Deus salve a América! (AA)

(Deverá “clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)

 

 

 

Deus salve a América! ...” Este slogan - veemente apelo  patriótico” e “nacionalista” - é pública e frequentemente proferido pelos dirigentes americanos quando surge algo que lhes não corre de feição ou se encontram perante um perigo iminente ou, então, já consumado, como no caso do ataque às torres do World Trade Center, símbolo do grande capital controlador do poder político e económico em todo o mundo. (Sempre que nos referirmos a “americanos”, entenda-se os Estados Unidos da América)

Deus salve a América! ..., gritam, porque está a ser vítima de atentados “terroristas” que põem em causa a integridade da “mais perfeita democracia”(?) planetária, representativa da  “civilização ocidental”! E fazem-no com uma precisão e perfeição tais que, através da sua “máquina” de propaganda e divulgação mediática, particularmente através dos canais televisivos que acto continuo e prolongadamente “bombardeiam” todo o mundo com as fantásticas imagens das torres em chamas, conseguem sensibilizar e chamar para o seu lado a grande parte dos governantes (não o povo) mundiais.

Os governantes porque, voluntária ou involuntariamente, eles têm de se subordinar à globalização da economia, também para poderem usufruir das suas benesses, e à vontade dos senhores que comandam o mundo da política, e o poder militar, porque, quem o não fizer, sofrerá as consequências! ... Não o povo, porque esse é vítima dessa globalização e da desenfreada exploração do grande capital!

E assim, os americanos e seus aliados, conseguiram o “aval” da maioria dos governantes do planeta para acabarem de destruir um país paupérrimo, miserável e já tão depauperado por uma guerra de décadas que os fabricantes de armas e seu mercado negro têm vindo a alimentar. Aqui e noutros lados. E imediatamente accionaram e puseram em movimento a sua infernal “máquina de guerra” estrategicamente dispersa pelos quatro cantos do mundo para acabarem de vez com o problema, destruindo um país pobre (que é também um pobre país) e massacrando um povo miserável - a única vítima no meio de tudo isto, porque também vítima dos seus governantes, quer do passado quer actuais e, possivelmente, até do futuro (sejam eles “taliban”, “aliança do Norte” ou quaisquer outros!). Porque, aquele povo, à semelhança do que tem acontecido com outros povos, nunca mais será senhor de si mesmo, do seu próprio destino, do seu país! Passará a estar sempre sob o controle do poder americano!

Os americanos terão ainda aproveitado, como é seu hábito, para testar novas armas de destruição massiva, fazendo grande alarde dessa desumana “façanha” com a divulgação constante das imagens destruidoras e aterradoras do lançamento pelos V 52 dessas armas terrivelmente mortíferas, para gáudio dos seus autores, e de muitos outros insensatos que os apoiam, todos eles completamente despidos de humanismo e insensíveis à vida! E dizem-se defensores da chamada civilização (ou barbárie?) ocidental! E falam em Deus, e invocam o Seu Nome, mas Deus não pode aceitar nem aprovar estes actos de vingança, de terror, de desumanidade! E arrogam-se o nome de cristãos, mas os seus actos desmentem-no categoricamente, porque, ser cristão, é seguir o exemplo de Cristo: é ser humilde, não arrogante; é ser pacificador, não vingativo e promotor da guerra; é amar o seu semelhante como a si mesmo, não odiá-lo; é perdoar, não condenar; é amar a vida (a sua e a dos outros), não destruí-la; é, enfim, viver uma vida de fraternidade e solidariedade  com  todos  os  homens  (cf  Mateus 5:3/10; Mateus 6:12/15; Mateus 18:21/22; Mateus 22:39; 1ª Coríntios 13).

Dizem esses senhores da guerra que esta é uma “guerra contra o terrorismo”, como muito pomposamente e de modo contínuo o transmitem os canais televisivos ao seu serviço, incluindo a RTP - Rádio Televisão Portuguesa, uma televisão paga principalmente pelo povo para prestar um serviço público a todos os portugueses, e não para fazer propaganda e beneficiar apenas alguns que nem sequer são portugueses. Em vez de denunciar as suas atrocidades!

