Fátima e o diálogo inter-religioso (CC)

(Deverá “clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)

 

 

 

1) Dura crítica dum católico americano à forma como um grupo de hindus foi recebido em Fátima.

2) Esclarecimento do Reitor do Santuário de Fátima.

3) Nossos comentários sobre o assunto.

 

1 - Artigo publicado na página Uniaonet de Yrorrito Seyti Abe http://www.uniaonet.com/

 

RETRATO DE UMA PROFANAÇÃO:

FOTOGRAFIAS DE UM RITUAL HINDU NO SANTUÁRIO DE FÁTIMA

Por John Vennari  (Publicado com autorização do site Fátima. Tradução nossa)

UPDATE: Catholic Family News - Current Issue: July, 2004 go to www.oltyn.com Reportagem Especial: O “Catholic Family News” obteve uma cópia de vídeo da transmissão realizada em 5 de Maio de 2004 pelo canal SIC de um Ritual Hindu realizado no Santuário de Fátima. 

Não apresentamos a fotos a que se refere o artigo, mas somente as suas legendas.

 

Os hindus trazem uma oferta de flores. Para eles, Nossa Senhora de Fátima é uma manifestação de um de seus deuses.

A transmissão da SIC diz, “Este é um evento singular na história do Santuário e de devoção própria...

...o sacerdote Hindu, o Shastri recita no altar (Católico) o Shandi Pa, a oração pela paz".

O ritual hindu - uma cerimónia para falsos deuses - profana o Santuário de Fátima, fazendo-se necessária uma re-consagração da Capela.

Recebido pelo Bispo de Fátima, a SIC explica, “Os peregrinos Hindus são recebidos como se fossem uma embaixada, um gesto de silêncio ...que pode ser entendido como um convite para outras visitas”.. Significando que a profanação de Fátima vai possivelmente ocorrer novamente..

O reitor Guerra, do Santuário, recebe um manto dos Hindus, coberto de versos do Baghwad Gita, o “livro secreto” do hinduísmo, cuja mensagem básica é: Tudo na vida é uma ilusão.

O Bispo de Fátima também recebe o manto ornado com os versos da mitologia pagã

 

O Catholic Family News obteve uma cópia da transmissão da SIC do ritual Hindu realizado em Fátima. Conforme relatado no mês passado, o sacrilégio aconteceu em 5 de Maio, com as bênçãos do reitor Guerra, do Santuário de Fátima, e do Bispo de Leiria-Fátima, D. Sarafim de Sousa Ferreira e Silva.

SIC, um canal de televisão nacional de Portugal, divulgou o ritual hindu em Fátima no mesmo dia em que ele aconteceu. O apresentador chamou o acontecimento de uma “experiência ecuménica incomum”.

A transmissão apresentou orações matinais no templo Radha Krishna de Lisboa. “Luz e água, energia e natureza, marcam o ritmo do Arati, a oração matinal,” disse o apresentador. “O hinduísmo é a mais antiga das grandes religiões. Ele é caracterizado por múltiplas divindades, reverenciando através de uma tripla dimensão da vida e do sacro: o deus criador, o deus mantenedor, e o deus que tem o poder de destruir”.

Deste modo, os hindus fazem o serviço de reverência da manhã aos seus falsos deuses, os quais não são nada mais que demónios. São Francisco Xavier, o apóstolo da Índia, disse a respeito do hinduísmo: “Todas as invocações dos pagãos são odiadas por Deus, porque todos os seus deuses são demónios”

Uma jovem mulher hindu aparece na tela com estátuas de deuses ao fundo. Ela explicou, “Este é o deus Shiva e sua mulher Parvati. No centro podemos ver o deus Rama, à nossa direita sua mulher Sita e à nossa esquerda, seu irmão e companheiro Lakshmama. Agora podemos ver Krishna Bhagwan e sua esposa Radha. As divindades estão sempre acompanhadas de seus respectivos maridos ou mulheres. Como uma regra, quando precisamos dos deuses ou queremos pedir suas graças, nós pedimos para a divindade feminina, que é muito importante para nós.”

Aproximadamente 60 hindus, anunciou a transmissão, “deixam Lisboa com o chandam, o sinal em suas testas que mostram o desejo de boa fortuna em uma tarefa nobre. E este é o dia dedicado à maior das divindades femininas. Ela é chamada a Mais Santa Mãe, a deusa Devi, a divindade da Natureza que muitos hindus portugueses também encontram em Fátima.”

Outra jovem hindu explica, “Como uma hindu, que acredita no mundo, ou melhor, nos seres humanos, como membros de uma família global, é natural para mim ver qualquer manifestação de deus, incluindo Nossa Senhora de Fátima, como uma manifestação do mesmo deus.”

Aqui, esta jovem senhora fala como uma autêntica hindu, uma vez que o hinduísmo serve a seus falsos deuses como uma manifestação do “Deus”.  Desta forma, eles não estão honrando à Nossa Senhora como Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas reverenciando-A como uma manifestação de seu deus pagão.

O jornal mostra então os hindus trazendo flores à estátua de Nossa Senhora, dentro da Capelinha, a pequena capela construída sobre o local onde Nossa Senhora de Fátima apareceu. O sacerdote hindu sobe ao altar católico e recita uma reza hindu. Enquanto, o apresentador da SIC diz, “Este é um momento único na história do Santuário e da devoção. O sacerdote hindu, o Shastri, recita no altar o Shanti Pa, a oração pela paz.”

