Catolicismo brasileiro (DO)
(Deverá “clicar” nas referências
bíblicas, para ter acesso aos textos)
O Brasil é o maior país católico do
mundo
Ultimamente,
com a morte do papa, tenho lido esta frase em vários locais, e sempre minha mente,
inconscientemente não aceitava bem esta “verdade”. Daí; com um pouco de calma,
com os olhos focalizados no povo brasileiro e com o meu relacionamento com os
ditos católicos, pude chegar a seguinte conclusão:
Para
se compreender o que é ser católico no
Brasil, temos de analisar os vários tipos que conhecemos e o que os padres
consideram como católicos.
A rigor, que eu me lembre, conheci uma pessoa que sabia realmente o que era ser
católica: minha tia. Uma senhora beirando os seus oitenta anos. Ela sabia
os significados das liturgias, um pouco da história de sua igreja e seus
santos, era leitora assídua da Bíblia (muito mais que a grande maioria dos
ditos evangélicos). Levava à sério a rotina das missas e o que os seus padres
falavam nos sermões. No vulgar, ela era o que chamamos de uma “católica
carola”. Quase todos os seus filhos haviam se convertido às várias denominações
de linhas evangélicas. Resistiu com bravura aos assédios religiosos deles até o
fim e morreu católica. Era uma boa mãe, boa esposa, boa gente mesmo! Creio que
dona Maria, minha tia, foi salva. O quê? Falei asneira? E daí, se ela
considerava uma outra personagem bíblica como mediadora entre ela e Deus? Será
que ela era pior que Maria Madalena? Ou à mulher samaritana? Ou à Raabe a prostituta? Ou ao homicida e adúltero, David, ou
aos mentirosos: Abraão e Pedro? Ou ao lascivo Salomão? E o que falar de Dimas,
o ladrão “colega de cruz” de Jesus? Creio que foi salva, não por ter sido boa
mãe, boa esposa, boa gente e uma “verdadeira católica”; mas porque amava o
Mestre e tinha a devida fé nEle, e mais que isso,
expressava na prática, todo o amor (não fingido), derramado em seu coração.
Tenho
impressão que Deus terá de arrumar um outro “céu melhor” para algumas pessoas.
Talvez um “céu do céu”. O céu de Cristo não comporta a “santidade” de muitos
religiosos que conheço!
Outra
categoria de católicos que conheço, compõe pessoas cultas e bem informadas;
intelectuais. Vão à igreja com uma certa freqüência,
prestam atenção aos sermões, cumprem os rituais e rezas, mas infelizmente ficam
somente aí. Não se envolvem com nada. São as suas obrigações religiosas para
com Deus e isso já basta para eles. Um belo exemplo disso é uma certa prima de
minha mulher: formada em advocacia, mulher inteligente, grande leitora de bons
livros (seculares, claro). Em sua cabeça, ela pensa: “nasci católica e vou
morrer católica! É uma questão de tradição familiar”. Ano passado ela foi à Portugal, em Fátima - só para ver o “pinheirinho”
onde Nossa Senhora “pairou”. Não sabe nada de Bíblia! Nenhuma passagem do Novo
Testamento, nem o plano de salvação de Cristo, nem a Graça, nem a fé, nem nada,
nenhum fundamento bíblico! Tenho impressão que a proíbem de ler a Bíblia; só
pode! Não há nenhuma possibilidade de diálogo religioso com esse grupo. Desta
categoria, com certeza, não conheci mais que vinte pessoas. Olhe que conheci
muita gente em minha vida!
Outro
grupo: pessoas que, para não dizer que
são atéias (isso pega mal no Brasil), afirmam que são
católicas. É a grande onda, ser católico no Brasil. Aqui, quem não é
religioso e não gosta de futebol, é católico e torce pelo flamengo! Não
acreditam em Deus, numa só palavra da Bíblia, não gostam de nenhuma religião,
menosprezam qualquer tipo de ensino religioso, especialmente o dos “crentes”,
mas nunca assumem que são incrédulos. Mentem até para as pesquisas de
estatísticas, somente por conveniências sociais e econômicas. Esse grupo é
grande! Seguramente não posso dizer a quantidade de pessoas desta categoria,
que conheço. Tenho que dizer um número? Talvez umas quinhentas pessoas que
conheci na vida.
Mais
grupo? Aqueles que têm mais afinidades
por outras religiões, mas por medo de serem discriminados, falam que são
católicos! Por exemplo: os “espíritas enrustidos”. Acham uma maravilha a doutrina
kardecista, - a de “primeira linha” - por acharem muito justa e honesta, mas,
pensam eles, não vão levar nenhuma vantagem com isto. Os padres não os
consideram católicos. Quantidade? É muita gente! Não posso dizer.
E
o grupo dos sincréticos? Eles não
sabem muito bem o que são, mas por via das dúvidas; são católicos! Combinam
crenças do chamado: baixo espiritismo, com as crenças do catolicismo: Iemanjá é Nossa Senhora. São Jorge é oxum.
Santa Bárbara é Iansã (se não me falha a memória). E assim por diante. Pensam
que são católicos, mas os padres não os consideram. Esse grupo é enorme! Muito
grande mesmo, principalmente no Rio de Janeiro, no nordeste e outras regiões.
No último dia do ano e no dia dois de fevereiro, vemos milhões de pessoas pela
televisão, nas praias a jogar flores para Iemanjá.
São católicos! Missa? A grande maioria não sabe quando foi a última vez que
pisou na igreja! Mas são católicos!
Agora
é a vez de um grupo ainda maior: daqueles que
não tiveram a sorte de nascer numa casa digna. São os miseráveis,
ignorantes e analfabetos. Esses, não dão muita bola para o que os padres falam.
Elegem quem quer para adorar. Não obedecem à lista dos beatificados por Roma.
Aliás, o Brasil, por ter “tantos católicos”, só tem um santo oficial! Não nos
querem para santos, somente para ovelhas! O Padre Cícero Gusmão no nordeste é
intocável. Aí daquele que proibir suas devoções! São milhões de pessoas devotas
deste falecido padre nordestino. Mas existem muitos outros “santos marginais”.
Neste grupo, pela estatística, arrisco um palpite de quantidade: são em torno
de 60% da população, o que dá mais ou menos 110 milhões de pessoas. Ano
passado, numa determinada cidadezinha de São Paulo, limparam os vidros da
janela de uma casa, com um determinado produto e vejam só! Apareceu Nossa
Senhora desenhada no vidro! Coitado do proprietário; virou romaria a sua casa!
Multidões se aglomeravam à sua porta. Fechavam a rua e até desconhecidos
entrava porta à dentro! Não sabem no que crêem; qualquer coisa é objeto de adoração.
Se aparece alguém dizendo que uma sandália velha foi de Cristo, pronto; está a
começar mais uma romaria. Missa? A grande maioria não sabe quando foi a última
vez que pisou na igreja! Mas são católicos!
Bom,
agora vou falar de um grupo seleto de católicos: os próprios padres. Estudei numa faculdade católica, e posso dizer
que conheci muito bem, alguns padres professores. Descobri que alguns me
pareciam bastante sinceros. Eram homens cultos e muito convictos de seus
credos. Mas em geral os outros não me pareciam religiosos. Na verdade eram
bastante ateus! Não quero mencionar os maus exemplos dos padres, mas também não
quero ser omisso. O que ouvimos dos católicos e o que vemos na mídia sobre esses sacerdotes me entristece muito. Não me
escandaliza porque nada que venha do homem me surpreende mais. São estes, os
que pregam sermões para o nosso povo. São nossos católicos!
E
agora, será que posso dizer que somos o maior pais católico do mundo? Acho que
devemos dar uma olhada lá fora, para descobrir como são os católicos de lá. Se
forem iguais aos daqui, então poderei afirmar que de fato somos o maior. Caso
contrário, temos de rever essa estatística.
David de Oliveira
- Abril de
2005.
Goiânia,
Brasil
Estudos
bíblicos sem fronteiras teológicas