Não sou Charlie (CC)
(Deverá
“clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)
Introdução
Como
sabem os habituais visitantes da minha página na internet, sou um leigo ou um
curioso em religiões, que tenta meditar e comparar religiões sem aceitar a
infalibilidade ou inspiração de nenhum dirigente ou livro sagrado. Não seria
possível meditar livremente se houvesse limitações ou outros
condicionalismos à nossa meditação e investigação teológica que considerasse
alguma “verdade” como intocável. Isso não seria verdadeira meditação teológica
com “todo o nosso entendimento” de
acordo com Mateus
22:37, mas simples mentalização doutrinária com limitações ao nosso
entendimento. Julgo ser esse o problema do judaísmo, cuja meditação teológica
está limitada às “fronteiras do Velho Testamento”, ou do cristianismo em geral
que aceita a inspiração de toda a Bíblia que é a base intocável da sua
meditação, ou do islamismo em relação ao Alcorão e aos profetas da Bíblia.
Esses são livros “intocáveis” pela crítica dos fundamentalistas dos que os
aceitam.
Tenho
recebido várias mensagens sobre o ataque fundamentalista “islâmico” ao
semanário francês Charlie Hebdo e agora também na Dinamarca,
que nada dizem sob o aspecto de reflexão teológica, nem citam nenhum versículo
do Alcorão nem da Bíblia.
Acredito
que muitas dessas afirmações, que me enviam, sejam verdadeiras… Mas será que
podemos responsabilizar os islâmicos, que são as principais vítimas desses
actos de violência, ou os cristãos, ou judeus pela atitude de alguns fanáticos
que há certamente entre todos eles?! Será que estamos perante um problema
religioso, ou problema cultural, político ou económico em que a religião serve
de importante elemento catalisador da agressividade humana? Se fosse só
problema religioso, os teólogos teriam uma palavra a dizer, coisa que não tem
acontecido, pois o problema é bem mais complicado. Mas, mesmo assim, penso que
a teologia não pode alhear-se do problema, pois uma convicção teológica não
pode ser combatida pela força das armas.
Neste
artigo vou tentar privilegiar as origens, ou seja os textos em que baseiam toda
a sua reflexão e não propriamente os aspectos culturais. (a)
Qual o motivo
da grande divulgação deste assunto?
Quanto
a esse ataque em Paris, certamente que a grande maioria da população mundial
dos nossos dias condena as mortes que ocorreram. No entanto, geralmente não são
as opiniões mais sensatas que prevalecem, mas a opinião de algum fanático
revestido de autoridade que julga interpretar o pensamento de Deus, como foi o
caso de Moisés em Números
31:07/18 depois da conquista de Midiã.
Costumo
dizer que todas as religiões são perigosas, nomeadamente as monoteístas, pois
tentam impor a sua “verdade” a todo o mundo, geralmente não só por motivos
religiosos mas também por motivos, políticos e económicos e deixam de
raciocinar livremente para se acomodarem e uma posição heterónoma, deixando-se
influenciar por atitudes assumidas pelos seus heróis do passado e chamam a
esses horrores de “grandes manifestações do poder do seu deus”. Escrevo deus
com minúscula, para que não haja qualquer confusão com o Deus Pai que Jesus
revelou.
Certamente
que eu não sou a pessoa indicada para me pronunciar sobre o assunto, pois não
sou entendido nesse tipo de “arte” do semanário francês Charlie Hebdo,
se é que se pode chamar de arte a essas caricaturas a que em mau português
chamam de “cartoons”, que se está a tornar um neologismo na nossa língua. Será
que isso é arte?! Será uma boa amostragem da cidade de Paris que dignifica os
seus famosos artistas?
Embora,
como a grande maioria, eu também discorde desse acto terrorista, não vou dizer
“Eu sou Charlie”. Primeiro porque não aprecio esses desenhos e em segundo lugar
porque não me identifico com a atitude dos seus autores. Tenho dificuldade em
considerar essas caricaturas como manifestações de arte, mas admito que sejam
uma forma de expressão, tal como a música ou a linguagem escrita ou falada.
Penso que neste caso, houve culpa, não só das duas partes. Da parte desses
“artistas” franceses, da parte dos extremistas “islâmicos” e também da parte
das autoridades francesas.
