade.
Sbd.18.25 Diante destas coisas cedeu o exterminador e foi diante destas coisas que retrocedeu: porque a simples demonstração de vossa ira era suficiente.

 

Sbd.19.1 Quanto aos ímpios, inexorável foi a ira que os perseguiu até o fim: porque Deus previa o que eles haveriam de fazer,
Sbd.19.2 isto é, depois de terem deixado partir (os justos), instando mesmo que fossem embora, mudariam de opinião e os perseguiriam.
Sbd.19.3 Na verdade, eles estavam ainda enlutados, e gemiam ainda sobre a tumba de seus mortos, quando loucamente tomaram outra resolução e perseguiram, como a fugitivos, aqueles aos quais tinham rogado que partissem.
Sbd.19.4 Um merecido destino os impelia a esse proceder extremo, e os atirava no olvido dos acontecimentos passados, para que sofressem, em meio a tormentos, um castigo completo,
Sbd.19.5 e fossem feridos de uma morte insólita, enquanto vosso povo tentava uma extraordinária passagem.
Sbd.19.6 É que toda a criação, obedecendo às vossas ordens, foi remodelada em sua natureza, para que vossos filhos fossem conservados ilesos.
Sbd.19.7 Foi vista uma nuvem cobrir o acampamento, e a terra seca surgir do que tinha sido água, um caminho viável formar-se no mar Vermelho, e um campo verdejante emergir das ondas impetuosas.
Sbd.19.8 Por aí passou toda ela, a nação dos que vossa mão protegia, e que viram singulares prodígios.
Sbd.19.9 Iam como cavalos conduzidos à pastagem, e saltavam como cordeiros, glorificando-vos a vós, Senhor, seu libertador,
Sbd.19.10 porque eles se lembravam ainda do que tinha acontecido na terra estrangeira: como a terra, contrariando a geração dos vivos, tinha produzido moscas, e como o rio, em lugar de peixes, tinha lançado fora uma multidão de rãs.
Sbd.19.11 Mais tarde, viram ainda nascer uma nova espécie de pássaros, quando, premidos pela cobiça, pediram manjares delicados, porquanto, para satisfazê-los, codornizes subiram do mar.
Sbd.19.12 Os castigos não surpreenderam os pecadores, sem que fossem antes advertidos pela violência dos raios.
Sbd.19.13 Suportavam justamente o castigo de sua própria maldade, porque tinham mostrado excessivo ódio pelo estrangeiro.
Sbd.19.14 Houve muitos que não quiseram receber hóspedes desconhecidos, mas estes reduziram à escravidão hóspedes que tinham sido benfeitores.
Sbd.19.15 E isso não é tudo; haverá algo a mais que um castigo qualquer para aqueles que acolheram mal os estrangeiros:
Sbd.19.16 mas estes, a princípio, receberam bem seus hóspedes, e concederam-lhes a participação em seus direitos. Em seguida, eles os encheram de males.
Sbd.19.17 Do mesmo modo, foram feridos de cegueira, como aqueles homens, às portas do justo, quando, envolvidos por uma profunda escuridão, procuravam, cada um de seu lado, o caminho para suas casas.
Sbd.19.18 Assim, os elementos mudavam suas propriedades entre si, como na harpa os sons mudam de ritmo, conservando a mesma tonalidade. É o que se pode verificar perfeitamente quando se consideram esses acontecimentos.
Sbd.19.19 Os seres terrestres tornavam-se aquáticos, os que nadam passavam à terra,
Sbd.19.20 o fogo era mais violento debaixo da chuva, e a água esquecia a propriedade que tem de extingui-lo.
Sbd.19.21 Além disso, as chamas não ofendiam as carnes dos frágeis animais que as atravessavam, e não liquefaziam esse alimento celeste, semelhante ao gelo e inteiramente capaz de se derreter.
Sbd.19.22 É que em tudo, Senhor, engrandecestes e glorificastes vosso povo, e não deixaste de assisti-lo em todo o tempo e em todo o lugar.

 

Sirácida ou Eclesiástico ou Ben Sira

 

Sir.1.1 Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, ela sempre esteve com ele. Ela existe antes de todos os séculos.
Sir.1.2 Quem pode contar os grãos de areia do mar, as gotas de chuva, os dias do tempo? Quem pode medir a altura do céu, a extensão da terra, a profundidade do abismo?
Sir.1.3 Quem pode penetrar a sabedoria divina, anterior a tudo?
Sir.1.4 A sabedoria foi criada antes de todas as coisas, a inteligência prudente existe antes dos séculos!
Sir.1.5 O verbo de Deus nos céus é fonte de sabedoria, seus caminhos são os mandamentos eternos.
Sir.1.6 A quem foi revelada a raiz da sabedoria? Quem pode discernir os seus artifícios?
Sir.1.7 A quem foi mostrada e revelada a ciência da sabedoria? Quem pode compreender a multiplicidade de seus caminhos?
Sir.1.8 Somente o Altíssimo, criador omnipotente, rei poderoso e infinitamente temível, Deus dominador, sentado no seu trono;
Sir.1.9 foi ele quem a criou no Espírito Santo, quem a viu, numerada e medida;
Sir.1.10 ele a espargiu em todas as suas obras, sobre toda a carne, à medida que a repartiu, e deu-a àqueles que a amavam.
Sir.1.11 O temor do Senhor é uma glória, um motivo de glória, uma fonte de alegria, uma coroa de regozijo.
Sir.1.12 O temor do Senhor alegra o coração. Ele nos dá alegria, regozijo e longa vida.
Sir.1.13 Quem teme o Senhor sentir-se-á bem no instante derradeiro, no dia da morte será abençoado.
Sir.1.14 O amor de Deus é uma sabedoria digna de ser honrada.
Sir.1.15 Aqueles a quem ela se mostra, amam-na logo que a vêem, logo que reconhecem os prodígios que realiza.
Sir.1.16 O temor do Senhor é o início da sabedoria. Ela foi criada com os homens fiéis no seio de sua mãe, ela caminha com as mulheres de escol, vemo-la na companhia dos justos e dos fiéis.
Sir.1.17 O temor ao Senhor é a religião da ciência.
Sir.1.18 Essa religião guarda e santifica o coração; ela lhe traz satisfação e alegria.
Sir.1.19 Aquele que teme ao Senhor achar-se-á confortado, no dia da morte será abençoado.
Sir.1.20 O temor ao Senhor é a plenitude da sabedoria, a plenitude de seus frutos, (para aquele que a possui)
Sir.1.21 ela enche toda a sua casa com os bens que produz, e seus celeiros com seus tesouros.
Sir.1.22 O temor do Senhor é a coroa da sabedoria: dá uma plenitude de paz e de frutos de salvação.
Sir.1.23 Ele a viu e numerou-a; ora, um e outra são um dom de Deus.
Sir.1.24 A sabedoria distribui a ciência e a prudente inteligência; eleva à glória aqueles que a possuem.
Sir.1.25 O temor do Senhor é a raiz da sabedoria, seus ramos são de longa duração.
Sir.1.26 A inteligência e a religião da ciência se acham nos tesouros da sabedoria, mas a sabedoria é abominada pelos pecadores.
Sir.1.27 O temor ao Senhor expulsa o pecado,
Sir.1.28 pois aquele que não tem esse temor não poderá tornar-se justo. A violência de sua paixão causará sua ruína.
Sir.1.29 O homem paciente esperará até um determinado tempo, após o qual a alegria lhe será restituída.
Sir.1.30 O homem de bom senso guarda suas palavras; muitos falarão, em voz alta, de sua prudência.
Sir.1.31 O sentido da instrução está encerrado nos celeiros da sabedoria.
Sir.1.32 Mas o culto de Deus é abominado pelo pecador.
Sir.1.33 Meu filho, tu que desejas ardentemente a sabedoria, sê justo e Deus ta concederá.
Sir.1.34 Pois o temor do Senhor é sabedoria e instrução, e o que lhe é agradável
Sir.1.35 é fidelidade e doçura; ele encherá os celeiros daqueles (que as possuem).
Sir.1.36 Não sejas rebelde ao temor do Senhor, não vás a ele com um coração fingido.
Sir.1.37 Não sejas hipócrita diante dos homens, e que teus lábios não sejam motivo de queda.
Sir.1.38 Vela sobre eles para que não caias, e não atraias sobre tua alma a desonra;
Sir.1.39 e para que Deus, revelando teus segredos, não te destrua no meio da assembleia,
Sir.1.40 por te teres aproximado do Senhor sorrateiramente, com o coração cheio de astúcia e engano.

 

Sir.2.1 Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação;
Sir.2.2 humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade,
Sir.2.3 sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça.
Sir.2.4 Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência.
Sir.2.5 Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação.
Sir.2.6 Põe tua confiança em Deus e ele te salvará; orienta bem o teu caminho e espera nele. Conserva o temor dele até na velhice.
Sir.2.7 Vós, que temeis o Senhor, esperai em sua misericórdia, não vos afasteis dele, para que não caiais;
Sir.2.8 vós, que temeis o Senhor, tende confiança nele, a fim de que não se desvaneça vossa recompensa.
Sir.2.9 Vós, que temeis o Senhor, esperai nele; sua misericórdia vos será fonte de alegria.
Sir.2.10 Vós, que temeis o Senhor, amai-o, e vossos corações se encherão de luz.
Sir.2.11 Considerai, meus filhos, as gerações humanas: sabei que nenhum daqueles que confiavam no Senhor foi confundido.
Sir.2.12 Pois quem foi abandonado após ter perseverado em seus mandamentos? Quem é aquele cuja oração foi desprezada?
Sir.2.13 Pois Deus é cheio de bondade e de misericórdia, ele perdoa os pecados no dia da aflição. Ele é o protector de todos os que verdadeiramente o procuram.
Sir.2.14 Ai do coração fingido, dos lábios perversos, das mãos malfazejas, do pecador que leva na terra uma vida de duplicidade;
Sir.2.15 Ai dos corações tímidos que não confiam em Deus, e que Deus, por essa razão, não protege;
Sir.2.16 ai daqueles que perderam a paciência, que saíram do caminho recto, e se transviaram nos maus caminhos.
Sir.2.17 Que farão eles quando o Senhor começar o exame?
Sir.2.18 Aqueles que temem ao Senhor não são incrédulos à sua palavra, e os que o amam permanecem em sua vereda.
Sir.2.19 Aqueles que temem ao Senhor procuram agradar-lhe, aqueles que o amam satisfazem-se na sua lei.
Sir.2.20 Aqueles que temem ao Senhor preparam o coração, santificam suas almas na presença dele.
Sir.2.21 Aqueles que temem ao Senhor guardam os seus mandamentos, têm paciência até que ele lance os olhos sobre eles,
Sir.2.22 dizendo: Se não fizermos penitência, cairemos nas mãos do Senhor, e não nas mãos dos homens,
Sir.2.23 pois a misericórdia dele está na medida de sua grandeza.

 

Sir.3.1 Os filhos da sabedoria formam a assembleia dos justos, e o novo que compõem é, todo ele, obediência e amor.
Sir.3.2 Ouvi, meus filhos, os conselhos de vosso pai, segui-os de tal modo que sejais salvos.
Sir.3.3 Pois Deus quis honrar os pais pelos filhos, e cuidadosamente fortaleceu a autoridade da mãe sobre eles.
Sir.3.4 Aquele que ama a Deus o roga pelos seus pecados, acautela-se para não cometê-los no porvir. Ele é ouvido em sua prece quotidiana.
Sir.3.5 Quem honra sua mãe é semelhante àquele que acumula um tesouro.
Sir.3.6 Quem honra seu pai achará alegria em seus filhos, será ouvido no dia da oração.
Sir.3.7 Quem honra seu pai gozará de vida longa; quem lhe obedece dará consolo à sua mãe.
Sir.3.8 Quem teme ao Senhor honra pai e mãe. Servirá aqueles que lhe deram a vida como a seus senhores.
Sir.3.9 Honra teu pai por teus actos, tuas palavras, tua paciência,
Sir.3.10 a fim de que ele te dê sua bênção, e que esta permaneça em ti até o teu último dia.
Sir.3.11 A bênção paterna fortalece a casa de seus filhos, a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces.
Sir.3.12 Não te glories do que desonra teu pai, pois a vergonha dele não poderia ser glória para ti,
Sir.3.13 pois um homem adquire glória com a honra de seu pai, e um pai sem honra é a vergonha do filho.
Sir.3.14 Meu filho, ajuda a velhice de teu pai, não o desgostes durante a sua vida.
Sir.3.15 Se seu espírito desfalecer, sê indulgente, não o desprezes porque te sentes forte, pois tua caridade para com teu pai não será esquecida,
Sir.3.16 e, por teres suportado os defeitos de tua mãe, ser-te-á dada uma recompensa;
Sir.3.17 tua casa tornar-se-á próspera na justiça. Lembrar-se-ão de ti no dia da aflição, e teus pecados dissolver-se-ão como o gelo ao sol forte.
Sir.3.18 Como é infame aquele que abandona seu pai, como é amaldiçoado por Deus aquele que irrita sua mãe!
Sir.3.19 Meu filho, faz o que fazes com doçura, e mais do que a estima dos homens, ganharás o afecto deles.
Sir.3.20 Quanto mais fores elevado, mais te humilharás em tudo, e perante Deus acharás misericórdia;
Sir.3.21 porque só a Deus pertence a omnipotência, e é pelos humildes que ele é (verdadeiramente) honrado.
Sir.3.22 Não procures o que é elevado demais para ti; não procures penetrar o que está acima de ti. Mas pensa sempre no que Deus te ordenou. Não tenhas a curiosidade de conhecer um número elevado demais de suas obras,
Sir.3.23 pois não é preciso que vejas com teus olhos os seus segredos.
Sir.3.24 Acautela-te de uma busca exagerada de coisas inúteis, e de uma curiosidade excessiva nas numerosas obras de Deus,
Sir.3.25 pois a ti foram reveladas muitas coisas, que ultrapassam o alcance do espírito humano.
Sir.3.26 Muitos foram enganados pelas próprias opiniões. Seu sentido os reteve na vaidade.
Sir.3.27 O coração empedernido acabará por ser infeliz. Quem ama o perigo nele perecerá.
Sir.3.28 O coração de caminhos tortuosos não triunfará, e a alma corrompida neles achará ocasião de queda.
Sir.3.29 O coração perverso ficará acabrunhado de tristeza, e o pecador ajuntará pecado sobre pecado.
Sir.3.30 Não há nenhuma cura para a assembleia dos soberbos, pois, sem que o saibam, o caule do pecado se enraíza neles.
Sir.3.31 O coração do sábio se manifesta pela sua sabedoria; o bom ouvido ouve a sabedoria com ardente avidez.
Sir.3.32 O coração sábio e inteligente abstém-se do pecado. Ele triunfará nas obras de justiça.
Sir.3.33 A água apaga o fogo ardente, a esmola enfrenta o pecado.
Sir.3.34 Deus olha para aquele que pratica a misericórdia; dele se lembrará no porvir, no dia de sua infelicidade este achará apoio.

 

Sir.4.1 Meu filho, não negues esmola ao pobre, nem dele desvies os olhos.
Sir.4.2 Não desprezes o que tem fome, não irrites o pobre em sua indigência.
Sir.4.3 Não aflijas o coração do infeliz, não recuses tua esmola àquele que está na miséria;
Sir.4.4 não rejeites o pedido do aflito, não desvies o rosto do pobre.
Sir.4.5 Não desvies os olhos do indigente, para que ele não se zangue. Aos que pedem não deis motivo de vos amaldiçoarem pelas costas,
Sir.4.6 pois será atendida a imprecação daquele que te amaldiçoa na amargura de sua alma. Aquele que o criou o atenderá.
Sir.4.7 Torna-te afável na assembleia dos pobres, humilha tua alma diante de um ancião; curva a cabeça diante de um poderoso.
Sir.4.8 Dá ouvidos ao pobre de boa vontade. Paga a tua dívida, dá-lhe com doçura uma resposta apaziguadora.
Sir.4.9 Liberta da casa do orgulhoso aquele que sofre injustiça. Quando fizeres um julgamento, não o faças com azedume.
Sir.4.10 Sê misericordioso com os órfãos como um pai; e sê como um marido para a mãe deles.
Sir.4.11 E serás como um filho obediente do Altíssimo, que, mais do que uma mãe, terá compaixão de ti.
Sir.4.12 A sabedoria inspira a vida aos seus filhos, ela toma sob a sua protecção aqueles que a procuram; ela os precede no caminho da justiça.
Sir.4.13 Aquele que a ama, ama a vida; aqueles que velam para encontrá-la sentirão sua doçura.
Sir.4.14 Aqueles que a possuem terão a vida como herança, e Deus abençoará todo o lugar onde ele entrar.
Sir.4.15 Aqueles que a servem serão obedientes ao Santo; aqueles que a amam serão amados por Deus.
Sir.4.16 Aquele que a ouve julgará as nações; aquele que é atento em contemplá-la permanecerá seguro.
Sir.4.17 Quem nela põe sua confiança tê-la-á como herança e sua posteridade a possuirá,
Sir.4.18 pois na provação ela anda com ele, e escolhe-o em primeiro lugar.
Sir.4.19 Ela traz-lhe o temor, o pavor e a aprovação. Ela o atormenta com sua penosa disciplina, até que, tendo-o experimentado nos seus pensamentos, ela possa confiar nele.
Sir.4.20 Então ela o porá firme, voltará a ele em linha recta. Ela o cumula de alegria,
Sir.4.21 desvenda-lhe seus segredos e enriquece-o com tesouros de ciência, de inteligência e de justiça.
Sir.4.22 Porém, se ele se transviar, ela o abandonará, e o entregará às mãos do seu inimigo.
Sir.4.23 Meu filho, aproveita-te do tempo, evita o mal;
Sir.4.24 para o bem de tua alma, não te envergonhes de dizer a verdade,
Sir.4.25 pois há uma vergonha que conduz ao pecado, e uma vergonha que atrai glória d graça.
Sir.4.26 Em teu próprio prejuízo não te mostres parcial, não mintas em prejuízo de tua alma.
Sir.4.27 Não tenhas complacência com as fragilidade do próximo,
Sir.4.28 não retenhas uma palavra que pode ser salutar, não escondas tua sabedoria pela tua vaidade.
Sir.4.29 Pois a sabedoria faz-se distinguir pela língua; o bom senso, o saber e a doutrina, pela palavra do sábio; e a firmeza, pelos actos de justiça.
Sir.4.30 Não contradigas de nenhum modo a verdade, envergonha-te da mentira cometida por ignorância.
Sir.4.31 Não te envergonhes de confessar os teus pecados; não te tornes escravo de nenhum homem que te leve a pecar.
Sir.4.32 Não resistas face a face ao homem poderoso, não te oponhas ao curso do rio.
Sir.4.33 Combate pela justiça a fim de salvares tua vida; até a morte, combate pela justiça, e Deus combaterá por ti contra teus inimigos.
Sir.4.34 Não sejas precipitado em palavras, e (ao mesmo tempo) covarde e negligente em tuas acções.
Sir.4.35 Não sejas como um leão em tua casa, prejudicando os teus domésticos e tiranizando os que te são submissos.
Sir.4.36 Que tua mão não seja aberta para receber, e fechada para dar.

 

Sir.5.1 Não contes com riquezas injustas. Não digas: Tenho o suficiente para viver, pois no dia do castigo e da escuridão, isso de nada te servirá.
Sir.5.2 Quando te sentires forte, não te entregues às cobiças de teu coração.
Sir.5.3 Não digas: Como sou forte! Ou: Quem me obrigará a prestar contas dos meus actos?
Sir.5.4 pois Deus tomará sua vingança. Não digas: Pequei, e o que me aconteceu de mal? Pois o Senhor é lento para castigar (os crimes).
Sir.5.5 A propósito de um pecado perdoado, não estejas sem temor, e não acrescentes pecado sobre pecado.
Sir.5.6 Não digas: A misericórdia do Senhor é grande, ele terá piedade da multidão dos meus pecados,
Sir.5.7 pois piedade e cólera são nele igualmente rápidas, e o seu furor visa aos pecadores.
Sir.5.8 Não demores em te converteres ao Senhor, não adies de dia em dia,
Sir.5.9 pois sua cólera virá de repente, e ele te perderá no dia do castigo.
Sir.5.10 Não te inquietes à procura de riquezas injustas, de nada te servirão no dia do castigo e da escuridão.
Sir.5.11 Não joeires a todos os ventos, não andes por qualquer caminho, pois é assim que se revela o pecador de linguagem dúbia.
Sir.5.12 Firma-te no caminho do Senhor, na sinceridade de teus sentimentos e teus conhecimentos, nunca te afastes de uma linguagem pacífica e equitativa.
Sir.5.13 Escuta com doçura o que te dizem a fim de compreenderes, darás então uma resposta sábia e apropriada.
Sir.5.14 Se tiveres inteligência, responde a outrem, senão, põe a mão sobre a tua boca, para que não sejas surpreendido a dizer uma palavra indiscreta, e venhas a te envergonhar dela.
Sir.5.15 A honra e a consideração acompanham a linguagem do sábio, mas a língua do imprudente é a sua própria ruína.
Sir.5.16 Não passes por delator, não caias com embaraço nas armadilhas de tua língua,
Sir.5.17 pois ao ladrão estão reservados a confusão e o arrependimento, à língua dúbia, uma censura severa; ao delator, ódio, inimizade e infâmia.
Sir.5.18 Faz justiça tanto para o pequeno como para o grande.

 

Sir.6.1 De amigo não te tornes inimigo de teu próximo, pois o malvado terá por sorte a vergonha e a ignomínia, como todo pecador invejoso e de língua fingida.
Sir.6.2 Não te eleves como um touro nos pensamentos de teu coração, para não suceder que a tua loucura quebre a tua força,
Sir.6.3 devore as tuas folhas, apodreça os teus frutos e te deixe como uma árvore seca no deserto.
Sir.6.4 Pois uma alma perversa é a perda de quem a possui; torná-lo-á motivo de zombaria para seus inimigos, e conduzi-lo-á à sorte dos ímpios.
Sir.6.5 Uma boa palavra multiplica os amigos e apazigua os inimigos; a linguagem elegante do homem virtuoso é uma opulência.
Sir.6.6 Dá-te bem com muitos, mas escolhe para conselheiro um entre mil.
Sir.6.7 Se adquirires um amigo, adquire-o na provação, não confies nele tão depressa.
Sir.6.8 Pois há amigos em certas horas que deixarão de o ser no dia da aflição.
Sir.6.9 Há amigo que se torna inimigo, e há amigo que desvendará ódios, querelas e disputas;
Sir.6.10 há amigo que só o é para a mesa, e que deixará de o ser no dia da desgraça.
Sir.6.11 Se teu amigo for constante, ele te será como um igual, e agirá livremente com os de tua casa.
Sir.6.12 Se se rebaixa em tua presença e se retrai diante de ti, terás aí, na união dos corações, uma excelente amizade.
Sir.6.13 Separa-te daqueles que são teus inimigos, e fica de sobreaviso diante de teus amigos.
Sir.6.14 Um amigo fiel é uma poderosa protecção: quem o achou, descobriu um tesouro.
Sir.6.15 Nada é comparável a um amigo fiel, o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé.
Sir.6.16 Um amigo fiel é um remédio de vida e imortalidade; quem teme ao Senhor, achará esse amigo.
Sir.6.17 Quem teme ao Senhor terá também uma excelente amizade, pois seu amigo lhe será semelhante.
Sir.6.18 Meu filho, aceita a instrução desde teus jovens anos; ganharás uma sabedoria que durará até à velhice.
Sir.6.19 Vai ao encontro dela, como aquele que lavra e semeia, espera pacientemente seus excelentes frutos,
Sir.6.20 terás alguma pena em cultivá-la, mas, em breve, comerás os seus frutos.
Sir.6.21 Quanto a sabedoria é amarga para os ignorantes! O insensato não permanecerá junto a ela.
Sir.6.22 Ela lhes será como uma pesada pedra de provação, eles não tardarão a desfazer-se dela.
Sir.6.23 Pois a sabedoria que instrui justifica o seu nome, não se manifesta a muitos; mas, naqueles que a conhecem, persevera, até (tê-los levado) à presença de Deus.
Sir.6.24 Escuta, meu filho, recebe um sábio conselho, não rejeites minha advertência.
Sir.6.25 Mete os teus pés nos seus grilhões, e teu pescoço em suas correntes.
Sir.6.26 Abaixa teu ombro para carregá-la, não sejas impaciente em suportar seus liames.
Sir.6.27 Vem a ela com todo o teu coração. Guarda seus caminhos com todas as tuas forças.
Sir.6.28 Segue-lhe os passos e ela se dará a conhecer; quando a tiveres abraçado, não a deixes.
Sir.6.29 Pois acharás finalmente nela o teu repouso. E ela transformar-se-á para ti em um motivo de alegria.
Sir.6.30 Seus grilhões ser-te-ão uma protecção, um firme apoio; suas correntes te serão um adorno glorioso;
Sir.6.31 pois nela há uma beleza que dá vida, e seus liames são ligaduras que curam.
Sir.6.32 Como ele te revestirás como de uma vestimenta de glória, e a porás sobre ti como uma coroa de júbilo.
Sir.6.33 Meu filho, se me ouvires com atenção, serás instruído; se submeteres o teu espírito, tornar-te-ás sábio.
Sir.6.34 Se me deres ouvido, receberás a doutrina. Se gostares de ouvir, adquirirás a sabedoria.
Sir.6.35 Permanece na companhia dos doutos anciãos, une-te de coração à sua sabedoria, a fim de que possas ouvir o que dizem de Deus, e não te escapem suas louváveis máximas.
Sir.6.36 Se vires um homem sensato, madruga para ir ter com ele, desgaste o teu pé o limiar de sua porta.
Sir.6.37 Concentra teu pensamento nos preceitos de Deus, sê assíduo à meditação de seus mandamentos. Ele próprio te dará um coração, e ser-te-á concedida a sabedoria que desejas.

 

Sir.7.1 Não pratiques o mal, e o mal não te iludirá.
Sir.7.2 Afasta-te da injustiça, e a injustiça se afastará de ti.
Sir.7.3 Meu filho, não semeies o mal nos sulcos da injustiça, e dele não recolherás o séptuplo.
Sir.7.4 Não peças ao Senhor o encargo de guiar outrem, nem ao rei um lugar de destaque.
Sir.7.5 Não te justifiques perante Deus, pois ele conhece o fundo dos corações; não pretendas parecer sábio diante do rei.
Sir.7.6 Não procures tornar-te juiz, se não fores bastante forte para destruir a iniquidade, para que não aconteça que temas perante um homem poderoso, e te exponhas a pecar contra a equidade.
Sir.7.7 Não ofendas a população inteira de uma cidade, não te lances em meio da multidão.
Sir.7.8 Não acrescentes um segundo pecado ao primeiro, pois mesmo por causa de um só não ficarás impune.
Sir.7.9 Não te deixes levar ao desânimo.
Sir.7.10 Não descuides de orar nem de dar esmola.
Sir.7.11 Não digas: Deus há-de considerar a quantidade de meus dons; quando os oferecer ao Deus Altíssimo, ele os há-de aceitar.
Sir.7.12 Não zombes de um homem que está na aflição, pois há alguém que humilha e exalta: Deus que tudo vê.
Sir.7.13 Não inventes mentira contra teu irmão, não inventes nenhuma mentira contra teu amigo.
Sir.7.14 Cuida-te para não dizeres mentira alguma, pois o costume de mentir é coisa má.
Sir.7.15 Na companhia dos anciãos, não sejas falador, não multipliques as palavras em tua oração.
Sir.7.16 Não abomines as tarefas penosas, nem o labor da terra, que foi criado pelo Altíssimo.
Sir.7.17 Não te coloques no número das pessoas corrompidas,
Sir.7.18 lembra-te de que a cólera não tarda.
Sir.7.19 Humilha profundamente o teu espírito, pois o fogo e o verme são o castigo da carne do ímpio.
Sir.7.20 Não pratiques o mal contra um amigo que demora em te pagar, não desprezes por causa do ouro um irmão bem-amado.
Sir.7.21 Não te afastes da mulher sensata e virtuosa que te foi concedida no temor do Senhor; pois a graça de sua modéstia vale mais do que o ouro.
Sir.7.22 Não maltrates um escravo que trabalha pontualmente, nem o operário que te é devotado.
Sir.7.23 Que o escravo sensato te seja tão caro quanto a tua própria vida! Não o prives da liberdade, nem o abandones na indigência.
Sir.7.24 Tens rebanhos? Cuida deles; se te forem úteis, guarda-os em tua casa.
Sir.7.25 Tens filhos? Educa-os, e curva-os à obediência desde a infância.
Sir.7.26 Tens filhas? Vela pela integridade de seus corpos, não lhes mostres um rosto por demais jovial.
Sir.7.27 Casa tua filha, e terás feito um grande negócio; dá-a a um homem sensato.
Sir.7.28 Se tiveres mulher conforme teu coração, não a repudies, e não confies na que é odiosa.
Sir.7.29 Honra teu pai de todo o coração, não esqueças os gemidos de tua mãe;
Sir.7.30 lembra-te de que sem eles não terias nascido, e faz por eles o que fizeram por ti.
Sir.7.31 Teme a Deus com toda a tua alma, tem um profundo respeito pelos seus sacerdotes.
Sir.7.32 Ama com todas as tuas forças aquele que te criou; não abandones os seus ministros.
Sir.7.33 Honra a Deus com toda a tua alma, respeita os sacerdotes; (nos sacrifícios) oferece-lhes as espáduas.
Sir.7.34 Dá-lhes, como te foi prescrito, a parte da primícias e das vítimas expiatórias; purifica-te de tuas omissões com pequenas (oferendas);
Sir.7.35 oferece ao Senhor os dons das espáduas, os sacrifícios de santificação e as primícias das coisas santas.
Sir.7.36 Estende a mão para o pobre, a fim de que sejam perfeitos teu sacrifício e tua oferenda.
Sir.7.37 Dá de boa vontade a todos os vivos, não recuses esse benefício a um morto.
Sir.7.38 Não deixes de consolar os que choram, aproxima-te dos que estão aflitos.
Sir.7.39 Não tenhas preguiça de visitar um doente, pois é assim que te firmarás na caridade.
Sir.7.40 Em tudo o que fizeres, lembra-te de teu fim, e jamais pecarás.

 

Sir.8.1 Não disputes com um homem poderoso, para que não caias em suas mãos.
Sir.8.2 Não tenhas desavença com um rico, para não acontecer que ele te mova um processo;
Sir.8.3 pois o ouro e a prata perderam a muitos, e o poder deles chega até a transviar o coração de um rei.
Sir.8.4 Não tenhas desavença com um grande falador, e não amontoes lenha em sua fogueira.
Sir.8.5 Não convivas com um homem mal-educado, para não acontecer que ele fale mal de teus antepassados.
Sir.8.6 Não desprezes um homem que renuncia ao pecado, não lhe dirijas censuras; lembra-te de que todos merecemos o castigo.
Sir.8.7 Não desprezes um ancião, pois alguns dentre nós também envelheceremos.
Sir.8.8 Não te alegres com a morte de teu inimigo, pois sabes que todos morreremos, e não queremos que com isso se regozijem.
Sir.8.9 Não desprezes o que contarem os velhos sábios, mas entretém-te com suas palavras,
Sir.8.10 pois é com eles que aprenderás a sabedoria, os ensinamentos da inteligência, e a arte de servir irrepreensivelmente os poderosos.
Sir.8.11 Não desprezes os ensinamentos dos anciãos, pois eles os aprenderam com seus pais.
Sir.8.12 Estudarás com eles o conhecimento e a arte de responder com oportunidade.
Sir.8.13 Não acendas os tições dos pecadores, repreendendo-os, para não acontecer que te queimes nas chamas dos seus pecados.
Sir.8.14 Não resistas perante um insolente, para que ele não arme ciladas às tuas palavras.
Sir.8.15 Não emprestes dinheiro a alguém mais poderoso do que tu, pois, se lhe emprestares, considera-o perdido.
Sir.8.16 Não prestes fiança a outrem além de tuas posses, pois se o fizeres, considera-te na obrigação de pagá-la.
Sir.8.17 Não julgues (o procedimento) de um juiz, pois ele julga conforme a equidade.
Sir.8.18 Não enveredes por um caminho com um audacioso, para não acontecer que ele faça recair sobre ti seus delitos; pois ele só age segundo o seu capricho, e por causa de sua loucura perecerás com ele.
Sir.8.19 Não tenhas desavença com um homem irascível; não vás para o deserto com um audacioso, porque para ele nada vale o sangue, e ele te destruirá quando te achares sem socorro.
Sir.8.20 Não deliberes com loucos, pois só amam o que lhes agrada.
Sir.8.21 Nada resolvas perante um estranho, pois não sabes o que ele pode imaginar.
Sir.8.22 Não abras teu coração a qualquer homem, para não acontecer que recebas uma falsa amizade, e, além disso, ultrajes.