Mas, qual “guerra ao terrorismo”? Não, não é guerra ao terrorismo, é antes uma guerra de destruição pura e simples de um país miseravelmente pobre e das suas poucas e débeis estruturas. E porquê? Certamente porque se trata de um ponto estratégico muito importante para os interesses americanos. E, claro, para o capitalismo ocidental. Talvez pelo facto de o Afeganistão se encontrar no “corredor petrolífero” que vai do Golfo Pérsico ao Mar Negro, e o não controle desta área, um dos “grãos de areia” que fazia emperrar a engrenagem da sua máquina dominadora, dificultava o seu funcionamento. Por isso, para poderem ter um controle absoluto de toda aquela zona, esse grão de areia tinha de ser esmagado, pulverizado! Definitivamente! Porque os “taliban”, que anteriormente haviam sido apoiados pelos americanos contra a Rússia (queriam vê-la fora dali), não estavam agora a colaborar na defesa dos seus interesses. Portanto, há que “removê-los”, a bem ou a mal. Claro que teve de ser a mal!

É caso para perguntar: - Quem se lhe seguirá? O Irão? O Iraque? A Líbia? A Índia, porque não alinha com os americanos e ainda por causa do conflito em Caxemira com o Paquistão, cujo actual presidente é um servo fiel dos americanos?...  O tempo o dirá. Esperemos, para ver!

Como ia dizendo, é claro que tiveram de “remover os “taliban” a mal. Mas, tê-lo-ão conseguido? Definitivamente? É uma incógnita, uma interrogação (!?).

Uma coisa, porém, conseguiram: a fuga desordenada do povo afegão tentando livrar-se dos bombardeamentos americanos, fugir a esse terror que desabava sobre ele de modo avassalador!

A propósito e pouco tempo depois do início dos bombardeamentos americanos ao Afeganistão, numa entrevista ao canal 2 da RTP, ouvi o presidente da AMI (Assistência Médica Internacional) dizer que aquilo que se estava a passar naquele país era terrível e de dimensões catastróficas e inimagináveis! Milhões de afegãos estavam a fugir dos bombardeamentos e dirigiam-se para as fronteiras, entretanto encerradas. Muitos deles, porém, dificilmente as alcançariam, não só pelas dificuldades no percurso, mas também pela falta de alimentos, água e medicamentos. Talvez mais de um milhão de pessoas (crianças e velhos, essencialmente, mas não só) acabariam por morrer vítimas da fome e das epidemias. Tudo ainda agravado pelo rigor habitual do Inverno prestes a chegar e que acabará por dizimar também grande número desses fugitivos.

Ora, alguém tem de ser responsabilizado pelo genocídio que está a ser perpetrado contra este povo! A História não pode deixá-lo passar em claro! São milhares ou mesmo milhões de afegãos inocentes que vão morrer de fome, de doenças epidémicas e de frio, por causa desta guerra terrível, desumana, e que serve apenas para inflar o ego do poderio militar americano, insensível à vida e miséria alheias.

Quem se condói desta gente? Quem faz chegar às televisões por esse mundo fora as imagens dolorosas dessas crianças e velhos, mas não só, a agonizar lentamente até à morte por inanição ou falta de assistência médica e medicamentosa?

Na verdade, quem sofre as consequências da loucura dos homens são, regra geral, os inocentes - velhos e crianças acima de tudo cuja vida é ignorada pelos que detêm o poder, seja ele político, económico ou muitas vezes até religioso! Porque a sede de domínio, de poder, de dinheiro cega os homens. Encerra-os na concha do seu egoísmo, da ambição, da ganância, não os deixando enxergar mais nada à sua volta. É por isso que os fundamentalismos só vêem poder e domínio; e o grande capital, além de poder e domínio, vê somente cifras, e esquece que os bens que acumula fá-lo muitas vezes à custa das lágrimas, suor e sangue daqueles que explora até à exaustão!

Mas, para esses, a  vida dos outros, a vida dos explorados, não conta! Não são considerados seres humanos; simplesmente são tidos como meros “objectos” que eles usam a seu bel-prazer. Daí tanta miséria, tanta fome que vitima diariamente milhões de pessoas, principalmente crianças e velhos! Os milhões que os americanos e seus aliados gastam nesta guerra desumana, destruidora (e em muitas outras que vão sustentando), dava para alimentar praticamente toda essa gente e contribuiria para minorar e atenuar  tanta miséria, tanto sofrimento que grassa por esse mundo fora. Mas a miséria e o sofrimento alheios são-lhes indiferentes! Absolutamente indiferentes!