Julgo
que a maior parte dos que dizem “Eu sou Charlie”, tomou precipitadamente essa
opção no calor de emoção, sem ponderar todos os aspectos do seu significado.
Também
sou a favor da liberdade de expressão, mas essa liberdade tem regras e tem
limites. Se alguém levantar falsas informações contra o seu próximo, ou
informações ofensivas para os outros, num país civilizado pode e deve ser
responsabilizado pelos seus actos. Também o cristianismo foi ofendido e
ridicularizado perante a passividade das autoridades francesas.
Como
já afirmei, não acredito em infalíveis ou textos inspirados que não possam ser
criticados, mas com respeito,
pelo menos em atenção aos que neles acreditam. Todos temos o direito de
discordar da fé dos outros, mas não de brincar ou ridicularizar aquilo que para
outros é sagrado. (b)
Lembro-me
do que aconteceu há alguns anos na Índia, em Orissa,
quando missionários evangélicos classificaram de satânicos os deuses hindus.
Ninguém obrigava esses missionários a aceitar os deuses hindus, mas ir à
própria Índia para insultar as suas tradições religiosas, tem certas
semelhanças com o caso do semanário Charlie Hebdo. Até uma
religião tão tolerante e pacífica como o hinduísmo reagiu e bem se lembram do
que aconteceu.
Nos
últimos dias, houve outros ataques, noutros países europeus. Talvez estejamos
ainda no “calor” dos acontecimentos, em que os ânimos estão exaltados, o que
não é muito favorável a uma calma e sã reflexão teológica.
Se
estes ataques, segundo dizem, têm alguma relação com o Alcorão, onde estão as
passagens do Alcorão a que se referem? Será que quem faz essas afirmações
conhece bem o Alcorão?
Mas,
se essas passagens não existem, então julgo que será de dar a palavra aos teólogos
islâmicos para que possam combater estes extremismos com o próprio Alcorão.
Esses serão os principais interessados, pois não só o povo islâmico tem sido a
principal vítima destes extremismos, como a imagem do Islão tem sido afectada.
Quem beneficiou
com este ataque dos fundamentalistas “islâmicos”?
Há
outro aspecto com que discordo desses terroristas “islâmicos”. (Escrevo
“islâmicos” por respeito aos verdadeiros islâmicos). Assim, eles acabaram por
fazer propaganda dessas caricaturas. Quantos em Portugal já tinham ouvido falar
do jornal, ou semanário, Charlie Hebdo? Agora todos o
conhecem. E quantos jornais vendiam, antes e depois destes problemas?
Esse
semanário bem pode agradecer, não só a esses fanáticos “islâmicos”, como à
ampla divulgação que o assunto teve nos órgãos de informação que tiveram a
preocupação de destacar que houve uma reacção de todo o mudo, o que não
me parece ser bem verdade, pois os reportes das nossas TVs
tiveram a preocupação de destacar que altos dirigentes de todo o mundo
participaram nessas manifestações de apoio a esse semanário, citando até, se a
memória não me falha, países como a Bélgica com 10 milhões de habitantes, tanto
como Portugal, ou a Dinamarca com 5 milhões, mas não vi nenhum representante da
Índia com os seus 1250 milhões além duma larga experiência em resolver atritos
entre diferentes religiões, nem dirigentes da Chima com 1360 milhões de
habitantes.
Geralmente
a Europa reage em função da proximidade dos acontecimentos (proximidade no
espaço e no tempo) e o mesmo acontece em todos os países que conheço. Assim as
vinte vítimas desse ataque em Paris, por estar no centro da Europa, são muito
mais importantes que as centenas de jovens vítimas do ataque a essa escola no
Paquistão, ou das jovens estudantes nigerianas que foram raptadas em África
para evitar que estudem e serem vendidas como escravas. Estes dois últimos
acontecimentos só foram notícia na nossa comunicação social durante alguns
dias, possivelmente por não estarem no centro da Europa.
