Igrejas ou Comunidades Eclesiais? (MC)

(Deverá “clicar” nas referência bíblicas, para ter acesso aos textos)

 

Protestantes e outros cristãos não católicos têm manifestado azedume e desgosto em relação ao documento que, de Roma, a Congregação da Doutrina da Fé publicou  recentemente com o título Respostas a dúvidas sobre alguns aspectos relativos à doutrina sobre a Igreja. A causa do azedume e desgosto é fazer-se nesse documento a reivindicação que os média resumiram assim: A única Igreja de Cristo é a Católica.

 

Muitos dos não católicos que têm dado a sua contribuição ao movimento ecuménico sentem-se incomodados com este documento e vêem nele um forte golpe contra os esforços para a aproximação entre os cristãos; e os que, de há muito, vêm atacando o ecumenismo, têm mais uma oportunidade para proclamar o velho dito: Roma é sempre a mesma!

 

Na verdade, o documento da Congregação da Doutrina da Fé não devia surpreender ninguém, pois limita-se a proclamar o ensino oficial daquela Igreja e falo neste tempo em que o representante máximo do Catolicismo é o antigo cardeal Joseph Ratzinger que tem como objectivo  muito claro combater o que ele chama de relativismo. ´É preciso lembrar que essa é a afirmação tradicional de Roma e como os papas e os concílios se reclamam da infalibilidade, se a Congregação da Doutrina da Fé quer falar sobre a sua doutrina da Igreja não pode dizer outra coisa. A alternativa seria não tocar no assunto. No Concílio do Vaticano II descobriu-se uma fórmula para referir os não católicos e falou-se em Igrejas e Comunidades Eclesiais, mas em nenhum documento, que saibamos, ficou muito claro quais eram as Igrejas e quais as Comunidades Eclesiais. Às Igrejas Orientais (ortodoxas) era, sem dúvida, dado o estatuto de Igreja, por exemplo no decreto “Unitatis reintegratio” (14, 16), mas quanto às Comunidades Eclesiais não ficou muito claro quais são. Os seus membros são chamados “irmãos”, mas achou-se talvez preferível manter a indefinição – ou seja, preferiu-se o compromisso. Ora é isso que o actual papa diz não querer, compromisso, e por esse motivo ficou agora tudo mais claro: as Comunidades Eclesiais são as Igrejas da Reforma (faltando ainda, no entanto, esclarecer se nessa expressão, “comunidades nascidas da Reforma”, está incluído o Anglicanismo, que reivindica também ter sucessão apostólica).

 

É preciso dizer, entretanto, que as comunidades oriundas da Reforma, como a Igreja Presbiteriana, a Igreja Luterana, as Igrejas baptistas, a Igreja Metodista, e as demais, nunca precisaram que Roma as reconhecesse como Igrejas para elas se considerarem como tal e como tal actuarem. Houve tempos em que Roma lhes chamava seitas e nem por isso elas deixaram de ser Igrejas, parte da Igreja Una e Santa de que Jesus Cristo é o Senhor Efésios 4:5. As Respostas a dúvidas sobre alguns aspectos relativos à doutrina sobre a Igreja é um documento interno da Igreja de Roma e não pode, por isso, afectar as Igrejas protestantes que nessa área não têm dúvidas algumas. Nem mesmo o movimento ecuménico pode ser posto em questão com este documento, pois é evidente que não é com o Catolicismo tradicionalista, responsável por este documento, que o diálogo ecuménico se faz, mas sim com aqueles que, sendo católico-romanos, estão abertos ao Espírito renovador.

 

Manuel Pedro Cardoso

Figueira da Foz, Julho de 2007 

 

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