 

Sir.9.1 Não tenhas ciúme da mulher que repousa no teu seio, para que ela não empregue contra ti a malícia que lhe houveres ensinado.
Sir.9.2 Não entregues tua alma ao domínio de tua mulher, para que ela não usurpe tua autoridade e fiques humilhado.
Sir.9.3 Não lances os olhos para uma mulher leviana, para que não caias em suas ciladas.
Sir.9.4 Não frequentes assiduamente uma dançarina, e não lhe dês atenção, para que não pereças por causa de seus encantos.
Sir.9.5 Não detenhas o olhar sobre uma jovem, para que a sua beleza não venha a causar tua ruína.
Sir.9.6 Nunca te entregues às prostitutas, para que não te percas com os teus haveres.
Sir.9.7 Não lances os olhos daqui e dali pelas ruas da cidade, não vagueies pelos caminhos.
Sir.9.8 Desvia os olhos da mulher elegante, não fites com insistência uma beleza desconhecida.
Sir.9.9 Muitos pereceram por causa da beleza feminina, e por causa dela inflama-se o fogo do desejo.
Sir.9.10 Toda mulher que se entrega à devassidão é como o esterco que se pisa na estrada.
Sir.9.11 Muitos, por haveres admirado uma beleza desconhecida, foram condenados, pois a conversa dela queima como fogo.
Sir.9.12 Nunca te sentes ao lado de uma estrangeira, não te ponhas à mesa com ela;
Sir.9.13 não a provoques a beber vinho, para não acontecer que teu coração por ela se apaixone, e que pelo preço de teu sangue caias na perdição.
Sir.9.14 Não abandones um velho amigo, pois o novo não o valerá.
Sir.9.15 Vinho novo, amigo novo; é quando envelhece que o beberás com gosto.
Sir.9.16 Não invejes a glória nem as riquezas do pecador, pois não sabes qual será a sua ruína.
Sir.9.17 Não sintas prazer com a violência dos injustos; sabe que o ímpio desagrada a Deus até na habitação dos mortos.
Sir.9.18 Afasta-te do homem que tem o poder de matar, e assim não saberás o que é temer a morte.
Sir.9.19 Mas, se dele de aproximares, cuida em não cometer nenhuma falta, para não acontecer que ele tire a tua vida.
Sir.9.20 Sabe que a morte está próxima, porque andas em meio de armadilhas, e no meio das armas de inimigos escolarizados.
Sir.9.21 Tanto quanto possível, desconfia de quem de ti se aproxima, e aconselha-te com os sábios e os prudentes.
Sir.9.22 Que os teus convivas sejam virtuosos. Põe tua glória no temor de Deus.
Sir.9.23 Que o pensamento de Deus ocupe o teu espírito, e os preceitos do Altíssimo sejam a tua conversa.
Sir.9.24 É pela obra de suas mãos que o artista conquista a estima; e um príncipe do povo, pela sabedoria de seus discursos; e os anciãos, pela prudência de suas palavras.
Sir.9.25 Um grande falador é coisa terrível na cidade; o homem de conversas imprudentes torna-se odioso.

 

Sir.10.1. Um governador sábio julga o seu povo; o governo de um homem sensato será estável.
Sir.10.2 Tal o juiz do povo, tais os seus ministros; tal o governador da cidade, tais os seus habitantes.
Sir.10.3 Um rei privado de juízo perde o seu povo, as cidades povoam-se pelo bom senso dos que governam.
Sir.10.4 O domínio sobre um país está na mão de Deus. Ele lhe suscitará no tempo oportuno um governador útil.
Sir.10.5 A prosperidade do homem está na mão de Deus; é ele que põe na fronte do escriba um sinal de honra.
Sir.10.6 Não te recordes de nenhuma injustiça causada pelo próximo, nada faças por um procedimento injusto.
Sir.10.7 O orgulho é abominável a Deus e aos homens; e toda a iniquidade das nações provoca horror.
Sir.10.8 Um reino passa de um povo a outro, por causa das injustiças, dos ultrajes e de fraudes diversas.
Sir.10.9 Nada há mais criminoso do que a avareza; de que se orgulha o que é terra e cinza?
Sir.10.10 Nada há mais iníquo do que o amor ao dinheiro; aquele que o ama chega até a vender a sua alma. Vivo ainda, despojou-se de suas próprias entranhas.
Sir.10.11 A duração de todo o poder é breve; uma doença prolongada cansa o médico.
Sir.10.12 O médico atalha um breve mal-estar; assim, um que hoje é rei amanhã morrerá.
Sir.10.13 Quando o homem está morto, tem por herança serpentes, bichos e vermes.
Sir.10.14 O início do orgulho num homem é renegar a Deus,
Sir.10.15 pois seu coração se afasta daquele que o criou, porque o princípio de todo pecado é o orgulho; aquele que nele se compraz será coberto de maldições, e acabará sendo por elas derrubado.
Sir.10.16 Eis porque o Senhor desonrou a assembleia dos maus, e os destruiu para sempre.
Sir.10.17 Deus derrubou os tronos dos chefes orgulhosos e em lugar deles fez sentar homens pacíficos.
Sir.10.18 Deus fez secar as raízes das nações arrogantes, e implantou os humildes entre as mesmas nações.
Sir.10.19 O Senhor destruiu as terras das nações, e as arruinou até os alicerces.
Sir.10.20 Destruiu muitas delas e exterminou-as, apagou a sua lembrança de sobre a terra.
Sir.10.21 Deus apaga a memória dos orgulhosos, enquanto faz perdurar a dos humildes de coração.
Sir.10.22 O orgulho não foi criado para os homens, nem a cólera para o sexo feminino.
Sir.10.23 A raça do homem que teme a Deus será honrada; será desonrado aquele que desprezar os preceitos do Senhor.
Sir.10.24 Entre os seus irmãos, a homenagem é feita para aquele que os governa; aqueles que temem a Deus serão honrados na presença do Senhor.
Sir.10.25 Rico, nobre ou pobre, sua glória é o temor do Senhor.
Sir.10.26 Não desprezes o homem justo, ainda que pobre; não enalteças um pecador, ainda que rico,
Sir.10.27 O grande, o justo e o poderoso recebem homenagens, mas ninguém é maior do que aquele que teme a Deus.
Sir.10.28 Homens livres serão os súbitos de um escravo sensato. Repreendido, o homem prudente e bem educado não murmura, e o ignorante não será honrado.
Sir.10.29 Não te orgulhes do trabalho que fazes, não sejas indolente no tempo da adversidade.
Sir.10.30 Mais vale o trabalho e abundância, do que o jactancioso que não tem pão.
Sir.10.31 Meu filho, conserva tua alma na doçura, e dá-lhe a honra que merece.
Sir.10.32 Aquele que peca contra si mesmo, que o justificará? Quem devolverá a honra a quem desonrou sua vida?
Sir.10.33 Um pobre é honrado pelo seu conhecimento e temor a Deus; há quem o é por causa de suas riquezas.
Sir.10.34 Mas quanta glória teria se fosse rico aquele que é honrado, mesmo sendo pobre! Mas o que se gloria de sua riqueza, acautele-se para não se tornar pobre.

 

Sir.11.1 A sabedoria do humilde levantará a sua cabeça e o fará sentar-se no meio dos grandes.
Sir.11.2 Não avalies um homem pela sua aparência, não desprezes um homem pelo seu aspecto.
Sir.11.3 Pequena é a abelha entre os seres alados: o que produz, entretanto, é o que há de mais doce.
Sir.11.4 Não te glories nunca de tuas vestes, não te engrandeças no dia em que fores homenageado, pois só as obras do Altíssimo são admiráveis, dignas de glória, misteriosas e invisíveis.
Sir.11.5 Muitos príncipes ocuparam o trono, e alguém, em quem se não pensava, usou o diadema.
Sir.11.6 Muitos poderosos foram grandemente oprimidos, e homens ilustres foram entregues às mãos de outrem.
Sir.11.7 Não censures ninguém antes de estares bem informado; e quando te tiveres informado, repreende com equidade;
Sir.11.8 nada respondas antes de ter ouvido, não interrompas ninguém no meio do seu discurso.
Sir.11.9 Não indagues das coisas que não te dizem respeito; não te assentes com os maus para julgar.
Sir.11.10 Meu filho, não empreendas coisas em demasia, porque, se adquirires riquezas, não ficarás isento de culpa; se empreenderes muitos negócios, não poderás abrangê-los; se te antecipares, não te sairás bem deles.
Sir.11.11 Há ímpio que trabalha, se apressa e se queixa, porém só se torna menos rico.
Sir.11.12 Há homem esgotado e em grande necessidade de alívio, pobre de energia e rico em necessidades,
Sir.11.13 que o olhar de Deus considera com benevolência, e tira do desalento para lhe dar ânimo; muitos, ao verem isso, ficam surpreendidos e dão glória a Deus.
Sir.11.14 Bens e males, vida e morte, pobreza e riqueza vêm de Deus.
Sir.11.15 Em Deus se encontram a sabedoria, o conhecimento e a ciência da lei; nele residem a caridade e as boas obras.
Sir.11.16 O erro e as trevas foram criados com os pecadores; aqueles que se comprazem no mal, envelhecerão no mal.
Sir.11.17 O dom de Deus permanece nos justos, e seu aproveitamento assegura um triunfo eterno.
Sir.11.18 Há homem que enriquece, vivendo com economia, e a única recompensa que dela usufrui é a
Sir.11.19 de poder dizer: Achei o repouso, vou agora desfrutar meus haveres sozinho.
Sir.11.20 E ele não considera que o tempo passa, que vem a morte, e que, ao morrer, tudo deixará para os outros.
Sir.11.21 Permanece firme em tua aliança com Deus; que isto seja sempre o assunto de tuas conversas. E envelhece praticando os mandamentos.
Sir.11.22 Não prestes atenção ao que fazem os pecadores; põe tua confiança em Deus, e limita-te ao que fazes.
Sir.11.23 É, com efeito, coisa fácil aos olhos de Deus enriquecer repentinamente o pobre.
Sir.11.24 A bênção divina não se faz esperar para recompensar o justo. Em pouco tempo ele o faz crescer e dar fruto.
Sir.11.25 Não digas: De que preciso eu? Que tenho a esperar doravante?
Sir.11.26 Não digas tampouco: Eu me basto a mim mesmo; que mal posso temer para o futuro?
Sir.11.27 No dia feliz não percas a recordação dos males, nem a recordação do bem no dia infeliz.
Sir.11.28 Pois no dia da morte é fácil para Deus dar a cada um conforme o seu comportamento.
Sir.11.29 A dor de um instante faz esquecer os maiores prazeres; com a morte do homem, todos os seus actos serão desvendados.
Sir.11.30 Não louves a homem algum antes de sua morte, pois é em seus filhos que se reconhece um homem.
Sir.11.31 Não tragas um homem qualquer à tua casa, pois numerosas são as armadilhas do que engana.
Sir.11.32 Assim como sai um hálito fétido de um estômago estragado, assim como a perdiz atrai para a armadilha, e o cabrito para os laços, assim é o coração dos soberbos, e daquele que está à espreita para ver a ruína do próximo.
Sir.11.33 Transformando o bem em mal, ele arma ciladas, e põe nódoas nas coisas mais puras.
Sir.11.34 Uma centelha basta para acender uma grande fogueira; um só rebanho é causa de múltiplos morticínios, e o pecador procura traiçoeiramente derramar sangue.
Sir.11.35 Acautela-te contra o corruptor que trama a iniquidade, para não acontecer que ele faça de ti um eterno objecto de mofa.
Sir.11.36 Dás entrada em tua casa ao estrangeiro? Ele aí suscitará uma discórdia que te derrubará, e te tornará inimigo das pessoas de tua própria casa.

 

Sir.12.1 Se fizeres bem, sabe a quem o fazes, e receberás gratidão pelos teus benefícios.
Sir.12.2 Faz o bem para o justo, e disso terás grande recompensa, senão dele, pelo menos do Senhor,
Sir.12.3 pois não há bem para quem persevera no mal e não dá esmolas; porque o Altíssimo tem horror dos pecadores, e usa de misericórdia com os que se arrependem.
Sir.12.4 Dá ao homem bom, não ampares o pecador, pois Deus dará ao mau e ao pecador o que merecem; ele os guarda para o dia em que os castigará.
Sir.12.5 Dá àquele que é bom, e não auxilies o pecador.
Sir.12.6 Faz o bem ao homem humilde, e nada dês ao ímpio; impede que se lhe dê pão, para não suceder que ele se torne mais poderoso do que tu.
Sir.12.7 Pois acharás um duplo mal em todo o bem que lhe fizeres, porque o próprio Altíssimo abomina os pecadores, e exerce vingança sobre os ímpios.
Sir.12.8 O amigo não se conhece durante a prosperidade, e o inimigo não se pode esconder na adversidade.
Sir.12.9 Quando um homem é feliz, seus inimigos estão tristes; é na desgraça que se reconhece um amigo.
Sir.12.10 Não confies nunca em teu inimigo, pois a malícia dele é como a ferrugem que sempre volta no bronze.
Sir.12.11 Ainda mesmo que se humilhe e ande todo submisso, sê vigilante e previne-te contra ele,
Sir.12.12 Não o estabeleças junto de ti, nem ele se assente à tua direita, para não suceder que ele queira tomar o teu lugar e ocupar o teu assento; e que, reconhecendo enfim a veracidade das minhas palavras, te sintas ferido pelos meus avisos.
Sir.12.13 Quem terá pena de um encantador mordido por uma cobra, e de todos os que se aproximam das feras? Assim acontece com aquele que priva com o malvado, e que se acha envolvido nos pecados dele.
Sir.12.14 Ficará uma hora contigo, mas se vieres a fraquejar, não mais poderá conter-se.
Sir.12.15 O inimigo tem a doçura nos lábios, enquanto no coração arma laços para te lançar na cova.
Sir.12.16 O inimigo tem lágrimas nos olhos, mas, se tiver oportunidade, será insaciável de teu sangue.
Sir.12.17 Se a desgraça te ferir, hás-de achá-lo em primeiro lugar;
Sir.12.18 ele tem lágrimas nos olhos, mas, fingindo socorrer-te, dar-te-á uma rasteira.
Sir.12.19 Abanará a cabeça e baterá palmas, e, mudando de semblante, não cessará de cochichar.

 

Sir.13.1 Quem toca no pez ficará manchado; e quem trata com o orgulhoso, tornar-se-á orgulhoso.
Sir.13.2 Quem se liga com um mais poderoso do que ele, põe (sob os ombros) uma pesada carga. Não te tornes amigo de um mais poderoso do que tu.
Sir.13.3 Que ligação pode haver entre um pote de barro e um pote de ferro? Quando houver choque, (o pote de barro) será quebrado.
Sir.13.4 O rico comete uma injustiça e em seguida se põe a gritar; o pobre, ofendido, guarda silêncio.
Sir.13.5 Enquanto lhe servires, ele te empregará; quando nada mais tiveres, ele te abandonará.
Sir.13.6 Se tens haveres, ele se banqueteará contigo, te esgotará e não cuidará de tua sorte.
Sir.13.7 Se lhe fores útil, ele te dominará; com um sorriso ele te dará esperanças, com belas palavras te dirá: De que necessitas?
Sir.13.8 Confundir-te-á com seus banquetes, até que te tenha exaurido duas ou três vezes; e, por fim, zombará de ti; depois, vendo-te, abandornar-te-á, e abanará a cabeça, escarnecendo de ti.
Sir.13.9 Humilha-te perante Deus e espera que sua mão (execute).
Sir.13.10 Tem cuidado em não te deixares seduzir, para que não caias numa loucura aviltante.
Sir.13.11 Não te rebaixes em tua sabedoria, para não suceder que esse rebaixamento te arraste à loucura.
Sir.13.12 Se um poderoso te chamar, retira-te, e ele será ainda mais levado a insistir.
Sir.13.13 Não sejas importuno, para não acontecer que ele se canse de ti; não te afastes muito dele, para não suceder que ele te esqueça.
Sir.13.14 Não tenhas a audácia de falar de igual para igual com ele, e não confies em suas longas conversas. Pois fazendo-te falar muito, ele te experimentará, e com um sorriso te interrogará sobre os teus segredos.
Sir.13.15 Seu coração impiedoso relembrará todas as tuas palavras, e não te poupará nem aos maus tratos nem às cadeias.
Sir.13.16 Cuida de ti e presta bem atenção aos teus ouvidos, pois caminhas à beira de um abismo.
Sir.13.17 Mas, ouvido tudo isso, encara-o como um sonho, e serás vigilante;
Sir.13.18 Ama a Deus durante toda a tua vida, e invoca-o para tua salvação.
Sir.13.19 Todo ser vivo ama o seu semelhante, assim todo homem ama o seu próximo.
Sir.13.20 Toda carne se une a outra carne de sua espécie, e todo homem se associa ao seu semelhante.
Sir.13.21 O logo jamais terá amizade com o cordeiro: assim é entre o pecador e o justo.
Sir.13.22 Que relação pode haver entre um santo homem e um cão? Que ligação pode ter um rico com um pobre?
Sir.13.23 O onagro é a presa do leão no deserto: assim os pobres servem de pasto aos ricos.
Sir.13.24 E como a humanidade é abominada pelo orgulhoso, do mesmo modo o pobre causa horror ao rico.
Sir.13.25 Um rico abalado é apoiado pelos seus amigos. O pobre que tropeça é ainda empurrado pelos seus companheiros.
Sir.13.26 Quando um rico é enganado, numerosos são aqueles que o vêm ajudá-lo; se diz tolices, o apoiam.
Sir.13.27 Quando um pobre é enganado, ainda merece censura, e, se falar com sabedoria, não o levam em consideração.
Sir.13.28 Se fala o rico, todos se calam, e glorificam suas palavras até às nuvens;
Sir.13.29 se fala um pobre, dizem: Que é este homem? E se ele tropeçar, fazem-no cair.
Sir.13.30 A riqueza é boa para quem não tem a consciência pesada, péssima é a pobreza do mau que se lastima.
Sir.13.31 O coração do homem modifica seu rosto, seja em bem, seja em mal.
Sir.13.32 O sinal de um coração feliz é um rosto alegre, tu o acharás dificilmente e com esforço.

 

Sir.14.1 Feliz o homem que não pecou pelas suas palavras, e que não é atormentado pelo remorso do pecado.
Sir.14.2 Feliz aquele cuja alma não está triste e que não está privado de esperança!
Sir.14.3 Para o homem avarento e cúpido a riqueza é inútil; para que serve o ouro ao homem invejoso?
Sir.14.4 Quem acumula injustamente, com prejuízo da vida, acumula para outros, e outro há-de vir que esbanjará esses bens na devassidão.
Sir.14.5 Para quem será bom aquele que é mau para si mesmo? Não terá nenhuma satisfação em seus bens.
Sir.14.6 Nada é pior do que aquele que é avaro consigo mesmo: eis aí o verdadeiro salário de sua maldade.
Sir.14.7 Se ele fizer algum bem, é inconscientemente, a seu pesar, e acaba desvendando a sua maldade.
Sir.14.8 O olhar do invejoso é mau; ele desvia o rosto e despreza sua alma.
Sir.14.9 O olhar do avarento é insaciável a respeito da iniquidade, só ficará satisfeito quando tiver ressacado e consumido a sua alma.
Sir.14.10 O olhar maldoso só leva ao mal; não será saciado com pão, mas será pobre e triste em sua própria mesa.
Sir.14.11 Meu filho, se algo tiveres, faz com isso algum bem a ti mesmo, e apresenta a Deus oferendas dignas.
Sir.14.12 Lembra-te de que a morte não tarda, e de que o pacto da moradia dos mortos te foi revelado, pois é lei deste mundo que é preciso morrer,
Sir.14.13 Antes de morrer, faz bem ao teu amigo, e dá esmola ao pobre conforme tuas posses.
Sir.14.14 Não te prives de um dia feliz, e não deixes escapar nenhuma parcela do precioso dom.
Sir.14.15 Não será a outrem que deixarás o fruto de teus esforços e de teus trabalhos, para ser repartido por sorte?
Sir.14.16 Dá e recebe, e justifica a tua alma.
Sir.14.17 Pratica a justiça, antes de tua morte, pois na moradia dos mortos não há de se achar alimento.
Sir.14.18 Toda carne fenece como a erva, e como a folha que cresce numa árvore vigorosa.
Sir.14.19 Umas nascem, outras caem. Assim, nesta raça de carne e sangue, uma geração morre, outra nasce.
Sir.14.20 Tudo o que é corruptível acabará por ser destruído, e o artesão morrerá com o seu trabalho.
Sir.14.21 Toda obra excelente será aprovada e o seu autor nela achará orgulho.
Sir.14.22 Feliz o homem que persevera na sabedoria, que se exercita na prática da justiça, e que, em seu coração, pensa no olhar de Deus que tudo vê;
Sir.14.23 que repassa no seu coração os seus caminhos, que penetra no conhecimento de seus segredos, que caminha atrás dela seguindo-lhe as pegadas, e que permanece em suas vias;
Sir.14.24 que olha pelas suas janelas, que escuta à sua porta,
Sir.14.25 que se detém junto à sua casa e que, enterrando uma estaca dentro de suas muralhas, edifica sua cabana junto a ela. Nessa cabana, seus haveres repousam tranquilamente para sempre;
Sir.14.26 sob esse abrigo ele estabelece os seus filhos, e ele mesmo residirá debaixo dos seus ramos.
Sir.14.27 Em sua sombra ele encontra abrigo contra o calor, e repousará na sua glória.

 

Sir.15.1 Aquele que teme a Deus praticará o bem. Aquele que exerce a justiça possuirá a sabedoria.
Sir.15.2 Ela virá ao seu encontro como mãe cumulada de honrarias, e o receberá como uma esposa virgem;
Sir.15.3 alimentá-lo-á com o pão da vida e da inteligência, e o saciará com a água salutar da sabedoria. Ela se fortalecerá nele e o tornará inabalável,
Sir.15.4 ela o sustentará para que não seja confundido, e o exaltará entre os seus próximos.
Sir.15.5 Abrir-lhe-á a boca no meio da assembleia, enchê-lo-á do espírito de sabedoria e de inteligência, e o revestirá com um manto glorioso.
Sir.15.6 Acumulará sobre ele um tesouro de alegria e de júbilo, e lhe dará por herança um nome eterno.
Sir.15.7 Os homens insensatos não a alcançarão, mas os homens de bom senso irão ao encontro dela; os insensatos não a verão, porque ela está longe do orgulho e da fraude.
Sir.15.8 Os mentirosos dela não se recordarão, mas os homens sinceros achar-se-ão com ela, e prosperarão até a visita de Deus.
Sir.15.9 O louvor não é belo na boca do pecador,
Sir.15.10 porque a sabedoria vem de Deus; o louvor a Deus acompanha a sabedoria, enche a boca fiel, e lhe é inspirada pelo Dominador.
Sir.15.11 Não digas: É por causa de Deus que ela me falta. Pois cabe a ti não fazer o que ele abomina.
Sir.15.12 Não digas: Foi ele que me transviou, pois que Deus não necessita dos pecadores.
Sir.15.13 O Senhor detesta todo o erro e toda a abominação; aqueles que o temem não amam essas coisas.
Sir.15.14 No princípio Deus criou o homem, e o entregou ao seu próprio juízo;
Sir.15.15 deu-lhe ainda os mandamentos e os preceitos.
Sir.15.16 Se quiseres guardar os mandamentos, e praticar sempre fielmente o que é agradável (a Deus), eles te guardarão.
Sir.15.17 Ele pôs diante de ti a água e o fogo: estende a mão para aquilo que desejares.
Sir.15.18 A vida e a morte, o bem e o mal estão diante do homem; o que ele escolher, isso lhe será dado,
Sir.15.19 porque é grande a sabedoria de Deus. Forte e poderoso, ele vê sem cessar todos os homens.
Sir.15.20 Os olhos do Senhor estão sobre os que o temem, e ele conhece todo o comportamento dos homens.
Sir.15.21 Ele não deu ordem a ninguém para fazer o mal, e a ninguém deu licença para pecar;
Sir.15.22 pois não deseja uma multidão de filhos infiéis e inúteis.

 

Sir.16.1 Não te regozijes de ter muitos filhos se são maus, nem ponhas neles a tua alegria, se não tiverem o temor de Deus.
Sir.16.2 Não confies na sua vida, nem voltes os teus olhares para os seus trabalhos;
Sir.16.3 pois um único filho temente a Deus vale mais do que mil filhos ímpios.
Sir.16.4 Há mais vantagens em morrer sem filhos, que em deixar após si filhos ímpios.
Sir.16.5 Um único homem sensato fará povoar a pátria, enquanto um país de maus tornar-se-á deserto.
Sir.16.6 Vi com meus olhos inúmeros exemplos, e meus ouvidos ouviram alguns ainda mais graves.
Sir.16.7 O fogo acender-se-á na assembleia do maus, e a cólera se inflamará sobre um povo incrédulo.
Sir.16.8 Os gigantes não imploraram o perdão de seus pecados, e foram destruídos, apesar de terem confiado na própria força.
Sir.16.9 Deus não poupou a terra onde residia Lot, mas abominou os seus habitantes por causa de sua insolência.
Sir.16.10 Não teve pena deles, exterminou a nação inteira, que se engrandecia com o orgulho, apesar de seus pecados.
Sir.16.11 Assim aconteceu com os seiscentos mil homens vivos que se haviam reunido na dureza de coração; ainda que um único se tivesse mostrado obstinado, seria para admirar que não tivesse sido castigado,
Sir.16.12 pois misericórdia e ira estão sempre em Deus, grandemente misericordioso, porém capaz de cólera.
Sir.16.13 Os seus castigos igualam sua misericórdia; ele julga o homem conforme as suas obras.
Sir.16.14 O pecador não escapará em suas rapinas, e não será postergada a espera daquele que exerce a misericórdia;
Sir.16.15 toda a misericórdia colocará cada um em seu lugar, conforme o mérito de suas obras e a sabedoria de seu comportamento.
Sir.16.16 Não digas: Furtar-me-ei aos olhos de Deus; quem se lembrará de mim no alto do céu?
Sir.16.17 Não serei reconhecido no meio da multidão; quem sou eu no meio de uma tal multidão de criaturas?
Sir.16.18 Eis que o céu e o céu dos céus, o abismo, a terra inteira e tudo o que encerram se abalarão quando ele aparecer.
Sir.16.19 As montanhas, as colinas e os alicerces da terra tremerão de pavor quando Deus os olhar.
Sir.16.20 No meio de tudo isso, o coração do homem é insensato; Deus, porém, conhece todos os corações.
Sir.16.21 Quem é aquele que compreende os caminhos (de Deus), e a tempestade que escapa aos olhos do homem?
Sir.16.22 Com efeito a maior parte de suas obras está oculta; quem anunciará, quem poderá suportar os efeitos de sua justiça? Pois as sentenças (divinas) estão longe do pensamento de muitos, e o exame geral só se realizará no último dia.
Sir.16.23 O homem de coração mesquinho só pensa em vaidades; o imprudente e extraviado só se ocupa de loucuras.
Sir.16.24 Meu filho, ouve-me, adquire uma instrução sadia, torna o teu coração atento às minhas palavras.
Sir.16.25 Dar-te-ei um ensino muito exacto, vou tentar explicar-te o que é a sabedoria; torna o teu coração atento às minhas palavras, pois vou descrever-te com exactidão as maravilhas que Deus, desde o início, fez brilhar nas suas obras, e vou expor, com toda a veracidade, o conhecimento de Deus.
Sir.16.26 Por decreto de Deus suas obras existem desde o começo; desde a criação distinguiu-as em partes. Colocou as principais em suas épocas,
Sir.16.27 adornou-as para sempre; elas não sentiram necessidade nem fadiga, e nunca interromperam o seu trabalho.
Sir.16.28 Nunca nenhuma delas embaraçou a vizinha.
Sir.16.29 Não sejas incrédulo à palavra do Senhor.
Sir.16.30 Depois disto, olhou Deus para a terra, e encheu-a de benefícios.
Sir.16.31 É o que revela sobre a terra a alma de todo ser vivo, e é ao seu seio que todos eles voltam.

 

Sir.17.1 Deus criou o homem da terra, formou-o segundo a sua própria imagem;
Sir.17.2 e o fez de novo voltar à terra. Revestiu-o de força segundo a sua natureza;
Sir.17.3 determinou-lhe uma época e um número de dias. Deu-lhe domínio sobre tudo o que está na terra.
Sir.17.4 Fê-lo temido por todos os seres vivos, fê-lo senhor dos animais e dos pássaros.
Sir.17.5 De sua própria substância, deu-lhe uma companheira semelhante a ele, com inteligência, língua, olhos, ouvidos, e juízo para pensar; cumulou-os de saber e inteligência.
Sir.17.6 Criou neles a ciência do espírito, encheu-lhes o coração de sabedoria, e mostrou-lhes o bem e o mal.
Sir.17.7 Pôs o seu olhar nos seus corações para mostrar-lhes a majestade de suas obras,
Sir.17.8 a fim de que celebrassem a santidade do seu nome, e o glorificassem por suas maravilhas, apregoando a magnificência de suas obras.
Sir.17.9 Deu-lhes, além disso, a instrução, deu-lhes a posse da lei da vida;
Sir.17.10 concluiu com eles um pacto eterno, e revelou-lhes a justiça de seus preceitos.
Sir.17.11 Viram com os próprios olhos as maravilhas da sua glória, seus ouvidos ouviram a majestade de sua voz: Guardai-vos, disse-lhes ele, de toda a iniquidade.
Sir.17.12 Impôs a cada um (deveres) para com o próximo.
Sir.17.13 O proceder deles lhe está sempre diante dos olhos, nada lhe escapa.
Sir.17.14 Pôs um príncipe à testa de cada povo;
Sir.17.15 Israel, porém, foi visivelmente o quinhão do próprio Deus.
Sir.17.16 Todas as suas obras lhe são claras como o sol, e seus olhos observam sem cessar o seu proceder.
Sir.17.17 As leis de Deus não são eclipsadas pela iniquidade deles, e todos os pecados que cometem estão diante do Senhor.
Sir.17.18 A esmola do homem é para ele como um selo, e ele conserva a beneficência do homem como a pupila dos olhos.
Sir.17.19 Depois se levantará para dar a cada um o que lhe é devido, e fá-los-á voltar às profundezas da terra.
Sir.17.20 Aos penitentes, porém, abre o caminho da justiça: conforta os desfalecidos, e conserva-lhes a verdade como destino.
Sir.17.21 Converte-te ao Senhor, abandona os teus pecados.
Sir.17.22 Ora diante dele e diminui as ocasiões de pecado.
Sir.17.23 Volta para o Senhor, afasta-te de tua injustiça, e detesta o que causa horror a Deus.
Sir.17.24 Conhece a justiça e os juízos de Deus; permanece firme no estado em que ele te colocou, e na oração constante ao Altíssimo.
Sir.17.25 Anda na companhia do povo santo, com os que vivem e proclamam a glória de Deus.
Sir.17.26 Não te detenhas no erro dos ímpios, louva a Deus antes da morte;
Sir.17.27 após a morte nada mais há, o louvor terminou. Glorifica a Deus enquanto viveres; glorifica-o enquanto tiveres vida e saúde; louva a Deus e glorifica-o em suas misericórdias.
Sir.17.28 Quão grande é a misericórdia do Senhor, e o perdão que concede àqueles que para ele se voltam!
Sir.17.29 Pois não se pode encontrar tudo nos homens, porque os homens não são imortais, e se comprazem na vaidade e na malícia.
Sir.17.30 O que há de mais luminoso do que o sol? E, entretanto, ele tem eclipses. O que há de mais criminoso do que os pensamentos da carne e do sangue? Ora, isso será castigado.
Sir.17.31 O sol contempla a multidão dos astros do céu, enquanto que todos os homens são apenas terra e cinza.