Podemos também colocar a questão: Porque 70
anos depois do extermínio de judeus do tempo de Hitler esse crime horrível
ainda tem tanto tempo de antena nas nossas TVs e nada
se diz dos ciganos e homossexuais exterminados pelo Hitler, nem das vítimas da
Hiroxima e Nagasáqui? Mas, a acreditar nos textos do Velho Testamento, ainda
pior fizeram os judeus nas guerras de ocupação da “terra prometida” em que
todos os povos que lá habitavam, foram exterminados no tempo de Moisés e Josué
ao serviço do imperialismo sionista, que os mais “espirituais” dos nossos dias
consideram como grandes manifestações do poder de deus. Claro que me refiro ao
deus de Moisés. Tudo isso vem na própria Bíblia, no Velho Testamento que muitos
judeus, cristãos e islâmicos consideram como textos inspirados. Refiro-me
concretamente ao genocídio de Jericó segundo
instruções do deus dos judeus em Josué 6 :17/24
e à destruição da cidade de Hai
ou Ai, depois da guerra terminar, descrita em Josué 8:23/30.
Será que a história se repete com os palestinianos e o Israel dos nossos dias?!
Afinal, o que
dizem os textos considerados como inspirados pelas religiões abraâmicas?
É
vulgar classificar os autores desses actos de terrorismo como “fundamentalistas
islâmicos”. Mas o que é um fundamentalista? Em teologia, geralmente
considera-se fundamentalista aquele que defende a fidelidade absoluta à
interpretação literal dum texto religioso.
Então,
vamos investigar quais são, e onde estão, os textos religiosos que incentivam a
violência e a guerra entre religiões, que é a principal finalidade deste
artigo.
Bem
sei que com isso teremos de mencionar certos textos tabu, que geralmente não
são mencionados, pois ficam sempre “para a próxima oportunidade”, nem constam
dos textos dos lecionários, mas na busca da verdade, não os podemos ignorar,
mesmo que tenhamos de desagradar a todos.
Será
que os métodos utilizados neste caso dos ataques em Paris, bem como pelo Estado
Islâmico, tais como a proclamação das suas doutrinas pela força das armas, etc etc ….. tem fundamento nos
textos do Alcorão, do Novo Testamento ou do Velho Testamento?
Tentei
investigar nos textos considerados como inspirados. Alguns fundamentalistas
evangélicos até dizem que os textos de toda a Bíblia são “a Verdade, sem sombra
de erro”.
Em
vez de transcrever as passagens, prefiro colocar uma ligação aos livros
sagrados para que cada leitor possa “clicar” nas referências e examinar os
versículos no seu contexto. Nomeadamente, para quem não souber grego nem
hebraico, como é o meu caso, será importante examinar outras traduções e
verificar, de acordo com uma boa hermenêutica, se são passagens históricas que
se limitam a descrever o passado ou passagens normativas que se devam aplicar
aos nossos dias, bem como se estamos perante a descrição de guerras defensivas
ou ofensivas, com o objetivo da expansão dos impérios, ou se o objectivo do
texto será o de acalmar ou incentivar a violência.
Alcorão:
Tentei
investigar no Alcorão e encontrei as seguintes passagens:
Alcorão 2:190/194
Isto foi escrito num contexto de guerra, mas julgo tratar-se da guerra
defensiva, pois nomeadamente Alcorão 2:190 condena
a agressão, mas incentiva a guerra defensiva. Também encontrei Alcorão 4:85/96 , Alcorão 9:1/18 .
Não
podemos esquecer de que os 9 primeiros capítulos do Alcorão foram escritos num
contexto de guerra e é nesse contexto que devem ser interpretados.
Outra
passagem do Alcorão sobre outras religiões é Alcorão 5:48/51 A
tradução que utilizamos foi efectuada a partir da língua inglesa, pelo que
contém alguma deturpação em relação aos textos em árabe. Assim, apresentamos a
seguir os mesmos versículos, tal como estão na nova tradução, efectuada
directamente a partir das cópias dos textos originais em árabe para português,
na tradução ainda em elaboração na Mesquita de Lisboa.
Alcorão Sura 5
Vr.48 E revelamos-te o Livro com a
Verdade, confirmando o Livro que o precedeu e fizemos-te seu vigilador.
Portanto julga-os entre eles conforme o que Allah
revelou e não sigas os seus desejos, desviando-te da Verdade que te chegou. A
cada um de vós, nós temos prescrito uma lei e um caminho aberto. E se Deus
quisesse teria feito de vós um só povo, mas fez-vos como sois, para vos testar
por aquilo que vos concedeu, portanto, competi uns com os outros nas boas
acções. Todos voltareis para junto de Allah, que
então vos esclarecerá e respeito das vossas divergências,
Vr.49 E ordenamos-te que julgues
entre eles conforme o que Allah revelou, e não sigas
os seus desejos, e toma cuidado para que eles não tentem afastar-te de alguma
coisa daquilo que Allah te revelou. Se eles te voltarem as costas, fica sabendo que Allah
os castigará por causa de alguns dos seus
pecados. E, na verdade, muitos dos homens são rebeldes.
Vr.50 É o julgamento (dos dias) da
ignorância que eles procuram? E quem pode ser melhor juiz do que Allah, para um povo que creia firmemente?
Vr.51 Ó vós que credes! Não tomeis
os judeus e os cristãos como seus amigos (protectores). Ele são amigos
(protectores) uns dos outros, e aquele de entre vós os tomar por amigos, por
certo será um deles. Na verdade Allah não guia o povo
iníquo.
Encontrei
mais três passagens no Alcorão que falam em matar, mas são passagens
históricas: Alcorão
12:9 refere-se a José do Egipto, Alcorão 29:24
refere-se a Abraão e Alcorão
40:25/26 refere-se a Moisés no Egipto.
Novo
Testamento
O
cristianismo, com base no Novo Testamento é uma religião pacifista, embora a
atitude de muitos “cristãos” não o tenha sido através dos tempos.
Não
podemos ignorar que, enquanto a maior parte das religiões tenha aparecido num
contexto de guerra e violência, como foi o caso, já referido do Alcorão, assim como
iremos ver, o caso do Velho
Testamento e também o do Bhagavad
Guitá do hinduísmo, no caso do Novo Testamento estava-se
em plena época a que poderemos chamar de “globalização do Império Romano”, em
que as fronteiras entre os vários reinos foram derrubadas e havia algumas
línguas em que todos se podiam entender, nomeadamente o latim e o grego. Julgo
que tal facto teve grande influência na mensagem que Jesus apresentou, a um
mundo que era já mais semelhante ao mundo em que vivemos. Claro que não podemos
aceitar ingenuamente que havia uma paz perfeita na época em que Jesus viveu,
mas sim uma “paz” que se mantinha à custa do exército romano.
A
única vez em que Jesus tem uma atitude violenta é no caso da expulsão dos
comerciantes do Templo que encontramos em Mateus 21:10/13,
Marcos 11:15, Lucas
19:45/46 e João 2:13/16,
pois são passagens paralelas. É interessante que não foi contra outras
religiões nem contra as autoridades romanas que ocupavam Israel, mas contra os
próprios comerciantes israelitas do Templo de Jerusalém. Penso que se trata
duma passagem histórica e não normativa para os nossos dias.
Mencionamos
também algumas passagens em que Jesus manda amar os próprios inimigos. Mateus 5:44, Lucas 6:27 ou Lucas 6:35, atitude
impensável nas outras religiões, bem como apelos ao pacifismo em Mateus 5:39
ou Lucas
6:27/29.
Velho
Testamento
Ao
ler o Velho Testamento, não nos podemos esquecer de que estamos perante 39
livros canónicos, os principais, escritos provavelmente no tempo de Salomão
cerca de 900 anos antes de Cristo, mas tratava-se de tradições transmitidas
oralmente desde o tempo de Abraão, 1900 anos antes da época cristã, e outros
textos de influência egípcia, integrados na cultura judaica através de Moisés
que foi um dos grandes legisladores do Velho Testamento.
No
contexto histórico de Moisés, durante os 40 anos da peregrinação pelo deserto,
Israel era um grupo de escravos recém-libertados, indisciplinados, volúveis,
habituados a só obedecer ao chicote dos capatazes em que a Lei teria de ser
rígida e implacável para que fosse cumprida. Nesse contexto histórico, os que
nasceram nesses 40 anos, só tiveram conhecimento de outros povos nas lutas que
travaram no deserto, em que atacaram os povos que viviam nos seus territórios
para conquistar as terras que o deus dos israelitas lhes tinha prometido. Claro
que para esses israelitas, estrangeiro era sinónimo de inimigo que a religião
os preparou para atacar e matar.
Muita
coisa horrível aconteceu, quando Israel invadiu esses territórios. A destruição
de algumas cidades ficou registada nas páginas do Velho Testamento, como no
caso da cidade de Jericó ou da cidade de Ai, que os mais “espirituais”
consideram como grandes manifestações do poder do deus de Moisés. Embora fosse
em ambiente de guerra, nada há que
justifique as barbaridades cometidas em cumprimento das leis do Velho
Testamento.