Vem a propósito citar um artigo saído no jornal “Público”, em 19/11/2001, da autoria do seu jornalista Paulo Moura, em Khoja Bahauddin (Norte do Afeganistão): “O repórter lembra uma frase de sua última entrevista: “O mundo comoveu-se com as imagens poderosas, transmitidas continuamente, do ataque a Nova Iorque. Mas se fosse possível mostrar na televisão, na CNN, as imagens contínuas de uma criança a morrer de fome ... Do princípio ao fim, durante meses, toda a agonia de uma entre os muitos milhares que morrem diariamente .... Quem disse isto foi Camilo Mortágua, ...

... E também: “Se transpusermos o que se passa hoje para o tempo de Cristo ... Quem seria o imperador romano e quem seriam os mártires cristãos, os que diziam, no circo, Avé César, vamos morrer, comidos pelos leões, felizes, porque morremos pela nossa fé ...”? E, tentando explicar as motivações subjectivas e profundas, a fenomenologia do acto terrorista disse ainda esta frase banal, evidente, e no entanto extraordinária: “Os terroristas também são seres humanos”.

Citei esta parte do artigo inserido no “Público” porque creio conter matéria que deve merecer toda a nossa atenção e uma profunda reflexão. A começar pelos americanos. Trata-se de um assunto que analisado seriamente e sem parcialidade talvez nos leve à génese de tantos males, tanto sofrimento, tanta miséria, e talvez nos conduza até às origens do terrorismo!

Claro que o terrorismo é condenável. Isso está fora de questão. Mas não são também condenáveis os actos de terror praticados pelos americanos, eles que se dizem defensores da paz, da democracia, da civilização? (Civilização ocidental, claro, porque os povos não ocidentais são, para eles, considerados “bárbaros”! Embora oriundos de civilizações milenares muito mais antigas que a dita civilização ocidental. E talvez mais humanistas!)

Deus salve a América!”, gritam os americanos! Mas qual deus? O Deus do Universo, o Criador de todos os povos, o Deus da Vida, da justiça, da paz, do amor, da fraternidade, da solidariedade para com todos os homens? Ou o deus da guerra, da injustiça, da intolerância, da destruição, da morte, da arrogância, da ganância, do poder, do domínio, enfim, o “deus-cifrões”?

Deus salve a América!”, gritam ...

E quem salva aquele povo afegão do terror que o poder americano e seus aliados fizeram e continuam a fazer desabar sobre ele?

E quem salva todos esses povos e países do Terceiro Mundo (ou talvez do Quarto ou do Quinto mundos, Afeganistão incluído) vítimas da permanente e desenfreada exploração do grande capital que, apoiado pelo poder americano, lhes suga as riquezas naturais - as matérias-primas – e, depois, lhes vende os produtos por preços proibitivos e a que somente alguns têm acesso (os senhores instalados no poder), deixando o povo na miséria e a morrer de fome?  E, como se isso não bastasse, vendem-lhes ainda armas para se destruírem uns aos outros, a fim de alimentar essa “casta” diabólica - os fabricantes de armas e o seu mercado negro - que, segundo as estatísticas, constitui o segundo negócio mundial mais volumoso e mais rendoso, depois do negócio da droga. Se é que não está já em primeiro lugar!

Angola, por exemplo, é um caso paradigmático. Os acordos de cessar-fogo, assim como as sanções impostas pela própria ONU, são inúteis, porque simplesmente ignorados! Porque os senhores da guerra assim o entendem! Porque a instabilidade lhes convém! E assim vive Angola mergulhada numa guerra de quase meio século! Primeiro, imposta pelo colonialismo e por um regime fascista que lhe recusava a liberdade de ser povo; depois, numa guerra fratricida promovida por interesses exteriores ao povo e alimentada por essa máquina infernal que é a produção de armamento e o seu mercado negro!