 

Sir.18.1 O Eterno tudo criou sem excepção, só o Senhor será considerado justo. Ele é o rei invencível que permanece para sempre.
Sir.18.2 Quem será capaz de relatar as suas obras?
Sir.18.3 Quem poderá compreender as suas maravilhas?
Sir.18.4 Quem poderá descrever todo o poder de sua grandeza? Quem empreenderá a explicação de sua misericórdia?
Sir.18.5 Nada há a subtrair, nada a acrescentar às maravilhas de Deus; elas são incompreensíveis.
Sir.18.6 Quando o homem tiver acabado, então estará no começo; e quando cessar a pesquisa, ficará perplexo.
Sir.18.7 Que é o homem, e para que serve? Que mal ou que bem pode ele fazer?
Sir.18.8 A duração da vida humana é quando muito cem anos. No dia da eternidade esses breves anos serão contados como uma gota de água do mar, como um grão de areia.
Sir.18.9 É por isso que o Senhor é paciente com os homens, e espalha sobre eles a sua misericórdia.
Sir.18.10 Ele vê quanto é má a presunção do seu coração, e reconhece que o fim deles é lamentável;
Sir.18.11 é por isso que ele os trata com toda a doçura, e mostra-lhes o caminho da justiça.
Sir.18.12 A compaixão de um homem concerne ao seu próximo, mas a misericórdia divina estende-se sobre todo ser vivo.
Sir.18.13 Cheio de compaixão, (Deus) ensina os homens, e os repreende como um pastor o faz com o seu rebanho.
Sir.18.14 Compadece-se daquele que recebe os ensinamentos de sua misericórdia, e do que se apressa a cumprir os seus preceitos.
Sir.18.15 Meu filho, não mistures a repreensão com o benefício, não acrescentes nunca palavras duras e más às tuas dádivas.
Sir.18.16 Porventura o orvalho não refresca o calor ardente? Assim, uma palavra doce vale mais do que um presente.
Sir.18.17 A doçura das palavras não prevalece sobre a própria dádiva? Mas uma e outra coisa se encontram no homem justo.
Sir.18.18 O insensato censura com aspereza; a dádiva de um indiscreto resseca os olhos.
Sir.18.19 Antes de julgar, procura ser justo; antes de falar, aprende.
Sir.18.20 Usa o remédio antes de ficares doente. Interroga-te a ti mesmo antes do juízo, e acharás misericórdia diante de Deus.
Sir.18.21 Antes da doença, humilha-te, e no tempo da enfermidade mostra o teu proceder.
Sir.18.22 Nada te impeça de orar sempre, e não te envergonhes de progredir na justiça até a morte; pois a recompensa de Deus é eterna.
Sir.18.23 Antes da oração, prepara a tua alma, e não sejas como um homem que tenta a Deus.
Sir.18.24 Lembra-te da ira do último dia, e do tempo em que Deus castigará, desviando o rosto.
Sir.18.25 Lembra-te da pobreza quando estiveres na abundância e das necessidades da indigência no dia da riqueza.
Sir.18.26 Entre a manhã e a tarde muda o tempo, e tudo isto acontece num instante aos olhos de Deus.
Sir.18.27 Um homem sábio está sempre alerta; nos dias de tentação, se resguarda do pecado.
Sir.18.28 Todo homem sagaz reconhece a sabedoria, e presta homenagem àquele que a encontrou.
Sir.18.29 Os homens de linguagem sensata procedem também com sabedoria, compreendem a verdade e a justiça, e espalham uma multidão de sentenças e máximas.
Sir.18.30 Não te deixes levar por tuas más inclinações, e refreia os teus apetites.
Sir.18.31 Se satisfizeres a cobiça de tua alma, ela fará de ti a alegria dos teus inimigos.
Sir.18.32 Não te comprazas no meio das multidões, mesmo da menores, porque nelas somos constantemente comprometidos.
Sir.18.33 Não te empobreças, pedindo empréstimos para aparentar, quando nada tens na algibeira; isso equivaleria a atentar contra a tua própria vida.

 

Sir.19.1 O operário dado ao vinho não se enriquecerá, e aquele que se descuida das pequenas coisas, cairá pouco a pouco.
Sir.19.2 O vinho e as mulheres fazem sucumbir até mesmos os sábios, e tornam culpados os homens sensatos.
Sir.19.3 Aquele que se une às prostitutas é um homem de nenhuma valia; tornar-se-á pasto da podridão e dos vermes; ficará sendo um grande exemplo, e sua alma será suprimida do número dos vivos.
Sir.19.4 Aquele que é crédulo demais tem um coração leviano; sofrerá prejuízo e será tido como pecador contra si mesmo.
Sir.19.5 Quem se regozija com a iniquidade será desonrado; quem detesta a correcção abreviará a sua vida; quem odeia a tagarelice, destrói sua malícia.
Sir.19.6 Quem peca contra si próprio, arrepender-se-á de tê-lo feito; quem põe sua alegria na malícia, será apontado como infame.
Sir.19.7 Não repitas uma palavra dura e maldosa, e não serás prejudicado.
Sir.19.8 Não confies teu pensamento nem ao amigo nem ao inimigo. Se tiveres cometido uma falta, não a reveles,
Sir.19.9 pois ele te ouvirá, te observará, e, fingindo desculpar o teu pecado, te odiará. E estará sempre presente (para te prejudicar).
Sir.19.10 Ouviste uma palavra contra o teu próximo? Abafa-a dentro de ti; fica seguro de que ela não te fará morrer.
Sir.19.11 Por causa de uma palavra (irreflectida) o tolo padece de dores, como uma mulher que geme para dar à luz.
Sir.19.12 Como uma flecha cravada na gordura da coxa, assim é uma palavra no coração do insensato.
Sir.19.13 Repreende o teu amigo, porque talvez não tenha compreendido, e diga: Nada fiz. Ou se o fez, para que não torne a fazê-lo.
Sir.19.14 Repreende o teu próximo, porque talvez não tenha dito (aquilo) de que é acusado. Ou, se o disse, para que não o torne a dizer.
Sir.19.15 Repreende o teu próximo, porque muitas vezes se diz o que não é verdade,
Sir.19.16 e não acredites em tudo o que dizem. Homem que peca pela língua, mas sem fazer com intenção.
Sir.19.17 Pois quem não peca pela língua? Repreende o teu próximo antes de ameaçá-lo e dá ensejo ao temor do Altíssimo;
Sir.19.18 pois toda a sabedoria consiste no temor de Deus; nela está o temor de Deus. E em toda a sabedoria reside o cumprimento da lei.
Sir.19.19 O hábito de praticar o mal não é sabedoria; o modo de agir dos pecadores não é prudência.
Sir.19.20 Há uma malícia hábil que é execrável, e há uma estupidez que é apenas falta de sabedoria.
Sir.19.21 Mais vale o homem que tem pouca sabedoria, e a quem falta o senso, mas que tem o temor (de Deus), do que o homem que possui uma grande inteligência, e que transgride a lei do Altíssimo.
Sir.19.22 Há uma habilidade que não falha o alvo, mas que é iníqua.
Sir.19.23 Há quem fale com segurança e só diz a verdade, e há quem se humilhe maliciosamente, cujo coração está cheio de embuste.
Sir.19.24 Há quem se rebaixe com excesso em profunda humilhação, e quem abaixe a cabeça, fingindo não ver o que está oculto.
Sir.19.25 Se a fraqueza o impede de cometer o mal, não deixará de pecar, logo que houver ocasião.
Sir.19.26 Pelo semblante se reconhece um homem; pelo seu aspecto se reconhece um sábio.
Sir.19.27 As vestes do corpo, o riso dos dentes, e o modo de andar de um homem fazem-no revelar-se.
Sir.19.28 Há uma falsa correcção na cólera de um insolente; há um modo de julgar que muitas vezes não é justo; e aquele que se cala dá prova de prudência.

 

Sir.20.1 Oh! Quanto melhor é admoestar que irritar-se, e não impedir de falar aquele que quer confessar a sua falta!
Sir.20.2 Como o eunuco que anseia por violentar uma donzela,
Sir.20.3 assim é o que, por violência, faz um julgamento iníquo.
Sir.20.4 Como é bom que o corrigido manifeste o seu arrependimento! Pois assim se evita um pecado voluntário.
Sir.20.5 Há quem se cale e é considerado sábio, e quem se torne odioso pela intemperança no falar.
Sir.20.6 Há quem se cale por não saber falar, e há quem se cale porque reconhece quando é tempo (de falar).
Sir.20.7 O sábio permanece calado até o momento (oportuno), mas o leviano e imprudente não espera a ocasião.
Sir.20.8 Aquele que se expande em palavras, prejudica-se a si mesmo; quem se permite todo o desregramento torna-se odioso.
Sir.20.9 Para o homem desprovido de instrução há proveito na infelicidade, mas há certas descobertas que lhe acarretam a ruína.
Sir.20.10 Há dom que não é útil, e há dom que é duplamente recompensado.
Sir.20.11 Há quem ache a sua perda na própria glória, e há quem levantará a cabeça após uma humilhação.
Sir.20.12 Há quem compre muito por um preço módico, mas que (de fato) o paga pelo séptuplo do seu valor.
Sir.20.13 O sábio torna-se amável por suas palavras, enquanto que os encantos do insensato desaparecem.
Sir.20.14 O donativo do insensato não te trará proveito, pois ele te fixa com sete olhos.
Sir.20.15 Ele dá pouco e censura muitas vezes; quando abre a sua boca é como uma fogueira.
Sir.20.16 Há quem empresta hoje e amanhã o reclama. Tal homem é odioso.
Sir.20.17 O insensato não tem amigos, e pelo bem que faz não será bem acatado,
Sir.20.18 porque os que comem o seu pão têm línguas falsas; quantas e quantas vezes não zombarão dele?
Sir.20.19 Pois não agiu com bom senso, distribuindo o que devia guardar e o que não devia guardar.
Sir.20.20 A queda de uma língua mentirosa é como uma queda na laje; assim a ruína dos maus virá de repente.
Sir.20.21 Um homem desagradável é como uma história ruim, que se acha continuamente na boca das pessoas mal-educadas.
Sir.20.22 Será mal recebida a máxima que sair da boca do insensato, pois que ele a diz fora de tempo.
Sir.20.23 Há quem se abstenha de pecar por falta de meios, mas ressente o aguilhão do pecado até em seu repouso.
Sir.20.24 Há quem perca a sua alma por causa do respeito humano; perde-a, cedendo a uma pessoa imprudente; perde-se por atender demasiadamente a uma pessoa.
Sir.20.25 Há quem, por falsa vergonha, faça uma promessa a um amigo, e dele se faça gratuitamente um inimigo.
Sir.20.26 A mentira é no homem uma vergonhosa mancha: não deixa os lábios das pessoas mal-educadas.
Sir.20.27 Mais vale um ladrão do que um mentiroso contumaz, mas ambos terão a ruína como partilha.
Sir.20.28 O comportamento dos mentirosos é aviltante, sua vergonha jamais os abandonará.
Sir.20.29 O sábio atrai a si a estima por suas palavras; o homem prudente agradará aos poderosos.
Sir.20.30 Quem cultiva sua terra colherá montes de frutos; quem cultiva a justiça será ele próprio elevado; quem agrada aos poderosos fugirá da iniquidade.
Sir.20.31 Os presentes e as dádivas cegam os olhos dos juízes. São em sua boca como um freio que os torna mudos e os impede de castigar.
Sir.20.32 Sabedoria escondida é tesouro invisível. Para que serve uma e outro?
Sir.20.33 Mais vale aquele que dissimula sua insipiência, do que aquele que esconde sua sabedoria.

 

Sir.21.1 Filho, pecaste? Não o faças mais. Mas ora pelas tuas faltas passadas, para que te sejam perdoadas.
Sir.21.2 Foge do pecado com se foge de uma serpente; porque, se dela te aproximares, ela te morderá.
Sir.21.3 Os seus dentes são dentes de leão, que matam as almas dos homens.
Sir.21.4 Todo pecado é como uma espada de dois gumes: a chaga que ele produz é incurável.
Sir.21.5 O ultraje e a violência destroem as riquezas. A mais rica mansão se arruína pelo orgulho; assim será desenraizada a riqueza do orgulhoso.
Sir.21.6 A oração do pobre eleva-se de sua boca até os ouvidos (de Deus), (e Deus) se apressará em lhe fazer justiça.
Sir.21.7 Aquele que odeia a correcção segue os passos do pecador, aquele que teme a Deus volta ao seu próprio coração.
Sir.21.8 De longe é conhecido o poderoso de linguagem insolente, mas o homem sábio sabe como se descartar dele.
Sir.21.9 Quem constrói a sua casa às custas de outrem, é como aquele que amontoa pedras para (construir) no inverno.
Sir.21.10 A reunião dos pecadores é como um amontoado de estopas: seu fim será a fogueira.
Sir.21.11 O caminho dos pecadores é calçado de pedras unidas, mas ele conduz à região dos mortos, às trevas e aos suplícios.
Sir.21.12 Aquele que guarda a justiça penetrará o espírito dela.
Sir.21.13 A sabedoria e o bom senso são a consumação do temor a Deus.
Sir.21.14 Jamais tornar-se-á hábil aquele que não é sábio no bem,
Sir.21.15 pois há uma sabedoria que produz muito mal. E o bom senso não está onde está a amargura.
Sir.21.16 A ciência do sábio espalha-se como a água que transborda, e o conselho que ele dá permanece como fonte de vida.
Sir.21.17 O coração do insensato é como um cântaro lascado, nada retém da sabedoria.
Sir.21.18 Qualquer palavra sábia que ouça o homem sensato, ele a louvará e dela se aproveitará. Que a ouça um voluptuoso, e ela lhe desagradará, e ele a arremessará para trás de si.
Sir.21.19 A conversa do insensato é como um fardo para carregar, mas o encanto se acha nos lábios do homem sensato.
Sir.21.20 A conversação do homem prudente é procurada na sociedade; todos relembrarão suas palavras em seus corações.
Sir.21.21 A sabedoria é para o insensato como uma casa arruinada; a ciência do insensato é feita de palavras incoerentes.
Sir.21.22 A instrução é para o insensato como peias nos pés e como algemas nas mãos.
Sir.21.23 O insensato eleva a voz quando ri, mas o homem sábio sorri discretamente.
Sir.21.24 Para o homem prudente a ciência é um ornato de ouro, uma pulseira que traz no braço direito.
Sir.21.25 O insensato põe facilmente os pés na casa do vizinho, mas aquele que tem educação hesita em visitar um poderoso.
Sir.21.26 O insensato olha dentro de uma casa pela janela; o homem bem educado permanece fora.
Sir.21.27 É sinal de loucura escutar a uma porta; o homem prudente indigna-se com tal grosseria.
Sir.21.28 Os lábios dos imprudentes só proferem tolices, mas as palavras do sábio têm peso na balança.
Sir.21.29 O coração dos insensatos está na boca, a boca dos sábios está no coração.
Sir.21.30 Quando o ímpio amaldiçoa o adversário, amaldiçoa-se a si mesmo.
Sir.21.31 O delator macula-se a si próprio, e é odiado por todos; o que mora com ele será odioso, mas o homem sensato que se cala será honrado.

 

Sir.22.1 Ao preguiçoso é atirado esterco, só se fala dele com desprezo.
Sir.22.2 O preguiçoso é apedrejado com excremento, quem o tocar sacudirá a mão.
Sir.22.3 O filho mal educado é a vergonha de seu pai, a filha semelhante não gozará de nenhuma consideração.
Sir.22.4 Um jovem prudente é uma herança para o marido, mas a filha desavergonhada causa mágoa ao seu pai.
Sir.22.5 A mulher atrevida cobre de vergonha o pai e o marido; e é igual aos celerados: ambos a desprezam.
Sir.22.6 Uma palavra inoportuna é música em dia de luto; a sabedoria, porém, emprega com oportunidade o chicote e a instrução.
Sir.22.7 Instruir um insensato é tornar a ajustar um vaso quebrado;
Sir.22.8 falar a quem não ouve é como despertar alguém de um sono profundo.
Sir.22.9 Falar da sabedoria com um insensato é conversar com alguém que está adormecendo; no fim da conversa ele dirá: Que é?
Sir.22.10 Chora sobre um morto, porque ele perdeu a luz; chora sobre um tolo, porque é falho de juízo.
Sir.22.11 Chora menos sobre um morto, porque ele achou o repouso;
Sir.22.12 a vida criminosa do mau, porém, é pior do que a morte.
Sir.22.13 O luto por um morto dura sete dias, mas por um insensato e um ímpio, dura toda a sua vida.
Sir.22.14 Não fales muito com um estulto; não convivas com o insensato.
Sir.22.15 Acautela-te contra ele, para não seres incomodado; e não te mancharás com o contágio de seu pecado.
Sir.22.16 Afasta-te dele: encontrarás repouso, e a sua loucura não te causará mágoa.
Sir.22.17 O que há de mais pesado que o chumbo? E que outro nome dar-lhe a não ser o de insensato?
Sir.22.18 É mais fácil carregar areia, sal ou uma barra de ferro, do que suportar o imprudente, o tolo e o ímpio.
Sir.22.19 Um encaixe de madeira adaptado aos alicerces de um edifício não se desconjunta. Assim é o coração firmado por uma decisão bem amadurecida.
Sir.22.20 O desígnio de um homem sensato, em qualquer tempo que seja, não será alterado pelo temor.
Sir.22.21 Como a estacada posta em lugar elevado e a parede sem argamassa não podem resistir à violência do vento,
Sir.22.22 assim um coração tímido, de pensamentos tolos, não pode resistir ao choque do temor.
Sir.22.23 O coração medroso do insensato jamais tem temor em seus pensamentos; assim também o que não se apoia nos preceitos divinos.
Sir.22.24 Quem machuca um olho, dele faz sair lágrimas; quem magoa um coração, nele excita a sensibilidade.
Sir.22.25 Quem lança uma pedra aos pássaros, fá-los fugir; assim, quem insulta um amigo, rompe a amizade.
Sir.22.26 Ainda que tenhas arrancado a espada contra o teu amigo, não desesperes; porque o regresso é possível.
Sir.22.27 Ainda que tenhas dito contra ele palavras desagradáveis, não temas, porque a reconciliação é possível, salvo se se tratar de injúrias, afrontas, insolências, revelação de um segredo ou golpes à traição; em todos esses casos fugirá de ti o teu amigo.
Sir.22.28 Permanece fiel ao teu amigo em sua pobreza, a fim de te alegrares com ele na sua prosperidade.
Sir.22.29 Permanece-lhe fiel no tempo da aflição, a fim de teres parte com ele em sua herança.
Sir.22.30 O vapor e a fumaça elevam-se na fornalha antes do fogo; assim o homicídio e o derramamento de sangue são precedidos de injúrias, ultrajes e ameaças.
Sir.22.31 Não me envergonharei de saudar um amigo, nem me esconderei da sua presença; e se me acontecer algum mal por isso, eu o suportarei,
Sir.22.32 mas quem o souber, dele desconfiará.
Sir.22.33 Quem porá uma guarda à minha boca, e um selo inviolável nos meus lábios, para que eu não caia por sua causa, e para que minha língua não me perca?

 

Sir.23.1 Senhor, meu pai e soberano de minha vida, não me abandoneis ao conselho de meus lábios, e não permitais que eles me façam sucumbir.
Sir.23.2 Quem fará sentir o chicote em meus pensamentos, e em meu coração a doutrina da sabedoria, para eu não ser poupado nos pecados por ignorância, a fim de que esses erros não apareçam?
Sir.23.3 Para que não aumentem as minhas omissões, e não se multipliquem as minhas ignorâncias, e eu não caia diante de meus adversários, e não escarneça de mim o meu inimigo?
Sir.23.4 Senhor, meu pai e Deus de minha vida, não me abandoneis às suas sugestões;
Sir.23.5 não me deis olhos altivos e preservai-me da cobiça!
Sir.23.6 Afastai de mim a intemperança! Que a paixão da volúpia não se apodere de mim e não me entregueis a uma alma sem pejo e sem pudor!
Sir.23.7 Ouvi, filhos, o conhecimento que eu vos dou: aquele que o guardar não perecerá pelos lábios, nem cairá em acções criminosas.
Sir.23.8 O pecador é apanhado pela sua leviandade; o orgulhoso e o maledicente nela encontrarão motivos de queda.
Sir.23.9 Que tua boca não se acostume ao juramento, porque isso leva a muitos pecados.
Sir.23.10 Que o nome de Deus não esteja sempre na tua boca, e que não mistures nas tuas conversas o nome dos santos, porque nisso não estarias isento de culpa.
Sir.23.11 Pois, assim como um escravo submetido continuamente à tortura, dela trará as cicatrizes, assim, todo homem que jura pelo nome de Deus, não poderá totalmente escapar ao pecado.
Sir.23.12 O homem que jura com frequência será cheio de iniquidade, e o flagelo não deixará a sua casa;
Sir.23.13 se não cumprir o juramento, sua culpa recairá sobre ele; e, se dissimular, pecará duplamente.
Sir.23.14 Se jurar em vão, isso não o justificará: sua casa será cheia de castigos.
Sir.23.15 Há uma outra palavra que merece a morte, e não deve ser encontrada na herança de Jacob!
Sir.23.16 Tudo isto está longe dos homens piedosos, que não se comprazem em tais crimes.
Sir.23.17 Não acostumes tua boca a uma linguagem grosseira, pois aí sempre haverá pecado.
Sir.23.18 Lembra-te de teu pai e de tua mãe, quando te achares no meio dos poderosos,
Sir.23.19 para não acontecer que Deus se esqueça de ti na presença deles, e que, tornando-te insensato pela tua excessiva familiaridade, tenhas de suportar um insulto, e desejes não ter nascido, e amaldiçoes o dia do teu nascimento.
Sir.23.20 O homem acostumado a dizer palavras injuriosas jamais se corrigirá disso.
Sir.23.21 Duas espécies de pessoas multiplicam os pecados, e a terceira atrai sobre si a cólera e a perdição.
Sir.23.22 A alma que queima como um fogo ardente não se apagará antes de ter devorado alguma coisa.
Sir.23.23 O homem que abusa de seu próprio corpo, não terá sossego enquanto não acender uma fogueira.
Sir.23.24 Para o fornicador todo o alimento é doce; não se cansará de pecar até à morte.
Sir.23.25 O homem que profana seu leito prejudica-se a si mesmo, e diz: Quem me vê?
Sir.23.26 As trevas me rodeiam, as paredes me escondem; ninguém me olha; a quem temerei? O Altíssimo não se recordará de meus pecados.
Sir.23.27 E ele não compreende que o olhar de Deus tudo vê, que um semelhante temor humano exclui dele o temor a Deus, e que os olhos dos homens o temem.
Sir.23.28 Ele não sabe que os olhos do Senhor são muito mais luminosos que o sol, que examinam por todos os lados o procedimento dos homens, as profundezas do abismo, e investigam o coração humano até em seus mais íntimos esconderijos.
Sir.23.29 Pois, o Senhor Deus conhecia todas as coisas antes de tê-las criado, e as vê todas, depois que as completou.
Sir.23.30 Este tal será castigado nas praças públicas da cidade; será posto em fuga como o potro da égua, e será apanhado onde menos o esperar.
Sir.23.31 Será vexado diante de todos, porque não compreendeu o que é o temor a Deus.
Sir.23.32 Assim também perecerá toda mulher que deixar seu marido, e lhe der como herdeiro um filho adulterino,
Sir.23.33 porque primeiramente ela foi desobediente à lei do Altíssimo, em segundo lugar pecou contra o seu marido, cometendo assim um adultério, dando-se a si filhos de outro homem.
Sir.23.34 Essa mulher será trazida perante a assembleia, e seus filhos serão vigiados.
Sir.23.35 Seus filhos não pegarão raízes; seus ramos não darão frutos.
Sir.23.36 Ela deixará uma memória maldita, e sua desonra jamais se apagará.
Sir.23.37 E todos aqueles que lhe sobreviverem reconhecerão que nada é melhor do que o temor a Deus, e nada mais suave que guardar os seus preceitos.
Sir.23.38 É uma grande glória seguir o Senhor, pois é ele quem dá vida longa.

 

Sir.24.1 A sabedoria faz o seu próprio elogio, honra-se em Deus, gloria-se no meio do seu povo.
Sir.24.2 Ela abre a boca na assembleia do Altíssimo, gloria-se diante dos exércitos do Senhor,
Sir.24.3 é exaltada no meio do seu povo, e admirada na assembleia santa.
Sir.24.4 Entre a multidão dos eleitos, recebe louvores, e bênçãos entre os abençoados de Deus.
Sir.24.5 Ela diz: Saí da boca do Altíssimo; nasci antes de toda criatura.
Sir.24.6 Eu fiz levantar no céu uma luz indefectível, e cobri toda a terra como que de uma nuvem.
Sir.24.7 Habitei nos lugares mais altos: meu trono está numa coluna de nuvens.
Sir.24.8 Sozinha percorri a abóbada celeste, e penetrei nas profundezas dos abismos. Andei sobre as ondas do mar,
Sir.24.9 e percorri toda a terra. Imperei sobre todos os povos
Sir.24.10 e sobre todas as nações.
Sir.24.11 Tive sob os meus pés, com meu poder, os corações de todos os homens, grandes e pequenos. Entre todas as coisas procurei um lugar de repouso, e habitarei na moradia do Senhor.
Sir.24.12 Então a voz do Criador do universo deu-me suas ordens, e aquele que me criou repousou sob minha tenda.
Sir.24.13 E disse-me: Habita em Jacob, possui tua herança em Israel, estende tuas raízes entre os eleitos.
Sir.24.14 Desde o início, antes de todos os séculos, ele me criou, e não deixarei de existir até o fim dos séculos; e exerci as minhas funções diante dele na casa santa.
Sir.24.15 Assim fui firmada em Sião; repousei na cidade santa, e em Jerusalém está a sede do meu poder.
Sir.24.16 Lancei raízes no meio de um povo glorioso, cuja herança está na partilha de meu Deus; e fixei minha morada na assembleia dos santos.
Sir.24.17 Elevei-me como o cedro do Líbano, como o cipreste do monte Sião;
Sir.24.18 cresci como a palmeira de Cades, como as roseiras de Jericó.
Sir.24.19 Elevei-me como uma formosa oliveira nos campos, como um plátano no caminho à beira das águas.
Sir.24.20 Exalo um perfume de canela e de bálsamo odorífero, um perfume como de mirra escolhida;
Sir.24.21 como o estoraque, o gálbano, o ônix e a mirra, como a gota de incenso que cai por si própria, perfumei minha morada. Meu perfume é como o de um bálsamo sem mistura.
Sir.24.22 Estendi meus galhos como um terebinto, meus ramos são de honra e de graça.
Sir.24.23 Cresci como a vinha de frutos de agradável odor, e minhas flores são frutos de glória e abundância.
Sir.24.24 Sou a mãe do puro amor, do temor (de Deus), da ciência e da santa esperança,
Sir.24.25 em mim se acha toda a graça do caminho e da verdade, em mim toda a esperança da vida e da virtude.
Sir.24.26 Vinde a mim todos os que me desejais com ardor, e enchei-vos de meus frutos;
Sir.24.27 pois meu espírito é mais doce do que o mel, e minha posse mais suave que o favo de mel.
Sir.24.28 A memória de meu nome durará por toda a série dos séculos.
Sir.24.29 Aqueles que me comem terão ainda fome, e aqueles que me bebem terão ainda sede.
Sir.24.30 Aquele que me ouve não será humilhado, e os que agem por mim não pecarão.
Sir.24.31 Aqueles que me tornam conhecida terão a vida eterna.
Sir.24.32 Tudo isso é o livro da vida, a aliança do Altíssimo, e o conhecimento da verdade.
Sir.24.33 Moisés deu-nos a lei com os preceitos da justiça, a herança da casa de Jacob e as promessas feitas a Israel.
Sir.24.34 (Deus) prometeu a seu servo David que faria sair dele um rei muito poderoso, o qual se sentaria eternamente num trono de glória.
Sir.24.35 (A lei) faz transbordar a sabedoria como o Fison, e como o Tigre na época dos frutos novos;
Sir.24.36 ela espalha a inteligência como o Eufrates, e uma inundação como a do Jordão no tempo da colheita.
Sir.24.37 É ela quem derrama a ciência como o Nilo, soltando as águas como o Guion no tempo da vindima.
Sir.24.38 Foi ele quem primeiro a conheceu perfeitamente, essa sabedoria impenetrável às almas fracas.
Sir.24.39 O seu pensamento é mais vasto do que o mar, e seu conselho, mais profundo do que o grande abismo.
Sir.24.40 Eu, a sabedoria, fiz correr os rios.
Sir.24.41 Sou como o curso da água imensa de um rio, como o canal de uma ribeira, e como um aqueduto saindo do paraíso.
Sir.24.42 Eu disse: Regarei as plantas do meu jardim, darei de beber aos frutos de meu prado;
Sir.24.43 e eis que meu curso de água tornou-se abundante, e meu rio tornou-se um mar.
Sir.24.44 Pois a luz da ciência que eu derramo sobre todos é como a luz da manhã, e de longe eu a torno conhecida.
Sir.24.45 Penetrarei em todas as profundezas da terra, visitarei todos aqueles que dormem, e alumiarei todos os que confiam no Senhor.
Sir.24.46 Continuarei a espalhar a minha doutrina como uma profecia, e deixá-la-ei aos que buscam a sabedoria, e não abandonarei seus descendentes até o século santo.
Sir.24.47 Considerai que não trabalhei só para mim, mas para todos aqueles que buscam a verdade.

 

Sir.25.1 Meu espírito se compraz em três coisas que têm a aprovação de Deus e dos homens:
Sir.25.2 a união entre os irmãos, o amor entre os parentes, e um marido que vive bem com sua mulher.
Sir.25.3 Mas há três espécies de gente que minha alma detesta, e cuja vida me é insuportável:
Sir.25.4 um pobre orgulhoso, um rico mentiroso e um ancião louco e insensato.
Sir.25.5 Como acharás na velhice aquilo que não tiveres acumulado na juventude?
Sir.25.6 Quão belo
é para a velhice o saber julgar, e para os anciãos o saber aconselhar!
Sir.25.7 Quão bela é a sabedoria nas pessoas de idade avançada, e a inteligência com a prudência nas pessoas honradas!
Sir.25.8 A experiência consumada é a coroa dos anciãos; o temor de Deus é a sua glória.
Sir.25.9 Nove coisas se apresentam ao meu espírito, as quais considero felizes, e uma décima que anunciarei aos homens:
Sir.25.10 um homem que encontra a sua alegria em seus filhos; um homem que vive o bastante para ver a ruína de seus inimigos;
Sir.25.11 aquele - feliz dele! - que vive com uma mulher sensata, e que não pecou pela língua, nem teve de servir a pessoas indignas dele.
Sir.25.12 Feliz aquele que encontrou um amigo verdadeiro, e que fala da justiça a um ouvido atento.
Sir.25.13 Como é grande aquele que encontrou sabedoria e ciência! Mas nada é tão grande como aquele que teme ao Senhor:
Sir.25.14 o temor a Deus coloca-o acima de tudo.
Sir.25.15 Feliz o homem que recebeu o dom do temor a Deus.
Sir.25.16 O temor a Deus é o começo de seu amor, e a ele é preciso acrescentar um princípio de fé.
Sir.25.17 A tristeza do coração é uma chaga universal, e a maldade feminina é uma malícia consumada.
Sir.25.18 Toda chaga, não, porém, a chaga do coração;
Sir.25.19 toda malícia, não, porém, a malícia da mulher;
Sir.25.20 toda vingança, não, porém, a que nos causam nossos adversários;
Sir.25.21 toda vingança, não, porém, a de nossos inimigos.
Sir.25.22 Não há veneno pior que o das serpentes;
Sir.25.23 não há cólera que vença a da mulher. É melhor viver com um leão e um dragão, que morar com uma mulher maldosa.
Sir.25.24 A malícia de uma mulher transtorna-lhe as feições, obscurece-lhe o olhar como o de um urso, e dá-lhe uma tez com a aparência de saco.
Sir.25.25 Entre seus parentes, queixa-se o seu marido, e, ouvindo-os, suspira amargamente.
Sir.25.26 Toda malícia é leve, comparada com a malícia de uma mulher; que a sorte dos pecadores caia sobre ela!
Sir.25.27 Como uma ladeira arenosa aos pés de um ancião, assim é a mulher tagarela para um marido pacato.
Sir.25.28 Não contemples a beleza de uma mulher, não cobices uma mulher pela sua beleza.
Sir.25.29 Grandes são a cólera de uma mulher, sua audácia, sua desordem.
Sir.25.30 Se a mulher tiver o mando, ela se erguerá contra o marido.
Sir.25.31 Coração abatido, semblante triste e chaga de coração: eis (o que faz) uma mulher maldosa.
Sir.25.32 Mãos lânguidas, joelhos que se dobram: eis (o que faz) uma mulher que não traz felicidade ao seu marido.
Sir.25.33 Foi pela mulher que começou o pecado, e é por causa dela que todos morremos.
Sir.25.34 Não dês à tua água a mais ligeira abertura, nem à mulher maldosa a liberdade de sair a público.
Sir.25.35 Se ela não andar sob a direcção de tuas mãos, ela te cobrirá de vergonha na presença de teus inimigos.
Sir.25.36 Separa-te do seu corpo, a fim de que não abuse sempre de ti.

 

Sir.26.1 Feliz o homem que tem uma boa mulher, pois, se duplicará o número de seus anos.
Sir.26.2 A mulher forte faz a alegria de seu marido, e derramará paz nos anos de sua vida.
Sir.26.3 É um bom quinhão uma mulher bondosa; no quinhão daqueles que temem a Deus, ela será dada a um homem pelas suas boas acções.
Sir.26.4 Rico ou pobre, (o seu marido) tem o coração satisfeito, e seu rosto reflecte alegria em todo o tempo.
Sir.26.5 Meu coração teme três coisas, e uma quarta faz empalidecer de pavor o meu semblante:
Sir.26.6 a denúncia de uma cidade, o motim de um povo,
Sir.26.7 a calúnia, coisas estas mais temíveis que a morte;
Sir.26.8 mas uma mulher ciumenta é uma dor de coração e um luto.
Sir.26.9 A língua de uma mulher ciumenta é um chicote que atinge todos os homens.
Sir.26.10 Uma mulher maldosa é como jugo de bois desajustado; quem a possui é como aquele que pega um escorpião.
Sir.26.11 A mulher que se dá à bebida é motivo de grande cólera; sua ofensa e sua infâmia não ficarão ocultas.
Sir.26.12 O mau procedimento de uma mulher revela-se na imprudência de seu olhar e no pestanejar das pálpebras.
Sir.26.13 Vigia cuidadosamente a jovem que não se retrai dos homens, para que não se perca, achando ocasião.
Sir.26.14 Desconfia de toda ousadia de seus olhos, e não te admires se ela te desprezar.
Sir.26.15 Como um viajante sedento abre a boca diante da fonte e bebe toda a água que encontra, assim senta-se ela em qualquer cama até desfalecer, e qualquer flecha abre sua aljava.
Sir.26.16 A graça de uma mulher cuidadosa rejubila seu marido,
Sir.26.17 e seu bom comportamento revigora os ossos.
Sir.26.18 É um dom de Deus uma mulher sensata e silenciosa, e nada se compara a uma mulher bem-educada.
Sir.26.19 A mulher santa e honesta é uma graça inestimável;
Sir.26.20 não há peso para pesar o valor de uma alma casta.
Sir.26.21 Assim como o sol que se levanta nas alturas de Deus, assim é a beleza de uma mulher honrada, ornamento de sua casa.
Sir.26.22 Como a lâmpada que brilha no candelabro sagrado, assim é a beleza do rosto na idade madura.
Sir.26.23 Como colunas de ouro sobre alicerces de prata, são as pernas formosas sobre calcanhares firmes.
Sir.26.24 Como fundamentos eternos sobre pedra firme, assim são os preceitos divinos no coração de uma mulher santa.
Sir.26.25 Duas coisas entristecem o meu coração, e uma terceira me irrita:
Sir.26.26 um homem de guerra que perece na indigência, um homem sábio que é desprezado,
Sir.26.27 e aquele que passa da justiça ao pecado; a este último, Deus reserva a espada.
Sir.26.28 Duas coisas me parecem difíceis e perigosas: dificilmente evitará erros o que negocia, e o taberneiro não escapará ao pecado da língua.

 

Sir.27.1 A pobreza fez cair vários deles no pecado. Quem procura enriquecer, afasta os olhos (de Deus).
Sir.27.2 Como se enterra um pau entre as junturas das pedras, assim penetra o pecado entre a venda e a compra.
Sir.27.3 O pecado será esmagado com o pecador.
Sir.27.4 Se não te aferrares firmemente no temor ao Senhor, tua casa em breve será destruída.
Sir.27.5 Quando se sacode a joeira, só ficam refugos; assim a perplexidade permanece no pensamento do homem.
Sir.27.6 A fornalha experimenta as jarras do oleiro; a prova do infortúnio, os homens justos.
Sir.27.7 O cuidado aplicado a uma árvore mostra-se no fruto; assim a palavra manifesta o que vai no coração do homem.
Sir.27.8 Não louves um homem antes que ele tenha falado, pois é assim que se experimentam os humanos.
Sir.27.9 Se procurares a justiça, hás de consegui-la, e dela te revestirás como de um manto de festa. Habitarás com ela, ela te protegerá para sempre; e, no dia do juízo, nela encontrarás apoio.
Sir.27.10 As aves chegam-se aos seus semelhantes; assim a verdade volta àqueles que a põem em prática.
Sir.27.11 O leão está sempre à espreita de uma presa; assim o pecado, para aqueles que praticam a iniquidade.
Sir.27.12 O homem santo permanece na sabedoria, estável como o sol; mas o insensato é inconstante como a lua.
Sir.27.13 Na companhia dos tolos, guarda tuas palavras para outra ocasião. Sê de preferência assíduo junto às pessoas ponderadas.
Sir.27.14 A conversação dos pecadores é odiosa; eles se alegram nas delícias do pecado.
Sir.27.15 Uma linguagem cheia de blasfémias é horripilante, e sua grosseria fará com que não queiramos ouvi-la.
Sir.27.16 Uma disputa entre orgulhosos faz correr sangue; suas injúrias fazem sofrer os ouvidos.
Sir.27.17 Quem revela o segredo de um amigo perde a sua confiança, e não mais achará amigos que lhe convenham.
Sir.27.18 Ama o teu próximo e sê fiel na amizade com ele;
Sir.27.19 se desvendares seus segredos, em vão correrás atrás dele,
Sir.27.20 pois, como um homem que mata seu amigo, assim é o que destrói a amizade do próximo;
Sir.27.21 como um homem que solta o pássaro que tem na mão, assim abandonaste o teu próximo, e não mais o encontrarás.
Sir.27.22 Não o persigas, já está longe; escapou-se como uma gazela da armadilha. Porque a sua alma foi ferida,
Sir.27.23 e não mais poderás curar (sua ferida). Depois de uma injúria pode haver reconciliação;
Sir.27.24 desvendar, porém, os segredos de um amigo é um desespero para a alma desventurada.
Sir.27.25 Aquele que tem um olhar lisonjeiro trama negros propósitos, e ninguém pode afastá-lo de si.
Sir.27.26 Em tua presença só terá doçura nos lábios, admirará tudo o que disseres; mas em breve mudará sua linguagem e armará laços às tuas palavras.
Sir.27.27 Abomino muitas coisas, porém nada tanto quanto ele; o Senhor também o detesta.
Sir.27.28 Quem lança uma pedra no ar, a vê recair sobre sua cabeça; a ofensa feita por traição atingirá também o traidor.
Sir.27.29 Quem cava uma fossa cairá nela; quem põe uma pedra no caminho do próximo nela tropeçará; quem arma uma cilada a outrem nela será apanhado.
Sir.27.30 O desígnio criminoso volta-se contra o seu autor, que não saberá de onde lhe vem o mal.
Sir.27.31 A zombaria e a ofensa são próprias dos orgulhosos; a vingança os espreita como um leão.
Sir.27.32 Aqueles que escarnecem do pecado dos justos serão apanhados no laço, e a dor os consumirá ainda vivos.
Sir.27.33 Cólera e furor são ambos execráveis; o homem pecador os alimenta em si mesmo.

 

Sir.28.1 Aquele que quer vingar sofrerá a vingança do Senhor, que guardará cuidadosamente os seus pecados.
Sir.28.2 Perdoa ao teu próximo o mal que te fez, e teus pecados serão perdoados quando o pedires.
Sir.28.3 Um homem guarda rancor contra outro homem, e pede a Deus a sua cura!
Sir.28.4 Não tem misericórdia para com o seu semelhante, e roga o perdão dos seus pecados!
Sir.28.5 Ele, que é apenas carne, guarda rancor, e pede a Deus que lhe seja propício! Quem, então, lhe conseguirá o perdão de seus pecados?
Sir.28.6 Lembra-te do teu fim, e põe termo às tuas inimizades,
Sir.28.7 pois a decadência e a morte são uma ameaça (para aqueles que transgridem) os mandamentos.
Sir.28.8 Lembra-te do temor a Deus, e não fiques irado contra o próximo.
Sir.28.9 Lembra-te da aliança com o Altíssimo, e passa por cima do erro que o teu próximo cometeu inadvertidamente.
Sir.28.10 Evita a desavença e diminuirás os pecados.
Sir.28.11 O homem irascível provoca as querelas; o pecador espalha a inquietação entre seus amigos, e semeia a inimizade no meio de pessoas que vivem em paz.
Sir.28.12 O fogo queima na proporção da lenha que há na floresta; a ira do homem inflama-se na medida de seu poder, e desenvolve-se em proporção de sua riqueza.
Sir.28.13 Uma querela precipitada acende o fogo; a presteza na disputa derrama sangue; e a língua que presta (falso) testemunho causa a morte.
Sir.28.14 Sopra sobre uma centelha e ela se abrasará; cospe sobre ela e ela se apagará: ambos saem de tua boca.
Sir.28.15 Maldito o delator e o homem que diz branco e preto, pois semeiam a discórdia entre muita gente que vive em paz.
Sir.28.16 A língua de um terceiro abalou muitos deles, e os afugentou de uma nação a outra.
Sir.28.17 Ela destruiu as cidades fortes dos ricos, e arrasou as casas dos poderosos.
Sir.28.18 Desbaratou os exércitos dos povos, e dispersou nações valentes.
Sir.28.19 A língua de um terceiro fez repudiar mulheres de escol, e privou-as do fruto de seu labor.
Sir.28.20 Aquele que o ouve não terá paz, não terá amigo em quem tenha confiança.
Sir.28.21 A chicotada produz um ferimento, porém uma língua má quebra os ossos.
Sir.28.22 Muitos homens morreram pelo fio da espada, mas não tantos quanto os que pereceram por sua própria língua.
Sir.28.23 Feliz aquele que está ao abrigo da língua perversa, que não passou pela cólera dela, que não atraiu sobre si o seu jugo, e que não foi atado pelas suas correntes,
Sir.28.24 pois o jugo dela é um jugo de ferro, e suas correntes, correntes de bronze.
Sir.28.25 A morte que ela dá é morte desastrada, e a moradia dos mortos é-lhe preferível.
Sir.28.26 Ela durará, mas não sempre; ela dominará o proceder dos injustos, e os justos não serão devorados pelas suas chamas.
Sir.28.27 Aqueles que abandonam Deus lhe serão entregues: ela os consumirá sem se apagar; lançar-se-á sobre eles como um leão; e os estraçalhará como um leopardo.
Sir.28.28 Protege teus ouvidos com uma sebe de espinhos; não dês ouvidos à língua maldosa, e põe em tua boca uma porta com ferrolhos.
Sir.28.29 Derrete teu ouro e tua prata; faz uma balança para (pesar) as tuas palavras, e para a tua boca, um freio bem ajustado.
Sir.28.30 Tem cuidado para não pecar pela língua, para não caíres na presença dos inimigos que te espreitam, e para que não venha o teu pecado a ser incurável e mortal.

 

Sir.29.1 Aquele que tem compaixão empresta com juros ao seu próximo; aquele que tem a mão generosa guarda os mandamentos.
Sir.29.2 Empresta a teu próximo quando ele estiver necessitado, e de teu lado, paga-lhe o que lhe deves, no tempo marcado.
Sir.29.3 Cumpre tua palavra e procede lealmente com ele, e acharás em toda ocasião o que te é necessário.
Sir.29.4 Muitos consideraram como um achado o que pediam emprestado, e causaram desgosto àqueles que os ajudaram.
Sir.29.5 Até que se tenha recebido, beija-se a mão de quem empresta; com voz humilde fazem-se promessas;
Sir.29.6 mas, chegando o tempo de restituir, pedem-se prazos; só se têm palavras pesarosas e queixas; e toma-se como pretexto (a dificuldade) da época.
Sir.29.7 Se o que pede emprestado pode restituir, nega-se a princípio. Restitui em seguida só a metade da quantia, e a considera como um lucro.
Sir.29.8 Se não tem meios para pagar, priva o que emprestou do seu dinheiro, e dele se faz gratuitamente um inimigo.
Sir.29.9 Ele o paga com ofensas e maldições, e paga com o mal o bem que recebeu.
Sir.29.10 Muitos não emprestam, não por maldade, mas por medo de serem injustamente iludidos.
Sir.29.11 Todavia, sê indulgente para com o miserável, e não o faças esmorecer depois da esmola.
Sir.29.12 Por causa do mandamento, socorre o pobre; e não o deixes ir com as mãos vazias na sua indigência.
Sir.29.13 Perde o teu dinheiro em favor de teu irmão e de teu amigo; não o escondas debaixo de uma pedra para ficar perdido.
Sir.29.14 Gasta o teu tesouro segundo o preceito do Altíssimo, e isso te aproveitará mais do que o ouro.
Sir.29.15 Encerra a esmola no coração do pobre, e ela rogará por ti a fim de te preservar de todo o mal.
Sir.29.16 (16-18) Para combater o teu inimigo, ela será uma arma mais poderosa do que o escudo e a lança de um homem valente.
Sir.29.17 []
Sir.29.18 []
Sir.29.19 O homem de bem responsabiliza-se pelo próximo; o homem sem pejo abandona-o a si próprio.
Sir.29.20 Não esqueças o benefício daquele que se responsabiliza por ti, pois ele arriscou a vida para te amparar.
Sir.29.21 O pecador e o impudico fogem de seu fiador;
Sir.29.22 o pecador atribui a si mesmo o benefício de quem por ele se responsabiliza, e com coração ingrato abandona o seu libertador.
Sir.29.23 Um homem se responsabiliza pelo seu próximo, e este, perdendo a vergonha, o abandonará.
Sir.29.24 Um mau penhor perdeu muitas pessoas que prosperavam, e as agitou como as ondas do mar;
Sir.29.25 por uma reviravolta das coisas, ele exilou muitos poderosos, que se tornaram peregrinos em terra estrangeira.
Sir.29.26 O pecador que transgride o mandamento do Senhor, comprometer-se-á a responder inoportunamente por outro; e aquele que tentar muitos empreendimentos não escapará do processo.
Sir.29.27 Ajuda o próximo conforme as tuas posses, e acautela-te para que não caias tu também.
Sir.29.28 O principal para a vida do homem é a água, o pão, o vestuário e uma casa para ocultar a sua nudez.
Sir.29.29 Mais vale o que um pobre come sob um vigamento, do que um magnífico banquete em casa alheia para quem não tem domicílio.
Sir.29.30 Contenta-te com o pouco ou muito que tiveres e evitarás a censura de seres um estranho.
Sir.29.31 É uma vida miserável a daquele que vai de casa em casa; em toda parte onde se hospedar, não estará confiante, e não ousará abrir a boca.
Sir.29.32 Recebe-se com hospitalidade, dá-se de comer e de beber a ingratos; e, depois disso, ouvem-se palavras desagradáveis:
Sir.29.33 Vamos, intruso, prepara a mesa, e o que tens, dá-o de comer aos outros;
Sir.29.34 retira-te, por causa da homenagem que devo prestar aos meus amigos. Preciso de minha casa para nela receber meu irmão.
Sir.29.35 Eis coisas penosas para um homem sensato: ouvir censuras pela hospitalidade e pelo empréstimo que se fez.

 

Sir.30.1 Aquele que ama seu filho, castiga-o com frequência, para que se alegre com isso mais tarde, e não tenha de bater à porta dos vizinhos.
Sir.30.2 Aquele que dá ensinamentos a seu filho será louvado por causa dele, e nele mesmo se gloriará entre seus amigos.
Sir.30.3 Aquele que educa o filho torna o seu inimigo invejoso, e entre seus amigos será honrado por causa dele.
Sir.30.4 O pai morre, e é como se não morresse, pois deixa depois de si um seu semelhante.
Sir.30.5 Durante sua vida viu seu filho e nele se alegrou; quando morrer, não ficará aflito; não terá de que se envergonhar perante seus adversários,
Sir.30.6 pois deixou em sua casa um defensor contra os inimigos, alguém que manifestará gratidão aos seus amigos.
Sir.30.7 Aquele que estraga seus filhos com mimos terá que lhes pensar as feridas; a cada palavra suas entranhas se comoverão.
Sir.30.8 Um cavalo indómito torna-se intratável; a criança entregue a si mesma torna-se temerária.
Sir.30.9 Adula o teu filho e ele te causará medo; brinca com ele e ele te causará desgosto.
Sir.30.10 Não te ponhas a rir com ele, para que não venhas a sofrer com isso, e não acabes rangendo os dentes.
Sir.30.11 Não lhe dês toda a liberdade na juventude, não feches os olhos às suas extravagâncias:
Sir.30.12 obriga-o a curvar a cabeça enquanto jovem, castiga-o com varas enquanto ainda é menino, para que não suceda endurecer-se e não queira mais acreditar em ti, e venha a ser um sofrimento para a tua alma.
Sir.30.13 Educa o teu filho, esforça-te (por instruí-lo), para que te não desonre com sua vida vergonhosa.
Sir.30.14 Mais vale um pobre sadio e vigoroso, que um rico enfraquecido e atacado de doenças.
Sir.30.15 A saúde da alma na santidade e na justiça vale mais que o ouro e a prata. Um corpo robusto vale mais que imensas riquezas.
Sir.30.16 Não há maior riqueza que a saúde do corpo; não há prazer que se iguale à alegria do coração.
Sir.30.17 Mais vale a morte que uma vida na aflição; e o repouso eterno que um definhamento sem fim.
Sir.30.18 Bens escondidos em uma boca fechada são como preparativos de um festim colocados sobre um túmulo.
Sir.30.19 De que serve ao ídolo a oferenda que lhe fazem? Não pode nem comê-la nem lhe respirar o aroma.
Sir.30.20 Assim é aquele que o Senhor repele, e que carrega o castigo de seu pecado;
Sir.30.21 seus olhos vislumbram (o alimento) e ele suspira, assim como suspira o eunuco ao abraçar uma virgem.
Sir.30.22 Não entregues tua alma à tristeza, não atormentes a ti mesmo em teus pensamentos.
Sir.30.23 A alegria do coração é a vida do homem, e um inesgotável tesouro de santidade. A alegria do homem torna mais longa a sua vida.
Sir.30.24 Tem compaixão de tua alma, torna-te agradável a Deus, e sê firme; concentra teu coração na santidade, e afasta a tristeza para longe de ti,
Sir.30.25 pois a tristeza matou a muitos, e não há nela utilidade alguma.
Sir.30.26 A inveja e a ira abreviam os dias, e a inquietação acarreta a velhice antes do tempo.
Sir.30.27 Um coração bondoso e nobre banqueteia-se continuamente, pois seus banquetes são preparados com solicitude.

 

Sir.31.1 As vigílias para enriquecer ressecam a carne, as preocupações que elas trazem tiram o sono.
Sir.31.2 A inquietação pelo porvir perturba o sentido. Uma doença grave torna a alma moderada.
Sir.31.3 O rico trabalha para juntar riquezas; quando se entrega ao repouso, goza o fruto de seus haveres.
Sir.31.4 O pobre trabalha por não possuir com que viver, e, ao término da vida, tudo lhe falta.
Sir.31.5 Aquele que ama o ouro não estará isento de pecado; aquele que busca a corrupção será por ela cumulado.
Sir.31.6 O ouro abateu a muitos, e seus encantos os perderam.
Sir.31.7 O ouro é um obstáculo para aqueles que se lhe oferecem em sacrifício; infelizes daqueles que o buscam com ardor: ele fará perecer todos os insensatos.
Sir.31.8 Bem-aventurado o rico que foi achado sem mácula, que não correu atrás do ouro, que não colocou sua esperança no dinheiro e nos tesouros!
Sir.31.9 Quem é esse homem para que o felicitemos? Ele fez prodígios durante sua vida.
Sir.31.10 Àquele que foi tentado pelo ouro e foi encontrado perfeito, está reservada uma glória eterna: ele podia transgredir a lei e não a violou; ele podia fazer o mal e não o fez.
Sir.31.11 Por isso seus bens serão fortalecidos no Senhor, e toda a assembleia dos santos louvará suas esmolas.
Sir.31.12 Se estiveres sentado a uma mesa bem abastecida, não comeces abrindo a boca.
Sir.31.13 Não digas: Que abundância de iguarias há sobre ela!
Sir.31.14 Lembra-te de que um olhar maldoso é coisa funesta.
Sir.31.15 Que coisa há pior que o olho? É por isso que há de se desfazer em lágrimas.
Sir.31.16 Quando ele olhar, não sejas o primeiro a estender a mão, para que não cores, envergonhado pela tua cobiça.
Sir.31.17 Não comas demasiadamente num banquete.
Sir.31.18 Julga os desejos de teu próximo segundo os teus.
Sir.31.19 Serve-te como um homem sóbrio do que te é apresentado, para que não te tornes odioso, comendo muito.
Sir.31.20 Acaba de comer em primeiro lugar, por decoro, e evita todo excesso, para que não desgostes a ninguém.
Sir.31.21 Se tiveres tomado assento em meio de uma sociedade numerosa, não sejas o primeiro a estender a mão para o prato, nem sejas o primeiro a pedir de beber.
Sir.31.22 Não é um pouco de vinho suficiente para um homem bem-educado? Assim não terás sono pesado, e não sentirás dor.
Sir.31.23 A insónia, o mal-estar e as cólicas são o tributo do intemperante.
Sir.31.24 Para um homem sóbrio, um sono salutar; ele dorme até de manhã e sente-se bem.
Sir.31.25 Se tiveres sido obrigado a comer demais, levanta-te e vomita; isso te aliviará, e não te exporás à doença.
Sir.31.26 Ouve-me, meu filho, não me desprezes: reconhecerás no fim a veracidade de minhas palavras.
Sir.31.27 Em todas as tuas acções, sê diligente, e nenhuma doença te acometerá.
Sir.31.28 Muitos lábios abençoarão aquele que dá refeições com liberalidade; o testemunho prestado à honestidade dele é verídico.
Sir.31.29 Toda a cidade resmunga contra aquele que dá de comer com mesquinhez e o testemunho prestado à avareza dele é exacto.
Sir.31.30 Não incites a beber aquele que ama o vinho, pois o vinho perdeu a muitos.
Sir.31.31 O fogo põe à prova a dureza do ferro: assim o vinho, bebido em excesso, revela o coração dos orgulhosos.
Sir.31.32 O vinho bebido sobriamente é como uma vida para os homens. Se o beberes moderadamente, serás sóbrio.
Sir.31.33 Que é a vida do homem a quem falta o vinho?
Sir.31.34 Que coisa tira a vida? A morte.
Sir.31.35 No princípio o vinho foi criado para a alegria não para a embriaguez.
Sir.31.36 O vinho, bebido moderadamente, é a alegria da alma e do coração.
Sir.31.37 A sobriedade no beber é a saúde da alma e do corpo.
Sir.31.38 O excesso na bebida causa irritação, cólera e numerosas catástrofes.
Sir.31.39 O vinho, bebido em demasia, é a aflição da alma.
Sir.31.40 A embriaguez inspira a ousadia e faz pecar o insensato; abafa as forças e causa feridas.
Sir.31.41 Não repreendas o próximo durante uma refeição regada a vinho; não o trates com desprezo enquanto ele se entrega à alegria.
Sir.31.42 Não lhe faças censuras, não o atormentes, reclamando o que te é devido.

 

Sir.32.1 Fizeram-te rei (do festim)? Não te envaideças com isso. Sê no meio dos outros como qualquer um deles.
Sir.32.2 Ocupa-te com eles e em seguida senta-te. Não tomes lugar à mesa, senão após cumpridos os teus deveres,
Sir.32.3 assim te regozijarás por causa deles. Receberás a coroa como um gracioso adorno, e ganharás a consideração dos convivas.
Sir.32.4 Tu, mais idoso, fala, pois convém
Sir.32.5 que sejas o primeiro a falar, com séria competência. Mas não perturbes a música,
Sir.32.6 nem te alongues em discursos, onde não há quem os ouça. Não te engrandeças sem propósito por causa de tua sabedoria.
Sir.32.7 Como uma pedra de rubi engastada no ouro, assim é a música no meio de uma refeição regada a vinho.
Sir.32.8 Como um sinete de esmeraldas engastadas em ouro, assim é um grupo de músicos no meio de uma alegre e moderada libação.
Sir.32.9 Ouve em silêncio, e tua modéstia provocará a benevolência.
Sir.32.10 Jovem, fala muito pouco de teus assuntos privados.
Sir.32.11 Se fores duas vezes interrogado, que tua resposta seja concisa.
Sir.32.12 Em muitas coisas, porta-te como se as ignorasses; ouve em silêncio e pergunta.
Sir.32.13 No meio dos poderosos, não tomes muitas liberdades; não fales muito onde houver anciãos:
Sir.32.14 vê-se o relâmpago antes de se ouvir o estalido, a graça precede o rubor da modéstia. Pelo teu recato serás benquisto.
Sir.32.15 Uma vez chegada a hora de se levantar, não te demores; sê o primeiro a correr para casa, onde te regozijarás com os divertimentos.
Sir.32.16 Faz o que te aprouver, porém sem pecado e sem orgulho.
Sir.32.17 E em tudo isso glorifica o Senhor que te criou, e que te cumula de todos os seus bens.
Sir.32.18 Aquele que teme o Senhor aceitará sua doutrina, aqueles que vigiam para procurá-lo serão por ele abençoados.
Sir.32.19 Aquele que busca a lei, por ela será cumulado. Aquele, porém, que procede com falsidade, nela achará ocasião de pecado.
Sir.32.20 Aqueles que temem o Senhor terão um juízo repto, e farão brilhar como uma tocha a sua justiça.
Sir.32.21 O pecador foge da censura, e encontra precedentes segundo o seu desejo.
Sir.32.22 O homem prudente não perde ocasião alguma para instruir-se, e o estranho ou o orgulhoso não tem nenhum temor;
Sir.32.23 mesmo quando age sozinho e sem conselheiro, ele será castigado pelos seus próprios desígnios.
Sir.32.24 Meu filho, nada faças sem conselho, e não te arrependerás depois de teres agido.
Sir.32.25 Não te embrenhes num caminho de perdição e não tropeçarás nas pedras. Não te metas num caminho escabroso, para não pores diante de ti uma pedra de tropeço.
Sir.32.26 Previne-te contra teus filhos, sê prudente em presença de teus familiares.
Sir.32.27 Em tudo o que fizeres, age com segurança, pois isso é guardar os mandamentos.
Sir.32.28 Aquele que crê em Deus atende ao que ele manda. Aquele que põe sua confiança nele, não será atingido.

 

Sir.33.1 Aquele que teme o Senhor não será surpreendido por nenhuma desgraça. Mas Deus o protegerá na provação, e o livrará de todo o mal.
Sir.33.2 O sábio não odeia nem os mandamentos nem os preceitos. Ele não se despedaçará como uma nave na tempestade.
Sir.33.3 O homem sensato crê na lei de Deus, e a lei lhe é fiel.
Sir.33.4 Aquele que esclarece uma pergunta, prepara a resposta; depois de assim ter orado, ele será atendido. Ele concentra as suas ideias e depois responde.
Sir.33.5 O coração do insensato é como as rodas de um carro, e o seu pensamento é semelhante a um eixo que gira.
Sir.33.6 O amigo zombador é como o garanhão, que relincha debaixo de qualquer um que o monta.
Sir.33.7 Por que um dia prevalece sobre outro dia, uma luz sobre outra luz, um ano sobre outro ano, (provindo todos) do mesmo sol?
Sir.33.8 Foi a ciência do Senhor que os diferenciou, quando criou o sol que atende às suas leis;
Sir.33.9 ele distinguiu os tempos e os dias de festa, nos quais os homens celebram pontualmente as solenidades.
Sir.33.10 Entre eles há alguns que Deus elevou e consagrou; a outros pôs no número dos dias comuns. Foi assim que Deus tirou todos os homens do solo e da terra de que foi formado Adão.
Sir.33.11 Em sua grande sabedoria, o Senhor os distinguiu, e diversificou os seus caminhos.
Sir.33.12 Entre eles, alguns foram abençoados e exaltados, outros foram santificados, e ele os tomou para si. Entre eles, alguns foram amaldiçoados e humilhados, os quais ele expulsou de seu lugar de exílio.
Sir.33.13 Como o barro está nas mãos do oleiro, que o molda e o dispõe,
Sir.33.14 dando-lhe todas as formas que deseja, assim é o homem na mão de quem o criou, e que lhe retribuirá segundo o seu juízo.
Sir.33.15 Diante do mal está o bem; diante da morte, a vida, assim também diante do justo está o pecador. Considera assim todas as obras do Altíssimo; estão sempre duas a duas, opostas uma à outra.
Sir.33.16 E eu fui o último que despertei, e fiz como o que junta os grãos depois da vindima.
Sir.33.17 Eu também esperei na bênção de Deus, e enchi a tina como o vindimador.
Sir.33.18 Olhai que não trabalhei só para mim, mas para todos os que buscam a doutrina.
Sir.33.19 Ouvi-me, ó poderosos e todos os povos! E vós, chefes da assembleia, escutai-me!
Sir.33.20 Ao teu filho, à tua mulher, ao teu irmão, ao teu amigo, não concedas autoridade sobre ti durante tua vida. Não dês teus bens a outrem, para não te arrependeres e teres de tornar a pedi-los.
Sir.33.21 Enquanto viveres e respirares, que ninguém te faça mudar a esse respeito,
Sir.33.22 porque é melhor que os teus filhos te peçam, do que estares tu olhando para as mãos de teus filhos.
Sir.33.23 Em tudo o que fizeres conserva a tua autoridade;
Sir.33.24 não manches o teu bom nome. (Somente) no fim de tua vida, no momento da morte, distribuirás a tua herança.
Sir.33.25 Para o jumento o feno, a vara e a carga. Para o escravo o pão, o castigo e o trabalho.
Sir.33.26 O escravo só trabalha quando corrigido, e só aspira ao repouso; afrouxa-lhe a mão, e ele buscará a liberdade.
Sir.33.27 O jugo e a correia fazem dobrar o mais rígido pescoço; o trabalho contínuo torna o escravo dócil.
Sir.33.28 Para o escravo malévolo a tortura e as peias; manda-o para o trabalho para que ele não fique ocioso,
Sir.33.29 pois a ociosidade ensina muita malícia.
Sir.33.30 Ocupa-o no trabalho, pois é o que lhe convém. Se ele não obedecer, submete-o com grilhões, mas não cometas excessos, seja com quem for, e não faças coisa alguma importante sem ter reflectido.
Sir.33.31 Se tiveres um escravo fiel, que ele te seja tão estimado como tu mesmo. Trata-o como irmão, porque foi pelo preço de teu sangue que o obtiveste.
Sir.33.32 Se o maltratares injustamente, ele fugirá;
Sir.33.33 se ele for embora, não saberás a quem perguntar, nem onde deverás procurá-lo.

 

Sir.34.1 O insensato (vive) de esperanças quiméricas; os imprudentes edificam sobre os sonhos.
Sir.34.2 Como aquele que procura agarrar uma sombra ou perseguir o vento, assim é o que se prende a visões enganadoras.
Sir.34.3 Isto segundo aquilo, eis o que se vê nos sonhos: é como a imagem de um homem diante dele próprio.
Sir.34.4 Que coisa pura poderá vir do impuro? Que verdade pode vir da mentira?
Sir.34.5 A adivinhação do erro, os augúrios mentirosos e os sonhos dos maus, tudo isso não passa de vaidade.
Sir.34.6 O teu coração, como o de uma mulher que está de parto, sofrerá imaginações. A menos que o Altíssimo te envie uma visão, não detenhas nelas teu pensamento,
Sir.34.7 pois os sonhos fizeram errar muita gente, que pecou porque neles punham sua esperança;
Sir.34.8 a palavra da lei se cumpre integralmente, e a sabedoria tornar-se-á evidente na boca do homem fiel.
Sir.34.9 Que sabe aquele que não foi experimentado? O homem de grande experiência tem inúmeras ideias; aquele que muito aprendeu fala com sabedoria.
Sir.34.10 Aquele que não tem experiência pouca coisa sabe, mas o que passou por muitas dificuldades desenvolve a prudência.
Sir.34.11 Que sabe aquele que não foi tentado? O que foi enganado abundará em sagacidade.
Sir.34.12 Vi muitas coisas em minhas viagens, muitos costumes diferentes.
Sir.34.13 Algumas vezes encontrei-me em perigo de morte, mas fui libertado pela graça de Deus.
Sir.34.14 O espírito daqueles que temem a Deus será procurado, será abençoado quando Deus olhar para eles.
Sir.34.15 Com efeito, sua esperança está posta naquele que os salva, e os olhos de Deus estão voltados para aqueles que o amam.
Sir.34.16 Aquele que teme ao Senhor não tremerá; de nada terá medo, pois o próprio Senhor é sua esperança.
Sir.34.17 Feliz a alma do que teme ao Senhor.
Sir.34.18 Para quem olha ela, e quem é a sua força?
Sir.34.19 Os olhos do Senhor estão voltados para aqueles que o temem; ele é um poderoso protector, um sólido apoio, um abrigo contra o calor, uma tela contra o ardor do meio-dia,
Sir.34.20 um sustentáculo contra os choques, um amparo contra a queda. Ele eleva a alma, ilumina os olhos; dá saúde, vida e bênção.
Sir.34.21 A oferenda daquele que sacrifica um bem, mal adquirido, é maculada. E os insultos dos injustos não são aceitos por Deus.
Sir.34.22 O Senhor (só se dá) àqueles que o aguardam no caminho da verdade e da justiça.
Sir.34.23 O Altíssimo não aprova as dádivas dos injustos, nem olha para as ofertas dos maus; a multidão dos seus sacrifícios não lhes conseguirá o perdão de seus pecados.
Sir.34.24 Aquele que oferece um sacrifício arrancado do dinheiro dos pobres, é como o que degola o filho aos olhos do pai.
Sir.34.25 O pão dos indigentes é a vida dos pobres; aquele que lho tira é um homicida.
Sir.34.26 Quem tira de um homem o pão de seu trabalho, é como o assassino do seu próximo.
Sir.34.27 O que derrama o sangue e o que usa de fraude no pagamento de um operário são irmãos:
Sir.34.28 um constrói, o outro destrói. O que lhes resta senão a fadiga?
Sir.34.29 Um ora, o outro maldiz; de qual ouvirá Deus a voz?
Sir.34.30 Se aquele que se lava após ter tocado num morto, torna a tocá-lo, de que lhe serve ter-se lavado?
Sir.34.31 Assim se porta o homem que jejua por causa de seus pecados, e torna a cometê-los: de que lhe serve ter-se humilhado? Quem ouvirá a sua prece?