O Papa Pio XI, em uma prece litúrgica consagrando o género humano ao Sagrado Coração de Jesus, rezou pela conversão de todos que não são membros do Corpo Místico. Ele invocou Nosso Senhor, “Seja  O Rei de todos aqueles que estão envolvidos com a escuridão e a idolatria”. Esta idolatria é agora praticada no santuário de Fátima, profanando o local sagrado, fazendo-se necessário que a Capela seja re-consagrada novamente.

Em outro clip, o sacerdote hindu explica que ele encontrou uma “energia divina” em Fátima. “É uma energia que permeia todo o local,” ele disse. “Tem uma força presente aqui, ao nosso redor. Sempre que venho aqui, eu sinto esta vibração...”

A rede SIC explica então que a apresentação deste grupo de hindus em Fátima “não é bem aceita por todos os católicos”. A câmara muda então para o Reitor do Santuário, Guerra, que defende a presença hindu e seu rito no Santuário Católico.

“É óbvio” disse o Reitor Guerra, “que estas civilizações e religiões são bem diferentes. Mas eu acredito que há um papel comum para todas as religiões. Há um papel que… como eu posso dizer, nasce da humanidade comum que todos possuímos. E é muito importante que nós reconheçamos este fundo comum, porque, devido ao choque de diferenças, nós algumas vezes esquecemos de nossa igualdade. Estes encontros nos dão esta ocasião”.

Os hindus são então recepcionados pelo Bispo de Leiria-Fátima em uma sala contendo um modelo grande do Santuário modernista de Fátima, actualmente em construção. “Desta vez”, disse a transmissão, “os peregrinos hindus são recebidos como se fossem uma embaixada; um gesto silencioso que pode ser entendido como um convite para outras visitas.” Isto significa que a profanação pagã no Santuário de Fátima tem grandes chances de acontecer novamente.

O Bispo de Leiria-Fátima diz, “Nós não queremos ser fundamentalistas, não queremos isto, mas queremos ser honestos, sinceros e queremos comunicar por osmose os frutos deste ritual, a fim de que possamos produzir frutos. Eu tenho um prazer em encontrá-los.”

Neste momento, o sacerdote hindu coloca nos ombros do Bispo de Leiria-Fátima e do Reitor Guerra um manto coberto com os versos do Bhagwad Gita, um dos livros secretos do hinduísmo.

A reportagem termina com um close no livro de visitas que inclui as assinaturas do Papa João Paulo II, Madre Teresa, e um alto sacerdote hindu. Pode-se dizer que os hindus querem manter Fátima “nos planos dos locais onde eles alegam que encontram vibrações de santidade..

Catholic Family News noticiou a orientação inter-denominacional em Fátima desde que foi lançada no Congresso Inter-religioso que aconteceu em Fátima em Outubro de 2003. Nós advertimos repetitivamente que este tipo de profanação era inevitável se os católicos não resistissem ao novo programa ecuménico.

Como previsto, os criadores da “Nova Fátima” como o Pe. Robert J. Fox ridicularizaram nossos esforços e tentaram dissuadir os católicos em nos levar a sério. Pe. Fox, em uma transmissão da EWTN em 25 de abril, dizia que os relatos sobre as actividades inter-denominacionais em Fátima não eram mais que “fabricados”, que ele conhecia o Reitor Guerra do Santuário pessoalmente, e que o Reitor jamais permitiria que actividades inter-denominacionais acontecessem. Menos de duas semanas depois desta transmissão da EWTN, o Santuário de Fátima estava profanado por este ritual pagão, com as bênçãos do Reitor Guerra e do Bispo de Leiria-Fátima.

O Papa Leão XIII juntamente com seus predecessores ensinou “Somos obrigados a servir a Deus da forma como ele nos mostrou ser Sua vontade”.  O hinduísmo venera falsos deuses que são demónios. É um sacrilégio o Reitor Guerra e o Bispo de Fátima permitir estes rituais em um santuário católico.

O Papa Pio XI chama de “ignomia” colocar a verdadeira religião de Jesus Cristo “no mesmo nível das falsas religiões”.  O Papa Leão XIII da mesma forma ensina “é contrário à razão que o erro e a verdade tenham os direitos iguais.” Desta forma , a “igualdade” a que o Sr. Guerra se refere, e sua noção de várias religiões com um “papel comum”, contraria a verdade Católica.

O Reitor Guerra e o Bispo de Leiria-Fátima são também culpados de grave escândalo. Suas acções dizem a estes pobres hindus, que estão escravizados por uma religião pagã, que eles estão agradando a Deus da forma como estão.  Isto é contrário ao desejo manifesto de Cristo, que disse, “Ninguém vai ao Pai senão por Mim.” “Aquele que acreditar e for batizado será salvo. Aquele que não acreditar será condenado”.  Os hindus rejeitam a Jesus Cristo. Eles não têm interesse no batismo ou nas verdades reveladas por Deus. O Reitor Guerra e o Bispo de Leiria-Fátima aconselham e encorajam a apostasia. Com seus maus exemplos, eles escandalizam não somente os hindus, mas também outros que observam suas acções.

“O escândalo” diz Santo Tomás de Aquino, “é uma palavra ou acto que deixam ocasião para a ruína espiritual do próximo”. São Leão chama os autores de escândalos de assassinos que matam não ao corpo, mas a alma. São Bernardo diz, que as Escrituras garantem a esperança de emenda e perdão, falando em pecadores no geral. Porém tratam daqueles que escandalizam, como pessoas separadas de Deus, aos quais existe pouquíssima esperança de salvação.

Talvez seja por isto que vemos uma cegueira espiritual nestes homens. Eles insistem nas suas apostasias apesar dos avisos de católicos preocupados. De qualquer forma, devemos rezar por eles.

