Galardão
e Reino de Deus (CC)
(Deverá
“clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)
Recebi, do irmão Odail Cardoso, de São
Paulo, a seguinte pergunta:
Irmão Camilo,
Tenho lido seu artigo
sobre o vinho e a santa ceia, e tenho achado muito interessantes. Gostaria de
aproveitar que estou diante de alguém que conhece não somente a bíblia mas
também o contexto histórico para fazer a seguinte pergunta:
Quando a bíblia se refere
ao galardão, ela está se referindo ao reino do céu?
Se esse galardão que a
bíblia nos diz que herdaremos não for o reino do céu, à base bíblica para
afirmar que ele será de acordo com as obras de cada pessoa, ou seja, eu posso
afirmar que no reino do céu as pessoas se diferenciarão pelo galardão que
receberam?
Obrigado pela atenção.
Prezado irmão Odail
Em primeiro lugar, gostaria de lhe
responder, não com base nas nossas bíblias, mas de acordo com o que se encontra
nas cópias dos manuscritos originais.
Mas, como não sei grego e muito menos
hebraico, tive de pedir ajuda ao Pastor Orlando Caetano, que também é
colaborador da nossa página na Internet. Ele procurou numa chave bíblica em
grego e deu-me a seguinte informação.
A palavra misthós que significava salário, recompensa, prémio, galardão,
lucro, preço, aparece nas seguintes passagens.
Mateus 5:12, 5:46, 6:1, 6:2, 6:5, 6:16, 10:41, 10:42, 20:8
Marcos 9:41
João 4:36
Actos 1:18
Romanos 4:4
1ª Coríntios 3:8, 3:14, 9:17, 9:18
1ª Timóteo 5:18
Tiago 5:4
2ª João 1:8
Judas 1:11
Esta informação que recebi do Pastor
Orlando Caetano, é a mais importante, a base do estudo que convém que seja
feito pessoalmente por todo o crente, mesmo que não saiba grego, como é o meu
caso.
O irmão Odail
poderá utilizar comodamente a Bíblia informática que tenho na minha página,
“clicando” nas referências bíblicas, mas também convém que consulte várias
traduções sérias e diferentes. Como sabe certamente, na nossa língua só temos
duas traduções feitas directamente a partir das cópias dos textos originais: A
tradução de João Ferreira de Almeida e mais recentemente a tradução da Boa
Nova, feita pela Sociedade Bíblica de Portugal. Mas há outras boas traduções,
como a Jerusalém, feita a partir das cópias dos originais para o francês e do
francês para a nossa língua.
Aconselho a ler, ciente de que nos
textos originais estava a palavra misthós que os
biblistas traduziram para salário, galardão, recompensa etc. Mas isso já é
discutível pois foi uma opção dos tradutores que podemos e devemos colocar à
discussão dos estudantes de teologia, que somos todos nós. Quem faz uma
tradução, por mais imparcial que queira ser, acaba sempre por fazer uma
interpretação.
Já a palavra “Reino”, é uma tradução da
palavra grega “Basileia”, que é
difícil de traduzir, pois não tem uma correspondência perfeita com a nossa
língua. Há quem prefira traduzir por “realeza” ou “senhorio” de Deus.
Nos nossos dias, ainda há alguns países
que têm um rei. Quando falamos em reino, logo identificamos essa palavra com o
local onde esse rei exerce a sua autoridade e onde se entra através da
alfândega e dos serviços de imigração desse reino, depois de carimbarem o nosso
passaporte.
No entanto, a “Basileia” não estava
ligada à ideia do local, mas mais da influência desse Rei. Por exemplo, quando
no tempo de Moisés, Israel andava pelo deserto, já tinha organização, já tinha
uma Lei, e já era “Basileia”, embora ainda não tivesse um território.
Penso que é essa a ideia que
encontramos em Mateus
3:2 e Marcos 1:15
onde João Batista diz que o reino “é chegado”. Não devemos esperar
egoisticamente por um reino no futuro, em que todas as nossas dificuldades
serão resolvidas. O desafio que temos é de ser cidadãos do Reino, hoje mesmo e
aqui mesmo onde estamos. Isso é possível, se nos deixarmos guiar pela mensagem
e pelo pensamento do Mestre.
Penso que no futuro, haverá algum
galardão ou recompensa para alguns, mas certamente que não será nada do que
pensamos nos nossos dias. Mateus 25:31/46
já nos alerta para a grande desilusão para muitos dos “religiosos” das nossas
igrejas, pois os critérios do Mestre não são os mesmos dos entendidos em
religião. É possível conhecer os cidadãos do Reino nos nossos dias, não por
estarem registados nas igrejas, mas pelos seus frutos.
Mas não podemos esquecer de que ninguém
entrará nas “moradas” que Jesus nos foi preparar, por mérito próprio, porque
todos pecaram. Não sei como será esse galardão, mas tenho a certeza de que ninguém
se irá orgulhar de o receber.
Todos pecámos e fomos “comprados” pelo
sangue de Cristo, para uma nova vida, que de maneira nenhuma é a vida entre as
quatro paredes das nossas igrejas. Fomos “comprados” para sermos parecidos com
Aquele que nos comprou. Não podemos esquecer de que Jesus não foi um homem de
igreja. Bem pelo contrário, a sua luta foi contra as organizações religiosas
que exploravam o povo mais humilde e ingénuo. Será que os tempos mudaram?....
Com um abraço do teu companheiro no
estudo e investigação do pensamento do nosso Mestre.
Camilo - Maio de 2005
Estudos
bíblicos sem fronteiras teológicas