Eis o terror (OC)
(Deverá “clicar” nas referências
bíblicas, para ter acesso aos textos)
Talvez seja esta uma das palavras mais actuais, aquela que mais anda
«na boca do mundo»: terror. Terror é um grande medo que se provoca ou se sente,
e está relacionado sobretudo com actos de violência.
Ao mencionarmos a palavra «terror», logo nos lembramos do dia 11
de Setembro deste primeiro ano do terceiro milénio da era cristã. Um atentado
terrorista provoca o pânico, a destruição e a morte, além de pôr em causa um
regime e uma superpotência até então considerada inexpugnável.
Lendo o capítulo oitavo do livro de Jeremias, relacionei: «Como,
pois, dizeis: Nós somos sábios e a lei do Senhor está connosco?» Jeremias 8:8
EUA: o país mais desenvolvido, mais rico, mais poderoso, mais
autoconfiante, mas ao mesmo tempo tão dado à corrupção, ao desenfreado capitalismo
mercantilista, à exploração e à avareza. Como diz o Profeta: «...porque, desde
o menor até ao maior, cada um deles se dá à avareza... cada um deles usa de
falsidade.» Jeremias
8:10
Quando uma desgraça daquelas lhe acontece, com um tão grande
número de vítimas inocentes, onde está a autocrítica? Onde está o
reconhecimento dos atentados e morticínios cometidos, por esse mundo fora, com
a destruição de cidades e populações indefesas e igualmente inocentes? Ao fazer
luto por aquelas, é preciso não esquecer estas e chorar também por elas.
Nenhuma guerra, nenhum terrorismo tem justificação possível. Mas
onde está a humilhação e o reconhecimento de que «quem semeia ventos colhe
tempestades»?
Está escrito que de Deus não se zomba, Deus não se deixa
escarnecer, pois o que o homem semear isso também ceifará Gálatas 6:7. E a
interrogação profética é aqui também pertinentemente aplicável: «Porventura
envergonham-se de cometer abominação? Pelo contrário, de maneira nenhuma se
envergonham, nem sabem que coisa é envergonhar-se; portanto, cairão entre os
que caem...» Jeremias
8:12.
E, no mesmo capítulo, as palavras que sugerem o nosso tema:
«Espera-se a paz, e não há bem; o tempo da cura, e eis o terror.» (v. 15) Jeremias 8:15
Contra os terroristas também eu fui enviado, como tantos outros
jovens militares, enviado para África, a fim de defender, como então se dizia,
«a integridade da Pátria multirracial e pluricontinental, una e indivisível».
Com a revolução de 25 de Abril de 1974, os terroristas saíram vitoriosos, com o
nobre estatuto de «movimentos de libertação». No entanto a guerra, o
terrorismo, a violência, continuam em Angola, entre dois desses «movimentos».
Movimentos apoiados por quem? Julga-se que, precisamente, por algumas daquelas
potências ocidentais que se proclamam defensoras da liberdade, da paz e dos
direitos humanos, contra o terrorismo... sobretudo quando ele lhes cai em casa.
É que em Angola há riqueza: ouro, diamantes, petróleo, cobiçados por países
ricos e poderosos. Entretanto, o povo angolano vive, cada vez mais, numa
profunda miséria, ao contrário dos países do «primeiro mundo», desenvolvidos,
democráticos e cristãos, alguns dos quais o vão explorando (directa ou
indirectamente), cavando assim, mais ainda, o enorme fosso entre ricos e
pobres.
E não será esse escândalo, generalizável a muitos outros povos
extremamente pobres, não será ele uma das causas da eclosão e do alastramento
do terrorismo?
Há quem pense que se trata dum problema de raça (negra) ou de
religião (muçulmana). E o terrorismo em Espanha? E na Irlanda? E os
«skinheads»?
O terrorismo não tem cor nem religião.
Pode denunciar-se o fundamentalismo. Mas haverá só um? Todo o fanatismo enferma do mesmo mal, seja ele islâmico, judaico,
cristão ou ateu. Seja de cariz religioso, político, cultural ou étnico.
E quando se agita uma bandeira religiosa, e se faz uma «guerra
santa», isso é apenas um pretexto. Recorre-se a uma ideologia para legitimar o
vandalismo. É assim que, «em nome de deus», já em épocas remotas, de acordo com
certos registos exarados no Antigo Testamento, Israel, liderado por Josué, foi
à conquista duma terra para si e apoderou-se dela. Invadiu e assaltou Canaã,
destruindo as cidades e chacinando os seus habitantes, incluindo mulheres e
crianças indefesas.
E não foi também «em nome de deus» (com o aval do Papa) que
Portugal foi feito?
Fez-se um país, conquistando aos mouros o território onde estes
viviam. Uma guerra de terror e muitas vítimas!
«Em nome de deus» as cruzadas contra os mesmos ditos «infiéis»;
«em nome de deus» o Santo Ofício, ou Inquisição, braço da contra-reforma, que
não só perseguiu e chacinou os protestantes, mas também os judeus e todos os
«não gratos» ao catolicismo romano e ao poder político que deu suporte a esse
tribunal de tortura e de terror.
Mais recentemente, também «em nome de deus», a guerra da Irlanda
(em continuação, infelizmente)... E muitas outras. Toda a guerra é monstruosa.
Não há guerras santas. Toda a guerra gera terror, e todo o terrorismo é uma
expressão de guerra.
Ainda no século passado, com Adolfo Hitler, aconteceu o terror
nacionalista nazi que deixou um rasto de atrocidades arrepiantes cuja lembrança
é e sempre será tão perturbadora quanto revoltante.
E que dizer do terror de Hiroxima e Nagasaqui?
E do que aconteceu no Sudão, no Kosovo, na Somália, no Golfo? E do que continua
a acontecer no Médio Oriente, aquele interminável conflito entre israelitas e
palestinianos?
Afinal nós somos ou não somos cristãos?
Cristo ensinou a Paz e deu a vida pela Paz! Ele ensinou:
«Bem-aventurados os pacificadores...» Mateus 5:9 Ser
pacificador, construir a paz e investir na reconciliação, será compatível com
esta sede de vingança, a que chamam retaliação?
«Não vos vingueis a vós mesmos» – escrevia Paulo aos romanos –
«porque está escrito: Minha é a vingança, eu recompensarei, diz o Senhor.» Romanos 12:19
Assiste-se a uma escalada de ódio. Ódio que gera mais ódio. Arrogância
e ódio de morte, de parte a parte. Aonde irá parar o nosso mundo? Qual o futuro
deste mundo tecnologicamente tão avançado mas humanamente tão vazio, tão
degradado?
Nós, ocidentais que nos dizemos cristãos, precisamos de escutar e
praticar o que o nosso Mestre ensinou: «Ouvistes que foi dito: Olho por olho,
dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal, mas se qualquer
te bater na face direita, oferece-lhe também o outra...Ouvistes o que foi dito:
Amarás o teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os
vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e
orai pelos que vos maltratam e vos perseguem.» Mateus 5:38/39, Mateus 5:43/44.
Não se pode esperar de nós, como cristãos, menos do que orarmos
pela paz e promovermos a paz!
A mensagem do Cristo em Belém, quando se fez Homem, foi: «... paz na terra, boa vontade...»! Lucas 2:14.
Para quando, meu Deus?
Orlando
Caetano - Outubro de 2001
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