Bhagavad Guitá - Bag
Campo sagrado de Curu e angústias de Arjuna
Bag.1.1 - DHRATARASTRA: — Que sabes dos
meus filhos e dos de Pandu, que concentraram as suas
tropas, para a batalha, no campo sagrado de Curu? Diz-me todo o sucedido, ó Sanjaia.
Bag.1.2 - SANJAIA: — O príncipe Duriodhana, depois de espreitar o exército escalonado dos Pandavas, aproxima-se do mestre Dronacharia
e lhe fala:
Bag.1.3 - «Contemplai, ó mestre, aquele
poderoso exército dos Pandavas estrategiado
pelo filho de Drupada, vosso inteligente discípulo.
Bag.1.4 - Figuram nele, além de outros
varões e arcipotentes, Iudhana, Viratha
e o marechal Drupada, igualáveis a Bhima e Arjuna na peleja,
Bag.1.5 - Dhrestaquetu,
Chequitana, o valente Caxiraja,
e bem assim, Purujita, Cuntibhoja
e o insigne Xeibia,
Bag.1.6 - O intrépido ludhamaniú, Utamojá valente, e o
filho de Subhadrá e os de Droupadi,
todos marechais insignes.
Bag.1.7 - Agora, ó mestre, vou nomear somente os que constituem o nosso estado-maior,
que é do vosso conhecimento:
Bag.1.8 - Vós, Bhisma,
Carna, o vitorioso Gripa, Asvathamá, Vicarna e Somadati.
Bag.1.9 - E o exército é constituído de
varões assinalados, adestrados, completamente equipados, todos decididos a
sacrificar as suas vidas em prol da minha causa.
Bag.1.10 - Quão colossal é o nosso
exército sob o supremo comando de Bhisma! Vede o do
adversário, que é mensurável e chefiado por Bhima!
Bag.1.11 - Mantende, portanto, as
posições tomadas na dianteira, tornando invulneráveis os flancos de Bhisma.
Bag.1.12 - A estas palavras, o glorioso
ancião Bhisma, para reforçar o entusiasmo de Duriodhana, estoura a sua voz tonitruante e assopra a sua
concha.
Bag.1.13 - Num instante, inúmeras
conchas, tambores, tímbales, trombetas e cornetas
explodem os seus sons num rumor retumbante.
Bag.1.14 - Entrementes, do lado do
adversário, Shri Crisna e Arjuna, de pé no carro
atrelado de cavalos brancos, correspondem com o som das suas conchas.
Bag.1.15 - Shri Crisna sopra a sua «Panchajánia», Arjuna a «Devadata» e o terrível Bhima
apavora todos com a sua estrondosa «Poundra»,
Bag.1.16 - O rei ludhistir
assopra a sua «Anantavijaia» e os irmãos Nacula e Sahadeva, «Sughoxa» e «Manipuspaca»,
respectivamente,
Bag.1.17 - O arcipotente Caxia, o marechal Xicandi, Dhrestadhiuma, Virata e o
invencível Satiaqui as suas,
Bag.1.18 - O príncipe Drupada e os filhos de Droupadi,
ó Majestade, e o longímano Abhimaniú assopram as
suas.
Bag.1.19 - O estrondo terrível desses
sons, retumbando pela terra e céu, dilacera o ânimo das Couravas.
Bag.1.20 - Então, Arjuna,
que se distinguia pelo emblema do macaco Maruti no estandarte do seu carro,
vendo o exército dos Couravas em ordem de batalha,
retesa o seu arco,
Bag.1.21 - E diz a Shri Crisna: «Senhor
da terra! conduzi o carro no meio dos dois exércitos
em fileiras.
Bag.1.22 - «Verei os arrojados que
desejam combater na batalha e visarei também aqueles com quem terei de pelejar.
Bag.1.23 - «Volverei, também, os olhos
àqueles que se arrojaram ante a morte nesta batalha decisiva, com o único fim
de satisfazer a vontade do facínora Duriodhana».
Bag.1.24 - SANJAIA:
— Mal Shri Crisna ouviu estas palavras, dirigiu o sumptuoso carro para o meio
dos dois exércitos alinhados;
Bag.1.25 - E, fitando Bhisma, Dronacharia e outros
príncipes, disse a Arjuna: «Eis, acolá, todos os Couravas».
Bag.1.26 - Arjuna
contempla os dois exércitos e descobre logo que são seus tios paternos, avós,
mestres, tios maternos, irmãos, filhos, amigos e sogros que os constituem.
Bag.1.27 - E notando que todos eles são seus
parentes consanguíneos, invade-o a piedade, e, na consternação, diz:
Bag.1.28 - «Todos estes guerreiros que
estão prestes a combater são parentes consanguíneos meus!
Bag.1.29 - «Ai! os meus membros tremem,
seca a boca! Tenho arrepios, eriça-se-me o pêlo!
Bag.1.30 - O arco Gandiva
parece descair-me das mãos; arde-me a pele toda! Não posso suster-me, sinto
desvairar-me!
Bag.1.31 - «Nada de bom pressageio nesta guerra; nenhuma felicidade com a morte dos
meus parentes na batalha!
Bag.1.32 - «Não ambiciono
nada; nem a vitória, nem o governo, nem os prazeres. Diz-me, ó Crisna, que vale
o governo, que valor têm os prazeres ou a própria
vida?
Bag.1.33 - «Se aqueles para quem
almejamos o governo e os prazeres estão cá no campo de batalha, renunciando às
suas riquezas e até à vida!
Bag.1.34 - «São mestres, tios paternos,
filhos, avós, tios maternos, sogros, netos, cunhados, todos parentes
consanguíneos e espirituais!
Bag.1.35 - «Ó Crisna, nunca levantarei
as minhas armas contra eles, mesmo que se me ofereça o império do universo
inteiro, quanto mais o governo desta terra; que eles me tirem a vida, não me
importa.
Bag.1.36 - «Que prazeres poderemos
desfrutar, ó Crisna, com a morte dos Couravas, embora
eles a mereçam por serem agressores? Nenhum; só perpetraremos um crime
inexpiável.
Bag.1.37 - «Iníquo será, por nossa
parte, exterminar os Couravas, uma vez que
reconhecemos neles os nossos irmãos; e, ó Crisna, como nós poderemos ser
felizes aniquilando os nossos próprios parentes?
Bag.1.38 - «Eles, desvairados, não compreendem
as consequências do crime de traição dos amigos e o de destruição das famílias.
Bag.1.39 - «E nós, que sabemos que o
arruinar das famílias é crime sacrílego, porque o não evitaremos, sendo
possível?
Bag.1.40 - «Com a destruição das
famílias, as suas vetustas tradições são aniquiladas e este aniquilamento
concorre para as tornar descomedidas.
Bag.1.41 - «E, ó Crisna, o desregramento
na família é a causa da corrupção das mulheres, e esta prevaricação impele-as à
mistura do sangue.
Bag.1.42 - «E esta mescla conduz para o
Inferno tanto os autores da destruição das famílias como também toda a
descendência destas, porque os antepassados, privados de libações e oferendas,
se apartam delas.
Bag.1.43 - «E o pior é que esses
aniquiladores, sujeitando-as à mescla, destroem, para sempre, as leis morais da
instituição da família e das raças.
Bag.1.44 - «E as pessoas cujos costumes
familiares são devassados, vivem no Inferno, não o ouvimos, ó Crisna?
Bag.1.45 - «Que horrendo crime que nós
perpetraríamos com a exterminação dos nossos irmãos, com a mira do governo e
avidez de prazeres!
Bag.1.46 - «Acho conveniente, por isso,
depor as armas e manter-me indefeso, para os Couravas
me aniquilarem, na batalha; é a única solução para mim».
Bag.1.47 - SANJAIA: — Desabafando desse
modo, no campo de batalha, Arjuna, comovido, lançou
abaixo o seu arco e setas e repousou no assento traseiro do seu carro.
Ética indiana e concepção idealista do
homem
Bag.2.1 - SANJAIA:
— Shri Crisna, vendo Arjuna assim consternado, com o
olhar angustiado, cheio de lágrimas, dirige-lhe as seguintes palavras:
Bag.2.2 - SHRICRISNA: — Que frenesi é
este que se apoderou de ti, nesta conjuntura tão séria e que não tem guarida nos árias! Não te gloriará esta tua atitude; pelo contrário,
denegrirá o teu renome.
Bag.2.3 - Não te deixes
arrastar por essa cobardia desairosa para ti; sacode essa fraqueza ignóbil e
levanta-te, ó terror dos inimigos!
Bag.2.4 - ARJUNA:
— Ó Crisna, com que coragem devo eu lançar o ataque, nesta batalha, contra Bhisma e Drona, veteranos que nos
inspiram sempre veneração e respeito?
Bag.2.5 - Preferirei viver na
mendicidade a ser a causa da morte destes veteranos, benevolentes e sempre
respeitáveis, pois a morte deles nos dará só gozos pungentes.
Bag.2.6 - Não sei
o que devo antepor para a nossa felicidade: vitória dos Couravas
ou a nossa. Certo é, porém, que eu não sobreviverei à derrota daqueles que nos
defrontam.
Bag.2.7 - Desmoronado está o meu
coração, mudado todo o meu
ser; um turbilhão de ideias fervilha no meu cérebro, não podendo destrinçar os
meus deveres. Diz-me, claramente, ó Crisna, o que é preferível — eu refugio-me
em ti, como teu discípulo.
Bag.2.8 - Não vejo
remédio algum para este meu estado de tormentos que me desalenta; nem a
hegemonia do país rico e irrivalizável, nem a soberania sobre os deuses curará
este meu mal.
Bag.2.9 - SANJAIA: — Manifestando-se
dessa forma a Shri Crisna, terminou Arjuna por dizer:
«Depus já as armas; não quero combater». E guardou silêncio.
Bag.2.10 - Shri Crisna, vendo-o assim no
estado de desalento, no pleno campo da batalha, com o sorriso nos lábios,
começou por dizer:
Bag.2.11 - SHRI CRISNA: — Tu deploras
aqueles que não deves deplorar e discorres como um sábio. Certamente, o sábio é
indiferente perante a vida e a morte.
Bag.2.12 - Não é verdade que eu, tu e
estes príncipes, em tempos remotos não existíamos, e nem é menos verdade também
que, no futuro longínquo, não havemos de existir.
Bag.2.13 - Assim como o ser humano passa
pelos estádios de infância, adolescência e velhice, assim também passa ele
através de mudanças dos corpos; e este fenómeno não deixa perturbado o homem
forte.
Bag.2.14 - As sensações de calor e frio
e as impressões de prazer e dor provêm das relações dos nossos órgãos dos
sentidos com objectos exteriores; são fenómenos efémeros, transitórios;
compenetra-te disso, ó Arjuna!
Bag.2.15 - E o homem que não se
impressiona por esses fenómenos e é equânime diante do prazer e da dor torna-se
digno da imortalidade.
Bag.2.16 - Tudo o que não permanece é
irreal. Somente o real tem existência. É a conclusão dos sábios depois de
longas experiências.
Bag.2.17 - O substrato de que emana todo
este universo é imperecível, ninguém o pode exterminar.
Bag.2.18 - Ele é eterno, imortal e
infinito. Somente os corpos em que ele se acha inserido são finitos, temporais;
pois, prepara-te para a batalha.
Bag.2.19 - Aqueles que o consideram como
mortífero ou mortal ignoram a verdade; ele não leva à morte
ninguém nem se extingue.
Bag.2.20 - Ele não nasce nem morre, não
é uma coisa que um dia teve existência e que, extinguindo-se, nunca voltará a
tê-la. É inascível, eterno, imortal e vetusto, não obstante a desagregação do
corpo.
Bag.2.21 - Aquele que o concebe como a
realidade espiritual, eterna, imortal, inascível, imutável, como poderá admitir
que ele cause ou leve à morte alguém,
ó Arjuna?
Bag.2.22 - Assim como o homem muda o seu
traje estragado, retomando o outro novo, assim também o espírito incarnado (Atman) rejeita o corpo já velho e se reveste do outro novo.
Bag.2.23 - As armas não o ferem, nem o
fogo o consome; as águas não o molham, nem o vento o desseca.
Bag.2.24 - É invulnerável,
incombustível, humedífugo e insecável. É eterno,
omnipresente, estável, imutável e primordial.
Bag.2.25 - É indeterminável,
inconcebível e imutável. Dão-se-lhe estes atributos. Concebendo-o como tal, não
te deves afligir.
Bag.2.26 - E se pensas que ele está,
constantemente, sujeito a nascimento e à morte, mesmo assim, não há razão para
as tuas angústias.
Bag.2.27 - Porque a morte é inexorável
para quem nasce e é irrevogável o nascimento para quem morre, e este inevitável
facto não te deve atormentar.
Bag.2.28 - Ó Arjuna,
é indeterminado o princípio e o fim de todo o ser, que só se patenteia no meio,
na sua existência actual. Que há nisso para tanta aflição?
Bag.2.29 - Um certo vê Atman como uma maravilha, outro retrata-o como uma
maravilha, um terceiro ouve cantá-lo como uma maravilha, e, no final das
contas, ele é ininteligível.
Bag.2.30 - Este Atman,
ó Arjuna, inserto no corpo de cada um, é eterno e indestrutível.
É por esta razão que tu não deves lamentar nenhuma criatura.
Bag.2.31 - Ainda considerado pelo lado
do teu natural, não há motivos para a tua agitação; pois, para o xátria não há
melhores bens que uma justa batalha.
Bag.2.32 - E estes bens, quando te são
oferecidos pelo acaso, são como o abrir das portas para o céu; pois, só o feliz
xátria encontra semelhante oportunidade.
Bag.2.33 - Se tu
te absténs desta batalha justa, trais o teu natural e a glória toda e te
arrastas ao pecado.
Bag.2.34 - E, desta forma, serás o
escárnio de todo o povo, que te menosprezará, o que, para quem é nobre, será
mais doloroso que a morte.
Bag.2.35 - Os marechais do exército
pensarão que tu desertaste por medo, e tu, que eras altamente considerado por
eles, serás desconsiderado.
Bag.2.36 - Os teus adversários farão
pouco da tua coragem com a crítica mordaz; que haverá mais deplorável que isso?
Bag.2.37 - Morto, ganharás
tu o céu, vitorioso desfrutarás a terra; pois, levanta-te, ó Arjuna, resoluto para a batalha!
Bag.2.38 - Equipara o prazer e a dor, o
ganho e a perda, a vitória e a derrota e arremessa-te à batalha, e desta forma
não incorrerás no pecado.
Bag.2.39 - Tudo o que acabei de dizer é
o tema fundamental do conhecimento, segundo Sânquia;
vou agora explaná-lo segundo o Yoga; compreende-o, ó Arjuna,
porque ficarás livre de todos os vínculos de acção, neste mundo.
Bag.2.40 - Uma vez encaminhado nesta
via, verás que nada é em vão e não haverá obstáculo algum para o avanço na
direcção; um pequeno esforço nesta via livrar-te-á de muitas faltas.
Bag.2.41 - Nesta via, a inteligência
polarizada concentra-se no seu objectivo, não havendo a sua dispersão em
imaginações vãs.
Bag.2.42 - Mas, ó Arjuna,
aqueles que ignoram este conhecimento e cujo saber só se limita à interpretação
dos textos dos Vedas, sustentam, em palavreado, que só os Vedas são tudo.
Bag.2.43 - E estes, cuja aspiração suma
é o paraíso, impregnam o homem com o ritual das cerimónias variadas como o
único suficiente para ganhar riquezas e prazeres e alcançar o Paraíso.
Bag.2.44 - E o homem, em geral, sempre
ávido de riquezas, que, segundo ele, condicionam a felicidade, imbuído deste
princípio, torna incapaz da concentração do seu espírito.
Bag.2.45 - Os Vedas têm por assunto a
hierarquia das qualidades (Satva, Raja e Tama). Tu; tens de ultrapassá-las, destruindo a dualidade
de atracção e repulsão, e firmar-te no Eu desatendendo à vida orgânica.
Bag.2.46 - Para quem conhece Brahman a utilidade dos Vedas é tal qual a da água do poço
situado no terreno todo
alagado.
Bag.2.47 - Tu tens
direito à acção, somente à acção, e não aos seus frutos; e estes nunca sejam o
móbil do teu agir, nem te inclines para a inacção.
Bag.2.48 - Ó Arjuna,
age de maneira tal que, sem preferências, mantenhas o espírito firme na direcção
dada, sendo equânime perante o sucesso e o insucesso, o que, em suma, é Yoga.