Mas porquê? Por que não se põe um fim definitivo a essa guerra tão sangrenta e devastadora, que já dizimou muitas centenas de milhar de pessoas e deixou um número infinitamente maior de crianças órfãs e de estropiados? Simplesmente porque, além de ponto estratégico naquela zona de África, Angola é também um país imensamente rico em matérias-primas;  simplesmente porque o mundo dos negócios escuros (mercado negro de armamentos) e os interesses do grande capital se sobrepõem aos interesses do povo angolano, do seu bem-estar! E é simplesmente por isso que, num país potencialmente tão rico como é Angola, o povo (não os governantes) vive na miséria e muito dele morre de fome!

Antigamente, dizia-se que o comunismo soviético era a raiz de todos os males, de todos os conflitos que afectavam a humanidade. Mas há muito que ele ruiu e os conflitos recrudesceram, em número e intensidade! Afinal, agora de quem é a culpa? Ora, pois claro: é do fundamentalismo islâmico! É isso mesmo, já me esquecia!

Mas, se, criteriosa e honestamente, reflectirmos um pouco sobre o que se passa no mundo dos nossos dias, facilmente descobriremos as verdadeiras causas de tantos conflitos e tanta miséria! Não nos deixemos “levar” pela demagógica propaganda mediática, essa “máquina trituradora” de consciências que influencia os espíritos incautos e menos avisados. Não nos esqueçamos que esses meios de propaganda estão ao serviço dos seus donos (o grande capital) e apenas transmitem o que lhes interessa e lhes convém. Veja-se, por exemplo, as imagens dos “sacos de alimentos”(?) apenas com  a marca USA e o símbolo americano (bandeira), impostas aos telespectadores de todo o mundo! Então e as contribuições da Europa e do resto do mundo, incluindo o Crescente Vermelho? Por que não foram filmadas e mostradas ao mundo? Simplesmente porque não convinha aos americanos. Era preciso impressionar o mundo, fazer crer que eles é que são os “bonzinhos”! Eles é que “alimentam” aquele povo faminto! Para atenuar, aos olhos do mundo, a onda avassaladora, assassina, destruidora, dos seus bombardeamentos arrasando e pulverizando tudo onde as bombas eram lançadas. Nem as instalações das organizações humanitárias internacionais (da própria ONU), onde armazenavam alimentos, foram poupadas! Claro que por engano ... mas por três vezes! Que humanos que eles eram! Que humanos que eles são!

Depois de um século verdadeiramente catastrófico em perda de vidas humanas ceifadas pelas guerras, e em termos sociais em que se agigantou o fosso entre a extrema riqueza e a extrema pobreza, depositei grandes esperanças neste novel século. Queria acreditar no bom senso e na bondade dos homens que, neste virar de página de século e de milénio, seriam capazes de encetar uma nova caminhada no sentido da paz universal, num ambiente verdadeiramente fraterno e solidário, e no da preservação de toda a Criação. Afinal, estava completamente enganado!

A minha primeira grande frustração deu-se quando foi eleito o actual presidente americano. Na altura, disse textualmente à minha mulher: “Oxalá eu me engane, mas a eleição deste presidente americano foi a pior coisa que podia acontecer à humanidade”.

Esta eleição e a eleição do actual primeiro-ministro israelita, apoiado inteiramente pelos americanos, constituem os dois acontecimentos negativamente mais marcantes da História actual da humanidade. Certamente com reflexos no futuro, de consequências imprevisíveis! Os factos já falam por si e aí estão a atestá-lo. Não sabemos que caminho tomarão e até onde irão! Apenas sabemos que não nos auguram nada de bom!

A aliança do poder económico-político-militar americano, de que o actual presidente é servo fidelíssimo, já tem o mundo a seus pés! Instalou-se estrategicamente por todo o lado com vista a um domínio absoluto, que praticamente já alcançou, exercendo-o a seu bel-prazer. Até o velho Continente, a velha Europa, lhe está já inteiramente subordinada! E, se não reagir entretanto, é o seu colapso total em termos de autonomia.