E com respeito aos próprios hindus? O Shastri vem a Fátima porque ele sente uma “energia divina”, “vibrações de santidade”.  Membros de todas as religiões servem ao mesmo deus e são parte de uma “família global”.

Esta é a linguagem do paganismo, não da que recebemos de nossa Tradição católica. “Vibrações de santidade” é o que os hindus chamam Shakti, e eles se dirigem a vários locais para encontrá-la. Eles irão correr para estar na presença do Dalai Lama ou do Papa João Paulo II ou Ghandi porque isto lhes dá Darshan, a boa sorte que vem em estar às vistas de um homem santo. Cada um destes termos está enraizado em superstições pagãs, não nas verdades reveladas por Cristo.

Em resumo, os hindus não foram ao Santuário de Fátima para se tornarem Católicos. Mas ao contrário, eles tornaram hindu o Santuário de Fátima, colocando seus mitos e superstições pagãs em um dos locais mais sagrados do catolicismo.

Isto não é honrar a Mãe de Deus, mas uma blasfémia contra Ela, uma vez que não há nada honrável em colocar-se Nossa Senhora no mesmo nível de mais uma deusa neste panteão de divindades demoníacas. “E que concórdia entre Cristo e Belial? Disse São Paulo, “Ou que de comum entre o fiel e o infiel? 2ª Coríntios 6:15

No fim da visita, os hindus presentearam o Rev. Guerra e o Bispo de Fátima com o manto coberto de versos do Bhagwad Gita.  Este livro contém uma história que ilustra o princípio do Hinduísmo.

Arjuna, um guerreiro, está na eminência de uma grande batalha. Ele sente medo do dia seguinte, porque ele sabe que terá que matar seus amigos, parentes, professores. O carroceiro de Arjuna, que era na verdade o deus Krishna escondido, diz a Arjuna para não ter medo da batalha que se aproxima porque nada daquilo era real. Ninguém iria morrer. Tudo aquilo, e toda a vida, é uma ilusão.

O Arjuna então dirigiu-se ao sangrento conflito acreditando que fosse seu Dharma, seu destino, para destruir seus amigos e parentes. É tudo ilusão de qualquer forma. Ninguém realmente morre. Isto é o hinduísmo em poucas palavras. Você é deus, todo o resto é ilusão.

Os católicos que testemunharam o Reitor do Santuário de Fátima e o Bispo de Fátima cobrirem-se com o manto decorado com os versos da mitologia pagã, certamente desejariam que a profanação hindu em Fátima fosse uma ilusão, que nada daquilo fosse real.

Mas não, isto realmente aconteceu. E os católicos devem registrar seu testemunho a Roma e Fátima, enquanto oferecem orações de reparação pelos líderes católicos que deram a capela de Nossa Senhora de Fátima a uma religião cujo deus é o Demónio.

 

 

2 - ESCLARECIMENTO DA REITORIA DO SANTUÁRIO DE FÁTIMA 2004/06/29

(Transcrição da página do Santuário de Fátima

http://santuario-fatima.pt/portal/index.php?id=1435 )

 

A Igreja da Santíssima Trindade não será um «templo ecuménico»

1- Os leitores da «Voz da Fátima» estarão recordados de um Comunicado da Reitoria do Santuário, publicado em Janeiro 2004, com o título «Fátima Santuário de todas as religiões?».

2- Os movimentos que então se salientaram na oposição ao nosso Congresso de Outubro aí recordado, aproveitaram agora a vinda de um grupo de hindus ao Santuário, noticiada na «Voz da Fátima» de Maio 2004, para se relançarem na sua campanha maciça de carácter anti-ecuménico e mesmo contra o diálogo inter-religioso.

3- Dado que nos chegam pedidos de esclarecimento, e a fim de encontrar uma forma de a todos responder com celeridade, redigimos este breve comunicado, dando por conhecidos os princípios já apresentados quanto ao acolhimento de irmãos de outras confissões ou religiões, e fixando-nos nos dois pontos agora em foco: a vinda de um grupo de hindus e o destino da nova igreja da Santíssima Trindade.

4- O grupo hindu escreveu-nos com antecedência, dizendo que desejava «reconstituir a visita efectuada pelo Sr. ‘Morari Bapur’, que precedeu a de Sua Santidade o Papa João Paulo II», em Maio de 1982.

5- Até junto da Imagem de Nossa Senhora subiu o sacerdote que traziam consigo e um tradutor, tendo os restantes membros ficado em baixo.

6- O sacerdote cantou uma oração durante alguns minutos. Não fez qualquer gesto, não realizou qualquer rito, sobre ou fora do altar. O tradutor explicou que ele pedira «à Santíssima Mãe que desse aos governantes das nações sabedoria e discernimento, para que no mundo pudesse haver paz, paz, paz».

7- Anotamos que esta intenção da paz, por ser universal, é a mesma, ao que supomos, que vem trazendo ao Santuário outras personalidades não católicas, como por exemplo o Dalai Lama, o Presidente da República da União Indiana, e as esposas dos Presidentes Clinton e Arafat. Os grupos cristãos não católicos virão também com a intenção de pedir a unidade da Igreja. Embora não com grande frequência, têm sido acolhidos alguns altos representantes das Igrejas ortodoxas. Recentemente umas dezenas de sacerdotes anglicanos, acompanhados do seu Bispo, realizaram um retiro espiritual, numa das casas do Santuário.