Bag.2.49 - Mas, ó Arjuna,
a acção, só, é muito inferior ao Yoga da inteligência; procura, por isso, o
refúgio na tua inteligência, pois infundem piedade, aqueles que praticam acções
inspiradas pelo interesse.
Bag.2.50 - O intelectual consumado é,
neste mundo, desprendido de frutos bons ou maus de acção; por isso, prepara-te
para o Yoga, porque o Yoga torna proficiente o homem nas obras.
Bag.2.51 - E este sábio, renunciando aos
frutos da acção, livra-se do ciclo do nascimento e morte e chega ao estado de
perfeição, condição suprema.
Bag.2.52 - Quando fores iluminado,
depois de expurgar todas as ideias quiméricas, reconhecerás, então, a
insignificância de tudo o que ouviste e te resta ouvir.
Bag.2.53 - E alcançarás
o Yoga, quando a tua inteligência, desanuviada dos preconceitos criados pelos
textos dos Vedas, tiver estabilidade no êxtase.
Bag.2.54 - ARJUNA: — Diz-me, ó Crisna,
quais são os traços predominantes do homem metabrâmico
(homem identificado com a realidade por êxtases). Como se porta ele?
Bag.2.55 - SHRI CRISNA: — Quando o homem
suprime todos os seus desejos e está satisfeito com o seu eu, no Eu, este,
super-homem, se chama metabrâmico.
Bag.2.56 - Aquele que se não inquieta no
infortúnio e não é atreito aos prazeres, sem apetites nem desejos, arredado do
medo e da cólera, é metabrâmico.
Bag.2.57 - Aquele que se não afeiçoa a
coisa alguma, não se rejubila com a ventura, nem detesta o infortúnio, é metabrâmico.
Bag.2.58 - O metabrâmico
tem o poder de retrair os seus órgãos dos sentidos das suas funções
específicas, tal como a tartaruga encolhe os seus órgãos na sua casca.
Bag.2.59 - A abstenção da alimentação
faz afrouxar os órgãos dos sentidos, mas os desejos se mantêm; estes se
suprimem com a participação no Ser Supremo.
Bag.2.60 - Ó Arjuna,
o sábio privilegiado que se esforça para a perfeição é, muitas vezes, arrastado
a se desviar do seu objectivo pela insistência veemente dos seus sentidos.
Bag.2.61 - Por isso, é preciso,
metodicamente, disciplinar os sentidos para depois fixar em Mim toda a atenção,
e, desta forma, sendo senhor dos seus sentidos, tornar-se metabrâmico.
Bag.2.62 – O pensamento dum objecto qualquer
cria no homem a afeição por este objecto, e esta afeição gera o desejo que, não
sendo satisfeito, provoca a cólera.
Bag.2.63 - A cólera prolongada conduz à
ataxia mental; da ataxia mental resulta a amnésia, e esta leva,
consequentemente, à despersonalização, degenerando o homem em um autómato.
Bag.2.64 - Por isso, restringidos os
sentidos de atracção e repulsão, ganha-se o domínio sobre eles e, sendo senhor
dos sentidos, consegue-se a serenidade do espírito.
Bag.2.65 - Perante a serenidade do espírito
não prevalece nenhum sofrimento e se consegue, rapidamente, a sua concentração.
Bag.2.66 - O homem inculto não é atraído
pela concentração do espírito, que dá em resultado a paz. E quem não tem a paz
do espírito não alcança a felicidade suprema.
Bag.2.67 - Quando os sentidos não são
refreados, arrastam o espírito, tal qual o navio no oceano, à mercê do vento.
Bag.2.68 - Por isso, ó Arjuna, quem refreia, inteiramente, os sentidos,
desviando-os dos seus objectos específicos, é metabrâmico.
Bag.2.69 - E, na sociedade dos homens em
que para todos os restantes é noite (ignorância do estado da identificação com
a realidade), é dia para o metabrâmico (viver em
unidade com a realidade); e o dia daqueles (preocupar-se com os afazeres
mundanos) é a noite para este (desatenção à vida mundana).
Bag.2.70 - Assim como o oceano absorve,
imutável, inúmeras torrentes que lhe afluem dos rios, assim o metabrâmico dilui todos os seus desejos na sua paz, o que é
impossível aos mundanos.
Bag.2.71 E finalmente, o metabrâmico vive e age livremente, isento de todos os
desejos, sem egoísmo, nem possessivos, na sua paz suprema com que se
identifica.
Bag.2.72 - Tal é o estado brâmico, ó Arjuna, que, uma vez
atingido, o homem não se extravia. Firme neste estado, até o seu término, extingue-se
no Brahman.
A acção e o seu determinismo
Bag.3.1 - ARJUNA: — Se tu sustentas que
a inteligência é superior à acção, porque me incitas à acção terrível, ó
Crisna?
Bag.3.2 - Tu deixas-me
perplexo pela ambiguidade do sentido das tuas palavras. Diz-me,
categoricamente, sem circunlóquios, uma única coisa pela qual eu possa
assegurar a felicidade suprema.
Bag.3.3 - SHRI CRISNA: — Ó Arjuna, como te acabei de dizer, há, neste mundo, duas vias
de conhecimento: uma de Sânquia, pelo Yoga da
inteligência, e a outra de Yoguis, pelo Yoga da
acção.
Bag.3.4 - Abstendo-se da iniciativa da
acção, é inalcançável a quietude, e, renunciando à prática de acção, é
impossível a perfeição.
Bag.3.5 - Ninguém pode eximir-se, um
instante sequer, da acção, pois todo o ser é impelido, forçosamente, à acção
pela própria natureza, segundo as qualidades de cada um.
Bag.3.6 - Todo aquele que patenteia a
repressão dos órgãos da acção, evocando, porém, no interior as sensações de
objectos, além de ser insensato, é tido por hipócrita.
Bag.3.7 - Mas, ó Arjuna,
aquele que, sendo senhor dos seus sentidos, se inicia, com desinteresse, no
Yoga da acção, pelos próprios órgãos dela, é homem excelso.
Bag.3.8 - Pratica tu
todas as acções que se te impõem, porque a acção, qualquer que ela seja, vale
mais que a inacção; pois as funções orgânicas elementares até são impossíveis
na inacção.
Bag.3.9 - Toda a acção não inspirada
pelo ideal alto sujeita o homem ao seu determinismo; por isso, ó Arjuna, pratica tu a acção,
renunciando aos seus frutos, como sendo o sacrifício.
Bag.3.10 - Terminada a criação e
inferindo o sacrifício como lei dela, o criador disse às criaturas: «Crescei e
multiplicai-vos por esta lei e ela seja o manancial de todas as vossas
riquezas».
Bag.3.11 - Sustende por este meio os deuses,
que, por sua vez, vos susterão; e, assim, sustendo-se, mutuamente, atingireis o
bem supremo.
Bag.3.12 - Os deuses satisfeitos com o
sacrifício; dar-vos-ão todos os bens desejados; mas, aquele que só os usufrui,
sem nada consagrar aos deuses, é traficante.
Bag.3.13 - Os bons, vivendo do que lhes
sobra dos sacrifícios, livram-se dos pecados; enquanto os incultos, vivendo só
para si, os cometem.
Bag.3.14 - De nutrição nascem as
criaturas; à chuva sucedem os alimentos; de sacrifício provém a chuva e da acção
surge o sacrifício.
Bag.3.15 - A acção provém da natureza; a
natureza tem a sua existência no Brahman imutável, e
assim Brahman omnipresente está sempre no sacrifício.
Bag.3.16 - Aquele que não observa, neste
mundo, este ciclo universal, vã é a sua existência, sensuais são as suas
delícias, e, ó Arjuna, vive
em vão este homem.
Bag.3.17 - Mas, ao homem que funda as
suas delícias no seu Eu, satisfeito com o seu Eu e imerso no Eu, não existe
acção alguma que tenha de praticar.
Bag.3.18 - Porque este homem nada tem a
ganhar, neste mundo, com a acção ou a inacção, não depende ele de nenhuma
criatura para o seu interesse.
Bag.3.19 - Pois, pratica tu sempre, com
desinteresse, todas as acções que se te impõem. Todo o homem que faz obras com
desinteresse atinge o supremo.
Bag.3.20 - É pelas obras desinteressadas
que Janaca e outros alcançaram a perfeição. Tu deves agir da mesma forma, com a
mira de realizar a solidariedade entre os homens.
Bag.3.21 - É apanágio da massa imitar o
escol; os modelos criados pelo escol são sempre seguidos pelo povo.
Bag.3.22 - Ó Arjuna,
não existe obra alguma, que eu deva fazer; neste mundo, nada existe que eu não
tenha ganho ou tenha a ganhar; contudo, só vivo em acção.
Bag.3.23 - Porque, ó Arjuna,
se eu não agir, sempre vigilante, a humanidade seguirá o meu exemplo de todas
as formas ou maneiras.
Bag.3.24 - E se me conservar inactivo,
será a ruína de todos os povos e a causa do caos e destruição de todas as
criaturas.
Bag.3.25 - Ó Arjuna,
o afinco com que o não instruído trabalha, no seu ofício de proveito material,
igual afinco deve ter o sábio em todas as obras da unidade social, sem o
interesse pessoal.
Bag.3.26 - O sábio não causa confusão no
espírito dos não instruídos, exortando-os, mas encoraja-os em todas as acções,
praticando-as ele próprio com desinteresse.
Bag.3.27 - Todas as acções humanas são
derivadas das qualidades (Satva, Raja e Tama) da Natureza; e o homem, confundindo o Eu com a sua
natureza egoísta, pensa: é o Eu que age.
Bag.3.28 - Mas, ó Arjuna,
o sábio que conhece todas as modalidades da Natureza, considerando as acções
como resultantes da interacção das qualidades dela, não se interessa por elas.
Bag.3.29 - Por esta mesma razão, não
deve ele abalar as concepções sobre a acção dos ignaros, que, sendo cativos da
natureza e ignorando as actividades dela, se prendem à acção com interesse.
Bag.3.30 - Com a concentração do teu
espírito, e renunciando todas as tuas acções em Mim, sem mínimo desejo, nem
egoísmo, luta tu, livre da febre da tua alma.
Bag.3.31 - Aqueles que seguem sempre
estes meus ensinamentos com fé, não os pondo em dúvida nem os criticando, ficam
livres do determinismo da acção.
Bag.3.32 - Mas aqueles que, sem os
seguir, os condenam, são cretinos, destituídos da razão e destinados a perecer.
Bag.3.33 - O sábio age segundo a sua
natureza; todas as criaturas obedecem à sua. É inútil constrangê-la.
Bag.3.34 - Os sentidos têm predilecção
pelos seus objectos, dissimulando neles a dualidade de atracção e repulsão. O
homem não deve cair em poder deles. São inimigos que armam ciladas no caminho
da sua ascensão.
Bag.3.35 - É preferível a cada um seguir
a sua lei de acção, mesmo imperfeita, a adquiri-la a outrem. Prefira-se perecer
na sua própria lei a seguir a doutrem, o que é desastroso.
Bag.3.36 - ARJUNA: — Porque é que o
homem é impelido para o pecado? Quem o obriga a cometê-lo, contra a sua
vontade?
Bag.3.37 - SHRI CRISNA: — É o desejo e a
sua companheira, a cólera, ambos nascidos da qualidade Raja, extremamente
insaciáveis e traiçoeiros.
Bag.3.38 - Assim como o fumo oculta o
fogo, a poeira embacia o espelho, o âmnio envolve o feto, assim o desejo
obscurece a razão humana, ó Arjuna!
Bag.3.39 - A razão humana é obscurecida
pelo desejo. É o eterno inimigo do sábio. É o desejo qual fogo, que devora tudo
e é sempre insaciável.
Bag.3.40 - Os sentidos, a inteligência e
a razão são os seus abrigos, e, por via delas, obscurece ele o saber e
bestializa o homem.
Bag.3.41 - Por isso, ó Arjuna, dominando, primeiro, os teus sentidos, extermina
esse delinquente e destruidor de dois saberes humanos (intuitivo e discursivo).
Bag.3.42 - Dizem que os sentidos são
supremos: o soberano dos sentidos é a mente, o soberano da mente é a razão e o
soberano da razão é o Eu (Atman).
Bag.3.43 - Assim, conhecendo
perfeitamente o Eu, soberano da razão, consolida o conhecimento dele,
concentrando a vida na espiritualidade, e extermina o desejo, inimigo este
dificilmente vencível.
Revelação do divino na humanidade e
significação do sacrifício
Bag.4.1 - SHRI CRISNA: — Este
imperecível Yoga revelara eu, primeiro, a Vivasvana,
que, por sua vez, o transmitira a Manu e este o
fizera conhecido de Ixavacu.
Bag.4.2 - Ó Arjuna,
assim, este Yoga, transmitido tradicionalmente até aos sábios da corte dos reis,
tornou-se antiquado, no volver dos tempos.
Bag.4.3 - É o mesmo Yoga original e
antigo que te acabei de explicar, porque tu és meu amigo dedicado. De facto, é
o supremo segredo este Yoga.
Bag.4.4 - ARJUNA: — Tu és do meu tempo,
e Vivasvana pertence a tempos prístinos. Como posso
eu acreditar que tu lho tivesses revelado, no começo do tempo?
Bag.4.5 - SHRI CRISNA: — Numerosas são
as minhas vidas passadas e as tuas também, ó Arjuna;
eu conheço-as todas, tu as ignoras, ó terror dos inimigos!
Bag.4.6 - Não obstante ser eu inascível,
imperecível, senhor de todas as existências, obrigo-me a manifestar no mundo,
apoiando-me na minha própria natureza, pelo meu misterioso poder.
Bag.4.7 - E, ó Arjuna,
venho ao mundo todas as vezes que as leis sociais são postergadas e impera a
injustiça social.
Bag.4.8 - E é para livrar os bons,
aniquilar os inimigos da ordem e restabelecê-la que eu me manifesto, de tempos
a tempos.
Bag.4.9 - Aquele que conhece este meu
mistério do nascimento e acção não se reincarna, depois de abandonar o corpo
mortal. Ele chega a Mim, ó Arjuna!
Bag.4.10 - Muitos homens, livres de
desejos, do medo, da cólera, tomam o refúgio em Mim e, purificados pela prática
de ascese, têm chegado a Mim.
Bag.4.11 - A maneira como o homem Me
deseja atingir, Eu lhe correspondo no meu amor; variados que sejam os caminhos,
todos Me encontram, ó Arjuna!
Bag.4.12 - Aqueles que desejam que as
suas obras tenham sucesso, neste mundo, fazem sacrifícios aos deuses, porque no
mundo dos homens as obras dão rápida e facilmente os frutos.
Bag.4.13 - A ordem quadrífida social foi
criada por Mim, em conformidade com a diferença de qualidades e funções
activas; sabe que sou autor desta ordem, não obstante ser Eu imperecível, não
agente.
Bag.4.14 - As acções não Me sujeitam e
Eu não desejo os seus frutos. Aquele que Me conhece nesta atitude não está
sujeito ao determinismo da acção.
Bag.4.15 - Por este conhecimento, os
homens doutros tempos, que desejavam a sua libertação, agiram neste mundo.
Também pratica tu acções como as praticaram esses homens dos velhos tempos.
Bag.4.16 - Perante a definição de acção
e o enunciado de inacção, os próprios sábios ficam perplexos. Vou explicar-te o
que seja a acção, e este conhecimento livrar-te-á de todos os males.
Bag.4.17 - É preciso conhecer a acção
natural, formar ideias claras da acção humana e compreender o significado da
acção impessoal; é impenetrável o mistério da acção.
Bag.4.18 - Aquele que sabe descobrir a
impersonalidade na acção e a acção na inacção é, entre os sábios, o Yogui, obreiro universal de infinita capacidade,
Bag.4.19 - Aquele cujos empreendimentos
são denudados de desejos, sem desígnios, e cujo agir se acha purificado pela
luz do conhecimento da verdade é chamado sábio,
Bag.4.20 - Aquele que, renunciando aos
frutos da sua acção, sempre satisfeito, sem nenhuma dependência, está imerso,
profundamente, na acção, é o homem da acção impessoal,
Bag.4.21 - Aquele que é isento de todos
os desejos, tem domínio sobre o seu corpo e intelecto e está desembaraçado da
cobiça, embora pratique acção, não está sujeito a vínculos dela,
Bag.4.22 - Aquele que, sempre
satisfeito, aceita tudo o que lhe chegue, destruiu a dualidade (atracção e
repulsão), sem inveja, equânime perante o bom ou o mau sucesso, está livre da
sujeição da acção.
Bag.4.23 - Quando o homem expulsa os
seus desejos e está livre deles, consolida todo o seu intelecto no Eu, toda a
sua actuação é sacrifício, e extingue-se-lhe a acção.
Bag.4.24 - Brahman
é oblação, Brahman é oferenda e é oferecida ao fogo,
que é Brahman, pelo oferecedor também Brahman; e o homem cujas acções se identificam com Brahman identifica-se ele próprio com Brahman.
Bag.4.25 - Certos Yoguis
atingem Brahman oferecendo o sacrifício aos deuses;
outros oferecem em sacrifício o eu próprio dominado no fogo de Brahman.
Bag.4.26 - Uns sacrificam os ouvidos e
outros sentidos nas chamas de mestria, e há outros que sacrificam as palavras e
os objectos dos seus sentidos no ardor dos sentidos.
Bag.4.27 - E ainda outros oferecem em sacrifício
todas as acções e a força vital ao fogo de Yoga do domínio de si, avivado pelo
conhecimento.
Bag.4.28 - Em suma, uns sacrificam
riquezas, outros praticam austeridades, terceiros dedicam-se ao Yoga, quartos
votam-se ao conhecimento e há ainda outros que consagram toda a sua energia
para o fim supremo.
Bag.4.29 - Ainda mais: há certos que se
consagram a dirigir a sua respiração, sacrificando a inspiração à expiração ou
esta última àquela, dominando-a em seguida.
Bag.4.30 - Há outros que, regulando a
sua nutrição, sacrificam uma forma da sua energia à outra. Todos aqueles que
conhecem o sacrifício pela prática expiam todas as suas faltas.
Bag.4.31 - Ó Arjuna,
aqueles que vivem do que lhes resta, feito o sacrifício, libam o néctar da
imortalidade e atingem Brahman eterno, e aqueles que
não fazem sacrifícios não alcançam a felicidade nem neste mundo, nem noutro.
Bag.4.32 - Todas estas formas de
sacrifício estão desenvolvidas nos Vedas. Sabe tu que todos os sacrifícios
procedem da acção; e serás livre conhecendo este facto.
Bag.4.33 - Ó Arjuna,
dedica-te todo e sempre ao conhecimento supremo; este sacrifício está no mais
alto grau que todo o sacrifício material, porque toda a acção atinge
culminância no conhecimento.
Bag.4.34 - Aprende-se tudo isso adorando,
questionando e servindo o mestre experimentado no conhecimento da verdade
eterna. Só ele é capaz de te ensinar este conhecimento.
Bag.4.35 - Possuindo este conhecimento,
tu não continuarás na ignorância, ó Arjuna, porque tu
verás todas as existências, sem excepção, no teu Eu e em Mim.
Bag.4.36 - Ainda que sejas o maior
pecador, poderás atravessar o oceano dos pecados pela
nau deste conhecimento.
Bag.4.37 - Assim como o fogo aceso reduz
toda a lenha em cinzas, assim também o fogo do conhecimento reduz todos os
vínculos da acção em cinzas.
Bag.4.38 - Não existe coisa alguma neste
mundo que se possa comparar à pureza do conhecimento. O homem, atingindo a
perfeição pelo Yoga, descobre-a, com o tempo, no seu Eu.
Bag.4.39 - Aquele que tem a fé ardente,
ganhou mestria dos seus sentidos, fixou todo o seu intelecto na realidade
suprema, atinge o conhecimento e, consequentemente, a paz suprema.
Bag.4.40 - O não instruído sem fé, o
céptico, está fora do caminho da salvação; e quem duvida de tudo, não gozará de
felicidade nem neste mundo nem noutro.
Bag.4.41 - Ó Arjuna,
aquele que renunciou à acção pelo Yoga, dissipou as dúvidas pelo conhecimento e
está entregue ao seu Eu, fica isento dos vínculos da acção.
Bag.4.42 - Por isso, ó Arjuna, corta tu, de vez, todas as dúvidas nascidas da
ignorância, pela espada do conhecimento, e levanta-te, triunfando, no Yoga.
Yoga da acção
Bag.5.1 - ARJUNA: — Tu fazes a apologia
da renúncia da acção e, ao mesmo tempo, proclamas o Yoga. Diz-me, claramente,
qual é o melhor caminho entre os dois.
Bag.5.2 - SHRI CRISNA: — Tanto a
renuncia como o Yoga da acção conduzem ambos para a salvação da alma; mas,
dentre os dois, o Yoga da acção importa mais que a renúncia da acção.
Bag.5.3 - Deve-se considerar como asceta
aquele que não tem aversão por coisa alguma, nem deseja nada neste mundo. Por
isso, ó Arjuna, estando ele isento da dualidade da
atracção e repulsão, está livre da sujeição da acção.
Bag.5.4 - Considerar o Sânquia como diferente do Yoga é concepção pueril, e não de
sábio. Basta aplicar-se, integralmente, a um deles para obter o resultado de
ambos.
Bag.5.5 - A posição que se obtém pelo Sânquia, consegue-a o Yogui
também. Aquele que vê o Sânquia e o Yoga como
idênticos, vê com os olhos de ver.
Bag.5.6 - Mas, ó Arjuna,
a renúncia é difícil de se atingir sem o Yoga. O sábio que tem a prática do
Yoga alcança Brahman em pouco tempo.
Bag.5.7 - Aquele que se inteirou do
Yoga, tornou pura a sua alma e é senhor de si, triunfou dos sentidos, e cujo Eu
é o Eu de toda a existência, não obstante praticar acções, está livre da sua
sujeição.
Bag.5.8 - O Yogui,
conhecedor dos princípios das coisas, não se julga como autor das acções: ver,
ouvir, tocar, cheirar, comer, ir, dormir e respirar,
Bag.5.9 - Bem assim, falar, despejar,
aceitar, abrir e fechar dos olhos; porque todas estas acções provêm do
funcionamento dos sentidos nas suas, esferas respectivas.
Bag.5.10 - Aquele que se desprende da
acção, dedicando-a a Brahman, torna-se impermeável às
suas vaidades, como a folha de lótus é impermeável à água.
Bag.5.11 - Os Yoguis
só agem para a purificação da sua alma, do corpo, consciência e intelecto e com
os próprios órgãos da acção, mas sempre desprendidos dela.
Bag.5.12 - O Yogui
goza da paz eterna, renunciando a frutos de acção. O não instruído no Yoga é arrastado
à acção pelo desejo e esperança, e por isso está preso dela.
Bag.5.13 - Quem dominou a sua natureza e
renunciou a acções com consciência, goza da plácida serenidade na cidadela de
nove portas que é o seu corpo, sem agir nem ser causa de acção alguma.
Bag.5.14 - O Ente Supremo não cria
actividades humanas nem acção, nem a conexão entre a acção e o seu fruto. É a
natureza que efectua tudo isto.
Bag.5.15 - Ele, Senhor, não deixa
incidir sobre si o pecado ou o bem de quem quer que seja. O conhecimento é
envolto pela ignorância, e por isso todas as criaturas se iludem.
Bag.5.16 - Mas aqueles que dissiparam a
sua ignorância pelo conhecimento do Eu, ressurgem resplandecentes como o Sol.
Bag.5.17 - E imergindo toda a sua
vitalidade e intelectualidade n'Ele, fazendo d'Ele o único objecto da sua
devoção, identificando-se com Ele e livrando-se dos pecados, se livram do
nascimento e da morte.
Bag.5.18 - Estes sábios vêem na
igualdade o brâmane erudito e culto, a vaca, o elefante, o cão e o pária.
Bag.5.19 - E, assim, realizando a vida
firmando o seu intelecto na equanimidade de Brahman,
se estabelecem n'Ele, que é a perfeição.
Bag.5.20 - O homem assim estabelecido em
Brahman, conhecendo Brahman
e vivendo n'Ele, não se rejubila com o agradável nem detesta o desagradável.
Bag.5.21 - Quando o homem se desprende
das coisas exteriores, alcança a felicidade do eu primeiro; e, unindo-se depois
a Brahman, ele goza da felicidade suprema.
Bag.5.22 - Os prazeres que derivam das
coisas são a origem do sofrimento do homem. Eles têm o seu começo e o seu fim,
ó Arjuna. O sábio não se compraz naqueles.
Bag.5.23 - Aquele que, neste mundo, é
capaz de subjugar os ímpetos do desejo e da cólera, é Yogui,
homem ditoso.
Bag.5.24 - Aquele que alcançou a
felicidade, a paz interior e que possui a luz interior, este Yogui, unificando-se com Brahman,
se extingue, afinal, no Nirvana.
Bag.5.25 - Atinge também o Nirvana
aquele que dissipou todas as dúvidas, destruiu a dualidade e, tornando-se
mestre de si, trabalha sempre para o bem de todas as criaturas.
Bag.5.26 - Os ascetas que se livraram do
desejo e da cólera e conquistaram a mestria de si, vêem-se rodeados de Brahman, de todos os lados.
Bag.5.27 - E contemplam Brahman, evitando o contacto com os objectos exteriores,
convergindo o olhar no ponto de união das sobrancelhas e tornando iguais a
inspiração e a expiração.
Bag.5.28 - E se consagram à sua
libertação para sempre, dominando os sentidos, a consciência, o intelecto e
expurgando o desejo, o medo e a cólera.
Bag.5.29 - E gozam da paz eterna, após o
conhecimento de que sou Eu o fruitivo de todos os sacrifícios e austeridades
dos homens, o Senhor Poderoso do universo inteiro e amigo de toda a criação.
A prática do yoga
Bag.6.1 - SHRI CRISNA: — Aquele que
pratica a acção que se lhe impõe, sem pretensões aos seus frutos, é asceta e Yogui, simultaneamente, e não o é quem se dispense do fogo
sacrificial ou prescinda de agir.
Bag.6.2 - Sabe tu,
ó Arjuna, o que se chama ascetismo é o Yoga, porque
sem a renúncia dos desejos é impossível tornar-se Yogui.
Bag.6.3 - Para ascender a Yoga, a acção
é a sua via, e para transcendê-lo, a abnegação completa é a sua rota.
Bag.6.4 - Quando o homem não se prende a
objectos sensíveis, é desprendido da acção e renuncia a todos os desejos,
diz-se, então, que ele está assente no Yoga:
Bag.6.5 - Todo o homem deve trabalhar,
sem esmorecer, para a sua ascensão, por intermédio do seu
eu, pois o eu é amigo ou inimigo, segundo as
circunstâncias.
Bag.6.6 - O eu
torna-se amigo quando é conquistado por Eu e é seu inimigo quando é
desenfreado.
Bag.6.7 - O homem que conquistou o eu
atinge a serenidade e torna-se equânime perante o calor e o frio, o prazer e a
dor, a glória e a infâmia.
Bag.6.8 - Diz-se Yogui
quem está satisfeito com o conhecimento intuitivo e científico de si, senhor
dos seus sentidos e considera como iguais a terra, a pedra e o ouro.
Bag.6.9 - E está na culminância do Yoga
quem trata como seu igual o amigo íntimo, o indiferente, o neutro, o inimigo, o
irmão, o santo e o pecador.
Bag.6.10 - É necessário ao Yogui praticar continuamente a sua união com o Eu, vivendo
em retiro e só, banindo da sua mente todo o desejo e ideia de posse e evitando
as emoções que o possam abalar.
Bag.6.11 - Forma-se o assento, não muito
alto nem muito baixo, consistindo na erva sagrada coberta da pele de gazela, e
por cima um tecido de algodão, escolhendo para isso um sítio limpo.
Bag.6.12 - E coloca-se nele, mantendo
sob o seu domínio todas as actividades dos sentidos e a consciência e
concentrando-as, com o fim da sua purificação.
Bag.6.13 - Mantém-se na linha vertical o
corpo, a nuca, a cabeça e, imóvel, converge-se o olhar na raiz do nariz, sem o
desviar.
Bag.6.14 - E na serenidade do espírito,
livre do medo, observando a continência, orienta-se toda a atenção para o Eu,
até ser absorto por Ele.
Bag.6.15 - Continuando desta forma a sua
prática de dominar a mente, o Yogui atinge a paz
suprema, que tem a sua base em Mim.
Bag.6.16 - Este Yoga, ó Arjuna, não é para aquele que come em excesso e dorme
muito, nem é para quem se priva, por completo, da sua alimentação e sono;
Bag.6.17 - Mas para quem é moderado na
sua alimentação, no sono e em todo o seu agir, sendo este Yoga aniquilador de
todos os sofrimentos.
Bag.6.18 - Quando o homem domina a sua
mente e se tranquiliza no Eu, isento completamente de desejos, diz-se então que
ele tem a sua formatura no Yoga.
Bag.6.19 - A calma mental do Yogui pela prática da sua união com o Eu é comparável à
imobilidade da lâmpada de óleo conservada no lugar sem vento.
Bag.6.20 - Quando se consegue a calma,
refreando os sentidos pela prática contínua do Yoga, o homem sente a grande
satisfação em mirar o seu eu no Eu.
Bag.6.21 - E quando se experimenta essa
beatitude, concebível à razão pura, sendo inacessível aos sentidos, o homem se
não desvia deste estado.
Bag.6.22 - É a maior conquista humana,
perante a qual todas as outras perdem o seu valor, e, uma vez tendo a posse
desta, o homem não se abala na maior calamidade.
Bag.6.23 - Este estado é o Yoga
disjuntivo do sofrimento, que todo o homem deve conhecer e alcançá-lo com
coragem e entusiasmo.
Bag.6.24 - Começa-se por deixar ao
abandono, sem excepção, todos os desejos nascidos da imaginação e reprimir os
sentidos, de todos os lados, pela vontade consciente.
Bag.6.25 - E, lentamente, faz-se cessar
todo o pensamento pela reflexão, orientando-o para o Eu, exclusivamente.
Bag.6.26 - Todas as vezes que a atenção
fuja ou escape do alvo, é preciso dominá-la e trazê-la à submissão do Eu.
Bag.6.27 - E, desta forma, a mente,
tornando-se calma completamente, sem o mínimo resíduo de desejo, chega-se à
beatitude que o eleva a Brahman.
Bag.6.28 - Assim o Yogui,
livre de desejos, continuando constantemente as suas práticas, goza da
beatitude suprema do encontro com Brahman.
Bag.6.29 - O Yogui,
uma vez convertido em Brahman, vê na igualdade toda a
existência, isto é, vê o seu Eu em todas as criaturas e estas no seu Eu.
Bag.6.30 - Aquele que Me vê em todas as
criaturas e estas em Mim, não se separa de Mim nem Eu o deixo afastar de Mim.
Bag.6.31 - O Yogui
que se apoia sobre a unidade e Me ama em todos os seres, vive sempre em Mim,
seja como for a sua maneira exterior de viver.
Bag.6.32 - E é tido por sumo Yogui aquele que cria em si a capacidade de sentir os prazeres
e penas de todas as criaturas e remediar estas últimas.
Bag.6.33 - ARJUNA: — O Yoga da
equanimidade, que tu acabaste de me explanar, parece-me, não tem bases sólidas
para a sua realização, visto a mente ser sempre instável.
Bag.6.34 - Além da mente ser polimorfa,
ó Crisna, ela é veemente, forte e indomável. É difícil de ser dominada, tal
como o vento.
Bag.6.35 - SHRI CRISNA: — Sem dúvida, a
mente é difícil de ser dominada, mas, ó Arjuna, pode
ser refreada pela prática constante e desprendimento completo das coisas
mundanas.
Bag.6.36 - Para quem não conquistou a
sua mente, é inacessível este Yoga; mas quem dominou a sua mente alcança-o pelo
esforço apropriado e perseverante.
Bag.6.37 - ARJUNA: — Qual é o destino daquele
que empreendeu este Yoga com fé e não logrou a perfeição nele, nesta vida, por
não ter conseguido dominar a sua mente errante, completamente?
Bag.6.38 - Com o malogro da sua,
ascensão à consciência universal e tornando-se inábil para a vida presente,
perecerá ele, ó Crisna, como a neblina que se dissolve?
Bag.6.39 - Só tu,
ó Crisna, melhor do que ninguém, serás capaz de desfazer completamente esta
minha dúvida.
Bag.6.40 - SHRI CRISNA: — Ele não será
perdido nesta vida nem noutra, pois o mínimo bem que se pratique neste mundo
nunca dará em resultado mal algum.
Bag.6.41 - Chegará ele ao mundo dos
virtuosos, onde, demorando-se por tempo imensurável, renascerá, neste mundo, na
família dos puros e gloriosos.
Bag.6.42 - Ou, então, renascerá ele na
família do sábio Yogui, situação mui rara de se
obter, neste mundo.
Bag.6.43 - E, ó Arjuna,
lá ele recobrará o estado mental da sua união com Brahman,
da vida precedente, e novamente se esforçará para a perfeição.
Bag.6.44 - A prática residual do Yoga da
sua vida anterior o impelirá, irresistivelmente, avante e um pequeno esforço de
conhecer o Yoga o fará logo sábio na escritura sagrada dos Vedas.
Bag.6.45 - Mas com o esforço assíduo,
purificado de todos os pecados, aperfeiçoando-se através de vidas sucessivas, é
que se atinge o fim supremo, o Yoga.
Bag.6.46 - O Yogui
está no mais alto grau que o asceta e é maior que o homem do conhecimento, e é
ainda maior que o homem da acção. Sê tu, portanto, o Yogui,
ó Arjuna!
Bag.6.47 - Entre todos os Yoguis, tenho-o por melhor unido comigo no Yoga aquele que
Me adora do fundo do seu ser e com toda a fé.
Conhecimento intuitivo e discursivo
Bag.7.1 - SHRI CRISNA: — Escuta, ó Arjuna, como tu Me chegarás a
conhecer integralmente, praticando o Yoga e amando-Me do fundo do teu coração,
fixando toda a tua atenção em Mim.
Bag.7.2 - Vou-te explicar, sem nada
omitir, em que consiste o conhecimento discursivo e bem assim o conhecimento
intuitivo, e, inteirando-te destes, não te restará nada a saber.
Bag.7.3 - Entre milhares de homens, um e
outro se consagra à perfeição, e entre milhares destes um e outro Me chega a
conhecer em todos os princípios da minha existência.
Bag.7.4 - A terra, a água, o fogo, o ar,
o espaço, a mente, a razão e a personalidade: é a minha natureza octófida.
Bag.7.5 - Esta é a minha infra-natureza. Sabe tu, ó Arjuna,
que existe a outra que é supra ou real, pela qual este universo é amparado.
Bag.7.6 - Sabe que estas são as matrizes
de toda a existência. Sou Eu a origem e o fim do universo inteiro.
Bag.7.7 - Fora de Mim, ó Arjuna, não existe nada supremo. É em Mim que tem
existência este universo como a enfiada de pérolas num único fio.
Bag.7.8 - Ó Arjuna,
Eu sou a fluidez da água e a luz do Sol e da Lua. Sou Pranava (sílaba Aum) em todos os
Vedas e sou o som no éter e a virilidade nos varões;
Bag.7.9 - Sou o puro aroma da terra e a
energia calorífica do fogo. Sou a força vital em todos os seres e sou a
austeridade dos ascetas.
Bag.7.10 - Sabe, ó Arjuna,
que sou o gérmen eterno de toda a existência. Sou a inteligência dos
inteligentes e a energia dos enérgicos.
Bag.7.11 - Sou a força do forte isento
de desejos e atracção e sou o desejo em todos os seres, não sendo contrário à
lei da vida.
Bag.7.12 - Os estados sátvicos, rajásicos e tamásicos, neste mundo, procedem de Mim, mas eu não Me limito àqueles; eles são limitados por Mim.
Bag.7.13 - Por esta tríade de qualidades
todo o mundo é sequestrado e ignora a Mim, que sou Supremo, imperecível e
transcendente.
Bag.7.14 - É este o meu mistério,
dimanado de três qualidades, que é difícil de se transpor. Transpõem-no,
somente, aqueles que se refugiam em Mim.
Bag.7.15 - Não Me compreendem, porém,
aqueles que têm propensão para o mal, celerados, tipos ínfimos da escala humana,
vivendo nas trevas da ignorância, cingindo-se só à matéria.
Bag.7.16 - Entre os virtuosos que Me
adoram, há quatro tipos, ó Arjuna: os que sofrem, os
que procuram o bem material neste mundo, os que se consagram ao conhecimento e,
finalmente, os sábios.
Bag.7.17 - De entre todos é o sábio que
está na primeira plana, pois está ele em constante união Comigo, amando-Me com
puro amor, e é de Mim mui amado.
Bag.7.18 - Nobres são todos eles, sem
excepção, mas o sábio que Me ama considero-o como Eu próprio, porque ele Me tem por seu único fim supremo e como tal Me anda
sempre unido.
Bag.7.19 - O sábio chega a atingir-Me,
depois das suas vidas sucessivas e após o conhecimento de que tudo o que existe
é o Ser Omnipresente; raro, é, porém, este acontecimento.
Bag.7.20 - Os homens, em geral, segundo
as exigências da natureza de cada um, iludidos pelos seus desejos, adoram tal
ou tal divindade e fixam as regras da sua devoção.
Bag.7.21 - Variadas que sejam as suas
maneiras de adoração, faço Eu com que a fé de cada um seja firme e não vacile.
Bag.7.22 - Com a fé ardente, os homens
veneram esta ou aquela Minha forma, e, pela força da sua fé de adoração, obtêm
eles os frutos desejados que Eu próprio lhes proporciono.
Bag.7.23 - Mas estes frutos procurados
por estes homens de mentalidade fraca são temporários. Os adoradores dos deuses
chegam a deuses e os meus Me chegam a Mim.
Bag.7.24 - Os homens de inteligência
fraca julgam que Eu sou limitado na única
manifestação, visto eles não conhecerem a minha natureza suprema, imperecível e
de perfeição absoluta, não manifestada.
Bag.7.25 - Eu não sou revelado a todos
os homens, envolto como estou no meu misterioso poder, e eles na sua ilusão não
Me compreendem a Mim, que sou inascível e imperecível.
Bag.7.26 - Eu conheço todas as
existências passadas, presentes e futuras, ó Arjuna,
mas ninguém Me conhece,
Bag.7.27 - Pela miragem da dualidade que
provém do desejo e da repulsão, ó Arjuna, todas as
criaturas estão sujeitas à ilusão.
Bag.7.28 - Mas aqueles que dissipam os
seus pecados pela prática de virtudes e são livres da atracção e da repulsão,
Me adoram firmes, consagrando-se inteiramente.
Bag.7.29 - Aqueles que se refugiam em
Mim e se esforçam por evitar a velhice e a morte, chegam a conhecer Brahman e tudo o que concerne ao princípio espiritual e à
acção no seu princípio integral.
Bag.7.30 - Aqueles que Me conhecem como
unicidade do princípio material, teológico e de sacrifício e conservam este
conhecimento até ao seu término, atingem-Me.
Conhecimento de Brahman
Bag.8.1 - ARJUNA: — Que vem a ser Brahman? Que relação tem com o princípio espiritual? Que se
entende por acção? E, ó Supremo, que vem a ser o princípio material? Que se
entende por princípio teológico?
Bag.8.2 - Que vem a ser o princípio do
sacrifício? Qual é a sua relação com o nosso corpo? Diz-me, também, ó Crisna,
como tu podes ser conhecido, no final da sua existência, por aquele que
conquistou o auto-domínio.
Bag.8.3 - SHRI CRISNA :
— O ser supremo absoluto é Brahman e a sua
manifestação no mundo dos vivos é chamada o princípio espiritual, e o movimento
criador da evolução universal chama-se acção.
Bag.8.4 - O princípio material é a minha
forma perecível; o princípio teológico é o ser subjectivo dos homens, e, ó Arjuna, sou Eu próprio o princípio
do sacrifício, em todos os homens.
Bag.8.5 - Quando o homem abandona o seu
corpo, pensando, meditando, até ao último suspiro, em Mim, é sem dúvida que ele
chega a Mim.
Bag.8.6 - Porque são as ideias
predominantes da vida, mantidas até ao último suspiro, que se realizam no final.
Bag.8.7 - Por isso, ó Arjuna, pensando a todo o instante em Mim, luta tu, com o
espírito fixo e consagrado a Mim, e assim, infalivelmente, chegarás a Mim.
Bag.8.8 - Porque, ó Arjuna,
pensando, meditando só no Supremo, com o espírito orientado para Ele, com a
prática constante do Yoga, é que se atinge o Supremo.
Bag.8.9 - Aquele que orienta todo o seu
pensamento, unicamente, ao Supremo, que é omnisciente, sempiterno,
subtilíssimo, senhor e esteio de toda a existência, inconcebível, radiante como
o Sol para além do espaço e do tempo,
Bag.8.10 - E concentra firme e sereno,
pelo amor e pela forca do Yoga, toda a sua vitalidade na região entre as
sobrancelhas, até ao momento do seu término, chega ao Supremo.
Bag.8.11 - Vou-te
dizer, rapidamente, a maneira de alcançar este estado supremo, imutável,
descrito nos Vedas, única guarida dos ascetas e anseio único daqueles que fazem
voto de castidade:
Bag.8.12 - Fecham-se todas as vias
aferentes e eferentes dos sentidos, interiorizando todas as actividades do
espírito, e fixando-as em uma e única ideia de Brahman,
convergindo a vitalidade na região da fontanela anterior, e nesta postura
peculiar do Yogui,
Bag.8.13 - Pronunciando o monossílabo AUM, símbolo de Brahman, e
fixando todo pensamento em Mim, abandona-se o corpo mortal e, assim, chega-se
ao Supremo.
Bag.8.14 - Aquele que, a todo o momento,
sem se subtrair, pensa em Mim e se torna uno Comigo, Me atinge, facilmente, ó Arjuna!
Bag.8.15 - Desta maneira, muitas grandes
almas, alcançando-Me, extinguiram o ciclo do nascimento e morte, condição
transitória e penosa para o homem, e chegaram à perfeição Suprema.
Bag.8.16 - Toda a existência espaço-temporal está sujeita ao ciclo da vida e morte, mas,
uma vez tornada una Comigo, extingue-se-lhe esse ciclo.
Bag.8.17 - Aquele que é capaz de
conceber o ciclo eterno do dia e da noite de Bramá, cada um durando mil idades,
só este conhece o significado do dia e da noite.
Bag.8.18 - Com o raiar do dia de Bramá
entra em formação, no Ser virtual, o universo cósmico e à chegada da noite
regressa tudo ao seu estado primordial.
Bag.8.19 - E assim, todo o conjunto da
criação, entrando na evolução universal, se sume com
a vinda da noite, para vir à luz, novamente, com o alvor do dia.
Bag.8.20 - Para além desse Ser Virtual,
existe o outro da suprema potencialidade, eterno e imperecível, não obstante a
dissolução do universo cósmico.
Bag.8.21 - Chama-se este O Absoluto, Não
Manifestado e Imutável. É a suprema mansão, que, uma vez atingida, o homem se
livra do ciclo cósmico; é a Minha Mansão.
Bag.8.22 - E, ó Arjuna,
conquista-se esse Absoluto, princípio essencial de todo o universo, substância
de toda a existência, por uma devoção extremamente fervorosa.
Bag.8.23 - Agora, ó Arjuna,
vou-te dizer os sinais que, ao finar-se o Yogui,
denunciam se ele escapará ou estará sujeito ao ciclo da vida e morte:
Bag.8.24 - O Yogui,
conhecedor de Brahman, expira na pujança da sua vida
de sacrifícios com a inteligência lúcida, serenidade crescente do espírito,
radicando bons sentimentos em todos os circunstantes, e atinge Brahman.
Bag.8.25 - E aquele que se fina exaurido
de forças, inteligência apagada, serenidade minguante, incógnito aos outros,
regressa para viver a vida mundana, depois de curto tempo.
Bag.8.26 - São duas as vias, uma luminosa (da acção inteligente) e a outra sombria
(da acção sem inteligência), conhecidas, desde remotos tempos, para o destino
do homem. Uma, que é chamada a via divina (Devayana),
leva-o até Brahman, e a segunda, via ancestral (Pitrayana), faz regressá-lo para viver no mundo.
Bag.8.27 - Mas o Yogui,
conhecendo o segredo dessas vias, segue sempre, sem errar, a divina. Por isso,
ó Arjuna, sê tu Yogui devoto.
Bag.8.28 - O Yogui,
tendo o seu alvo em Brahman, sem se importar com os
frutos das acções do estudo dos Vedas, sacrifícios, austeridade e caridade,
considerados meritórios, atinge-O directamente.
Conhecimento da devoção
Bag.9.1 - SHRI CRISNA: — Vou-te revelar,
agora, o maior segredo, pois tu és capaz de penetrá-lo e, compenetrando-te
dele, livrar-te-ás de todos os males.
Bag.9.2 - É o conhecimento por
excelência, segredo sumo, sabedoria excelsa, luz resplandecente, verificável
pela experiência directa, lei própria do ser, facilmente praticável e
imperecível.
Bag.9.3 - Mas aqueles que não têm fé neste
conhecimento superior da verdade, não Me atingem; sujeitam-se aos vaivéns da
sorte da vida ordinária.
Bag.9.4 - O universo inteiro é emanado
de Mim, é em Mim que ele tem a sua existência, não sendo, porém, Eu imanente
nele.
Bag.9.5 - Eis o misterioso poder: não
obstante Ser Eu sustentáculo do universo inteiro e Me reflectindo nele, não sou
imanente em nenhuma criatura.
Bag.9.6 - Assim como o ar tem a sua
existência no éter (dentro de certos limites), assim o universo inteiro tem a
sua existência em Mim.
Bag.9.7 - No fim de cada ciclo cósmico,
todo o universo entra em dissolução na minha natureza, ó Arjuna,
e ao recomeçar o ciclo entra, novamente, em formação.
Bag.9.8 - Imponho à minha própria
natureza, cada vez, emanar inumeráveis seres submetidos, em tudo, a ela.
Bag.9.9 - Estes actos não Me prendem, ó Arjuna; assisto indiferente a esses actos, sem Me prender.
Bag.9.10 - Presido a toda essa criação
do animado e do inanimado da natureza e, ó Arjuna, é por
isso que o mundo está em constante transformação.
Bag.9.11 - Sou incompreendido dos
ignorantes, como estou na forma humana, por não
conhecerem a minha suprema natureza, e ser Eu senhor de todas as existências.
Bag.9.12 - Vãs serão as esperanças, vãs
as acções e o saber desses que perderam a razão, tomando a aparência pela
realidade, deixando-se cair no materialismo.
Bag.9.13 - Mas almas grandes, ó Arjuna, que têm propensão à perfeição, Me conhecem como
imperecível, princípio eterno de toda a existência, e, assim, Me amam com toda
a efusão do seu coração.
Bag.9.14 - E perseverando no seu esforço
espiritual, glorificam-Me, prosternam-se e Me prestam culto com suma devoção.
Bag.9.15 - Há outros que, fazendo voto
do conhecimento, Me adoram na minha unidade e bem assim na multiplicidade,
considerando-Me omnímodo.
Bag.9.16 - Sou o ritual do sacrifício e
o sacrifício também; sou a libação dos defuntos e o alimento de todos; sou o
hino sagrado e a oblação; sou o fogo, a manteiga e todas as oferendas;
Bag.9.17 - Sou o pai e a mãe deste
universo; sou o criador e ordenador dele; sou o objecto do conhecimento puro;
sou o AUM dos Vedas e os próprios Vedas: Rig, Yajur e Sarna;
Bag.9.18 - Sou o destino, o sustentador,
o senhor, a testemunha, o refúgio, o guarda, o amigo, o criador e o destruidor
de todas as existências; sou a mansão da paz e da eternidade e a semente
imperecível de todos os seres;
Bag.9.19 - Sou Eu que, Me tornando o
Sol, desenvolvo o calor neste mundo e, retendo os vapores da água, os
transformo em chuva; sou a imortalidade, e bem assim a morte; a existência e a
não existência sou Eu, ó Arjuna!
Bag.9.20 - Ao revés, porém, os homens
que conhecem a tríade védica e se julgam purificados com a bebida de Soma, Me
adoram pelo sacrifício védico com o único fim de gozar os prazeres celestes, e
alcançam o céu, realmente.
Bag.9.21 - Mas, esgotados os seus
méritos, após a vida celeste de algum tempo regressam eles ao mundo dos
mortais. Assim, cingindo-se só no sacrifício védico, cujo alvo é satisfazer os
desejos, sujeitam-se ao ciclo cósmico da vida e morte.
Bag.9.22 - Mas os homens que Me adoram
com o amor exclusivo, fazendo de Mim o único objecto do seu pensamento, Eu os
provejo em tudo.
Bag.9.23 - E, ó Arjuna,
mesmo aqueles que, com a fé sincera e ardente, adoram divindades, tomo-os por adoradores Meus, mas mediatos.
Bag.9.24 - Porque Eu sou fruitivo e
senhor de todos os sacrifícios consagrados, seja a quem for, e como eles Me não compreendem na minha essência, permanecem nas
suas ilusões.
Bag.9.25 - Aqueles que adoram as
divindades atingem-nas; os que prestam culto aos antepassados chegam para o
mundo deles; os que se consagram aos espíritos elementares alcançam-nos e os
que Me adoram, Me chegam.
Bag.9.26 - Uma folha, uma flor, uma
fruta ou um pouco de água até, oferecida a Mim, com dedicação, por qualquer
pessoa devota, é para Mim muito agradável.
Bag.9.27 - Renuncia tu,
ó Arjuna, todas as tuas acções respeitantes à
subsistência, ao sacrifício, à caridade e à ascese, em Mim.
Bag.9.28 - Assim, ficando livre de
vínculos da acção, ou antes renunciando aos seus frutos, bons ou maus, estarás
unido a Mim, para sempre.
Bag.9.29 - Eu sou
igual para com todas as existências; ninguém Me é caro nem odiento. No entanto,
aqueles que se dedicam a Mim, com amor e devoção, existem em Mim e Eu neles.
Bag.9.30 - Ainda o maior perverso deste
mundo, se se Me dedica, com toda a efusão do seu coração, deves tê-lo por
santo, porque a perseverança dele o caminhará sempre para a perfeição.
Bag.9.31 - Converter-se-á ele
rapidamente em uma alma virtuosa e obterá a paz eterna. Eis a minha promessa:
«Quem me ama não morre».
Bag.9.32 - Ainda que seja o pária,
descendente dos pecadores, bem assim todo o género humano feminino, os váixias e sudras, se se refugiam em Mim, alcançam o bem
supremo, ó Arjuna!
Bag.9.33 - Nem se fale dos santos
brâmanes e reis sábios e devotos que são meus; e tu, ó Arjuna,
que vieste a este mundo efémero, vale de lágrimas, ama-Me, volvendo-te para
Mim.
Bag.9.34 - Põe toda a tua aspiração em
Mim, pelo amor puro adora-Me, sacrifica-te a Mim, prosterna-te perante Mim.
Deste modo, submerso em Mim, unido a Mim, confundir-te-ás Comigo, que sou o fim
último e supremo.
Suprema palavra
Bag.10.1 - SHRI CRISNA: — Escuta, ó Arjuna, ainda uma vez, a minha palavra suprema; vou-te dizer,
para teu bem e porque te prezo muito:
Bag.10.2 - Nem os deuses nem os maiores rixis conhecem a minha origem, porque Eu seu a origem
desses deuses e desses rixis.
Bag.10.3 - Aquele que Me conhece, sem
ilusão, como sem nascimento, sem origem; Senhor Soberano do mundo e dos povos, fica livre de todos os pecados e males.
Bag.10.4 - A inteligência, o
conhecimento, o discernimento, a indulgência, a verdade, o auto-domínio, a
serenidade, o prazer, a aflição, o nascimento, a morte, o medo e a coragem,
Bag.10.5 - Bem assim, a não-violência, a
igualdade, a satisfação, a austeridade, a generosidade, a glória, a infâmia,
todas estas qualidades no homem procedem de. Mim.
Bag.10.6 - Os sete grandes rixis e os quatro Manus de que
descendem todos os seres vivos deste mundo, são emanação intelectual Minha.
Bag.10.7 - Aquele que conhece, em todos
os princípios, essa Minha expansão Yóguica, sem
dúvida alcança o Yoga e se mantém firme e inabalável nele.
Bag.10.8 - Sou a origem de todas as
criaturas e sou Eu que animo tudo. Conhecendo profundamente esta verdade,
certos homens Me adoram com um amor fervoroso.
Bag.10.9 - E eles, concentrando todo o
seu espírito em Mim, sacrificando toda a sua vitalidade por Mim, ilustrando-se
uns com os outros, Me gloriam e assim exultam.
Bag.10.10 - A esses enlevados que me
adoram com o amor profundo, dou-lhes a claridade intelectual suficiente para Me
atingirem.
Bag.10.11 - E, por piedade deles, com o
facho Meu, qual lâmpada refulgente do conhecimento, destruo todas as trevas da
sua ignorância.
Bag.10.12 - ARJUNA: — Tu és o supremo Brahman, a suprema mansão, a suprema pureza, a única
existência, Deus único e original, não nascido, Senhor e omnipresente.
Bag.10.13 - Todos os rixis
Te louvam, unanimemente, nesses termos e os poetas Narada,
Acita, Devala e Viassa Te cantam da mesma forma, e Tu próprio me declaras o
mesmo.
Bag.10.14 - Acredito em tudo o que Tu me
dizes. Mas, ó Crisna, a Tua origem é uma incógnita, tanto para os deuses como
para os demónios.
Bag.10.15 - Tu, o criador e senhor do universo,
animador de toda a existência, Deus Único, só Tu Te conheces,
ó Supremo, pelo Teu misterioso poder.
Bag.10.16 - Diz-me, sem nada omitir, as
tuas manifestações sublimes, pelas quais Tu transpareces
neste mundo cósmico.
Bag.10.17 - Diz-me, também, como eu Te
posso conhecer, em todos os instantes e em todos os lugares, e qual o Teu
aspecto que eu devo tomar na minha oração mental quotidiana, ó Crisna.
Bag.10.18 - Explica-me, ó Crisna,
detalhadamente, todo este Teu mistério e as Tuas manifestações. Será para mini
o néctar da imortalidade e um encanto ouvi-lo, sem me fartar.
Bag.10.19 - SHRI CRISNA: — Sim, vou-te
enumerar, ó Arjuna, com prazer, só as minhas
manifestações proeminentes, porque todas elas são sem fim e sem limites.
Bag.10.20 - Sou a essência eterna, ó Arjuna, de todas as criaturas do universo e sou o
princípio, o meio e o fim de todos os seres.
Bag.10.21 - Entre os Adítias
sou Visnum e o Sol radiante entre as luzes e
esplendores. Sou Marichi entre os Marutas e a Lua
entre os astros que brilham no céu.
Bag.10.22 - Sou o Sama entre os Vedas e Vassava (Indra) entre os deuses. Sou a mente nos sentidos e
sou a vitalidade de todos os seres vivos.
Bag.10.23 - Sou o Civa
entre os Rudras e o senhor de riquezas entre os Yacxas e Racxas. Sou o fogo entre
os Vassus, e Meru entre as montanhas.
Bag.10.24 - Sabe tu, ó Arjuna, que sou Brahaspati entre
os predicadores eminentes. Sou Scanda entre os
comandantes dos exércitos e o oceano entre as águas correntes.
Bag.10.25 - Entre os grandes rixis sou Brhagu e sou AUM,
sílaba sagrada entre as palavras. Sou Japa (repetição
silenciosa dos nomes sagrados) entre as formas de adoração e Himalaia entre os
imóveis.
Bag.10.26 - Entre as árvores sou Ashvatha (árvore do pimpol) e Narada
entre os rixis divinos. Sou Chitraratha
entre os Gandharvas e o sábio Capila
entre os perfeitos.
Bag.10.27 - Sabe tu que sou Ucheishrava, nascido do néctar, entre os cavalos, e Airavat entre os elefantes, e entre os homens o chefe
soberano sou Eu, ó Arjuna!
Bag.10.28 - Sou o raio entre as armas e Camadhenu (vaca da abundância) no gado vacum. Sou o
instinto genésico nos progenitores e Vassuqui entre
as cobras.
Bag.10.29 - Sou Ananta entre os Nagas e Varuna entre os povos marítimos. Sou Ariamá
entre os manes e Yama entre aqueles que sancionam as
leis.
Bag.10.30 - Sou Pralada
entre os aborígenes selvagens e o Tempo entre os devoradores. Sou o leão entre
os animais silvestres e a águia entre as aves.
Bag.10.31 - Entre os purificadores sou o
vento e Rama entre os guerreiros. Sou o crocodilo entre os aquáticos e Ganges entre os rios.
Bag.10.32 - Da criação sou Eu o
princípio e o fim e também o meio. Nas ciências sou o conhecimento espiritual e
nos debates sou dialéctica, ó Arjuna!
Bag.10.33 - Sou A nas letras do alfabeto
e composto dual nas palavras compostas; sou o imperecível tempo e senhor
soberano de toda a existência.
Bag.10.34 - Sou a morte que ceifa tudo,
sem distinção, e o começo daqueles que virão a nascer. No vocabulário feminino
que diz respeito a qualidades, sou a glória, a riqueza, a palavra, a memória, a
inteligência, a constância e a misericórdia.
Bag.10.35 - Sou o grande Saman entre os hinos e Gaiatri na
rítmica; sou Margaxirxa entre os meses e a Primavera entre as estações.
Bag.10.36 - Nas artimanhas especulativas
sou o jogo dos dados, e nos poderosos a força. Sou a
resolução, a perseverança e a vitória e sou a qualidade sátvica
dos bons.
Bag.10.37 - Sou Crisna no clã dos
Grasnos e Arjuna entre os Pandavas.
Sou Vi assa entre os sábios e Ufana entre os poetas-profetas.
Bag.10.38 - Sou a soberania e o poder
dos governantes e a diplomacia dos conquistadores. Sou o silêncio do segredo e
dos grandes sábios o conhecimento.
Bag.10.39 - Sou a semente de todas as
criaturas. E, ó Arjuna, nenhum ser, quer animado quer
inanimado, pode existir, neste universo, sem Mim!
Bag.10.40 - As minhas manifestações
proeminentes são sem fim, ó terror dos inimigos. O que te acabei de expor é um
sumário delas, para tua ilustração.
Bag.10.41 - Tudo o que te inspira o
respeito, bem assim, tudo o que é belo e sublime, considera-o como originado do
facho da Minha essência.
Bag.10.42 - Mas, que te importa a ti
conhecer tudo isso em detalhes? Sabe tu, ó Arjuna,
que o universo inteiro tem a sua evolução na pequena parcela da Minha Essência.
Visão do macrocosmo
Bag.11.1 - ARJUNA: — Pela Tua
misericórdia, Tu me desvendaste o segredo supremo do conhecimento espiritual,
e, assim, dissipaste todas as minhas ilusões.
Bag.11.2 - Dissertaste sobre a criação e
a dissolução do universo e, bem assim, sobre a maravilha do Teu poder.
Bag.11.3 - Convenço-me
da verdade inteira da Tua lição. Mas, ó Supremo, não me darei por satisfeito
sem Te ver na forma divina, tal qual acabaste de me descrever.
Bag.11.4 - Descobre-me, portanto, essa
tua forma imperecível, ó Supremo Yogui, para eu a ver, se não achares inconveniente algum da Tua parte.
Bag.11.5 - SHRI CRISNA: — Vais tu
contemplar, ó Arjuna, em centenas e milhares, as
minhas formas, variadas em género e diversas em cores.
Bag.11.6 - Contempla os Adítias, os Marutas, os Vassus,
os Rudras, os dois Asvinas,
e muitas outras maravilhas que ninguém, até hoje, contemplou.
Bag.11.7 - Hoje mesmo, e neste mesmo
lugar, vais tu contemplar, ó Arjuna, o mundo inteiro
dos animados e inanimados, unificado no Meu corpo, e tudo o que tu desejas
observar.
Bag.11.8 - Persuado-Me,
porém, de que tu não poderás atingi-lo com esses olhos humanos. Vou-te dar a
visão divina com que, num relance, apanharás toda a Minha maravilha.
Bag.11.9 - SANJAIA: — Dito isto, ó
Majestade, Shri Crisna, o maior Yogui, revelou a Arjuna a sua magna forma.
Bag.11.10 - Era uma forma majestosa, com
miríades de faces e inúmeros olhos, que se multiplicava em outras tantas
formas, com inumeráveis ornamentos e armas variadas nas suas mãos.
Bag.11.11 - Trazia grinaldas e trajes
sublimes, com o corpo todo odorífero, untado dos bálsamos aromáticos divinos,
com as faces numerosas dirigidas para todos os lados, portentoso no seu aspecto
singular.
Bag.11.12 - O seu esplendor era tão
grande que se não poderia comparar com a luz de milhares de sóis reunidos e
brilhando simultaneamente no céu.
Bag.11.13 - E Arjuna
viu nela o mundo inteiro dividido em miríades de formas, mas unificado no corpo
do Deus dos deuses.
Bag.11.14 - E com essa visão, Arjuna, todo espavorido, com arrepios, prosternou-se
perante aquela figura grandiosa, e com as mãos unidas, disse:
Bag.11.15 - ARJUNA: — No vosso corpo que
ostentais, ó Deus, vejo eu todos os deuses em peso e variadas legiões dos
seres: Brama, o Deus criador sentado na flor de lótus, com rixis
na máxima serenidade e a serpente divina ao seu lado.
Bag.11.16 - Vejo os vossos braços, os
ventres, os olhos e as faces em número ilimitado. Vejo também vossas formas
infinitas percorrerem por todos os lados; não descubro, porém, o começo nem o
meio, nem o fim, ó Senhor do Universo, ó Mestre Soberano!
Bag.11.17 - Vejo-Vos, Senhor, com a
coroa, o disco e a maça de uma refulgência tal que me ofusca a vista,
irradiando por toda a parte, como a luz do fogo ou do Sol.
Bag.11.18 - Vós sois
o Imutável Supremo que primeiro temos que conhecer. Sois o alto suporte e a
grande mansão do universo. Sois o guarda imperecível das leis eternas e
essência sempiterna do universo.
Bag.11.19 - Sem o começo, nem o meio,
nem o fim, sois infinito no poder, com os braços inúmeros e os olhos brilhando
como o Sol ou a Lua. Eu Vos contemplo a fisionomia a
arder de fogo, transparecendo que tendes o firme propósito de consumir o
universo inteiro nas suas chamas.
Bag.11.20 - Vós, o único, ocupais todo o
espaço entre a terra e o céu, e o mundo todo já perdeu o alento em vendo essa
Vossa temerosa figura.
Bag.11.21 – Eis-me aqui diante das
legiões dos deuses que se incorporam na vossa colossal figura, com as suas mãos
unidas, a Vos venerar. Eis lá os rixis e os perfeitos
a implorar a paz e felicidade para todos, gloriando-Vos com hinos laudatórios;
Bag.11.22 - Eis acolá os Rudras, os Adítias, os Vassus, os Sadhias, os Asvinas, os Marutas, os Usmapas,
os Gandharvas, os Yacxas,
os Assuras, os Sidhas,
todos a fitarem espantados a Vossa majestosa figura.
Bag.11.23 - O pavor e a angústia
apoderaram-se deles e de mim, também, em ver essa Vossa figura colossal, com
miríades de cabeças, de olhos, de braços, de coxas, de pés e de ventres e de
miríades de bocas com as dentaduras horrorosas.
Bag.11.24 - Vejo-Vos
ocupando todo o espaço, flamejando em cores variadas, com as bocas abertas e os
olhos enormes e brilhantes, o que me infunde o medo e a inquietação.
Bag.11.25 - Tende misericórdia por mim,
ó Deus dos deuses! Vou perdendo o alento e não sei orientar-me, vendo-Vos com
miríades de bocas com dentes terríveis a vomitar chamas, para acabar, duma vez,
o mundo.
Bag.11.26 - Eis os filhos de Dhratarashtra e todos os príncipes e, bem assim, os heróis Bhisma, Dronacharia e Carna, e
também os principais combatentes do nosso exército,
Bag.11.27 - Vejo-os caírem, uns após
outros, nas Vossas mandíbulas terríveis e alguns, já, com as cabeças esmagadas
e sangrentas, estão engasgados nos Vossos queixais.
Bag.11.28 - Assim como as águas dos rios
correm pressurosas para se lançarem no mar, assim esses grandes heróis se
precipitam nas Vossas bocas flamejantes;
Bag.11.29 - Assim como os insectos
fototácticos voam céleres à chama incandescente que os consome, assim essas
legiões de homens se precipitam nas Vossas mandíbulas fatais.
Bag.11.30 - E Vós, já depois de
consumirdes todos eles que entraram nas braseiras das Vossas bocas, estais a lamber os Vossos beiços com línguas flamantes. Ó
Infinito, o mundo todo se sente abrasado com o Vosso fogo!
Bag.11.31 - Revelai-me
quem sois Vós, que revestis essa forma tão gigantesca e cruel! Ó Deus Supremo, curvo-me reverente perante Vós. Dai-me a Vossa graça;
desejo conhecer-Vos! Donde viestes? Incompreensível é para mim o plano das
Vossas obras!
Bag.11.32 - SHRI CRISNA: — Sou o Tempo,
o destruidor do mundo; eis-me aqui para exterminar todos os povos. Exceptuando
tu, ó Arjuna, ambos esses exércitos alinhados
acabarão para sempre.
Bag.11.33 - Levanta-te, ó Arjuna, para conquistar a glória, triunfando dos inimigos,
e desfrutar o governo deste território opulento. Para Mim, eles já são mortos.
Sê tu, somente, a causa ocasional da exterminação deles.
Bag.11.34 - Acaba com eles, que são
mortos, por Mim: o Drona, o Bhisma,
o Jaiandratha, o Carna e outros cabos de guerra. Luta
tu; vencerás, certamente, os adversários na batalha.
Bag.11.35 - SANJAIA:
— Arjuna, ouvindo essas palavras de Shri Crisna, com
as mãos unidas, todo atrapalhado, curvou-se perante ele e com a voz trémula
disse:
Bag.11.36 - ARJUNA: — Ó Soberano Mestre,
é alegria e enlevo para os homens gloriar-Vos; é natural que os infiéis
selvagens fujam de Vós, por não Vos conhecerem, e os perfeitos Vos venerem.
Bag.11.37 - E estes Vos prestam
homenagens sabendo que Vós sois o Criador original, maior que Brama, o criador.
Ó Infinito! Senhor dos deuses! Ó Mansão do universo, Vós sois
o Absoluto Imutável, superior ao ser e não ser.
Bag.11.38 - Vós sois
Deus Primordial, Deus Original, Deus Único, Mansão Suprema de todo o universo;
sois o conhecedor, o conhecimento e a condição suprema; ó Infinito, Vós revestis todo este universo!
Bag.11.39 - Vós sois
o Poder executivo das leis eternas; sois o fogo, o ar, a água, a Lua, o Pai do
criador Brama e de todas as criaturas. Eu Vos saúdo
mil vezes, muitas vezes, sempre!
Bag.11.40 - Saúdo-Vos
pela frente, por trás, por todos os lados; porque Vós sois
cada coisa e tudo deste universo. Sois infinito no poder e sem limites na
produção. Ocupais tudo; sois omnímodo!
Bag.11.41 - Mas eu,
sem me compenetrar da Vossa majestade, quer pela minha imprudência, quer por
irreflexão, ou em consideração da nossa amizade, Vos dirigi dizendo sempre: «Ó
Crisna, ó Yadava, ó amigo!»;
Bag.11.42 - E por ignorância, me portei
sempre sem cortesia, nos passeios fluviais, ao descansar, ao sentar, ao jantar,
e em todas as ocasiões, quer privadas, quer públicas. Imploro-Vos o perdão por
tudo isso.
Bag.11.43 - Vós sois
o Pai deste mundo dos animados e inanimados; sois o Soberano Mestre, o único
venerável neste universo, incomparável e inigualável.
Bag.11.44 - Curvo-me
reverente perante Vós; prosterno-me humildemente para a Vossa graça; Senhor
Venerável, sede indulgente para comigo, como um pai para com o seu filho, um
amigo para com o seu amigo, ou um amante para com a sua amada.
Bag.11.45 - Rejubilo-me
de ter visto a maravilha sublime; mas, o pavor que se tinha apoderado de mim
não passou ainda. Imploro a Vossa graça para eu poder tornar a ver a Vossa
forma primitiva.
Bag.11.46 - Desejo-Vos
ver na vossa forma humana, com a coroa, o disco e a maça. Ó Infinito, absorvei esses miríades de braços, deixando, somente, os quatro
usuais!
Bag.11.47 - SHRI CRISNA: — Por graça, e
pelo poder maravilhoso, apresentei-te a Minha forma suprema, da potencialidade
extrema, infinita, original, universal, que ninguém, exceptuando tu, jamais
viu.
Bag.11.48 - Só tu,
ó Arjuna, tiveste a sorte de observar essa Minha
forma, entre os mortais. Nem pelo estudo dos Vedas e pelos sacrifícios, nem
pelas grandes oferendas, nem pelo ritual grandioso das cerimónias, nem pelas
austeridades severas, se consegue vê-la.
Bag.11.49 - Não te inquietes com essa
visão terrível da Minha forma nem te deixes comover nem desfalecer. Larga o
medo e vai tu ver, com alegria, esta Minha forma.
Bag.11.50 - SANJAIA:
— Shri Crisna, o Supremo, falando assim a Arjuna,
manifestou-se de novo na sua forma afável habitual, e deste modo consolou-o.
Bag.11.51 - ARJUNA: — Vendo-Vos, agora,
na Vossa doce forma humana, ó Shri Crisna, já me sinto tranquilo e regressei ao
meu estado habitual.
Bag.11.52 - SHRI CRISNA: — A forma
suprema que tu acabaste de contemplar é a que os próprios deuses aspiram ver
sempre.
Bag.11.53 - Nem o estudo dos Vedas, nem
a caridade, nem os sacrifícios, nem as austeridades permitirão alcançá-la.
Bag.11.54 - Só com a devoção intensa, ó Arjuna, é possível vê-la, conhecê-la e penetrar na essência
desta minha forma.
Bag.11.55 - E, ó Arjuna,
aquele que se considera a si como instrumento Meu, em todas as acções aceita-Me
como Supremo e Me ama com o amor sublime, desprendido de todas as coisas deste
mundo e sem inimizade para com nenhuma criatura, esse atinge-Me.
Caminho da devoção
Bag.12.1 - ARJUNA:
— Os Yoguis adoram o Deus pessoal e os sábios amam o
Absoluto imutável, não manifestado; desejo saber quem prima entre os dois.
Bag.12.2 - SHRI CRISNA: — Aquele que,
com a fé extrema, concentra o seu espírito em Mim, está em união comigo, Eu o
tenho por Yogui devoto.
Bag.12.3 - Aquele que adora o Absoluto
omnipresente, não manifestado, essência eterna de tudo, imutável e
inconcebível,
Bag.12.4 - E tendo ele conquistado o
auto-domínio, trata como iguais todas as criaturas e consagra toda a sua
existência para o bem de todos, Me chega, também.
Bag.12.5 - Mas é pesado o esforço a que
esse tem de se sujeitar para amar o Absoluto. É uma tarefa árdua para o homem,
em geral.
Bag.12.6 - Porém, se renuncia em Mim
todas as suas acções, dedicando-se-Me inteiramente, adorando-Me
ininterruptamente, meditando em Mim, profundamente,
Bag.12.7 - E fixa todo o seu espírito em
Mim, Eu o livro deste oceano tempestuoso do viver e do agir que o leva, no
final, à morte.
Bag.12.8 - Por isso, concentra tu toda a
atenção em Mim, polariza toda a tua inteligência em Mim, e desta forma, sem
dúvida, residirás em Mim.
Bag.12.9 - Se não és capaz de fixar todo
o teu espírito em Mim, persevera em habilitar-te na prática do Yoga, e assim Me
atingirás a Mim.
Bag.12.10 - Se, ainda, és incapaz dessa
prática, então adopta tu o princípio de servir-Me, isto é, praticar todas as
acções pelo amor de Mim, e assim alcançarás a perfeição.
Bag.12.11 - E se tu te julgas, ainda,
incapaz disso, então o único meio que tens é o de capitular e,
conseguintemente, com a reflexão, renunciar a Mim todos os frutos das tuas
acções.
Bag.12.12 - Pois do esforço do homem ao conhecimento
da verdade é um passo; do conhecimento da verdade à sua contemplação, é outro;
da contemplação ao renunciar dos frutos das acções, é o terceiro; e logo em
seguida a paz suprema. Eis a norma natural da devoção.
Bag.12.13 - Assim, aquele que não odeia
nenhuma criatura e é amigo de todos e piedoso, sem egoísmo nem possessivo,
equânime perante o prazer e a dor, e indulgente,
Bag.12.14 - E bem assim, sempre contente
e mestre de si, da resolução firme, Me ama dedicando-Me toda a sua mente e a
razão, é devoto Meu querido.
Bag.12.15 - Aquele que não enfastia
ninguém, nem é enfastiado pela sociedade, e é isento da paixão, da cólera, do
medo e da angústia, é devoto da Minha predilecção.
Bag.12.16 - Aquele que não ambiciona
coisa alguma deste mundo, é puro, sempre pronto para servir quem quer que seja,
abnegado, sem paixões, renunciou todas as iniciativas, é devoto a quem amo.
Bag.12.17 - É devoto, também, aquele que
não exulta nem se entristece, não deplora nada, sem desejos, renunciou ao bem
como ao mal e sempre dedicado para Mim.
Bag.12.18 - Aquele que vê na igualdade
os amigos e os inimigos, é equânime perante a honra e o opróbrio, o calor e o
frio, o prazer e a dor, desprendido de tudo,
Bag.12.19 – E é indiferente perante a
glória e a obscuridade, silencioso, sempre satisfeito, sem o domicílio fixo, e
imerso em Mim, é devoto que prezo.
Bag.12.20 - E tenho por melhor devoto
quem faz de Mim o seu único fim supremo e, com a fé e a exactidão perfeitas,
segue as normas enunciadas na lei imortal da devoção.
Primeiros princípios
Bag.13.1 - SHRI CRISNA: — O nosso corpo
é chamado o campo, ó Arjuna, e quem conhece esse
campo é chamado o conhecedor do campo, pelos sábios.
Bag.13.2 - Compreende tu
que sou Eu o conhecedor do campo, em todos os corpos e, ó Arjuna,
o conhecimento desse campo e o do seu conhecedor constitui o conhecimento
propriamente dito.
Bag.13.3 - Que é esse campo? Qual é a
sua natureza? Quais são as suas propriedades? Donde provém ele? Bem assim, quem
é esse conhecedor do campo? Quais são as suas actividades? Vou-te explicar,
resumidamente, para teu saber:
Bag.13.4 - Todas essas questões têm sido
abordadas pelos rixis, a seus modos, nos Vedas,
dedicando-lhes até estrofes sublimes; mas a análise racional do problema
encontra-se em Bramassutras, em linguagem clara e
concisa.
Bag.13.5 - Esse campo é um agregado de Prakriti (a Natureza não diferenciada, princípio eterno da
evolução e da acção), do produto da sua evolução inorgânica: os cinco elementos
(o espaço, o ar, a água, o fogo e a terra), do resultado da sua evolução
orgânica: os dez sentidos e uma mente, a inteligência, a intuição do eu, e,
enfim, os cinco objectos dos sentidos;
Bag.13.6 - A coesão destes elementos, a
sua organização, a força vital, a atracção e a repulsão, o prazer e a dor, tudo
isto é o campo com as suas formações.
Bag.13.7 - A antipatia pelas honras e
estima, a isenção total da hipocrisia, a não violência,
a indulgência, a rectidão, a veneração do mestre, a pureza, a firmeza, o
auto-domínio,
Bag.13.8 - O desprendimento dos prazeres
dos sentidos, a eliminação radical do egoísmo, a compreensão nítida de que o
nascimento, a morte, a velhice e as doenças são o sofrimento e a dor no homem,
Bag.13.9 - Não ser absorto pelo lar, nem
ser preso absolutamente à família, a equanimidade perante a adversidade e, bem
assim, perante a prosperidade,
Bag.13.10 - Uma devoção fervorosa, sem
afrouxamento, a adoração constante da presença universal do eterno, o gosto
pela solidão, a vida apartada de toda a multidão ou agregados sociais,
Bag.13.11 - A meditação dos problemas
metafísicos, a consciência de que a ciência espiritual é eterna, tudo isto é
declarado como sapiência, o reverso é a ignorância.
Bag.13.12 - Agora, vou-te
abordar o conhecimento fundamental que, uma vez assimilado, te enlevará para a
imortalidade: é o Supremo Brahman Eterno, que se não
pode designar pela palavra existência ou não existência:
Bag.13.13 - As suas mãos e os seus pés
existem em toda a parte, ao redor de nós. São inúmeras as suas cabeças, as suas
faces, as suas bocas; os seus olhos dirigindo-se em todos os lugares; as suas
orelhas se encontram em toda a parte; abrangendo todo o universo, se excede;
Bag.13.14 - Evidencia-se por todas as
actividades dos sentidos, mas sem os respectivos órgãos. Não se prende a coisa
alguma, não obstante ser suporte de tudo. Tem todas as qualidades, não sendo,
porém, qualificável;
Bag.13.15 - É o único que existe no
íntimo de todos os seres animados e inanimados e fora também. É móvel e imóvel
ao mesmo tempo. Está longe, encontrando-se, porém, perto. É a subtileza dos
subtis, e por isso é incompreensível;
Bag.13.16 - Ele é uno e indivisível, mas
mostra-se dividido em variadas criaturas, dando aparência de existências
distintas. É a origem eterna de todas as existências, o amparo de todos os
seres e, enfim, o absorvedor de tudo, na sua eternidade.
Bag.13.17 - É a luz das luzes, o
esplendor além das trevas profundas da nossa ignorância. É o conhecimento e o
objecto do conhecimento, residindo no íntimo de tudo.
Bag.13.18 - Já te expliquei,
sumariamente, o que é o campo, o que é o conhecimento e o que é o objecto do
conhecimento. Todo o meu devoto que conhece essa verdade, atinge-Me.
Bag.13.19 - Sabe tu que a Natureza e o
Espírito são ambos sem origem e eternos; e sabe, também, que a Natureza é a
causa determinante da evolução universal.
Bag.13.20 - O princípio da causalidade e
o da acção provêm da Natureza. O Espírito, colhendo as sensações dos objectos
exteriores, converte-as em percepções do prazer e da dor.
Bag.13.21 - O Espírito, sendo inseparável
da Natureza, reflecte em si as actividades dela, e esta atracção pelas
qualidades sujeita-o a moldes variados, bons ou maus, do seu nascimento, na
Natureza.
Bag.13.22 - O Espírito, inserido no
nosso corpo, assistindo a todos os actos da Natureza, anuindo-os,
sustentando-os, desfrutando as suas produções, é o Eu Supremo, soberano, todo poderoso.
Bag.13.23 - Assim, aquele que conhece,
desse modo, o Espírito e a Natureza com as suas qualidades, qualquer que seja a
sua maneira de viver e agir, não está sujeito ao ciclo da vida e morte.
Bag.13.24 - Esse conhecimento se adquire
pela introspecção, em que o Eu eterno se torna aparente na própria existência
humana, ou se adquire peio Yoga da inteligência ou pelo Yoga da acção.
Bag.13.25 - Mas o homem, em geral, que
ignora essas vias do Yoga, adquire a Verdade escutando com fé e atenção os
preceitos ditados pelos mestres e meditando-os, e, assim, evita o ciclo da vida
e morte.
Bag.13.26 - Sabe, ó Arjuna,
que todo o ser que vem ao mundo, quer animado quer inanimado, é o resultado da
união do Espírito e da Natureza.
Bag.13.27 - Aquele que vê o Ente
supremo, indistintamente, em toda a existência espaço-temporal,
isto é, o imperecível no perecível, só este vê realmente.
Bag.13.28 - Aquele que compreende que o
Ente supremo existe em todas as coisas e em todos os seres e, sendo incapaz de
se deixar arrastar pelas paixões, atinge a condição suprema,
Bag.13.29 - Aquele que compreende que
toda a acção é o atributo da Natureza, e que o Espírito só assiste impassível
aos actos dela, é o sábio,
Bag.13.30 - E quem chega a compreender
que toda essa multiplicidade de existências se sucede no único Ser Supremo, e
que tudo dimana d'Ele, atinge o Brahman.
Bag.13.31 - Ó Arjuna,
o Ser Supremo é sem origem e Eterno, não limitado pelas qualidades da Natureza,
imperecível, e não obstante se encontrar no nosso corpo, Ele não age nem é
afectado.
Bag.13.32 - Assim como o éter subtil
enche todo o espaço e penetra todos os corpos, sem se alterar, assim o supremo
Espírito, existindo em todas as partes do nosso corpo, não é afectado.
Bag.13.33 - Assim como o único Sol
ilumina a terra inteira, assim o senhor do campo ilumina o campo inteiro, ó Arjuna!
Bag.13.34 - Aquele que, pelos olhos do
conhecimento, chega a compreender a distinção entre o campo e o seu conhecedor
e o segredo da libertação do jugo da Natureza, atinge o Supremo.
A natureza e as suas qualidades
Bag.14.1 - SHRI CRISNA: — Vou-te
introduzir agora, ó Arjuna, no conhecimento supremo,
sabedoria em extremo, cuja integração conduziu muitos sábios à perfeição.
Bag.14.2 - Recorrendo-se a esse
conhecimento, os sábios identificam-se Comigo, e assim evitam o nascimento
durante a criação universal e a aflição da dissolução do universo cósmico.
Bag.14.3 - A Natureza é a matriz em que
Eu projecto o gérmen para se desenvolver; e brotam
dela todos os seres deste mundo, ó Arjuna!
Bag.14.4 - Ela é a mãe, origem de todas
as espécies vegetais e animais, variadas que sejam, na aparência, as suas
matrizes geradoras, e Eu, o pai que lanço semente em
todas elas.
Bag.14.5 - As três qualidades Satva, Raja e Tama, nascidas da
Natureza, fazem aprisionar, no nosso corpo, o seu senhor imperecível, ó Arjuna!
Bag.14.6 - Dentre elas a Satva é o farol da luz e a fonte da saúde, que, pela sua
pureza, prende o homem ao conhecimento espiritual e à bem-aventurança.
Bag.14.7 - A Raja tem por essência a
atracção pelos objectos, que, gerando o desejo, prende o homem à acção.
Bag.14.8 - A Tama
envolve todos os mortais no véu da ignorância, arrastando-os à preguiça, à
indiferença e ao sono.
Bag.14.9 - Em suma, a Satva liga o homem à felicidade suprema, a Raja condu-lo à
acção e a Tama, cobrindo-o com o véu da ignorância,
encerra-o na inércia, na apatia.
Bag.14.10 - Umas vezes é a Satva que predomina, vencendo as duas, a Raja e a Tama; outras vezes a Raja domina a Satva
e a Tama; ou a Tama se
eleva acima da Satva e da Raja, ó Arjuna!
Bag.14.11 - Quando no homem os órgãos
dos sentidos se mostram vivos e a inteligência é lúcida, deve-se compreender
que na natureza dele há acréscimo da qualidade sátvica.
Bag.14.12 - A ambição, o dinamismo, a
iniciativa da acção, a inquietação e o desejo, são sinais da predominância da
Raja.
Bag.14.13 - A ignorância, a preguiça, a
negligência, a aberração, tudo isto nasce quando a Tama
predomina.
Bag.14.14 - Quando a qualidade Satva persiste no homem até ao último suspiro, o seu
espírito atinge o mundo dos sábios virtuosos, e lá retoma ele o novo corpo.
Bag.14.15 - Aquele que expira com a
predominância da qualidade Raja renasce no meio social activo e o da Tama no meio dos ignorantes e brutos.
Bag.14.16 - O fruto das obras praticadas
com rectidão (obras Sátvicas) é a pureza de todos os
sentidos. A dor é a consequência das obras rajásicas
e a ignorância é o resultado da acção tamásica.
Bag.14.17 - O conhecimento espiritual
procede da qualidade Satva; a ambição nasce da Raja;
e a ignorância, a ilusão e a negligência provêm da Tama.
Bag.14.18 - A ascensão espiritual é
apanágio do homem sátvico; a vida mundana cabe ao rajásico; o aviltamento é a sorte do tamásico,
praticando actos indignos.
Bag.14.19 - Quando o homem chega a
conhecer, profundamente, que todas acções, quer físicas quer morais, procedem
das qualidades da Natureza e que, para além delas, existe o Supremo, que
assiste a todos os mecanismos vitais, e se dirige a Ele, este atinge-Me;
Bag.14.20 - Quando o homem transcende as
qualidades da Natureza que dirigem todas as actividades vitais, livra-se do
nascimento, da decrepitude, da velhice, de todos os sofrimentos e da morte e
chega à imortalidade.
Bag.14.21 - ARJUNA: — Dizei-me, Senhor,
os sinais evidentes daquele que transcendeu as três qualidades da Natureza.
Como se porta ele? De que modo transcendeu ele essas qualidades?
Bag.14.22 - SHRI CRISNA: — Ó Arjuna, aquele que não se escusa, nem foge à luz súbita no
espírito (resultado da Satva crescente), ao impulso à
acção (resultado da Raja crescente) e ao obscurecimento mental (resultado da Tama crescente), nem os deseja quando eles cessam;
Bag.14.23 - Indiferente a tudo, não se
deixando influenciar pelas qualidades, conserva-se impassível, pela razão de
que toda a acção procede do jogo da Natureza;
Bag.14.24 - Considera o prazer e a dor
como sendo da mesma categoria, e toma por iguais a terra, a pedra e o ouro;
firme, equânime perante o agradável e o desagradável, a glória e o ultraje;
Bag.14.25 - Considera também que a honra
e o ultraje são da mesma ordem, igual perante a facção dos amigos e a dos
inimigos, e não é atreito à iniciativa do proveito material, esse homem
transcendeu as qualidades da Natureza; ele é espiritual.
Bag.14.26 - E esse, quando Me ama, Me
adora com amor fervoroso, ultrapassando as qualidades da Natureza, se torna
capaz de se identificar com Brahman.
Bag.14.27 - Porque sou
Eu a base de Brahman, da imortalidade, do princípio
espiritual, da lei da vida eterna e da beatitude.
O princípio espiritual no cosmo e no
homem
Bag.15.1 - O universo cósmico é
figurado, pelos sábios, no Ashvatha imperecível
(árvore do pimpol), que tem as suas raízes no alto (eternidade), os seus ramos
se estendem em baixo (no mundo) e as suas folhas representam os hinos védicos.
Quem o conhece é o conhecedor dos Vedas;
Bag.15.2 - Os seus ramos, estendendo-se
em baixo, dirigem-se para o alto e, impregnando-se das qualidades da Natureza,
brotam gomos para novos ramos e novas raízes; as suas folhas verdes são os
objectos dos sentidos e as suas novas raízes, irrigadas pelos desejos, dando o
impulso à roda da acção, aprofundam mais e mais, neste mundo.
Bag.15.3 - A sua forma completa, tal
como se acha descrita, é um mistério neste mundo material dos homens; não se
sabe o seu começo, nem o seu termo, nem a sua situação. Enraizado profundamente
esse Ashvatha, é indispensável derrubar o seu trono
com o machado do ascetismo;
Bag.15.4 - Entranhar-se e, descobrindo
as suas raízes, caminhar e caminhar até atingir o Ser Supremo original de que
dimana este mundo da acção e donde ninguém regressa, lá chegado uma vez.
Bag.15.5 - Mas atingem esse Infinito Supremo só aqueles
que são isentos de orgulho e vaidade e de tudo o que alimenta ilusão, sem
ambições, tipos concentrados, livres dos desejos e da dualidade do prazer e dor
e que têm conhecimentos profundos de tudo.
Bag.15.6 - Lá não há sol que os ilumine,
nem a Lua que lhes dê o fresco luar, nem o fogo que os aqueça, e os homens que
o atingem não mais regressam. É a Minha Suprema Mansão.
Bag.15.7 - Uma pequena fracção do meu
Ser Supremo se torna espírito em todas as criaturas vivas, neste mundo cósmico,
atraindo os cinco sentidos e o mental da Natureza.
Bag.15.8 - Assim, o espírito, quando
reveste o corpo, da mesma forma quando o rejeita, leva consigo esses sentidos e
o mental, tal como a corrente aérea arrasta consigo o aroma exalado das flores.
Bag.15.9 - Imperando nos sentidos do ouvido,
da vista, do tacto, do gosto, do olfacto e no mental, o espírito do homem frui
todos os prazeres dela.
Bag.15.10 - O espírito, quando rejeita o
corpo ou quando o reveste, aliando-se às qualidades da Natureza, desfruta os
prazeres dos sentidos e é incompreendido do homem vulgar; só o vê aquele que
tem olhos de sabedoria.
Bag.15.11 - Os Yoguis,
pelos seus esforços perseverantes, chegam a observá-lo em si próprio; o homem
vulgar e, bem assim, o ignorante, mesmo com maiores esforços, não conseguem
vê-lo.
Bag.15.12 - A energia do Sol que
vivifica todos os seres, o luar, o calor do fogo, todas estas energias emanam
de Mim.
Bag.15.13 - Penetrando na terra, pelo
Meu poder, sustento nela toda essa multiplicidade de seres e, tornando-Me a
seiva, nutro todo o reino vegetal.
Bag.15.14 - Tornando-Me a flama da vida
no corpo de todas as espécies animais, dirijo o sistema nervoso e muscular do
aparelho digestivo e faço assimilar toda a diversidade de alimentos, a fim de
assegurar a sua conservação.
Bag.15.15 - Estou no íntimo de todos os
homens e de Mim procedem neles a razão, a memória, o conhecimento e também a
carência dessas faculdades; sou Eu o cognoscível dos Vedas, o autor do Vedanta
e o conhecedor dos Vedas também.
Bag.15.16 - Há dois seres no universo: o
perecível e o imperecível. O primeiro abraça as formas de todas as criaturas e
o segundo é a essência de todas elas.
Bag.15.17 - Além destes dois seres,
existe o terceiro, que é chamado Paramatman (Supremo
Ser Imutável), essência primordial eterna, origem de tudo e penetrando tudo.
Bag.15.18 - Esse ser sou
Eu e, estando além do perecível e muito acima do imperecível, sou proclamado Purushotama (Supremo Ser) pelos sábios nos Vedas e, por
consequência, no mundo.
Bag.15.19 - Assim, o sábio que Me
considera como Supremo Ser, expulsando todas as suas ilusões e conhecendo
profundamente tudo, adora-Me com todo o seu coração, em todas as formas.
Bag.15.20 - Já te instruí
sobre o conhecimento, o mais misterioso, ó Arjuna.
Assimilá-lo absolutamente é tornar-se perfeito e, no sentido mais lato, é
realizar a vida
Espiritualidade e materialidade
Bag.16.1 - SHRI CRISNA: — A coragem, a
candura, a firmeza no Yoga da inteligência, a beneficência, o auto-domínio, o
sacrifício, a meditação, a ascese, a rectidão,
Bag.16.2 - A não violência,
a verdade, a moderação, a abnegação, a calma, a magnanimidade, a compaixão por
todos os seres, a ausência da cobiça, a humildade, a consciência pura, o
equilíbrio estável,
Bag.16.3 - A energia, a indulgência, a
paciência, a pureza, a tolerância, a aversão pela celebridade, todas estas
qualidades são prerrogativas da espiritualidade no homem.
Bag.16.4 - A presunção, a arrogância, o
amor-próprio, a cólera, a rudeza e a ignorância são atributos dos que propendem
para a materialidade.
Bag.16.5 - A espiritualidade conduz o
homem para a sua libertação do mundo cósmico; ao contrário, a materialidade
para a escravidão desse mundo; não te aflijas, ó Arjuna,
pois tu nasceste para a espiritualidade.
Bag.16.6 - São duas as constituições
distintas dos homens que nascem neste mundo: uma propende para a
espiritualidade e a outra para a materialidade. Já te dei os pormenores da
primeira; compreende agora os da segunda:
Bag.16.7 - Os homens que tendem para a
materialidade não têm o conhecimento da acção, isto é, não sabem eles o que é
permitido e o que é proibido fazer; não têm a pureza dos costumes e são
completamente ignorantes da verdade.
Bag.16.8 - Dizem eles que o mundo é um
acaso, sem leis nem ordem, e não admitem a existência de Deus, atribuindo a
origem das criaturas à união sexual, que tem a sua base unicamente no desejo.
Bag.16.9 - E firmando-se nessa
ignorância crassa, arruínam a sua alma e a razão e se tornam instrumentos da
acção violenta, feroz e demoníaca da destruição do mundo e a sua ordem.
Bag.16.10 - Orientados pelo insaciável
desejo, esses arrogantes com amor próprio, cegos de
orgulho, mal dirigidos, persistem nas suas aspirações falsas e, obstinados,
praticam actos indecorosos da dignidade humana.
Bag.16.11 - Imaginam eles
que os prazeres sensuais são o único fim da vida, e com esta convicção firme se
lhes prendem até ao momento da sua morte, com furor extremo.
Bag.16.12 - Presos por ambições
desmedidas, devorados pela cólera e cobiça, dão-se aos ganhos ilícitos, sem se
fatigarem, com o único fim de satisfazer os seus apetites baixos.
Bag.16.13 - Cada um deles diz: «Hoje eu
ganhei tanto, amanhã satisfarei outros meus desejos;
tenho esta riqueza, amanhã multiplicá-la-ei.
Bag.16.14 - «Suplantei hoje um rival,
amanhã vencerei outros. Sou o senhor, o fruitivo, o perfeito, o poderoso e o
feliz.
Bag.16.15 - «Sou o rico e pertenço a
nobre linhagem, sou inigualável, farei o sacrifício, a caridade e gozarei». Ê
desta forma que eles alimentam as suas ilusões.
Bag.16.16 - Assim, alucinados pelas ideias
egoístas, entregues à embriaguez de gozos sensuais, caem no inferno impuro dos
seus próprios vícios.
Bag.16.17 - Com orgulho e soberba,
cheios de riquezas, oferecem sacrifícios e praticam caridade com o mero fim de
ostentação, não seguindo a ordem prescrita em semelhantes actos.
Bag.16.18 - Na embriaguez do seu
egoísmo, da força, da arrogância, cheios de desejos e cólera, odeiam os seus
semelhantes, rebaixando desta forma o Deus oculto neles e em si.
Bag.16.19 - E esses que odeiam o bem e
Deus, tipos cruéis, os mais vis entre os homens deste mundo, dão contínuas
reviravoltas na materialidade pela lei da acção por Mim regulada.
Bag.16.20 - E permanecendo na
materialidade durante as suas vidas sucessivas, descem mais e mais e, enfim,
perdem-se sem Me atingirem.
Bag.16.21 - O desejo, a cólera e a
cobiça arruínam a alma humana; são três portas que se abrem para o inferno. O
homem deve sempre evitar aproximar-se delas.
Bag.16.22 - O homem que escapa a essas
portas de trevas e segue o caminho do seu bem alcança a condição suprema, ó Arjuna.
Bag.16.23 - Aqueles que, rejeitando as
leis da experiência dos sábios, seguem os seus apetites, não atingem a
perfeição nem a felicidade suprema.
Bag.16.24 - Por isso, a lei deve ser
considerada como a autoridade para decidir o que se deve fazer e o que se deve
evitar. Tendo, primeiro, o conhecimento da lei prescrita, deves tu exercer as
tuas actividades no mundo.
Variadas tríades
Bag.17.1 - ARJUNA: — Aqueles
que oferecem sacrifícios a Brahman, com todo o
coração, mas sem a observância da regra prescrita pelos sábios, como Tu
classificas a fé deles? É sátvica, rajásica ou tamásica?
Bag.17.2 - SHRI CRISNA: — A fé no homem
corresponde à sua natureza particular, e é sátvica, rajásica e tamásica. Compreende
tu, ó Arjuna.
Bag.17.3 - Ela toma a matiz que lhe dá a
substância do seu ser. O homem é o que é a sua fé.
Bag.17.4 - Os homens sátvicos
adoram deuses, os rajásicos prestam culto aos guardas
das riquezas e às forças extraordinárias e os tamásicos
veneram os fantasmas e os demónios.
Bag.17.5 - Os homens que praticam
austeridades estupendas, interditas pelas regras, com egoísmo e hipocrisia,
impelidos unicamente pelos desejos e paixões,
Bag.17.6 - E mortificam o seu corpo, e
torturam em vão o espírito, são a execração do género humano.
Bag.17.7 - A alimentação é variável
segundo os homens, e são três as suas espécies; da
mesma maneira há tríade do sacrifício, da austeridade, da caridade prática. Eis
as diferenças:
Bag.17.8 - Os sátvicos
preferem os alimentos que aumentam a vitalidade, a força, a pureza, a saúde, a
felicidade e o amor e que são sumarentos, doces, substanciais e saborosos.
Bag.17.9 - Os rajásicos
são atraídos pelos alimentos amargos, ácidos, salgados, picantes, quentes,
secos e acres, que trazem o mal-estar da saúde e provocam doenças.
Bag.17.10 - Os tamásicos
tomam gosto aos alimentos frios, impuros, estragados, fermentados e
contagiados.
Bag.17.11 - O sacrifício é sátvico quando é feito com serenidade, sem o desejo ao seu
fruto, praticado como um dever e realizado segundo a regra prescrita.
Bag.17.12 - O sacrifício feito com o fim
do proveito pessoal e realizado com ostentação e hipocrisia é rajásica, ó Arjuna.
Bag.17.13 - O sacrifício sem a regra
prescrita, sem a oblação, sem hinos, sem dádivas e sem fé, é chamado tamásico.
Bag.17.14 - A homenagem a Deus, o
respeito pelo brâmane, pelo mestre espiritual e pelo sábio, a pureza, a
rectidão, a continência e a não-violência formam a essência da austeridade
física;
Bag.17.15 - Falar gentil e
agradavelmente, falar sempre a verdade, falar com urbanidade, dissertar sempre
sobre os textos da escritura sagrada, tudo isto constitui a austeridade da
linguagem;
Bag.17.16 - A alegria viva, a
afabilidade, o silêncio, o auto-domínio e a candura constituem a austeridade
mental;
Bag.17.17 - Essa tríade de austeridades
praticadas pelo homem, com fé perfeita e com a luz da razão, sem aspiração aos
seus frutos, é chamada ascese sátvica.
Bag.17.18 - A mesma tríade praticada com
vaidade e hipocrisia, com o fim de ser respeitado, ter honras e veneração, é
chamada ascese rajásica; ela é instável e efémera.
Bag.17.19 - Essa mesma praticada com
obstinação doida, com torturas a si próprio e com o fim de causar dano a
outrem, é chamada tamásica.
Bag.17.20 - A caridade é chamada sátvica quando o donativo é oferecido à pessoa merecedora,
pelo amor de dar e para o bem, em tempo e em lugar próprio, sem esperar
retribuição alguma.
Bag.17.21 - A caridade, quando é feita
com constrangimento e com a esperança de recompensa, é, chamada rajásica.
Bag.17.22 - A caridade sendo praticada
sem consideração às condições do tempo e do lugar e o donativo oferecido a
pessoa indigna e com desdém, é chamada tamásica.
Bag.17.23 - AUM-TAT-SAT, esta tríade de
palavras monossilábicas simboliza o Brahman que, nos
prístinos, tempos deu origem aos brâmanes, aos Vedas e ao sacrifício.
Bag.17.24 - Eis a razão porque todo o
devoto começa os actos de sacrifício, de caridade e de austeridade pronunciando
a sílaba AUM segundo a lei prescrita.
Bag.17.25 - Pronunciando TAT, procura a
sua libertação do ciclo da vida e morte no mundo cósmico, renunciando aos
frutos de sacrifício, de caridade e de austeridade a Brahman.
Bag.17.26 - SAT significa o bem, a
existência, e se emprega também no sentido de boa acção, e se pronuncia essa
palavra a fim de habituar o homem às boas acções.
Bag.17.27 - O SAT é também dedicar toda
a vida aos sacrifícios, à caridade, à austeridade, e fazer destas acções o seu
dever.
Bag.17.28 - O sacrifício, a caridade, a
austeridade e todas as outras acções praticadas sem fé são inconsequentes neste
mundo e noutro também.
Conclusão
Bag.18.1 - ARJUNA: — Desejo conhecer, ó
Crisna, o princípio essencial da renúncia e o do ascetismo e a diferença entre
os dois.
Bag.18.2 - SHRI CRISNA: — Os sábios
chamaram ascetismo ao abandono das acções motivadas pelos desejos e denominaram
renúncia ao abandono completo dos frutos das acções.
Bag.18.3 - Declaram uns sábios que se
deve renunciar a toda a acção por maléfica; dizem outros que nunca se deve
renunciar a acções tais como o sacrifício, a caridade e a austeridade.
Bag.18.4 - Compreende, agora, ó Arjuna, o meu juízo sobre o assunto; a renúncia das acções
tem também a sua tríade diferencial.
Bag.18.5 - De forma alguma se deve
renunciar às acções de sacrifício, de caridade e de austeridade; pelo
contrário, é preciso praticá-las, porque são elas necessárias para tornar pura
a razão do sábio.
Bag.18.6 - E essas acções de bem devem
ser praticadas, ó Arjuna, com desinteresse, sem
aspiração aos seus frutos. É esta a minha opinião definitiva.
Bag.18.7 - Em verdade, não convém
renunciar às acções justamente prescritas; abandoná-las, por ignorância, é
praticar a renúncia tamásica.
Bag.18.8 - O abandono da acção, por ser
penosa ou porque é um tormento para a carne, é considerada como a renúncia rajásica; não tem ele o efeito da renúncia propriamente
dita.
Bag.18.9 - Praticar as acções prescritas
com desinteresse, sem desejos aos seus frutos, e considerá-las como o seu
dever, é sátvica essa renúncia.
Bag.18.10 - O sábio que dissipou todas
as suas dúvidas, pratica a renúncia à luz do seu pensamento sátvico,
não desdenhando a acção desagradável, nem se prendendo à acção agradável.
Bag.18.11 - Na verdade, não é possível
ao homem abandonar completamente as acções. Abandonar o fruto da acção é praticar
a renúncia.
Bag.18.12 - Há tríade de frutos da
acção: agradável, desagradável e misto; e estes só a obtêm aqueles que são
escravos dos seus desejos, e isso também noutro mundo; ficam isentos deles,
aqueles que os renunciaram, previamente.
Bag.18.13 - Vou-te
enumerar, ó Arjuna, as cinco causas da acção, segundo
Sânquia. Compreende tu que esses factores são
necessários para realizar qualquer acção.
Bag.18.14 - São os seguintes: o corpo, o
agente, os diversos instrumentos, as variadas actividades e, enfim, o destino.
Bag.18.15 - Em qualquer acção
empreendida pelo homem, seja corporal, seja mental ou da palavra, quer boa quer
má, são cinco os elementos que entram na sua realização.
Bag.18.16 - Mas o homem ignaro julga que
o Eu é o autor da acção, e deste modo demonstra ele a sua ignorância, ou a
fraqueza da inteligência, ou a cegueira mental.
Bag.18.17 - Aquele que é isento do
egoísmo e que tem a luz da razão perfeita, mesmo que extermine todos os seus
semelhantes deste mundo, não é o autor do crime, porque transcendeu ele a
natureza, diluiu o seu eu no Ser Supremo, e por isso não está ele sujeito aos
vínculos da acção.
Bag.18.18 – O conhecimento, o
cognoscível e o conhecedor, são três os factores que concorrem para o impulso à
acção; do mesmo modo, o autor, os instrumentos e o acto constituem a acção
total.
Bag.18.19 - Há tríade, também, do
conhecimento, da acção e do autor, segundo Sânquia,
em conformidade com as suas qualidades; compreende tu, ó Arjuna:
Bag.18.20 - O conhecimento pelo qual o
homem vê um único Ser imperecível na evolução universal, um todo indivisível em
toda a multiplicidade de seres, este é sátvico;
Bag.18.21 - O conhecimento pelo qual se
vê toda a multiplicidade como existências distintas e de vários aspectos, este
conhecimento é rajásico;
Bag.18.22 - O conhecimento pelo qual o
homem vê as coisas de uma maneira estreita, sem nada compreender da natureza
real do mundo, relacionando tudo à sua parte material em que convergem todas as
suas actividades, é chamado tamásico.
Bag.18.23 - A acção é chamada sátvica quando ela é justamente regulada, realizada com
desinteresse, sem atracção nem repulsão e sem aspirar aos seus frutos;
Bag.18.24 - A acção empreendida sob o
ímpeto de desejos, com egoísmo e com esforços desmedidos, é chamada rajásica;
Bag.18.25 - A acção praticada cegamente,
sem consideração à força ou capacidade, nem às suas consequências, sem calcular
o dano ou violência a outrem, é considerada como tamásica.
Bag.18.26 - O autor é chamado sátvico quando age com abnegação, sem egoísmo, com
resolução firme e com entusiasmo, sendo indiferente perante, o bom ou mau
sucesso;
Bag.18.27 - O autor é chamado rajásico quando age com paixão, com ambição dos frutos de
acção, cobiçoso, impuro, violento e brutal nos meios, alegre quando tenha bom
sucesso e triste com mau sucesso;
Bag.18.28 - O autor, quando é
indisciplinado, vulgar, pérfido, dissimulado, negligente, triste e trapaceiro,
é chamado tamásico.
Bag.18.29 - Compreende, ó Arjuna, que a inteligência e a vontade têm cada uma três
aspectos, segundo as suas qualidades; vou-te explicar tudo, sem nada omitir:
Bag.18.30 - É sátvica
a inteligência quando ela faz compreender o que se deve fazer e o que se não
deve fazer, o que é legítimo e o que é ilegítimo, o que é prejudicial e o que é
útil, o que sujeita à escravidão e o que dá liberdade;
Bag.18.31 - A inteligência que não sabe
discernir o que é lícito e o que é ilícito, o que é justo e o que é injusto, é rajásica, ó Arjuna!
Bag.18.32 - A inteligência obscura, que
toma o imoral por moral, o injusto por justo e vê todas as coisas obtusamente,
é tamásica.
Bag.18.33 - A vontade que nunca vacila e
que dirige firmemente a mente, os sentidos e o sopro vital, esta é chamada sátvica;
Bag.18.34 - A vontade que vigia com
interesse a ambição dos frutos da acção, os deveres, a riqueza e os desejos, é
chamada rajásica;
Bag.18.35 - A vontade que torna o homem
estúpido e o impede de largar o sono, o medo, a dor, a angústia e o orgulho, é
chamada tamásica.
Bag.18.36 - Compreende, agora, ó Arjuna, o que te vou expor sobre a tríade do prazer e,
compenetrando-se deste conhecimento, o homem pode evitar, completamente, a dor:
Bag.18.37 - O prazer que se alcança
empregando, no início da acção, esforços gigantescos e penosos e que dá em
resultado a paz da alma, é chamado sátvico;
Bag.18.38 - O prazer causado pelas
relações dos sentidos com os seus objectos, que no início é como o néctar, mas
no final é peçonha, é chamado rajásico;
Bag.18.39 - O prazer que, tanto no
início como no fim, é uma ilusão e que provém do sono, da preguiça ou da
indolência, é chamado tamásico.
Bag.18.40 - Tanto na terra como no céu,
não existe ente algum que possa isentar-se das três qualidades originadas da
Natureza.
Bag.18.41 - E, segundo a combinação das
variantes dessas qualidades, se constitui o natural do brâmane, do xátria, do vaixia e do sudra.
Bag.18.42 - A calma, o auto-domínio, a
austeridade, a pureza, a indulgência, a rectidão, o conhecimento intuitivo e
discursivo, a fé religiosa, são atributos do brâmane;
Bag.18.43 - O heroísmo, o valor, a
coragem, a vigilância, a não deserção, a generosidade, a autoridade, são
atributos do xátria;
Bag.18.44 - A agricultura, a criação do
gado e o comércio são actividades naturais do vaixia.
Todo o trabalho tendo o carácter de serviço é função natural do sudra,
Bag.18.45 - Todo o homem que se
concentra na acção que convém à sua própria natureza, atinge a perfeição.
Compreende, ó Arjuna, como se atinge a perfeição
praticando as acções adequadas à sua natureza:
Bag.18.46 - O homem atinge a perfeição
adorando, por meio das suas obras, o Ser Supremo, que é origem de todos os
seres e que penetra todo o universo.
Bag.18.47 - É preferível a cada um a sua
própria lei da acção, por imperfeita que seja, à de outrem bem aplicada.
Ninguém incorre no pecado quando age segundo a lei da sua própria natureza.
Bag.18.48 - Nunca se deve abandonar a
acção que se coaduna com a sua natureza, por ser defeituosa; porque toda a
acção consumida tem os defeitos que a encobrem, tal como a fumaça encobre o
fogo.
Bag.18.49 - Aquele que, com
desinteresse, pratica a acção, dominando o mental, extinguindo todos os
desejos, com renúncia inteira de si mesmo, alcança a quietude e chega à
perfeição.
Bag.18.50 - E, chegado desta forma à
perfeição, atinge ele o limiar de Brahman, ordem
suprema da culminância do conhecimento. A maneira como ele o transpõe, vou-te
expor resumidamente, ó Arjuna:
Bag.18.51 - Aquele que purificou a
inteligência, dominou o ser inteiro por uma vontade firme e estável, surdo ao
som e a todos os objectos dos sentidos, isento da dualidade da atracção e
repulsão,
Bag.18.52 - Vivendo na solidão, sóbrio,
dominou a palavra, o corpo e a mente, unido ao seu Eu por meditação constante,
e extinguiu todos os desejos,
Bag.18.53 - Isento do egoísmo, da violência,
da arrogância, da cólera, livre do desejo da posse, ganhou calma e a
impassibilidade, tal homem está prestes a tornar-se Brahman.
Bag.18.54 - Quando se converte em Brahman e quando na sua beatitude não sente aflição e não
deseja nada, começa a adorar-Me, vendo tudo na igualdade.
Bag.18.55 - E por essa via de adoração,
chega ele a conhecer, profundamente, quem sou Eu e quanto Eu sou, e, assim,
conhecendo-Me na essência, penetra em Mim.
Bag.18.56 - E, desta forma, continuando
ele a praticar as acções, refugiando-se em Mim, atinge, por minha graça, a
condição eterna e imperecível.
Bag.18.57 - Por isso, ó Arjuna, dedicando-te a Mim, renunciando todas as tuas
acções a Mim, recorrendo ao Yoga da inteligência, sê tu, de todo o teu coração,
uno Comigo.
Bag.18.58 - Continuando tu uno Comigo, por minha graça, serás capaz de arrostar
todos os perigos. Mas, se perseverares no teu egoísmo, sem atenção aos Meus
preceitos, cairás na perdição.
Bag.18.59 - Tu, na tua obcecação, tens
decidido não tomar parte na batalha; é em vão a tua resolução, pois a tua
própria natureza obrigar-te-á a arremessar a ela.
Bag.18.60 - Ó Arjuna,
conquanto tu asseveras, na tua ilusão, não efectuar a acção coerente com a tua
natureza, esta mesma te impelirá a praticá-la contra a tua expectativa.
Bag.18.61 - O Ser Supremo tem a sua sede
no coração de todas as criaturas e Ele, pelo seu misterioso poder, nos faz
mover no rodar da Natureza.
Bag.18.62 - Por isso, ó Arjuna, vai tu refugiar-te n'Ele, que, com a sua graça, te
fará atingir a paz Suprema, condição eterna.
Bag.18.63 - Já te acabei de expor, com
clareza, o conhecimento o mais secreto, e agora, reflectindo bem nele, procede
tu como quiseres.
Bag.18.64 - Ainda, uma vez, te vou
repetir a Minha palavra suprema, o maior segredo que te vou dizer para teu bem
e porque te prezo muito:
Bag.18.65 - Fixa tu todo o pensamento em
Mim, adora-Me, sacrifica-te a Mim, prosterna-te diante de Mim. Asseguro-te que
chegarás a Mim, pois és meu querido.
Bag.18.66 - Renuncia tu a todos os teus
deveres e obrigações e outros afazeres e refugia-te em Mim único; salvar-te-ei,
está tu em paz.
Bag.18.67 - Recomendo-te
mais que não transmitas estes meus ensinamentos aos que desconhecem a
austeridade, aos irreligiosos, aos ímpios e aos ateus.
Bag.18.68 - Aquele que proclamar este
segredo entre os meus devotos, atingirá a suprema devoção e chegará a Mim.
Bag.18.69 - E esse será para Mim o mais
caro entre os homens, pelos seus actos mui agradáveis para Mim.
Bag.18.70 - Aquele que estudar este
nosso diálogo sagrado, tomá-lo-ei por um devoto que Me ama pelo seu voto do
conhecimento.
Bag.18.71 - E aquele que estudar com fé,
e sem sofismas, este diálogo, chegará ao mundo dos justos e felizes, após
abandonar o seu corpo mortal.
Bag.18.72 - Diz-Me, ó Arjuna, se tu compreendeste bem tudo o que te acabei de
explicar e se te dissiparam as tuas ilusões?
Bag.18.73 - ARJUNA:
— Ó Shri Crisna, a Tua graça dissipou todas as minhas ilusões; recobrei já o
ânimo; cá estou livre de dúvidas, pronto para cumprir os Teus preceitos.
Bag.18.74 - SANJAIA: — Tive a dita de
escutar este maravilhoso e exortativo diálogo entre Shri Crisna e Arjuna.
Bag.18.75 - Por graça de Viassa cheguei a ouvir esse
segredo supremo do Yoga explicado pelo próprio Shri Crisna, Mestre Divino do
Yoga.
Bag.18.76 - Majestade, rememorando, cada
vez, esse maravilhoso diálogo entre Shri Crisna e Arjuna,
rejubilo-me mais e mais.
Bag.18.77 - E ainda mais me rejubilo e
espanto, quando evoco aquele prodigioso vulto de Shri Crisna.
Bag.18.78 - Enfim, lá onde se encontram
juntos o Mestre do Yoga, Shri Crisna, e o arcipotente Arjuna,
está assegurada a glória, a vitória, a prosperidade e a lei imutável da
justiça.
Tradução livre pelo Dr. (médico) Rajarama Pundolica Sinai Quelecar
Goa, 1956