Há pouco mais de um mês, ouvi numa entrevista à TSF o director de uma Revista francesa de Actualidade, cujos nomes (director e revista) não fixei, dizer, a propósito da hegemonia americana, que os americanos “não podem ser sozinhos os donos do mundo”. A Europa tem de reagir e impor-se, sob pena de ficar completamente subordinada e dominada pelo poder americano, de que dificilmente depois se libertará. É um desequilíbrio muito perigoso para a humanidade!

Creio no entanto que a Europa já está de tal modo dominada, que lhe restam poucas hipóteses de poder libertar-se. Deixou-se enredar completamente e até passou a “afinar pelo mesmo diapasão” dos americanos!

E assim, os americanos, até se dão ao luxo de não assinar acordos para a melhoria e estabilidade do ecossistema, sobre armas nucleares e desarmamento, sobre a produção de armas químicas, sobre racismo e xenofobia, etc, etc, etc. Tal atitude seria crime contra a humanidade, se fossem outros a fazê-lo! Mas, como eles são os senhores absolutos, os “Todo-Poderosos”, tudo se permitem e lhes é permitido. Por isso, fazem o que querem, como querem, onde querem e quando querem! E ninguém “se atravesse no seu caminho”, porque, quem o fizer, sofrerá as consequências, pagará bem caro a sua veleidade! Com a própria vida, se for renitente e persistir na desobediência!

Parece que o Homem tem a memória muito curta! Não se lembra já de Hiroshima e Nagasaki, onde centenas de milhar de pessoas morreram e, passado mais de meio século, os habitantes daqueles cidades, e não só, ainda sofrem as sequelas da radioactividade libertada pelas bombas atómicas americanas!

Quem se lembra já, apesar de se tratar de um passado mais recente, dos efeitos dos bombardeamentos americanos ao Iraque, com a utilização de armas que dizimaram iraquianos e os próprios soldados americanos, por libertação de radiação e gases? E quem se lembra dos Balcãs, cuja intervenção foi feita à revelia da própria ONU? 

Eles têm o mundo a seus pés! E, quando surgem obstáculos que dificultam a sua acção na defesa dos seus interesses, promovem indirectamente os conflitos e aparecem depois como “salvadores”, como “pacificadores”, como os “senhores do bem”, exibindo o seu “paternalismo” hipócrita com que enganam os incautos e tentam enganar todo o mundo. Depois, instalam-se aí, e acabou-se! E quem não aderir à “causa”, à sua estratégia, já sabe o que o espera! E assim vai caminhando este “mundo maravilhoso” militarmente comandado e “pacificado” pelo país “modelo” e “símbolo” da democracia, da paz, da civilização!

Até quando o mundo sofredor vai tolerar esta arrogância americana? Até quando vai o mundo permitir que o grande capital, apoiado no poder político-militar americano que ele próprio controla, continue a exploração desenfreada do Terceiro Mundo onde tanta gente morre de fome, de doenças epidémicas e por falta de assistência médica e medicamentosa? Mas, a esses horrores, são completamente insensíveis o grande capital e o poder americano!

Até quando vai o mundo permitir que Israel, com o apoio americano, continue a negar um cantinho na Palestina onde os palestinianos possam viver em paz naquilo que é seu, na sua própria terra? Se este conflito no Médio Oriente fosse resolvido, isso não constituiria um dos passos mais importantes para o estabelecimento da paz no planeta? Não tenho dúvidas a esse respeito. Mas, para isso, era necessário que não houvesse outros interesses em jogo. Porque, assim como os americanos foram tão lestos na “pacificação” do Afeganistão, destruindo-o “enquanto o Diabo esfrega um olho”, também pacificariam, sem qualquer dificuldade, o conflito israelo-palestiniano. Assim, o quisessem. Todavia, parece que este conflito lhes convém! Até quando isto vai ser tolerado?

Até quando a Europa, que se reclama portadora de uma civilização democrática e humanista, vai continuar a subordinar-se e a apoiar o poder americano na desestabilização e no terror que vai semeando um pouco por todo o lado, para impor o seu domínio e salvaguardar os seus interesses (os interesses do grande capital, claro), ainda que à custa do sacrifício e muita vezes da própria vida dos povos onde se vai instalando? Até quando a Europa, que se diz defensora da civilização cristã, vai continuar a permitir e a colaborar no aprofundamento do fosso que separa a extrema riqueza de uns poucos da extrema pobreza de muitos milhões de seres humanos? Porque os pobres, os famintos, os miseráveis também são seres humanos! Eles também são filhos de Deus, embora sejam olhados e tratados como meros “objectos” pelos grandes senhores que dominam o mundo! Até quando, Senhor?