8- Feita a oração na Capelinha, os peregrinos hindus foram recebidos, numa sala, pelo Senhor Bispo de Leiria-Fátima e pelo Reitor do Santuário, a quem disseram que vieram por devoção para com a «Santíssima Mãe». Não falaram em semelhança, ou transferência deste nome para qualquer entidade da sua religião. Deve por isso ser dado o devido desconto a aproximações que tenham sido invocadas pelos media, cuja presença não pudemos preparar, por dela termos tido conhecimento tardio.

9- Quanto à igreja da Santíssima Trindade, e uma vez que persiste a vontade de a chamar «templo ecuménico», podemos dizer que esta denominação, aliás susceptível de interpretação católica, não é do Santuário, e não temos, nem nunca tivemos, intenção de realizar, na igreja em construção, quaisquer celebrações que não estejam previstas nas directrizes da Igreja Católica. O Santuário procura ser fiel à mensagem de que Deus o fez depositário, e não pode deixar de notar o carácter nitidamente católico que a mesma inculca, tanto nas aparições do Anjo, que nos inspiraram na escolha do título da futura igreja, como nas de Nossa Senhora, que contêm alusões dramáticas ao papel mediador do Papa e dos Bispos, na unidade da Igreja, e para a paz do mundo.

10- Na esperança de que nos compreendam todos os irmãos que desejam e rezam pela união possível de todos os cristãos, de todos os crentes, e de todos os homens, elevamos também nós a nossa prece a Nossa Senhora de Fátima, para que nos fortaleça na vontade de unir e nos livre de todo o espírito de dissensão e polémica.

Santuário de Fátima, 29 de Junho de 2004, solenidade de S. Pedro e S. Paulo.

O Reitor: P. Luciano Guerra

 

 

 

3 – Dois caminhos divergentes do catolicismo dos nossos dias (Camilo)

 

Atendendo a uma certa divulgação que esta notícia tem tido nos últimos dias na internet de língua portuguesa, e porque, alguns dos visitantes da “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas”, sabendo que estou em Portugal, me perguntam o que se passou, conhecendo somente o artigo de John Vennari, resolvi abordar o assunto na minha página.

Penso que os dois documentos que acabamos de ler, estão em campos opostos, não só na mentalidade dos seus autores como nos pressupostos de que partem e até me custa a acreditar que sejam ambos documentos dos nossos dias e de pessoas ligadas à mesma Igreja Católica Romana.

Vejamos em primeiro lugar o artigo “Retracto de uma profanação”, do católico americano John Vennari, publicado no “Catholic Family News” e traduzido pelo crente evangélico brasileiro Yrorrrito Seyti Abe, que se refere ao caso dos hindus que foram rezar em Fátima.

Há certos pormenores deste artigo que gostaria de comentar.

1) “Para eles, Nossa Senhora de Fátima é uma manifestação de um dos seus deuses” é uma afirmação de John Vennari e não dos responsáveis hindus que visitaram Fátima. Não sei se John Vennari terá investigado o assunto, contactando com a Comunidade Hindu de Lisboa antes de fazer tal afirmação. Mas suponho que terá feito essa afirmação precipitadamente, assim como também logo “condenou” o Reitor de Fátima e o Bispo de Leiria-Fátima, sem primeiro contactar com os próprios que melhor do que ninguém o poderiam esclarecer. Não podemos esquecer de que o hinduísmo é politeísta. Para quem tem tantos deuses, há sempre lugar para mais alguns e não há necessidade de relacionar a Senhora de Fátima a qualquer deusa hindu. É mais lógico e mais fácil para um hindu, como politeísta, considerar a Senhora de Fátima como mais uma deusa entre muitas outras que já tem e dirigir-lhe uma oração, do que eu dirigir uma oração a Maria, por não encontrar base bíblica para a sua omnisciência e omnipresença, embora considere Maria como uma das principais personagens neotestamentárias. Não é possível ler os evangelhos sem ficarmos tocados pelo exemplo de humildade e plena submissão à vontade de Deus que Maria nos deixou. Será que para seguir o seu exemplo é preciso aceitar a sua omnisciência e omnipresença para ouvir as orações? 

Como já afirmamos, John Vennari deveria ter consultado os responsáveis pelo Santuário de Fátima antes de publicar o seu artigo, mas há outra consulta, ainda mais importante. Se essas orações foram dirigidas a Maria, qual seria a sua reacção perante os hindus que a procuraram?

Segundo podemos ver em Mateus 2:1/2Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram magos do Oriente a Jerusalém, perguntando: “Onde está o rei dos judeus recém-nascido?....”

Nessa época, ainda não havia cristãos, mas os magos eram gentios e não judeus, eram pessoas que não podiam entrar no Templo de Jerusalém e pela expressão utilizada “magos” seriam certamente pessoas que se dedicavam à astrologia a mesma ciência que tivera como consequência a pena de morte quando Israel ocupou a Palestina.

Mais adiante, no versículo 11, temos o que podemos chamar de origem do diálogo inter-religioso. “Ao entrar em casa, viram o menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se, o homenagearam....” (com vem na tradução de Jerusalém).  Mateus 2:11

Maria recebe aqueles que seriam condenados à morte pelos “religiosos” do seu tempo, se no Templo de Jerusalém fossem além do Pátio dos Gentios. Ela os recebe para lhes mostrar o Filho de Deus, que acabara de chegar a este mundo. Será que Maria profanou a sua casa, onde estava o Filho de Deus? 

2) A SIC é uma organização portuguesa que tem alguns canais de TV, mas é particular, não pertence à televisão oficial de Portugal, que é a RTP.

3) O Bagavad-Guitá um livro secreto do hinduísmo?!!!  Afinal, eu tenho esse “livro secreto” aqui na minha estante, traduzido pelo Dr. Rajarama Pundolica Sinai Quelecar e publicado em Goa em 1956, que posso mostrar a quem o quiser ler.

4) Qualquer católico responsável, em Portugal ou na Europa, teria dúvidas em reavivar o pensamento do Papa Leão XIII de que “é contrário à razão que o erro e a verdade tenham direitos iguais”, pois isso é uma forma, embora um tanto atenuada do célebre pensamento medieval que está na base do Tribunal da Inquisição que afirmava: “Só a verdade tem direitos, e como só nós temos a verdade....” infelizmente todos sabemos o desastre que está na base desse pensamento. Mais importante do que condenar os homens do Tribunal da Inquisição é examinar os pensamentos que deram origem a tal monstruosidade e verificar se não haverá quem defenda pensamentos idênticos nos nossos dias.

5) Considero sem sentido a afirmação de que “Os hindus rejeitam a Jesus Cristo”, pois se são hindus, certamente é porque aceitam os deuses hindus. Se aceitassem a Cristo, seriam cristãos e não hindus. Mas penso que a principal culpa dessa rejeição de Cristo, cabe aos próprios cristãos que apresentaram um Cristo violento que lhes trouxe guerra e sofrimento, logo nos primeiros contactos entre hindus e cristãos.

Ao examinar este artigo dum católico fundamentalista americano, tenho a sensação de estar perante um documento da Idade Média. Afinal, são parecidos com os fundamentalistas evangélicos que sofreram influência dos povos que os evangelizaram, na sua agressividade e arrogância.

Ao ler estes dois artigos, de John Vennari e do Reitor de Fátima, não posso deixar de me lembrar de Lucas 15:1/2 «Todos os publicanos e pecadores estavam se aproximando para ouvi-lo. Os fariseus e os escribas, porém, murmuravam: “Este homem recebe os pecadores e come com eles! »

Parece que a história se repete. Várias vezes, todos nós nos sentimos em situações idênticas, e neste caso, o Reitor do Santuário de Fátima também esteve perante as duas opções: Ou a identificação com os “fariseus e escribas” dos nossos dias, com toda a sua ortodoxia e interpretação fundamentalista das Escrituras, ou a sua tolerância para com os “publicanos e pecadores”, todos os que não se apresentam com a arrogância de serem os melhores ou os mais santos, mas que procuram a paz e o bom entendimento entre toda a humanidade apesar das diferenças teológicas que sempre houve e sempre haverá enquanto duas pessoas meditarem na mensagem de Jesus.

Sabemos qual foi a opção do Mestre. Poderíamos afirmar que Ele transgrediu as tradições dos mais “religiosos” e preferiu aproximar-se do grupo dos “publicanos e pecadores” sujeitando-se a todas as críticas. Penso que o Reitor do Santuário de Fátima também tomou a opção correcta.

Eu vivo em Portugal, mas essa notícia dos hindus em Fátima passou-me despercebida. Por vezes vejo a SIC, mas como os nossos canais de TV dão quase todos o telejornal à mesma hora, não consigo ver todos os noticiários, isso passou-me despercebido e os outros canais não devem ter dado importância a esse acontecimento que a maior parte dos católicos portugueses desconhece.  

Penso que é muito exagerado o título de “Profanação” do Santuário de Fátima. Isso mostra uma mentalidade intransigente e de quem não conhece a realidade de Fátima. Muitos estrangeiros com quem tenho contactado pela internet, imaginam Fátima como uma espécie de fortaleza católica com toda a sua arrogância e intransigência, mas não é nada disso. Fátima fica aqui a uns 40 ou 50 quilómetros de minha casa, com ligação por auto-estrada. Já fui várias vezes a Fátima, para bisbilhotar nas suas livrarias e mesmo quando me identifico como protestante, sempre fui bem recebido apesar das diferenças teológicas que nos separam, nomeadamente a infalibilidade do Papa e as manifestações duma religiosidade popular à base de sacrifícios físicos (longas caminhadas por pessoas idosas ou doentes e o andar de joelhos mesmo se estiverem a sangrar) em Fátima, assim como as procissões em homenagem aos santos e santas, com mais popularidade do que o próprio Cristo, noutros locais do norte de Portugal, apesar do alerta da página 39, parágrafo 125 do Vaticano II. Mas, como já alguns católicos me têm dito e com toda a razão, para se ser católico não é preciso ir a Fátima, nem acreditar em Fátima.

Não sou católico nem hindu, assim como não estou integrado em nenhuma igreja evangélica. Embora seja crente em Cristo e colabore onde têm a paciência de me aceitar, nomeadamente na Igreja Presbiteriana, neste caso que certamente poderá suscitar reacções opostas, todas elas com os seus argumentos, penso que devemos estabelecer uma certa hierarquia nos nossos valores e nas nossas convicções.

Não me compete comentar o que se passa em Fátima, embora as minhas convicções teológicas estejam mais próximas do catolicismo do que do hinduísmo, mas não me preocupo se os hindus forem a Fátima para orar pela paz e forem bem recebidos, assim como eu sou bem recebido quando lá vou às suas livrarias, não sendo católico. Já estive em retiros de igrejas evangélicas em organizações de freiras católicas, onde o custo do alojamento é muito mais baixo, pois elas trabalham por vocação, só para ajudar a Igreja e também nos consideram como fazendo parte da Igreja de Cristo. O que mais me preocupa é o fanatismo dos fundamentalistas católicos (ou evangélicos), pois se eles tomarem conta de Fátima, mais ninguém lá será bem recebido, pois iremos retroceder ao obscurantismo medieval.  

Não estou a afirmar que não interessa aquilo em que se crê. Deus enviou o seu Filho ao mundo para salvar a humanidade e para revelar o que Deus é. Isso é o Evangelho que significa a boa notícia, e não faz sentido impor uma boa notícia pela força ou pressão psicológica ou económica. O que afirmo é que para nada serve todo o rigor teológico se o nosso comportamento estiver em contradição com a nossa mensagem.

Certamente que há diferenças teológicas, mas quem somos nós para julgar seja quem for? O que disse o Mestre em Mateus 7:16? Pela sua genealogia os conhecereis, como era no Antigo Testamento? Ou pela sua teologia os conhecereis? Ou “pelos seus frutos os conhecereis”? 

Em Mateus 13:24/30, (parábola do trigo e do joio) os servos perguntaram logo: “Queres que vamos arrancá-lo?” (ao joio). Mas a resposta foi: “Não, para não acontecer que, ao arrancar o joio, com ele arranqueis também o trigo”. Olhando para a história da Igreja, nomeadamente os contactos com as outras religiões, por vezes tenho sérias dúvidas em qual será o trigo e qual o joio…. Só o Senhor poderá escolher. 

John Vennari apresenta a opinião de S. Francisco Xavier. Quando no passado mês de Março estive em Goa, passei algumas horas no Centro Xavier de Pesquisa Histórica, nos arredores de Pangim onde comprei alguns livros, de investigadores católicos, que infelizmente estão em inglês, onde vejo coisas terríveis sobre a nossa história. Certamente que outros povos fizeram ainda pior, no México e na América do Norte, mas como português interesso-me pela nossa história. Nos primeiros tempos da ocupação portuguesa de Goa, pouco antes da época de S. Francisco Xavier, quando os templos hindus centenários foram destruídos e incendiados, e todas as terras confiscadas a favor do Governo Português, para mais tarde serem restituídas só aos que se convertessem ao catolicismo, nem o Templo de Shantadurga escapou, foi destruído pelos portugueses em 1567... e Shantadurga é a deusa da Paz!!!

Há dias, vendo nas nossas TVs, as imagens dos incêndios no sul de Portugal, e a descrição das abelhas e pombos que escaparam a voar descontrolados à procura da colmeia que ardeu ou do pombal que já não existe, até morrerem por exaustão, lembrei-me da Igreja de Cristo. A Igreja que muitos procuram, uma Igreja que já não existe tal como era nos primeiros tempos, mas que alguns procuram ainda e sempre, preservar como local de refúgio de paz e de tolerância, enquanto outros se apresentam com a arrogância que mais se identifica com o judaísmo veterotestamentário do que com o Evangelho (boa nova) da mensagem de Cristo.

Depois de termos perdido a credibilidade perante a classe pensante dos nossos dias, tão difícil de recuperar, que ao menos possamos humildemente tentar oferecer alguma coisa de parecido com a Igreja do Senhor, pois as suas ovelhas ainda procuram a voz do seu Pastor, que só elas conhecem.

Mais importante do que o rigor teológico é que a Igreja esteja ao serviço da mensagem do Mestre. Que os ideais de Shantadurga não possam ser novamente arrasados no coração dos hindus, pois impedir alguém de orar pela paz, mesmo a um deus em que não acreditamos (se é que foi isso que aconteceu), não será o maior dos crimes que podemos cometer? Acredito numa Igreja que se imponha ao respeito da humanidade somente pelo seu exemplo e pelo seu comportamento. Uma Igreja que seja a solução e não o problema da humanidade.

Deus é soberano e se revela a quem quiser, como quiser, e onde quiser, utilizando os meios que entender, mesmo aqueles que a nossa tradição ou a nossa teologia considera indesejáveis, pois só Deus é soberano. 

Camilo – Marinha Grande  

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NOTA: Poderá enviar os seus comentários, para eventual publicação nesta página, com a sua identificação, igreja ou religião a que pertence etc, para --- Esta é uma página de estudos bíblicos, aberta a todas as opiniões, quer seja cristão, hindu, islâmico, agnóstico, ateu, budista etc. De preferência que sejam opiniões baseadas nos evangelhos, em linguagem correcta e sem referências pessoais, mas não testemunhos, pois os testemunhos de casos pessoais deverão ser enviados para páginas que estejam vocacionadas para tal. 

 

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas

 

 

 

Comentários recebidos

 

Fátima é também uma deusa Hindu? (NG)

 

Boa noite Camilo,

Estou em casa, entrei na página estudos-biblicos.com, e estive a ler os artigos, debates, sobre o Templo de Fátima e a visita dos Hindus etc.  

A par de suas brilhantes criticas, bem como do posicionamento do ... em busca de um “porto seguro”, peço licença para não fazer comentários sobre os detalhes do ocorrido, pois não tenho o conhecimento sobre o tema que me autorizasse a isso, mas, posso  fazer algumas considerações e para isto preciso oferecer um pouco de normalidade a minha mente e no que pretendo escrever, assim peço licença para escrever sobre este meu momento.

Já são 20,31 horas, é uma noite fria para o padrão tropical Brasileiro, mas, aqui na Cidade de São Paulo o clima é assim mesmo, durante o dia o sol aquece até 25 a 30 graus Celsius, a noite vem e com ela o clima fica ameno caindo para ficar entre 15 a 20 graus Celsius, estou só aqui na minha sala, minha filha mais jovem de 4 anos está com os avós, meu filho adolescente, de 14 anos está escutando música, minha jovem e linda esposa já dorme pois lhe abateu uma gripe. Interessante a simplicidade do que escrevi não concorda? Milhões de pessoas estão fazendo isto, talvez não nesta ordem dos meus acontecimentos, mas com certeza estão vivendo no seu próprio horário, no clima de sua terra, com seus familiares...

Existe um ponto comum sustentando a atitude de todos, um alicerce invisível, não temos como negar, o ser humano na sua complexidade existe por aceitar algumas bases comuns, próprias de todos. È como este computador que me serve para escrever, com tantos componentes internos ele só funciona devido a um tipo de energia, devido a fio elétrico, todos os seus diversos componentes e programas dependem deste ponto de partida. Assim, ouso afirmar que a complexidade só tem sentido lógico se partir de um eixo, de uma base, caso contrário não teria feição, não seria nada somente elementos dispersos.

Os assuntos e opiniões propostos no tema em debate (que entendo ser sobre: sincretismo religioso, apostasia, ecumenismo), estão sendo analisados em razão do resultado que estão a apresentar ou que deveriam apresentar, que são: - se é para que haja paz, se admite tais e tais coisas, se é para que mais pessoas se convertam a tal e tal religião, se o local é sagrado para uma religião ou para uma cultura, se é pelo bem ou se pelo mal... Desculpem, creio que a complexidade de tais temas não pode ser avaliada pelo que se vê e ouve. As pessoas envolvidas, o crítico norte americano, a autoridade da igreja Católica, os religiosos hinduístas, todos parecem sinceros, verdadeiros nas suas posições, mas, são como balões de ar que estouram.

Depois que li o artigo eu gostaria de os chamar para buscar o eixo, a base daquilo que cada um entende ser a verdade. Vejamos: o senso comum é a existência da divindade, nem católicos liberais, nem católicos ortodoxos, nem hinduístas, nem nós evangélicos negamos a existência do divino. Ótimo, começamos a nos entender!

Sobre a natureza, sua força, sua a autonomia e beleza, só posso concluir como tantos fazem que são deuses a serem venerados, são deuses belos. Não temos como negar que a natureza, venerada por tantas religiões como verdadeira deusa, não tenha em si muito do caráter do criador, quem adora a natureza como deus, não é um idólatra no sentido de estar adulterando contra Deus, é uma pessoa sincera que busca o seu próprio eixo de apoio nas suas complexidades, pois é inegável que há uma divindade comum na natureza, um motor único por detrás de cada gota de chuva.

A complexa natureza, da qual fazemos parte, nos fez complexos também tanto biologicamente como no intelecto, somos capazes de imaginar, criar, refazer e destruir, motivados ou não, somos deuses-indivíduo quem nos explica? Agora é fato: - todos nós buscamos no sobrenatural um conforto para nossa complexidade, buscamos no sobrenatural um eixo, um ponto de apoio.  Mesmo a ciência, que serve de apoio aos ateus, ao responder as perguntas “de onde viemos e para onde vamos”, ao apresentar suas provas concretas, suas provas cientificas, demonstra as coisas cientificamente falando em bilhões de anos, de provas antiguíssimas, de fenômenos que ocorrem em milhões de etapas, coisas mortas, ossos, marcas, luz do sol que queimou durante milhões de anos... ciência que nos exige a fé, pois como os leigos podem aceitar tais provas se não pela fé? O cientista faz um apanhado de fatos e evidências, coleciona um complexo de coisas e conclui pela existência de um eixo, de um ponto de apoio, estes fatos e evidências científicas é o sobrenatural da ciência, assim para aceitar este ponto de apoio, para aceitar as respostas que a ciência dá para a origem da vida, é só pela fé, não tem outro jeito. Mas, não quero aqui criticar os cientistas os ateus, pois tanto os ateus como os religiosos são sinceros, estão buscando a verdade, e até certo ponto a verdade que encontraram são o seu deus, não se pode ir contra isto.

Voltaremos agora para a sala de minha casa, para a casa de tantas pessoas... apesar da nossa complexidade todos buscamos estar ligados, conectados, apoiados em algum pressuposto, em alguma idéia básica que garanta a nossa tranqüilidade na diversidade.

Quando não estamos tranqüilos, ou quando não estamos convivendo bem, quando nossa complexidade não está conectada a um ponto comum, o conflito é inevitável. Então temos conflitos. O conflito entre pessoas sinceras nada mais é do que a defesa que cada um faz do ponto que se entende ser o correto para todos. 

É o que acontece quanto aos conflitos entre os católicos sobre a Igreja de Fátima e a visita dos Hindus que lhe trataram como uma deusa.

Ora se temos esta idéia, a idéia de que existe um ponto comum, que existe uma forma correta de praticar a vida, de praticar a religião e de praticar tantas coisas, podemos concluir que efetivamente exista este ponto comum, esta conexão, este eixo, e está em algum lugar e de alguma forma, nos resta então procurar, pois enquanto estamos em conflito o próprio conflito nos indica que ainda não achamos o eixo para que as coisas se encaixem.

Creio que analisar um conflito, que é algo complexo e que está dando problemas, para desta coisa complexa tirar alguns pedaços para, a partir destes pedaços, tentar solucionar o problema de falta de ponto comum, ou tentar daí encontrar um ponto comum, não funciona.

Fazendo isto é como continuar no conflito, isto é, não tem como solucionar um conflito pegando um trecho dele, por melhor que seja, para apresentar a solução para tudo. Pegando partes, pedaços, podemos até entender, amenizar o problema todo e investigar os detalhes do seu acontecimento, mas, a solução dele só virá quando se entender a sua base.

Não temos como oferecer ajuda para estas pessoas, sinceras em sua religiosidade, apenas analisando e oferecendo correções nas suas atitudes complexas de sincretismo e apostasia.

É como se todos fossem cegos, e como cegos a tocar numa perna de elefante pode-se tirar muitas conclusões (naturalmente comparemos a “a perna de elefante com arvores, com paredes, etc”), até que se descubra que trata de um animal grande, que sua altura é maior que a nossa, que tem quatro pernas etc. Ora, enquanto não encontramos o eixo, a base, de nossa atitude, poderemos tirar muitas conclusões do que temos das complexidades existenciais, no caso específico: a apostasia, o sacrilégio, o sincretismo, com muitas outras coisas, mas na verdade continuaremos perdidos, sinceramente perdidos...

Sobre o incidente: Hindus praticando o hinduismo em adoração a Fátima dentro da Igreja Católica, nos resta então procurar o pressuposto, o eixo deste acontecimento.

No contexto cristão, a par das várias divisões do cristianismo no mundo e na história, todos os cristãos para serem chamados de cristãos devem crer no cristianismo aceitando em suas bases principais, sob pena de nem ser cristianismo, certos dogmas: - o primordial deles é que Jesus é Deus, não um dos deuses, mas, o único Deus, conforme o enfoque judaico; - os cristãos ao dizer que têm um Deus, o apresentam como Jesus Cristo, e ele é o mesmo Deus único dos judeus, revelado no espaço e no tempo para toda humanidade. 

Mas, os praticantes do catolicismo estão praticando o cristianismo sob outras e complexas regras, são poucos os que efetivamente voltam-se para o eixo, ou o que iniciamos chamando de:  “base comum”, na verdade a maiorias dos católicos procuram soluções para seus dilemas nos complexos regramentos da aparência da religião católica, o eixo que entendem existir hoje é procurado em algum dos itens organizacionais da igreja, não na base do cristianismo. (Esse é um velho problema, enfrentando até por Jesus quando confrontava os publicanos e fariseus).

Ao admitir, em razão de vários motivos: - por tradição, - por comodidade, - para manter a hegemonia, que seus adeptos admirem as imagens, e mais, que se coloque a mãe natural de Jesus Cristo, a Maria (Fátima), numa posição que a bíblia não aponta que ela tivesse (e cremos que ela mesma não aceitaria), coaduna com outras práticas, tradições, que acabam por deixar muitas pessoas sem entender qual é o pressuposto da própria organização católica.

Um ponto comum no catolicismo hoje é que se pode admirar imagens (estou evitando a palavra adorar imagens), que Fátima é um tipo de deus, ou mais deus que o próprio filho Jesus Cristo é.

Assim, quanto às notícias nos Jornais então, ou seja: - hindus praticando o hinduísmo em adoração a Fátima, dentro da Igreja Católica, e as discussões travadas entre as pessoas, que entendemos ser realmente pessoas sinceras, cada qual dentro de seu pedaço, olhando seus eixos, sua base comum, encontraremos a pluralidade de divindades, isto é os Católicos têm muitos santos (deuses) e os Hindus também. Tal fato com certeza vai ser sempre bem aceito entre os católicos e entre os Hindus.

Assim os críticos, de ambas as religiões, não conseguirão enxergar, em meio a complexidade dos temas envolvidos, qual é de verdade o problema, o resultado continuará sendo confusão, radicalismos ou sincretismo para uma nova religião (síntese), ou mesmo a verdadeira apostasia. Assim sairemos dos temas principais, sem o ponto comum, sem o eixo, e chegaremos de volta a eles mesmos, ainda sem solução. “Cegos a tatear a perna do elefante, sem saber do que se trata”.

Paira sobre nossas mentes agora, destroçadas pelos argumentos, o fim do caminho, mas, não, ainda existe a normalidade de uma sala de estar, pais e filhos e a se confraternizarem, existe a simplicidade do que realmente é eterno.

Escrevi mais do que eu mesmo pretendia, a responder ao meu amigo e irmão, mas, nós somos humanos e fazemos complexo algo simples como o dom da vida, dom no sentido de ser um presente divino, toda a argumentação é nada perto da simplicidade do pressuposto verdadeiro.

As muitas religiões, crenças, filosofias, estilos, deuses, são complexos de coisas girando aleatoriamente sem qualquer eixo de apoio, estamos somente imaginando o inatingível (o sobrenatural) para tentar saciar um desejo simples e que todos têm, mas, que só pode ser satisfeito quando encontrarmos o verdadeiro ponto comum, o verdadeiro eixo, o verdadeiro sobrenatural.

A bíblia, a maior autoridade conhecida em nossos dias em assuntos espirituais, que não ensina práticas religiosas e sim apresenta a ingerência divina indicando um modo correto de viver, a bíblia que contém o Pentateuco de Moisés e o Novo Testamento de Jesus, nela simplesmente está a proibição de colocarmos qualquer coisa no lugar do verdadeiro Deus/Jesus, pois só ele é o verdadeiro eixo, o verdadeiro ponto comum, o verdadeiro pressuposto, só ele é a verdade, nenhuma imagem, nenhum ser ou objeto da natureza, ninguém nem nada pode ocupar o lugar do único e verdadeiro Deus, revelado para nós, segundo a bíblia em Jesus, o qual morreu de forma vicária, ressuscitou e hoje governa.

Este Jesus, apesar da concorrência dos outros deuses no coração da humanidade, ainda nos chama em amor, ao arrependimento, não para mais uma religião, mas, para fazer do nosso coração seu templo onde nós o adoraremos sem deixar que mais nada nem ninguém tome seu lugar.

O ponto então é: no coração da humanidade não pode existir mais de um Deus.

 

Nilson Franco de Godoi

São Paulo – Brasil - 18 de outubro de 2004