Tentamos
fazer uma listagem de algumas dessas leis em Velho Testamento (Algumas
leis do), onde a par de passagens históricas, temos também passagens
normativas que, não só os judeus fundamentalistas, como também muitos cristãos
que aceitam a inerrância de toda a Bíblia, que consideram eterna e “sem sombra
de erro”, bem como islâmicos que também aceitam os profetas da antiguidade,
defendem que devem ser cumpridas nos nossos dias.
Será que o
homem do século XXI deverá cumprir Deuteronómio 23:13
ou será possível a coexistência pacífica de várias religiões em face de Êxodo22:20?
Em
face de Deuteronómio
13:6/10 será possível a liberdade de pensamento e de religião?
Conclusão
Sendo o
Velho Testamento, a primeira parte da Bíblia, aceite não só pelos judeus, mas também
por muitos cristãos e islâmicos, penso que há passagens mais que suficiente
para incentivar estas atitudes violentas dos extremistas “islâmicos” dos nossos
dias. Mencionei algumas dessas passagens, mas há muitas mais, contra a
liberdade de expressão e que legalizam a discriminação da mulher, a
escravatura, a pena de morte por trabalhar ao sábado ou comer alimentos
proibidos etc etc. Muitos cristãos ao longo de
história, se têm servido desses incentivos à violência do Velho Testamento.
Não sei se
será possível, ou pelo menos não será fácil, uma livre reflexão teológica entre
seguidores de diferentes religiões abraâmicas, pois cada um tem a sua
“verdade”, os seus “infalíveis” ou as suas escrituras que o impedem de meditar
livremente e sentem-se na obrigação de converter os outros à sua “verdade”. O
melhor que se pode esperar é que haja respeito e tolerância para com as outras
religiões ou como vimos em Alcorão 5:48 que as religiões possam competir umas com as
outras nas boas acções.
Passagem que nos faz lembrar de Mateus 7:20/23
Nós julgamos conhecer os homens pela sua religião, ou pela sua liturgia, ou
pela sua teologia, ou cultura, ou linguajar religioso, ou pelas suas vestes, ou
pela sua raça, ou nacionalidade, mas Jesus afirma que é “pelos seus frutos” que os podemos
conhecer e será assim que Ele conhecerá os seus quando voltar.
Pessoalmente,
considero-me cristão, por crer em Jesus Cristo como a mais perfeita e credível
revelação de Deus, pois ninguém falou como Ele.
Todos os
fundadores das religiões deixaram os seus livros, mas Jesus Cristo não deixou
nada escrito pessoalmente que tivesse a finalidade de preservar os seus
ensinos. O Novo Testamento foi escrito pelos seus discípulos, depois da sua
morte e ressurreição. Mas Jesus nos deixou o Espírito Santo, pois Deus é
espírito e manifesta-se pelo Espírito Santo. Deus é soberano e é livre de
manifestar-se a quem O buscar pelos meios que Ele entender.
Não
significa isso que acredite em toda a Bíblia, pois Jesus transgrediu muitos dos
mandamento da Bíblia, ao recusar apedrejar os leprosos e até tocando neles Mateus 8:2/3 e Marcos 1:40/42 e
tocando num morto em Lucas 7:11/17,
tornando-se assim impuro de acordo com a Lei de Moisés em Números 5:1/3 ou
Números 19:13.
Eu
não me preocupo nem tenciono seguir e Bíblia nem nenhum outro livro religioso,
mas tento seguir a Cristo. Não estou a tentar diminuir as Escrituras que muitos
consideram como sagradas. Geralmente os cristãos tentam seguir as suas
Escrituras como se Jesus tivesse dito “Não vos deixarei órfãos, deixo-vos as
escrituras” mas o que Ele disse foi um pouco diferente como vemos em João 14:15/18.
Ou como está na tradução da BPT João 14 15 Se me amarem hão-de cumprir os meus
mandamentos, 16 e eu pedirei ao Pai para vos enviar um outro Defensor que
esteja sempre convosco. 17 O Espírito de
verdade que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece. Ele está
convosco e habitará em vós, por isso o conhecem. 18 Não vos hei-de
deixar órfãos pois voltarei para junto de vós.
Quando
Jesus afirmou que não nos deixaria órfãos, eles já tinham todos os livros do
Velho Testamento. Não ficaríamos órfãos, não por termos o Velho Testamento nem
os livros do Novo Testamento que foram escritos mais tarde, mas porque Ele nos
deixou o Espírito de Deus que passou a estar disponível a quem O procure. Em
vez do deus distante, o altíssimo ou o deus dos exércitos, Ele nos revelou o
Deus Pai, que “está no meio de nós”.
Tudo
que é escrito, fica como que “congelado no tempo”, relacionado com uma cultura
e com um determinado contexto histórico, enquanto o ser humano continua a sua
evolução. Mas o Pai continua sempre actual, mais próximo de nós que nós
próprios e controla todas as pequenas células do nosso organismo.
Certamente
que Jesus Cristo várias vezes se referiu às Escrituras, mas a Sua Palavra
sempre esteve bem acima de todos os textos considerados como inspirados.
Camilo
– Marinha Grande, Portugal
Março
de 2015
(a) Quero distinguir entre os textos considerados como
inspirados que estão na origem das várias religiões, e as respectivas culturas
religiosas, nomeadamente a liturgia e gestos litúrgicos.
Cito
como exemplo a burca das mulheres que quase sempre relacionam com o islamismo.
Afinal o Alcorão não fala na burca e nem todos os islâmicos têm essa tradição.
Segundo o historiador Joaquim Jeremias, no seu livro “Jerusalém no tempo de
Jesus” as mulheres da classe alta de Jerusalém tinham limitações que fazem
lembrar alguns ambientes islâmicos. Mas será que elas são obrigadas a usar a
burca? Sim e não…
Segundo
um amigo islâmico, em certos ambientes, elas são “obrigadas”, não pelo Alcorão,
mas pela cultura em que vivem, pois parece mal e consideram um escândalo a
mulher andar sem a burca. Podemos comparar com a gravata em certos ambientes do
ocidente. Afinal, para que serve a gravata?! Mas em certos ambiente, parece mal
se não usarem gravata e todos se sentem “obrigados” a usar a sua gravata.
Também
na forma de rezar, não só dos islâmicos como dos judeus e cristãos, não vejo
que tenham bom fundamento nos seus livros religiosos. Assim como os gestos
litúrgicos dos católicos e as bonitas frases memorizadas dos evangélicos, que
dizem orar livremente, mas não deixam de ser frases memorizadas nos cultos.
Assim,
neste artigo, vou tentar limitar-me ao que tiver fundamento nos textos
considerados como sagrados.
(b) Essas imagens, que não vou publicar na minha
página, estão disponíveis na internet a quem procurar por Charlie Hebdo.
Eu, que me considero cristão,
mas não me identifico com nenhuma igreja, não prescindo de me demarcar desta
mentalidade e dizer que “Não sou Charlie”.
Seja que religião for,
mesmo as mais primitivas, do interior de África ou da Amazónia, temos o direito
de as rejeitar ou aceitar, mas não de ofender os seus crentes.
Veja
também esta entrevista sobre islâmicos portugueses:
https://drive.google.com/file/d/0B8pt_BRBXz_pY09ycHNqYkhFdWM/view?usp=sharing
NOTA:
Este
artigo, poderá ser divulgado livremente ou transcrito noutros meios de
informação, desde que o seja na íntegra, sem alterações, e citem a sua origem e
o nome do autor.
Sugerimos
no entanto uma ligação informática a esta nossa página na internet a Estudos bíblicos sem fronteiras
teológicas ou directamente
ao artigo
Comentários recebidos
Arménio Anjo – Leiria,
Portugal
Março
de 2015
Em meu entender, trata-se de um belíssimo artigo que
complementa aquele que escrevi sobre os acontecimentos CHARLIE, em Paris.
A tua abordagem, e muito bem, é feita
essencialmente numa perspectiva TEOLÓGICA.
Eu faço-o mais com sentido ÉTICO e MORAL, apontando
a MENSAGEM de JESUS CRISTO (mensagem de AMOR desinteressado) como o ÚNICO
CAMINHO a ser seguido para obstar a tanta conflitualidade que grassa mundo
fora.
Bem hajas pelo teu artigo!