Até quando as igrejas cristãs, particularmente as que se dizem “evangélicas”, permanecerão mudas perante tamanhas injustiças praticadas pelos americanos em estreita colaboração com o grande capital, contra os países pobres? Até quando a sua dependência e fidelidade ao poder, ao capital (por conveniência, claro), em vez da sua fidelidade a Cristo e ao seu Evangelho? Cristo sempre esteve do lados dos pobres, dos mais fracos, dos carenciados, dos marginalizados, protestando contra as injustiças de que eram vítimas!

Até quando o próprio povo americano, cristão na sua maioria, vai permitir que o poder instalado continue no pedestal da sua arrogância, impondo ao mundo pela força as suas regras, as suas normas, de acordo apenas com os interesses do grande capital e não dos povos?

E dizem-se “pacificadores”! Que tipo de “pacificadores”, quando simplesmente impõem a sua vontade pela força e pela violência? Ao lançarem essas bombas terrivelmente destruidoras estão a pacificar ou simplesmente a aterrorizar, a destruir, a matar? Onde está a humildade cristã, a tolerância, o perdão, uma vez que se dizem cristãos? Porquê querer dominar e abarcar o mundo todo só para si?

A todo aquele que, no seu egoísmo e ignorando a miséria e sofrimento alheios, ajunta pensando somente em si, Jesus diz-lhe: “Louco, esta noite vais morrer e o que tens preparado (ou ajuntado, ou acumulado) para quem será?”  Lucas 12:20.

Se os americanos continuarem nesta senda, nesta infernal escalada belicista, aterrorizando tudo e todos para imporem o seu domínio universal e absoluto, receio bem que tenham um fim pouco invejável.

Certamente alguém se levantará e lhes dirá: - Basta!, com o apoio do mundo verdadeiramente livre e daqueles que desejam libertar-se das garras desses desumanos exploradores e opressores. Porque, se o grande capital, apoiado pelo poder político-militar americano, continuar na sua escalada de exploração desenfreada dos povos do Terceiro Mundo, os muitos milhões de famintos levantar-se-ão contra esses exploradores e opressores, contra as suas injustiças, porque já não têm nada a perder. Nem a própria vida! É que eles já não vivem, apenas vegetam, numa agonia constante até à morte!

Seria bom que os americanos, e não só, tivessem o bom senso de parar por um pouco de tempo e reflectissem sobre o mal que causam ao mundo! Não lhes digo que não pensem em si; mas pensem também um pouco nos outros, no sofrimento e miséria alheios. Porque todo o ser humano tem direito à vida, uma vida com dignidade, como refere a Carta das Nações Unidas sobre os Direitos do Homem. Vida essa que os donos do mundo, os senhores da guerra, os “Todo-Poderosos”, persistem em negar à grande maioria dos povos! Até quando, Senhor?!

 Deus salve a América!” ...

Sim, Deus salve a América. Deus salve o povo americano. Mas salve igualmente, ou principalmente, todos os outros povos vítimas da escravização, exploração e opressão do poder americano comandado pelo grande capital!

Para finalizar, apenas esta nota: - Se com este texto ou artigo de opinião, fiz enfurecer alguém, mas também fiz sorrir muita gente, cumpri o meu dever e alcancei o meu objectivo: o de levar as pessoas a pensar, a reflectir sobre os momentosos problemas mundiais que se agigantam, e sobre a instabilidade que se vive um pouco por todo o lado, impedindo a paz entre os homens e o bem-estar da humanidade! Mas, o meu principal desejo (que é também a minha principal preocupação), é chamar a nossa particular atenção para a miséria, para a fome que vitima milhões e milhões de pessoas inocentes, essencialmente crianças e velhos, enquanto que se esbanja muitos milhões de contos em coisas fúteis, prescindíveis e perecíveis, e se gasta outro tanto e ainda mais a fazer a guerra, a matar, a destruir!

 

Arménio Anjo

Dezembro de 2001

 

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas