Papa na Índia (CC)
(Deverá “clicar” nas referências
bíblicas, para ter acesso aos textos)
Tive
conhecimento, através dos nossos canais de TV, da reacção dos fundamentalistas
hindus à recente visita do Papa à Índia. Segundo ouvi, pretendiam que o Papa lhes
pedisse desculpas pelas conversões forçadas e pelas atrocidades cometidas pela
Igreja Católica na Índia
Lamentamos
não ter acesso às declarações originais desses fundamentalistas duma religião
que é das mais tolerantes e pacifistas, mas resolvi escrever estas linhas por
me parecer que a minha experiência na Índia possa ter algum interesse para os
eventuais visitantes desta página.
Tais
factos, podem ter passado despercebidos da maioria dos portugueses, que
certamente os devem ter interpretado como problemas entre o Vaticano e a União
Indiana, que em nada nos dizem respeito.
Para
quem vive em Portugal, ou no Brasil, pode parecer estranha e incompreensível
esta manifestação hindu, perante um Papa que lhes vai falar de paz, de amor, de
liberdade de religião e de respeito por todas as religiões.
Mas
o assunto não é só entre o Vaticano e a União Indiana, pois de certa maneira
relaciona-se também com a nossa história, e em especial a história de Goa.
Penso
que têm fundamento as reacções dos hindus. Em Goa, ainda hoje é possível
visitar os templos hindus que foram destruídos pelo fanatismo dos missionários
católicos, portugueses ou estrangeiros, ao serviço de Portugal. Posso citar os
seguintes casos, de acordo com o historiador goês António de Menezes:
Templo
hindu de Vernã, Salcete,
destruído em 1567.
Templo
hindu dedicado a Ramath, em Pondá, que era um dos
mais ricos de Goa, cujas imagens foram transportadas, em 1566, para o interior
da Índia a fim de as preservar da destruição, às mãos dos “missionários”
católicos portugueses. Este templo foi reconstruído em 1905, ainda durante a
administração portuguesa.
Templo
de Shantadurga em Queula,
que ainda está em ruínas. Este templo, foi destruído e incendiado em 1567. Shantadurga significa “deusa da paz”.
A
lista é certamente muito maior. Menciono somente os templos que me foi possível
visitar.
Quanto
às atrocidades cometidas, não nos podemos esquecer de que em Lisboa, Coimbra,
Évora e Goa, funcionaram os Tribunais da Inquisição. Certamente que muitos
crimes foram cometidos. Todos sabem quais os seus métodos de “trabalho”.
Enquanto
as notícias que chegavam a Lisboa falavam de conversões em massa do hinduísmo
para o catolicismo, segundo me disseram em Goa, embora o historiador António de
Menezes não se refira ao assunto, ou pelo menos, não consegui encontrar tais
referência, muitas terras foram confiscadas pelo Governo, mas os seus antigos
donos poderiam continuar na posse das mesmas, caso se “convertessem” ao
catolicismo.
Mas
valerá a pena, voltar a falar nestes casos da nossa história?
Vemos
que afinal, estes casos ainda não estão “arrumados”. É natural que as vítimas
se lembrem melhor do que quem as ofendeu, e é a estas que compete dizer quando
é que tais acontecimentos podem ser “arrumados nos livros de história”.
Perante
os factos, dum Papa que se tem de deslocar com forte protecção da polícia, no
mesmo país em que as seguidoras de Madre Teresa de Calcutá circulam livremente
e são respeitadas por hindus e islâmicos, será que podemos concluir que o
grande problema dos nossos dias não é de crise de autoridade, mas sim de crise
de credibilidade?
Lamento
que o actual Papa, não tivesse aproveitado esta oportunidade para pedir
desculpa aos hindus, arrumando assim, um assunto um tanto incómodo, em vez de
ir falar de paz, amor e respeito pelas religiões, numa nação maioritariamente
hindu, que certamente lhe dirá: Essa paz, esse amor, esse respeito... Não,
obrigado.
Camilo - Marinha Grande 1999/11/15
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