 

Sir.35.1 Aquele que observa a lei faz numerosas oferendas.
Sir.35.2 É um sacrifício salutar guardar os preceitos, e apartar-se de todo pecado.
Sir.35.3 Afastar-se da injustiça é oferecer um sacrifício de propiciação, que consegue o perdão dos pecados.
Sir.35.4 Aquele que oferece a flor da farinha dá graças, e o que usa de misericórdia oferece um sacrifício.
Sir.35.5 Abster-se do mal é coisa agradável ao Senhor; o fugir da injustiça alcança o perdão dos pecados.
Sir.35.6 Não te apresentarás diante do Senhor com as mãos vazias,
Sir.35.7 pois todos (esses ritos) se fazem para obedecer aos preceitos divinos.
Sir.35.8 A oblação do justo enriquece o altar; é um suave odor na presença do Senhor.
Sir.35.9 O sacrifício do justo é aceito (por Deus). O Senhor não se esquecerá dele.
Sir.35.10 Dá glória a Deus de bom coração e nada suprimas das primícias (do produto) de tuas mãos.
Sir.35.11 Faz todas as tuas oferendas com um rosto alegre, consagra os dízimos com alegria.
Sir.35.12 Dá ao Altíssimo conforme te foi dado por ele, dá de bom coração de acordo com o que tuas mãos ganharam,
Sir.35.13 pois o Senhor retribui a dádiva, e recompensar-te-á tudo sete vezes mais.
Sir.35.14 Não lhe ofereças dádivas perversas, pois ele não as aceitará.
Sir.35.15 Nada esperes de um sacrifício injusto, porque o Senhor é teu juiz, e ele não faz distinção de pessoas.
Sir.35.16 O Senhor não faz acepção de pessoa em detrimento do pobre, e ouve a oração do ofendido.
Sir.35.17 Não despreza a oração do órfão, nem os gemidos da viúva.
Sir.35.18 As lágrimas da viúva não correm pela sua face, e seu grito não atinge aquele que as faz derramar?
Sir.35.19 Pois da sua face sobem até o céu; o Senhor que a ouve, não se compraz em vê-la chorar.
Sir.35.20 Aquele que adora a Deus na alegria será bem recebido, e sua oração se elevará até as nuvens.
Sir.35.21 A oração do humilde penetra as nuvens; ele não se consolará, enquanto ela não chegar (a Deus), e não se afastará, enquanto o Altíssimo não puser nela os olhos.
Sir.35.22 O Senhor não concederá prazo: ele julgará os justos e fará justiça. O fortíssimo não terá paciência com (os opressores), mas esmagar-lhes-á os rins.
Sir.35.23. Vingar-se-á das nações, até suprimir a multidão dos soberbos, e quebrar os ceptros dos iníquos;
Sir.35.24 até que ele dê aos homens segundo as suas obras, segundo a conduta de Adão, e segundo a sua presunção;
Sir.35.25 até que faça justiça ao seu povo, e dê alegria aos justos por um efeito de sua misericórdia.
Sir.35.26 A misericórdia divina no tempo da tribulação é bela; é como a nuvem que esparge a chuva na época da seca.

 

Sir.36.1 Tende piedade de nós, ó Deus de todas as coisas, olhai para nós, e fazei-nos ver a luz de vossa misericórdia!
Sir.36.2 Espargi o vosso terror sobre as nações que não vos procuram, para que saibam que não há outro Deus senão vós, e publiquem as vossas maravilhas!
Sir.36.3 Estendei vossa mão contra os povos estranhos, para que vejam o vosso poder.
Sir.36.4 Como diante dos seus olhos mostrastes vossa santidade em nós, assim também, à nossa vista, sereis glorificado neles,
Sir.36.5 para que reconheçam, como também nós reconhecemos, que não há outro Deus fora de vós, Senhor!
Sir.36.6 Renovai vossos prodígios, fazei milagres inéditos,
Sir.36.7 glorificai vossa mão e vosso braço direito,
Sir.36.8 excitai vosso furor e espargi vossa cólera;
Sir.36.9 desbaratai o inimigo e aniquilai o adversário.
Sir.36.10 Apressai o tempo e lembrai-vos do fim, para que sejam apregoadas vossas maravilhas.
Sir.36.11 Devore o ardor da chama aquele que escapar, e sejam arruinados aqueles que maltratam o vosso povo.
Sir.36.12 Esmagai a cabeça dos chefes dos inimigos que dizem: Só nós existimos!
Sir.36.13 Reuni todas as tribos de Jacob, para que saibam que não há outro Deus senão vós, e publiquem vossas maravilhas! Tomai-as como herança, assim como eram no começo.
Sir.36.14 Tende piedade de vosso povo, que é chamado pelo vosso nome, e de Israel, que tratastes como vosso filho primogénito.
Sir.36.15 Tende piedade da cidade que santificastes, de Jerusalém, cidade do vosso repouso.
Sir.36.16 Enchei Sião com vossas palavras inefáveis, e o vosso povo com a vossa glória.
Sir.36.17 Dai testemunho em favor daqueles que são vossas criaturas desde a origem. Tornai verdadeiros os oráculos que proferiam os antigos profetas em vosso nome.
Sir.36.18 Recompensai aqueles que vos esperam pacientemente, a fim de que vossos profetas sejam achados fiéis. Ouvi as orações de vossos servos.
Sir.36.19 Segundo as bênçãos dadas a vosso povo por Aarão, conduzi-nos pelo caminho da justiça, para que todos os habitantes da terra saibam que vós sois o Deus que contempla os séculos.
Sir.36.20 O estômago recebe toda espécie de alimentos, mas entre os alimentos um é melhor do que o outro.
Sir.36.21 O paladar discerne o gosto da caça; o coração sensato discerne as palavras enganadoras.
Sir.36.22 Um coração perverso é causa de tristeza, mas o homem experiente resistir-lhe-á.
Sir.36.23 A mulher pode esposar toda espécie de homens, mas entre as jovens uma é melhor do que a outra.
Sir.36.24 A beleza da mulher alegra o rosto do esposo: ela se torna mais amável que tudo o que o homem pode desejar.
Sir.36.25 Se a sua língua cura os males, tem também doçura e bondade; o seu esposo não é como os demais homens.
Sir.36.26 Aquele que possui uma mulher virtuosa tem com que tornar-se rico; é uma ajuda que lhe é semelhante, e uma coluna de apoio.
Sir.36.27 Onde não há cerca, os bens estão expostos ao roubo; onde não há mulher, o homem suspira de necessidade.
Sir.36.28 Quem confia naquele que não tem morada, e naquele que passa a noite onde quer que a noite o surpreenda? Ou que vagueia de cidade em cidade como um ladrão sempre prestes a fugir?

 

Sir.37.1 Todo amigo diz: Eu também contraí amizade. Há porém um amigo que só o é de nome. Não é uma dor que dura até a morte
Sir.37.2 ver um amigo e um companheiro mudarem-se em inimigos?
Sir.37.3 Ó presunção criminosa, onde tiveste origem, para cobrir a terra com tua malícia e tua perfídia?
Sir.37.4 O amigo distrai-se com seu amigo nas suas alegrias; no dia da tribulação, tornar-se-á seu adversário.
Sir.37.5 O amigo compartilha da desventura do seu amigo no interesse de seu ventre; ao ver o inimigo, tomará do escudo.
Sir.37.6 Não te esqueças de teu amigo nos teus pensamentos; no meio da riqueza, não percas a sua lembrança.
Sir.37.7 Não te aconselhes com aquele que te arma um laço. Esconde tuas intenções àqueles que te têm inveja.
Sir.37.8 Todo conselheiro dá sua opinião, mas há conselheiros que só têm em vista o próprio interesse.
Sir.37.9 Estejas prevenido quando tratar-se de um conselheiro; informa-te primeiro quais são os seus interesses, pois ele pensa em si mesmo antes de tudo.
Sir.37.10 Teme que ele plante uma estaca no solo e te diga:
Sir.37.11 Estás no bom caminho, enquanto se põe defronte para ver o que te acontecerá.
Sir.37.12 Vai consultar um homem sem religião sobre as coisas santas; um injusto sobre a justiça; uma mulher sobre sua rival; um tímido sobre a guerra; um mercador sobre o negócio; um comprador sobre uma coisa para vender; um invejoso sobre a gratidão;
Sir.37.13 um ímpio sobre a piedade; um homem desonrado sobre a honestidade; um lavrador sobre o seu trabalho;
Sir.37.14 um operário, contratado por um ano, sobre o término de seu contrato; um criado preguiçoso sobre uma grande tarefa! Não confies neles e em nenhum de seus conselhos.
Sir.37.15 Sê, porém, assíduo junto a um santo homem, quando conheceres um que seja fiel ao temor de Deus,
Sir.37.16 cuja alma se irmana à tua, e que compartilhará da tua dor quando titubeares nas trevas.
Sir.37.17 Fortalece em ti um coração prudente, pois nada tem mais valor para ti.
Sir.37.18 A alma de um santo homem descobre às vezes melhor a verdade que sete sentinelas postas em observação numa colina.
Sir.37.19 Mas em todas as coisas ora ao Altíssimo, para que ele dirija teus passos na verdade.
Sir.37.20 Que uma palavra de verdade preceda todos os teus actos, e um conselho firme preceda toda a tua diligência.
Sir.37.21 Uma palavra má transtorna o coração; dela vêm quatro coisas: o bem e o mal, a vida e a morte; sobre estas quem domina de contínuo é a língua. Há homem hábil que ensina a muita gente, mas que é inútil para si mesmo.
Sir.37.22 Outro é esclarecido e instrui a muitos, e é agradável a si próprio.
Sir.37.23 Aquele que afecta sabedoria nas palavras é odioso; ficará desprovido de tudo.
Sir.37.24 Não recebeu o favor do Senhor, pois é desprovido de toda a sabedoria.
Sir.37.25 Há um sábio que é sábio para si mesmo, e os frutos de sua sabedoria são verdadeiramente louváveis.
Sir.37.26 O sábio ensina o seu povo, e os frutos de sua sabedoria são duradouros.
Sir.37.27 O homem sábio será cumulado de bênçãos. Aqueles que o virem o louvarão.
Sir.37.28 A vida do homem conta poucos dias, mas os dias de Israel são inúmeros.
Sir.37.29 O sábio herdará a honra no meio do povo, e o seu nome viverá eternamente.
Sir.37.30 Meu filho, experimenta tua alma durante tua vida; se o poder lhe for nefasto, não lho dês,
Sir.37.31 pois nem tudo é vantajoso para todos, e todos não se comprazem nas mesmas coisas.
Sir.37.32 Nunca sejas guloso em banquete algum; não te lances sobre tudo o que se serve,
Sir.37.33 pois o excesso no alimento é causa de doença, e a intemperança leva à cólica.
Sir.37.34 Muitos morreram por causa de sua intemperança, o homem sóbrio, porém, prolonga sua vida.

 

Sir.38.1 Honra o médico por causa da necessidade, pois foi o Altíssimo quem o criou.
Sir.38.2 (Toda a medicina provém de Deus), e ele recebe presentes do rei:
Sir.38.3 a ciência do médico o eleva em honra; ele é admirado na presença dos grandes.
Sir.38.4 O Senhor fez a terra produzir os medicamentos: o homem sensato não os despreza.
Sir.38.5 Uma espécie de madeira não adoçou o amargor da água? Essa virtude chegou ao conhecimento dos homens.
Sir.38.6 O Altíssimo deu-lhes a ciência da medicina para ser honrado em suas maravilhas;
Sir.38.7 e dela se serve para acalmar as dores e curá-las; o farmacêutico faz misturas agradáveis, compõe unguentos úteis à saúde, e seu trabalho não terminará,
Sir.38.8 até que a paz divina se estenda sobre a face da terra.
Sir.38.9 Meu filho, se estiveres doente não te descuides de ti, mas ora ao Senhor, que te curará.
Sir.38.10 Afasta-te do pecado, reergue as mãos e purifica teu coração de todo o pecado.
Sir.38.11 Oferece um incenso suave e uma lembrança de flor de farinha; faz a oblação de uma vítima gorda.
Sir.38.12 Em seguida dá lugar ao médico, pois ele foi criado por Deus; que ele não te deixe, pois sua arte te é necessária.
Sir.38.13 Virá um tempo em que cairás nas mãos deles.
Sir.38.14 E eles mesmos rogarão ao Senhor que mande por meio deles o alívio e a saúde (ao doente) segundo a finalidade de sua vida.
Sir.38.15 Aquele que peca na presença daquele que o fez, cairá nas mãos do médico.
Sir.38.16 Meu filho, derrama lágrimas sobre um morto, e chora como um homem que sofreu cruelmente. Sepulta o seu corpo segundo o costume, e não descuides de sua sepultura.
Sir.38.17 Chora-o amargamente durante um dia, por causa da opinião pública, e depois consola-te de tua tristeza;
Sir.38.18 toma luto segundo o merecimento da pessoa, um dia ou dois, para evitar as más palavras.
Sir.38.19 Pois a tristeza apressa a morte, tira o vigor, e o desgosto do coração faz inclinar a cabeça.
Sir.38.20 A tristeza permanece quando (o corpo) é levado; e a vida do pobre é o espelho de seu coração.
Sir.38.21 Não entregues teu coração à tristeza, mas afasta-a e lembra-te do teu fim.
Sir.38.22 Não te esqueças dele, porque não há retorno; de nada lhe servirás e só causarás dano a ti mesmo.
Sir.38.23 Lembra-te da sentença que me foi dada: a tua será igual; ontem para mim, hoje para ti.
Sir.38.24 Na paz em que o morto entrou, deixa repousar a sua memória, e conforta-o no momento em que exalar o último suspiro.
Sir.38.25 A sabedoria do escriba lhe vem no tempo do lazer. Aquele que pouco se agita adquirirá sabedoria.
Sir.38.26 Que sabedoria poderia ter o homem que conduz a charrua, que faz ponto de honra aguilhoar os bois, que participa de seu labor, e só sabe falar das crias dos touros?
Sir.38.27 Ele põe todo o seu coração em traçar sulcos, e o seu cuidado é engordar novilhas.
Sir.38.28 Igualmente acontece com todo carpinteiro, todo arquitecto, que passa no trabalho os dias e as noites. Assim sucede àquele que grava as marcas dos sinetes, variando as figuras por um trabalho assíduo; que aplica todo o seu coração na imitação da pintura, e põe todo o cuidado no acabamento de seu trabalho.
Sir.38.29 Assim acontece com o ferreiro sentado perto da bigorna, examinando o ferro que vai moldar; o vapor do fogo queima as suas carnes, e ele resiste ao ardor da fornalha.
Sir.38.30 O barulho do martelo lhe fere o ouvido de golpes repetidos; seus olhos estão fixos no modelo do objecto.
Sir.38.31 Ele aplica o seu coração em aperfeiçoar a sua obra, e põe um cuidado vigilante em torná-la bela e perfeita.
Sir.38.32 O mesmo sucede com o oleiro que, entregue à sua tarefa, gira a roda com os pés, sempre cuidadoso pela sua obra; e todo o seu trabalho (visa a produzir) uma quantidade (determinada).
Sir.38.33 Com o seu braço dá forma ao barro, torna-o maleável com os pés,
Sir.38.34 aplica o seu coração em aperfeiçoar o verniz, e limpa o forno com muita diligência.
Sir.38.35 Todos esses artistas esperam (tudo) de suas mãos; cada um deles é sábio em sua profissão.
Sir.38.36 Sem eles nenhuma cidade seria construída,
Sir.38.37 nem habitada, nem frequentada; mas eles mesmos não terão parte na assembleia,
Sir.38.38 não se sentarão nas cadeiras dos juízes, não entenderão as disposições judiciárias, não apregoarão nem a instrução nem o direito, nem serão encontrados a estudar as máximas.
Sir.38.39 Entretanto, sustentam as coisas deste mundo. Sua oração se refere aos trabalhos de sua arte; a eles aplicam sua alma, e estudam juntos a lei do Altíssimo.

 

Sir.39.1 O sábio procura cuidadosamente a sabedoria de todos os antigos, e aplica-se ao estudo dos profetas.
Sir.39.2 Guarda no coração as narrativas dos homens célebres, e penetra ao mesmo tempo nos mistérios das máximas.
Sir.39.3 Penetra nos segredos dos provérbios, e vive com o sentido oculto das parábolas.
Sir.39.4 Exerce o seu cargo no meio dos poderosos, e comparece perante aqueles que governam.
Sir.39.5 Viaja pela terra de povos estrangeiros, para reconhecer o que há do bem e do mal entre os homens.
Sir.39.6 Desde o alvorecer aplica o coração à vigília para se unir ao Senhor que o criou, e ora na presença do Altíssimo.
Sir.39.7 Abre sua boca para orar, e pede perdão de seus pecados,
Sir.39.8 pois se for da vontade do Senhor que é grande, ele o cumulará do espírito de inteligência.
Sir.39.9 Então ele espargirá como uma chuva palavras de sabedoria, e louvará o Senhor em sua oração.
Sir.39.10 O Senhor orientará seus conselhos e seus ensinamentos, e ele meditará nos mistérios (divinos).
Sir.39.11 Ensinará ele próprio o conhecimento de sua doutrina. Porá sua glória na lei da aliança do Senhor.
Sir.39.12 Muitos homens louvarão sua sabedoria: jamais cairá ela no esquecimento.
Sir.39.13 A sua memória não desaparecerá; seu nome será repetido de geração em geração.
Sir.39.14 As nações proclamarão sua sabedoria, a assembleia apregoará seu louvor.
Sir.39.15 Enquanto viver, terá maior nome que mil outros, e, quando repousar, será feliz.
Sir.39.16 Reflectirei ainda para contá-lo, pois estou cheio de um entusiasmo
Sir.39.17 que diz: Ouvi-me, rebentos divinos, desabrochai como uma roseira plantada à beira das águas;
Sir.39.18 como o Líbano, espargi suave aroma,
Sir.39.19 dai flores como o lírio, exalai perfume e estendei graciosa folhagem. Cantai cânticos e bendizei o Senhor nas suas obras.
Sir.39.20 Dai ao seu nome magníficos elogios, glorificai-o com a voz de vossos lábios, com os cânticos de vossos lábios e a música das harpas. Direis assim à guisa de louvor:
Sir.39.21 Todas as obras do Senhor são excelentes;
Sir.39.22 à sua voz conteve-se a água amontoada, a uma palavra de sua boca as águas ajuntaram-se como em reservatórios.
Sir.39.23 À sua ordem, fez-se calmaria, e a salvação que ele dá não será mesquinha.
Sir.39.24 São-lhe apresentadas as acções de todos os viventes, nada é oculto aos seus olhos.
Sir.39.25 Seu olhar abrange de um século a outro: nada é maravilhoso para ele.
Sir.39.26 Não se deve dizer: O que é isso, o que é aquilo? Pois todas as coisas serão examinadas a seu tempo.
Sir.39.27 A bênção dele é como um rio que transborda;
Sir.39.28 como o dilúvio inundou a terra inteira, assim a sua cólera será a sorte dos povos que não o procuram.
Sir.39.29 Assim como ele transformou as águas em aridez e ressecou a terra, e o seu comportamento é determinado pelo deles, assim, em sua ira, seu comportamento é motivo de queda para os pecadores.
Sir.39.30 Assim como os bens, desde o princípio, foram criados para os bons, assim os bens e os males o foram para os maus.
Sir.39.31 As coisas mais necessárias à vida do homem são: a água, o fogo, o ferro, o sal, o leite, o pão da flor de farinha, o mel, a uva, o azeite e o vestuário:
Sir.39.32 todas essas coisas são bens para os fiéis, mas tornam-se males para os ímpios e os pecadores.
Sir.39.33 Há espíritos que foram criados para a vingança: aumentaram seus tormentos pelo seu furor.
Sir.39.34 No tempo do extermínio manifestarão sua força, e apaziguarão a fúria daquele que os criou.
Sir.39.35 Fogo, granizo, fome e morte, tudo isso foi criado para a vingança,
Sir.39.36 como também os dentes dos animais, os escorpiões, as serpentes, e a espada vingadora destinada ao extermínio dos ímpios.
Sir.39.37 Todas essas coisas se regozijam com as ordens do Senhor, e mantêm-se prontas sobre a terra para servir oportunamente, e, chegando o tempo, não omitirão uma só de suas palavras.
Sir.39.38 Por isso, desde o princípio estou firme em minhas ideias; reflecti e as escrevi.
Sir.39.39 Todas as obras do Senhor são boas; ele põe cada coisa em prática quando chega o tempo.
Sir.39.40 Não há razão para dizer: Isto é pior do que aquilo, porque todas as coisas serão achadas boas a seu tempo.
Sir.39.41 E agora, de todo o coração e com a boca, cantai e bendizei o nome do Senhor!

 

Sir.40.1 Uma grande inquietação foi imposta a todos os homens, e um pesado jugo acabrunha os filhos de Adão, desde o dia em que saem do seio materno, até o dia em que são sepultados no seio da mãe comum:
Sir.40.2 seus pensamentos, os temores de seu coração, a apreensão do que esperam, e o dia em que tudo acaba,
Sir.40.3 desde o que se senta num trono magnífico, até o que se deita sobre a terra e a cinza;
Sir.40.4 desde o que veste púrpura e ostenta coroa, até aquele que só se cobre de pano. Furor, ciúme, inquietação, agitação, temor da morte, cólera persistente e querelas.
Sir.40.5 E na hora de repousar no leito, o sono da noite perturba-lhe as ideias.
Sir.40.6 Ele repousa um pouco, tão pouco que é como se não repousasse; e no mesmo sono, como uma sentinela durante o dia,
Sir.40.7 é perturbado pelas visões de seu espírito, como um homem que foge do combate. No momento em que (se julga) em lugar seguro, ele se levanta e admira-se do seu vão temor.
Sir.40.8 Assim acontece a toda criatura, desde os homens até os animais. Mas para os pecadores é sete vezes mais.
Sir.40.9 Além do mais, a morte, o sangue, as querelas, a espada, as opressões, a fome, a ruína e os flagelos
Sir.40.10 foram todos criados para os maus, e foi por causa deles que veio o dilúvio.
Sir.40.11 Tudo o que vem da terra voltará à terra, como todas as águas regressam ao mar.
Sir.40.12 Todo presente e todo bem mal adquirido perecerão; a boa fé, porém, subsistirá eternamente.
Sir.40.13 As riquezas dos injustos secarão como uma torrente; elas assemelham-se a uma trovoada que estala na chuva.
Sir.40.14 O homem se regozija quando abre a mão, mas no fim os prevaricadores serão aniquilados.
Sir.40.15 A posteridade dos ímpios não multiplicará os ramos; as raízes impuras agitam-se no alto de um rochedo.
Sir.40.16 A vegetação que cresce à beira das águas, ao longo de um rio, será arrancada antes de todas as ervas dos campos.
Sir.40.17 A beneficência é como um paraíso abençoado, e a misericórdia permanecerá eternamente.
Sir.40.18 Doce é a vida do operário que se basta a si próprio; vivendo assim, encontrarás um tesouro.
Sir.40.19 Os filhos e a fundação de uma cidade dão firmeza a um nome, mas é mais estimada que um e outro uma mulher sem mácula.
Sir.40.20 O vinho e a música alegram o coração: sobre um e outro, porém, prevalece o amor da sabedoria.
Sir.40.21 A flauta e a harpa emitem um som harmonioso; a língua suave, porém, supera uma e outra.
Sir.40.22 A graça e a beleza são atraentes para o olhar; mais do que uma e outra é a vegetação dos campos.
Sir.40.23 Um amigo ajuda a seu amigo no momento oportuno. Mais do que um e outro, uma mulher ajuda seu marido.
Sir.40.24 Os irmãos são um socorro no tempo da tribulação. Mais do que eles, porém, a misericórdia liberta.
Sir.40.25 O ouro e a prata são bases sólidas. Um bom conselho, porém, supera um e outra.
Sir.40.26 As riquezas e as energias elevam o coração; o temor do Senhor, porém, sobrepuja umas e outras.
Sir.40.27 Nada falta àquele que tem o temor ao Senhor; e com ele não há necessidade de outro auxílio.
Sir.40.28 O temor ao Senhor é-lhe como um paraíso abençoado; ele está revestido de uma glória que supera toda glória.
Sir.40.29 Meu filho, não leves nunca uma vida de mendigo, pois mais vale morrer que mendigar.
Sir.40.30 Quando um homem olha para a mesa de outro, sua vida não é realmente vida, na obsessão do alimento, porque se nutre dos víveres de outrem;
Sir.40.31 mas o homem moderado e educado se acautela contra isso.
Sir.40.32 Na boca do insensato, a coisa mendigada é doce; mas nas suas entranhas arderá um fogo.

 

Sir.41.1 Ó morte, como tua lembrança é amarga para o homem que vive em paz no meio de seus bens,
Sir.41.2 para o homem tranquilo e afortunado em tudo, e que ainda se encontra em condição de saborear o alimento!
Sir.41.3 Ó morte, tua sentença é suave para o indigente, cujas forças se esgotam,
Sir.41.4 para quem está no declínio da idade, carregado de cuidados, para quem não tem mais confiança e perde a paciência.
Sir.41.5. Não temas a sentença da morte; lembra-te dos que te precederam, e de todos os que virão depois de ti: é a sentença pronunciada pelo Senhor sobre todo ser vivo.
Sir.41.6 Que te sobrevirá por vontade do Altíssimo? Dez anos, cem anos, mil anos…
Sir.41.7 Na habitação dos mortos não se tomam em consideração os anos de vida.
Sir.41.8 Os filhos dos pecadores tornam-se objecto de abominação, assim como os que frequentam as casas dos ímpios.
Sir.41.9 A herança dos filhos dos pecadores perecerá. O opróbrio prende-se à sua posteridade.
Sir.41.10 Os filhos de um homem ímpio queixam-se de seu pai porque é por sua culpa que estão envergonhados.
Sir.41.11 Desgraçados de vós, homens ímpios, que abandonastes a lei do Senhor, o Altíssimo!
Sir.41.12 Se nasceis, é na maldição, e quando morrerdes, tereis a maldição como herança.
Sir.41.13 Tudo o que vem da terra voltará à terra. Assim os ímpios passam da maldição à ruína.
Sir.41.14 Os homens se entristecem com (a perda) de seu corpo; porém, até o nome dos ímpios será aniquilado.
Sir.41.15 Cuida em procurar para ti uma boa reputação, pois esse bem ser-te-á mais estável que mil tesouros grandes e preciosos.
Sir.41.16 A vida honesta só tem um número de dias; a boa fama, porém, permanece para sempre.
Sir.41.17 Meus filhos, guardai em paz meu ensinamento: pois uma sabedoria oculta e um tesouro invisível, para que servem essas duas coisas?
Sir.41.18 Mais vale um homem que dissimula a sua ignorância, que um homem que oculta a sua sabedoria.
Sir.41.19 Tende, pois, vergonha do que vou dizer,
Sir.41.20 porque não é bom ter vergonha de tudo, e nem todas as coisas agradam, na verdade, a todos.
Sir.41.21 Envergonhai-vos da fornicação, diante de vosso pai e de vossa mãe; e da mentira, diante do que governa e do poderoso;
Sir.41.22 de um delito, diante do príncipe e do juiz; da iniquidade, diante da assembleia e do povo;
Sir.41.23 da injustiça, diante de teu companheiro e de teu amigo;
Sir.41.24 de cometeres um roubo no lugar onde moras, por causa da verdade de Deus e de sua aliança. Envergonha-te de pôr os cotovelos sobre a mesa, de usar de fraude no dar e no receber,
Sir.41.25 de não responder àqueles que te saúdam, de lançar os olhos para uma prostituta,
Sir.41.26 de desviar os olhos de teu próximo, de tirar o que a ele pertence, sem devolver-lho.
Sir.41.27 Não olhes para a mulher de outrem; não tenhas intimidades com tua criada, e não te ponhas junto do seu leito.
Sir.41.28 Envergonha-te diante de teus amigos de dizer palavras ofensivas; não censures o que deste.

 

Sir.42.1 Não repitas o que ouviste. Não reveles um segredo. Assim estarás verdadeiramente isento de confusão, e acharás graça diante de todos os homens. Não te envergonhes de tudo o que vou dizer, e não faças acepção de pessoas até o ponto de pecar.
Sir.42.2 Não te envergonhes da lei e da aliança do Altíssimo, de uma sentença que justifique o ímpio,
Sir.42.3 de um negócio entre teus amigos e estranhos, da doação de uma herança em favor de teus amigos.
Sir.42.4 Não te envergonhes de usar uma balança fiel e de peso certo, de adquirir pouco ou muito,
Sir.42.5 de não fazer diferença na venda e com os mercadores, de corrigir frequentemente os teus filhos, de golpear até sangrar as costas de um escravo ruim.
Sir.42.6 Sobre uma mulher má, é bom pôr-se o selo.
Sir.42.7 Onde há muitas mãos, emprega a chave. Conta e pesa tudo o que entregas; assenta o que dás e o que recebes.
Sir.42.8 Não te envergonhes de corrigir o insensato e o tolo; não te envergonhes dos anciãos julgados pelos jovens. Assim te mostrarás verdadeiramente instruído, e serás aprovado por todos.
Sir.42.9 Uma filha é uma preocupação secreta para seu pai; o cuidado dela tira-lhe o sono. Ele teme que passe a flor de sua idade sem se casar, ou que, casada, torne-se odiosa para o marido;
Sir.42.10 receia que seja seduzida na sua virgindade, e que se torne grávida na casa paterna. Teme que, casada, ela viole a fidelidade, ou que, em todo caso, seja estéril.
Sir.42.11 Exerce severa vigilância sobre uma filha libertina, para que ela te não exponha aos insultos dos teus inimigos, e te torne o assunto de troça da cidade, o objecto de mofa pública, e te desonre aos olhos de toda a população.
Sir.42.12 Não detenhas o olhar sobre a beleza de ninguém, não te demores no meio de mulheres,
Sir.42.13 pois assim como a traça sai das roupas, assim a malícia do homem vem da mulher.
Sir.42.14 Um homem mau vale mais que uma mulher que (vos) faz bem, mas que se torna causa de vergonha e de confusão.
Sir.42.15 Relembrarei agora as obras do Senhor, proclamarei o que vi. Pelas palavras do Senhor foram produzidas as suas obras.
Sir.42.16 O sol contempla todas as coisas que ilumina; a obra do Senhor está cheia de sua glória.
Sir.42.17 Porventura não fez o Senhor com que seus santos proclamassem todas as suas maravilhas, maravilhas que ele, o Senhor todo-poderoso, consolidou, a fim de que subsistam para a sua glória?
Sir.42.18 Ele sonda o abismo e o coração humano, e penetra os seus pensamentos mais subtis,
Sir.42.19 pois o Senhor conhece tudo o que se pode saber. Ele vê os sinais dos tempos futuros, anuncia o passado e o porvir, descobre os vestígios das coisas ocultas.
Sir.42.20 Nenhum pensamento lhe escapa, nenhum fato se esconde a seus olhos.
Sir.42.21 Ele enalteceu as maravilhas de sua sabedoria, ele é antes de todos os séculos e será eternamente.
Sir.42.22 Nada se pode acrescentar ao que ele é, nem nada lhe tirar; não necessita do conselho de ninguém.
Sir.42.23 Como são agradáveis as suas obras! E todavia delas não podemos ver mais que uma centelha.
Sir.42.24 Essas obras vivem e subsistem para sempre, e em tudo o que é preciso, todas lhe obedecem.
Sir.42.25 Todas as coisas existem duas a duas, uma oposta à outra; ele nada fez que seja defeituoso.
Sir.42.26 Ele fortaleceu o que cada um tem de bom. Quem se saciará de ver a glória do Senhor?

 

Sir.43.1 O firmamento nas alturas é a sua beleza, o aspecto do céu é uma visão de glória.
Sir.43.2 O sol, aparecendo na aurora, anuncia o dia. A obra do Altíssimo é um instrumento admirável.
Sir.43.3 Ao meio-dia queima a terra: quem resiste ao seu ardor? Ele conserva uma fornalha de fogo por efeito de seu calor.
Sir.43.4 O sol queima três vezes mais as montanhas, despedindo raios de fogo, cujo resplendor deslumbra os olhos.
Sir.43.5 Grande é o Senhor que o criou; por sua ordem, ele apressa o seu curso.
Sir.43.6 A lua é, em todas as suas fases regulares, a marca do tempo e o sinal do futuro.
Sir.43.7 É a lua que determina os dias de festa; sua luz diminui a partir da lua cheia.
Sir.43.8 É ela que dá nome ao mês; sua claridade cresce de modo admirável, até ficar cheia.
Sir.43.9 É um sinal para os exércitos do céu que lança no firmamento um glorioso esplendor.
Sir.43.10 O brilho das estrelas faz a beleza do céu; o Senhor ilumina o mundo nas alturas.
Sir.43.11 À palavra do Santo estão prontas para o julgamento: são indefectivelmente vigilantes.
Sir.43.12 Observa o arco-íris e bendiz aquele que o fez: é muito belo no seu resplendor.
Sir.43.13 Faz a volta do céu num círculo de glória: são as mãos do Altíssimo que o estendem.
Sir.43.14 O Senhor com uma ordem faz cair subitamente a neve, acelera a marcha dos raios de seu juízo.
Sir.43.15 Por essa causa se abrem as suas reservas, e voam as nuvens como pássaros.
Sir.43.16 Por sua grandeza condensa as nuvens, e as pedras de granizo caem em estilhaços.
Sir.43.17 As montanhas são abaladas quando ele aparece; por sua vontade sopra o vento do sul.
Sir.43.18 O estrondo do trovão fere a terra, assim como a tempestade do aquilão e o turbilhão dos ventos.
Sir.43.19 Espalha a neve como pássaros que pousam, como gafanhotos que se abatem sobre a terra;
Sir.43.20 o olhar encanta-se com o brilho de sua alvura, o coração fica atónito ao vê-la cair.
Sir.43.21 Deus espalha a geada sobre a terra como sal; quando as águas se congelam tornam-se como pontas de cardo.
Sir.43.22 Quando sopra o vento frio do aquilão, a água gela como cristal, que repousa sobre toda a massa líquida, e veste as águas como se fosse uma couraça.
Sir.43.23 (A geada) devora os montes, queima os desertos, resseca como o fogo tudo o que é verde.
Sir.43.24 O remédio para isso é o rápido aparecimento de um aguaceiro. O orvalho após o frio atenua (o rigor do gelo).
Sir.43.25 A palavra de Deus faz calar o vento; só com o seu pensar apazigua o abismo, no meio do qual o Senhor plantou as ilhas.
Sir.43.26 Os que navegam sobre o mar contam os seus perigos; ouvindo-os, ficaremos arrebatados de admiração.
Sir.43.27 Ali se encontram grandes obras e maravilhas, animais de toda espécie e criaturas monstruosas.
Sir.43.28 Por ele, tudo tende regularmente para a sua finalidade, tudo foi disposto conforme a sua palavra.
Sir.43.29 Diremos muitas coisas, porém faltarão palavras. Mas o resumo de nosso discurso é este: Ele está em tudo.
Sir.43.30 Que podemos nós fazer para glorificá-lo? Pois o Todo-poderoso está acima de todas as suas obras.
Sir.43.31 O Senhor é terrível e soberanamente grande. Seu poder é maravilhoso.
Sir.43.32 Glorificai o Senhor quanto puderdes, que ele ficará sempre acima, porque é admirável a sua grandeza.
Sir.43.33 Bendizei o Senhor, exaltai-o com todas as vossas forças, pois ele está acima de todo louvor.
Sir.43.34 Enaltecendo-o, reuni todas as vossas forças; não desanimeis; jamais chegareis (ao fim).
Sir.43.35 Quem poderá contar o que dele viu? Quem é capaz de louvá-lo, como ele é, desde os primórdios?
Sir.43.36 Muitos segredos são maiores que tudo isso; só vemos um pequeno número de suas obras.
Sir.43.37 O Senhor fez todas as coisas: ele dá sabedoria àqueles que vivem com piedade.

 

Sir.44.1 Façamos o elogio dos homens ilustres, que são nossos antepassados, em sua linhagem.
Sir.44.2 O Senhor deu-lhes uma glória abundante, desde o princípio do mundo, por um efeito de sua magnificência.
Sir.44.3 Eles foram soberanos em seus estados, foram homens de grande virtude, dotados de prudência. As predições que anunciaram adquiriram-lhes a dignidade de profetas:
Sir.44.4 eles governaram os povos do seu tempo e, com a firmeza de sua sabedoria, deram instruções muito santas ao povo.
Sir.44.5 Com sua habilidade cultivaram a arte das melodias, publicaram os cânticos das escrituras.
Sir.44.6 Homens ricos de virtude, que tinham gosto pela beleza, e viviam em paz em suas casas.
Sir.44.7 Todos eles adquiriram fama junto de seus contemporâneos, e foram a glória de seu tempo.
Sir.44.8 Aqueles que deles nasceram deixaram um nome que publica seus louvores.
Sir.44.9 Outros há, dos quais não se tem lembrança; pereceram como se nunca tivessem existido. Nasceram, eles e seus filhos, como se não tivessem nascido.
Sir.44.10 Os primeiros, porém, foram homens de misericórdia; nunca foram esquecidas as obras de sua caridade.
Sir.44.11 Na sua posteridade permanecem os seus bens.
Sir.44.12 Os filhos de seus filhos são uma santa linhagem, e seus descendentes mantêm-se fiéis às alianças.
Sir.44.13 Por causa deles seus filhos permanecem para sempre, e sua posteridade, assim como sua glória, não terá fim.
Sir.44.14 Seus corpos foram sepultados em paz, seu nome vive de século em século.
Sir.44.15 Proclamem os povos sua sabedoria, e cante a assembleia os seus louvores!
Sir.44.16 Henoc agradou a Deus e foi transportado ao paraíso, para excitar as nações à penitência.
Sir.44.17 Noé foi julgado justo e perfeito, e no tempo da ira tornou-se o elo de reconciliação.
Sir.44.18 Por isso foram deixados alguns na terra, quando veio o dilúvio.
Sir.44.19 Ele foi o depositário das alianças feitas com o mundo, a fim de que ninguém doravante fosse destruído por dilúvio.
Sir.44.20 Abraão é o pai ilustre de uma infinidade de povos. Ninguém lhe foi igual em glória: guardou a lei do Altíssimo, e fez aliança com ele.
Sir.44.21 O Senhor marcou essa aliança em sua carne; na provação, mostrou-se fiel.
Sir.44.22 Por isso jurou Deus que o havia de glorificar na sua raça, e prometeu que ele cresceria como o pó da terra.
Sir.44.23 Prometeu-lhe que exaltaria sua raça como as estrelas, e que seu quinhão de herança se estenderia de um mar a outro: desde o rio até as extremidades da terra.
Sir.44.24 Ele fez o mesmo com Isaac, por causa de seu pai, Abraão.
Sir.44.25 O Senhor deu-lhe a bênção de todas as nações, e confirmou sua aliança sobre a cabeça de Jacob.
Sir.44.26 Distinguiu-o com suas bênçãos, deu-lhe a herança, e repartiu-a entre as doze tribos.
Sir.44.27 Conservou-lhe homens cheios de misericórdia, que encontraram graça aos olhos de toda carne.

 

Sir.45.1 Moisés foi amado por Deus e pelos homens: sua memória é abençoada.
Sir.45.2 O Senhor deu-lhe uma glória semelhante à dos santos; tornou-se poderoso e temido por seus inimigos.
Sir.45.3 Glorificou-o na presença dos reis, prescreveu-lhe suas ordens diante do seu povo, e mostrou-lhe a sua glória.
Sir.45.4 Santificou-o pela sua fé e mansidão, escolheu-o entre todos os homens.
Sir.45.5 Pois (Deus) atendeu-o, ouviu sua voz e o introduziu na nuvem.
Sir.45.6 Deu-lhe seus preceitos perante (seu povo) e a lei da vida e da ciência, para ensinar a Jacob sua aliança e a Israel seus decretos.
Sir.45.7 Exaltou seu irmão Aarão, semelhante a ele, da tribo de Levi.
Sir.45.8 Fez com ele uma aliança eterna, deu-lhe o sacerdócio do seu povo, e cumulou-o de felicidade e de glória.
Sir.45.9 Adornou-o com um cinto de honra, revestiu-o de um manto de glória, coroou-o com todo esse aparato majestoso.
Sir.45.10 Deu-lhe a longa túnica, a túnica inferior e o efod, cujas bordas eram ornadas de numerosas campainhas,
Sir.45.11 que deviam retinir, quando ele andasse, e se ouvisse o seu som no templo, para advertir os filhos de seu povo.
Sir.45.12 Deu-lhe uma túnica santa, tecida de ouro, de pedras preciosas e de púrpura, obra de um homem sábio, dotado de juízo e de verdade.
Sir.45.13 Era uma obra de artista, de fio de escarlate, com doze pedras preciosas engastadas no ouro, gravadas pelo trabalho do lapidador, em memória das doze tribos de Israel.
Sir.45.14 Sobre sua tiara colocou uma coroa de ouro, onde estava gravado o cunho da santidade, da glória e da honra; era uma obra majestosa, adorno que encantava os olhos.
Sir.45.15 Nunca antes dele houve coisa tão magnífica, desde o princípio do mundo.
Sir.45.16 Nenhum estranho dele se revestiu, mas somente os seus filhos, e os filhos de seus filhos no decorrer dos tempos.
Sir.45.17 Os sacrifícios foram diariamente consumidos pelo fogo.
Sir.45.18 Moisés o investiu e o ungiu com o óleo santo.
Sir.45.19 Deus fez com ele e com sua raça uma aliança eterna, que durará tanto quanto os dias do céu, para exercer o sacerdócio, para cantar os louvores do Senhor, e abençoar solenemente o seu povo em seu nome.
Sir.45.20 Escolheu-o entre todos os viventes para oferecer a Deus o sacrifício, o incenso e o perfume da lembrança, e para fazer a expiação em favor do seu povo.
Sir.45.21 Deu-lhe autoridade sobre seus preceitos, e sobre as disposições dos seus julgamentos, para ensinar a Jacob seus mandamentos, e explicar sua lei a Israel.
Sir.45.22 Estrangeiros conspiraram contra ele; por inveja, homens o cercaram no deserto, que eram do partido de Datã e Abiron, e da facção furiosa de Coré.
Sir.45.23 Viu isso o Senhor, e não lhe agradou, e foram destruídos pela impetuosidade de sua cólera.
Sir.45.24 Fez prodígios contra eles, e a chama de seu fogo os devorou.
Sir.45.25 Aumentou ainda mais a glória de Aarão: deu-lhe uma herança, destinou-lhe as primícias dos frutos da terra.
Sir.45.26 Antes de tudo, preparou-lhes alimento em abundância, pois devem comer os sacrifícios do Senhor, os quais deu a ele e à sua posteridade.
Sir.45.27 Mas ele não tem herança na terra das nações, não tem porção entre seu povo, pois (o Senhor) mesmo é o quinhão de sua herança.
Sir.45.28 Fineias, filho de Eleázar, é o terceiro em glória. Ele imitou (Moisés) no temor do Senhor.
Sir.45.29 Permaneceu firme no meio da idolatria do povo; por sua bondade e o zelo de sua alma, apaziguou a ira de Deus contra Israel.
Sir.45.30 É por isso que Deus fez com ele uma aliança de paz, e deu-lhe o principado das coisas santas e do seu povo, a fim de que a ele e a seus descendentes pertencesse para sempre a dignidade sacerdotal.
Sir.45.31 Fez também Deus aliança com o rei David, filho de Jessé, da tribo de Judá; tornou-o herdeiro do reino, ele e sua raça, para derramar a sabedoria no nosso coração, e julgar o seu povo com justiça, a fim de que não se perdessem os seus bens: tornou eterna a sua glória no seio de sua raça.

 

Sir.46.1 Josué, filho de Nun, foi um valente na guerra. Sucedeu Moisés entre os profetas; foi ilustre, tão ilustre como o nome que trazia,
Sir.46.2 muito ilustre salvador dos eleitos de Deus, para derrubar os inimigos que se levantavam, e para conquistar a herança de Israel.
Sir.46.3 Que glória não alcançou ele em levantar as suas mãos, e em brandir a espada contra as cidades!
Sir.46.4 Quem pôde enfrentá-lo? Pois o Senhor mesmo lhe trazia os seus inimigos.
Sir.46.5 Não deteve ele o sol, em sua cólera? Não se tornou um só dia tão longo como dois?
Sir.46.6 Ele invocou
o Altíssimo todo-poderoso, atacando os inimigos de todos os lados: o Deus grande e santo o atendeu com uma chuva de pedras de grande força.
Sir.46.7 Investiu impetuosamente contra as hostes inimigas, e despedaçou-as na descida do vale,
Sir.46.8 para que as nações conhecessem o poder de Deus, e soubessem que não é fácil combater contra Deus, ele seguiu sempre o Todo-poderoso.
Sir.46.9 No tempo em que Moisés ainda vivia, praticou um ato de piedade com Caleb, filho de Jefoné, permanecendo firme contra o inimigo, impedindo o povo de pecar, e abafando a murmuração excitada pela malícia.
Sir.46.10 Dentre um número de seiscentos mil homens de pé, esses dois foram escolhidos e poupados da morte, para levar o povo à sua herança, nessa terra onde mana leite e mel.
Sir.46.11 O Senhor deu força a Caleb; até a velhice permaneceu ele vigoroso, para subir a um lugar elevado na terra (prometida), que a sua descendência recebeu como herança,
Sir.46.12 para que todos os israelitas reconhecessem que é bom obedecer ao Deus santo.
Sir.46.13 Em seguida, vieram os juízes, cada um (designado) pelo seu nome, aqueles cujos corações não se perverteram, e que não se afastaram do Senhor.
Sir.46.14 Que a sua memória seja abençoada, e seus ossos floresçam em seus sepulcros!
Sir.46.15 Que seu nome permaneça eternamente, e passe aos seus filhos com a glória desses santos homens!
Sir.46.16 Amado pelo Senhor seu Deus, Samuel, o profeta do Senhor, instituiu um novo governo, e ungiu príncipes entre o seu povo.
Sir.46.17 Julgou a assembleia segundo a lei do Senhor. E o Deus de Jacob o visitou. Por sua fidelidade ele se mostrou verdadeiramente profeta,
Sir.46.18 e foi fiel em suas palavras, porque viu o Deus da luz.
Sir.46.19 Invocou o Deus todo-poderoso, ofereceu-lhe um cordeiro sem mácula, quando os seus inimigos o perseguiam por todos os lados.
Sir.46.20 O Senhor trovejou do céu, fazendo ouvir sua voz com grande estrondo.
Sir.46.21 Destroçou os príncipes de Tiro, e todos os chefes dos filisteus.
Sir.46.22 Antes de terminar a sua vida neste mundo, tomou como testemunha o Senhor e seu Cristo, de que não tinha recebido dinheiro de pessoa alguma, nem mesmo uma sandália, e não achou ninguém que o acusasse.
Sir.46.23 Depois disso, adormeceu e apareceu ao rei, e lhe mostrou seu fim (próximo); levantou a sua voz do seio da terra para profetizar a destruição da impiedade do povo.

 

Sir.47.1 Depois disto (levantou-se Natã, profeta) no tempo de David.
Sir.47.2 Assim como a gordura (da vitamina) se separa da carne, assim foi David separado do meio dos israelitas.
Sir.47.3 Ele brincou com os leões como se fossem cordeiros, e tratou os ursos como cordeirinhos.
Sir.47.4 Não foi ele quem, em sua mocidade, matou o gigante, e tirou a vergonha do seu povo?
Sir.47.5 Levantando a mão, com uma pedra de sua funda abateu a insolência de Golias,
Sir.47.6 pois ele invocou o Senhor todo-poderoso, o qual deu à sua destra força para derrubar o temível guerreiro, e para levantar o poder do seu povo.
Sir.47.7 Assim, foi ele festejado por causa (da morte) de dez mil homens. Louvaram-no nas bênçãos do Senhor, e ofereceram-lhe uma coroa de glória,
Sir.47.8 porque ele esmagou os inimigos de todos os lados, exterminou u os filisteus, seus adversários, (como se vê) ainda hoje, e abateu o seu poder para sempre.
Sir.47.9 Fez de todas as suas obras uma homenagem ao Santo e ao Altíssimo com palavras de louvor.
Sir.47.10 Louvor ao Senhor com todo o coração. Amou a Deus que o criou, e lhe deu poder contra seus inimigos.
Sir.47.11 Estabeleceu cantores diante do altar, e compôs suaves melodias para os seus cânticos.
Sir.47.12 Deu esplendor às festividades, e brilho aos dias solenes, até o fim da vida, para que fosse louvado o santo nome do Senhor, e fosse glorificada desde o amanhecer a santidade de Deus.
Sir.47.13 O Senhor purificou-o de seus pecados, engrandeceu o seu poder para sempre, e firmou-lhe, por sua aliança, a realeza e um trono de glória em Israel.
Sir.47.14 Depois dele, apareceu seu filho, cheio de sabedoria; por causa dele o Senhor derrubou todo o poder dos inimigos.
Sir.47.15 Salomão reinou em dias de paz. Deus submeteu a ele todos os seus inimigos,
Sir.47.16 a fim de que ele construísse uma casa ao nome do Senhor, e lhe preparasse um santuário eterno. Quão bem foste instruído na tua juventude! Foste cheio de sabedoria como um rio. Tua alma cobriu toda a terra.
Sir.47.17 Encerraste enigmas em sentenças, teu nome foi glorificado até nas ilhas longínquas, e foste amado na tua paz.
Sir.47.18 Por teus cânticos, provérbios, parábolas e interpretações, foste admirado por toda a terra.
Sir.47.19 Em nome do Senhor Deus, que é chamado o Deus de Israel,
Sir.47.20 ajuntaste montes de ouro como se fosse bronze, amontoaste prata como se faz com o chumbo.
Sir.47.21 Entregaste teus flancos às mulheres, saciaste teu corpo,
Sir.47.22 maculaste tua glória, profanaste tua raça, atraindo assim a cólera sobre teus filhos, e o castigo sobre tua loucura,
Sir.47.23 causando com isso um cisma no reino, e fazendo sair de Efraim uma dominação rebelde.
Sir.47.24 Mas Deus não esqueceu a sua misericórdia, não destruiu nem aniquilou as suas obras; não arrancou pela raiz a posteridade de seu eleito, não exterminou a raça daquele que ama o Senhor.
Sir.47.25 Ao contrário, deixou um resto a Jacob, e a David um rebento de sua raça.
Sir.47.26 E Salomão teve um fim semelhante ao de seus pais.
Sir.47.27 Deixou depois de si um filho que foi a loucura da nação,
Sir.47.28 um homem desprovido de juízo, chamado Roboão, que transviou o povo por seu conselho.
Sir.47.29 E Jeroboão, filho de Nabat, que fez Israel pecar, e abriu para Efraim o caminho da iniquidade. Houve entre eles uma profusão de pecados,
Sir.47.30 que os expulsaram para longe de sua terra.
Sir.47.31 Procuraram todos os meios de fazer o mal, até que veio a vingança, que pôs um termo às suas iniquidades.

 

Sir.48.1 Suas palavras queimavam como uma tocha ardente. Elias, o profeta, levantou-se em breve como um fogo.
Sir.48.2 Ele fez vir a fome sobre o povo (de Israel): foram reduzidos a um punhado por tê-lo irritado com sua inveja, pois não podiam suportar os preceitos do Senhor.
Sir.48.3 Com a palavra do Senhor ele fechou o céu, e dele fez cair fogo por três vezes.
Sir.48.4 Quão glorioso te tornaste, Elias, por teus prodígios! Quem pode gloriar-se de ser como tu?
Sir.48.5 Tu que fizeste sair um morto do seio da morte, e o arrancaste da região dos mortos pela palavra do Senhor;
Sir.48.6 tu que lançaste os reis na ruína, que desfizeste sem dificuldade o seu poder, que fizeste cair de seu leito homens gloriosos.
Sir.48.7 Tu que ouviste no Sinai o julgamento do Senhor, e no monte Horeb os decretos de sua vingança.
Sir.48.8 Tu que sagraste reis para a penitência, e estabeleceste profetas para te sucederem.
Sir.48.9 Tu que foste arrebatado num turbilhão de fogo, num carro puxado por cavalos ardentes.
Sir.48.10 Tu que foste escolhido pelos decretos dos tempos para amenizar a cólera do Senhor, reconciliar os corações dos pais com os filhos, e restabelecer as tribos de Jacob.
Sir.48.11 Bem-aventurados os que te conheceram, e foram honrados com a tua amizade!
Sir.48.12 Pois, quanto a nós, só vivemos durante esta vida, e depois da morte, nem mesmo nosso nome nos sobreviverá.
Sir.48.13 Elias foi então arrebatado em um turbilhão, mas seu espírito permaneceu em Eliseu. Nunca em sua vida teve Eliseu medo de um príncipe; ninguém o dominou pelo poder.
Sir.48.14 Nada houve que o pudesse vencer: seu corpo, mesmo depois da morte, fez profecias.
Sir.48.15 Durante a vida fez prodígios, depois da morte fez milagres.
Sir.48.16 E, apesar de tudo isto, o povo não fez penitência, não se afastou dos seus pecados, até que foi expulso de sua terra, e espalhado por todo o mundo.
Sir.48.17 Só ficou um resto do povo, um príncipe da casa de David.
Sir.48.18 Alguns deles fizeram o que é do agrado de Deus; os outros, porém, multiplicaram os seus pecados.
Sir.48.19 Ezequias fortificou a sua cidade, trazendo água até o centro; abriu com ferro um rochedo, e construiu um poço para as águas.
Sir.48.20 Durante o seu reinado veio Senaquerib, que enviou Rabsaces, o qual levantou a sua mão contra eles; ele estendeu a sua mão contra Sião, ensoberbecendo-se com seu poder.
Sir.48.21 Foi então que os seus corações e as suas mãos desfaleceram: sentiram dores como a parturiente.
Sir.48.22 Invocaram o Senhor misericordioso, levantando para o céu as suas mãos estendidas. E o Santo, o Senhor Deus, ouviu logo a sua voz:
Sir.48.23 não se recordou dos seus pecados, não os entregou aos seus inimigos, mas purificou-os pela mão de Isaías, seu santo profeta.
Sir.48.24 Derrubou o acampamento dos assírios, e o anjo do Senhor os desbaratou.
Sir.48.25 Pois Ezequias fez o que era agradável a Deus: caminhou corajosamente pelas pegadas de David, seu pai, assim como lhe havia recomendado Isaías, o grande profeta, fiel aos olhos do Senhor.
Sir.48.26 Um dia o sol retrocedeu, e (o profeta) prolongou a vida do rei.
Sir.48.27 Por uma poderosa inspiração ele viu o fim dos tempos, e consolou aqueles que choravam em Sião;
Sir.48.28 ele anunciou o futuro até o fim dos tempos, assim como as coisas ocultas antes que se cumprissem.

 

Sir.49.1 A memória de Josias é como uma composição de aromas, preparada pelo perfumista.
Sir.49.2 Em toda boca, sua lembrança é doce como o mel, como uma melodia num festim regado de vinho.
Sir.49.3 Foi divinamente destinado a levar o povo à penitência, e robusteceu a piedade numa época de pecado.
Sir.49.4 Voltou o coração para o Senhor e fez desaparecer as abominações da impiedade.
Sir.49.5 Excepto David, Ezequias e Josias, todos pecaram:
Sir.49.6 os reis de Judá abandonaram a lei do Altíssimo, e desprezaram o temor a Deus;
Sir.49.7 por isso tiveram de entregar a outros o seu reino, e a sua glória a uma nação estrangeira.
Sir.49.8 (Os inimigos) queimaram a cidade eleita, a cidade santa, transformaram suas ruas num deserto, conforme o que predissera Jeremias,
Sir.49.9 pois eles maltrataram aquele que havia sido consagrado profeta desde o ventre de sua mãe, para derrubar, para destruir, para arruinar, mas depois reedificar e renovar.
Sir.49.10 Foi Ezequiel quem teve essa visão gloriosa, que o Senhor lhe mostrou num carro de querubins.
Sir.49.11 Pois ele anunciou com uma chuva a sorte dos inimigos, assim como os bens reservados àquele que seguiam o caminho repto.
Sir.49.12 Quanto aos doze profetas, refloresçam os seus ossos em seus túmulos, pois fortaleceram Jacob, e redimiram-se (da servidão) por uma fé corajosa.
Sir.49.13 Como engrandecer a glória de Zorobabel? Foi ele como um anel na mão direita.
Sir.49.14 Do mesmo modo Josué, filho de Josedec; eles que, em seus dias, reconstruíram a casa (de Deus), e tornaram a levantar o templo santo do Senhor, destinado a uma glória eterna.
Sir.49.15 Neemias viverá por longo tempo na recordação; ele reergueu nossas muralhas arruinadas, restabeleceu nossas portas e nossos trincos, e reedificou nossas casas.
Sir.49.16 Ninguém nasceu no mundo comparável a Henoc, pois ele também foi arrebatado desta terra;
Sir.49.17 nem comparável a José, nascido para ser o príncipe de seus irmãos e o sustentáculo de sua raça, o governador de seus irmãos, e o esteio de seu povo.
Sir.49.18 Seus ossos foram conservados com cuidado; depois de sua morte fizeram profecia.
Sir.49.19 Set e Sem foram glorificados entre os homens, porém, acima de qualquer ser vivo da criação, acha-se Adão.

 

Sir.50.1 Simão, filho de Onias, sumo-sacerdote, foi quem, durante a sua vida, sustentou a casa do Senhor; e durante os seus dias, fortificou o templo.
Sir.50.2 Por ele foi fundado o alto edifício do templo, o edifício duplo e as altas muralhas.
Sir.50.3 Em seus dias a água jorrou dos reservatórios que se encheram extraordinariamente, como o mar (de bronze),
Sir.50.4 ele cuidou do seu povo, libertou-o da perdição.
Sir.50.5 Foi bastante poderoso para aumentar a cidade, conquistou glória em suas relações com a nação, e alargou a entrada do templo e do átrio.
Sir.50.6 Como a estrela-d’alva brilha no meio das nuvens, como brilha a lua nos dias de lua cheia,
Sir.50.7 como brilha o sol radioso, assim resplandeceu ele no templo de Deus.
Sir.50.8 (Ele era) como o arco-íris fulgurando nas nuvens luminosas, como a flor da roseira em dia de primavera, como os lírios à beira de uma corrente de água, e como o incenso que exala seu perfume nos dias de verão;
Sir.50.9 como um fogo que lança centelhas, como o incenso que se queima no fogo;
Sir.50.10 como um vaso de ouro maciço, adornado de pedrarias;
Sir.50.11 como uma oliveira cujos rebentos crescem, e como um cipreste que se ergue para o alto. Assim aparecia ele quando se cobria com o manto de aparato, e revestia os ornatos de sua dignidade.
Sir.50.12 Subindo ao altar santo, honrava os santos ornamentos.
Sir.50.13 Conservando-se de pé junto do altar, recebia as partes (das vítimas) da mão dos sacerdotes, e os seus irmãos o rodeavam como uma coroa, como uma plantação de cedros no monte Líbano.
Sir.50.14 Como as folhas de uma palmeira, todos os filhos de Aarão mantinham-se em volta dele em sua magnificência.
Sir.50.15 A oblação do Senhor era apresentada pelas suas mãos diante do povo de Israel. Quando terminava o sacrifício no altar, a fim de enaltecer a oblação do rei Altíssimo,
Sir.50.16 ele estendia a mão para a libação, e espargia o sangue da videira;
Sir.50.17 derramava ao pé do altar um perfume divino para o príncipe Altíssimo.
Sir.50.18 Então os filhos de Aarão manifestavam-se com exclamações, e tocavam trombetas de metal batido; faziam ouvir grandes clamores para se fazerem lembrados diante de Deus.
Sir.50.19 E todo o povo se comprimia em multidão, e caía com a face por terra, para adorar o Senhor seu Deus, e dirigir preces ao Deus todo-poderoso, o Altíssimo.
Sir.50.20 Os cantores elevavam a voz, e do vasto edifício subia uma suave melodia.
Sir.50.21 O povo orava ao Senhor, o Altíssimo, até que terminasse o culto do Senhor, e que as cerimónias tivessem fim,
Sir.50.22 Então, descendo do altar, o sumo-sacerdote elevava as mãos sobre todo o povo israelita, para render glória a Deus em alta voz, e para glorificá-lo em seu nome.
Sir.50.23 E (o povo) repetia sua oração, querendo demonstrar o poder de Deus.
Sir.50.24 E agora, orai ao Deus de todas as coisas, que fez grandes coisas pela terra toda, que multiplicou nossos dias desde o seio materno, e usou de misericórdia para connosco.
Sir.50.25 Que ele nos conceda a alegria do coração, e que a paz esteja com Israel agora e para sempre;
Sir.50.26 para que Israel creia que a misericórdia de Deus está connosco, e que nos liberte quando chegar o dia.
Sir.50.27 Há dois povos que minha alma abomina, e o terceiro, que aborreço, nem sequer é um povo:
Sir.50.28 aqueles que vivem no monte Seir, os filisteus, e o povo insensato que habita em Siquém.
Sir.50.29 Jesus, filho de Sirac de Jerusalém, escreveu neste livro uma doutrina de sabedoria e ciência, e derramou nele a sabedoria de seu coração.
Sir.50.30 Feliz aquele que se entregar a essas boas palavras; aquele que as guardar no coração será sempre sábio;
Sir.50.31 pois, se ele as cumprir, será capaz de todas as coisas, porque a luz de Deus guiará os seus passos.

 

Sir.51.1 Glorificar-vos-ei, ó Senhor e Rei, louvar-vos-ei, ó Deus, meu salvador.
Sir.51.2 Glorificarei o vosso nome, porque fostes meu auxílio e meu protector.
Sir.51.3 Livrastes meu corpo da perdição, das ciladas da língua injusta, e dos lábios dos forjadores de mentira. Fostes meu apoio contra aqueles que me acusavam.
Sir.51.4 Libertastes-me conforme a extensão da misericórdia de vosso nome, dos rugidos dos animais ferozes, prestes a me devorar;
Sir.51.5 da mão daqueles que atacavam a minha vida, do assalto das tribulações que me aturdiam,
Sir.51.6 e da violência das chamas que me rodeavam. Em meio ao fogo não me queimei.
Sir.51.7 Libertastes-me das profundas entranhas da morada dos mortos, da língua maculada, das palavras mentirosas, do rei iníquo e da língua injusta.
Sir.51.8 Minha alma louvará ao Senhor até a morte,
Sir.51.9 porque a minha vida estava prestes a cair nas profundezas da região dos mortos.
Sir.51.10 Eles me rodearam de todos os lados, e ninguém lá estava para ajudar-me. Esperava algum auxílio dos homens e nada veio.
Sir.51.11 Lembrei-me, Senhor, da vossa misericórdia, e de vossas obras que datam do princípio do mundo,
Sir.51.12 pois libertais, Senhor, aqueles que esperam em vós, e os salvais das mãos das nações.
Sir.51.13 Exaltastes a minha habitação sobre a terra, e eu vos roguei quando a morte se aproximou de mim;
Sir.51.14 invoquei o Senhor, pai do meu Senhor, para que me não abandonasse no dia de minha aflição, sem socorro, durante o reinado dos soberbos.
Sir.51.15 Louvarei sem cessar o vosso nome; glorificá-lo-ei em meus louvores, porque foi ouvida a minha prece,
Sir.51.16 porque me livrastes da perdição, e salvastes-me do perigo num tempo de iniquidade.
Sir.51.17 Eis por que eu vos glorificarei e cantarei vossos louvores e bendirei o nome do Senhor.
Sir.51.18 Quando eu era ainda jovem, antes de ter viajado, busquei abertamente a sabedoria na oração:
Sir.51.19 pedi-a a Deus no templo, e buscá-la-ei até o fim de minha vida. Ela floresceu como uma videira precoce
Sir.51.20 e meu coração alegrou-se nela. Meus pés andaram por caminho repto: desde a minha juventude tenho procurado encontrá-la.
Sir.51.21 Apliquei um pouco o meu ouvido e logo a recolhi.
Sir.51.22 Encontrei em mim mesmo muita sabedoria, e nela fiz grande progresso.
Sir.51.23 Tributarei glória àquele que ma deu,
Sir.51.24 pois resolvi pô-la em prática; fui zeloso no bem e não serei confundido.
Sir.51.25 Lutou minha alma para atingi-la, robusteci-me, pondo-a em prática.
Sir.51.26 Levantei minhas mãos para o alto, e deplorei o erro do meu espírito.
Sir.51.27 Conduzi minha alma para ela, e encontrei-a, ao procurar conhecê-la.
Sir.51.28 Desde o início, graças a ela, possuí o meu coração; eis por que não serei abandonado.
Sir.51.29 Minhas entranhas comoveram-se em procurá-la, e assim adquiri um bem precioso.
Sir.51.30 O Senhor deu-me como recompensa uma língua, e dela me servirei para louvá-lo.
Sir.51.31 Aproximai-vos de mim, ignorantes, reuni-vos na casa do ensino.
Sir.51.32 Por que tardais? Que direis a isto? Vossas almas estão violentamente perturbadas pela sede.
Sir.51.33 Abri a boca e falei: Buscai a sabedoria sem dinheiro!
Sir.51.34 Dobrai a cabeça sob o jugo, receba vossa alma a instrução, porque perto se pode encontrá-la.
Sir.51.35 Vede com os vossos olhos o pouco que trabalhei, e como adquiri grande paz.
Sir.51.36 Recebei a instrução como uma grande soma de prata, e possuireis nela grande quantidade de ouro.
Sir.51.37 Que vossa alma se regozije na misericórdia (de Deus)! E não sereis humilhados quando o louvardes.
Sir.51.38 Cumpri vossa tarefa antes que o tempo (passe) e, no devido tempo, ele vos dará a recompensa.

 

 

Baruc

 

Brc.1.1 Livro escrito por Baruc, filho de Nerias, filho de Maasias, filho de Sedecias, filho de Asadias, filho de Helcias, quando estava na Babilónia,
Brc.1.2 no sétimo dia do mês, no quinto ano da época em que os caldeus tomaram Jerusalém e a incendiaram.
Brc.1.3 Baruc leu este texto na presença de Jeconias, filho de Joaquim, rei de Judá, e também na presença de todo o povo que veio ouvir a leitura:
Brc.1.4 autoridades, pessoal do rei, conselheiros, o povo todo, pequenos e grandes, que estavam residindo na Babilónia, às margens do rio Sud.
Brc.1.5 Então todos começaram a chorar, a jejuar e a fazer preces ao Senhor.
Brc.1.6 Fizeram também uma colecta em dinheiro, dando cada um o que podia,
Brc.1.7 e mandaram a soma para Jerusalém, ao sacerdote Joaquim, filho de Helcias, filho de Salom, e para os outros sacerdotes e o povo que com ele tinha ficado em Jerusalém.
Brc.1.8 Isso foi quando Baruc, no décimo dia do mês de Sivan, recuperou os objectos da casa do Senhor, tirados do Templo, e os mandou de volta para a terra de Judá. Eram os objectos de prata que Sedecias, filho de Josias, rei de Judá, tinha mandado fazer,
Brc.1.9 depois que Nabucodonosor, rei da Babilónia, tinha levado para o exílio na Babilónia o rei Jeconias, as autoridades, os artistas, os poderosos e os cidadãos de Jerusalém.
Brc.1.10 A carta dizia: "Nós estamos remetendo algum dinheiro. É para vocês comprarem com ele vítimas para o holocausto e vítimas expiatórias, para o incenso e para as ofertas. Ofereçam tudo isso sobre o altar do Senhor nosso Deus,
Brc.1.11 rezando pela saúde de Nabucodonosor, rei da Babilónia, e pela saúde do seu filho Baltazar, a fim de que seus dias sejam tão longos como a idade do céu.
Brc.1.12 O Senhor nos conceda forças e nos ilumine, para podermos viver protegidos por Nabucodonosor, rei da Babilónia, e pelo seu filho Baltazar, trabalhando para eles por muito tempo e gozando o seu favor.
Brc.1.13 Rezem também por nós ao Senhor nosso Deus, pois pecamos contra o Senhor nosso Deus, e até hoje a ira e o furor do Senhor não se afastaram de nós.
Brc.1.14 Proclamem este documento que estamos mandando para ser lido em público no Templo do Senhor, tanto em dia de festa, como em outras ocasiões".
Brc.1.15 Eis o texto: "Confessamos que o Senhor nosso Deus é justo e a nós cabe hoje a vergonha, a nós, cidadãos de Judá e habitantes de Jerusalém,
Brc.1.16 reis e autoridades nossas, sacerdotes, profetas e antepassados nossos,
Brc.1.17 porque pecamos contra o Senhor,
Brc.1.18 desobedecemos, não ouvimos a voz do Senhor nosso Deus, deixamos de seguir as orientações que ele nos colocou diante dos olhos.
Brc.1.19 Desde o dia em que o Senhor tirou nossos antepassados do Egipto até hoje, nós só desobedecemos ao Senhor nosso Deus e não fizemos caso de ouvir a sua voz.
Brc.1.20 Assim nos acompanham até os dias de hoje desgraças e maldições com que o Senhor ameaçou o seu servo Moisés, quando tirou nossos antepassados do Egipto para nos dar uma terra onde corre leite e mel.
Brc.1.21 Nós, porém, nunca demos atenção à voz do Senhor nosso Deus, que nos falava pela palavra dos profetas que ele nos enviava.
Brc.1.22 Pelo contrário, cada um de nós seguia suas más inclinações, prestando culto aos deuses estrangeiros e praticando o que é mau aos olhos do Senhor nosso Deus.

 

Brc.2.1 Por isso, o Senhor cumpriu as ameaças feitas contra nós e nossos juízes que governavam Israel, nossos reis, nossas autoridades e todos os cidadãos de Israel e Judá.
Brc.2.2 Debaixo do céu, jamais aconteceu coisa igual a tudo o que aconteceu em Jerusalém, conforme está escrito na lei de Moisés:
Brc.2.3 que indivíduos iriam comer a carne de seus próprios filhos e filhas.
Brc.2.4 O Senhor entregou os israelitas em mãos de todos os reinos ao redor e deixou o seu território desolado, tornando-os objecto de caçoada e desprezo dos povos, entre os quais o Senhor os espalhou.
Brc.2.5 Foi assim que se tornaram vassalos e não senhores, pois pecamos contra o Senhor nosso Deus, quando deixamos de dar atenção à sua voz.
Brc.2.6 O Senhor nosso Deus é justo; hoje a vergonha pesa sobre nós e nossos antepassados.
Brc.2.7 Todas as ameaças que o Senhor havia pronunciado caíram sobre nós;
Brc.2.8 contudo, não aplacamos ao Senhor, convertendo-nos de nossa atitude perversa.
Brc.2.9 Por isso, o Senhor prestou atenção e nos enviou as desgraças com que nos havia ameaçado. O Senhor foi justo em tudo o que fez contra nós,
Brc.2.10 porque não lhe obedecemos, colocando em prática o que nos havia mandado.
Brc.2.11 Senhor, Deus de Israel, que tiraste o teu povo do Egipto com mão poderosa, com sinais e prodígios, com grande força e braço firme, criando para ti uma fama que dura até hoje:
Brc.2.12 Nós pecamos, não guardamos respeito, praticamos a injustiça, ó Senhor, nosso Deus, contra todos os teus mandamentos;
Brc.2.13 afasta de nós a tua ira, pois nos tornamos um pequeno resto entre as nações por onde nos espalhaste.
Brc.2.14 Ouve, Senhor, a nossa prece e a nossa súplica, libertando-nos por causa da tua honra. Faz com que ganhemos o favor daqueles que nos exilaram,
Brc.2.15 a fim de que a terra fique sabendo que tu és o Senhor nosso Deus, pois o teu nome foi invocado sobre Israel e seus descendentes.
Brc.2.16 Senhor, do alto de tua santa morada, olha para nós. Inclina, Senhor, o teu ouvido e escuta.
Brc.2.17 Abre, Senhor, os teus olhos e observa: os mortos no túmulo com seus corpos já sem vida não podem cantar tua glória e tua justiça.
Brc.2.18 Aquele que geme sob o peso, andando encurvado e esgotado, olhos baixos, passando fome, é ele quem reconhece tua glória e tua justiça, Senhor.
Brc.2.19 Não é apoiados no que os nossos antepassados ou nossos reis praticaram de bom, que nós vimos implorar a tua misericórdia, Senhor nosso Deus.
Brc.2.20 O furor e a ira que derramaste sobre nós estão de acordo com o que falaste por meio dos profetas, teus servos. Eles disseram:
Brc.2.21 'Assim fala o Senhor: Dobrem os ombros e submetam-se ao rei da Babilónia, para ficarem na terra que dei aos antepassados de vocês.
Brc.2.22 E se vocês desobedecerem ao Senhor e não se submeterem ao rei da Babilónia,
Brc.2.23 deixarei desertos os povoados de Judá e tirarei de Jerusalém os gritos de alegria, o barulho da festa, a voz do noivo e da noiva, e o país se transformará num lugar deserto e sem habitante'.
Brc.2.24 Nós, porém, não obedecemos à tua ordem de nos submetermos ao rei da Babilónia, e tu cumpriste a tua palavra anunciada pelos profetas, teus servos: tiraram da sepultura os ossos de nossos reis e antepassados
Brc.2.25 e os deixaram expostos ao calor do dia e ao frio da noite. Muitos morreram em situações terríveis: de fome, ao fio da espada ou de peste.
Brc.2.26 Por causa da maldade da casa de Israel e da casa de Judá, reduziste ao estado em que se encontra hoje o Templo sobre o qual teu nome foi invocado.
Brc.2.27 No entanto, agiste connosco, Senhor nosso Deus, em conformidade com tua imensa piedade e compaixão,
Brc.2.28 conforme falaste por meio do teu servo Moisés, quando o mandaste escrever a tua lei na presença de Israel:
Brc.2.29 'Se vocês deixarem de ouvir a minha palavra, esta grande multidão ficará reduzida a uns poucos no meio das nações para onde a espalharei.
Brc.2.30 Eu sei que eles não vão me obedecer, porque são todos um povo que não abaixa a cabeça. Contudo, no exílio eles se converterão
Brc.2.31 e reconhecerão que eu sou o Senhor Deus deles. Então lhes darei inteligência e ouvidos dóceis
Brc.2.32 e, na terra do seu exílio, me louvarão e se lembrarão do meu nome.
Brc.2.33 Eles se arrependerão de sua rebeldia e do mau comportamento, pois se lembrarão do caminho de seus antepassados, que pecaram contra o Senhor.
Brc.2.34 Então, eu os levarei de volta para a terra que jurei dar aos seus antepassados Abraão, Isaac e Jacob. Eles a possuirão, eu os farei crescer, e eles nunca mais diminuirão.
Brc.2.35 Farei com eles uma aliança eterna: eu serei o Deus deles e eles serão o meu povo. Nunca mais vou expulsar meu povo Israel da terra que lhe dei'.

 

Brc.3.1 Senhor todo-poderoso, Deus de Israel: é uma alma angustiada e um espírito aflito que clama por ti.
Brc.3.2 Ouve, Senhor, tem piedade, pois pecamos contra ti.
Brc.3.3 Tu reinas para sempre, e nós morremos para sempre.
Brc.3.4 Senhor todo-poderoso, Deus de Israel, ouve as preces daqueles que já estão mortos em Israel e as súplicas dos filhos daqueles que pecaram contra ti: eles desobedeceram ao Senhor seu Deus, e nós somos perseguidos pelas desgraças.
Brc.3.5 Não te lembres das injustiças de nossos antepassados; lembra-te, nesta hora, do teu poder e do teu nome.
Brc.3.6 Sim, porque tu és o nosso Deus, e nós te louvamos, ó Senhor.
Brc.3.7 Pois foi para isso que puseste o teu temor em nossos corações, para que invocássemos o teu nome. Nós te louvamos agora no exílio, pois afastamos do nosso coração toda a injustiça de nossos antepassados, que pecaram contra ti.
Brc.3.8 Hoje estamos no exílio, para onde nos expulsaste, a fim de sofrermos vergonha, maldição e insultos, para pagarmos por todas as injustiças de nossos antepassados, que se revoltaram contra o Senhor nosso Deus".
Brc.3.9 Ouça, Israel, os mandamentos da vida, preste atenção para aprender a prudência.
Brc.3.10 Diga, Israel: por que você está numa terra inimiga, envelhecendo numa terra estrangeira?
Brc.3.11 Por que você se contamina com os cadáveres e é contado entre os que vão para a mansão dos mortos?
Brc.3.12 É porque você abandonou a fonte da sabedoria!
Brc.3.13 Se tivesses andado nos caminhos de Deus, teria sempre vivido em paz.
Brc.3.14 Aprenda agora onde está a prudência, a força e a inteligência, para compreender onde está a vida longa, onde está a luz dos olhos e a paz.
Brc.3.15 Mas quem descobriu a morada da sabedoria, quem penetrou em seus depósitos?
Brc.3.16 Onde estão os governantes das nações, os que dominam as feras da terra?
Brc.3.17 Onde estão os que se divertem com as aves do céu, os que ajuntam prata e ouro, riquezas em que os homens confiam e em cuja posse não põem limites?
Brc.3.18 Onde estão os que lavram a prata e a cinzelam, sem revelar o segredo de seus trabalhos?
Brc.3.19 Desapareceram, desceram à mansão dos mortos, e outros surgiram e tomaram o seu lugar.
Brc.3.20 Novas gerações viram a luz e vieram habitar a terra, mas não conheceram o caminho da ciência,
Brc.3.21 nem aprenderam suas veredas; nem mesmo seus filhos a puderam alcançar; pelo contrário, afastaram-se do caminho dela.
Brc.3.22 Em Canaã jamais se ouviu falar da sabedoria, e em Teman ela nunca foi vista.
Brc.3.23 Nem mesmo os filhos de Agar, que procuram a sabedoria em toda a terra, ou os comerciantes de Merran e de Teman, que contam histórias e buscam o saber, nem eles conheceram os caminhos da sabedoria, nem se lembraram de suas veredas.
Brc.3.24 Como é grande, ó Israel, o Templo de Deus! Como é espaçoso o lugar do seu domínio;
Brc.3.25 grande e sem fim, alto e sem medidas!
Brc.3.26 Aí surgiram os famosos gigantes dos tempos antigos de enorme estatura e treinados para a guerra.
Brc.3.27 Não foi, porém, a eles que Deus escolheu nem lhes ensinou o caminho da ciência:
Brc.3.28 morreram porque não tinham prudência, pereceram por falta de reflexão.
Brc.3.29 Quem subiu até o céu para tomar a sabedoria e fazê-la descer das nuvens?
Brc.3.30 Quem atravessou o mar para encontrá-la, e comprá-la a preço de ouro puro?
Brc.3.31 Ninguém conhece o caminho dela, nem percebe as suas veredas.
Brc.3.32 Aquele que tudo sabe conhece a sabedoria e penetrou-a com sua inteligência. Aquele que criou a terra para sempre e a encheu de animais;
Brc.3.33 ele envia a luz, e ela vai; chama-a de volta, e ela obedece com tremor.
Brc.3.34 As estrelas brilham alegres, cada uma em seu lugar;
Brc.3.35 ele as chama, e elas respondem: "Presente!" E brilham de alegria para aquele que as criou.
Brc.3.36 Ele é o nosso Deus, e nenhum outro a ele se compara.
Brc.3.37 Foi ele que encontrou o caminho da ciência e o deu a seu filho Jacob e a seu amado Israel.
Brc.3.38 Por isso, ela apareceu sobre a terra e viveu entre os homens.

 

Brc.4.1 Ela é o livro dos mandamentos de Deus, a lei decretada para sempre: os que a guardam viverão, os que a abandonam morrerão.
Brc.4.2 Volte atrás, Jacob, e a receba; caminhe na claridade do seu esplendor;
Brc.4.3 não entregue a outros a glória que pertence a você, nem sua dignidade a um povo estrangeiro.
Brc.4.4 Felizes somos nós, Israel, pois conhecemos o que agrada a Deus.
Brc.4.5 Coragem, meu povo, você que leva o nome de Israel!
Brc.4.6 Vocês foram vendidos
às nações, não para serem destruídos; mas, porque vocês provocaram a ira de Deus, então foram entregues aos inimigos.
Brc.4.7 Vocês irritaram o seu criador, sacrificando aos demónios, e não a Deus;
Brc.4.8 vocês esqueceram o Deus eterno que os alimentou e provocaram a tristeza de Jerusalém que sustentou vocês.
Brc.4.9 Jerusalém viu cair sobre vocês a ira de Deus. Então ela disse: "Escutem, cidades vizinhas de Sião! Deus me trouxe um grande sofrimento:
Brc.4.10 Eu vi a prisão de meus filhos e filhas, trazida pelo Eterno.
Brc.4.11 Com alegria eu os tinha criado, deles me despedi, chorando e gemendo.
Brc.4.12 Ninguém se alegre mais comigo, pois agora estou viúva e abandonada. Se agora fiquei só e vazia, foi por causa dos pecados de meus filhos, que se desviaram da lei de Deus.
Brc.4.13 Eles não entenderam os mandamentos dele, não andaram pelos caminhos da lei de Deus e não entraram pelos trilhos da disciplina e da justiça.
Brc.4.14 Venham, cidades vizinhas de Sião: lembrem-se da prisão de meus filhos e filhas, trazida pelo Eterno.
Brc.4.15 Pois ele reuniu em torno de meus filhos um povo distante, um povo cruel e de linguagem estranha, que não respeitou os velhos nem teve dó das crianças.
Brc.4.16 Levaram embora os filhos queridos da viúva e a deixaram sozinha e sem filhas".
Brc.4.17 E eu, que posso fazer por vocês?

Brc.4.18 Somente Aquele que lhes enviou a desgraça poderá libertá-los do inimigo.

Brc.4.19 Vão embora, filhos meus, vão embora, enquanto eu fico sozinha.
Brc.4.20 Tirei o manto da paz e vesti a roupa de suplicante. Ficarei a vida inteira clamando ao Deus eterno.
Brc.4.21 Coragem, meus filhos! Clamem a Deus, e ele os livrará da opressão e das mãos dos inimigos.
Brc.4.22 De minha parte, espero da mão do Eterno a salvação de vocês; já chegou para mim a alegria que vem do Deus santo, porque o Eterno, seu salvador, logo terá misericórdia de vocês.
Brc.4.23 Entre lágrimas e gemidos eu me despedi de vocês; Deus, porém, fará vocês voltarem para mim, com festa e alegria que nunca irão terminar.
Brc.4.24 Da mesma forma que as cidades vizinhas de Sião viram há pouco vocês serem presos, assim, dentro em breve, elas verão a salvação que Deus lhes concederá, pois é com grande glória e brilho do Eterno que ela virá a vocês.
Brc.4.25 Filhos meus, suportem, animados, a ira de Deus que se voltou contra vocês. O inimigo os perseguiu; mas logo vocês verão a derrota deles e lhes pisarão no pescoço.
Brc.4.26 Meus filhos mimados passaram por caminho pedregoso tocados pelo inimigo como gado roubado.
Brc.4.27 Coragem, meus filhos, clamem a Deus! Ele mesmo que os provou se lembrará de vocês.
Brc.4.28 Da mesma forma como lhes veio, um dia, a ideia de abandonar a Deus, agora voltem a procurá-lo com redobrado empenho.
Brc.4.29 Aquele que lhes enviou tanta desgraça, lhes mandará também a alegria eterna da salvação.
Brc.4.30 Jerusalém, tenha coragem! Aquele que lhe deu um nome a consolará.
Brc.4.31 Malditos os que fizeram mal a você ou ficaram contentes com a sua derrota!
Brc.4.32 Malditas as cidades que escravizaram os filhos de você! E maldita também aquela que os recebeu.
Brc.4.33 Pois, da mesma forma que se alegrou com a derrota de você e fez festa pela sua queda, assim também ela chorará por causa da sua própria destruição!
Brc.4.34 Tirarei dela a alegria de ser muito povoada, e o seu atrevimento se mudará em luto.
Brc.4.35 Sobre ela virá, para durar muito tempo, um fogo mandado pelo Eterno, e os demónios nela habitarão por longos anos.
Brc.4.36 Olhe para o nascente, Jerusalém, e veja a alegria que Deus manda para você.
Brc.4.37 Olhe! Estão voltando os filhos que você viu partir: reunidos pela palavra do Deus santo, desde o nascente até o poente, eles vêm festejando a glória de Deus.

 

Brc.5.1 Jerusalém, tire a roupa de luto e de aflição e vista para sempre o esplendor da glória que vem de Deus.
Brc.5.2 Vista o manto da justiça de Deus e ponha na cabeça a coroa gloriosa do Eterno,
Brc.5.3 pois Deus mostrará o esplendor de você a todos os que vivem debaixo do céu.
Brc.5.4 Deus lhe um nome para sempre: Paz da Justiça e Glória da Piedade.
Brc.5.5 Levante-se, Jerusalém, tome posição em lugar alto, olhe para o nascente e contemple os seus filhos, reunidos do nascente e do poente pela voz do Santo, que invocam alegremente a Deus.
Brc.5.6 Eles partiram a pé, levados pelo inimigo, mas Deus os traz de volta, em triunfo, como sobre uma carruagem real.
Brc.5.7 Deus mandou cortar toda colina alta ou monte antigo e aterrar os lugares mais fundos, para aplainar o chão, a fim de que Israel possa passar com segurança, guiado pela glória de Deus.
Brc.5.8 Por ordem de Deus, todas as árvores e plantas aromáticas darão sombra a Israel,
Brc.5.9 porque Deus, com sua justiça e sua misericórdia, conduzirá festivamente Israel à luz da sua glória.

 

Brc.6.1 Por causa dos pecados que vocês cometeram contra Deus é que estão sendo levados prisioneiros para a Babilónia, sob as ordens do rei deles, Nabucodonosor.
Brc.6.2 Vocês chegarão à Babilónia, aí ficarão por muitos dias, um longo tempo, ou seja, durante sete gerações; depois disso, vou tirá-los daí em paz.
Brc.6.3 Durante esse tempo, vocês verão na Babilónia deuses de prata, de ouro e de madeira, que costumam ser carregados nos ombros e provocam temor entre os pagãos.
Brc.6.4 Cuidado para não ficarem vocês também parecendo com esses estrangeiros, nem se deixarem influenciar pelo temor desses deuses.
Brc.6.5 Quando vocês virem as multidões ajoelhadas na frente e atrás deles, pensem dentro de si mesmos: "É só a ti, Senhor, que devemos adorar".
Brc.6.6 Pois o meu anjo estará sempre com vocês, e ele pediria conta da vida de vocês.
Brc.6.7 A língua desses deuses foi feita por um artista; ela está coberta de prata ou de ouro, mas é de mentira e não pode falar.
Brc.6.8 Como se faz com a moça que gosta de enfeites, pegam ouro e fazem uma coroa para colocar na cabeça de seus deuses.
Brc.6.9 De vez em quando, os sacerdotes, tendo tirado ouro e prata dos seus deuses para o seu próprio proveito, o dão até a prostitutas de bordéis.
Brc.6.10 Eles enfeitam com roupas, como se fossem gente, a esses deuses de prata, de ouro ou de madeira. Mas eles não podem livrar-se da ferrugem nem do caruncho.
Brc.6.11 Depois de tê-los vestido com roupas caras, são obrigados a limpar-lhes a cara, por causa da poeira que do templo lhes caiu em cima.
Brc.6.12 Um deus fica com o ceptro na mão, como se fosse na região uma autoridade, mas não é capaz de destruir quem o ofende.
Brc.6.13 Outro tem uma faca ou machadinha na mão, e não é capaz de se defender de inimigos ou ladrões.
Brc.6.14 Por aí se vê que eles não são deuses, e vocês não devem temê-los.
Brc.6.15 Como a vasilha que se quebra e perde a serventia, assim também são esses deuses, instalados nos templos deles.
Brc.6.16 Os olhos desses deuses vivem cheios de poeira levantada pelos pés daqueles que entram no templo.
Brc.6.17 Da mesma forma como se fecham com segurança todas as portas por trás de alguém que ofendeu o rei e fica preso e condenado à morte, assim também os sacerdotes fecham os templos com portas, trancas e ferrolhos, para que seus deuses não sejam roubados por ladrões.
Brc.6.18 Acendem mais lâmpadas para eles que para si mesmos, embora esses deuses não sejam capazes de ver nenhuma delas.
Brc.6.19 Como o madeiramento do templo, cujo cerne dizem estar carunchado por cupins saídos do chão, assim também esses deuses nada sentem quando suas roupas ou eles próprios são corroídos.
Brc.6.20 O rosto deles fica escuro por causa da fumaça do templo.
Brc.6.21 Em volta deles, por cima de suas cabeças, voam morcegos, andorinhas e outros passarinhos, e até gatos saltam.
Brc.6.22 Por aí se vê que eles não são deuses, e vocês não devem temê-los.
Brc.6.23 Quanto ao ouro de que são cobertos para ficarem bonitos, se ninguém lhes dá lustro, não brilha. Eles mesmos, nem quando foram fundidos, sentiram coisa alguma.
Brc.6.24 Embora não tenham vida, eles foram comprados por um preço muito caro.
Brc.6.25 Sem pés, são carregados nos ombros, mostrando aos homens a sua falta de valor. Até quem cuida deles passa vergonha, pois se um desses deuses cai no chão, ele é que tem de levantá-lo.
Brc.6.26 E quando alguém os coloca erguidos e de pé, eles não são capazes de andar por si mesmos; se tombam, não podem se endireitar. Os dons são oferecidos a eles como a mortos.
Brc.6.27 Para proveito próprio, os sacerdotes vendem o que foi sacrificado a esses deuses; a outra parte, as mulheres salgam, sem dar nada aos pobres e necessitados. Até a mulher menstruada ou que acaba de dar à luz toca nesses sacrifícios.
Brc.6.28 Portanto, sabendo que não são deuses, não tenham medo deles.
Brc.6.29 Como poderiam ser deuses? São mulheres que oferecem sacrifícios a esses deuses de prata, de ouro e de madeira.
Brc.6.30 Nos templos deles, os sacerdotes circulam com a roupa rasgada, a barba e o cabelo cortado e a cabeça descoberta, em sinal de luto.
Brc.6.31 Urram e gritam diante de seus deuses, como alguns fazem nas cerimónias fúnebres.
Brc.6.32 Os sacerdotes tiram a roupa dos deuses para vestir suas mulheres e crianças.
Brc.6.33 E esses deuses, favorecidos ou prejudicados por alguém, não são capazes de retribuir. Não podem nomear nem destronar reis.
Brc.6.34 Eles também não são capazes de dar a ninguém riqueza alguma, nem sequer uma única moeda. Se alguém lhes faz uma promessa e depois não cumpre, eles não podem reclamar.
Brc.6.35 Não podem salvar ninguém da morte, nem podem livrar o fraco das mãos do poderoso.
Brc.6.36 Não são capazes de devolver a vista ao cego, nem de livrar do perigo homem nenhum;
Brc.6.37 não têm compaixão pela viúva, nem prestam ajuda nenhuma ao órfão.
Brc.6.38 Esses deuses de madeira prateada ou dourada parecem pedras tiradas do morro: quem se ocupa deles só vai passar vergonha.
Brc.6.39 Como, então, pensar ou dizer que são deuses?
Brc.6.40 Até mesmo os caldeus os desrespeitam. Quando vêem alguém mudo, incapaz de falar, eles o apresentam ao deus Bel, pedindo que o faça falar, como se ele fosse capaz de ouvir.
Brc.6.41 Mas, porque não têm bom senso, eles são incapazes de reflectir nisso e de abandonar esses deuses.
Brc.6.42 Mulheres põem uma corda na cintura e sentam-se à beira do caminho, queimando farelo como incenso.
Brc.6.43 Quando uma delas é levada por algum homem que passa, a fim de dormir com ele, começa a desprezar a companheira, que não teve a mesma honra nem arrebentou a corda.
Brc.6.44 Tudo o que fazem com eles é falso. Então, como é que se vai pensar ou dizer que são deuses?
Brc.6.45 Esses deuses foram fabricados por escultores e ourives, e não podem ser nada mais daquilo que os seus autores queriam que fossem.
Brc.6.46 Aqueles que os fizeram não vivem muitos anos; então, como pode ser deus aquilo que eles fizeram?
Brc.6.47 Deixaram apenas mentira e vergonha para seus descendentes.
Brc.6.48 Quando surge uma guerra ou desgraça muito grande, os sacerdotes discutem a maneira de se esconderem juntamente com esses deuses.
Brc.6.49 Assim, dá para entender que não são deuses, pois não são capazes de se livrarem a si mesmos durante uma guerra ou catástrofe.
Brc.6.50 Não sendo mais que objectos de madeira, dourados ou prateados, por aí fiquem todos sabendo que são de mentira. Que eles não são deuses fique claro para todos os povos e reis; são apenas criação do trabalho humano, e nenhuma acção divina existe neles.
Brc.6.51 Então, quem não vê que eles não são deuses?
Brc.6.52 Esses deuses nunca farão surgir um rei para uma região, nem mandarão chuva para os homens.
Brc.6.53 Jamais defenderão a própria causa, nem libertarão injustiçado algum, pois são impotentes, são como gralhas que voam entre o céu e a terra.
Brc.6.54 Se aparecer um fogo no templo desses deuses de madeira, dourados ou prateados, seus sacerdotes poderão fugir para se salvar, mas eles serão queimados junto com o madeiramento.
Brc.6.55 Eles não são capazes de resistir a um rei ou aos inimigos.
Brc.6.56 Então, como é que se vai aceitar ou imaginar que são deuses?
Brc.6.57 Esses deuses de madeira, deuses dourados ou prateados, não podem escapar nem dos ladrões ou assaltantes. Mais fortes, os ladrões arrancam-lhes o ouro ou a prata e vão-se embora carregando as roupas que esses deuses vestiam, sem que eles possam acudir a si mesmos.
Brc.6.58 Mais vale um rei que mostra bravura ou mesmo um objecto de utilidade em casa, do qual o dono pode se servir, do que esses deuses falsos. Mais vale uma porta que, numa casa, protege tudo o que está dentro, do que esses falsos deuses. Mais vale uma coluna de madeira no palácio, do que esses falsos deuses.
Brc.6.59 O sol, a lua e as estrelas, brilhando, cumprem espontaneamente a missão de ser úteis.
Brc.6.60 O relâmpago, quando aparece, é bem visível. O próprio vento sopra em qualquer região.
Brc.6.61 As nuvens obedecem, quando Deus as manda percorrer o mundo inteiro. O raio, mandado lá de cima para devastar montes e matas, cumpre o que lhe é determinado.
Brc.6.62 Esses deuses, porém, não podem ser comparados com essas coisas, nem na aparência nem na força.
Brc.6.63 Portanto, como é possível pensar que sejam deuses ou chamá-los assim? São incapazes de promover a justiça ou de fazer qualquer coisa boa para os homens.
Brc.6.64 Portanto, sabendo que não são deuses, não tenham medo deles.
Brc.6.65 Esses deuses não podem amaldiçoar nem abençoar os reis;
Brc.6.66 não podem servir aos pagãos como sinais no céu, pois nem brilham como o sol, nem são claros como a lua.
Brc.6.67 Até as feras valem mais do que eles, pois as feras podem fazer alguma coisa por si mesmas, ao menos fugindo para um esconderijo.
Brc.6.68 Então, em nada eles se mostram ser deuses. Por isso, não tenham medo deles.
Brc.6.69 Como espantalho em plantação de pepinos, que nada vigia, assim são esses deuses de madeira, dourados ou prateados.
Brc.6.70 Esses deuses de madeira, dourados ou prateados, se parecem com espinheiro no jardim, onde os passarinhos vêm pousar, ou, então, com cadáver jogado em cova escura.
Brc.6.71 Pelas roupas de púrpura ou linho que vão apodrecendo em cima deles, vocês já podem saber que não são deuses. Ao contrário, eles também serão comidos e se tornarão vergonha para o país.
Brc.6.72 Então, é melhor ser homem honrado que não tem ídolos, pois assim não terá do que se envergonhar.

 

 

Ester em grego

1.1a No segundo ano do reinado do rei Assuero, no primeiro dia do mês de Nisã, Mardoqueu teve um sonho. Mardoqueu era filho de Jair, filho de Semei, filho de Cis, da tribo de Benjamim.
1.1b Ele era judeu que vivia na cidade de Susa, homem notável, ligado à corte do rei.
1.1c Pertencia ao grupo dos exilados que Nabucodonosor, rei da Babilónia, tinha exilado de Jerusalém, junto com Jeconias, rei de Judá.
1.1d O sonho foi assim: Gritos e tumulto, trovões e terramotos, agitação sobre a terra.
1.1e Dois enormes dragões avançam, prontos para a luta. Lançam um grande rugido
1.1f E, ao ouvi-lo, todas as nações se preparam para a guerra, para o combate contra o povo dos justos.
1.1g É dia de treva e escuridão, caem sobre a terra angústia e aflição, tribulação e pavor.
1.1h Todo o povo dos justos fica transtornado e, temendo desgraças, prepara-se para morrer e clama a Deus.
1.1i E ao clamor do povo brota, como de uma pequena fonte, um grande rio de águas caudalosas.
1.1j A luz e o sol se levantam: os oprimidos são exaltados e devoram os poderosos.
1.1l Mardoqueu acordou do sonho e perguntou a si mesmo: "O que Deus está decidindo fazer?" Continuou a reflectir nisso e ficou até à noite procurando decifrar de algum modo o significado.
1.1m Mardoqueu morava na corte com Bagatã e Tares, dois funcionários do rei, guardas do palácio.
1.1n. Ouvindo a conversa deles e investigando seus planos, ficou sabendo que estavam preparando um atentado contra o rei Assuero. Mardoqueu informou o rei.
1.1o E o rei interrogou os dois funcionários, que confessaram e foram condenados à morte.
1.1p O rei mandou escrever uma crónica desses fatos, e também Mardoqueu, por conta própria, os deixou por escrito.
1.1q Depois o rei colocou Mardoqueu como funcionário na corte e o recompensou com presentes.
1.1r Todavia, Amã, filho de Amadates, o agagita, tinha muito prestígio diante do rei e buscava um modo de prejudicar Mardoqueu e seu povo, por causa dos dois funcionários do rei.

3.13a Texto do decreto: "O Grande Rei Assuero, aos governadores das cento e vinte e sete províncias que vão da Índia até a Etiópia, e aos chefes de distrito, seus subordinados:
3.13b Chefe de muitas nações e senhor de toda a terra, eu procuro não me embriagar com o orgulho do poder, mas governar com moderação e benevolência, a fim de que os meus súbditos gozem sempre de uma vida sem sobressaltos. Oferecendo os benefícios da civilização e a livre circulação dentro de nossas fronteiras, procuro estabelecer a paz, tão desejada por todos.
3.13c Consultei meus conselheiros sobre como poderia atingir esse fim. Entre eles está Amã, que se distingue por sua prudência, homem de dedicação sem igual, de fidelidade inabalável e comprovada, e cujas prerrogativas seguem imediatamente as do rei.
3.13d Amã nos informou que entre todos os povos da terra há um povo hostil, com regime jurídico oposto ao de todas as nações, povo que despreza continuamente as ordens reais, a ponto de estorvar a política irrepreensível e repta que exercemos.
3.13e Portanto, considerando que esse povo singular, inimigo de todos e completamente diferente por sua legislação, que é prejudicial aos nossos interesses, ele comete os piores crimes e chega a ameaçar a estabilidade de nosso reino:
3.13f Ordenamos que no dia catorze do décimo segundo mês, que é Adar, do presente ano, todas as pessoas que forem nomeadas na carta de Amã, nosso chefe de governo, que é como nosso segundo pai, sejam completamente exterminadas com mulheres e crianças, pela espada de seus inimigos, sem piedade ou consideração alguma.
3.13g Desse modo, lançando violentamente na sepultura, num só dia, esses inimigos de ontem e de hoje, nossa política poderá prosseguir no futuro com estabilidade e tranquilidade".

