Catolicismo perante a guerra

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Guerra sem fundamento, considera o Bispo das Forças Armadas.

Uma guerra contra o Iraque “não tem fundamentos” e será “um assassinato a frio, um esmagamento”, considera D. Januário Torgal Ferreira. Num comentário às duras críticas veiculadas pela Rádio Vaticano, o Bispo das Forças Armadas portuguesas afirmou que a posição do Papa não é uma surpresa.

“Não me admiro, porque o Papa já tinha dito tudo (isso), como de resto a igreja norte-americana. A guerra não tem fundamentos e é uma incapacidade histórica”, afirmou D. Januário, em declarações à RTP Multimédia.

O Bispo das Forças Armadas rejeitou igualmente a ideia de que a igreja deve permanecer numa posição de equilíbrio, numa tentativa de “conciliar o inconciliável” quando estamos perante a perspectiva de “um assassinato a frio, um esmagamento” do povo iraquiano.

“O Magistério acha que a Igreja se deve ficar por princípios genéricos, sem nunca descer à prática”, lembrou, para considerar que “se, de facto, devem ser explanados os princípios genéricos, também se deve aplicá-los”. D. Januário recusou assim uma “posição passiva e equilibrista” (da Igreja) quando do que se trata é da “defesa da vida”.

Na mesma linha, a rádio oficial do Vaticano criticou hoje severamente a Administração norte-americana pela sua arrogância e falta de consideração para com a opinião pública mundial na gestão da questão iraquiana.

“Enquanto o Vaticano advoga o caminho da razão, encoraja a acção diplomática e defende o direito Internacional, temos do outro lado uma superpotência dirigida por uma administração que se atribui a si própria uma missão de salvação com atitudes de Cruzada”, declarou o director da rádio do Vaticano, o padre Pasquale Borgomeo.

A rádio criticava ainda o facto de a Administração Bush “considerar a diplomacia como uma perda de tempo, o Direito Internacional como uma pedra na engrenagem, as Nações Unidas como um clube de sofistas e a opinião pública como um joguete nas suas mãos”.

Na mesma linha crítica perante a política dos Estados Unidos, D. Januário Torgal Ferreira não tem dúvidas em afirmar que “neste momento, dentro do âmbito do Direito Internacional, uma atitude destas (a opção bélica) é um assassinato a frio dos iraquianos, um esmagamento”.

Guerra não é o meio para libertar os iraquianos.

Numa análise dos pressupostos políticos do Governo norte-americano, D. Januário Torgal Ferreira considera que, “apesar de ser necessário desarmar a ditadura de Saddam Hussein, não há proporção entre os meios utilizados e as consequências”, já que “as vítimas (de um ataque) vão ser as mesmas vítimas de Saddam”.

D. Januário considera mesmo que “as consequências vão ser mais dilacerantes do que a actual situação no Iraque”, vai-se “agravar o existente e aumentar a barbárie”.

O Bispo alerta igualmente para a abertura de velhas feridas civilizacionais que se seguirão a um ataque, ainda que inscrito num quadro de resoluções das Nações Unidas.

“A minha reacção (a uma tal resolução) seria de lamento e de tristeza. E de medo, pelas consequências do conflito de civilizações, entre o bloco islâmico e o bloco ocidental”, comentou D. Januário, referindo-se igualmente à possibilidade de uma nova vaga de atentados.

“Quem vai sofrer são as pessoas e é isso que nos deve preocupar”, disse, para acrescentar que “é preciso manter a utopia”. “O direito serve para promover o ideal, (deve) ser pacificador e evitar a destruição da guerra”, concluiu D. Januário.

 

(Transcrição do artigo de Paulo Alexandre Amaral, na RTP Multimédia, em 2003/02/18)