4.8a E lhe dizia: "Lembre-se de quando você era pobre e eu lhe dava de comer. Amã, a segunda pessoa do reino, pediu ao rei a nossa morte
4.8b Invoque o Senhor, fale ao rei em nosso favor, e livre-nos da morte".

4.17a Então lembrando todas as façanhas do Senhor, Mardoqueu orou assim:
4.17b "Senhor, Senhor, Rei Todo-poderoso, tudo está debaixo do teu poder, e não há quem se oponha à tua vontade de salvar Israel.
4.17c Sim, tu fizeste o céu e a terra e todas as maravilhas que estão debaixo do firmamento. Tu és o Senhor de todas as coisas, e não há quem possa resistir a ti.
4.17d Tu conheces tudo! Se eu me nego a prostrar-me diante do soberbo Amã, tu bem sabes, Senhor, que não é por arrogância, orgulho ou vaidade. Para salvar Israel, de boa vontade eu beijaria a sola dos pés dele!
4.17e Fiz o que fiz para não colocar a honra de um homem acima da glória de Deus. Eu não me prostro na frente de ninguém, a não ser diante de ti, Senhor, e não faço isso por orgulho.
4.17f Pois bem, Senhor Deus, Rei, Deus de Abraão, poupa o teu povo! Porque tramam a nossa morte e desejam aniquilar a tua antiga herança.
4.17g Não desprezes a porção que para ti resgataste da terra do Egipto.
4.17h Ouve minha súplica, tem piedade da tua herança e transforma o nosso luto em alegria, para que vivamos celebrando o teu Nome, Senhor. Não deixes emudecer a boca dos que louvam a ti".
4.17i E todos os israelitas clamavam a Deus com todas as forças, porque a morte estava diante de seus olhos.
4.17j Tomada de angústia mortal, a rainha Ester também procurou refúgio no Senhor. Deixou as roupas de luxo, vestiu-se com roupas de miséria e luto. Em lugar de perfumes finos, cobriu a cabeça com cinzas e poeiras. Desfigurou-se completamente, e com os cabelos desgrenhados cobriu o corpo, que antes tinha prazer de enfeitar. E suplicou assim ao Senhor, o Deus de Israel:
4.17l "Meu Senhor, nosso Rei, tu és o Único! Protege-me, porque estou só e não tenho outro defensor além de ti, pois vou arriscar a minha vida.
4.17m Desde a infância, aprendi com minha família que tu, Senhor, escolheste Israel entre todos os povos e nossos pais entre todos os seus antepassados, para ser tua herança perpétua. E cumpriste o que lhes havias prometido.
4.17n Pecamos contra ti, e nos entregaste aos nossos inimigos, porque adoramos os deuses deles. Tu és justo, Senhor!
4.17o Eles, porém, não se contentaram com a amargura da nossa escravidão. Comprometeram-se com seus ídolos e juraram anular a palavra saída dos teus lábios e fazer desaparecer a tua herança e emudecer as bocas que te louvam, para aniquilar teu altar e a glória de tua casa.
4.17p Juraram abrir os lábios dos pagãos para que louvem seus ídolos vazios e adorem eternamente um rei de carne.
4.17q Senhor, não entregues teu ceptro a deuses que não existem. Que não caçoem de nossa ruína. Volta seus planos contra eles próprios, e que sirva de exemplo o primeiro que nos atacou.
4.17r Lembra-te, Senhor, manifesta-te a nós no dia da nossa tribulação. Quanto a mim, dá-me coragem, Rei dos deuses e Senhor dos poderosos.
4.17s Coloca na minha boca palavras certas, quando eu estiver diante do leão. Volta o coração dele para odiar o nosso inimigo, para que este pereça junto com todos os seus cúmplices.
4.17t Salva-nos com a tua mão e vem para me auxiliar, pois estou sozinha. E fora de ti, Senhor, eu não tenho nada.
4.17u Tu conheces todas as coisas, sabes que odeio a glória dos ímpios, e que o leito dos incircuncisos e de qualquer estrangeiro me causa horror.
4.17v Tu conheces a minha angústia e sabes que eu detesto o sinal da minha grandeza, que me cinge a fronte quando apareço em público. Eu o detesto como trapo imundo, e não o uso fora das solenidades.
4.17x Tua serva não comeu à mesa de Amã, nem apreciou o banquete do rei, nem bebeu o vinho das libações.
4.17y Tua serva não se alegrou desde o dia em que mudou de condição até hoje, a não ser em ti, Senhor, Deus de Abraão.
4.17z Ó Deus, mais forte que todos os poderosos, ouve a voz dos desesperados, liberta-nos da mão dos malfeitores, e livra-me do medo!"

5.1a Vestida com esplendor, invocou o Deus que cuida de todos e que os salva. Tomou consigo duas escravas. Apoiava-se suavemente numa delas, com delicada elegância, enquanto a outra ia acompanhando e segurando a cauda do vestido.
5.1b No auge da beleza, Ester caminhava ruborizada, com o rosto alegre, como se ardesse de amor. Seu coração, porém, estava angustiado.
5.1c Ultrapassando todas as portas, Ester se encontrou na presença do rei. Ele estava sentado no trono real, vestido com todos os enfeites majestosos de suas aparições solenes, resplandecendo em ouro e pedras preciosas, e tinha aspecto terrível.
5.1d Ele ergueu o rosto incendiado de glória, e olhou num acesso de cólera. A rainha esmoreceu, apoiou a cabeça na escrava que a seguia, ficou pálida e desmaiou.
5.1e Deus, porém, tornou manso o coração do rei, que ansioso correu do trono e tomou Ester nos braços, até que ela se recuperasse, e a reconfortou com palavras tranquilizadoras:
5.1f "O que foi, Ester? Eu sou seu esposo. Coragem! Você não vai morrer. Nossa ordem é só para os súbditos. Aproxime-se".

5.2a Ester lhe disse: "Senhor, eu o vi como um anjo de Deus e fiquei com medo de tanto esplendor. O senhor é admirável e seu rosto é fascinante".
5.2b Enquanto falava, Ester desmaiou. O rei ficou perturbado e todos os cortesãos procuravam reanimá-la.

812a Texto do decreto:
8.12b "O grande rei Assuero, aos sátrapas das cento e vinte e sete províncias, que se estendem da Índia à Etiópia, e aos que são fiéis aos nossos interesses. Saudações.
8.12c Muitos homens, quanto mais honrados pela suma generosidade dos benfeitores, mais se ensoberbecem e procuram não só prejudicar nossos súbditos, mas, incapazes de frear a própria soberba, tramam armadilhas contra seus próprios benfeitores.
8.12d Eles não só anulam a gratuidade no meio dos homens, mas, embriagados pelo elogio de quem ignora o bem, se orgulham de fugir de Deus, o qual tudo vê, e de sua justiça que odeia o mal.
8.12e De fato, muitas vezes, aconteceu que um mau conselho dessas pessoas, a quem foi confiado o controle dos assuntos públicos, tornou muitos daqueles que detêm o poder, co-responsáveis por acções sanguinárias reprováveis, provocando assim calamidades irremediáveis.
8.12f Com falsos raciocínios cheios de maldade, eles enganaram toda a boa fé dos soberanos.
8.12g É possível encontrar fatos semelhantes, não só nas antigas histórias a que aludimos, mas também examinando as acções hoje realizadas pela baixeza daqueles que injustamente detêm o poder.
8.12h Para o futuro, será necessário assegurar, em favor de todos os homens, um reino pacífico e sem perturbações,
8.12i fazendo mudanças oportunas e julgando com firmeza e equidade os casos que acontecem sob os nossos olhos.
8.12j Tal é o caso de Amã, um macedónio, filho de Amadates, na verdade um estrangeiro ao nosso sangue e muito longe da nossa bondade. Amã foi acolhido por nós com hospitalidade,
8.12l usufruiu da amizade que dedicamos a todos os povos e chegou até a ser chamado "nosso pai" e ser reverenciado por todos com a prostração, como aquele que detém o segundo lugar junto ao trono do rei.
8.12m Contudo, incapaz de conter o seu orgulho, Amã tramou privar-nos do poder e da vida.
8.12n Com falsos e sutis artifícios, ele pediu a pena de morte para Mardoqueu, o nosso salvador e benfeitor perpétuo, e também para Ester, nossa irrepreensível companheira no trono, junto com todo o seu povo.
8.12o Desse modo, ele pensava em nos isolar e passar o poder dos persas para os macedónios.
8.12p Nós, porém, achamos que os judeus, condenados ao extermínio por esse criminoso, não são malfeitores. Pelo contrário, eles vivem segundo leis justíssimas,
8.12q são filhos do Deus Altíssimo, excelso e vivo, que, em nosso favor e de nossos antepassados, dirige o reino do modo mais florescente.
8.12r Portanto, vocês farão bem se não obedecerem ao decreto enviado por Amã, filho de Amadates, porque seu autor foi enforcado diante das portas de Susa, com toda a sua família. Deus, Senhor de todos os acontecimentos, fez recair imediatamente sobre ele o castigo que merecia.
8.12s Coloquem cópias desta carta em público, e permitam que os judeus continuem a seguir livremente seus costumes. Além disso, dêem aos judeus apoio para se defenderem de todos aqueles que os atacarem no dia da perseguição, isto é, no dia treze do décimo segundo mês, chamado Adar.
8.12t Porque Deus, Senhor de todas as coisas, transformou esse dia trágico em dia de alegria para o povo escolhido.
8.12u Quanto a vocês, judeus, celebrem com toda a solenidade esse dia memorável, entre as festas de vocês. Assim, hoje e no futuro, seja ele uma lembrança da salvação para nós e para os amigos dos persas, e uma lembrança da destruição para os nossos inimigos.
8.12v Toda cidade e província que não seguir estas disposições, será devastada a ferro e fogo. Nenhum homem viverá nela e até os animais e pássaros a evitarão".

9.19a Para os judeus das grandes cidades, o dia festivo é o dia quinze do mês de Adar, quando mandam presentes para seus vizinhos.

10.3a Mardoqueu comentou: Essas coisas aconteceram por obra de Deus.
10.3b Lembro-me do sonho que tive sobre esses fatos, e nenhum deles foi omitido:
10.3c a pequena fonte que se torna rio, a luz que se levanta, o sol e a água abundante. O rio é Ester, que o rei desposou e constituiu rainha.

10.3d
10.3e As nações, são aquelas que se coligaram para destruir o nome dos judeus.
10.3f Meu povo é Israel, aqueles que invocaram a Deus e foram salvos. Sim, o Senhor salvou o seu povo, o Senhor nos libertou de todos esses males. Deus realizou sinais e prodígios, como nunca houve entre as nações.
10.3g Por isso, ele estabeleceu duas sortes: uma para o povo de Deus, e outra para as nações.
10.3h Essas duas sortes se realizaram na hora, no momento e no dia estabelecido do julgamento diante de Deus, e em todas as nações.
10.3i Deus se lembrou do seu povo e fez justiça para a sua herança.
10.3j Os dias catorze e quinze do mês de Adar serão celebrados com assembleia, alegria e contentamento diante de Deus, em Israel, seu povo por todas as gerações e para sempre".
10.3l No quarto ano de Ptolomeu e de Cleópatra, Dositeu, que se dizia sacerdote e levita, e seu filho Ptolomeu, trouxeram a presente carta sobre os "Purim". Eles a consideraram autêntica e traduzida por Lisímaco, filho de Ptolomeu, que era da comunidade de Jerusalém.

 

 

Daniel em grego

 

3.24 Chadrac, Mechac e Abed-Nego ficaram passeando no meio das labaredas, cantando hinos a Deus e louvando o Senhor.
3.25 Azarias, de pé, soltando a voz no meio do fogo, rezou:
3.26 "Bendito sejas tu, Senhor, Deus de nossos pais, tu és digno de louvor e o teu nome é glorificado para sempre!
3.27 Porque tu és justo em tudo o que nos fizeste, e todas as tuas obras são verdadeiras; os teus caminhos são rectos, e todos os teus julgamentos são justos.
3.28 Foi justa a sentença que decretaste, todo o sofrimento que mandaste para nós e para Jerusalém, a cidade santa dos nossos antepassados. Pois é segundo a verdade e o direito que fizeste acontecer para nós todas essas coisas, por causa de nossos pecados.
3.29 Sim! Pecamos, cometendo um crime ao nos afastarmos de ti; sim, pecamos gravemente em tudo. Não obedecemos aos teus mandamentos,
3.30 nem os observamos, nem agimos conforme nos ordenavas, para que tudo nos corresse bem.
3.31 Por isso, o que nos fizeste acontecer, tudo o que tu mesmo nos fizeste, foi com julgamento justo que o fizeste.
3.32 Tu nos entregaste em mãos de nossos inimigos, a uma gente sem lei, aos piores dos ímpios, a um rei injusto, o mais malvado de toda a terra.
3.33 Nesta hora, não nos deixam nem abrir a boca; a decepção e a vergonha chegaram sobre os teus servos e sobre os que te adoram.
3.34 Não nos entregues para sempre, não rejeites a tua aliança, por causa do teu nome.
3.35 Não retires de nós a tua misericórdia, por amor a Abraão, o teu amigo, por amor a Isaac, o teu servo, e a Israel, o teu santo.
3.36 A eles tu falaste, prometendo que a descendência deles seria tão numerosa como as estrelas do céu e como a areia que existe à beira-mar.
3.37 No entanto, Senhor, nós estamos diminuídos no meio de todas as nações; estamos hoje humilhados na terra inteira, por causa dos nossos pecados.
3.38 Neste nosso tempo, não há chefe, profeta ou dirigente, nem holocausto, sacrifício, oferenda ou incenso; não existe lugar onde te oferecer os primeiros frutos e alcançar misericórdia.
3.39 Mas, com alma despedaçada e espírito humilhado, sejamos aceitos como se viéssemos com holocaustos de carneiros, touros e milhares de gordos carneiros.
3.40 Seja esse o sacrifício que te oferecemos, e, diante de ti, que ele seja completo, pois jamais haverá decepção para os que confiam em ti.
3.41 Mas agora nós vamos seguir-te de todo o coração; nós vamos temer-te e procurar a tua face.
3.42 Ah! Não nos deixes decepcionados, mas age connosco com toda a tua bondade e conforme a abundância de tua misericórdia.
3.43 Liberta-nos, segundo as tuas maravilhas, e glorifica o teu nome, Senhor.
3.44 Fiquem envergonhados aqueles que prejudicam os teus servos; que fiquem cobertos de vergonha, privados de todo o seu poder, e que a força deles seja esmagada.
3.45 Fiquem eles sabendo, Senhor, que tu és o único Deus, glorioso sobre toda a terra".
3.46 Contudo, os funcionários do rei que tinham jogado os três jovens na fornalha não paravam de alimentar o fogo com óleo combustível, piche, estopa e gravetos,
3.47 tanto que as labaredas subiam uns vinte e dois metros acima da fornalha,
3.48 alcançando e queimando os caldeus que estavam por perto.
3.49 O Anjo do Senhor, porém, desceu na fornalha para perto de Azarias e seus companheiros. Tocou para fora da fornalha as labaredas de fogo
3.50 e formou no meio da fornalha um vento húmido refrescante. O fogo nem tocou neles, nem lhes causou sofrimento algum ou incómodo.

3.51 Os três cantavam hinos, glorificavam e louvavam a Deus, a uma só voz, dentro da fornalha:
3.52 "Bendito és tu, Senhor, Deus de nossos pais; a ti, glória e louvor para sempre. Bendito é o teu nome santo e glorioso; a ele, glória e louvor para sempre.
3.53 Bendito és tu em teu Templo santo e glorioso; a ti, glória e louvor para sempre.
3.54 Bendito és tu no trono do teu reino; a ti, glória e louvor para sempre.
3.55 Bendito és tu, que sondas os abismos, sentado sobre os querubins; a ti, glória e louvor para sempre.
3.56 Bendito és tu, no firmamento do céu; a ti, glória e louvor para sempre.
3.57 Bendigam o Senhor, todas as obras do Senhor; exaltem o Senhor com hinos para sempre.
3.58 Anjos do Senhor, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.59 Céus, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.60 Águas todas acima do céu, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.61 Todas as potências, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.62 Sol e lua, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.63 Estrelas do céu, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.64 Chuva e orvalho, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.65 Ventos todos, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.66 Fogo e calor, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.67 Frio e ardor, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.68 Orvalhos e aguaceiros, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.69 Gelo e frio, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.70 Geada e neve, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.71 Noites e dias, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.72 Luz e trevas, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.73 Relâmpagos e nuvens, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.74 Terra, bendiga o Senhor; louve e exalte o Senhor para sempre.
3.75 Montanhas e colinas, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.76 Tudo o que brota do chão, bendiga o Senhor; louve e exalte o Senhor para sempre.
3.77 Fontes, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.78 Mares e rios, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.79 Baleias e peixes, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.80 Aves do céu, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.81 Animais selvagens e domésticos, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.82 Criaturas humanas, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.83 Israelitas, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.84 Sacerdotes do Senhor, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.85 Servos do Senhor, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.86 Espíritos e almas dos justos, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.87 Santos e humildes de coração, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre.
3.88 Ananias, Azarias e Michael, bendigam o Senhor; louvem e exaltem o Senhor para sempre. Porque ele nos tirou da mansão dos mortos e nos salvou do poder da morte; livrou-nos da chama da fornalha ardente e retirou-nos do meio do fogo.
3.89 Dêem graças ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua misericórdia é para sempre.
3.90 Todos os que adoram o Senhor, Deus dos deuses, bendigam o Senhor: louvem e dêem graças ao Senhor, porque a sua misericórdia é para sempre.

 

13.1. Havia um morador de Babilónia chamado Joaquim.
13.2 Ele tinha casado com uma mulher de nome Susana, filha de Helcias, e que era muito bonita e muito religiosa.
13.3 Os pais dela eram gente correcta e tinham instruído a filha na lei de Moisés.
13.4 Joaquim era muito rico e tinha um grande jardim ao lado de sua casa. Os judeus costumavam se reunir aí, porque Joaquim era o mais respeitado de todos eles.
13.5 Nesse ano, tinham sido nomeados dois juízes, chefes de família conselheiros do povo, aqueles de quem falou o Senhor: "A injustiça brotou na Babilónia, vinda dos velhos juízes que passam por guias do povo".
13.6 Eles frequentavam a casa de Joaquim e era aí que as pessoas iam procurá-los quando tinham alguma coisa para resolver.
13.7 Sempre que o povo ia-se embora, por volta do meio-dia, acontecia que Susana saía para dar umas voltas no jardim do seu marido.
13.8 Todos os dias, os dois senhores viam Susana sair e dar as suas voltas. Foi assim que começaram a cobiçá-la.
13.9 Eles procuraram desviar o próprio pensamento para não olhar o céu nem se lembrarem de seus justos julgamentos.
13.10 Os dois estavam totalmente apaixonados por ela, mas um não contava para o outro a sua paixão,
13.11 pois tinham vergonha de falar de seus próprios desejos, e o que eles queriam era manter relação sexual com ela.
13.12 Todos os dias ficavam esperando ansiosamente a hora em que ela passeava.
13.13 Um dia disseram um para o outro: "Vamos para casa, que já é hora do almoço". Saíram e cada um foi para um lado.
13.14 Mas, logo em seguida, deram meia-volta e chegaram de novo ao mesmo lugar. Então foram obrigados a falar um ao outro o motivo por que tinham voltado, e acabaram confessando a sua paixão. A partir daí, combinaram procurar juntos uma boa oportunidade para pegá-la sozinha.
13.15 Os dois estavam esperando ocasião oportuna, quando um dia ela saiu só com duas empregadas, como nos outros dias, e teve vontade de tomar banho no jardim, porque estava fazendo calor.
13.16 Não havia mais ninguém, a não ser os dois senhores que estavam escondidos, observando Susana.
13.17 Ela disse às empregadas: "Tragam óleo e perfume e fechem as portas do jardim, que eu vou tomar banho".
13.18 Fazendo o que a patroa tinha dito, as empregadas fecharam os portões do jardim e saíram por uma porta lateral, a fim de irem buscar o que lhes tinha sido mandado, sem verem os dois senhores que estavam bem escondidos.
13.19 Foi só as empregadas saírem, e os dois senhores deixaram o esconderijo e foram ao encontro de Susana.
13.20 E lhe disseram: "Olhe! Os portões do jardim estão fechados e ninguém está vendo a gente. Nós estamos desejando você. Concorde connosco, vamos manter relações.
13.21 Se não concordar, nós acusamos você, dizendo que um rapaz estava aqui com você e que por isso você mandou as empregadas saírem".
13.22 Susana deu um suspiro e disse: "A coisa está complicada para mim de todos os lados: se eu fizer isso, estou condenada à morte; se não fizer, sei que não conseguirei escapar das mãos de vocês.
13.23 Mas eu prefiro dizer 'Não!' e cair nas mãos de vocês; é melhor do que cometer um pecado contra Deus".
13.24 Em seguida, ela gritou bem forte, mas os dois senhores também gritaram, falando contra ela.
13.25 Um dos dois correu e abriu os portões do jardim.
13.26 O pessoal que estava dentro de casa, ao ouvir os gritos no jardim, entrou correndo pela porta lateral, para ver o que tinha acontecido com Susana.
13.27 Então os dois senhores contaram a sua história. Os empregados ficaram envergonhados, porque nunca se tinha ouvido falar uma coisa dessas contra Susana.
13.28 No outro dia, quando o povo se reuniu na casa de Joaquim, marido dela, os dois senhores chegaram com a cabeça cheia de planos malvados contra Susana, a fim de condená-la à morte.
13.29 Na presença do povo, disseram: "Chamem Susana, a filha de Helcias, mulher de Joaquim". Foram buscá-la.
13.30 Ela chegou, e com ela chegaram também seus pais, seus filhos e todos os seus parentes.
13.31 Ela era mulher muito delicada e bonita.
13.32 Aqueles canalhas mandaram tirar-lhe o véu, pois Susana estava com o rosto coberto, só para poderem se inebriar com a beleza dela.
13.33 Toda a sua família e todos os que a estavam vendo começaram a chorar.
13.34 Os dois senhores se levantaram no meio do povo e puseram as mãos sobre a cabeça de Susana.
13.35 Chorando, ela olhava para o céu, pois seu coração confiava no Senhor.
13.36 Os dois senhores disseram: "Nós dois estávamos passeando a sós pelo jardim, quando chegou Susana acompanhada das duas empregadas. Logo depois, ela fechou os portões do jardim e mandou as empregadas embora.
13.37 Então um rapaz foi ao seu encontro e se deitou com ela.
13.38 Estávamos em outro canto do jardim e, ao ver essa imoralidade, corremos para o lado deles.
13.39 Vimos os dois agarrados um ao outro, mas não pudemos segurar o rapaz, que era mais forte do que nós. Ele conseguiu abrir o portão e fugir.
13.40 Seguramos Susana e lhe perguntamos quem era o rapaz,
13.41 mas ela não quis contar. É esse o nosso depoimento". A assembleia acreditou neles, porque eram anciãos e juízes do povo, e condenou Susana à morte.
13.42 Então Susana disse em alta voz: "Deus eterno, que conheces o que está escondido e tudo vês antes que aconteça,
13.43 tu sabes muito bem que eles deram falso testemunho contra mim. Vou morrer, mas sem ter feito nada disso de que me acusam".
13.44 O Senhor atendeu o clamor dela:
13.45 ao ser conduzida para a morte, o Senhor despertou o santo espírito de um jovem de nome Daniel.
13.46 Ele gritou forte: "Eu não tenho nada a ver com a morte dessa mulher. Estou inocente".
13.47 Todo o povo se virou para ele. E lhe perguntaram: "O que é que você está dizendo?"
13.48 De pé, no meio deles, Daniel disse: "Como vocês são idiotas, israelitas! Sem julgamento e sem uma ideia clara, vocês acabaram de condenar à morte uma israelita!
13.49 Voltem para o tribunal, porque foi falso o testemunho desses homens contra ela".
13.50 Todo o povo voltou correndo. Os senhores do Conselho, chefes de família, disseram a Daniel: "Por favor! Sente-se aqui connosco para nos explicar melhor tudo isso, pois Deus já lhe deu maturidade".
13.51 Daniel disse: "Afastem longe um do outro, que eu vou interrogá-los".
13.52 Depois de terem separado um do outro, Daniel disse a um deles: "Homem envelhecido em anos e crimes, agora seus pecados vão aparecer, tudo o que você já praticava,
13.53 quando dava sentenças injustas, condenando o inocente e deixando livre o culpado. O Senhor diz: 'Cuidado para não condenar à morte o inocente e o justo'.
13.54 Se você viu mesmo, diga-me: debaixo de que árvore viu os dois abraçados?" Ele respondeu: "Debaixo de um lentisco".
13.55 Daniel disse: "Muito bem! Você já mentiu directo contra a sua própria cabeça. O anjo de Deus já recebeu ordem de arrebentá-lo ao meio".
13.56 Depois de mandá-lo embora, Daniel pediu para trazer o outro. E lhe disse: "Raça de Canaã, e não de Judá. A beleza da mulher fez você perder o rumo, a paixão embaralhou seu coração.
13.57 Isso vocês faziam com as mulheres de Israel, e elas, com medo, se entregavam a vocês; mas esta filha de Judá resistiu à imoralidade de vocês.
13.58 Diga-me: debaixo de que árvore viu os dois abraçados?" Ele respondeu: "Debaixo de um carvalho".
13.59 Daniel disse: "Você acaba de mentir directo contra a sua própria cabeça. Com a espada na mão, o anjo de Deus está esperando para cortá-lo ao meio e acabar com os dois".
13.60 Toda a assembleia começou a aclamar, dando louvores a Deus que salva os que nele confiam.
13.61 Depois, todos se ergueram contra os dois velhos, pois de suas próprias bocas Daniel tinha provado que eles estavam mentindo. Fizeram com eles o que queriam fazer com Susana,
13.62 de acordo com a lei de Moisés. E foi assim que, nesse dia, eles condenaram os dois à morte e salvaram uma pessoa inocente.
13.63 Por causa de sua filha Susana, Helcias e sua mulher, juntamente com Joaquim, marido dela, e todos os parentes, puseram-se a louvar a Deus, pois nada de indecente encontraram nela.
13.64 E, desde esse dia, Daniel teve grande prestígio entre o povo.


14.1 Quando o rei Astíages foi colocado no sepulcro da família, Ciro, o persa, lhe sucedeu no trono.
14.2 Daniel era companheiro do rei e o mais íntimo de seus amigos.
14.3 Os babilónios tinham um ídolo chamado Bel. Com ele, gastavam todos os dias doze sacas da melhor farinha de trigo, quarenta ovelhas e seis barricas de vinho.
14.4 O rei adorava esse ídolo e todos os dias lhe prestava culto. Daniel, ao contrário, só adorava o seu próprio Deus.
14.5 Um dia o rei lhe perguntou: "Por que você não presta culto a Bel?" Daniel respondeu: "Porque eu não adoro imagens fabricadas pelo homem, mas só ao Deus vivo que criou o céu e a terra e é Senhor de todo ser vivo".
14.6 O rei disse: "E você acha que Bel não é um deus vivo? Não vê quanta coisa ele come e bebe todos os dias?"
14.7 Daniel sorriu e disse: "Não se deixe enganar, Majestade! Por dentro Bel é de barro e por fora é de bronze; ele jamais comeu ou bebeu coisa alguma".
14.8 Furioso, o rei mandou chamar os sacerdotes de Bel e lhes disse: "Se vocês não me disserem quem come toda essa comida, eu mato vocês. Se me provarem que é Bel quem come tudo isso, então Daniel morrerá, por ter dito uma blasfémia contra o deus Bel".
14.9 Daniel disse ao rei: "Faremos o que Vossa Majestade diz" Eram setenta os sacerdotes de Bel, sem contar as mulheres e crianças.
14.10 O rei foi com Daniel ao templo de Bel.
14.11 Os sacerdotes de Bel disseram ao rei: "Nós nos retiramos para fora do templo e Vossa Majestade deposita aí a comida e o vinho, e depois fecha a porta do templo, lacrando-a com o carimbo do seu anel. No dia seguinte, se ao voltar ao templo Vossa Majestade não encontrar tudo devorado por Bel, estaremos prontos para morrer. Do contrário, Daniel é quem morrerá, por nos ter caluniado".
14.12 Eles estavam muito seguros, porque tinham feito uma entrada secreta por baixo da mesa, por onde eles entravam para comer os alimentos.
14.13 Depois que eles saíram, o rei colocou os alimentos para o deus Bel.
14.14 Daniel mandou seus empregados trazerem cinza e esparramá-la por todo o templo, à vista apenas do rei. Saíram, fecharam a porta, puseram o lacre com o carimbo do anel do rei e foram embora.
14.15 À noite, como de costume, foram os sacerdotes com suas mulheres e crianças para comer e beber tudo.
14.16 No outro dia, o rei e Daniel madrugaram à porta do templo.
14.17 O rei perguntou a Daniel: "O lacre está intacto?" Daniel respondeu: "Está perfeito, Majestade".
14.18 Logo que abriram as portas, o rei olhou para a mesa e exclamou: "Tu és grande, Bel! Não nos enganaste".
14.19 Daniel apenas sorriu e gritou para que o rei não entrasse. Disse-lhe: "Olhe para o chão e procure descobrir de quem são essas pegadas".
14.20 O rei disse: "Estou vendo pegadas de homens, mulheres e crianças!"
14.21 Irado, o rei mandou trazer presos os sacerdotes com as mulheres e crianças, e eles tiveram que mostrar-lhe a passagem secreta por onde entravam para comer o que estava à mesa.
14.22 Depois o rei mandou matá-los e entregou o ídolo a Daniel, que o destruiu junto com o seu templo.
14.23 Havia um dragão enorme adorado pelos babilónios.
14.24 O rei disse a Daniel: "Você não vai me dizer que ele é de bronze; está vivo, come e bebe. Você não pode negar que é um deus vivo. Então, adore-o também".
14.25 Daniel respondeu: "Só adoro ao Senhor meu Deus, porque ele é o Deus vivo. Se Vossa Majestade permitir, eu mato este dragão sem espada e sem porrete".
14.26 O rei disse: "A licença está concedida".
14.27 Daniel pegou piche, sebo e crinas, cozinhou tudo junto, fez com aquilo uns bolos e jogou na boca do dragão. Ele engoliu aquilo e se arrebentou. Então Daniel disse: "Vejam o que vocês adoravam!"
14.28 Quando os babilónios ouviram falar disso, ficaram muito indignados e revoltados contra o rei, e diziam: "O rei virou judeu! Quebrou Bel, matou o dragão e assassinou os sacerdotes".
14.29 E foram dizer ao rei: "Entregue-nos Daniel, senão nós matamos Vossa Majestade com toda a sua família".
14.30 O rei sentiu que a pressão era muita e, forçado, entregou-lhes Daniel.
14.31 Eles jogaram Daniel na cova dos leões, onde ficou seis dias.
14.32 Nessa cova havia sete leões e, todos os dias, jogavam para eles dois condenados e duas ovelhas. Nessa ocasião, não lhes deram nada, para que devorassem Daniel.
14.33 Na Judeia vivia o profeta Habacuc. Ele fez um cozido, partiu uns pães numa gamela e ia saindo para a roça, a fim de levar essa comida para os trabalhadores.
14.34 O anjo do Senhor disse a Habacuc: "Esse almoço que você tem aí leve para Daniel, lá na Babilónia, na cova dos leões".
14.35 Habacuc disse: "Meu senhor, eu nunca vi a Babilónia, nem conheço essa cova!"
14.36 O anjo do Senhor pegou-o pelo alto da cabeça, carregou-o pelos cabelos e, com a rapidez do vento, colocou-o à beira da cova.
14.37 Habacuc gritou: "Daniel, Daniel! Pegue o almoço que Deus lhe mandou".
14.38 Daniel disse: "Tu te lembraste de mim, ó Deus, e nunca abandonas aqueles que te amam".
14.39 Então Daniel pegou o almoço e comeu. Imediatamente o anjo do Senhor colocou Habacuc de novo no mesmo lugar onde estava antes.
14.40 No sétimo dia, o rei foi chorar a morte de Daniel. Chegou à beira da cova e lá estava Daniel sentado tranquilamente.
14.41 Então o rei exclamou em alta voz: "Tu és grande, ó Senhor, Deus de Daniel! Além de ti não existe outro Deus"

 

 

 

 

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas